CAPÍTULO 14

No dia seguinte, em Smallville...

Ao voltar da faculdade, Clark viu o carro de Lois em frente ao celeiro. Mais do que depressa, entrou à casa, onde viu Martha tirando uns muffins do forno.

"Mamãe?" chamou Clark.

"Oi, filho!"

"Lois está ai?" perguntou ele.

"Está sim" respondeu ela. "Acabou de ir ao loft"

Clark foi rapidamente ao celeiro e, ao subir as escadas, viu Lois, admirando a vista pela janela, ao lado do telescópio. O sol ainda estava alto. O dia estava maravilhoso.

"Que bom que você chegou, Smallville. Não queria ir embora sem me despedir" disse ela, ao percebê-lo.

Confuso, porém, nem um pouco surpreso, Clark levantou as sobrancelhas, em sinal de indagação.

"Estou voltando para Metropolis" explicou ela. "Agora é definitivo"

Clark se aproximou e colocou a mochila no sofá.

"Sua mãe ficou um pouco chateada. Disse que nunca ninguém a ajudou tanto no Talon quanto eu nesses últimos meses!" continuou ela, sorrindo.

"Você vai fazer muita falta por aqui" comentou, referindo-se, especificamente, a ele próprio.

Lois e Clark trocavam olhares intensos. Mas somente ela estava desconfortável com a situação.

"É isso aí, Smallville. Vai finalmente se livrar de mim! E, olha só... Eu até já fiz todas as malas e encaixotei tudo. Sem sua ajuda! Não é ótimo?"

"Não, Lois" disse ele de repente, segurando-a pelo braço e puxando-a gentilmente para si. Nesse mesmo instante, Clark podia sentir o perfume de seus cabelos e de sua pele. Mais um pouco, e poderia sentir, mais uma vez, seus lábios quentes e molhados.

Lois sorriu. Estava visivelmente constrangida. Aquele era o efeito Clark Kent, cada vez mais forte nos últimos dias. O único que conseguia tirá-la do sério.

"Olha, Clark, eu só vim porque achei que o encontraria sóbrio" comentou ela, desvencilhando-se dele. "Acontece que não tenho a mínima intenção de um flashback, ok? Muito menos aqui, na sua casa!"

Clark sorriu.

"E pode tirar esse sorriso do rosto!" retrucou ela.

"Desculpe, Lois" disse ele.

"Não me peça desculpas, Smallville"

"Acho que você está cometendo um grande erro" continuou ele, enquanto Lois continuava a olhar para o céu límpido, com as mãos apoiadas no balcão. "Não precisa ir embora" pediu ele, colocando sua mão sobre a dela.

Lois se afastou rapidamente, e cruzou os braços.

"As coisas estão ficando engraçadas por aqui" comentou ela, subitamente.

"Engraçadas?" indagou Clark.

"Você está estranho, Smallville" explicou ela. "Como se não fosse a mesma pessoa"

Clark sorriu.

"Esse é meu verdadeiro eu, Lois" disse ele, então, encarando Lois. Aquela era a mais pura verdade. Nunca, em toda sua vida, foi tão verdadeiro como o estava sendo com Lois. Com ela, Clark não precisava fingir. As coisas aconteciam naturalmente.

"Como é que é?" indagou ela.

"Isso mesmo que você ouviu" respondeu ele, aproximando-se novamente dela. Lois tentou se afastar, mas atrás dela estava a estante de livros de Clark. "Eu amo você, Lois"

Ela sorriu. Era o seu sorriso desdenhoso. Mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa, sentiu os lábios de Clark contra os seus. Resistiu por alguns instantes. Até que suas pernas cambalearam e seu coração acelerou. Se não quisesse mesmo vê-lo, não devia tê-lo esperado para se despedir, pensava ela. E uma constante martelava à sua cabeça. Se ela o odiava tanto, como poderia se sentir tão bem quando ele a beijava?

"Não vá, Lois" pediu ele suavemente.

Ao se afastar, sem, porém, tirar as mãos de sua cintura, Clark viu que Lois estava com os olhos fechados, como se ainda estivessem se beijando. Ele sorriu. Parece que, finalmente, ela estava se entregando. Até que Lois finalmente abriu os olhos, e como se tivesse acordado de um sonho maravilhoso e visse à sua frente o sapo, e não o príncipe, afastou-se rapidamente.

"Eu tenho que ir, Smallville!" exclamou ela, ignorando tudo o que havia acontecido.

"Posso perguntar uma coisa?"

"Bom, depende..." respondeu ela, temerosa.

"O quê vai fazer em Metropolis?" perguntou ele, curioso.

"Vou voltar a estudar" respondeu ela.

"Puxa vida, Lois. Isso é bom" comentou ele. "Estudar o quê?"

"Jornalismo" respondeu ela.

"Parece que Chloe finalmente fez sua cabeça" comentou ele.

"Pode-se dizer que sim" concordou ela. "Consegui ser re-aceita na Met-U"

"Lois, você sempre consegue o que quer"

Ao ouvir isso, ainda mais de Clark, Lois ficou confusa. Era inadmissível para ela aceitar aquele 'novo Clark Kent' que estava bem à sua frente, que dizia as coisas certas nos momentos certos, que a amparava e a apoiava. Lois jamais precisou disso. Nunca em sua vida precisou da aprovação de ninguém. Nunca precisou ouvir palavras amigas, pois cresceu ao lado do pai General e, mais do que qualquer coisa, precisou batalhar sozinha pelas suas conquistas, provando para o próprio pai, e para si mesma, que podia ser a melhor. Porém, de certa forma, gostava daquilo. Sentia-se protegida ao lado de Clark. E isso era bom. Mas era Clark Kent!

"É claro que consigo o que quero, Smallville!" exclamou ela de repente. "Ninguém precisa ser um Lex Luthor para conseguir o que quer... Basta querer!"

Clark sorriu. Mas Lois lhe deu as costas. Desceu as escadas. E ele foi atrás. Passou-lhe a frente e se virou para ela. Lois estava a dois degraus acima de Clark.

"Eu quero..." disse ele, então. E muitas coisas se passaram pela cabeça de Clark naquele instante. Ele queria muito que ela ficasse. Mas, não podia pedir isso a ela. Não mais do que já havia pedido. Ela já estava decidida. E a única coisa que ele pensava era que, de certa forma, sabia que não a perderia de vista. "Que você seja muito feliz, Lois" continuou ele.

Surpresa, Lois sorriu, e apoiou suas mãos nos ombros dele.

"Você é um bom amigo, Clark" disse ela.

Ele suspirou. Não era o que ele queria.

"Vai me acompanhar?" indagou ela, passando-lhe a frente na escadaria no loft. "Ainda tenho que me despedir dos seus pais!"

Clark permaneceu nas escadas, enquanto Lois caminhava, a passos apressados em direção à casa dos Kent. E um vazio imenso se apossou do seu coração.

Continua...