CAPÍTULO 17

Pouco depois, nas Cavernas Kawatche...

Ao chegar às cavernas, Clark colocou Lois cuidadosamente no chão, próximo à mesa de pedra que anos antes ficava ocultava pela parede com os símbolos kryptonianos. Tirou do bolso a chave octogonal que apanhou em casa instantes antes e, reflexivo, olhou para Lois, e depois, para a fenda no centro da mesa. Naquele momento, tomava sua maior decisão. Algo que poderia comprometê-lo para sempre estava para acontecer. Sem hesitar, Clark colocou a chave no encaixe sobre a mesa. Depois, pegou Lois e foram transportados para a Fortaleza da Solidão.

Ao chegar lá, Clark desceu cuidadosamente os degraus da Fortaleza com Lois nos braços. Gentilmente, colocou-a sobre o que parecia ser uma mesa. Acariciou sua face e esperou. Subitamente, uma voz ecoou, emergindo dos cristais que estavam nas paredes.

"Kal-El, o quê está fazendo?"

"Você tem que me ajudar!" gritou Clark olhando para o alto.

"Não pode fazer isso, meu filho" advertiu-o Jor-El.

"Você me trouxe à vida uma vez!" disse Clark, lembrando de quando foi baleado e Jor-El o ressuscitou. "Quero que faça novamente!" pediu, olhando para Lois. "Por mim!"

"Não sabe o quê está fazendo, Kal-El!" disse a voz imponente.

"Sim, eu sei!" protestou Clark. "Traga-a de volta!" insistiu.

"Suas emoções, meu filho, serão sua maior ruína!"

"Não me condene pelo que eu sou!" gritou Clark. "Você me mandou para este planeta! Se me acha um fraco, devia ter me mandado para outro lugar!"

"Você não entende, não é mesmo?" indagou Jor-El.

Clark ficou em silêncio por um instante, sem tirar os olhos de Lois. Aproximou-se dela, e envolveu sua mão fria e sem vida entre as suas.

"Não podemos interferir no destino da humanidade, Kal-El"

"Nunca mais lhe peço nada, Jor-El!" gritou Clark. "Mas não me negue isso!"

"Kal-El, aprenda de uma vez por todas: não podemos interferir no destino da humanidade!" repetiu estrondosamente.

"Eu faço o que você quiser!" insistiu Clark, cada vez mais consumido pela dor da perda, enquanto afagava as madeixas de Lois, quase sem esperanças de que conseguiria a ajuda de seu pai biológico, quando, finalmente, disse: "Ficarei aqui com você se for preciso, o tempo que for necessário, e darei início ao meu processo de aprendizagem"

Então, houve um grande silêncio.

"Por favor Jor-El, faça-a viver!" implorou Clark, com lágrimas nos olhos. "Ela é tudo de bom que eu tenho nesse mundo!"

De repente, uma luz intensa tomou conta da Fortaleza. Muito mais forte do que até mesmo Clark pudesse suportar.

"Isso ainda será sua ruína, meu filho" ponderou Jor-El.

"O quê está fazendo?" gritou Clark, sem perder Lois de vista, embora a luz quase o cegasse.

"Esses dias estarão apagados de suas lembranças"

"Não!" gritou Clark, protegendo o rosto de Lois com os braços.

"E você dará início ao seu treinamento"

De repente, a luz intensa que tomava conta do lugar se esvaiu e Clark sentiu o calor voltar ao corpo de Lois. Afastou-se suavemente dela, e notou que a cor voltava à sua face. Então, Lois começou a tossir, como se tivesse se engasgado com alguma coisa.

"Lois!" exclamou Clark, surpreso.

Ela então parou de tossir, e abrindo lentamente os olhos, sentiu uma forte dor no braço que estava quebrado, e enrugou a testa, emitindo um som de agonia.

"Lois, você vai ficar bem" disse Clark, aproximando-se dela. "Eu prometo"

"Smallville?" murmurou ela.

Clark sorriu, aliviado, feliz ao ouvir novamente sua voz.

"Onde estamos?" perguntou ela, sem conseguir abrir bem os olhos, que ardiam com a luz do dia que refletia nos cristais da Fortaleza. Jamais havia visto algo tão bonito, e ao mesmo tempo, tão assustador. "É tão frio aqui..."

"Faça o que deve fazer agora, Kal-El" disse então Jor-El.

"Quem está ai?" perguntou Lois, tentando se levantar.

"Vamos embora, Lois" disse Clark, pegando-a no colo.

Lois abraçou-o o mais forte que podia com o braço bom, e Clark sorriu, comovido. Então, ela desmaiou, e um portal se abriu numa das paredes da Fortaleza, dando acesso direto às Cavernas Kawatche.

"Agora vá, meu filho, e eu o estarei esperando!"

Instantes depois, em Smallville...

"Ela vai ficar bem, Doutor?" perguntou Clark, olhando para Lois que dormia profundamente ligada a diversos aparelhos no Centro Médico de Smallville.

"Sim, ela vai" respondeu ele. "Mas me diga uma coisa... ela estava mesmo dentro daquele carro que saiu a estrada?"

Clark ficou em silêncio por um instante, e o médico mesmo deduziu, apoiando a mão sobre seu ombro:

"Sabe, é um milagre ela ter sobrevivido!"

Clark apenas assentiu, enquanto o médico se afastava para atender outros pacientes que chegavam à emergência, vítimas menos graves do terremoto. Depois, entrou no quarto, aproximou-se da cama e tocou a mão de Lois.

"Você é o meu maior milagre" disse. "E não importa o que aconteça, estará sempre comigo"

Clark então se afastou e saiu do quarto, não sem antes olhar para Lois mais uma vez. Notou que não havia mais o vazio de antes no seu peito. Estava profundamente triste por ter que deixá-la. Por outro lado, a certeza de que voltaria a vê-la o enchia de esperança.

Continua...