Amor verdadeiro é para sempre
Capitulo 02
KAMUS
Respirei profundamente, já deveria ter me acostumado em mudar de escola, mas é sempre a mesma coisa: fico nervoso e só me acalmo depois de me sentar no meio dos outros alunos.
Por que não gosto dessas mudanças? Simples, fico parecido com uma exibição zoológica: todos olham para você e você não pode fazer nada.
Que seja assim de novo, dessa vez irei ficar pouco tempo, então isso não deve me incomodar.
Escutei o diretor me chamando, um rapaz jovem, mas, que passa experiência e confiança para quem conversa com ele.
Segui e me sentei em meu lugar, ninguém me perguntou nada, pelo contrário, todos ficaram em profundo silêncio. E assim foi até o sinal do intervalo.
Uma grande roda de alunos se aproximou de mim e logo uma chuva de perguntas, que parecia não ter fim, desabou sobre minha cabeça.
"Você é francês mesmo?"
"Que olhos lindos... são vermelhos, não são?"
"Alguém já falou que você é muito bonito?"
"Você pratica algum esporte?"
E muitas outras perguntas dessa maneira me foram feitas.
Observei que todos os alunos da sala estavam a minha volta, ou quase todos. Um rapaz de longos cabelos loiros e olhos azuis se recusava a vir me perguntar algo. Eu sei seu nome: Milo... E a alguns momentos atrás eu o havia ajudado a recolher as canetas que haviam caído de seu estojo.
"Não perca seu tempo com o Milo." Um jovem disse ao meu lado me chamando a atenção. Os sedosos cabelos aloirados chegavam aos ombros, os olhos azuis claros pareciam o fundo de uma calma piscina e uma pinta do lado esquerdo da face realçava a brancura da delicada pele. "Ele nunca se inturma com ninguém, vive sozinho em seu próprio mundo, e não se aproxima de ninguém."
"Você é...?" Minha pergunta ficou suspensa no ar, não gostei da maneira com que ele se referia a Milo.
"Aphodite, com todo o prazer." O jovem disse jogando os cabelos displicentemente para trás e esticando a mão em um comprimento.
"Deveria medir suas palavras, elas são a arma mais poderosa de um ser humano." Disse ignorando sua mão estendida. Não desejo me mostrar superior a ninguém, mas como filho de um pacifista, não posso admitir que falem assim de outra pessoa.
Minha atitude pareceu impressionar todos os alunos, deveria ser a primeira vez que alguém ignorava o jovem mais 'bonito' da escola. Beleza não é tudo na vida, meu orgulho e meu senso de justiça sempre falaram mais alto do que outra coisa em meu ser.
"Você não sabe qual é a arma mais poderosa do ser humano... mas essa sua atitude lhe custara caro." Ouvi Aphodite me dizer isso e se afastar de perto de mim, eu estou errado em minha colocação? Acho que não, mas não me importo com o que os outros achem de mim.
A discussão só não continuou por causa do sinal de volta para as salas, o que fez com que todos os alunos voltassem para seus determinados lugares. Respirei fundo e apoiei a cabeça em minhas mãos, com os ombros apoiados sobre a mesa, por pouco não perdi a calma e comecei com um sermão que cansaria até mesmo um padre, esse é o mal de ser filho de quem sou, aprendi algo com meu pai e não isso não nego. Logo o professor entrou na sala e as aulas recomeçaram.
Poderia estar presente de corpo na sala, mas minha alma estava muito longe daquele local. Pensei em como alguém poderia ser tão fútil ao ponto de só viver dos males dos outros, enquanto que a vida poderia ser tão maravilhosa.
Observei o jovem ao meu lado, por mais que ele se isolasse dos outros, senti que ele era o maior de todos daquela sala e, de certo modo, também era o mais bonito, pelo menos aos meus olhos. Sorri com meu próprio pensamento e quase fui de encontro ao chão. Assustei-me com o sinal da saída, teria que acostumar com ele rápido, antes que eu realmente beijasse o piso da sala. Agradeci por ninguém ter visto a cena, depois do que havia feito no intervalo, não precisava de mais um motivo para atormentar minha vida.
Peguei meu material e segui junto com os outros alunos para o portão da escola. Um rapaz usando um belíssimo terno preto, calça social da mesma cor, camisa branca e gravata azul se encontrava a minha espera. Um sorriso estampava seu rosto enquanto conversava animadamente com uma jovem de longos cabelos ruivos, mais brilhantes do que os meus, e olhos vermelhos que usava uma bela cacharréu branca, uma saia pregueada preta, meia-calça de lã branca e keds preto, a reconheci na mesma hora, afinal quem não reconheceria sua própria irmã gêmea? Observei como Gabrielle se tornava cada vez mais bela a cada dia que passava e ficava feliz ao saber que ela estava segura nos braços de Hyoga, um jovem de 20 anos, mas que já seguia uma carreira brilhante como futuro pacifista e que ama minha irmã acima de tudo.
"Kamus! Rápido, já fizemos Hyoga perder muito de seu tempo!" Gabrielle me chamou assim que conseguiu me avistar, às vezes a maneira espontânea de ser de minha irmã me colocava em situações bem constrangedoras.
Atendi ao pedido de Gabrielle e me apressei para seu lado, queria chegar em casa logo e a viagem prometia ser das melhores, afinal todos os momentos em que Gabrielle se encontrava com Hyoga eram dos mais divertidos. Não demorou muito e já estávamos os três dentro do carro preto das Nações Unidas.
"Como foi seu dia?" Gabrielle perguntou-me se virando para trás a fim de me ver do banco da frente.
"Podemos dizer que foi bem interessante." Disse sem nem ao menos desgrudar os olhos da paisagem que passava veloz pela janela do carro. "E o seu, foi bom?"
"Sim! Todos os alunos de minha sala são muito legais, mas ainda precisam viver mais... a única pena é que não pude ficar perto de Hyoga durante a manhã inteira." Gabrielle disse como se fosse a coisa mais natural do mundo, me preparei para o que viria depois, Hyoga não gostava quando ela falava assim.
"Se você ficasse comigo a manhã toda, além do seu pai ficar bravo, não iria conseguir trabalhar." Hyoga respondeu sem desviar a maior parte de sua atenção do trânsito.
"Por que você não conseguiria trabalhar? Por acaso toda sua atenção ficaria concentrada em mim?" Gabrielle perguntou com uma voz de quem se acha um pouco superior, lógico que minha irmã jamais usaria esse tom de voz para qualquer pessoa.
"Não, não conseguiria trabalhar porque você ficaria me atrapalhando o tempo todo." O tom de voz de Hyoga era de quem brincava.
"Se é assim, não quero mais falar com você." Gabrielle disse e se emburrou, olhando de vez para mim e fazendo um bico enorme.
Não agüentei e cai na gargalhada, a cara de minha irmã era muito engraçada. Já estava esperando por algo do tipo, os dois sempre acabavam uma conversa dessa maneira, mas momentos depois estavam juntos novamente. Mal tinha acabado de me recuperar do meu ataque de risos e logo o carro parou, havíamos chego na grande casa que agora chamava de lar.
Assim que entrei, com minha irmã do lado, a empregada veio nos receber. Não fazia questão de tê-la em casa, mas por causa do cargo de meu pai, ela era mais do que necessária.
"Simone, o que tem pro almoço?? To morrendo de fome." Ouvi Gabrielle dizer enquanto se dirigia para seu quarto, no segundo andar da casa.
"Teremos salmão assado com ervas finas e sua mãe faz questão de que ambos os jovens se apresentem para almoçar às doze horas em ponto." Simone, a empregada, disse nos acompanhando até o pé da escada.
Subi logo atrás de Gabrielle, era melhor deixar o material no quarto e fazer o que tinha para fazer antes das doze horas, mamãe fica muito brava quando nos atrasamos para alguma coisa. Entrei em meu quarto e deixei meu material sobre a mesa de estudos, nem atrevi abri-la, depois do almoço veria os assuntos de escola. Saí logo em seguida e fui para a sala de jantar, não queria que mamãe ficasse brava comigo. Quando cheguei Gabrielle já estava sentada em seu lugar, na segunda cadeira da lado esquerdo da mesa, e batia a colher na taça com água.
"Pare com isso..." Disse me sentando em meu lugar, se tinha alguma coisa que me tirava do sério era quando ela começava a fazer barulhinhos irritantes mesmo ela sabendo disso. Como que para me irritar, ela continuou com o que fazia, mas acrescentando o barulho da faca na taça de suco. Respirei fundamente e iria brigar com ela se alguém não tivesse feito isso antes.
"Gabrielle por que você sempre tem que fazer tanto barulho?" A grave voz de meu pai se fez presente no aposento e minha irmã parou o que fazia na hora.
"Por que acho uma chatice ficar quieta... ainda mais quando posso tirar alguém do sério." Gabrielle disse e um enorme sorriso enfeitou seus lábios.
"Você se diverte me irritando, não?" Disse com um tom de provocação na voz.
"Só quero que você aprenda que a vida é muito mais do viver emburrado." Gabrielle me disse se acertando na cadeira e assumindo uma pose um pouco mais séria.
Logo Hyoga se sentou do meu lado e minha mãe ao lado de Gabrielle e o almoço foi servido. Passamos o almoço inteiro em silêncio, até a maneira de ser de Gabrielle mudava quando se sentava numa mesa com todos a sua volta. Ela se tornava mais seria e às vezes mostrava sua verdadeira face no meio da multidão. No final das contas ela tinha mais de meu pai em si do que eu.
Um rapaz sério, mas sempre com um sorriso sincero e confiável no rosto. Importava-se muito com as pessoas a sua volta e sempre preferia a conversa a o litígio. O longo cabelo castanho contrastava muito bem com os olhos levemente avermelhados, fico muito grato de ele ter passado essa forte característica para mim e para minha irmã, afinal além dos cabelos também vermelhos, nossos olhos era o que chamava a maior atenção.
Os cabelos vermelhos foram herdados de minha mãe, uma bela moça de traços suaves e corpo bem definido, que o único defeito é ser muito rígida e que espera que todos cumpram com o que geralmente pede ou às vezes impõem. Mas mãe mais amorosa do que ela ainda estou para conhecer. Sempre presente quando eu ou Gabrielle precisamos e também bem compreensiva.
Subi para meu quarto e me concentrei nas lições e revisões das várias matérias escolares. Por mudar muito de aula, se não me esforçar jamais conseguirei ser alguém na vida profissional. Mas muitas vezes meus estudos se complicavam. Pois nunca ficava tempo o suficiente em algum lugar para acompanhar uma sala durante um ano, mas quando estava em qualquer turma era um dos melhores alunos.
"Kamye, não quer estudar comigo? O Hyoga terá que voltar para o escritório agora e você sabe que não gosto de ficar sozinha." Gabrielle disse aparecendo na porta de meu quarto, os cadernos e livros sob o braço.
"Sim, entre. Mas é para estudar e não ficar brincando..."
"Você sabe que levo os estudos muito a sério, não gosto de vim com notas baixas. O papai fica muito bravo se isso acontecer."
"Certo... certo."
Gabrielle entrou e tentei me concentrar na matéria, mas sempre que começava algo me incomodava. A maneira como Milo olhou para mim na aula de química não permitia que me concentrasse, ficava me lembrando dele praticamente enfeitiçado por mim e algo me incomodava e muito. Refiz uma conta varias vezes e me assustei com isso, nunca fora de errar contas, exatas era uma das minhas áreas favoritas.
"Algo errado irmão?" Gabrielle perguntou-me assim que percebeu que eu apagava a mesma conta pela quinta ou quarta vez.
"Só estou meio desconcentrado, nada de mais." Disse sorrindo, minha irmã tem um foste sexto sentido e para ela perceber o que se passa com as pessoas que a cerca é algo fácil.
"Tem certeza Kamye? Não é sempre que você fica assim..." Ela disse se concentrando totalmente em mim, mais do que tudo Gabrielle se preocupava comigo.
"Assim como?"
"Assim, como cara de apaixonado, avoado... Kamye, você conheceu uma pessoa muito especial hoje, não conheceu?" Gabrielle me perguntou com cara de desconfiada, como sempre ela sabia do que se passava em minha alma melhor do que eu mesmo.
"Conhecer não é bem o termo, e se ele é especial, isso ainda não sei." Respondi falando a verdade, mal conversei com ele, como poderia saber o que ele era?
"Então permitirei que o tempo se encarregue de mostrar o valor dessa pessoa para ti." Ela sorriu e voltou a sem concentrar nas lições.
Agradeci intimamente, pois espero que eu controle meu destino a partir do inevitável e não do que minha irmã pressente.
Então que minha alma seja tome as decisões correta e que se for para me magoar, que seja de livre e espontânea vontade. Mas espero que nada disso seja preciso e que eu consiga decifrar a alma de Milo, sem força alguma.
Continua
Oisssss!!!!
Nossa demorei mais do que pensava para escreve esse capitulo, mas é que estou tão sem pique para escrever que complica um pouco. Também estou envolvida em mais duas fics, então fica mais complicado entrar em POV para continuar com essa daqui. Mas não irei abandoná-la, isso nunca.
Agradecimento a todos que tem acompanhado essa historia e que comentam, nem que seja para criticar ou fazer volume...e para os que não comentam também, afinal vocês leram isso daqui pelo menos...
Bjinhus
Keiko Maxwell
Agosto de 2004
