06 - Chuva
Há males que vem para o bem.
Segunda-feira era um dia péssimo para James. E a discussão de Sábado só servia para aumentar o seu mau humor. Nem mesmo os Marotos estavam conseguindo divertí-lo.
- Mais dois ataques - Remus contou no café da manhã. - É, isso está se tornando cotidiano. um deles foi em massa, uma chacina.
James ergueu uma sobrancelha. - Sério? Começo a pensar que eu deveria ter nascido trouxa. Ou um aborto.
Os três lançaram-no um olhar irritado.
- Lily tem toda a razão. Você não tem um pingo de amor próprio - Remus balançou a cabeça.
- Porra, Aluado - Sirius reclamou, largando a meia torrada no prato. - Não piora as coisas.
- Ele faz questão de rastejar, Pulguento! - o lobo continuou, enchendo um copo com suco de abóbora.
- É Almofadinhas. - Sirius corrigiu. - Eu não tenho pulgas. Mas eu concordo com você, só não joga na cara dele, eu não quero ter de suportar o ovo virado do Pontas a semana toda.
Os três seguraram um sorriso. Mas não era engraçado para James.
- Ok, e se eu perdi a porra do amor próprio, o que tem? - James se impacientou com a discussão entre os amigos. - Eu não consigo pensar mais em nada, apenas em Lily Evans. Satisfeitos?
As palavras saíram num tom um pouco mais alto do que ele pretendia, com um sincornismo absolutamente perfeito e desafortunado com uma daquelas pausas que costumam acontecer nas refeições. Parecia que ele estava falando sozinho para todo o salão. Os alunos se viraram para olhá-lo.
Evitando olhar para um par de olhos verdes em específico, levantou e saiu do grande salão, debaixo de murmúrios indignados e adimirados.
Ele não estava nem um pouco afim de assisitr aula. Assistir os dois tempos de transfiguração significaria encarar aquele bando de gente olhando e sussurrando uns para os outros. E ter de evitar olhar para a ruiva, e ter de ouvir seus amigos - ele não estava com menor saco. A chuva de sábado tinha passado, mas ainda chuviscava, hora ou outra. E estava chuviscando bem de leve agora.
James saiu, sentando o mais distande possível do castelo e das pedras. Desenhava sem interesse, um pomo no chão. Sentia saudades da época em que era terceiro ano, quando só pensavam em quadribol e azarações. Mas claro, tinha que aparecer Lily Evans em sua vida. E desde então, o quadribol e as azarações, ao invés de diversão, tornaram-se um meio de chamar a atenção dela.
- Eu perdi o amor próprio, mesmo - murmurou.
- Agora o colégio todo sabe disso, não? - Lily disse atrás dele.
James prendeu a respiração e ainda sem olhar para trás, acenou, contrariado - veio jogar na minha cara?
- Não, na verdade eu vim me desculpar.
Lily sentou ao lado do moreno na grama molhada. Como se não bastasse aquela discussão do sábado, todo o arrependimento que ela sentiu, ainda teve de encarar as amigas quando contou do ocorrido. "Você foi cruel, Lily" "você sabe que ele gosta de você, e vice versa" "você é orgulhosa demais, vai compensar a falta de amor próprio dele" e outros comentários do tipo encheram sua noite. E pela primeira vez, sonhando com o maroto, não teve aquele pesadelo. Pelo menos, não estava igual aos outros.
Eles se beijavam. E de repente, ele se afastava, mas ninguém ria. Todos batiam palmas e soltavam assovios de alegria. E eles voltavam a se beijar, ainda mais felizes. E ele se repetiu, e se repetiu durante toda a noite. E passara a manhã distraída, tentara colocar o gorro no pé, ao invés da meia. Pusera a roupa pelo avesso, arrumou a cama de forma contrária à de todos os dias, desceu sozinha ao Grande Salão, sem que se lembrasse de que estava andando.
E quando escutou aquilo, não soube o que pensar. "Eu não consigo pensar mais em nada, apenas em Lily Evans". Aquilo ecoava em sua mente. E ela sabia que era verdade.
- Você sabe que não precisa se desculpar de nada, Evans. Nunca me pediu nada, nunca me deu falsas esperanças. O errado sou eu, mesmo - James disse, puxando-a para a realidade.
E nessa realidade, ela viu amargura na voz do maroto. Aquilo não combinava com ele. Vê-lo sem orgulho, sem prepotência, sem mentiras era ao mesmo tempo bom e assustador.
- Pára com tanta autoflagelação, James - ela pediu, sentando ao seu lado.
Ele a encarou, sério. - De quê você me chamou?
- Hunm. Desculpa, qual é o seu nome, mesmo? Achei que era James Potter - ela brincou, cortando a grama molhada com as mãos. Sabia que se mantesse as mãos paradas - ou se tentasse - elas iriam tremer loucamente.
Ele sorriu - isso significa que você não vai mais reclamar se eu te chamar de Lily?
- Faria diferença? Ouça, James. Eu não quis ser cruel.
- Eu sei que n--
- Espera eu terminar de falar. Eu não acho que você tenha perdido o amor prórprio, eu não acho que você seja idiota. E eu... Bem, eu... Eu gosto de você - ela terminou num quase sussurro.
Só Merlin sabia o quando aquilo aliviava o peito dela. Mas o silêncio entre eles agora apertava o seu coração. "Eu não quero ser um desafio, James. Não me trate como um desafio."
Lily olhou para o céu, nublado. Fechou os olhos, esperando por uma resposta. E se ele simplesmente dissesse "ótimo, bom pra você" e saísse? Sentiu os lábios do maroto sobre os seus. Abraçou-o pelo pescoço.
A sensação de ser beijada por James Potter sabendo que tudo ficaraia bem entre eles era maravilhosa. Tudo ficaria bem entre eles, não ficaria? Ela se afastou.
- Eu não sou um desafio? - ela perguntou.
- Não - ele respondeu. Ela não precisava olhar em seus olhos para saber que era verdade.
Eles voltaram a se beijar. Se a sensação de estar na chuva já era boa, estar na chuva, beijando James Potter e com a certeza de que ele gostava dela de verdade era espetacular.
Ele se afastou.
- O que acha de ir comigo a Hogsmead? Afinal, você está me devendo - ele convidou.
- Hum. Agora? - ela perguntou e ele fez que sim com a cabeça - você pretende me arrastar pelas passagens secretas do castelo, com a sua capa, é? - insistiu, uma sobrancelha erguida.
- Hunm. Eu achei q--
- Eu adoraria.
N/A: Último capítulo, very short.
Imediato, rápido. Fofo?
Hum.
Beijocas
