Um longo tempo se passou desde o último capítulo, e eu me envergonho em dizer que não cumpri a promessa de não demorar com este aqui mais do que dois meses. No entanto, este capítulo já foi escrito há mais de um mês, simplesmente não o publiquei porque ainda não o havia revisado. Tive vários compromissos que não irei citar agora, não sei se servem para me justificar, mas pelo menos eu espero que vocês perdoem essa garota cheia de defeitos também :) Eu sinto muito se estou demorando em postar, mas minha vida mudou muito nestes últimos meses (e como...). Espero que gostem!


Capítulo10: O Futuro (Parte 2)


Andava pelo imenso palácio com passos calmos e contidos, não tinha pressa, tudo estava sob seu controle, logo, não havia por quê ter alguma rapidez no que pretendia fazer.

Quase duas décadas haviam se passado desde que ele conseguiu sair de sua prisão e em seguida, destruir seus inimigos. No entanto, alguns deles escaparam, sua vingança, conseqüentemente, não havia terminado. Deu um leve sorriso com tal lembrança, era tão divertido perseguir aqueles seres insignficantes, era um dos prazeres que mantinha na sua jubilosa vida, chegava a sentir uma certa... hm... "pena", em ter que matá-los, pois não haveria mais diversão.

Mas o poderoso senhor logo esquecia estes pensamentos bobos e sem nexo. Sua vingança era mais do que interessante para ele, mais do que prazerosa, era um dever que ele havia se imposto cumprir. Com este pensamento fez uma leve careta. A morte do seu filho, seu herdeiro e futuro senhor de tudo o que o pai e o avô tinham construído, fora-lhe tirado por aqueles hediondos e malditos juraianos. Agora eles iriam pagar, por cada dia de sofrimento que ele teve naquela prisão, por cada dor, por cada momento de desespero. Jamais os perdoaria por tamanha ousadia.

Havia alguns jurais vivos ainda, lembrava com desgosto, e ainda aquelas duas princesas que ele não conseguiu matar... ainda... Porém, isso não seria para sempre, de maneira nenhuma. Na primeira oportunidade que tivesse, iria destruí-las.

O lorde caminhou até seus aposentos mais amplos e luxuosos para um momento de descanso. Estava muito, muito feliz, tinha que admitir. Não conseguira pegar as princesas jurais, mas conseguira algo tão grandioso quanto.

Tokimi... Sim... Lady Tokimi... Por um acaso, ou obra do destino, enquanto procurava os rebeldes e as juraianas pelos universos paralelos, a encontrou. Ah, Lady Tokimi, tão poderosa e ao mesmo tempo tão arrogante. De nada lhe serviu tamanho orgulho e não foi por culpa dele que tudo acabou daquela maneira.

O poderoso senhor, este ser que tudo pode, ofereceu à Tokimi uma chance, ofereceu um cargo para ela, que ela fosse sua aliada. Mas a tola se negou, em sua prepotência... Se negou. E pagou caro. Uma lição que ela não vai esquecer... Bom, pelo menos sua alma no Além não irá se esquecer (concluiu com um sorriso sádico).

Era uma pena os poderes que ela detinha não serem passados para aquele que a vencia, seria de grande ajuda. Os poderes de uma deusa só são passados a pessoas merecedoras de tamanha graça, que normalmente nascem com este título. Escolhidas a dedo pelo Senhor de Todos. Caso contrário, o título é doado de uma deusa, quando sua Era chega ao fim, para aquela que ela julgar ser a merecedora do título.

A esse pensamento, ele riu. O lorde ao qual acompanhamos riu sarcasticamente. Que adiantava todo o poder que "Kami" ou as deusas possuíam, se, no final das contas, quem mandava, quem desfrutava, quem dizia o que era permitido ou não era ele... Unicamente ele... O Universo era seu, as Galáxias mais conhecidas estavam sob seu poder... Tudo dele...

Mas não era suficiente... Não, não era suficiente. Não era suficiente enquanto ele não as matasse: as duas juraianas, aquela infame pirata espacial e... O senhor fez uma pausa ao relembrar-se da última... Sim... A última, mas a primeira responsável por sua ira. Aquela mulher, extremamente inteligente, poderosa, linda, literalmente uma deusa, aquela que o conquistou (por mais que ele não admitisse), que lhe dera seu filho... E conseqüentemente seu sofrimento.

Ela iria sofrer. Ah, iria pagar por todas as vezes que tentou destruí-lo, matá-lo, prendê-lo. Foram mais de mil anos nesse jogo de pega-pega até ela finalmente conseguir prendê-lo. E ele a odiava, profundamente, odiava-a por tê-lo prendido, odiava-a por tê-lo condenado à solidão infinita, odiava-a por ter-lhe dado um filho, odiava-a... odiava-a por tê-lo feito amá-la... Aquele que nunca se permitira tamanha fraqueza... Ela conseguiu fazê-lo sentir esta... Conseguiu fazê-lo confuso... Indeciso nas suas maiores convicções.

Só que ele não permitiu... Não ele... Não o Lorde do Universo... Ele não permitiu que ela o dominasse e a jogou fora, como quem joga um saco de lixo. E por mais que ele a tivesse amado, existia algo nele maior do que qualquer sentimento que poderia sentir... Ambição. Sim... Ambição. Está tão doce, mas venenosa, tão prazerosa, mas cheia de dor, esta que dá e ao mesmo tira. Esta era seu principal defeito e virtude. Por ela... Por sua ambição... Ele convenceu seu filho a ajudá-lo... E seu herdeiro o fez, inconsciente do que fazia, mas fez... E morreu...

Mas não era culpa desse Senhor... Não, não... Este Lorde estava certo no que pretendia...

Foram eles... Os jurais... E foi ela... Washu.

- Com a sua licença, Lorde Mikamo. – Este senhor que tanto pensava e refletia, voltou-se para seu subalterno, esperando as notícias que o faziam ter tamanha ousadia de interromper seu descanço.

- O que queres? – Frio como se deve tratar um subordinado.

- Prendemos um dos rebeldes. – disse humildemente o servo.

- E o que isso me interessa? Mande torturá-lo, matá-lo, se quiserem. Qual a grande novidade disso para interromperes meu descanso? – falou com autoridade Mikamo.

- Perdão, senhor... Mas... Este rebelde... Ele... Ele... – falava com dificuldade, medo visível em seu rosto. – É um daqueles que o senhor tanto procura, é um da Liga Tenchi.

Os olhos do Senhor da Terra e do Universo brilharam assustadoramente diante de tal afirmação.


Tropas e mais tropas seguiam para o local indicado. Os poucos moradores, todos miseráveis, escondiam-se entre seus barrancos ou no lugar mais próximo que conseguiam. Seja quem fosse que tivesse de enfrentar toda aquela potência, com certeza não iria sobreviver.

Não eram tanques ou naves, como costumava ser nos anos antes dele chegar àquele mundo. Não... Eram homens de extremo poder das Trevas, guerreiros muito parecidos com os samurais das épocas feudais, mas com trajes e armas, milhares, bilhares de vezes mais potentes, mais fortes, resistentes e poderosas que as anteriores.

Eram mais de cem homens, talvez pouco, se poderia pensar. Mas aqueles homens, aqueles que marchavam com passos firmes e confiantes para uma só direção, foram treinados e "abençoados" com poderes dado por Ele. Sim... Ele... O Lorde das Trevas, dos Males, Senhor das Desgraças e Desespero, da Destruição e da Crueldade.

O Lorde deles, o Lorde que os tinha sob seus "cuidados".

Lorde Niwase Mikamo.

Nosso Lorde estava ao alto de uma nave pequena, porém tecnologicamente imbatível. Era o único que tinha seu meio de transporte, como deve ser a situação de um alto líder como ele. Em seu rosto trazia um sorriso sombrio e maldoso, triunfante e asqueroso.

Finalmente, depois de tantos anos de procura, tantos anos que teve de gastar para encontrar o maldito esconderijo delas, ele consegue. Um golpe de sorte, diga-se de passagem. Nunca antes haviam conseguido prender um dos rebeldes da Liga Tenchi, mas a hora delas serem achadas parecia ter chegado.

Adoraria ter torturado o rebelde por informações, mas nada disso foi preciso. Sendo ele quem era, não precisou de artifícios tão "rústicos" para conseguir saber o que queria. Fora simples, algo quase corriqueiro, pelo menos para ele, sendo algo impossível para a grande maioria dos seres vivos. Lorde Mikamo apenas precisou entrar na mente do pobre rapaz, simplesmente precisou atiçar os piores medos dele para conseguir tirar as informações que queria.

E agora, aqui estava ele, pronto para terminar sua vingança. Matara todos da família Jurai e apenas aquelas duas pirralhas haviam sobrevivido. Não por muito tempo.

Foi um tanto quanto estranho, porém nada que se deva levar em conta, descobrir o esconderijo delas. Mikamo gastara anos procurando em Universos Paralelos depois de procurar pelo Universo inteiro e no final das contas... Elas estavam o tempo todo na Terra.

Poderiam chamá-lo de tolo quem só soubesse dos fatos até este ponto, mas ele sabia que nunca iria estar "apto" a receber tal nome. Quem deveria, com certeza, ser parabenizada pela estratégia era ela, novamente, Washu. Conhecendo-a como conhecia, tinha certeza que fora ela quem planejara a "fuga constante" deles. Washu transportava-os para um Universo Paralelo quando achava necessário e algum tempo depois voltava a Terra, vezes sem fim, tentando fazer ele, Lorde Mikamo, de idiota.

Quase conseguira... Sim, quase conseguira... Não se manter em apenas um lugar fora inteligente dela, uma "base" para a Liga Tenchi que não possuía localização precisa fora esperta... Mas ela não era perfeita, ela errou, um erro tão simples e tão primário que até mesmo ele nunca imaginou que uma mente como Washu se permitiria cometer.

Ela e aquelas outras meninas deixaram um dos seus serem presos durante um ataque da sua Elite contra os Rebeldes dela. Elas não foram capazes de impedir a prisão de um dos seus. Algo inadmissível em uma guerra como a deles. E ela cometeu esse erro. A grande e poderosa, geniosa e imbatível Washu cometera um dos erros mais antigos e mais estúpidos que poderia. Deixou um dos seus ser pego e dessa maneira, permitiu que todos os seus agora sejam presos.

Mikamo sorriu ainda mais. Sua vingança demorou a se cumprir, mas seria doce agora... E como seria doce...


Tremores começaram a ressoar por todos os lados. Objetos caindo, máquinas entrando em curto circuito, o chão tremia como se ali estivesse ocorrendo um terremoto. Mas não era isso. Não... O que estava provocando aquilo era muito pior que um terremoto.

- Todos aos seus postos! Eles finalmente chegaram! – gritou autoritariamente uma mulher de longos cabelos rosa escuro e olhos verdes. A mulher vestia uma túnica, no entanto, mais aparentava uma vestimenta de guerra que uma roupa para cerimoniais. – Eu quero metade de vocês atacando pela frente, a outra metade se divida e ataque pelos lados!

Enquanto vários guerreiros com roupas especiais de guerra corriam de um lado para o outro, a mulher dirigiu-se para um aposento especial, onde encontrou mais três figuras ali.

- Sasami, está na hora. – a jovem mulher acenou positivamente e depois de dar um olhar significativo para as duas outras pessoas ali presentes se retirou do aposento junto a sua mentora.

- São muitos, Lady Washu? – a maior cientista do Universo não mais trajava ou aparentava seu ar científico, e sim um cheio de graça e elegância que apenas uma das Três Grandes possuem. Seu olhar era sério, mas um leve sorriso cínico era percebido nas sombras de seu rosto.

- Chame Tsunami, Sasami. Este será nossa última batalha. – Sasami sentiu um frio na espinha diante das palavras, porém compreendia o que tudo aquilo significava. Não era mais momento dela agir e sim daquela que salvara sua vida há muitos anos.

Uma luz forte e colorida se expandiu por alguns momentos até que uma figura aparecesse. Aparentemente era a mesma moça que ali estivera minutos antes, no entanto, os olhos dessa eram mais graves e sábios, cheios de conhecimentos de milhares de anos de experiência. Suas vestimentas eram parecidas com a daquela que a acompanhava e seu olhar era sereno, no entanto preocupado.

Não trocaram nenhuma palavra até chegarem à entrada daquele forte. Já podia ser ouvido barulhos de tiros e lasers por todos os cantos, aquela seria uma batalha sangrenta, mas necessária. Significaria a liberdade ou a escravidão eterna.

As duas mulheres colocaram-se uma ao lado da outra, olhares altivos e firmes, ao atravessarem aquele portão encontrariam o destino que por tanto tempo ansiaram e ao mesmo tempo evitaram.


Corpos eram vistos espalhados por toda a dimensão. Sangue e armas eram constantes; os tiros, devastadores; os gritos, angustiantes. A guerra a pouco começava, entretanto já trazia grande número de mortos. Apesar de seus guerreiros serem minoria contra aqueles rebeldes, eram milhares de vezes mais bem preparados e a luta estava um tanto quanto equilibrada.

Todavia, aqueles meros mortais não lhe traziam preocupação ou o incomodavam, seus olhos se mantinham fixos na entrada do local, esperando para finalmente encontrar seus verdadeiros inimigos. Esperara longos anos por aquele momento e finalmente poderia desfrutar de sua vingança.

Para seu deleite, sua espera não foi longa. Em um súbito movimento, as portas de ferro e chumbo começaram a se abrir lentamente, onde duas figuras minúsculas, porém não despercebidas, saíam a passos confiantes por ela. Assim que o fizeram, todos os presentes pararam de guerrear, olhos fixos nas novas presenças, sabendo que a partir dali aquela luta tomaria outro rumo.

- Finalmente. – Falou em tom frio e baixo, cheio de morte e ódio o homem de tez pálida e olhos da mesma cor. Se ainda possuía coração, este só clamava uma coisa... Morte.


As duas saíram calmamente do local em que se encontravam, cheiro de sangue era forte, porém parecia não afetá-las. Apenas um alvo, apenas um ser era focalizado pelos olhos das duas figuras divinas.

Aquele que trouxera destruição finalmente receberia o que merecia, sim... Ela faria questão que receberia...

- Parece que nos encontrou, Lorde. – falou sarcasticamente a última palavra a mulher de olhos verdes. O homem sorriu de lado ao vê-la.

- Há muito não a vejo, querida. Estava com saudades. – falou no mesmo tom. A mulher contraiu as faces em raiva.

- Você sabe que não saíra impune, Mikamo! Eu irei te matar com minhas próprias mãos! – gritou enfurecida, fazendo o homem rir com gosto.

- Washu, Washu, Washu... Sempre tão impulsive quando me vê. Até me sinto lisonjeado. – A mulher fez menção de responder, mas a outra ao seu lado resolveu interromper a discussão aparentemente sem fim.

- Você causou mal demais Niwase Mikamo. Deve pagar por seus crimes, como manda a Lei Galáctica. – o senhor desviou seu olhar para a outra figura. Seus olhos, antes cheios de uma diversão sardônica, tornaram-se frios novamente.

- Lady Tsunami... Não a via há muitos anos, não? Como é a sensação de perder todos aqueles por quem você zela, hein? – Falou com veneno na voz, fazendo a mulher vacilar por um segundo. Segundo as tradições de milhões e milhões de anos, cabia à Árvore Mãe da Família Jurai zelar por eles, algo que ela não pôde cumprir quando o novo Lorde do Universo surgiu.

- Você trouxe dor e sofrimento, agora irá pagar por isso, Niwase. – disse ela sem sentimentos na voz.

Tsunami tomou uma posição de batalha invocando sua espada de luz e Washu fez o mesmo, pronta para sua batalha final. Se Tokimi estivesse do lado delas, talvez tivessem uma chance de vencer, mas ela sumira depois do incidente de anos atrás e agora cabia às outras duas deusas resolver todo aquele impasse. Pelo menos até que Ele estivesse fraco o suficiente para...

- Pensa que podem me vencer? – e ao falar, o senhor riu com gosto, descendo graciosamente de sua nave, ficando a pouco mais de dez metros de distância das duas mulheres.

Os três se encararam pelo o que pareceu horas, até que Washu, não mais contendo sua cólera, avançou contra seu oponente.

Todos ali presentes ficaram parados, sem coragem de se mover diante da batalha de Titãs a sua frente. Nem os rebeldes, nem a Guarda de Mikamo ousava se mover, medo estampado em seus rostos diante do poder daqueles extraterrestres que vieram para dominar ou defender àquela que era por direito dos terráqueos há tantos anos.

Mikamo mantinha seu sorriso irônico diante das investidas de Washu, sem mover um dedo para atacá-la. Se não fosse a situação, ela seria uma ótima prostituta para passar o tempo. Mas ela assinara seu destino e pagaria por ele, e com esse pensamento, assim que a mulher tentou golpeá-lo no ombro, ele virou de lado e esbofeteou-a, jogando-a alguns metros de distância.

Tsunami, que antes apenas assistia a luta, partiu ao socorro de sua companheira. Enquanto esta se levantava, o Lorde da Terra apenas permaneceu parado em seu estado de comtemplação, um brilho divertido em seus olhos diante do sofrimento alheio.

- Isso é tudo que pode me oferecer, Washu? Juro que esperava mais da Deusa da Sabedoria. – Washu grunhiu entre dentes enquanto levantava calmamente com a ajuda de Tsunami. Sua vontade era de esmigalhar aquele corpo a sua frente, no entanto, sabia que não tinha poder suficiente. Havia apenas uma maneira, que as duas ali presentes sabiam qual era. Olharam-se significativamente durante um segundo antes de acenarem mutuamente em afirmação e prepararem-se para atacar novamente.

- Seu império chegou ao fim hoje, Mikamo. Juro por minha vida que você morrerá hoje. – disse Washu ameaçadoramente, antes de partir para o ataque, juntamente da outra deusa ao seu lado.


O sorriso de Mikamo não sumia de seu rosto. Certamente estava sendo bastante divertida aquela luta. Não podia negar que Washu era forte, e como era. Mas não era páreo para ele. No entanto, junto das outras deusas, ela podia ser uma força mortal, e mesmo sem a presença da Deusa do Poder, as outras duas ainda podiam ser um desafio considerável.

A luta se estendia por minutos sem fim, os dois lados levemente ofegantes, as duas mulheres um pouco mais que o outro. Washu tinha seu abdômen ligeiramente ferido, devido ao golpe que receber quando Mikamo invocara sua espada e Tsunami tinha seu braço esquerdo com um corte um pouco profundo.

Em compensação, tudo o que se via na figura do Senhor Galáctico eram algumas poucas escoriações. Um filete de sangue descendo levemente por seu lábio era tudo o que alterava a face austera e poderosa daquele que conquistara todo o Universo.

Sem que Mikamo ou Washu se decem conta, Tsunami partiu para o ataque, com velocidade renovada, pegando seu oponente desprevenido. E em um lance de sorte, ou de força súbita, Tsunami conseguiu transpassar sua espada na lateral do abdômen daquele que era chamado A Reencarnação do Mal.

Tsunami pulou para trás, ligeiramente surpresa com o golpe que conseguira dar. Não esperava conseguir tamanha façanha, mas veio a calhar. Entretanto, a mulher não pôde comemorar seu momento de vitória, pois o rosto antes neutro, ou às vezes divertido do senhor, contorceu-se em raiva, enquanto labaredas de energia começaram a rodear a figura masculina, entre cinza e vermelho, mostrando todo seu ódio e desprezo por aqueles em sua presença.

E nada pôde fazer Washu ou Tsunami quando o rápido golpe do Lorde do Universo veio de encontro ao corpo esbelto da jovem deusa. Era o fim para a Deusa da Bondade... Esta concluía com ligeiro pesar...

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- Mas o que...! – Mikamo parou subitamente em seu percurso, ou melhor, algo o fez parar seu ataque. Assim que podia pressentir o cheiro do sangue divino da deusa escorrendo por sua espada, cilindros escuros apareceram subitamente, barrando sua passagem com ondas elétricas descomunais, energia que poucas vezes antes ele havia presenciado.

O homem voltou-se para a porta do Forte, sentindo duas presenças se aproximarem e seus olhos estreitaram-se com a visão.

- Não ouse tocar em Lady Tsunami. – Uma voz feminina, porém cheia de gravidade falou lentamente. E Mikamo apenas manteve seu olhar naquelas que há muitos anos não via, ou melhor, há muitos anos não as sentia tão... vivamente.

Aquela princesinha que defendeu o terráqueo e aquela pirata espacial que tentara golpeá-lo há anos, não mais haviam sido vistas por seus olhos como da primeira vez. Não mais tinham energia viva fluindo por seus corpos e não mais tinham corpo ou matéria, apenas espírito e energia metafísica. Fora assim que ele as confrontara durante quase duas décadas depois que matara aquele terráqueo descendente juraiano. E fora assim que ele imaginara encontrá-las novamente.

Grave engano...

Na sua frente, agora resplendia duas poderosas auras, cheias de energia e vida, cheias de poder e habilidade. Duas figuras quase celestiais como aquelas que eram chamadas deusas. E seus olhos se arregalavam com a constatação que se formava em sua frente.

Não mais existia Aeka e Ryoko. Agora, na sua presença, encontravam-se Lady Aeka, austera e elegante e Lady Ryoko, poderosa e habilidosa.

O rumo da luta talvez mudasse agora...


Mikamo ficou um momento parado, observando as duas novas pessoas que se encontravam naquela batalha. Por alguns segundos, que mais pareceram minutos, nem os Guardas Galácticos de Mikamo nem o Grupo Revolucionário do Forte Tenchi ousava se pronunciar, meramente respiravam.

Era quase palpável a tensão no ar, seja qual fosse o resultado da luta seguinte, todos sabiam que seria devastador.

Os segundos mudos foram subitamente cortados pela gargalhada grave e descarada de Mikamo, que, contra os princípios da pouca lógica que ainda restava naquele planeta, não alterou as faces sérias e concentradas das quatro mulheres que se colocavam em frente do Líder Maléfico.

Mikamo não pareceu se abalar com o constatado.

- Era essa sua última cartada, Washu? Realmente chegou a acreditar que fusionando os espíritos das duas do passado com as do futuro iria poder me vencer? – dessa vez o ouvido fez a face de Washu se surpreender levemente. Como ele poderia saber?! Mikamo pareceu ler os pensamentos da deusa – Achou mesmo que eu não perceberia, sua tola?! Não importa quantos séculos se passem, você continua uma pequena ingênua quanto se trata de mim! – Washu mudou sua face para uma bastante irritada.

- Ora, seu maldito! Como ousa?! Como...?! – Mas Mikamo a interrompeu.

- Como percebi?! Oras... – riu levemente – Você não achou que eu não conhecesse os métodos de união de corpos, achou? Não achou que eu não soubesse que só havia uma maneira de dar matéria a dois seres como essas duas, achou? – sorria cada vez mais diante da face contraída da ex-mulher – Pensa que não percebi a alteração no tempo e espaço que ocorreu quanto você enviou alguém para o passado e trouxe as outras duas para cá, não é? – a situação para ele era cômica. No entanto, Washu não compartilhava da mesma idéia.

O Lorde do Universo calou-se por um momento, ainda se "recuperando" de sua crisde de riso. Em seguida, fechou a expressão – Ainda só não descobri quem você poderia mandar para o passado que tivesse energia suficiente para se igualar com a soma das energias de, tenho que admitir, duas mulheres tão poderosas. – Washu sorriu de lado com as palavras.

- O poderoso Niwase Mikamo não pôde constatar o que é tão óbvio?! – Mikamo fechou mais sua expressão diante do escárnio.

- Não me venha com essa, mulher! Você, mais do que ninguém, sabe que poucos têm tamanho poder. Talvez ninguém atualmente além de mim e das deusas – falou a última palavra esnobemente. – E como vejo que tanto você quanto Tsunami ainda estão aqui, fico imaginando quem poderia ser... – Washu resolveu blefar, ganhar um pouco de tempo. A fusão pela qual Aeka e Ryoko passaram fora um sucesso, mas os corpos não se acostumam fácil e rapidamente com a nova carga de energia.

- Quem sabe não foi Tokimi, uh? – falou ela em tom de escárnio mais uma vez. Contudo, o resultado não foi o esperado por ela. Mikamo sorriu larga e maleficamente.

- Washu, Washu... – disse ele em falso tom de quem repreende uma criança que fez uma pequena arte – É um tanto quanto feio da parte de uma deusa contar mentiras, não concorda? – Washu estreitou os olhos e falou perigosa e lentamente.

- O que quer dizer, desgraçado? – o homem sorriu com crueldade.

- Bom... Eu tenho sérias dúvidas que uma morta... Possa ter feito tal "viagem"...

Os olhos de todas se arregalaram.


Novo silêncio estabeleceu-se entre os presentes. O Líder Galáctico sorria maldosamente, enquanto as quatro moças tinham as faces surpresas, Tsunami com lágrimas nos olhos. – Como pôde...? – e foi ela a primeira a falar, ainda que sua voz fosse quase um sussurro quebrado.

Mikamo voltou seus olhos cheios de diversão de Washu para a outra deusa, e seus olhos novamente ficaram frios.

- Eu ofereci uma escolha para ela. – disse mais por constatação do que para se defender – Mas a divindade – falou esnobemente – Escolheu a morte certa a se tornar uma das minhas subordinadas. – um breve silêncio se estabeleceu, antes de ser quebrado pela voz um tanto quanto grave de Washu.

- Tokimi nunca se submeteria a ninguém... – falou quase em um sussurro, olhando para baixo, como se falasse para si mesma – O Lorde Galáctico voltou a olhá-la com renovado sorriso de superioridade e diversão.

- Era uma tola arrogante. Bastante teimosa, diga-se de passagem. – Fez uma leve pausa, seus olhos brilharam por um segundo, tentando esconder o desejo sexual toda vez que mirava a deusa da Sabedoria – Lembrou-me muito você... Querida Washu. – A mulher voltou repentinamente seu olhar para o homem a sua frente, olhos que refletiam puro ódio e desejo... de vingança.

- Você irá pagar por seus crimes, Mikamo... – falou ela em tom de ameaça – Irei garantir que cada vida perdida devido a sua ambição seja vingada... – Terminou quase em um sussurro. Mikamo sorriu irônico ao ver a face de sua ex-mulher. Parecia que seu ódio por ele a fazia mais estonteante, mais soberana... Cada parte do corpo feminino que tremia furioso era digno do título de deusa da Sabedoria e Conhecimento, a Elegida por Deus.

O maléfico finalizou sua contemplação e fechou seu sorriso, olhos frios e concentrados.

- Agora basta de conversas... É hora de finalizar minha tão esperada vingança. – disse, tomando posição de luta, enquanto apertava em suas mãos sua espada de pura energia, cuja luz vacilava entre cinza e branco como gelo. Faíscas saíam da arma por todos os lados, queimando o chão, mas não parecendo afetar ao seu mestre.

Aeka e Ryoko, que ainda se mantinham a certa distância e não haviam falado nada durante a discussão, caminharam até Tsunami, que se encontrava um pouco atrás de Washu. As duas, que encaravam Mikamo todo o tempo, olharam com os cantos dos olhos para a deusa da Bondade, que fez o mesmo. Acenaram as três positivamente, enquanto ativavam suas próprias espadas de luz.

Sentindo a energia atrás de si, já que ainda encarava Mikamo, Washu liberou sua espada de luz, mais uma vez, resplandecente em um vermelho rosado, porém escuro. Sua arma de vez em quando soltava suas próprias faíscas, prova da energia que nela crescia, talvez devido à raiva visível na deusa da Sabedoria.

- Vou presenciar sua morte, Mikamo... – disse ela com calma – Assim como vi a do meu filho. – Antes que o homem pudesse dizer ou fazer qualquer coisa, a mulher envolta a aura rosa e vermelha de fúria partiu de encontro a ele, pronta e determinada a ver o sangue daquele que uma vez amou escorrer por suas mãos... Mãos que seguraram o corpo sem vida de um filho morto pela ganância do pai...


Mikamo observou levemente surpreso como Washu vinha velozmente em sua direção, tão veloz como nunca o fizera. Porém, conseguiu bloquear o, surpreendentemente, poderoso golpe de Washu. A face do homem estava concentrada e dura, como a de um animal que encontra um inimigo mortal e parte para o embate inevitável.

Washu, por sua vez, resplandecia em ódio. Cada fibra do seu corpo gritava pelo sangue da vingança. Sua mente, contudo, não estava descontrolada, como era de se esperar de alguém com tamanha raiva. Não... Seu corpo podia estar queimando de fúria, mas sua mente estava clara e gélida como morte. A deusa da Sabedoria esperara por muito tempo tal momento, meditara por horas na espera de tal momento e se manteria de pé até o último momento... Até o momento da morte chegar.

Aeka, Ryoko e Tsunami estabeleceram-se em pontos estratégicos em volta dos dois que batalhavam, à espera da hora em que entrariam em ação. Esperavam pacientemente, sabendo do perigo da situação. Mikamo era infinitamente poderoso, sabiam disso, poucas eram as chances de vitória, mesmo que as três Grandes deusas lutassem juntas, o que nunca viria a se concretizar.

A esperança delas era enfraquecê-lo... De pouco em pouco, mas enfraquecê-lo. Até o momento em que Aeka e Ryoko pudessem liberar todo o poder adquirido na fusão.

Um campo de encergia parecia ter sido criado em volta dos cinco, pois nem a Guarda, nem os Revolucionários conseguiam se aproximar, tamanha a energia descarregada nos encontros de espadas. Era como uma ordem silenciosa de seus respectivos líderes, não se aproximar, nem guerrear entre si. Seja qual fosse o resultado do embate, seria o resultado de tudo e todos.

Após um encontro de armas, em que mediram forças por vários segundos, os dois guerreiros saltaram para trás, colocando distância de metros entre si. Aproveitando a situação, Washu invocou uma das suas grandes bolas energéticas e não deu tempo para que Mikamo se desviasse.

Pego de surpresa, o guerreiro posicionou-se da melhor maneira possível para amparar o golpe, segurando a esfera de energia por vários segundos, com ambos antebraços, até que finalmente conseguiu jogar longe o poder acumulado. A esfera caiu a vários metros de distância, provocando uma explosão de enormes proporções.

Ao fim do golpe, Washu estava ofegante, mantendo-se de pé com certa dificuldade. Seu inimigo, por outro lado, ainda estava de pé, praticamente intacto, se não fosse a roupa levemente amassada e rasgada.

O homem mantinha os olhos em sua oponente, até que pareceu notar algo; seus olhos se alterando levemente. Olhou para seu braço esquerdo e, súbita e espantosamente, rasgou a manga de sua riquíssima túnica. Em seu braço nu desciam dois ou três filetes leves e outros grossos de sangue. Sangue que umedecia seu braço até os dedos, pingando ao chão. Olhou, sorrindo de lado, para Washu.

- Você me acertou, querida! – disse em divertido tom, fazendo a cansada deusa fechar a expressão novamente – Estou tão orgulhoso... – concluiu no mesmo tom.

- Cala a boca, idiota! Não me venha com seus escárnios! Eu ainda pretendo matá-lo! – Falou aos berros e Mikamo fez uma falsa expressão de tristeza.

- Assim você fere meus sentimentos, meu amor... – falou com escárnio, divertindo-se com a raiva femimina. Contudo, logo fechou a expressão mais uma vez. – É hora de eu te devolver o favor que fez ao meu braço... Mas não se preocupe, não irei arrancá-lo... Ainda... – Concluiu partindo velozmente contra Washu, que arregalou os olhos, tentando se posicionar contra o ataque.

No entanto, a espada maligna nunca chegou a encostar na cientista, pois encontrara uma "barreira" na frente desta.


O Lorde fitou a mulher que impedia seu golpe com olhos cerrados. Ela fazia grande esforço para não sucumbir, mas ele sabia que não deveria subestimar a deusa e guardiã do Planeta Jurai.

- Tsunami... – falou entre dentes, mais frio que com raiva. A mulher, de face sempre tão terna e serena, esta séria e austera, por mais que lhe custasse amparar o golpe.

- Não dessa vez, Niwase... Não irá matar ninguém em minha presença... Não dessa vez. – Os dois ainda pressionavam suas armas, o homem com certa vantagem.

Era de conhecimento dele que a deusa da Bondade não era veloz ou tinha tanta força física como as outras duas deusas. Para quem pouco sabia, ela não passaria por mais uma aristocrata delicada e frágil. Contudo, ele sabia que não era bem assim. Tsunami era a árvore mãe de Jurai, a que deu origem a todas as outras. Tsunami era a mais poderosa nave Jurai, a única a conseguir projetar as 12 Asas do Falcão da Luz. Sim... 12 Asas. Se Yosho e Tenchi já eram poderosos ao usarem apenas três, imagine as doze?

Contudo, ele tinha bastante convicção de que a árvore, ou nave jurai, nunca mais iria usar seu poder máximo. Ela celara seu destino ao aceitar transferir toda sua essência para um corpo mortal, no intuito de salvá-lo. Tolo e honroso ato. Ela salvara uma vida e jogava fora toda força que possuíra um dia. A mais temida e poderosa das naves Jurai. Jamais ela teria condições de usar tamanho poder em um corpo daqueles, não sem antes destruí-lo por completo. E isso ele tinha plena consciência que a deusa da Bondade jamais faria.

Sim, ela jamais machucaria sua protegida, aquela que ele, Niwase Mikamo, queria matar. E era justamente por isso, por essa razão, que ele estava sendo cauteloso. Tsunami talvez não pudesse usar todo seu poder, mas faria de tudo para proteger a jovem princesa Jurai. E isso era suficiente para fazê-lo cauteloso. Suficiente, quando a determinação vem de uma das três Grandes deusas, representantes do Supremo no Universo.

Mikamo aumentou a carga de poder sobre a espada da deusa. Tsunami, de pouco em pouco, ia sucumbindo, até tocar um dos joelhos ao chão, as espadas de luz quase atingindo sua face.


Era a hora de finalmente matar uma daquelas mulheres que tanto jurou um dia fazer. Era ela a protetora de uma das juraianas, iria ser duas a menos e isso lhe agradava bastante. A mulher de cabelos azuis já não tinha forças para sustentar o golpe, era agora seu fim, ou pelo menos era isso o que ela imaginava até...

Em um estalo, Mikamo saltou para trás, não podendo finalizar seu golpe. Um raio de energia quase o acertara, com tamanha precisão que atravessara justamente o lugar em que ele estivera a meros segundos. Olhou para o lado e a viu... Com uma das mãos abertas e direcionadas para onde o ataque fora feito. Estreitou os olhos, era uma das outras duas. Daquelas que alguns anos não pareciam ser perigo algum para ele.

- Ryoko... – pronunciou, lembrando-se do nome da mulher de longas mechas azuis claras. – Vermes... – concluiu, pronto para mandar uma de suas rajadas energéticas na mulher.

Entretanto, novamente foi impedido, dessa vez por outra espada. Desviou-se a tempo de evitar um ferimento mortal, mas não o suficiente para não ser acertado. Um filete de sangue escorreu pela face masculina, do alto da sombrancelha direita, até o meio da maçã do rosto.

Passou dois dedos pelo ferimento e encarou-os maculados do líquido viscoso. Votlou-se com raiva para seu atacante a poucos centímetros de distância.

- Dessa vez ninguém irá te defender, Washu. – e levantou a espada lateralmente, pronto para decepar a cabeça da deusa, levemente corcunda devido ao esforço de ficar em pé. Gastara muito de sua energia em um golpe final, que falhou. E agora pagaria o preço, pois não tinha tempo nem condições físicas de desviar. Aguardou o golpe olhando o assassino nos olhos.

O Lorde do Universo encarou por uma última vez sua ex-mulher e não tardou em finalizar o golpe.

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- O quê?! – Mikamo encarou sua espada que parara na metade do percurso e finalmente percebeu os cilindros na frente desta, aqueles mesmos cilindros que o atrapalhara no começo daquela batalha. Olhou Aeka com ódio, esta tinha um de seus braços apontados para ele. Aquelas interrupções já estavam começando a irritá-lo.

Mikamo iria matar aquelas duas novas ameaças por estarem atrapalhando-o, isso era inaceitável para o Senhor de Todos e Tudo. E quando tirava uma de suas mãos da espada para finalmente apontar para Aeka e Ryoko... Percebeu o erro.

A toda sua volta, formavam-se mais e mais cilindros, não deixando espaço algum para fuga. Parou de apontar sua espada para Washu de modo que pudesse usá-la para cortar a barreira recém formada. No entanto, era tarde demais, Aeka levantou a outra mão e num gesto energético de ambos braços os cilindros entraram em ação, causando um efeito muito maior do que um dia poderia Aeka imaginar.

Todo o ser de Mikamo era consumido em energia e, se não fosse a velocidade de Ryoko em tirar Washu e Tsunami de perto, as duas também seriam consumidas pela enorme explosão que se formava, como uma bomba de pura luz no seu poderoso ápice.

Ficaram em silêncio as quatro, esperando as luzes sumirem... E tudo aconteceu antes que elas pudessem perceber ou fazer sequer um gesto...

Por entre a bolha gigantesca saiu como um raio o vulto maligno de Mikamo, envolto de uma energia cinzenta de puro ódio. E na sua saída ele não esperou milésimos para partir ao ataque, rasgando o abdômen de Aeka com sua espada.

A princesa mal teve tempo de invocar sua proteção, o ataque fora poderoso e veloz demais, quebrando seu cilindros e acertando-a com força descomunal. Aeka colocou a mão em sua barriga, enquanto dava dois ou três passos para trás, caindo de joelhos.

- Depois de você, apenas faltará sua irmã. E finalmente poderei concluir minha vingança. – falou entre pausas que sua falta de fôlego o obrigava. Suas roupas estavam rasgadas e ele possuía algumas escoriações mais profundas... – Você conseguiu destruir meu campo de força e me acertou... Meus parabéns... Pena que você não irá aproveitar a pequena vitória por muito mais tempo.

Mal as palavras foram ditas e Mikamo partiu para transpassar sua espada na moça ao chão. Contudo, novamente foi barrado, dessa vez pela espada vermelha de Ryoko, e passaram a medir seus poderes.

- Malditas intrometidas. – disse o Lorde entre dentes, forçando sua espada contra a de Ryoko, constatando que a força de resistência dela era maio que a de Tsunami. – Já estou me cansando disso.

E com isso começou a atacar a ex-pirata espacial, que fazia o possível para afastá-lo de Aeka, ainda caída. Enquanto fazia isso, Tsunami aproximou-se cautelosamente da princesa Jurai, ajoelhando-se ao seu lado.

- Graças aos céus Ryoko interferiu. – falou em um sussurro Tsunami, enquanto levantava um pouco o tórax da princesa, analisando seu ferimento. – Ele não pensaria duas vezes em te matar. – concluiu colocando uma de suas mãos no ferimento, resplandecendo uma luz branca e azulada no local.

Enquanto tentava curar a garota, os choques de espada ocorriam a todo momento entre Ryoko e Mikamo, além de bolas de energia de ambos os lados. Tsunami desviou seus olhos do ferimento da princesa Jurai por um segundo, assim podendo observar a batalha ferrenha próxim a certa distância. Quando voltou-se para Aeka, sua mão parara de brilhar.

- Não pude curar totalmente, Aeka. Sinto muito. O poder maligno de Niwase é muito superior ao meu. Agora só com o tempo para cicatrizar.

Aeka não dissera nenhuma palavra durante tais momentos. Seus olhos fixavam-se na batalha entre Mikamo e Ryoko. Em alguns momentos direcionava-os para Washu, que se recuperava pouco a pouco, talvez esperando o momento certo para atacar. Mas faltava algo... Sim, seus amigos e sua família morrera, mas...

- Lady Tsunami, onde está Ry-oh-ki? – perguntou na sua voz ligeiramente séria, sem desviar ainda seus olhos da batalha, diga-se de passagem bastante equilibrada.

Mikamo era poderoso, mas era surpreendente o poder que tanto ela, Aeka, quanto Ryoko tinham adquirido após a fusão que fizeram horas atrás. Era como lhes fora dito antes, elas poderiam ter poderes equivalentes aos de deusas agora. A diferença era o título celestial que as verdadeiras possuíam.

Ryoko suportara o golpe de Mikamo sem grandes dificuldades, como ocorrera com Tsunami. Seus golpes também eram mais ágeis e seu poder bélico dezenas de vezes superiores daqueles que um dia poderia ser em situações normais. Ela estava lembrando muito mais Tokimi e isso dava certa vantagem em uma luta de espadas.

Por fim, nem ela nem Ryoko tinham liberado todo seu poder ainda, era perigoso enquanto elas não se acostumassem com o novo corpo e poder. Era tempo que precisavam e fora por isso que ela se lembrara da nave orgânica de Ryoko.

Quando Tsunami percebeu que a princesa finalmente saía de seu momento de reflexão e desviara seus olhos da luta para ela, finalmente falou.

- Assim que vocês chegaram do passado, Sasami a enviou em busca de Nagi, em caso de precisarmos de apoio para a última luta. Todavia, ela ainda não voltou. – Aeka se mostrou ligeiramente surpresa.

- Nagi está viva?! – sua voz era de incredulidade. Na sua cabeça, sendo Nagi uma mercenária, ela teria morrido tentando prender Mikamo pelo melhor preço.

- Ela chegou a se encontrar com Niwase, mas sendo quem é, logo percebeu que seria em vão lutar. Como escapou dele eu não consigo imaginar, mas ela tem os seus meios. A verdade é que depois do encontro dela com Niwase, nunca mais conseguimos entrar em contato com ela. Provavelmente está escondida ou tentando escapar dos guardas dele pelo espaço até que a situação melhore. – Aeka ficou em silêncio por alguns segundos.

- Talvez devêssemos ter esperado Ry-oh-ki chegar antes de enviar um dos rebeldes... – falou calmamente.

Não era preciso esforços para Tsunami entender o que Aeka dissera. Sim... Ela se referia exatamente ao plano que as quatro haviam armado. O rapaz preso pelos guardas de Mikamo algumas horas atrás, fora enviado propositalmente, com o intuito de "ajudar" Mikamo a encontrá-las. Ficaram um pouco vacilantes em tomar tal decisão, visto que o pobre rapaz podia ser torturado. Mas conheciam Mikamo, sabiam que ele não perderia tempo com isso sabendo que logo poderia encontrá-las.

Contudo, Aeka tinha a ligeira impressão que agiram precipitadamente. Talvez não tivessem agido no momento correto... – Eu e Ryoko também teríamos aumentado mais nossos poderes... – Tsunami ficou em silêncio, observando a luta, Ryoko começando a ter ligeira desvantagem, antes de olhar Aeka novamente.

- Eu sei disso, Aeka... Mas não demoraria muito para Niwase perceber a presença de vocês duas e ele poderia destruir a Terra para não correr riscos. Era melhor nós atacarmos de surpresa. – Parou mais uma vez, olhando para Ryoko e Mikamo que continuavam em seus golpes incessantes, Ryoko já um pouco ferida.

Subitamente, Mikamo lança uma grande esfera de energia contra a ex-pirata espacial, que faz o possível para se defender. Entretanto, é jogada com toda força contra uma das paredes do Forte que anteriormente era suposto como antiga construção abandonada.

Tsunami arregalou os olhos levemente e, em seguida, estreitou-os, parecendo chegar a alguma conclusão. Repentinamente, voltou-se para Aeka, que tinha os olhos fixos em Mikamo, seriamente.

- Escute, Aeka. Você e Ryoko devem... – Entretanto, não pôde concluir, pois uma gigantesca onda de energia foi jogada na parede ao lado delas, quase as acertando, caso não fosse a intervenção de Washu, que novamente voltava à luta. Tsunami olhou mais uma vez para Aeka, já se levantando, a face séria e grave, como poucas vezes o fora. – Não temos tempo para esperar Nagi ou qualquer outra intervenção que nos dê mais tempo. Você e Ryoko façam o que puderem para pará-lo, até que eu tenha terminado... – E sem mais nenhum comentário, partiu para o embate ao lado de Washu.

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Aeka ficou parada por instantes, tentando compreender os pensamentos da deusa. Arregalou os olhos em um átimo e da mesma maneira se levantou decidida, caminhando o mais rápido que seu corpo debilitado permitia até poder alcançar Ryoko, que tentava, com toda dificuldade, levantar-se dos escombros em que se encontrava.

A princesa Jurai segurou um dos braços da outra e a levantou em um só impulso, mesmo que Ryoko ainda continuasse levemente curvada devido à gravidade de suas feridas. No entanto, mesmo na sua situação bastante decadente, a ex-pirata olhou para a princesa, um dos olhos levemente fechado, devido à dor e sorriu de lado.

- Mais uma vez lutando juntas... – falou em tom de brincadeira, mesmo que sua voz estivesse levemente rouca depois dos ataques que recebera. Aeka não sorriu, mas seus olhos perderam um pouco da gravidade.

Ficaram em silêncio por um momento, Ryoko ainda amparada por Aeka. Finalmente a primeira desviou seus olhos para a batalha desigual que ocorria ali. Seu sorriso sumindo do rosto e uma expressão séria dando lugar à primeira.

- Ele é poderoso, Aeka... Muito poderoso... – disse as palavras como se fossem suficientes para nomear toda a seriedade da situação e de uma possível derrota delas.

Aeka observou a luta por um instante, desviando o olhar para Ryoko, que agora também a olhava com esxpectativa de que a juraiana soubesse a solução para esse grande desafio que lhe era imposto.

- Tsunami disse para fazermos o possível para mantê-lo paralisado, para que ela tenha tempo... – disse Aeka seriamente, olhando nos olhos levemente confusos de Ryoko.

- Tempo para quê? – perguntou Ryoko como se a idéia toda não fizesse sentido algum. Aeka olhou ainda mais fundo nos olhos da outra, antes de desviar seu olhar para a batalha novamente, mantendo-os fixos nessa, seu rosto mais grave do que nunca.

Ryoko observou o perfil da outra jovem, buscando uma resposta e desviou sua face para onde parecia ser que Aeka olhava. Encontrou Tsunami em sua visão e em um segundo tudo pareceu fazer sentido. Arregalou os olhos, em visível descrença.

- Nós não.. – começou Ryoko em um sussurro, mas sem poder ou conseguir concluiu sua frase.

- Vamos Ryoko, temos ordens de uma deusa para cumprir. – e sem dizer mais nada, Aeka se separou de Ryoko, que a olhava seriamente. Contudo, a princesa não pôde continuar seu caminho, pois Ryoko segurou-lhe o pulso firmemente. Aeka voltou-se para a ex-pirata, sua face neutra.

- E a pirralha? – perguntou em um tom tão sério, que jamais Aeka, em outra ocasião, poderia acreditar que saía de tal boca. A jovem princesa fechou os olhos por um segundo, dando um longo suspiro, antes de abri-los novamente para responder.

- Eu confio na deusa da Bondade... – disse ela soltando-se da mão de Ryoko, antes de concluir. – Você deveria fazer o mesmo...

Ryoko ficou quieta por instantes, vendo a jovem princesa sair de perto de si sem dizer mais nenhuma palavra. Por fim, olhou mais uma vez para Tsunami, como se tentasse ter certeza de sua conclusão e de que Aeka estava certa em suas palavras. Suspirou pesadamente, como a outra garota fizera instantes antes, e esforçou-se o máximo para poder se recuperar, tomando o caminho oposto da outra mulher que estivera a seu lado a momentos.

Como fora dito antes, seja qual fosse o resultado daquela batalha, seria devastador...


(Continua)

Mary Marcato

07/11/04


Comentários da autora: Bom, espero que tenham apreciado este capítulo e como ele ficou enorme, tive que dividí-lo mais uma vez. Logo, haverá "O futuro (Parte3)" onde eu finalizo o que acontecerá neste período do tempo nestaa fanfiction. Qualquer coisa é só me mandarem um review ou um e-mail para marymarcato (arroba hotmail ponto com). Até logo!

Agradecimentos: Obrigada a vocês que ainda lêem esta história. Mas agradeço mais ainda àqueles que vêem me dando forças e vontade para continuar.