Olá!!! Eu voltei (finalmente) a escrever todas as minhas fics e pretendo logo terminar esta aqui também. Após este, há apenas mais dois capítulos e eu estou muito feliz com o número de comentários que já recebi (visto que Tenchi Muyo não é muito popular :P). Hoje faz dois anos que eu comecei a escrever fics, justamente com esta aqui. Logo pois, nada mais justo do que eu postar este capítulo neste dia que, pelo menos para mim, é muito significativo. Espero sinceramente que vocês ainda estejam gostando e não deixem de mandar e-mails como vem sempre acontecendo (que bom!!! :P). Divirtam-se!
Capítulo11: O Futuro (Parte3)
Mikamo começava a ficar irritado com aquela luta. Subestimando suas maiores expectativas, a resistência delas estava sendo maior que o esperado. Em um golpe cheio de raiva, ele jogou Tsunami longe, começando a medir forças com Washu novamente.
- Por que você me traiu, Washu? Por que não se juntou a mim? – dizia ele enquanto tentava quebrar o bloqueio dela.
- Não vou repetir tudo que te falei no passado, Mikamo! Tua ganância não teve e não tem limite, mas vai ter um preço! – disse Washu com força e raiva, livrando-se do golpe de homem e cortando-o mais uma vez. Ficaram parados por instantes, bastante ofegantes, porém, a deusa estava em desvantagem visível.
- Com o seu poder de deusa poderíamos ter tudo o que quiséssemos. Mas você me traiu! – disse o Lorde maléfico com ódio.
- Você é quem me abandonou, desgraçado! – disse ela ofegante. – Só veio atrás de mim quando descobriu meu título!
- Eu era um nobre! – disse bravo, como se a frase explicasse tudo.
- Você destruiu a minha vida e de todo um Universo, Mikmamo... Se eu não tivesse a mandado para o passado, você iria matar sua própria... – Mas antes que ela própria pudesse se controlar e não falar a respeito de Aiko, uma grande explosão de energia calou-a primeiro.
A poucos metros de distância, Washu foi jogada para trás com a força da energia que atingia seu ex-marido. Arregalou os olhos diante da visão e olhou para os lados, procurando a fonte de energia que acertava o Lorde do Universo. Se possível, ficou ainda mais surpresa com as visões: de um lado Ryoko tinha em suas mãos uma bola amarelo ouro gigantesca e dessa saía a energia sem fim direto para seu alvo; do outro lado Aeka usava o maior poder jurai conhecido, além das Asas do Falcão da Luz, uma bola de energia prateada e praticamente do mesmo tamanho da de Ryoko. O poderoso Poder Jurai, conhecido e poupularizado como aquele que se equivale ao de Deus.
Washu teria ficado sentada no chão, surpresa, presenciando a energia que consumia seu inimigo. Mas a voz séria e penetrante como nunca de Tsunami a interrompeu.
- Levante-se, Washu! E ajude-as a mantê-lo parado! – Tsunami estava atrás de Mikamo, cujo ainda estava em posição em que encarava Washu. O inimigo encontrava-se exatamente no meio das quatro mulheres.
Washu levantou-se e posicionou-se para atacar também, sabendo que toda aquela energia ainda não era capaz de matar Mikamo. Talvez no passado sim, mas agora o poder que Mikamo alcançara era imensurável.
A deusa da Sabedoria disparou sua própria rajada de energia contra o maléfico, esforçando-se ao máximo que suas forças permitiam. Ela não compreendia o que Tsunami pretendia, sabia que não era suficiente... As ondas energéticas em volta de Mikamo começavam a vacilar, demonstrando claramente que o homem tentava se libertar.
Contudo, maior surpresa não veio do Líder do Mal. Washu arregalou os olhos mais uma vez e Mikamo começou a virar-se, mesmo que com certa dificuldade, para trás, como se estivesse sentindo o mesmo que sua ex-mulher. Os dois olhavam a mesma figura e não podiam acreditar no que parecia estar acontecendo.
- Tsunami... – sussurrou Washu, incredulamente. Era loucura! Ela não podia fazer aquilo! Não podia! Ela ia...
A deusa da Bondade mantinha seus olhos fixos no inimigo, assim como ele mesmo o fazia para com ela, parecendo finalmente se dar conta da periculosidade em que se encontrava naquela batalha.
Tsunami, de pouco em pouco, começou a forçar a segunda bola de energia que dessa vez dispunha-se em seu lado direito. A primeira que fizera estava exatamente ao lado oposto, à esquerda. Ao brilho da segunda luz, o inimigo pareceu despertar do seu transe. Sentindo o perigo eminente, Mikamo tentava expandir mais seu poder, para poder escapar. Logo, as quatro mulheres perceberam isso e tentaram expandir suas próprias forças.
- Tsunami, você não pode fazer isso! – gritou Washu a plenos pulmões, vacilando no único esforço de falar.
- Não o deixem escapar! – foi a resposta de Tsunami. – Ou é isso ou perderemos definitivamente! – Washu iria responder, mas ao ver a decisão escrita no rosto de Tsunami, fechou mais a expressão, acenando afirmativamente, enquanto tentava redobrar sua energia sobre Mikamo.
A deusa de longos cabelos azuis formava mais uma de suas bolas de energia, esforçando-se ao máximo para não fraquejar. Ela sabia que não havia outro jeito, sabia que perderiam se esperassem mais... Não iria cometer o mesmo erro novamente... Não iria pensar duas vezes como fizera no passado...
- Eu jurei que você não mataria mais ninguém na minha frente, Niwase. Não dessa vez... – falou ela com a voz levemente rouca. – Eu tive receio de usar deste recurso no passado, mas não cometerei o mesmo erro novamente... Nem que isso me custe... – Mas não concluiu a frase, pois a formação da quarta bola de energia sugava mais e mais de suas forças.
Mikamo sabia que a mulher não desistiria, sabia que mesmo que aquilo custasse demais, ela não iria desistir. Mas não iria aceitar aquilo. Não, aqueles vermes inferiores não iriam vencê-lo. E, se antes as ondas tremiam levemente em sua tentativa de dizimar aquela barreira que o prendia, agora as ondas moviam-se violentamente, logo ele iria se soltar, não havia dúvidas.
Todas arregalaram os olhos, Tsunamia ainda não havia chegado nem na metade do poder que precisava formar... Se ele escapasse, tudo seria em vão.
Subitamente, uma das ondas de poder cessou, enfraquecendo a barreira que prendia o Lorde do Universo. As outras três moças voltaram-se horrorizadas para a quarta.
- O que está fazendo, Washu?! – desesperou-se Tsunami ao ver a outra deusa cessar seu golpe. Nesse ritmo, Mikamo soltaria-se em segundos.
- Não ousem parar! – Foi tudo o que Washu falou, sem deixar brechas para ninguém retrucar, antes de partir a toda velocidade contra a enorme bola de energia, entrando nela, prendendo Mikamo por entre seus braços, recebendo com ele toda a força energética que corroia anteriormente apenas o corpo do homem.
- Lady Washu! – gritou Aeka, pronta para cessar o golpe, mas foi interrompida.
- Não, Aeka! – gritou Tsunami, assustando a princesa que ouvia pela primeira vez tal tom sair da boca da deusa. – Washu também fez sua escolha. Assim como eu, Ryoko e você! Não tente impedi-la!
Aeka ficou em silêncio, medo em seu rosto. Tanta destruição, tantas mortes, tantas decisões... sua decisão... Não havia como voltar atrás, e nem ela, nem nenhuma das outras que se sacrificaram pela causa pareciam ou iriam se arrepender de escolherem tais caminhos.
Elas haviam selado seus destinos...
Por entre as luzes de energia encontrava-se Mikamo, fazendo o possível para se libertar e Washu, que tentava de toda maneira mantê-lo ali, apesar de toda dor que aquela energia sobre si causava-lhe.
Tsunami estava quase terminando a oitava esfera de energia e Mikamo via que não tinha muito mais tempo.
- Se ela fizer isso, Washu, você também morre! – tentou persuadir a deusa, mas ao silêncio dela ele viu que não adiantaria tal argumento. – Por que se rebela contra mim novamente, Washu? Por que não vê que só mais mortes ocorrem quando tenta se opor a mim? Por que não deixa que eu consiga meu império absoluto sobre todos?!
- Sabe quem foi que eu mandei para o passado no lugar de Aeka e Ryoko? – Washu mudou totalmente de assunto, sua voz meio falhada devido à força que fazia para resistir. Mikamo ficou levemente confuso com o rumo da conversa. – Aiko era o nome dela, Mikamo... – O homem não compreendia as palavras ou a relação que isso tinha com o que ele dissera segundos antes e nada respondeu.
- Aiko era a filha de duas pessoas mortas no passado por um ataque juraiano... – continuou Washu. Mikamo ainda não compreendia. Washu ofegava, sabia que não tinha muito mais tempo. – Filha de uma princesa renegada e de um príncipe corrompido pela ganância do pai... – Mikamo arregalou os olhos, começando a compreender ao que ela se referia. – Aiko foi a criança que presenciou a morte dos pais, ainda bebê... E quem quase perdeu a vida também, se uma certa "deusa"... Traída pelo próprio marido, não a tivesse socorrido... – deu um gemido de dor, mas não afrouxou os braços que prendiam o vilão. Em seguida continuou.
- Mas não foi sem seqüelas que ela saiu viva... não... Aquela menininha perdeu parte da essência de sua vida e teve de ficar em repouso, encubada, por centenas de anos, até encontrar quem oferecesse sua essência para ela... – fez uma leve pausa, antes de continuar. – Mikumo morreu... Sazumi morreu... E Aiko quase morreu... Porque um homem queria ser o Mestre de um Universo inteiro.
Houve silêncio entre os dois, apenas não total devido a toda energia descarregada neles, matando-os de pouco em pouco. Todo o corpo de Mikamo começou a tremer com o descoberto.
- Minha neta... – falou lentamente, com raiva na voz. – Você mandou-a para outro mundo... Você me privou da presença da minha neta e diz que tudo é culpa minha?! – terminou com ódio. Washu fechou os olhos, inconformada diante da cegues do homem que um dia amara.
- Você acha que eu permitiria que minha neta vivesse nesse mundo, Mikamo? – falou Washu, determinada. – Você acha que é em um mundo cheio de morte, sangue, crueldade, feito pelo próprio avô dela que eu permitira que ela vivesse? – falou quase suplicante. – É esse o mundo que você queria deixar para seus herdeiros? – falou quase em um sussurro, já não mais conseguindo suportar a energia em cima de si.
Mikamo nem mais parecia notar os braços da mulher já se afrouxando entre seu corpo. Sua mente estava cheia de imagens, todas de morte e destruição, a maioria provocada por ele... No entanto, falou determinado.
- Ela teria poder. – falou como se a pequena frase respondesse tudo. – A mais poderosa de todo o Universo, com todos aos seus pés. Como um herdeiro de um nobre como eu merece. – E não falou mais, pois não havia mais tempo para palavras.
A décima segunda esfera estava concluída, a décima segunda esfera formada pela deusa da Bondade estava concluía, e a enorme onda de poder entre elas começou a se expandir sem fim... As Dose Asas do Falcão da Luz, a maior força de todo Universo, aquela detida pela Nave Mãe de Jurai, Tsunami, e detida apenas por ela, foi novamente utilizada, dessa vez por um corpo humano.
Aquele enorme poder só podia ser detido por um ser, só era detido por um ser, pela Nave Mãe Jurai Tsunami, e não por uma Tsunami em um corpo humano. Uma deusa que escolheu perder a possibilidade de usar todo seu poder para salvar a vida de uma criança.
Contudo, dessa vez ela precisava de toda forma utilizar aquele poder, e sabia que aquele frágil corpo não agüentaria tamanha força. Fora por isso que ela temera utilizá-lo no passado, e seu vacilo resultou na morte de vários, e muitos desses seus amigos... Dessa vez ela não vacilaria de novo... Nem que isso custasse toda sua energia.
Não... Não permitiria que aquele frágil corpo humano fosse destruído pela poderosa arma que ela utilizava agora. E era por essa razão que ela escolhera algo que nunca pensara ter que fazer um dia antes... Entregaria sua própria essência, a essência da deusa da Bondade, protetora de Jurai, escolhida pelo Supremo, para não permitir que a vida de uma jovem mortal fosse perdida.
Se isso resultasse na morte de seu inimigo... Ela daria sua vida em troca da de Sasami...
- - -
As Asas do Falcão da Luz foram ativadas e certeiramente atingiram a Esfera de Energia em que se encontrava o Lorde do Universo e a deusa da Sabedoria...
Luzes intensas subiram ao alto dos céus, sem limites, diante dos olhares surpresos e amedrontados de tanto os Guardas Galácticos quanto dos Rebeldes, todos paralisado durante toda a batalha, tamanha era a surpresa que os eventos sobrenaturais que poucos tiveram a sorte (ou azar) de presenciar como eles agora tinham causava...
As luzes ainda eram intensas quando Tsunami finalmente abaixou seus braços e a cabeça... já sem forças... Caindo de joelhos e em seguida estendida no campo de batalha, sem sinal de vida.
Quase ao mesmo tempo, Aeka e Ryoko abaixaram seus próprios braços – que antes emitiam poder suficiente para paralisar o inimigo, enquanto Tsunami se preparava – também sem mais forças suficientes para, ao menos, se manterem de pé. Caíram as duas ao mesmo tempo, mãos apoiadas ao chão, cabeças abaixadas, respiração cansada e ofegante.
Foi só então que as luzes no centro do campo de batalha começaram a diminuir, pouco a pouco, sem alterações ou sombras em sua estrutura, como se não houvesse mais ninguém ali.
As luzes se dissiparam... E os olhos de todas se arregalaram. A Guarda Galáctica não sabia se ficava assustada ou se vibrava... Pois ali... Onde houvera a miaor explosão das últimas duas décadas, estava uma deusa, em corpo de mulher, extendida ao chão, sem sinais de vida... E um demônio, em forma de homem, com os joelhos e mãos ao chãos, coberto de ferimentos e sangue, mas vivo... Ainda vivo...
Ryoko e Aeka levantaram dolorosamente suas faces para o local do ataque e seus olhos se encheram de pavor. Ele, Niwase Mikamo, o mal encarnado, ainda estava vivo, gravemente ferido, porém vivo. E elas já não sabiam como acabar com toda aquela desgraça, pois nada restara de suas energias, nem ao menos para respirar dignamente.
Houve um momento de silêncio antes de que certos barulhos começassem a serem ouvidos. Era Mikamo, que a muito custo, tentava se levantar. Sua respiração era ofegante e seus olhos cerrados devido à dor.
- Eu ainda não terminei minha vingança... – disse em voz rouca, dando dois ou três passos. Ryoko e Aeka olhavam a cena horrorizadas, sem saber como evitar que o homem se aproximasse do corpo estendido da mulher de longos cabelos azuis.
- Eu sei que este corpo é da segunda princesa Jurai... – disse, ainda ofegante. – E vai ser o primeiro que irei destruir. – Falou enquanto levantava lentamente sua mão, formando mais uma vez sua espada, bem menos brilhante que no começo de tudo. Estava milhares de vezes mais fraco, porém, não o suficiente para não poder destruir aqueles seres inferiores a sua volta.
- - -
- Não... – falou uma voz fraca, quase em silêncio. Mas não fora a palavra que o parara, e sim de quem viera esta. - Não mate mais, Mikamo... – Washu concluiu no mesmo tom fraco, tentando, com todas suas forças, ficar de pé. Aeka e Ryoko estavam sem palavras diante da força de vontade de viver da deusa, mesmo depois de todo o poder que a atingira.
Porém, Mikamo não abaixou sua espada em desistência, nem ano menos voltou-se para aquela por quem um dia se descobriu apaixonado, sendo nobre ou não, deusa ou mortal, sua inimiga ou não... Mas falou.
- Eles mataram meu tesouro... Eu matarei o deles... – referiu-se aos juraianos e sem mais palavras apertou o punho de sua espada, pronto para atacar.
- Não mate mais, Mikamo... – disse em um sussurro Washu, mais uma vez, enquanto fechava seus olhos, cheios de dor, dor no coração e alma.
E naquele momento, lágrimas desceram por seus olhos, lágrimas que nunca mais foram permitidas de aparecer desde a morte daquele a quem ela dera a vida.
Subitamente, assim que as lágrimas de Washu escorreram e caíram ao chão, um intenso brilho azul apareceu na sua frente, diante de seus olhos. Um brilho intenso e cheio de poder... Mikamo arregalou os olhos ao sentir tal energia e dessa vez voltou-se para a cientista.
Assim que o fez, o brilho começou a sumir e boquiabertos todos ficaram ao ver o que ali se encontrava.
- Tenchi... – pronunciou Washu, surpresa.
- Não pode ser.. – falou Mikamo, no mesmo tom abismado...
- - -
Washu levantou sua mão à frente, tocando aquela que um dia fora usada pelo maior guerreiro de Jurai e seu neto: a Espada Tenchi...
Mikamo nada conseguia fazer diante da cena, era totalmente inesperado que algo assim viesse a acontecer. A última vez que vira tal arma fora no dia da morte do seu dono... Por suas mãos.
A deusa da Sabedoria segurou o cabo que se mantinha horizontalmente diante de si e a arma imediatamente se ativou, liberando o mesmo tom de brilho azul, em forma de lâmina, que surgira segundos antes.
O Lorde do Universo ficou ainda mais confuso. Como? Como a arma Jurai, que só pode ser usada pelo verdadeiro herdeiro, aceitou ser manejada por outras mãos?! Suas dúvidas saíram em apenas uma incrédula palavra.
- Como...? – Perguntoum olhando a espada que resplandecia em toda sua glória.
- Foi ele... – disse Washu, ennquanto sorria levemente e fechava os olhos. – Foi Tenchi que a enviou... Do túmulo onde foi enterrado junto dela... – Abriu os olhos súbita e seriamente. – Foi a vontade de Tenchi e de todos aqueles que nós amamos e você matou que a trouxe até mim. – Fez uma leve pausa... – Sem mais mortes...
Finalizou, enquanto, impressionantemente veloz, partiu contra o inimigo, com forças renovadas, talvez pelas forças da própria espada, talvez devido grande determinação e esperança que a deusa ainda tinha. A espada de energia azulada transpassou o abdômen do Líder do Universo, que em sua surpresa e descrença do que acontecia, não conseguira se defender.
A arma transpassou completamente o abdômen masculino, manchando as mãos da deusa de um sangue vivo e escuro. Washu apertou o punho da espada e levantou-a por dentro do corpo do homem, cortando membros, órgãos, fibras e veias, até alcançar o coração.
Mikamo sentiu toda sua dor sem conseguir se mover, sem assimilar os fatos, vendo de segundo em segundo sua visão turvar-se. Washu retirou de uma vez a espada, ofegante, enquanto via o homem a sua frente imóvel, com olhos vidrados, cair lentamente ao chão, de joelhos...
- Aiko não precisa de poder... – falou Washu com dificuldade, visto suas próprias condições. – Nem de ninguém a seus pés... – continuou com a mesma dificuldade, levemente curvada com o esforço de se manter em pé, olhando seu inimigo e ex-companheiro morrendo aos poucos ao chão. – Aiko precisava de uma família... – falou mais uma vez – Mikumo precisava de uma família... E eu... – quase não mais conseguia falar – Eu também precisava de uma família... – concluiu finalmente, derrubando a espada em sua mão e caindo de joelhos ao chão, assim como o outro fizera anteriormente.
Os dois estavam frente a frente. Mikamo olhava levemente para baixo, tentando respirar. Washu ainda o olhava, seus olhos perdendo qualquer vida que ainda restava neles.
E para a surpresa geral... A deusa da Sabedoria tocou delicadamente a face de seu inimigo com sua mão de mulher, levantando-a e fazendo-o olhá-la também.
Os olhos do homem estavam nublados, doloridos, cheios de angústia e confusão. Todavia, novos olhos pareceram resplandecer em nova vida na face masculina ao olhar para os da mulher. Olhos dela que não mais continham raiva, ódio, desprezo ou desejo de matar. Olhos que agora estavam cheios de carinho, de paixão, de amor... Olhos que ele não vira desde o fatídico dia em que a expulsara de sua vida.
- Eles precisavam de você, Mikamo... – continuou Washu, no mesmo sussurro, porém cheio de sentimento. – Nenhum poder, Mikamo, só você... – Ela parou por um instante, enquanto tossia sangue que manchava a túnica já destruída do homem a sua frente. Um simples homem agora, que observava com atenção a única que um dia amara.
Washu voltou a encará-lo, uma leve linha de sangue na boca que não parecia incomodá-la. Ficou um segundo olhando aqueles olhos que pareciam voltar um pouco a ser como um dia fora capaz de fazê-la sorrir. Olhou-os, sabendo que nunca mais iria vê-los... E por fim, falou. – Eu... Eu precisava de você... – Concluiu com dor e amor na voz. E antes que qualquer outra palavra pudesse ser dita, aproximou seu rosto ao dele e tocou seus lábios aos deles. Num beijo leve, de roçar de lábios, mas cheio de paixão, um beijo que nunca mais voltaria a ocorrer.
Luzes vermelhas e cinzas começaram a dançar juntas entre os dois corpos ao chão. E em um segundo, as luzes subiram aos céus, sem limites... E desapareceram, não deixando rastros nem em céu, nem em terra, de que ali ocorrera ou houvera algo ou alguém.
Todos permaneceram em silêncio, sabendo que uma História inteira estava para ser mudada a partir de agora.
Ryoko e Aeka foram as primeiras a voltar à realidade após a cena. E com a pouca energia que lhes restavam, levantaram-se com esforço.
Aeka caminhou com dificuldade até o corpo estendido ao chão de sua irmã e ajoelhou-se, buscando sinais de vida na moça. Ryoko, por sua vez, caminhou lentamente até o lugar em que Mikamo e Washu estiveram poucos momentos antes. No chão apenas restava terra negra misturada a sangue dos dois guerreiros já não mais presentes. Olhando mais ao lado, Ryoko viu o bastão da Tenchi, intacto. Ajoelhou-se e pegou a arma entre suas mãos... O objeto brilhou seu brilho azul e sumiu...
- De volta ao seu dono... – falou ela em um sussurro.
- - -
Permaneceriam em silêncio sem fim, se não tivessem ouvido barulho de armas sendo preparadas. As duas olharam ao redor e constataram as dezenas dos Guardas de Mikamo apontando suas evoluídas armas para os rebeldes e para elas.
- Nosso líder morreu, mas nós manteremos a ordem! – gritou um deles, enquanto os outros gritavam em apoio.
- Só me faltava essa... – falou Ryoko entre dentes. – Humanos teimosos, minha vontade era matar cada um deles!
- Mesmo que eu concorde com você, o que é algo realmente raro, temo dizer que não tenhamos energia nem para nos defendermos, Ryoko. – falou Aeka em tom neutro, seus olhos da irmã que tentava acordar voltando-se para a ex-pirata espacial. Ryoko fechou mais a expressão, enquanto voltava sua face para o chão negro ensangüentado.
- Depois de tudo o que tivemos que sofrer... – falou amargamente. – Iremos... Morrer tão pateticamente... – Aeka não respondeu e voltou-se para a face da irmã, ainda com esperanças que esta acordasse.
Visto que nenhuma delas fazia qualquer movimento, o mesmo guarda, talvez um dos líderes, voltou a falar.
- A sentença para todo rebelde é a morte! – Disse arrogantemente – Preparem-se para... – Contudo, uma gigantesca explosão próxima a eles o fez calar-se.
Todos olharam para o céu, de onde viera o tiro. Ryoko sorriu de lado ao constatar de quem se tratava...
- Ou vocês largam essas malditas armas já ou eu juro que não erro o próximo disparo. – falou uma alta voz levemente rouca e feminina por dentro de uma das duas naves espaciais que flutuavam acima de todos.
Diante do poderio espacial, os Guardas Galácticos não viram outra solução a não ser entregar-se. Soltaram suas armas e logo se viram sendo presos pelos numerosos rebeldes que também presenciaram toda aquela guerra. Enquanto o faziam, uma luz desceu de uma das naves, a mais clara, e uma figura feminina envolta a uma capa negra surgiu. Ryoko voltou-se para aquela que surgia e sorrindo de lado para a visitante começou a falar.
- Atrasada como sempre, não é, Nagui? – disse em leve tom de deboche, que fez a mercenária espacial fechar ainda mais sua expressão, sempre séria.
- Não enche, Ryoko! – disse ela de mau-humor. – Eu vim, não vim? – Ryoko sorriu de lado mais uma vez.
- Obrigada... – falou Ryoko, por fim... Sem mais nada a acrescentar.
Ficaram em silêncio por instantes e Nagui novamente voltou a falar, enquanto olhava a sua volta.
- Vocês fizeram um baita estrago aqui, hein? – disse casualmente. O rosto de Ryoko ficou levemente triste antes de falar.
- E tudo teve fim ao preço de algumas vidas... Algumas importantes vidas... – falou lentamente. Nagui a encarou por um instante e desviou o olhar para onde Aeka e Sasami estavam. A primeira ainda tentando acordar a irmã. Faltava alguém ali...
- A cientista maluca bateu as bostas... – Mais afirmou que perguntou.
- Sim... – falou Ryoko, não parecendo se incomodar com o jeito que a outra falava da situação. – E acho que Tsunami também não suportou... – concluiu, voltando seu rosto para onde Aeka e Sasami estavam. Nagui olhou para as duas também, depois desviou a face.
- É uma pena, a cientista realmente sabia fazer boas armas... E a outra tinha uns bons truques de cura... – falou sem encarar Ryoko.
A mulher de olhos dourados encarou a mercenária por um segundo e sorriu levemente, acenando afirmativamente Sabia que aquele era o jeito de Nagui dizer que sentia a perda também e agradecia pelo apoio moral desta, sem fazer mais nenhum comentário sarcástico contra aquela que um dia também fora sua inimiga. Ficariam em silêncio, se a voz fraca, porém alegre, de Aeka não soasse.
- Vejam, ela está recobrando os sentidos! – Ryoko voltou-se para as duas e se aproximou, até agachar-se ao lado de Sasami. Que lenta e dolorosamente conseguia se sentar. Nagui limitou-se a dar dois ou três passos para ver a moça melhor, parando perto de Ryoko.
- O quê...? – começou Sasami fracamente, colocando uma de suas mãos no coração, mas foi interrompida pela irmã.
- Fique quietinha, Sasami. – falou Aeka com doçura. – Tudo vai terminar bem... O Lorde do Mal já foi derrotado. – Sasami voltou sua face para a irmã, surpreendendo esta ao ver os olhos cheios de dor e angústia de Sasami.
- Mas... Eu sinto que falta algo.. – falou em tom triste Sasami. – Aqui... – disse apertando mais o punho fechado contra o coração.
Aeka arregalou levemente os olhos ao perceber o que a irmã estava sentindo e desviou o rosto, sem conseguir contar a verdade. Foi Ryoko quem teve de assumir tal função.
- Tsunami invocou as Doze Asas do Falcão da Luz, Sasami... – Falou cautelosamente, mas Sasami voltou-se para a mulher, com olhos arregalados de surpresa e um leve desespero. – E nós tememos que ela não tenha suportado tamanha força... E... Preferiu dar a essência dela à sua para... – não conseguiu terminar de falar e abaixou a cabeça, em um "sinto muito" silencioso.
Sasami abaixou a face e gotas cristalinas podiam ser vistas a molhar o vestido da jovem.
- Ela sempre esteve comigo... – falou mais para si do que para qualquer um.
- E sempre vou estar... – todas as moças ali presentes arregalaram os olhos e levantaram seus rostos abatidos, buscando de onde vinha aquela doce voz tão conhecida.
Depois da revelação feita por Ryoko, lágrimas escorreram dos olhos de Sasami antes que ela conseguisse dizer algo. Sabia que tudo aquilo terminaria de uma forma terrível, mas jamais esperou que perderia aquela que...
- Ela sempre esteve comigo... – falou mais para si do que para qualquer um. A dor visível em seus olhos, seu coração parecia ter perdido uma parte de si. Voltaria a chorar, se não fosse aquela voz, que sempre a acalmava, soar mais uma vez.
- E sempre vou estar... – todas as moças ali presentes arregalaram os olhos e levantaram seus rostos abatidos, buscando de onde vinha aquela doce voz tão conhecida...
No entanto, não foi a forma feminina que avistaram, e sim três esferas de energia que se formavam a frente das quatro mulheres.
Lentamente, as esferas começaram a aumentar, tomando forma, pouco a pouco, até que três figuras femininas, levemente transparentes, formaram-se diante delas. Nenhuma ds mulheres encontrava palavras para a situação e fora Sasami quem primeiro conseguiu se pronunciar.
- Você ainda está vida, Lady Tsunami... – O sorriso calmo de uma das três mulheres em forma de espírito diminuiu um pouco, antes que esta falasse.
- Temo que não, minh doce criança... – disse Tsunami, enquanto o brilho nos olhos de Sasami diminuía novamente.
- Mas então...? – Começou Sasami a perguntar o que todas queriam saber...
- Fomos designadas para escolhermos nossas substitutas. – disse uma voz grave e imperativa, uma das três que ali surgira.
- Vocês querem dizer que deve escolher as próximas deusas, aquelas que deverão ser as Guardiãs e representantes de Deus no Universo? – O espírito feminino que falara anteriormente voltou sua face para Aeka, quem fizer a pergunta.
- Exatamente... – disse a deusa. – E não temos muito tempo para isso, então...
- Calma, Tokimi. – Falou o terceiro espírito feminino, que até agora nada falara, mas o fizera interrompendo a deusa do Poder. – Isso também é uma despedida... Uns poucos minutos a mais não irá prejudicar o rumo do Tempo. – Tokimi olhou a mulher que a interrompera e voltou sua face séria para o lado, sem nada dizer. A outra mulher sorriu e voltou-se para as quatro mulheres que esperavam, confusas, por uma explicação.
- Lady Washu, o que está acontecendo aqui? – perguntou Aeka, olhando para o espírito feminino que interrompera Lady Tokimi. Washu suspirou tristemente antes de falar.
- Com a nossa morte, deve-se escolher novas Guardiãs para o Universo. – falou calmamente. – Eu sei que tudo é muito repentino e também sinto muito por ter de morrer sem me despedir... – falou ela com a cabeça baixa, que logo levantou. – Mas não é tempo de remorsos e sim de esperanças de um mundo melhor. E agora devemos escolher nossas sucessoras e partir para nosso descanso eterno.
- Mas eu não quero que vocês vão! – Suplicou Sasami, com lágrimas no rosto, olhando especificamente para Tsunami. – Eu não quero oficar sozinha... – falou em um sussurro. Tsunami se aproximou e ajoelhou-se à frente da garota.
- Jamais ficará só... Aeka e Ryoko sempre te guardarão e eu sempre vou estar com você... Aqui... – E apontou para o coração de Sasami, que, entre lágrimas, apenas acenou positivamente com a cabeça. Tsunami levantou-se e juntou-se as outras deusas.
Era hora de mais escolhas serem feitas...
Sasami sentiu, assim que acordou, que algo estava lhe faltando. Contudo, jamais imaginou que seria algo tão grave, ou doloroso, do seu ponto de vista, como o que foi. Tsunami sempre lhe fora uma companhia, uma certeza de que tudo sempre poderia terminar bem. Mas agora não era mais assim, ela não estava mais ali...
Ou melhor, Tsunami estava presente sim, estava em sua frente, aliás. Entretanto, era apenas o espírito do que um dia fora a grande e poderosa Árvore Mãe de Jurai. E agora ela dizia que deveria partir e que deveria escolher alguém para ficar em seu lugar.
Por que tudo aquilo tinha que estar acontecendo?
Todavia, o rumo de pensamentos da jovem juraiana foi interrompido pela voz séria e penetrante da deusa do Poder. Sasami parou de divagar em seus pensamentos e passou a prestar atenção no que a mulher, ou melhor, o espírito celestial dizia para elas.
- Hoje se inicia uma nova Era... – começou Tokimi – Uma Era cheia de dor e sofrimento, mas que irá prosperar se assim quiserem os seres vivos. – fez uma leve pausa e encarou Ryoko, antes de continuar. – Eu, Lady Tokimi, Detentora do Poder, entrego meu título àquela que bravamente lutou, cheia de força e determinação, não importa quais ocasiões. – Ryoko, de olhos arregalados diante do que ouvia, nada falava e Tokimi logo concluiu. – Transmito meu título a Ryoko, poderosa guerreira espacial e, agora, Lady Ryoko, deusa do Poder. – Tokimi fez um gesto para Ryoko se aproximar e assim que ela o fez, a antiga deusa tocou o alto da face da jovem.
Energia fluiu pelo corpo da ex-pirata espacial, enquanto marcas triangulares formavam-se nas laterais de seu rosto e em sua testa. Ryoko reverenciou a mulher respeitosamente, talvez uma das poucas vezes que fizera algo assim, e se afastou, voltando ao seu lugar de segundos anteriores.
Um breve silêncio e dessa vez a voz de Washu se fez ouvir.
- Hoje se inicia uma nova Era... – começou a deusa Washu – Uma Era cheia de ignorância e injustiças, mas que irá ser sábia se assim quiserem os seres vivos. – Silenciou-se por um momento, assim como fizera Tokimi. – Eu, Lady Washu, Detentora da Sabedoria, entrego meu título àquela que bravamente lutou, cheia de cautela e determinação, não importa quais ocasiões. – Washu olhava para Aeka, que em sua incredulidade nada falava. – Transmito meu título a Aeka, princesa regente de Jurai e, agora, Lady Aeka, deusa da Sabedoria. – Aeka se aproximou diante do chamado silencioso da deusa, reverenciando-se levemente. Washu, como Tokimi fizera, tocou o alto da face da princesa e semelhantes triângulos formaram-se sob a energia que Washu fazia fluir no rosto da jovem, assim como ocorrera em Ryoko. Aeka reverenciou-a mais uma vez e se afastou.
Por fim, todos olhavam com expectativa para Tsunami, que serenamente caminhou até Sasami mais uma vez e agachou-se, ficando quase na mesma altura da jovem que ainda não tinha forças suficientes para se levantar.
- Hoje se inicia uma nova Era... – falou Tsunami em sua voz calma e serena – Uma Era cheia de maldade e crueldade, mas que irá ser feliz se assim quiseres os seres vivos. – Nova pausa se fez, onde Tsunami levou suas mãos até o rosto da jovem Sasami, que a olhava, como se pudesse tocá-la. – Eu, Lady Tsunami, Detentora da Bondade, entrego meu título àquela que, cheia de esperança e inocência, entregou-me seu corpo para a luta. Uma jovem garota cheia de amor e carinho no coração, não importa quais ocasiões. – parou de falar, olhando docemente para a jovem que hoje era Sasami. – Transmito meu título a Sasami, segunda princesa Jurai, aquela que criou nossa menina Aiko e que agora é Lady Sasami, deusa da Bondade. – Tsunami aproximou seu rosto da testa de Sasami e beijou-a suavemente, enquanto sua energia de deusa era transmitida à moça e o mesmo que ocorrera às faces de Aeka e Sasami ocorria nela.
Após o ocorrido, Tsunami voltou o olhar para Sasami, que tinha lágrimas na face, mas que, com um sorriso, reverenciou a antiga deusa com a cabeça. Em seguida, a mais poderosa Nave juraiana se levantou, juntando-se às outras deusas.
Houve um pequeno silêncio nos segundo seguintes e finalmente as três deusas voltaram a falar em uníssono.
- Hoje se inicia uma nova Era... – falaram as três em suas vozes celestiais. – E as deusas dessa Era já foram escolhidas... – continuaram no mesmo tom solene. – Honrem seus títulos de Guardiãs do Universo e o salve do caos que por tanto tempo este foi submetido. Aqui e agora, começa vossa nova aventura, aquela que não mais lutará contra o mal e sim em função da prosperidade, da sabedoria e do bem para todos os seres de todo o Espaço. – terminaram de falar... e nada mais foi dito.
Washu e Tsunami sorriram para as novas deusas, como se dissessem adeus. E sem nenhum aviso, seus corpos voltaram à forma de esferas e subiram como raios aos céus, parando em algum ponto entre as estrelas. E, diferentes dessas, brilhavam em tons azul, rosa escuro e dourado, em um aviso e cumplicidade de quem sempre estaria velando a todos do infinito.
As quatro jovens que se encontravam exatamente no centro da batalha terrível que ocorrera há algum tempo ali, ficaram olhando para o céu por vários segundos, sob o barulho de homens e mulheres que trabalhavam para prender todos os Guardas Galácticos, inconscientes do que ocorrera entre aquelas guerreiras que lhes salvaram as vidas e seus mundos momentos antes.
Foi preciso um comentário sarcástico de Nagui para tirar as outras moças do torpor em que se encontravam.
- Não vão querer que eu me reverencie para vocês... Oh, deusas do Universo... – falou no mesmo tom cru que sempres usava. As outras voltaram suas faces para o chão e Ryoko olhou para a mercenária sorrindo de lado. Em seguida, a nova deusa do Poder deu um longo suspiro e se voltou para suas duas outras companheiras.
- Bom, acho que nosso "trabalho" começa agora, não? – Sasami e Aeka, que encaravam o chão, pensativas, voltaram-se para Ryoko, acenando afirmativamente.
Sasami começou a levantar-se com alguma dificuldade e voltou o olhar para a irmã, tendo ligeira idéia do que viria a seguir. Aeka olhou a irmã com certa melancoia e depois voltou-se para as outras.
- Eu voltarei para Jurai. Libertar meu povo e estabelecer a ordem no meu planeta natal. – disse ela firmemente.
- Hm... Acho que eu e Nagui iremos libertar as outras colônias. – Ryoko olhou Nagui, sorrindo cinicamente. – Caso ela concordar em trabalhar com sua "ex-caça". – nagui só bufou e virou o rosto, era o máximo que iria fazer, como dissesse que concordava. Ryoko e Aeka sorriram com a atitude infantil da mercenária e logo ficaram sérias mais uma vez, voltando suas faces para Sasami, que olhava o chão.
- Você está bem, Sasami? – a moça pareceu acordar de seu torpor e olhou a irmã.
- Estou bem... Fisicamente... Tsunami parece ter curado-me de certa forma quando transmitiu seus poderes para mim... – parou por um momento. Era claro para Aeka e Ryoko que a jovem tinha sentido por demais a perda mais do que qualquer um, visto que Tsunami sempre estivera com ela, sempre... Sasami pareceu recuperar-se e olhou determinada para a irmã mais velha. – Eu vou ficar aqui. – disse ela séria e Aeka olhou-a, surpresa.
- Como assim, Sasami?! – perguntou incredulamente Aeka. A nova deusa da Sabedoria deu dois passos até a irmã, sem saber o que falar.
- Vou ficar aqui, Aeka... E ajudar este povo sofrido e este planeta que tanto Tenchi amou... – falou com convicção e Aeka iria falar algo em protesto, se não fosse por Ryoko que a impediu, tocando o ombro da ex-rival. Aeka a olhou, ainda incrédula das palavras da irmã, nunca pensara no dia em que iria se separar de Sasami.
Ryoko balançou negativamente a cabeça, como se dissesse para não tentar mudar a convicção da jovem deusa da Bondade. Aeka tinha os olhos cheios de dor e voltou-se novamente para a irmã.
- Se é o que você quer, Sasami... – Falou Aeka, contendo sua própria dor. E se aproximou da irmã, abraçando-a. - Saiba que eu te amo, Sasami-chan, não importa a distância.
- Também te amo, Aeka-chan. – falou Sasami com lágrimas nos olhos e abraçando a irmã de volta. – Quando tudo estiver bem aqui, nós nos veremos de novo, para ajudar os outros povos que sofreram nas mãos do Lorde das Trevas. – Concluiu Sasami enquanto saía dos braços da jovem de cabelos arroxeados e limpava suas lágrimas no processo.
Todas se olharam por algum tempo e finalmente Ryoko se pronunciou.
- Bem, é hora de irmos. – disse Ryoko tentando aparentar uma animação inexistente. – Aeka, você vem conosco, deixamos você em Jurai e depois partimos para cumprir nossa missão. – disse olhando para a deusa da Sabedoria, que afirmou lentamente com a cabeça. Depois, voltou-se para Sasami. – E você, pirralha, se cuide. Assim que tiversmo algumas coisas em ordem e a Polícia Galáctica voltar a funcionar, nós viremos buscar os Guardas de Mikamo... – Fez uma pausa, olhando para a mocinha Jurai a quem aprendeu a gostar e concluiu. – Até logo, garotinha... – e bagunçou os longos cabelos azuis da menina.
No entanto, para seu espanto, a garota aproximou-se subitamente e abraçou a ex-pirata espacial com força e carinho. Ainda meio abobada, a nova deusa do Poder devolveu o sinal de afeto, vacilantemente.
- Adeus, minhas queridas amigas... – disse Sasami lenta e calmamente.
- Até logo, Sasami.. – disse Ryoko, como se corrigisse a primeira.
- E que a próxima vez que nos encontremos seja em um momento mais feliz para todos... – disse Aeka mais calma. O único vestígio de que chorara eram os olhos levemente avermelhados.
Todas acenaram afirmativamente com a cabeça e Sasami ficou parada no mesmo lugar, enquanto dois fachos de luz vieram das duas naves, ainda nos céus, vigiando os Guardas de Mikamo. Ryoko e Aeka sumiram juntas, nas luzes da nave mais escura e Nagui na outra.
Pairaram no ar por alguns segundos e Sasami despediu-se com um aceno e um sorriso para suas amigas e para Ry-oh-ki, com quem não tivera a chance de se encontrar fazia já algum tempo e a quem agora não veria durante mais longos tempos. Finalmente as naves começaram a se movimentar e sumiram em grande velocidade em direção ao espaço.
Sasami olhou os céus por vários minutos, antes de finalmente voltar-se para sua realidade e ir ajudar os feridos da batalha.
Os céus do planeta não eram mais vermelhos como outrora. E um céu quase todo azul, cortado por nuvens de um branco puro era visto, mesmo que um certo alaranjado ainda manchasse a visão. A terra parecia não estar mais tão morta e um ar bem menos pesado podia ser respirado com facilidade por todos.
E pensar que fora apenas há alguns dias que tudo terminara (ou começara, se preferirem).
A jovem de longos cabelos azuis e olhos rosados voltou-se da sua visão serena para a terra, passando a observar alguns monumentos fixos no chão a sua frente. Três deles fixos a pouco tempo, acima dos demais.
Ali fora onde ela e suas amigas colocaram os monumentos em honra daqueles que morreram devido à vingança de Mikamo. Kyone, Myoshi, Katsuhiro ou Lorde Yosho, seu pai, sua mãe e sua madastra. O pai de Tenchi e o próprio rapaz – o símbolo deste ao lado daquele que ainda se mantinha firme, o monumento em memória de sua mãe, Achika.
Washu enviara a pequena montanha onde ficava o monumento de Achika, protegida por apenas uma árvore, para um Universo Paralelo. Para que esta não fosse maculada pelas mãos maléficas de Mikamo.
E agora, que tudo acabara, Sasami trouxera o monumento de volta ao seu devido lugar, acrescentando ali, infelizmente, os monumentos em homengams a Tokimi, Tsunami e Washu, no alto da montanha, como se estivessem a guardar as almas daqueles que haviam partido.
Mas os olhos da nova deusa da Bondade não estava nos três monumentos ao alto, e sim em um abaixo, quase ao meio dos outros, onde o nome Tenchi podia ser lido com certa clareza.
No entanto, não era nele que a jovem Sasami pensava, e sim no que ele representava, a partida de uma garota, que era como uma filha ou irmã mais nova para ela. A ida de Aiko ao passado para salvar o jovem herdeiro Jurai... E a lembrança de que nem tudo estava acabado, pelo menos não no passado...
Sasami olhou novamente para os céus, como se pudesse ver o passado por entre as nuvens...
- Tenchi... Proteja nossa pequena Aiko... – disse ela lentamente e com algumas lágrimas nos olhos. – Ela é forte... Mas é o coração dela quem precisa de sua proteção...
Um silêncio instalou-se no local após tais palavras. E a jovem juraiana virou-se para trás, voltando a passos calmos para o novo Templo Masaki, reconstruído no mesmo lugar que o antigo. E ir ajudar nas várias tarefas que precisavam ser cumpridas por aquele povo terráqueo a quem ela também aprendera a amar.
(Continua)
Mary Marcato
03/01/05
Comentários da autora: Foi muito difícil saber o que escrever neste capítulo que encerra a "saga" no futuro de Tenchi Muyo. Espero sinceramente que tenham apreciado e que os dois últimos capítulos também sejam do agrado de vocês.
Agradecimentos: Gostaria de agradecer em especial à Hina, que foi a única que me deixou review no capítulo passado no Quanto aos outros, muito obrigada pelo tempo gasto comigo :) Fico muito feliz com a consideração de vocês!
