Título: Eu Não Sei Viver
Autora: Nah
Beta: Ayesha e Belzinha
Sinopse: Draco Malfoy esta no seu último ano e preste a se tornar comensal. Sua vida não tem sentido, seus sentimentos são impuros, odeia a todos e a si mesmo. Até que um incidente o faz perceber que ainda há salvação, que talvez exista um jeito. Ele necessita dela para aprender a viver e ela necessita dele para aprender a amar.
Disclaimer: Harry Potter e seus personagens não me pertencem, são todos da J.K. Rowling. Essa fanfic foi escrita sem fins lucrativos. Mas ela me pertence, então nada de plágio ou publicar em outro lugar sem a minha devida autorização.
Capítulo 01: Impulso
Não tinha por que ele estar ali. Não queria estar ali. Iria para Hogwarts no dia seguinte, terminar seu último ano, terminar seus estudos naquela escola, onde a maioria das pessoas o detestava, com exceção de alguns sonserinos, que ele sabia que apenas o toleravam por seu pai ser respeitado naquele meio. Se por um lado era temido por seus colegas de casa, por outro, era odiado pelas três casas restantes de Hogwarts, não sabia qual das duas opções era melhor, provavelmente ele preferia ser temido, o que impunha um certo respeito no meio dos sonserinos. Talvez fosse algo tedioso, considerando que, por ser temido, não tinha amigos de verdade e que os sonserinos só o aturavam diante a sua riqueza e "dignidade Malfoy". Os companheiros de casa mal lhe dirigiam a palavra, eram todos, na maioria, isolados e ele mais ainda.
Draco Malfoy havia mudado em certos aspectos o seu modo de pensar e agir, em especial quando se tratava das pessoas. Ainda conservava seus princípios em relação ao bem e ao mal, conservava sua arrogância e seu ar nobre. O que tinha mudado era a sutileza que ele adquiriu para realizar os seus atos, a discrição e o bom senso, o discernimento de como seria a melhor forma para alcançar seus objetivos impecávelmente. Estava mais independente, não queria mais que seu pai resolvesse seus problemas, já tinha plena consciência que o melhor era fazer isso por si só.
Nesse momento, a única coisa que se passava em sua mente era o motivo de estar ali. Em meio aquele jardim, alguns comensais, inclusive seu pai, discutiam sobre um meio de acabar com alguns aurores impertinentes. Draco achava aquela reunião um tédio. Queria ser um comensal, mas sua presença era desnecessária naquele momento. E começava a achar que, talvez, ser um comensal não trouxesse tantas vantagens assim. Iria tirar o seu direito de como conduzir sua vida, e isso era o que ele mais queria nos últimos meses.
- Draco! – A voz fria do seu pai entrou em seus pensamentos.
- Sim. – Disse, ainda meio distraídamente, a Lucius.
- A reunião acabou, vamos.
- Certo.
E sem dizer mais nada, ele aparatou, no seu quarto.
Viu a cama forrada com lençóis de cetim azul escuro e, a um canto, o seu malão de Hogwarts já pronto, era a primeira vez que ele arrumava suas coisas sozinho, fez questão disso. O quarto com os móveis de mogno, muito lustrosos, sua poltrona e escrivaninha, com alguns livros que ainda não havia guardado. Ouviu os passos de seu pai pelo corredor, em direção ao seu quarto. Lá vinha mais um sermão. Sentou-se na poltrona antes que a porta abrisse e seu pai entrasse, de um jeito majestoso e com aquela fúria irradiando.
- Era para você ter aparatado no meu escritório Draco. Sabe que quando termina as reuniões eu gosto de trocar uma idéia com você. – Falou de um jeito calmo que não combinava com a expressão dos seus olhos.
- Tenho que terminar de ajeitar minhas coisas para voltar a Hogwarts, Lucius. – Dito com displicência, que tinha como finalidade acabar logo com aquilo.
- Pelo menos desça para o jantar hoje. Os últimos dois meses você jantou nesse quarto, isso quando janta em casa. Eu não faço questão da sua companhia naquela mesa, mas sua mãe faz. Portanto trate de ir jantar conosco pelo menos hoje. – Aquilo soou como uma ordem aos ouvidos de Draco, era assim que sempre ouvia o que seu pai dizia, como uma ordem.
- Vou descer daqui a pouco. Só vou terminar de colocar as ultimas coisas que restam no malão e desço.
Lucius saiu do quarto, resmungando algo parecido com respeito. Seu pai nunca demonstrava que necessitava dele, embora soubesse disso. Lucius podia ser frio e sem sentimentos, no entanto Draco sabia que era importante na vida do pai, era uma espécie de ligação, anos de convivência e de idéias compartilhadas. Eram pai e filho, compartilhavam do mesmo sangue, era quase impossível que não se importassem um com o outro.
Terminou de colocar seus livros no malão e desceu as escadas, encontrando seu pai e sua mãe o esperando na mesa. Narcisa estava magnífica como sempre, o porte altivo e suntuoso.
- Que bom que veio jantar conosco Draco. – Narcisa sorriu para o filho, que apenas acenou com a cabeça. Vendo aquela cena, dava para pensar que Narcisa era uma mãe zelosa e boa. Era verdade, um exemplo de mãe, cuidava de seu filho, dava atenção e era extremamente cuidadosa com Draco. Boa mãe sim, mas como pessoa era um tanto quanto cruel, fazendo jus ao seu sangue Black e ao casamento com um Malfoy.
Draco acordou muito cedo no dia seguinte, mais cedo do que pretendia. Pegou sua coruja, Duchy, e foi para a varanda do seu quarto. Sentiu a brisa fria do amanhecer, antes que o sol aparecesse por completo, trazendo o verão daquele mês de Setembro à tona, verão que já não estava mais no seu auge, se comparado ao mês de Julho. Pegaria o trem para Hogwarts dentro de poucas horas. Duchy acariciava com o bico a mão de seu dono, dando leves beliscadas.
Gina acordou sentindo o friozinho daquela manhã. Já estava em Hogwarts, o jantar na noite passada tinha sido maravilhoso, reviu alguns colegas e claro, Harry Potter, que naquelas férias não foi a Toca. A guerra contra Voldemort estava no seu auge. Ela agradecia internamente por não vê-lo durante as férias. Não tinha vontade de ver o ex-namorado, queria esquecê-lo e para ela isso só seria possível se mantivesse, durante um tempo, uma certa distância, até se recuperar daquele fim de namoro. Não sabia ao certo se ainda gostava de Harry, só sabia que tinha o intuito de esquecê-lo e não estava fracassando, já que, quando o encontrara na noite passada, não tinha ficado abalada por dentro. Mostrou-se alheia a Harry e não se sentiu incomodada com isso.
Levantou da cama e viu que suas colegas de quarto já estavam quase prontas. Dividia o quarto com três sextanistas: Thamy Denovanne, Julia Spell e Eve Nayori.
- Obrigada por me acordarem. – Ironizou.
- Desculpe, Gin. – Eve, a japonesinha de cabelos muito negros, olhos da mesma cor, não muito alta e de corpo fininho, disse com gentileza. – Tentamos te acordar, mas você resmungou tanto.
-Sossega Gina. Ainda dá tempo de você se arrumar. – Julia que era mais centrada e tranqüila das quatro que ocupavam o quarto, ajeitava o nó da sua gravata. – Talvez se você fosse uma pessoa mais fácil de se acordar, mas não, você insiste em continuar nessa cama, mesmo sabendo que tem aulas importantes, que não se pode perder.
-Júlia, tinha me esquecido o quanto você é adorável de manhã cedo. – Pegou suas vestes limpas no malão ao lado da sua cama.
– Não sabe o quanto é legal acordar com os seus comentários intelectuais.
-Vá logo Gin. Você ás vezes demora para se arrumar e acho que não está disposta a perder a primeira aula. – Quem falava agora era Thamy, que não estava a fim de ouvir discussões de Júlia e Gina logo pela manhã. – Vamos Gina, ande logo com isso. – Apressou observando Gina ajeitar suas coisas com lentidão. Ela sempre era lenta de manhã cedo e até aquele momento Thamy não sabia se era por preguiça ou má vontade de assistir aula.
Gina entrou no chuveiro, a água morna indo de encontro ao seu corpo e fazendo-a sentir vontade de dormir ali mesmo. Suas colegas de quarto sempre se arrumavam antes dela, isso se repetia durante os últimos cinco anos naquele castelo e ia continuar se repetindo naquele sexto ano. Saiu envolvida na toalha felpuda vermelha, o frio batendo novamente. Suas colegas já iam saindo.
- Thamy, me espera. – Tremeu de frio e compressa pegou suas vestes.
- Você demora muito, Gin. Vá rápido, estou esperando aqui no salão comunal.
- Tá. – Voltou ao banheiro para vestir o uniforme e acabar com aquele frio.
Ajeitou a saia, a blusa e o nó da gravata, os cabelos estavam presos desde que saiu do banho, pegou sua escova e penteou com delicadeza os fios ruivos. Ao terminar, pegou sua mochila, colocou a capa que fazia parte do seu uniforme, dentro, os livros, penas, seu caderno de anotações e um pequeno espelho. Desceu as escadas do dormitório e encontrou Thamy. A um lado, mais afastado, estavam Harry, Rony e Hermione, que conversavam baixo, provavelmente sobre a guerra. Ela lançou um rápido olhar para eles e se dirigiu a Thamy.
- Até que enfim.
- Não reclama Thamy, estamos no começo do ano ainda.
- Precisava ver o que eu tive que ouvir Julia dizer, por correr o risco de me atrasar por sua causa.
- Pouco me importa o que a Julia disse.
- Nossa, parece que esse ano você resolveu incrementar o seu jeito delicado. – Ironizou o delicado e andou mais à frente.
- As coisas mudam Thamy. – Thamy a olhou surpresa. – Não se preocupe, minha amizade com você não muda. – Passou um dos
braços pela cintura da amiga e sorriu.
- Espero mesmo Gin, você está mudada.
As duas andaram pelos corredores, desceram as escadas e seguiram para o salão principal. Os rostos dos alunos do primeiro ano podiam ser visto de uma maneira engraçada. Estavam com as carinhas excitadas diante daquele castelo e suas surpresas, não viam a hora de terem a primeira aula. Por outro lado Ginny não se sentia nessa excitação, já estava habituada com aquelas aulas. As duas amigas sentaram à mesa da Grifinoria, ao lado de Julia e Eve, que estavam terminando seu café da manhã.
- Gina, quer comer mais rápido, por favor! – Thamy olhava impaciente para a amiga, que mastigava de maneira lenta.
- Você quer que eu passe mal?
- Não seja dramática... Veja, Eve e Julia já terminaram e quando eu terminar vou sair daqui, não vou te esperar.
- Para que essa pressa Thamy? – Disse de modo displicente.
- Eu não quero me atrasar para a primeira aula do dia.
Não trocaram mais palavras. Eve e Julia haviam terminado e saído da mesa, e assim que Thamy terminou fez o mesmo. Deixando Gina com mais dois grifinorios: uma garota do sétimo ano, que não parecia muito animada para aula, assim como ela e o outro do primeiro ano, relutante em ir a sua primeira aula por insegurança.
Terminou seu café e saiu da massa apressada, tinha acabado de verificar seu horário e viu que sua primeira aula era poções, se tivesse visto antes, não teria demorado tanto no seu café. Reclamou consigo mesma por tal falta de atenção e pela sua preguiça. Desceu as escadas que levavam até as masmorras correndo. Agora não havia mais escadas, eram só os corredores úmidos e com pouca luz. Virou um desses corredores e alguém esbarrou nela, a derrubando. Olhou com raiva para cima, e se sentiu horrível ao constatar que era um dos sonserinos, pelas vestes verdes. Seu horror aumentou ao ver os cabelos platinados muito bem arrumados, os olhos azul-cinza a olhando com tédio. Esbarrou no sonserino mais estúpido que podia encontrar, Draco Malfoy.
Surpreendeu-se quando Malfoy lhe ofereceu a mão para ajudar. Não aceitou, desconfiada. Levantou por si só, endireitou as vestes que estava um pouco amassadas e se recompôs.
- Olhe por onde anda, Malfoy. – A firmeza em sua voz a surpreendeu.
Malfoy não lhe deu a mínima, abaixou para pegar a carta que havia caído das mãos dele ao esbarrar com ela. Depois de guardar a carta no bolso da sua calça, foi que dirigiu a palavra a ela.
- Olhe você, Weasley. Não tenho obrigação de desviar, é você que tem.
Irritou-se por ver que não tinha nenhuma resposta boa para dar a ele. Achou melhor ignorá-lo e sair em direção a sala de Snape. Draco viu a Weasley sumir ao entrar na sala do professor de Snape. Tirou sua carta do bolso, e a olhou com pesar. As noticias não andavam boas para o seu lado, tinha que dar um jeito naquilo já.
- Draco, o que aconteceu? – Pansy Parkinson apareceu, sabe-se lá de onde, ao lado dele. – Você não foi tomar café da manhã.
- Estava ocupado Pansy. – Se dirigiu a ela com gentileza. – Você poderia me dizer quais aulas têm agora?
- Defesa contra Artes das Trevas. Já estamos atrasados.
- Defesa contra Artes das Trevas. Aula importante, mas acho que o novo professor não vai nos deixar entrar.
- Você conhece o novo professor?
- Não. Vou indo Pansy, tenho que pesquisar algumas coisas na biblioteca.
- Até mais Draco.
Draco achava Pansy uma das poucas pessoas que se podia manter uma conversa agradável nos padrões dele. Assim com ele, ela havia evoluído de certa forma, ofendendo os grifinorios e sangues-ruins com mais classe, era inteligente. Agradável até certo ponto, não conseguia ficar muito tempo na companhia dela. Na verdade, gostava de viver solitário e, por incrível que pareça, isso não lhe era permitido. Ele e Pansy já haviam saído algumas vezes, tinham até tido uns amassos, no quarto e quinto ano, mas muitas vezes não passava de mera formalidade. Depois de um tempo pararam com isso e passaram a se falar quase que como amigos, amigos que já tinham sido íntimos e que agora conversavam de vez em quando para passar o tempo.
Fez seu caminho até a biblioteca, indo para a seção de feitiços avançados, começou a ler o primeiro livro que viu, só queria esperar que sua aula de transfiguração começasse, tinha pretensões de virar animago e teria que ser no seu ultimo ano, não queria perder as aulas de Mcgonagall de jeito nenhum, apesar de não gostar do jeito severo da professora e das exigências que esta fazia a todos os seus alunos.
- Droga! – Gina resmungou no fundo da sala de poções. Dividia um caldeirão com Eve.
- Você não devia ter se atrasado Gin. – Eve mexia o caldeirão, enquanto Gina triturava algumas perninhas de aranhas. – Logo na aula do professor Snape. Já foi logo perdendo pontos.
- Eve, primeiro dia de aula, dá um desconto.
- Eu te avisei para ser rápida. – Thamy estava na mesa ao lado, junto com Julia.
- Srta. Denovanne – a voz de Snape surgiu atrás de seus ouvidos – a não ser que queira perder pontos como sua colega,
eu aconselho que feche essa matraca e continue a fazer seu trabalho.
- Desculpe professor. – Thamy resmungou. Quando Snape estava longe o suficiente, ela voltou a falar, dessa vez muito baixo
para que só a três colegas ouvissem. – Esse professor maldito. Odeio ele.
- Você e toda a Grifinoria. – concluiu Julia. – E fique calada, não quero que nossa casa perca mais pontos, já basta
Gina para fazer isso.
Gina olhou de lado para Julia. As duas não se davam muito bem. Julia Spell era mandona, convencida e se achava superior a todos. A menina era espanhola por parte da mãe e inglesa por parte de pai, sangue puro e de uma família muito respeitada, era rica, loira, de pele um pouco bronzeada e olhos cor de mel, era alta e sua cascata de cabelo loiro tinha sido comprido até o final das aulas no ano anterior. Agora Julia mostrava os cabelos na altura do pescoço. Tinha um ar de realeza, sua família toda tinha pertencido a Grifinória.
A aula finalmente acabou, dois tempos de poções, logo no começo do ano era algo insuportável para Gina, talvez fosse um sinal de que as coisas não iriam correr bem aquele ano. Não gostava de poções e o professor só aumentava o seu desprezo pela matéria. Foi com imenso alivio que as aulas daquele dia terminaram. Todas haviam transcorrido bem, com exceção de poções, no final Snape ainda tirou mais dez pontos dela por derramar um fraquinho de Veritasserum. Ao total perdeu 15 pontos para Grifinoria, no primeiro dia e não conseguiu recuperar nas aulas que vieram a seguir.
O jantar aquela noite estava ótimo, mas ela apenas se serviu de um pouco de salada de beterraba com molho mil ilhas e a sobremesa que era musse de chocolate. Hermione havia sentado a seu lado e contava como tinha sido o dia dela. Quando foram para a torre da Grifinoria, ficaram ela, Hermione, Rony e Harry jogando snap explosivo. Não trocava palavra alguma com Harry e o clima era de estranheza entre eles dois.
Draco se encontrava na úmida sala comunal da Sonserina, era uma sala um pouco escura, em tons verde-cor-de-lodo, mas não deixava de esbanjar luxo. Localizada na área das masmorras, tinha os móveis distantes um dos outros, mantendo o isolamento que os sonserinos gostavam, a um canto da sala, ficava uma lareira, que nem sempre era acesa. Hoje se encontrava apagada, contudo os sonserinos não pareciam se importar com a umidade e o frio acentuado na sala.
Os dois colegas de Draco, Vicente Crabbe e Gregório Goyle, estavam ao seu lado, os dois tinha "furtado" da mesa do jantar alguns bolinhos de carne e os devoravam. Pansy se aproximou do loiro, que olhava entediado para o teto.
- Esses dois aí te contaram quem é o novo professor de Defesa contra Artes das Trevas?
- Pansy, acho que eles não sabem, são tão retardados que talvez nem se deram conta de quem é o mais novo paspalhão que veio assumir esse cargo. Estou farto desses professores que não nos acrescentam nada na aula de DCAT, parecem até que tem medo da matéria que ensinam.
- Sabemos quem é, sim. – As palavras saíram estranhas da boca de Goyle por estar cheia de pedaços mastigados de bolinho de carne.
- É aquele lobisomem. – Falou Crabbe.
- Lobisomem? Lupin, aquele que ensinou a gente no terceiro ano?
- Ele mesmo, Draco. – Pansy se sentou, olhando com nojo para Goyle.
Draco se levantou da poltrona em que estava.
- Aonde vai, Draco?
- Não interessa, Pansy.
Saiu do salão comunal e andou pelos corredores. Tinha que ir ao corujal, avisar ao seu pai que Remus Lupin estava lecionando em Hogwarts. Contavam com outro incompetente ou alguém do lado deles. Lupin era o oposto, podia ensinar muito aos alunos e além disso, era um dos que Dumbledore tinha plena confiança. Lupin era caçado pelos comensais, o lobisomem já havia arruinado alguns planos do Lord, junto com uma organização secreta feita por Dumbledore. A essas alturas, os comensais já sabiam que se tratava da Ordem da Fênix.
O corredor abaixo do corujal estava escuro, as tochas se encontravam apagadas, a penumbra caia por aquele corredor. Draco achou estranho, mas não acendeu as tochas, era melhor andar na escuridão, a chance de alguém vê-lo seria mínima. Foi aí que viu algo correr em sua direção, não teve tempo de desviar. Bateu com tanta força, que ele caiu no chão com a pessoa em cima dele, sim, era uma pessoa. Que embora fosse pequena e leve em comparação a ele, tinha o derrubado por conta do impacto da corrida e do encontrão.
Seus rostos estavam muito próximos, sabia que era uma garota, podia sentir o perfume adocicado e suave que vinha dela, a segurou pelas costas por instinto, para que não pudesse sair. Sentia a respiração dela e o cheiro adocicado que, tinha certeza, já havia sentido antes, tentou lembrar, mas não conseguiu. A garota parecia apavorada, a respiração dela era vacilante e não fazia ruído algum. Apesar de se mostrar apavorada, ela não fazia nada para se livrar dele, do mesmo jeito que ele parecia não querer se livrar dela.
A sensação de seus corpos juntos era boa, e o aquecia de uma forma que parecia impossível. Sentia o calor emanar dela, e aquele cheiro já estava tirando-o do sério. A pele dela era macia e suave. Não soube dizer o que o levou naquele momento a fazer o que pretendia, só sabia que queria sentir os lábios dela junto aos dele. E com esse impulso, puxou o rosto dela com a mão direita, enquanto a esquerda ainda a segurava pelas costas.
Sentiu a maciez dos lábios da garota, eram muito macios, queria aprofundar o beijo e como não viu relutância da parte dela, explorou cada canto da boca dela com avidez, provocando mais calor entre eles dois. Suas línguas não se refreavam e cada vez que se tocavam, parecia que recebiam um choque elétrico. A languidez do beijo o instigava a não parar e cada vez mais, a continuar com aquele roçar de línguas. Para desespero de Draco, a garota se deu conta da loucura e afastou sua boca da dele, de súbito. Ela se levantou rápido, já que, desde que os dois começaram a se beijar, Draco não a segurava com força pelas costas.
O rapaz levantou confuso, ela saiu apressada por onde Draco tinha vindo, ele se virou no intuito de impedi-la, mas algo dentro dele não permitiu. O corredor mais a frente estava pouco iluminado, uma única tocha e quando ela passou, ele pode ver a cascata longa de cabelos ruivos.
Ficou ali parado, nunca soube por quanto tempo. Os resquícios do beijo dela em seus lábios e o cheiro impregnado nele. Esqueceu-se completamente da finalidade de estar andando pelo castelo tão tarde. Voltou para o salão comunal, os pensamentos fervilhando com o ocorrido. Por que tinha agido daquele jeito? Era o que se perguntava. Tinha aprendido a controlar seus impulsos, mas naquela hora não havia controle, não havia razão, não havia sentido em nada. O momento o entorpeceu como uma droga, sua consciência foi embora. Ali, nada importava, só beija-la, só tê-la, e tinha seguido seus instintos de maneira ágil e delirante.
Ao se dar conta de que já estava em seu quarto, deitou na cama Ficou ali, ainda sentido o cheiro que perturbava seus sentidos e sua razão. Seu cérebro reclamava por ter agido naquele impulso louco e sem freio. Sabe-se lá o que mais teria feito se ela não tivesse saído de cima dele e se separado tão bruscamente? Condenou-se por isso, ainda mais ao descobrir quem era a garota. Tinha beijado uma inimiga e, Merlin, como isso tinha sido bom...
Gina entrou correndo e subiu as escadas de seu dormitório com presa. Entrou no banheiro deixando suas colegas intrigadas. Abriu o chuveiro e, mal tirou as vestes já foi entrando debaixo d´água. Começou a chorar, sem entender ao certo. Tinha beijado um estranho, e isso mexeu com ela de certa forma. "Você é uma boba Gina, chorando por causa de um beijo", pensou. "É uma boba por não saber o que está acontecendo com si própria".
