Capítulo 09: Despedaçados

Acordou de manhã se sentindo terrivelmente mal, não queria levantar da cama, não hoje. Não queria ver aqueles olhos cinzentos. Tirou o cobertor, sentido o frio da manhã, levantou, os pés tocando o chão frio, olhou para Thamy que se espreguiçava na cama. Gina abriu e fechou os grandes olhos castanhos demoradamente, relutando em ter que ir tomar banho e ter que assistir as aulas. Ter que correr o risco de encarar as pupilas decepcionadas de Draco. Oh, Merlin! Só agora ela havia notado. Era a única que podia estar com ele e faze-lo ser mais humano, nem que fosse brevemente. O que tinha feito? Arruinou a si mesma e decepcionou o garoto que precisava dela.

- Por que você acordou tão cedo, Gina? – A voz sonolenta de Thamy entrou em seus ouvidos. Gina olhou para amiga, andou até a cama dela se sentando e jogando a cabeça no colo de Thamy. – O que há com você? – Thamy perguntou preocupada

- Não quero sair do quarto. – Falou com manha.

- Temos aulas importantes hoje. Está se sentindo mal? – Thamy acariciou os cabelos ruivos.

- Estou.

- Então vá para a enfermaria.

- Não posso. – Resmungou. – Só me deixa ficar aqui, Thamy.

Thamy tirou a mão dos cabelos da amiga durante alguns segundos para depois voltar a acaricia-los. Soltou um suspiro, sem saber de imediato o que dizer.

- Só me diz que isso não tem haver com Ele. – Gina afundou o corpo na cama, ao ouvi-la dizer isso. – Eu te avisei, e agora, o que você vai fazer?

- Não sei. Você pode me ajudar?

- Ajudar como?

- Me deixando ficar aqui. – Gina tirou a cabeça do colo de Thamy e se sentou encarando-a.

- Você tem que enfrentar isso. E não ficar fugindo.

- É porque não é com você.

- Porque eu não caio fácil nessas conversas.

- Eu não caí fácil, Thamy. Ele falava a verdade e pelo visto continua sendo a verdade

- Eu não sei o que ele te disse. – Thamy a olhou com uma interrogação no rosto.

Gina se levantou odiando o chão frio que pisava, não podia contar assim a Thamy, até que tinha vontade de contar para alguém, mas não se sentia segura. Foi até o banheiro, tomar seu banho e ignorar a dor de cabeça que estava por vir. Mais um dia incansável de aulas e as férias de natal ainda pareciam tão longe, nem ia poder voltar para casa, seus pais achavam mais seguro ela permanecer no castelo, já que estavam metidos com a Ordem. Só o fato de ficar no castelo sem aulas era tranqüilizador, e ainda estava longe aos olhos dela essa tranqüilidade.


Draco olhou enfadonho ao redor do salão, enquanto Blás olhava enfadonho para o seu prato de mingau. Fizeram uma "reuniãozinha", ontem à noite, com direito as garotas mais atiradas de Hogwarts e por que não dizer as mais quietas também? Uma festa digna de qualquer adolescente em plenos hormônios. Emily Krauss, estava ao lado de Draco sorridente. Digamos que ela e Draco se "divertiram" juntos na festa. Isso não dava o direito da garota grudar nele, só que estava sem saco de dizer isso a ela. Tirou os olhos do salão e voltou para seu prato que ainda se encontrava vazio. Pôs a se servi de bolinhos e queijo, ele detestava mingau.

- Emily! – Pansy chamou a suposta acompanhante de Draco. – Você viu a Thopson por ai?

- Não. – Respondeu a garota ao lado de Draco, balançando os cabelos loiros para cima dele. – Deve estar no quarto do Higgs ou do Rokwood, não sei. Eu a vi com os dois ontem à noite.

Pansy ia perguntar a Draco, mas antes que fizesse isso ele a fuzilou com os olhos e ela desistiu.

- Vou indo, Emily.

- Mas já, Draco. Você mal comeu.

- Com o tanto que ele bebeu ontem é de se esperar que não coma nada hoje. – Zabine jogou a colher ao lado do prato, pelo visto ele se encontrava na mesma situação que Draco.

Draco saiu da mesa. Aquela ali seria mais uma que ele teria que dispensar sem nenhuma delicadeza. Sua vida voltava ao normal, mesmo que à noite ele ainda pensasse Nela. Não via a hora de se tornar Comensal e destruir o mudinho perfeito Dela. E aquele parecia um dos momentos perfeitos. Gina estava ali sozinha no corredor da sala de DCAT, sem as amiguinhas ou o estúpido do irmão dela por perto. Por que não começar agora a destruir o mundinho da Weasley, assim como ela havia destruído o pequeno mundo dele que começava a ser montado e foi derrubado sem piedade alguma? Aproximou-se cautelosamente, com os passos silenciosos que só ele sabia fazer. Gina apoiava a mochila na parede tentando colocar um grosso livro dentro.

- Se não é a pobretona da Weasley! – Começava os insultos infantis. Ela se virou com a mochila na mão e o livro com a metade do lado de fora. – Onde esteve metida esse tempo todo, Weasley? Deixe-me adivinhar. – Draco pôs o dedo no queixo e posicionou os olhos para cima, fingindo-se pensativo. – Ah! Com certeza se agarrando com o Potter em algum lugar deserto.

Ela olhou com extremo ódio. Quem ele pensava que era para insinuar uma coisa daquela? Ele era Malfoy, o cara que tinha estado se "agarrando" por ai. Mas ele estava errado, completamente errado, ao dizer aquilo sobre ela. Nem quando ela e Harry namoravam iam tão longe como ela ia com Draco, não que considerasse aquilo realmente longe, mas era mais ousado. Ela e Harry eram tímidos demais. Iam com tanta calma no relacionamento. Está certo que algumas vezes davam umas avançadas, mas depois se sentiam tão envergonhados um com o outro. Não! Definitivamente não queria mais Harry. Depois que teve seu pequeno relacionamento com Malfoy, ela percebeu o quanto era sem graça estar com Harry. Não que ele não merecesse, Harry era maravilhoso de certa maneira, mas entre eles dois as coisas eram mornas. Ela descobriu há pouco tempo que preferia algo bem mais intenso.

A fúria saiu de seus olhos e veio a mágoa. Como aquilo tudo doía dentro de si. Como era duro admitir que o gosto dele não estava mais em seus lábios e que agora só sobrava algo amargo para se sentir. Amargo e azedo como um tamarindo recém colhido e provado sem mal tirar a casca.

Desviou os olhos da tempestade que estava por vi a sua frente e segurou com certa força o livro, com tanta força que fazia seus dedos ficarem brancos, para depois ficarem extremamente vermelhos, assim como sua face deveria estar. Ela puxou o ar como se tentasse levar oxigênio para seu cérebro mais rápido e faze-lo ter um raciocínio maduro o suficiente para enfrentar aquela situação. Draco mantinha os olhos pousados nela de maneira assassina e com um fio tênue a escurecer seus olhos.

-Malfoy, acho que você tem maturidade suficiente para parar com isso. – Ela abaixou os olhos concentrados no chão, não conseguia encara-lo por mais que quisesse.

- Maturidade, Weasley? E se eu dizer que em certos momentos não gosto de ser maduro?

As coisas iam mesmo ser difíceis. Ela entrou na sala ao lado esperando que ele fizesse o mesmo. Draco hesitou do lado de fora. Para quer continuar com aquela cena de provocações? Se iria trazer mais dor e seria para ele, se ao menos fosse para ela também, mas não, só iria machuca-lo, como andava machucando nos últimos dias. Por fim entrou na sala, sabendo a tortura que seria estar tão próximo dela. Ele aprendeu sozinho que dor se combate com dor, e se ele tinha aquela dor naquele momento, sabia exatamente como combate-la. Algo teria que amenizar aquela dor.

Ela olhava da maneira mais extasiada. E ele sentiu vontade de segura-la entre seus braços e senti-la perto de si, só para ter certeza de que o que havia tido com ela tinha sido real. Real como sua dor.

- Malfoy... você não pode mais me tratar dessa maneira. – Não queria dizer aquilo, mas perto dele não controlava as palavras. Draco entortou os lábios em um sorriso de escárnio.

- E quer que eu te trate como, Weasley? Você não é nada.

Aquilo quebrou... quebrou como gelo ferindo cada centímetro do seu corpo, podia sentir sendo rasgada de maneira brusca e dolorosa, cada parte sendo ferida, estilhaçada como um pedaço de gelo. Ela queria chorar, mas não. Seria tão idiota se chorasse ali, afinal não foi ela quem encerrou tudo? E como se arrependia disso. Só pensava nele, só queria estar com ele, sentir o perfume de Draco preso nela e os lábios deslizando pelos seus, sentir a respiração calma dele em sua nuca e pode tocar na pele pálida e macia. Nada daquilo era justo com ela. Ela não era justa com si mesma.

- Eu não sou nada? – De onde vinha tudo aquilo? Não era para se mostrar assim, tal frágil.

- Você é engraçada, Weasley. Não somos nada um para o outro. – Ele cruzou os braços e virou de costas para ela.

- Somos sim. – Afirmou com veemência.

- Não. – Draco se virou, os olhos brilhando de fúria. – NÃO SOMOS. VOCÊ NÃO É NADA PARA MIM. EU NÃO SOU NADA PARA VOCÊ. – Berrou, os cabelos se desalinhando um pouco.

- Nada?

- O que você quer? Me enlouquecer? Foi você que disse que sua "vontade" havia passado.

- ESQUEÇA A DROGA DESSA VONTADE, DRACO.

- NÃO ME CHAME ASSIM. NÃO ME LEMBRE QUE EU TIVE ALGO COM VOCÊ. – Gritou com toda as forças que queria gritar a muito tempo.

- Você não pode fazer isso. – Ela murmurou com um fio de voz.

- Foi você quem fez. – Tentou se controlar, mas era tão inútil. Se sentiu frustrado por isso. – VOCE FEZ ISSO, E EU TE ODEIO, WEASLEY. ODEIO DA MANEIRA MAIS INTENSA QUE EU POSSO.

Ela se sentiu completamente derrotada, perdida... perdida naquela sala com ele.

- Eu não sei por que estou aqui com você. – Baixou os olhos, os cabelos vermelhos tampando um pouco o rosto. – Não sei por que quero tentar, Draco.

- JÁ DISSE PARA NÃO ME CHAMAR ASSIM.

Ele se aproximou dela. Gina achou que ele fosse bate-la de tanta raiva que ele expressava. Ao invés disso, Draco a segurou pelos ombros e continuou falando mais calmo e sem conter sua raiva, o que fazia ela preferir que ele gritasse.

- Te odeio com todas as minhas forças, te odeio por tudo o que você causou em mim e me fez sentir, te odeio por me manter vivo e depois me tirar a vida que nunca tive. – A frieza nos olhos dele a cortava, e a pressão que ele fazia em seus ombros doía.

- Por favor, só me entenda.

- Entender? Entender o que? Que você deixou de estar comigo e foi correndo para o Potter?

- Eu não estou com o Harry. Será que você não entende isso?

Draco a soltou com desprezo. Analisou cada traço dela e se demorou nos olhos de quem o havia abandonado. De quem acabava de faze-lo confessar coisas quem ele nunca confessaria a ninguém. Ele quis abraça-la, dizer que se danasse tudo aquilo e que estava tudo bem entre eles, mas não podia. Não ia deixar se atingir, afogaria seus sentimentos em lama para assim nunca mais tocar em tais emoções. Não podia acordar de seu pesadelo e ele não queria. Estava desistindo e era assim que tinha que ser

Virou as costas para ela e andou devagar, o que pareceu uma eternidade, querendo voltar e sentir os lábios dela, nem que fosse uma ultima vez, sabia que se fizesse isso não conseguiria fazer com que fosse uma última vez. Saiu da sala ouvindo-a murmurar seu nome. Fechou os olhos com força e os abriu continuando a andar pelos corredores. Sua decisão era mais que certa.

Gina sentou no chão, não acreditando naquilo. Estava daquele jeito por causa de um Malfoy. Estava chorando e o querendo ali. Sentiu a frieza percorrer seu corpo e as lágrimas quentes escorrem pelos seus olhos, caindo rapidamente e embaçando um pouco a vista.

Doía olhar nos olhos de Draco, que pareciam mais frios do que nunca. Ele a odiava, a culpava de tudo. Mas o que ele queria? Ela era uma garota confusa e que ainda aprendia a lidar com sentimentos, apesar de ter se apaixonado cedo e de ter passado anos com a mesma paixão na cabeça. Com Draco era diferente, era difícil lidar com as sensações, difícil ter que ficar em conflito se era certo ou errado, se podia ou não agir daquele modo. Ele tinha que entender isso, tinha que entender que ela não sabia lidar com tal situação.

Enxugou as lágrimas com as costas da mão e se levantou ajeitando a roupa e pegando a mochila e o livro jogado no chão. Concertaria tudo, ela precisava ajuda-lo. E mais do que nunca precisa ser ajudada também, não ia conseguir mais.


03 de Dezembro

Há quanto tempo estava daquele jeito? Ele não sabia. Um mês e pouco talvez. Apertou sua capa em volta de si, sentado na sala comunal em uma das cadeiras de espaldar, longe da lareira. Na verdade gostava de frio, gostava mesmo. Por mais que chegasse a incomodar, naquele momento era tudo o que procurava. Frio. Voltou a olhar para o pergaminho em sua mão e deu um sorriso vazio, impuro, impuro como ele era. Olhou para frente e viu Pansy, Blás, Nott e Bulstrode, conversando baixo, cada um segurava um pergaminho. Eles também haviam recebido.

Draco se levantou e saiu para o seu quarto. O que menos queria era que um dos quatro viessem saber o que ele achava do conteúdo no pergaminho. Abriu a porta do quarto e fechou com um feitiço que só ele poderia abrir, estava se tornando um hábito e Blás detestava isso. Sentou-se em sua cama impecavelmente arrumada e como se orgulhava disso. Impacientemente voltou a ler a carta que tinha recebido.

"Prezado Sr. Malfoy,

queremos lhe comunicar que a cerimônia para aceita-lo como Comensal será realizada no dia 31 de Dezembro, com todas as honrarias. Lembramos que o Sr. só será apresentado e aceito aos demais. Recebera sua marca quando já tiver concluído seus estudos. Lembramos também que deve mandar sua confirmação por essa mesma carta e cremos que o Sr. sabe como fazer isso, usando a magia que exige o pergaminho. Compareça com trajes a rigor."

A assinatura era a marca que todo Comensal oficialmente tinha, e futuramente ele possuiria a mesma. Tirou uma caixinha de prata de dentro de seu baú e guardou a carta ali, depois responderia mandando a sua confirmação. Nem precisa ter cuidado em esconder a carta, já que havia um feitiço fazendo com que só o destinatário pudesse lê-la.

Receber a marca negra não era o que ele mais queria nesse momento, tinha dúvidas se deveria seguir as ordens de alguém, não gostava muito dessa idéia, mas o que ele poderia fazer? Nasceu para isso, já estava predestinado a ele. Se tornar um Comensal era seu futuro.

O que mais tinha feito esse tempo todo era ficar trancado naquele quarto estudando (suas notas estavam excelentes, daqui a pouco era capaz de si igualar em termos de nota com a Granger sangue ruim, ou quem sabe até ficar superior. Impossível, já que a garota sempre tirava nota máxima). Guardou sua caixinha de prata dentro do baú e deitou na cama, querendo descansar e não pensar em mais nada.

O dia todo ele torcia para que a noite chegasse e que pudesse ficar em paz no seu quarto. Era à noite que ele mais pensava nela, era à noite que ela vinha perturbar seus sonhos. Essa foi a forma que ele encontrou de estar com ela, mesmo que fosse uma ilusão.


Draco saiu na manhã de sábado com Zabine ao seu lado. Os dois não andavam juntos com tanta freqüência, mas hoje quando Draco saia do castelo, Blás veio atrás e puxou assunto com ele. Conversavam sobre quadribol e sem muito empolgamento sobre os NIEMs. O castelo estava todo coberto por neve e um vento frio batia em seus rostos. Draco chutava a neve vendo a frente do seu sapato preto e polido ficar branco e um pouco depois voltar ao preto polido de sempre.

- Você já mandou sua confirmação, Draco?

- Vou mandar ainda.

- Eu mandei a minha no mesmo dia, acho que essa é a única forma de sair de casa.

- Eu não te entendo, Blás. Seus pais não te obrigam a ser Comensal e mesmo assim você quer, se pelo menos você se interessasse por artes das trevas.

- Eu quero minha independência e só vou conseguir se for assim. Meus pais nem sabem que eu vou me tornar um Comensal e se não for assim eu sei que não sairei de casa nem tão cedo, você sabe melhor do que ninguém que quando fazemos bons trabalhos para o Lord ele recompensa muito bem.

- Independência? Você acha que vai conseguir independência assim?

- Eu pensei que você estivesse entusiasmado em se torna Comensal.

- E estou. – Mentiu. Na verdade deixou de se interessar por essa "carreira" no sexto ano. Para ele se tornar comensal era só uma conveniência. – Mas obedecer alguém não é realmente um principio de independência, ainda mais se tratando do Lord.

- Eu vou ter condições de sair de casa, esse é o meio mais rápido. Só não quero estar em casa quando minha mãe descobrir a minha escolha. Pelo menos vou passar um último natal com ela.

- E com a Evelyn Nott. Até agora não sei como você conseguiu algo com ela se o irmão não a deixa em paz.

- Evelyn é só uma diversão. – Resmungou Zabine. – E o irmão dela finge não saber disso, acho que Teodoro tem medo de ser tirado do time.

- Vamos entrar, Blás, está ficando muito frio. – Zabine assentiu com a cabeça e os dois voltaram para o castelo.

«««»»»

Gina saiu da janela da torre da Grifinória e deslizou para a poltrona mais próxima da sala comunal.

- Gina, você esqueceu a janela aberta. Dá para fechar, tá frio.

- Ah, Rony, fecha você. - Afundou na poltrona, falando calmamente e olhando Rony levantar resmungando e indo fechar a janela.

- O que você tem? Anda tão quieta ultimamente. – Hermione fechou o livro em seu colo.

- Só estou cansada. – Gina viu os olhos de Hermione passarem dela para Julia e Harry. A loira estava com a cabeça no ombro de Harry, enquanto ele olhava vagamente pela sala.

- Não gosto dessa Julia.

- Nossa, o que deu em você, Mione? Não costuma falar mal das outras, a única vez que você fez isso foi com a Luna e acho que era por conta do Rony.

- Sempre existe uma exceção. – Rony já tinha voltado e olhava fixamente para namorada. – Também não gosto dela.

- Deixem eles dois em paz, dá até para dizer que estão com ciúmes. – Disse com displicência.

- Ele tem passado tempo de mais com ela, Gina. E sempre volta meio estranho. – Questionou Rony.

- E você e a Mione? – Indagou a irmã com um brilho nos olhos vendo os dois corarem. – Sabe, acho vocês dois um casal perfeito. – Rony ficou da cor de seus cabelos. Hermione deu um sorrisinho tímido. – O Harry estava andando de castiçal iluminando os dois pombinhos em clima romântico.

Hermione voltou a abrir o livro e o levantou escondendo o rosto, agora foi a vez de Rony dar um sorrisinho constrangedor e deslizar para a poltrona da namorada. Gina se levantou e saiu da sala comunal querendo ir a biblioteca pegar algum livro para se distrair. Estava pegando a mania de Hermione, mas o que ela podia fazer naquele sábado tedioso? Desceu as escadas correndo, sem se importa se alguém reclamaria pelo barulho. Desde pequena que gostava de sair correndo pelas escadas e agora parecia um momento propício.

Quando estava no segundo andar, sentiu um frio na barriga ao vê- lo ali conversando distraído com outro sonserino. Ele se virou por causa do barulho na escada e olhou com seu jeito superior. Gina andou lentamente desejando não estar ali. Já ia descendo as escadas para o primeiro andar quando ele soltou.

- Nunca lhe ensinaram que correr pela escada é falta de educação, Weasley? Com certeza não, vindo de onde você vem. – Ela se virou para responder algo a altura, mas não conseguiu dizer nada.

- Deixe a Weasley, Draco. Isso já está se tornando infantil. Não é necessário implicar com alguém por correr nas escadas. – Zabine olhou para a ruiva e sorriu simpaticamente. Ela saiu desconcertada e Draco olhou indagador para Zabine.

- O que foi isso, Blás?

- Nada. Só acho que as vezes você implica demais com a Weasley. O irmão dela ainda vai, você tem seus motivos, mas ela...

- Também tenho meus motivos em relação a ela, afinal é uma Weasley. – Cortou.

- Tá, eu sei, a família puro sangue que desonrou os bruxos. Bah... isso é maior baboseira, e o que a minha mãe diz, já meu pai acho que concorda com essa colocação que fazem aos Weasley, só não expressa muito por conta da mamãe.

- E você ainda diz que vai se torna um Comensal. – Comentou Draco mal humorado.


Gina desceu irritada as escadas. Havia prometido a si mesma que tentaria concerta o que tinha feito. Ela só queria uma chance para tentar de novo com Draco, mas ele não ajudava, simplesmente se mantinha o mais longe dela, fora de seu alcance e qualquer aproximação era recebida com insultos e grosserias, até mesmo quando era uma aproximação não programada como aquela. Ela só queria ele de volta, só isso.

Estava cansada de ter que procurar a biblioteca sempre que ficava assim. E lamentou por não saber de mais nenhum lugar que pudesse esquecer um pouco os acontecimentos com Draco. Bom, ela não esquecia, já que tinha sido ali que se beijaram pela primeira vez, pelo menos até onde ela sabia. Gina parou em frente à porta da biblioteca, não queria entrar ali, ter que olhar os inúmeros livros e se decidir qual deles leria, estava cheia de livros, não agüentava mais olha-los. Até que ela sentiu a presença de alguém ao seu lado a observando. Os olhos verdes de sempre.

- Harry... anh... oi! – Harry deu um leve sorriso.

- Malfoy é mesmo um chato, não é? Eu o vi querendo implicar com você na escada. – Acrescentou ao ver a cara intrigada dela. Gina se viu concordando com o que ele disse meio que sem pensar.

- Eu acho que vou voltar para a sala comunal.

- Pensei que você fosse ficar na biblioteca.

- Mudei de idéia. – Ela se virou meia sem jeito. Os olhos de Harry brilhavam tanto.

- Gina, se for por minha causa, tudo bem, eu saio.

- Não, Harry. Eu realmente mudei de idéia, hoje não estou com muita paciência para ler nada, nem sei por que eu vim para a biblioteca.

- Deve ser porque você tem passado bastante tempo aqui, foi algo automático.

- É deve ter sido. – Ela continuou a andar e Harry a acompanhou.

- Você anda tão quieta esses últimos dias.

- Hum... é que eu ando meio cansada, acho que é isso. – Os dois subiram as escadas, alguns alunos da Corvinal estavam ali no meio e eles pediram licença para passar.

- Você não está mais chateada comigo, está? – Perguntou levantando uma das sobrancelhas, após saírem da aglomeração de alunos da Corvinal.

- Não. Eu já entendi... não estou chateada com você. – Falou meio desconfortável. Estavam no segundo andar e ela não percebeu, estavam próximos daquele maldito banheiro que ela sempre evitava. Harry a olhou com atenção e sorriu, um sorriso doce.

- Então, eu acho que não haveria problema em tocar no assunto de novo.

- Não é bem assim, Harry... eu não quero falar... – Ela não pode concluir. Harry estava tão próximo sem ela se dar contar, perigosamente próximo e já havia juntado seus lábios com suavidade. Ela tentou de imediato sair, mas ele a segurou sem muita força, mas que era suficiente para mantê-la ali. Era os beijos de sempre com total calma e gentileza, um beijo puro que só Harry sabia como dar.

Gina quis sair, se afastar dos lábios dele, não era certo, não era nem um pouco certo. Mas o garoto não deixava e ela acabou se entregando aquele beijo. Não de uma maneira sincera. Era diferente, se entregou por não ver mais como e por achar que assim terminaria mais rápido. Queria mesmo sair, mas ela não pensava muito naquela hora. Sentia os lábios de Harry com delicadeza e carinho, e ele demonstrava sentir tanta a falta dela naquele beijo. Até que Harry a soltou e afastou-se um pouco. Nesse momento ela pode pensar e ver que não era nada daquilo que queria, que seu lugar definitivamente não era ali e que havia algo de muito errado naquela cena.

- Harry, você não podia...

- Me desculpe, eu não resisti. – Ele murmurou e parecia meio atordoado como ela. – Me desculpe. – Falou voltando a aproximar- se.

Gina o encarou sem saber exatamente o que dizer, e quando viu Harry estava mais uma vez próximo dela o rosto muito colado ao seu e murmurando desculpas. Ela se viu nos olhos verdes que achava não ter mais nenhum efeito sobre ela. Viu que era refletida com tanta adoração que não tinha como resistir. Harry tocou no cabelo dela e juntou mais uma vez seus lábios e dessa vez mostrando muito mais necessidade do que da primeira. Por mais que ela achasse errado, não podia sair facilmente. Era como se devesse algo a Harry, mas ela não devia nada. Sabia disso e por que se deixou levar ela não entendia. Beijar Harry não era nada certo.

Mais uma vez ele se afastou, completamente sem jeito. Ela não era única a achar aquilo errado. Harry parecia compartilhar do mesmo sentimento. Viu o brilho nos olhos verdes vacilar durante instantes e ele se afastar sem dizer mais nada. O que ocorreu em sua cabeça naquela hora, ela não soube dizer. Era uma mistura de pensamentos embaralhando sua consciência, a deixando vazia, como nunca havia sentido. Seu remorso a correu por dentro. Ela não estava com Draco, não fez nada que fosse de todo errado. Mesmo assim o sentimento de culpa a afligia.

Harry se afastou um pouco mais, desviando os olhos dela, então Gina pode vê-lo ali, parado os olhos cinzentos sem demonstrar nada a não ser a costumeira frieza de nuvem em dia de chuva, era um cinza nublado que a olhava como se a castigasse. Ele estava ali. Ele viu tudo. Harry se virou e viu Draco, quieto, muito quieto, próximo a porta e os olhando, sem dizer nada, olhando diretamente para Gina. O moreno se mostrou confuso, muito mais confuso do que quando beijou Gina, mas depois um fio de compreensão passou por sua mente. Nenhum dos três dizia nada, pareciam trabalhar em suas mentes o que se passou. Até que Draco se virou de costas e saiu sem dizer nada, sem soltar nenhuma zombaria, não parecia o Malfoy que estava ali. Harry se virou para Gina como se pedisse explicação, mas o que viu nos olhos da garota era mais do que queria saber, preferia a ignorância numa situação como aquela.

E ela seu viu sozinha no corredor. Harry subiu as escadas e se foi, assim como Draco, sem dizer nada, simplesmente se foi. Não foi errado o que fez, não foi. Tentava se convencer de que não tinha feito nada de errado, ela nem ao menos queria ter beijado Harry, mas também não impediu. Já fazia algum tempo que ela tinha certeza de que não queria nada com ele, não sentia falta dele, mas depois de Harry a beijar ela lembrou o que era aquilo, o que sentia por ele. Era algo muito mais do que uma paixonite de garotinha, que foi se acalmando com um tempo, até que já não via mais motivos para ficar tímida na frente dele e chegar e se considerar uma amiga, para depois os dois estarem juntos e começarem a namorar de repente. Não sabia mais se preferia o jeito calmo de Harry.

O que estava pensando? Por que aquela confusão toda? Ela sabia muito bem o que queria, do que sentia falta e aquele beijo deu total certeza. Ela só tinha medo do que aquilo tudo ia dar, como seria. Mesmo assim sabia que sentiria mais falta dele e que não conseguiria mais ficar tanto tempo longe dos olhos acinzentados, por mais que eles a machucassem. E foi vendo um grupo de alunos que vinham pelo corredor que ela não viu mais motivo de ficar parada ali, pensando ou avaliando o que ocorreu. Não queria mais pensar, toda vez que fazia isso acabava se machucando. Para que pensar? Saiu andando pelos corredores, descendo as escadas devagar, só querendo vê-lo e explicar o porque dela ter sido tão burra a ponto de terminar tudo, nem que para isso ela tivesse que contar seus medos, seus segredos. Ela só precisava dele, assim como sabia que ele precisava dela.


N.A: Ok. Não era para eu ter terminado assim, mas eu meio que acabei de decidir esse final, essa parte não tinha sido planejado, então talvez eu mude o rumo que teria os próximos capítulos para depois voltar ao que eu tinha planejado. Isso significa que eu vou ter que reformular mais um capítulo. Não sei quando vou publica-lo, minhas aulas vão começar e as duas primeiras semanas vão ser agitadas, já que eu já começo fazendo prova, então provavelmente não atualizarei a fic nas duas próximas semanas. E sei que as coisas estão paradas, mas minha cabeça achou de tirar férias e não está cooperando.

Agradecimentos: Bel (que deve estar muito chateado comigo por conta do meu estresse via msn e por não ter entregado a PO dela ainda), Nayara, Kika Felton, Lini, Miaka, Dea Snape, Selene Malfoy, Keurol (adorei a ameaça), Bel4, Sininha Malfoy (Cara, amei tua review, só terminei esse capítulo graças a ela) e Taci Malfoy(moça, se você deixasse o seu e-mail eu poderia responder a review, mesmo assim adorei a review).