Capítulo 10: Esquecimentos
Música: Black Tangled Heart, Silverchair
Maybe your luck has changed
(Talvez sua sorte tenha mudado)
Settle down
(Estabilizado)
Maybe I'm just deranged
(Talvez eu esteja apenas louco)
And on the rebound
(E na repercussão)
Maybe love was the thing
(Talvez o amor fosse aquilo)
Holding me back from all
(Que me segurava atrás de tudo)
Maybe I'm just the thing
(Talvez eu seja apenas a coisa)
To break my own fall
(Para interromper minha própria queda)
Take the rope to my heart and fall
(Pegue a corda para meu coração e caia)
You may just be the last before you
(Você deve ser a última antes de)
See the black tangled heart fall
(Ver o coração sombrio e confuso cair)
Maybe departure's good
(Talvez a despedida seja boa)
Makes room for more
(E deixe lugar para mais)
Start to mass produce
(Comece a produzir em massa)
For a chance to ignore
(Para uma chance de ignorar)
Maybe you'll kill yourself
(Talvez você irá se matar)
Before I get a turn
(Antes que eu consiga uma chance)
Maybe I'll fall in love
(Talvez eu irei me apaixonar)
And never learn
(E nunca aprender)
Gina andava devagar pelos corredores, pensando no que faria. Já se encontrava próxima as masmorras, mas não tinha idéia do que dizer a Draco, até agora ela dizia a si mesma que não foi errado, só que do que adiantava saber disso se ele não entenderia? Ainda tinha a nítida imagem dos olhos de Draco ao vê-la com Harry. Ela sabia decifrar o sonserino, aprendeu tão rápido que nem havia se dado conta. Viu dor, somente dor. E isso era tão estranho, afinal ele era um Malfoy frio que não ligava para essas coisas, no entanto ela despertou coisas novas no garoto, já havia tomado consciência disso, um pouco tarde de mais. As masmorras estavam mais frias e úmidas e seu sobretudo não era suficiente para aplacar o frio que percorria a sua pele.
Deu-se conta de que não tinha como falar com Draco. Como iria falar com ele se o garoto nem a vista estava? Sabia onde ficava a sala comunal da Sonserina, mas não podia simplesmente entrar lá, nem ao menos sabia se ele havia ido para as masmorras. Parou próxima a parede que sabia ser a entrada da Sonserina e abaixou a cabeça se sentindo derrotada, depois olhou irritada para a parede lisa e saiu dali antes que algum estudante aparecesse. Não conteve mais as lágrimas que teimavam em querer cair. Pensou para onde ir, a sala comunal de sua casa estava fora de cogitação, Harry devia estar lá, e o castelo em si não era uma boa idéia. Já ia se sentando no degrau da primeira escada, quando olhou para a grande porta de carvalho entreaberta. Ainda não havia dado uma boa espiada na neve, mesmo que não estivesse agasalhada o suficiente, iria lá fora andar um pouco. Ajudaria a pensar melhor.
Saiu do castelo, alguns alunos brincavam na neve e outros estavam próximos ao lago, só queria distância de tudo aquilo ali e poder pensar no que ocorrera há pouco. Mais uma vez estava pensando e sabia que se pensasse muito ia acabar desistindo de fazer o que acabara de ter certeza de que era melhor para si. E era isso que a confundia, seus pensamentos sempre iam contra, sua razão nunca ajudava. Sofria a influência da natureza em que havia sido criada e era isso que fazia os malditos pensamentos irem contra, tinha vontade de arranca-los de sua cabeça. Delicadezas não eram necessárias. Vagava próxima as estufas, os olhos sempre fixos no chão branquinho, até que levantou os olhos e sentiu algo dentro dela despencar e depois voltar ao seu local de origem, era sempre assim quando o via.
De costas para ela estava o sonserino, andando com cuidado e leveza pela neve. Desejou ter a mesma suavidade e leveza dele. Algo a alertou que aquela tentativa de conversa não fosse ser muito agradável, mesmo assim iria tentar antes que desistisse. E torcia para não ver dor nos belos olhos azul pálido. Se aproximou cautelosamente, mas sabia que já havia sido notada.
- Draco! – Chamou baixo, com medo de que ele estourasse e começasse a gritar com ela. Sem se virar e continuando a andar ele perguntou:
- O que você quer? – O mesmo tom enfadonho e frio, arrastando com cuidado as palavras.
- Eu preciso te explicar...
- Você não precisa me explicar nada. Não me interessa o que você tem com o Potter. – Fechou os punhos com raiva que chegava a machucar de tanta intensidade que exercia em si próprio.
- Mesmo assim eu quero explicar. – Tentou alcança-lo aumentando os passos e já se irritava com o fato de não conseguir andar com tanta leveza naquela neve e seus pés afundando a cada passo. – Não era para aquilo ter acontecido... o... o Harry me pegou de surpresa... eu não queria, foi tudo tão rápido. – Draco parou de andar e ela conseguiu alcança-lo.
Ele se virou para ela com um fino sorriso nos lábios, um sorriso nada bom. Ambos se perturbaram com aquela proximidade, podiam sentir o perfume que vinha de cada um e isso trazia lembranças que chegava a doer. Draco mordeu o lábio inferior e a encarou com uma certa fúria.
- Não me pareceu que o Potter estava te obrigando. – Falou de maneira indecifrável.
- Ele não me obrigou... quer dizer, foi de repente, eu não sabia o que fazer...
- Não preciso de suas justificativas. – Disse como se estivesse cansado. – Não sei por que você faz tanta questão disso tudo. É cada um na sua agora, certo? Não há mais nada entre nós.
- Sei que não há. – Controlou as lágrimas que queriam sair. – Mas eu já disse que queria tentar mais uma vez.
- Não vamos tentar. – Draco murmurou como se quisesse colocar um ponto final naquilo tudo de uma vez, não agüentava mais. – Vá se consolar com o Potter.
- Pare de colocar o Harry nessa historia, Draco.
- Weasley, se você me chamar mais uma vez assim e vou ser obrigado a tomar uma atitude.
- Que atitude você vai tomar? – Desafiou, olhando com ferocidade, a vontade de chorar indo embora por alguns minutos. Draco puxou a varinha e apontou para ela.
- Não me obrigue a apagar a sua memória. – Gina o olhou um tanto chocada, mas se recuperou rapidamente.
- Você não seria capaz.
- Apagaria a sua memória com o maior prazer, ouse dizer o meu nome mais uma vez para ver seu eu não apago. – Seu rosto estava decidido.
- Por que não posso dizer seu nome? Por que te faz lembrar de tudo, não é, Draco? – Ele ergueu com mais força a varinha. – Pode apagar, mas não pense que fazendo eu esquecer, vai fazer com que você se esqueça. Toda vez que você me ver vai se lembrar. – O sonserino contraiu os lábios com força. – Lembra que foi você que fez questão de nos chamarmos pelo primeiro nome? Apague, Draco, vai ser um favor que você me faz, pelo menos eu não ficarei me lembrando, não sentirei mais nada, ao contrario de você.
- Eu não sinto nada. – Falou exasperado perdendo seu controle, vê-la com o Potter tinha sido demais.
- Vamos, Draco, apague. Já disse seu nome varias vezes e você não fez nada.
- Vá embora! Suma daqui! – Jogou a varinha no chão, levando a mão até o bolso do casaco e apertando com força o objeto de prata.
Ela não tinha mais nada o que fazer. Draco precisa de um tempo, já tinha ido até o limite permitido, só precisava de um pouco mais e sabia que ele não agüentaria, era só uma questão de tempo. Pelo menos já tinha conseguido a prova de que ele nunca faria nada de mal a ela e que os sentimentos eram dolorosamente compartilhados. Só mais um pouco e tudo ficaria bem. Só não sabia que o fato dele não a machucar não significava que ele não descontasse nele mesmo.
Virou as costas para Draco e andou refazendo o caminho de volta para o castelo, as lágrimas quentes caiam pelo seu rosto e morriam frias em seus lábios. De costas e já afastada não pôde ver que a neve aos pés do garoto era maculada de sangue.
Apertou mais o sobretudo contra o corpo espantando o frio que atingia seu corpo por passar sabe-se lá quantas horas na neve esfriando seus pensamentos. As mãos estavam limpas e ele pensou seriamente em tomar um banho quente, mas estava com tanta preguiça. Blás rabiscava o pergaminho e o barulho da pena passando para lá e para cá já começa a irrita-lo. Draco apertou mais uma vez o sobretudo no corpo. O que menos queria era pegar outro resfriado e ter que ser cuidado aos modos trouxas com da outra vez.
- Draco, por que você não vai para a sala comunal ficar perto da lareira, lá deve estar mais quente do que aqui. – Ignorou o comentário do colega, não queria falar nada, não queria reagir.
Nem sabia mais o por que, só que a preguiça o afetava, sem deixá-lo pensar e suas pálpebras pesavam. Não tinha muito com o que se preocupar, certo? Sua vida havia sido resolvida e a Weasley estava fora dela, talvez estivesse começando a voltar ao normal. Isso é bom?
- Blás, apague essa luz, por favor. – Pediu tão fracamente de maneira desolada que o colega não viu como recusar o pedido, deixou os pergaminhos e a pena de lado e apagou as três velas que havia acendido para poder fazer a sua lição de aritmancia.
Percebeu Draco jogar o corpo para o lado, se cobrindo e achou melhor sair. O melhor nessas horas era sempre deixar Draco sozinho, ele só esperava que colega não voltasse a fazer o que costumava quando estava assim. Talvez um dia isso pudesse parar.
Draco ouviu a porta se fechar, só teve tempo de fechar os olhos e sentir o sono tomar conta de si. Não iria sonhar, ou melhor, iria, mas não se lembraria de nenhum sonho, sua mente pedia por descanso e ele adormeceu mais tranqüilo do que o normal, se esquecendo um pouco do que o afetava. Ele só precisa de um descanso.
A manhã de domingo era fria como se esperava, demonstrando todo o auge de Dezembro. Raios de sol eram vistos o suficiente para clarear sem muita intensidade e anunciar que era dia. O salão principal praticamente vazio, ninguém parecia querer levantar com um frio daqueles, ainda bem que não havia aulas. Esses eram um dos raros momentos em que Draco se incomodava com o frio, só havia descido para tomar um chá quente no intuito de se aquecer, não conseguia comer nada, seu estômago apertava com uma dorzinha no pé da barriga que geralmente sentia ao estar nervoso ou ansioso. Não era sempre que aquele Malfoy se encontrava inseguro.
De costas para a mesa da Grifinória não pôde notar um olhar insistente sobre si e ignorou a sua intuição, que o formigamento no pescoço provocava. Não devia ser nada demais. Nunca acreditou em intuição mesmo, não sabia dar valor ao dom que pouquíssimos homens possuíam e que só era oferecido as mulheres, mas mesmo que olhasse para a mesa não veria nada. Aquela mesa se encontrava vazia, o que era mais um índice para não confiar na sua intuição. Levantou querendo voltar para debaixo dos cobertores, aquela preguiça ainda o afetava e ele se encontrava sonolento, ao ponto de não perceber que estava sendo seguido. Na verdade não tinha como saber, afinal de contas, capas da invisibilidade servem para isso. Passou para o segundo andar e avistou o local onde Potter havia beijado "seu anjo". Quem se importa afinal? Ela não era mais dele.
Foi tudo muito rápido. Sentiu uma força agir sobre si e fazer com que não conseguisse se mover, logo em seguida algo como um imã o puxava para dentro do banheiro feminino. Seu corpo todo pesava e sentiu ânsia de vomitar. Foi jogado com força na parede do banheiro, sentindo dores nas costas e caindo no chão molhado. Iria matar o desgraço que ousava fazer uma brincadeira dessa com ele. Ma antes que pudesse fazer alguma coisa, um corpo fino e todo coberto de negro entrou no banheiro com a varinha em punho. Mais uma vez ele foi imobilizado e sua voz não saia tamanho o choque. O que um comensal fazia em Hogwarts e ainda por cima o atacando? Sem menores explicações a pessoa já foi se aproximando e apalpando os bolsos de Draco a procura de algo.
- Onde você colocou, Malfoy? – Uma voz delicada e suave que ele nunca havia escutado perguntou com certa educação. – Sei que sempre anda com aquela adaga de prata.
Finalmente a comensal achou o que queria, pegou em suas mãos o pequeno punhal de prata com delicadeza e seus olhos brilharam de fúria contrastando com seus gestos e fala "delicados".
- É de família, certo? – Draco não conseguia dizer nada, não sabia por que mais aquilo não era para estar acontecendo e ele não podia ficar calado.
Os olhos brilharam com intensidade e Draco pôde perceber o que ela faria, só não entedia o por que. Tentou se debater, mas o feitiço de imobilizamento não permitia. Ela se aproximou mais dele e deslizou com força a adaga nos punhos do garoto.
Gina descia as escadas de mau humor. Thamy havia sumido, provavelmente estava com alguém, ouviu Julia comentar algo com Eve na noite passada. Não deu muita atenção, não estava com paciência para saber das fofocas e uma hora ou outra Thamy a procuraria para contar algo. Julia ainda não falava direito com ela e Eve também havia sumido desde que ela acordou. Os outros deviam estar dormindo e ela precisava de distração, não conseguia mais ficar na cama, primeiramente decidiu descer para tomar café da manhã e depois veria o que faria, talvez estudasse um pouco. Desceu as escadas e parou no segundo andar ouvindo o barulho de algo mais para o final do corredor. Com toda a sua curiosidade resolveu ver do que se tratava, podia ser uma distração para quem se encontrava naquele marasmo.
Andou pelo corredor e notou a porta do banheiro feminino escancarada, o barulho parecia vir dali. Não! Não era tão curiosa a ponto de entrar naquele banheiro. Não entrava ali desde os acontecimentos do seu primeiro ano. Virou de costas e já ia saindo dali quando voltou a ouvir um barulho. Parou ainda de costas. Não entraria de jeito nenhum, devia ser a Murta Que Geme. Congelou ali ao ouvir um fraco pedido de ajuda. Foi tão baixo que deveria ser coisa da sua cabeça ou quem sabe uma armadilha. Ouviu mais uma vez e se afligiu. Podia fingir que não ouvia. Pensou em chamar alguém, mas e se fosse tarde demais quando alguém chegasse?
Entrou no banheiro querendo esquecer seus medos, mas era algo impossível. A visão que viu a aterrorizou ainda mais. Draco e sangue. As faces pálida manchada de vermelho e os pulsos cortados.
- Draco! – Se aproximou sem hesitar, querendo fazer algo. Seu draco estava machucado. Havia feito uma besteira.
Ele fechou os olhos e voltou a abri-los com dificuldade. Gina apoiou a cabeça dele em seu colo e tentou pensar em algo para acabar com todo aquele sangue. Draco fechou os olhos e não tornou a abri-los.
- SOCORRO! – Gritou em desespero e procurou a varinha dele. Tinha que ser prática e racional naquela hora, não se desesperar. Sua varinha não estava ali, não costumava levá-la consigo quando ia tomar café da manhã numa manhã que não haveria aula. – Draco, por favor! – Suplicou baixo, querendo que ele tornasse a abrir os olhos, mas do que nunca para encarar aquele azul acinzentado.
Pelo visto não era a única a estar sem varinha. Não tinha idéia do que fazer e o desespero tomava conta de vez. Estava perdendo-o. ainda tentando reunir um pouco de frieza que era precisa naquele momento para trazer seu raciocínio e esquecer um pouco o lado emocional, voltou a mexer nos bolsos de Draco e viu um lenço verde. Não pensou duas vezes e amarrou em um dos pulsos do garoto. Lembrou do lenço que sempre carregava também e amarrou no outro pulso, mas não ia adiantar por muito tempo.
Completamente tomada de pânico viu o professor de Poções entrar no banheiro junto com um aluno da Sonserina e vir ao seu socorro. Snape olhou chocado para a cena e correu para junto de Draco proferindo um feitiço e o tirando dali, tudo sem ser notado pela grifinória, que deixava lágrimas escorrerem pelo seu rosto enquanto via tirarem o seu Draco de perto. Quis gritar para pararem, deixá-lo ali com ela, mas sabia que estavam prestando socorro ao garoto e que talvez ainda não estivesse tudo perdido. Sentiu ser tirada com cuidado do chão, por um dos garotos que costumavam andar com Draco. Saiu do banheiro sendo seguida por Zabine e foi atrás do professor de poções que levava Draco para a enfermaria.
Isso não podia estar acontecendo. Como ela podia ter deixado que isso acontecesse? Ele deixou claro em suas atitudes o que seria capaz de fazer e ela não ligou, o Draco que ela idealiza nunca faria uma coisa dessa, por mais que não tentasse idealizá-lo ela já fazia isso, mais uma prova que tinha se envolvido com tudo naquela história e de que sentia algo muito forte pelo menino. Amor? Não sabia ainda. A única coisa que ela tinha certeza era que doía vê-lo daquele jeito e saber que poderia perdê-lo. Doía tanto ficar longe dele que sentia mais uma vez aquela sensação de estarem rasgando algo dentro de si. Talvez fosse amor mesmo. Pena que so havia pensado nisso agora. Poderia ser um pouco tarde.
No que pareceu incontáveis minutos chegaram na enfermaria. Snape agiu com a necessária frieza que o momento exigia, chamou Madame Pomfrey e Gina viu Draco sendo levado para uma parte da enfermaria que não poderia entrar, foi impedida por Zabine.
- É melhor ficar aqui, Weasley. Madame Pomfrey vai cuidar dele agora. – Seu braço estava sendo segurado pelo garoto e ela se esquivou quando finalmente notou esse detalhe. Zabine estava pálido e segurava uma carta na mão. – Nunca pensei que Draco fosse chegar a esse ponto. Ainda bem que chegamos a tempo. – Ele parecia falar mais para si mesmo do que para ela.
Gina se sentou em uma das camas da enfermaria, suas vestes estavam sujas de sangue, suas mãos no mesmo estado. As lágrimas não paravam de cair, mesmo ela dizendo para si mesma que ficaria tudo bem, que veria Draco muitas vezes e que não ia acabar ali. Mas e se acontecesse justamente o contrário?
Snape saiu da sala em que havia entrado com Madame Pomfrey para cuidar de Draco. Zabine pode notar aflição no rosto do professor, Snape tinha mesmo uma atenção especial para com Draco. A enfermeira veio logo atrás, com um frasco na mão.
- Como ele está professor? – O garoto perguntou e Gina reagiu a pergunta levantando a cabeça e olhando para o professor, que permaneceu calado.
- Ele vai ficar bem. – Disse por fim Madame Pomfrey, acabando com aquela aflição. – Só espero que crie mais juízo depois disso. Professor Snape poderia me fazer o favor de comunicar ao diretor.
Snape apenas balançou a cabeça e saiu da enfermaria. Zabine esboçou um leve sorriso e guardou rapidamente a carta em seu bolso. Gina não conseguia parar de chorar, nem sabia dizer se estava feliz ou não.
- Acho que os dois já podem se retirar e por favor não saiam comentando isso por ai, não seria algo muito agradável para o Sr. Malfoy em tal circunstância. – Zabine fez o mesmo que Snape, Gina continuou sentada na cama.
- Deixe-me ficar. – Pediu à enfermeira que a olhou sem compreender nada de imediato, mas vendo as lágrimas da menina achou melhor considerar.
- Está bem, querida. Mas antes vá se limpar, não posso permitir que fique nesse estado aqui na enfermaria. – Disse se referindo a roupa manchada de sangue da menina. – Se limpe e se não tiver tomado café da manhã ainda faça isso também. Depois você pode voltar aqui se quiser.
Gina levantou da cama já ia levando as mãos ao rosto para enxugar as lágrimas, mas desistiu ao notar elas sujas de sangue.
- Posso pelo menos vê-lo antes de ir?
- Me desculpe, Srta Weasley, mas não posso deixá-la ficar aqui dentro nesse estado. Vá fazer o que eu lhe disse e quando voltar não se preocupe que eu deixarei você vê-lo.
- Ele está bem mesmo? – Perguntou ainda meio receosa que tudo não passasse de uma ilusão, só teria certeza que estava tudo bem quando pudesse ver os olhos metálicos.
- Sim, ele vai ficar bem. Provavelmente vai entrar em depressão como acontece nesses casos, mas com um tempo isso tudo será resolvido.
Gina saiu dali. A aflição não havia ido embora e o sentimento de perda ainda continuava. Quis chegar o mais rápido possível ao seu dormitório e poder voltar para a enfermaria. Alguns dos alunos que já estavam acordados a olhavam espantados vendo o estado em que a ruiva se encontrava. Deu graças a Deus por não avistar nenhum dos seus amigos ou seu irmão naquela hora. O que menos queria era ter que dar explicações sobre algo que ainda estava tentando processar.
Sentiu algo macio enlaçando a sua mão, o cheiro dela estava ali. Sorriu. Aquele cheiro o tranqüilizava, ainda não havia decifrado direito do que se tratava, confundia hora sândalo, hora com pêssego. Aquele leve aroma doce o confundia, devia ser pêssego, mas a suavidade clamava pelo sândalo. O que ela fazia ali? Algo estava errado. Aquela briga entre eles não havia passado de uma peça que sua cabeça queria pregar. Havia sido real. Foi aí que se lembrou do ocorrido no banheiro. Lembrou da dor que sentiu em seus pulsos... dos olhos de Gina pedindo para ele ficar ali... Deveria estar morto, certo? Mas se estivesse morto, não estaria com a mão dela enlaçada na sua e sentindo o cheiro de sândalo ou pêssego. Uma hora teria que descobrir qual era finalmente a essência do perfume dela. E por que não abria os olhos para se certificar de que era real?
Abriu as pálpebras com dificuldade. Doía e não se acostumou de imediato com a pouca claridade que entrava no aposento. Gina estava meio sentada na cadeira, meio deitada na cama, os cabelos tocavam de leve nos braços de Draco. O que ela fazia ali? Ele sentia tanta raiva dela, mais tanta, que nem sabia mais se aquilo era raiva mesmo ou outro sentimento desconhecido. Era tudo tão confuso na sua cabeça. Ele sentia coisas que achou que nunca fosse capaz de sentir, começou a ver sentido em tudo, depois foi tirado dos pequenos sonhos que começava a se dar ao luxo de criar em sua mente, alguém tentou assassiná-lo e ele agora estava ali com ela ao seu lado, como se nada da parte ruim daquela história tivesse acontecido. No entanto ele guardava amargamente cada detalhe ruim que tudo aquilo proporcionou. Não podia simplesmente ignorar tudo e achar que estava tudo bem entre eles dois. Como ela ousava estar ao lado dele, enlaçando sua mão depois do que havia feito. Se mexeu um pouco incomodado, mas foi tão leve que achou que não seria notado.
Prontamente a ruiva acordou, levantando a cabeça e voltando a se sentar na cadeira. Os olhos castanhos o fitaram com tristeza e ele pode perceber que ela havia chorado. Gina piscou os olhos ainda tentando compreender tudo. Achou que ela fosse chorar, mas ao invés disso ela o abraçou com força, afundando o rosto na curva do pescoço dele. Draco não reagiu de imediato, deixou ser abraçado, mas não correspondeu. Ela o abraçava com tanta força que chegava a machucar. Sentiu as lágrimas molharem seu pescoço.
Ainda sem corresponder, sentiu o perfume dela mais forte ainda. Ele queimava por dentro, vendo tudo acender de novo dentre dele. As sensações boas, a proteção. Gina deixava bem claro o medo de perdê-lo com aquele abraço. Era algo sufocante e adoravelmente doloroso. Correspondeu ao abraço ainda incerto com o que poderia acontecer. Se deixou levar...
N.A: Finalmente! Desculpem mesmo pela demora, mas eu não tive muito tempo livre esse mês de Agosto e para piorar meu ânimo minha tartaruga morreu ontem, e agora a Vênus vai ficar sozinha, sem o Lee por perto. Então não tenho muito o que dizer desse capítulo, só que eu vou explicar melhor o que aconteceu nos próximos. E eu ouvi tanto Black Tangled Heart, enquanto escrevia o começo desse capítulo que ela tinha que fazer parte de qualquer jeito.
Agradecimento: Dea Snape, Bel4(não chora, please), Dark Angel Malfoy, Miaka (adoro as analises que você faz dos caps nas suas reviews), Taci Malfoy, Lanlan Malfoy, Kika Felton, Mki, Bel Granger, Jewel (não moça, não vou desistir, não me deixariam fazer isso), Chi Dieh, Nostalgi Camp, Fefs (minha mais nova miga e que é mais tarada do que eu). E mais uma vez gente, desculpa a demora.
