Capítulo 13: Tormento

"E mais essa agora". Pensou, virando para ver do que se tratava o barulho. Alguém se arrastando na neve. O inconfundível cabelo vermelho se destacando no escuro.

Não podia ser. Não justo quando ele estava ali sozinho. Tinha que fazer algo. Quem estava ali devia ter escapado de algo. Teria que levá-lo de volta sabe se lá para onde. Levar o prisioneiro ruivo que tentava escapar achando que seria seguro estar tão perto do castelo. Só podia ser ele, mesmo que nunca o tivesse visto, sabia quem era. Os cabelos vermelhos e as sardas eram inconfundíveis, até a pequena semelhança com Gina era visível ali. O ouviu murmurar algo, aproximou-se hesitante, olhando atento para a neve branca, as roupas em fiapos, manchadas de sangue, as mãos sujas, sangrando.

- Preciso... – ouvi balbuciar fraco. Olhou para os lados, vendo se havia sinal de alguém. E se fosse um teste? – Preciso de Dumbledore. – O ruivo conseguiu murmurar. – Ele vão...

- Silêncio. – Abaixou-se. Tentou segurar o outro caído no chão ainda decidindo o que faria. Independente da sua decisão teria que levá-lo para algum lugar mesmo. O virou, vendo o estado em que se encontrava, soltou imediatamente. Não conseguia sequer olhar os ferimentos, como ia carregá-lo? Nem ao menos agüentava ver sangue que não fosse o seu próprio.

Se conteve, tentando manter-se alheio ao que via. Tentou erguer o corpo do outro que havia desmaiado. Como era mesmo o nome que Gina dizia sempre com os olhos brilhando de boas lembranças e tristeza? Carlinhos!

Por fim achou algo mais inteligente para se fazer. Voltou a deitar Carlinhos na neve, dessa vez com cuidado, e conjurou uma maca. Se perguntando o por que de ficar nervoso e não conseguir pensar em nada útil a se fazer. Com o outro feitiço fez o corpo ir para a maca, e começou a levitá-lo.

Andou apontando a varinha para a maca a sua frente, indo em direção ao castelo. Passou pela porta de carvalho respirando aliviado, ninguém tinha aparecido para impedi-lo de chegar ali. Talvez ainda não tivesse se dado conta de que Carlinhos havia fugido. E se ele conseguiu chegar em Hogwarts naquele estado devia ser porque os comensais estavam por perto. Ousadia demais. Tão próximos de Dumbledore.

Já ai subir as escadas para levá-lo até a enfermaria quando ouviu vozes descendo em sua direção. E agora, como explicaria o que fazia com um Weasley ferido? Ficou mais aliviado quando viu que quem descia era Snape, mas enrijeceu o corpo quando Lupin apareceu mais atrás.

- Mas o qu... ? – Snape desceu de encontro a Draco olhando para a maca que flutuava.

- Carlinhos? – Lupin olhou chocado, mas foi o que pensou mais rápido ali, fez o mesmo feitiço que Draco levando Carlinhos para a enfermaria a partir dali.

- Draco, o que houve? – Snape perguntou ao garoto. – O que você...

- Não fui eu professor. O encontrei do lado de fora, tentando chegar no castelo.

- E o que fazia do lado de fora?

- Fui dar uma volta. E o vi lá, também vi dragões sobrevoando a floresta proibida e... só isso mesmo professor. – Não podia falar que havia uma comensal em Hogwarts. Ele mesmo era quase um.

- Aconselho que volte para sua sala comunal, Sr. Malfoy. Essa hora não é permitido alunos fora de suas casas. E não comente nada disso com ninguém.

- Sim professor. – Saiu dali o mais rápido que pode.

Provavelmente amanhã estaria sem cabeça quando seu pai soubesse que havia ajudado um Weasley. Se bem que nem sabia mais se ele estava vivo ou não. Imaginou como a sua ruivinha ficaria se acontece algo ao irmão. Como ficaria quando soubesse o estado em que ele fora encontrado? E só de pensar que talvez se eles tivessem ficado mais um pouco na estufas e voltado mais tarde, ela iria encontrar o irmão.


Saiu descendo as escadas às pressas tentando achar Rony. O autocontrole por um fio, os nervos aflorando. Não acreditava que o tinham achado ali em Hogwarts. Onde estava Rony afinal, a própria McGonagall é que devia chamar ele e deixá-la ir ver o irmão de uma vez.

Ia saindo do castelo, achando que ele poderia estar lá fora treinando um pouco com Harry, quando ouviu a voz familiar do seu irmão. Deu meia volta e foi até ele, a respiração ofegante por conta da descida rápida das escadas.

- Acharam o Carlinhos! – Disse ainda tentando regular a respiração e com um sorriso.

- O que? – Perguntaram Rony, Harry e Hermione ao mesmo tempo.

- Aqui em Hogwarts. – O trio arregalou os olhos.

- Não é possível, não vimos sinal dele no...

- Como ele está Gina? – Hermione interrompeu Harry, aflita, segurando a mão de Rony com força.

- Não sei. Ainda não pude vê-lo, McGonagall pediu para que chamasse Rony e depois fossemos a enfermaria.

Não a esperaram dizer mais nada. Foram para a enfermaria. Gina os seguiu, apressando os passos.

- Avisaram ao papai e a mamãe?

- Não sei de nada, Rony.

- Ele está bem?

- Já disse que não sei de nada. – Falou aflita. Rony passou os braços em volta do seus ombros.

- Ele vai ficar bem Gina, o Carlinhos é forte.

- Eu sei. – Tentou sorrir, mas não conseguiu. – Fiquei sabendo que o encontraram todo machucado. – Disse baixo, mais para si mesma.

Chegaram na enfermaria, entrando devagar. O professor Lupin estava ali, assim como McGonagall. Lupin os viu entrando e ternamente se dirigiu para Gina e Rony.

- Ele está na sala ao lado com Madame Pomfrey, acordou a pouco, mas voltou a dormir. – Quando terminou de falar, a enfermeira saiu da outra sala trazendo alguns frasquinhos na mão.

- Podem vê-lo, mas sejam rápidos, ele está dormindo e ainda não se encontra totalmente recuperado. – Os quatro fizeram menção de entrar na outra sala, mas ela os impediu. – Potter e Granger esperem aqui fora. – Disse permitindo que só os dois irmãos entrassem. – Não quero agitação lá dentro, ele precisa dormir, não sei se a poção fez total efeito.

Os dois irmãos entraram na outra ala. Ao fazerem isso Lupin chegou perto de Madame Pomfrey perguntando preocupado.

- Mas como a poção não fez total efeito?

- Acho que tem algum feitiço ou até mesmo poção nele. – Suspirou cansada. – Algo que não deixa a poção que dei para ele não sentir dor fazer efeito. Acabei tendo que fazê-lo dormir para não sofrer mais, mas isso não adianta muito. Chamei o professor Flitiwick para ver se tinha algum feitiço, mas ele não conseguiu achar vestígio de nada.

- Conseguiu fechar os cortes?

- Sim. O que me preocupa são as marcas próximas ao peito, acho que o garoto foi atacado por algum dragão, mas foi algo recente e ele já havia sumido a meses. Não pode ter sido quando trabalhava. – Olhou para Hermione que parecia atenta a conversar. - Sra. Granger, Sr. Potter, por que não voltam para o salão principal?

- Já tomamos café da manhã. – Harry respondeu rapidamente.

- Então por que não se dirigem para a sala de aula?

- Temos aula com o professor Lupin, quando ele for nós vamos também.

- Então vamos, senão vou me atrasar para a aula. – Lupin deu um leve sorriso para os dois. – Depois vocês voltam para saber como ele está. – Conduziu os garotos para fora.

- Então Papoula, ele vai mesmo ficar bem? Molly não agüentaria se algo acontecesse a ele. – McGonagall comentou pesarosa. Por mais severa que fosse era apegada a todos os seus alunos, principalmente os da própria casa.

- Não corre risco, só me preocupo com as marcas no peito, como já disse, e com um ferimento na perna. Snape ainda não me trouxe a poção para queimadura.


Ao entrar junto com Rony, Gina se aproximou da cama em que Carlinhos estava olhando para o irmão que dormia, mas não parecia ter um sono tranqüilo. Viu ele contorcer o rosto umas duas vezes e se perguntou se seria de dor. Alguns arranhões no rosto, nos braços pequenas linhas que deviam ter sido cortes fundos, uma parte da mão estava com ataduras. Os cabelos se encontravam limpos, apesar de embaraçados, e o resto do corpo coberto com o lençol. Passou a mão com cuidado nos cabelos do irmão, sem conseguir conter um sorriso por saber que agora ele estava ali.

- Ele vai ficar bem. – Disse Rony como quem quisesse assegurá-la disso, mas pareceu que ele tentava assegurar a si mesmo.

- É claro que vai, Rony. – Gina o abraçou. – Não parece ter nada de errado com ele. Papai e mamãe vão ficar muito felizes.

- Acha que vão levá-lo para casa?

- Sim, mamãe vai fazer questão de cuidar dele.

- Mas será que não seria mais seguro ele permanecer aqui? E se o levarem de novo?

Ficou calada com a pergunta. Talvez Rony tivesse razão.

- Ele parece esgotado.

- Acho que ele vai dormir durante muitas horas, quem sabe dias.

Gina voltou para junto de Carlinhos e ficou mexendo no cabelo ruivo

- Não exagere. Talvez ele só durma algumas horas.

- Se vocês ao menos me deixassem dormir.

Ouviu a voz fraca. Gina só faltou pular de susto ao ouvir a voz do irmão ainda de olhos fechados.

- Carlinhos! Você estava acordado? – Tentou abraçá-lo, mas notou que ao rodear o corpo dele com os braços ele se encolheu um pouco. – Oh, desculpa, deve estar machucado ainda.

- Vai ficar tudo bem. – Disse, ouvindo o tom preocupado da irmã. – Eu só tenho que falar com Dumbledore. – Tentou abrir os olhos, a claridade incomodava um pouco.

- Depois...

- Não podem chegar perto da floresta.

- Do que está falando, Carlinhos? – Rony perguntou sem esconder o pânico na voz.

- Minhas costelas doem ainda. – Resmungou.

- Madame Pomfrey deve trazer alguma poção logo.

- Não vai adiantar.

- O que tem na floresta, Carlinhos?

- Rony, deixe ele descansar.

Sabia que estava na floresta proibida, impossível não reconhecer aquela floresta, o tanto de vezes que se metia lá à procura de algum animal. Só não sabia como o levaram até ali. Passou algumas semanas em uma masmorra e logo depois já estava na floresta. Perto do fogo, lembrava do calor insuportável que costumava sentir na Romênia, ocasionado pelos dragões. Havia dragões ali, não sabia quantos, mas não foi o único capturado, reconheceu dois companheiros de trabalho e havia mais quatro que não sabia de onde eram. Não podiam se falar, mas lembrava bem de quando lançaram maldições imperdoáveis nele e nos outros. Não lembrava do que tinha feito, mas viu alguns controlarem dragões, dizer como se devia agir, ensinar como controlar os dragões aos comensais. Provavelmente tinha feito o mesmo que os outros.

- Carlinhos, você está bem? - Gina olhou bem para o irmão analisando cada expressão.

Madame Pomfrey entrou na ala, trazendo mais frasquinhos.

- Já acordou? Mas a dose de poção que eu dei era para você dormir no mínimo quatro horas! – Olhou preocupada para o garoto.

- Não funciona. – Respondeu dando de ombros.

- O que há de errado? – Gina perguntou a Madame Pomfrey.

- Ele vai ficar bem, querida. O professor Snape já deve estar chegando com a outra poção. Agora acho melhor vocês irem embora e voltarem depois. Ele precisa descansar.

Saíram da enfermaria meio contrariados por não poderem ficar com o irmão, mas ainda ouviram Madame Pomfrey dizer a Carlinhos:

- Sua mãe já deve estar a caminho, Carlinhos. Isso me lembra os tempos em que você estudava aqui e vivia nessa enfermaria por conta dos ferimentos que arranjava quando inventava de cuidar de algum animal.


Pousou a cabeça suavemente entre os braços em cima da mesa, esperando que ele aparecesse. O tinha avisado que estaria na biblioteca, em uma das mesas mais atrás escondidas pelas estantes. Esperava impaciente processando o que seu irmão havia dito aquela tarde quando saíram da enfermaria, após passarem o almoço ali com Carlinhos paparicando-o junto com o Sr. e a Sra. Weasley. Levariam Carlinhos para casa assim que ele se recuperasse um pouco mais. Sua mãe achou melhor que o levassem para o St. Mungus, mas pelo que entendeu da conversa que ouvi entre seus pais, Dumbledore achou melhor que não o levassem para lá, poderia não ser seguro o suficiente, quem seqüestrou Carlinhos podia muito bem tentar de novo, não sabiam ainda o real propósito.

Ele apareceu olhando para os lados, atendo a qualquer suposto aluno que pudesse vê-los. Gina observou ele se sentar calmamente de frente para ela, o olhar sério e distante como sempre.

- Foi você que achou o Carlinhos? – Draco não escondeu a surpresa de ouvi-la perguntando aquilo.

- Como soube que fui eu?

- Rony me falou. – Deu de ombros.

Draco analisou a forma como ela falava. Parecia que tinha feito algo de errado, pela maneira fria como ela se dirigia a ele. Pensou que ela fosse agradecê-lo e dar um dos abraços que ele tanta gostava.

- Qual o problema, Virginia?

- Você sabia onde ele estava, foi seu pai? Foi seu pai mexendo mais uma vez com alguém da minha família? – Fechou as mãos com força.

- Não... eu não sabia. Achei ele perto do castelo. – Disse querendo que ela acreditasse, a voz pesada com a possível idéia dela não acreditar no que dizia.

- Isso não faz sentido... E logo você achou ele.

- O que está insinuando, Virginia? Que eu sabia onde ele estava esse tempo todo e depois achei de trazê-lo para o castelo e prestar socorro? Acho que isso é que não faz muito sentido, não é mesmo? Se eu soubesse onde ele estava desde o começo por que eu iria trazê-lo para cá?

Ela o encarou com tristeza, confusa com aquilo tudo. Percebendo agora que provavelmente estavam de lados opostos. Lembrando-se das palavras de Rony ainda pouco. "Ele tem algo com essa historia, Gina, claro que tem. Todos sabem que Malfoy vai virar comensal, isso se já não for, assim como todos da família dele. Você ouviu o que o Carlinhos disse, foram os comensais que os seqüestraram e o mantiveram na floresta esse tempo todo".

Maldita hora que se apaixonou por ele, que se envolveu sem se importa com as conseqüências.

- Eu não sei, Draco. Não sei de mais nada. O meu irmão... você viu o estado dele? Viu o que fizeram? – Ele confirmou com a cabeça. Gina se levantou sendo seguida por Draco.

- Aonde você vai? – Ele a segurou. – Não acredita em mim? – Olhou nos olhos castanhos, vendo a duvida ali.

- O machucaram... Madame Pomfrey ainda não conseguiu dar uma poção a ele que fizesse a dor parar... reclamou a tarde toda de dor. Torturaram o Carlinhos, algum comensal como você feriu o meu irmão...

- Do que me chamou? – Apertou as mãos em volto dos braços dela.

Não respondeu. Encostou sua cabeça no peito dele, que pareceu sem saber como agir, até que resolveu abraçá-la. Sabia as voltas que a cabeça dela deveria estar dando, acontecia o mesmo consigo. Tinha noção do quanto ela deveria ter ficado abalada ao ver o irmão, mesmo achando que provavelmente ela não o havia visto no estado deplorável em que o encontrou. Soube através de Zabine que os Weasley só foram avisados do ocorrido de manhã, Blás viu quando McGonagall os avisou e comentou com Draco, que tentou se mostrar desinteressado.

- Você é?

- Um comensal?

Ela se afastou um pouco para poder olhá-la.

- Gina! – Olhou para ver quem a chamava. Eve estava ali olhando sorridente para ela, e só depois pareceu notar Malfoy, fez uma cara de intrigada se voltando para a ruiva. – Er... McGonagall está pedindo para que você vá a enfermaria, acho que é para se despedir de seus pais.

Gina não soube o que dizer de imediato. Torceu para que Eve, sendo distraída do jeito que era, não percebesse nada. Sem olhar para Draco seguiu a amiga.

Draco observou se afastarem, a atenção toda voltada em Eve. Reconhecia alguma coisa ali, algo era familiar, a voz delicada e suave, a expressão dos olhos... Mas não podia ser. Era um grifinoria e do sexto ano. Impossível que fosse. Saiu da biblioteca indo para as masmorras se lembrando de algo.


- Blás! – Chamou sem ligar para os outros que estavam ao redor. – Você lembra quais as pessoas que estavam na cerimônia do dia 31? As mulheres, para ser mais especifico. - Blás olhou para ele sem compreender. – É que eu fiquei interessado em uma delas, mas não lembro o nome. – Resmungou entre dentes. Pansy soltou um muxoxo de reprovação.

- Só lembro de umas três que são daqui de Hogwarts.

- Quem?

- Anne Nayore e Dayse Dimen, ambas da Corvinal, e Shally Larrea da Sonserina.

- Não havia ninguém da Grifinória?

- Acho que não. Tudo bem que as coisas estão se expandindo, mas acho que não chegou na Grifinória ainda.

- Você está interessando em alguém da Grifinória? – Pansy perguntou levantando uma sobrancelha.

- Claro que não. – Percebeu a besteira que havia falado a pouco. – Mas é que... ah, Pansy, não preciso dar explicações.

- Você se interessou mesmo por alguém lá, Malfoy?

- Não é da sua conta, Nott.

- É, eu sei. – Respondeu o outro com descaso. – Mas você passou a festa o tempo inteiro isolado

- Eu sou discreto, Nott, ao contrario de você. – Limitou-se a dizer.

Saiu dali resmungando algo. Malditos sonserinos incompetentes e intrometidos, só não eram piores que os grifinórios entediantes e certinhos (com exceção da sua ruiva). E agora não sabia como confirmar as suspeitas.

Só que ao contrario do que acontecia, já que nunca achava que tinha sorte, ao sair das masmorras e se dirigir para o salão principal viu a amiga de Gina, com outra garota parecida com ela. Entraram no salão e Draco fez o mesmo caminho, notando elas se separem, uma indo para a mesa da Grifinória e outra da Corvinal.

"Anne Nayore e Dayse Dimen, ambas da corvinal, e Shally Larrea da sonserina". Foi o que Zabine havia dito, agora era só descobrir o sobrenome da amiga de Gina para ter certeza que aquela Corvinal era quem havia tentando matá-lo. A semelhança era notável entre as duas e na certa eram irmãs, por isso Draco acabou reconhecendo. Sentou-se na mesa da Sonserina olhando atentamente a distraída Corvinal que conversava com as amigas.


- Por que essa cara, Gina? – Carlinhos perguntou, enquanto tomava o suco de abóbora.

- Ah nada. – Olhou para ele vendo se perguntava ou não o que queria saber. – Carlinhos, sei que você não quer falar sobre isso...

- O que você quer saber? – Deixou o suco de lado e a olhou sério, como sempre fazia quando estava preocupado.

- Eu vi você falando com o papai sobre ataques com dragões. É isso que eles vão fazer?

- Provavelmente, mas todos já esperávamos por isso uma hora, não é mesmo? Dumbledore já havia sido comunicado de que alguns dragões haviam sido roubados, o ministério também, mas abafou o caso para que não deixasse a comunidade mais apavorada do que já está.

- Mas eles vão atacar Hogwarts? – Carlinhos desviou o olhar. – Um dragão já apareceu por aqui há algum tempo.

- Eles perderam o controle, não era para isso ter acontecido.

- E vão atacar?

- Seria muita burrice se atacassem Hogwarts, até agora não entendemos a finalidade disso, talvez só estejam usando a floresta proibida já que sabem que ninguém vai lá. Mas você não tem que se preocupar com isso irmãzinha. Logo isso tudo vai acabar, você vai ver.

Ficou calada. Carlinhos tinha contado aquilo muito facilmente, talvez tivesse mais coisa a saber. Como sempre aquele instinto de proteção que seu irmão tinha a impedindo de saber o que se passava.

- Amanhã eu volto para casa.

- Já? Mamãe disse que você ia ficar aqui, que talvez fosse mais seguro.

- Não tenho porque ficar. Olhe – mostrou a perna, onde não havia mais queimaduras. – Madame Pomfrey deu jeito nisso aqui. E não sinto mais dor. A poção que Snape preparou deu certo, agora só falta essas marcas no meu peito sumirem. – Apontou para o próprio peito coberto pela camisa do pijama. Gina ainda não tinha visto as tais marcas. Não deveriam ser nada demais, Carlinhos realmente se recuperara rápido.

- Que bom que está melhor. – Abraçou o irmão. – Vou sentir saudades, acho que só vou ver você agora nas férias, isso se aparecer lá em casa.

- Vou fazer o possível para visitar vocês. – Olhou para a irmã com uma carinha de quem ia pedir algo. -Escute, porque você não traz para mim um daqueles bolinhos. Sabe onde fica a cozinha?

- Sei. Mas e se Madame Pomfrey não deixar você comer, pode fazer mal.

- Vamos, Gina. Sabe há quanto tempo não como algo assim? – Não resistiu ao pedido, levantou da cama sorrindo.

- Vou ver se consigo trazer algo, deve ter sobrado do jantar. – Deu um beijo no rosto do irmão e se afastou.

Desceu as escadas, fechando o casaco que vestia. Pode ver Julia discutindo com Harry ali perto, Rony e Hermione viam mais atrás, pelo visto iam visitar Carlinhos. Passou por eles apenas acenando a cabeça, e ignorando o olhar ameaçador de Julia. Como se tivesse medo? Como Harry a aturava ainda era um mistério. Nem sabia que eles haviam voltado.

Chegou no corredor da cozinha e já ia entrando quando ouviu vozes no corredor ao lado. Não que espreitasse a conversa dos outros, mas reconheceu uma das vozes e não pode deixar a curiosidade de lado. Draco estava ali com aquele outro garoto que era até simpático para os padrões da Sonserina, conversando nervosamente.

- Você tem certeza, Blás... tem certeza de que nenhuma das garotas que estavam na cerimônia já tinha sido admitidas como comensal?

- Tenho, Draco, você sabe que não pode, só somos reconhecidos como comensal, mas só somos aceitos quando terminamos o sétimo ano e recebemos a marca negra. Eu tenho certeza que você errou de pessoa. Você tem certeza que alguém tentou te matar aquele dia no banheiro feminino?

- É claro que tenho, né, seu idiota. Ou você ainda acha que fui que tentei fazer aquilo?

- Bom... tinha aquela carta e...

- Esquece aquela carta, já disse que não fui eu.

- Você andava estranho, mas do que já é, então eu pensei que...

- Mas você não serve para nada mesmo, Blás. Eu não quero falar sobre isso, quero saber sobre a garota, tenho certeza de que foi aquela Corvinal.

- Não pode ter sido a Nayore, eu sei que não.

- E como pode ter tanta certeza.

- Não daria tempo... ela estava comigo, e eu sai do... meu quarto assim que vi a sua carta, mas nós não estávamos fazendo nada, ela só foi lá me visitar e...

- Não quero saber se você e garota dormiram ou não juntos. Quero saber se foi ela.

- Já disse que não pode ter sido, não daria tempo.

- Mas ela é comensal, não é? Estava na cerimônia.

- Só foi reconhecida, assim como nós.

Gina ouviu tudo demorando um pouco para compreender a finalidade da conversa. Por fim entendeu que Draco era um comensal, mas como o outro mesmo havia dito, não tinham sido aceitos por enquanto. A cabeça ainda fervilhava com as informações. Conhecia uma Nayore da Corvinal, mas ela não seria uma comensal. A irmã de Eve? Não, não podia. Mas ouviu eles dizerem que ela estava na tal cerimônia.

- Gina, o que faz ai? – Ouviu uma voz atrás de si e deu um pulo. Draco parou de falar imediatamente com Blás.

Virou para trás se deparando com Eve e Thamy, que segurava uma corujinha. Draco viu Gina perto da cozinha de frente para a amiga que ainda esperava uma resposta para a pergunta recém feita.

- Eu... eu vim pegar algo para o Carlinhos. – Respondeu baixo.

- Ótimo, eu vim aqui na cozinha ver se arranjo algo para a Liebe, ela gosta de doces. – Thamy puxou a amiga pela mão e arrastou para dentro da cozinha, junto com Eve. – Como sabia que aqui era cozinha?

Entraram na cozinha, seguidas pelo olhar de Draco. Blás fez o mesmo parecendo interessado, mas foi o primeiro a desviar o olhar e voltando ao assunto.

- Acho que você deveria parar um pouco com isso...

- Cala a boca. – Começou a andar saindo dali, a cabeça fervilhando.

Ela tinha escutado, não havia duvida que havia escutado. Por que não foi prudente como costumava ser? Por que tinha que conversar sobre aquilo em um corredor onde passava qualquer um. Como tinha sido burro. Blás o acompanhava, acostumado o suficiente com as rápidas mudanças de humor de Draco.

- Espera ai, Draco, eu lembrei de uma coisa.

Parou de andar se virando para Blás.

- Seja lá o que tenha se lembrado, deixe para me falar na sala comunal. – Voltou a andar apressado, sendo seguido por Blás, que não se conteve e foi falando assim mesmo.

- Tenho que falar, senão eu esqueço.

- Blás, o que você tem nessa cabeça?

- Se me irritar eu não conto. – Cruzou os braços. – Olha só, eu me lembrei que naquele dia a Nayore chegou meio estranha, sabe? E fez questão de entrar no nosso dormitório, ela se sentou na sua cama. – Draco olhou indignado por saber que ele deixou alguém se sentar na sua cama, já ia falar algo quando Blás continuou. – E bem, foi lá onde eu encontrei a carta.

Draco parou subitamente. Tentando achar solução para duas coisas ao mesmo tempo: uma descobrir quem era a comensal, e outra como explicaria a Gina o que ela tinha ouvido, mesmo ainda não tendo certeza de que parte exatamente da conversa ela havia escutado.

- E você só me diz isso agora?

- Bom... como eu ia ligar os fatos, não é mesmo? Mas ainda continuo dizendo que ela não poderia chegar naquele banheiro antes de mim, assim que eu li a carta, deixe a Anne lá.

- E se não foi a Anne, e sim a outra?

- Que outra?

- A irmã dela, seu... – Controlou cada nervo.

- Mas ela não é uma menina do sexto ano? Não pode ser comensal.

- E se for e não sabemos ainda.

- Ah, isso não seria possível. Ou seria?

- Blás, a dragões na floresta.

- Como é que é? – Zabine arregalou os olhos. – Eu sei que tem de tudo naquela floresta, mas não dragões.

- Eles colocaram os dragões lá. E não contaram nada para a gente. Não ficamos sabendo de tudo, e pensei que você soubesse disso.

- Draco! E se for mesmo a irmã da Anne?

- É isso que eu estou tentando saber. – Draco revirou os olhos.

- Mas se foi mesmo, porque a Anne faria tanta questão de deixar a carta, que você nega ter escrito, ali na sua cama sabendo que eu poderia pegar a qualquer momento.

- Não tenho idéia. – Disse sem se importar com a maldita carta.

- Você não está entendendo. E se ela quisesse que eu chegasse a tempo? E se não quisesse que você morresse?

- Você não chegou a tempo, foi a...

- A Weasley, eu sei, mas eu cheguei logo depois.

- E como você soube exatamente o local que deveria ir.

- Ta ai o que eu ainda não entendi. Eu li a carta e só me lembro de estar saindo da sala comunal e indo para aquele banheiro do segundo andar. E você, como foi parar lá afinal.

- Oras, Blás, eu... eu não sei. – Se deu conta naquele momento que nunca havia questionado o fato de ter ido para aquele lado do castelo.

- Você acha que isso também pode ter haver?

- Qual a finalidade disso tudo, Blás? Por que estou metido nisso? Eu sou filho de um comensal, não sou? Deveria estar fora de qualquer plano.


Caminhou pela neve ao lado dos seus irmãos, Hermione e Harry. Carlinhos chutava a neve com força como se quisesse fazer jus a suas pernas que estavam em perfeitas condições. Gina tentava se animar com os sorrisos dos quatro ali. O professor Lupin vinha mais atrás atento aos garotos. Entraram em uma carruagem que os levariam até Hogsmeade, onde Carlinhos se encontraria com o seu pai e Gui para o levarem para a Toca. Só assim para ver seus irmãos mais velhos: férias ou algo grave acontecendo. Queria poder passar mais tempo com eles, poder mexer no cabelo de Gui e ouvir Carlinhos contar as historias que aconteciam na Romênia.

Tentou acompanhar a conversa que se seguia ali dentro, no entanto, logo os pensamentos se voltavam para Draco. Não falou com ele desde o que ouvira na noite passada. Não respondeu a carta que ele lhe mandou e o dia todo evitou os lugares que ele costumava estar. A cabeça latejava por não ter dormido direito, chorando baixinho e encolhida na cama. Impossível continuarem com aquilo. Não podia, e sabia desde o começo. Sabia, mas ignorou completamente. As vozes a avisando para se afastar o mais rápido possível não faziam efeito, não até aquele momento.

E havia dito que não sabia onde o irmão dela estava. Mas é claro que sabia, desde o começo. Desde que entrou naquela sala e a pegou chorando por descobri que Carlinhos havia sumido. E ainda por cima a reconfortou. Na certa fazia parte do plano também. Se sentiu usada, mesmo que algo lhe dissesse que não tinha sido usada, que não foi envolvida no mesmo plano que seu irmão.

Finalmente chegaram em Hogsmeade, na estação onde seu pai apareceria. Sabia que ele e Gui chegariam aparatando, mas não achavam que fosse bom para Carlinhos fazer isso, então voltariam de trem. Se sentaram em um dos bancos esperando que eles chegassem. Ficou ao lado de Carlinhos, passando os braços em volta da cintura dele e se encostando ali.

- Hey, o que vocês acham de irmos a Dedosdemel enquanto o papai e o Gui não chegam.

- Eu acho uma boa idéia. – Carlinhos disse, tirando algo do bolso. – Mas não vou sair daqui, vão vocês e compre alguns doces para mim. – Entregou alguns sicles para Rony.

- Você não vem, Gina? – Hermione chamou, vendo que a menina não se levantou.

- Não, vou ficar aqui mesmo.

- Trazemos alguns doces para você também.

- Está bem, Rony.

O trio seguiu para a Dedosdemel. Lupin estava com as mãos nos bolsos, parecendo concentrado no nada, os ouvidos atento a qualquer barulho que considerasse anormal. Gina conversava com Carlinhos, aproveitando o pouco tempo que restava, seu pai já deveria estar chegando.

Comentava com Carlinhos, a preocupação da Sra. Weasley de deixá-lo ali no castelo, queria ficar cuidando do filho e não parava de mandar cartas procurando saber como ele estava, desde que voltou para a Toca. Ainda bem que isso só durou três dias, Carlinhos disse que não agüentava mais ser bombardeado com perguntas do tipo: "você está bem?" "Tem se alimentado direito?". Se bem que quando chegasse em casa, seria a mesma coisa.

Lupin levantou alarmado e Gina se soltou do irmão ao ver o professor fazer isso.

- O que foi? – Carlinhos perguntou olhando para os lados, mas Remus não precisou responder nada, ele mesmo viu algo sobrevoando o povoado, antes de fechar os olhos e aperta o peito com a mão.

- Carlinhos? – Chamou pelo o irmão se esquecendo do perigo, vendo-o se contorce de dor no banco e apertar com força o próprio peito. - Professor?

Lupin vendo o que acontecia com o garoto, tratou de pegá-lo passando um dos braços em volta dos ombros de Carlinhos e tentando levantá-lo. Chamou Gina, que viu o irmão abrir os olhos lacrimejantes de dor. Ao mesmo tento que escutavam um barulho ensurdecedor.

- Eles...

- Quieto, Carlinhos. – Lupin o fez se calar. – Vamos, vou deixá-los em um local seguro e ir atrás dos outros. - Ouviram a agitação ao longe, chegando em um dos becos ali perto, escondido por uma imensa casa. – Não saiam daqui, Gina cuide de Carlinhos, eu vou procurar Harry e os outros. – Tirou um frasquinho transparente com um liquido verde dentro. – Dê isso a ele. Não se preocupe, a mais de nós aqui e não vão deixar que nada aconteça a vocês. – Acrescentou tentando tranqüilizá-la.

Gina tentou apoiar o irmão na parede, fazendo com que ele deslizasse devagar até o chão e se sentasse. Abriu o frasco que Remo havia lhe dado e fez com que Carlinhos abrisse a boca e engolisse o conteúdo. Viu o irmão relaxar imediatamente e fechar os olhos sem agitação. Suas mãos tremiam. Ouviu os gritos de pessoas, e os dragões sobrevoando o povoado.

Não entendeu por que Carlinhos sentiu dor ao ver o dragão. Já ia perguntar a ele, achando que tinha passado, quando o viu se contrair contra a parede, voltando a aperta o peito.

- O que está acontecendo, Carlinhos?

Tentou falar algo mais não conseguia. A dor era insuportável. Algo furava, sentia-se ser cortado onde havia os ferimentos no seu peito ainda não cicatrizados. Não sabia como tinha adquirido aqueles ferimentos, não se lembrava da dor ao adquiri-los, mas parecia passar por tudo isso agora. Sentiu algo entrando em si, dilacerando, podia até imaginar o sangue aflorando, a blusa suja, sentia até o cheiro de sangue impregnado nele.

- Estou sangrando. – Murmurou, os olhos ainda fechados.

- Não, Carlinhos, você não esta está sangrando. – Fez menção de levantar a blusa dele para ter certeza de que não sangrava, mas foi impedida pelas mãos agitadas, que não paravam de se contorcer assim como todo o corpo a sua frente.

Não sabia o que fazer. Não podia chamar por ajuda. Não podia gritar. Não sabia se havia comensais por ali. Lupin falara que havia mais deles ali. Deles quem? Seriam os integrantes da Ordem que estavam ali? Mas então por que não apareciam para ajudá-la? Por que deixavam o seu irmão sentir toda aquela dor?

- Virginia! – Ouvia a voz fria a chamar ao longe. Devia estar imaginando coisas. Nem nessas horas parava de pensar nele. Ouviu os passos se aproximar de si e por instinto tentou proteger o irmão se pondo na frente dele. – Você tem que sair daqui. – Draco abaixou-se ao seu lado, segurando suas mãos.

- O que... o que faz aqui? – Nem soube por que perguntou. Deveria ter comensais ali, e ele era um deles.

- Tenho que te tirar daqui.

- Não. – Draco olhou mais alem dela.

- Temos que tirar você e ele daqui. Eles querem seu irmão, Gina. Ele tem algo deles.

- Você é um deles... eu sei que é... eu ouvi.

- Não é hora para isso. Você quer salvar seu irmão, não quer? Você sabe que não vou fazer mal nenhum a você. Eu não poderia. Precisa acreditar em mim mais uma vez.

- O professor Lupin já deve estar chegando. – Olhou para o começo do beco, esperando que o professor aparecesse naquele instante para tirá-los dali. Viu pessoas correndo e mais gritos.

- Ele está lutando com comensais, tentando proteger Potter. – Draco foi até Carlinhos tentando levantá-lo.

- Aonde vai levá-lo, Draco?

- Já disse que vou tirá-los daqui. Tem um local aqui perto, sei que não vão achá-los. – Conseguiu levantar, Carlinhos, que ouvia fragmentos da conversa, meio alheio por causa da dor.

- Vejo que fez algo de útil.

Por um instante achou que fosse larga o Weasley ali, conhecia aquela voz gelada e que em certos momentos soava de maneira desvairada.

- Bellatrix?

- Me dê o garoto, Draco.

Olhou para ela, estava sozinha e com a varinha apontada para si, não havia se dado conta de Gina. Ainda restava uma solução. Queria que restasse. Olhou de lado para Gina, querendo que a garota se protegesse antes que Bellatrix pudesse notá-la. Tiraria ela dali de qualquer forma, mesmo que isso significasse ser visto com traidor.


N.A: Talvez não tenham gostado do capítulo, sem muito D/G, mas com algumas explicações fundamentais. Agora só para esclarecer, provavelmente o próximo capítulo vai ser o último em Hogwarts. Depois vem mais três pós-Hoggy, ai a fic acaba, pelo menos acho que vai ser assim.

Pessoal que comentou, valeu mesmo e me desculpem, mais uma vez a demora: Maki, Miaka, Ellen Potter, Carol Malfoy Potter, Isa Potter, Rafinha M. Potter, Fefs Malfoy, Estrela Cadente, Chi Dieh, Mikaaa.

Obrigada mesmo gente, assim que dê eu atualizo o próximo capítulo, onde provavelmente terá mais explicações.