Mais um capítulo para a alegria de vocês (como eu sou pretensiosa,
hahahaha! :P é brincadeira, viu!), mais um capítulo ao ar. Não saiu antes
pois como eu já disse, estou realmente muito ocupada com o terceirão,
muitos deveres, muita matéria e vestibular tá aí, né?! Bom, espero
sinceramente que gostem e se acharem que eu mereço, eu agradeceria um
comentariozinho :P Divirtam-se.
Capítulo8: Recuperação
Voz masculina (sussurrando): 'Quem te deu o direito de se intrometer desta maneira?' ... ' Como assim eu já sabia? Sabia que você as queria e não que faria uma barbaridade destas para consegui-las!' ... 'Ora! Não me venha com essa! Ou você pára de se intrometer nos meus negócios ou estará sozinho nessa!' E desligou o telefone, mal contendo o nervosismo que se apossava de seu ser.
Caminhou a passos rápidos até uma das poltronas do quarto em penumbra e cruzou os braços, abaixando a cabeça e fechando os olhos em meditação.
"Preciso agir logo. Senão terá sido tudo em vão" Pensou pesaroso. "Espero que ele colabore comigo, caso contrário..." E respirou fundo, levantando-se da poltrona e indo até seu guarda-roupa, para se vestir, para logo ir para sua nova cama, já que sua antiga tinha sido destruída no mesmo dia devido àquele incidente. Antes que pudesse abrir seu guarda-roupa, se lembrou da causa do incidente e fechou sua expressão ainda mais "Droga! O pior é que ele tinha que enviar aquele maldito pra cá... Isso só piora minha situação. Agora sim é que não terei liberdade de fazer o que quero sem intervenções... terei que ser ainda mais cauteloso" Colocou sua roupa de dormir verde musgo e se deitou, fechando seus olhos castanhos profundos para só abri-los na manhã seguinte.
***
Oito e meia da manhã.
Voz feminina (extremamente irritada): 'Ah!!! Eu te odeio!!!'
Voz masculina (calmamente): 'Eu também te adoro, Sakura.'
Sakura (emburrada e de braços cruzados): 'Você é um irritante, sabia?!'
Syaoran: 'Você também é um amor de pessoa...'
Sakura: 'Grrrrr!' E fechou a cara, sem dizer nem mais um A.
Syaoran (sorrindo debochado): 'Se eu soubesse que era dessa maneira que eu conseguiria fazê-la ficar de boca fechada, já o teria feito há muito tempo.' Sakura não respondeu, apenas lançou-lhe um olhar de "eu ainda te mato" e Syaoran respondeu com um de "tente..." E ficaram em silêncio novamente, até que o rapaz resolveu falar.
Syaoran: 'Agora podemos começar?!'
Sakura (brava, mas sarcástica): 'Ah, claro, senhor "precisamos começar às seis e meia da manhã com as perguntas chatas"'...
Syaoran (irritado): 'Ora, Sakura! Eu só estou fazendo o meu serviço. Se eu resolvi te acordar cedo era para aproveitar mais o tempo.'
Sakura: 'Ah, claro... Mas precisava me acordar... aos berros... às seis da manhã?!'
Syaoran: 'Primeiro: Você foi dormir cedo ontem e não precisava de mais de oito horas de sono. Segundo: Se eu te acordei aos berros foi porque nada que a Daidouji fazia conseguiu te acordar, aí... ela me deu permissão para intervir no caso...' Disse com a cara mais inocente que Sakura já pudera ver antes.
Sakura: 'Desculpas... só desculpas...'
Syaoran: 'Que seja... Agora vamos começar, que é pra isso que eu estou sendo pago.'
Sakura (ficando deprimida de repente, mas não demonstrando): 'É só por causa disso que você está aqui?'
Syaoran (sem perceber o tom triste dela): 'Mas é claro! Você acha que eu iria te agüentar se eu tivesse outra opção?'
Sakura: 'Entendo...'
Syaoran (percebendo o tom triste): 'Bom... eu... Não estou dizendo que sua companhia é ruim...' Fez uma leve pausa, procurando as palavras certas para continuar 'Mas você sabe que a gente nunca se entende e...' Mas não conseguia terminar, Sakura estava incomodando-o com aquele rosto triste e isso, por mais que lhe parecesse impossível acontecer, mexia com ele...
Sakura (de cabeça baixa, sem perceber o olhar penetrante que ele lhe mandava): 'Está tudo bem, Li... Eu entendo sua posição... Eu sei que não sou a melhor das pacientes... E... Quem sabe... Não fosse melhor você desistir de mim?'
Syaoran (parecendo perceber aonde ela queria chegar): 'O que você quer dizer com isso?'
Sakura: 'Oras, se depois de tanto tempo com essas consultas e eu não melhorei nada... Parece óbvio que eu não tenho mais solução. Logo...' Mas não pôde completar pois Syaoran interrompeu-a.
Syaoran (bravo): 'Você só não melhora porque não quer!'
Sakura (a expressão de tristeza sendo tomada por uma de indignação): 'Como é que é?! Você está dizendo que não tenho tentado e me esforçado para melhorar?!'
Syaoran: 'Não... Só que você não está querendo melhorar.' Diante da face surpresa e indignada da garota, Syaoran respirou fundo e resolveu falar tudo o que suspeitava, mas não tivera coragem suficiente para dizer até presente momento. 'Para você é muito mais fácil continuar neste estado do que tentar e conseguir melhorar! E não me interrompa.' Disse quando Sakura ameaçou falar. 'Sakura, a perda de um pai é dolorosa, acredite, eu sei...' Fez nova pausa, como se lembrasse de algo, mas resolveu continuar. 'Mas você tem que aceitar isso. Tem que aceitar que não havia nada que você pudesse fazer.... E se houve...' Acrescentou quando viu a menina fazer um gesto de que iria protestar. 'Sei que você fez o possível. Mas ele se foi e não há nada que você possa fazer contra. E invés de passar toda sua vida se martirizando por algo que você acha que poderia ter feito. Você deveria tentar é se curar. Você diz que tenta, mas há algo que te impede, eu sei que tem, é algo além do consciente, eu sei o que é, mas você não enxergou isso ainda.' Fez nova pausa, era agora ou nunca. 'A verdade é que você sente que não tem direito de ser feliz sabendo que seu pai morreu. Sente que seria injusto, sente que sendo a culpa sua você deve sofrer como penitência por este crime que você pensa ter cometido pelo resto da vida. Sente que seria um insulto à memória de seu pai saber que você foi feliz às custas da morte dele.' Terminou com um longo suspiro, enquanto Sakura permanecia em silêncio, mas não por muito tempo.
Sakura: 'É mentira...' Disse ela de cabeça baixa, segurando as lágrimas que insistiam em embaçar seus olhos, mas não iriam cair, não se dependesse dela. 'Você não sabe o que diz! Eu podia ter feito algo sim! Eu sei que podia, mas não fiz! Fui fraca! Eu deixei meu pai morrer!!! Eu!!! Eu deixei ele morrer!!!' E tapou os olhos com as duas mãos, na tentativa de evitar que as lágrimas rolassem por seu rosto triste. Syaoran sentiu uma vontade imensa de aconchegar aquele corpinho tão frágil a seus olhos, sentiu vontade de dizer que tudo terminaria bem, sentia vontade de proteger aquela menina que, por mais que tentasse evitar, cativava-o cada dia mais. Mas se segurou, sabia que não devia fazer isso, era ridículo ter pensado em algo como isso.
Syaoran: 'Sakura...' Isso era estranho, como um psiquiatra experiente como ele não sabia o que dizer, não sabia como consolar aquela menina, não sabia quais eram as palavras certas?
Sakura: 'Meu pai morreu por minha causa! E por mais que digam o contra eu sei que foi minha culpa! E não há nada que eu possa fazer, não há nada...' Disse com o rosto entre as mãos ainda.
Syaoran: 'Você tem que superar isso, Sakura! Se não nunca irá se recuperar, você não percebe que é isso que te impede de andar? Não percebe que é essa culpa sem fundamento que te prende a esta cadeira?!'
Sakura: 'Não!!!' Gritou subitamente, encarando seu psiquiatra com raiva, como se a culpa de sua desgraça você daquelas palavras que ele dizia. 'Eu tento! Eu quero me recuperar! Você não sabe o que diz! Eu faço o possível! Eu não consigo andar porque essas malditas pernas...' Disse batendo com força no colo. 'Não me obedecem...! Você é um idiota! Não sabe o que diz! Não há nada de errado com minha cabeça, eu tenho todo direito de me achar culpada pela morte do meu pai! Eu tenho todo direito! Isso não tem nada a ver com meu estado, não diga besteiras!' Sakura se exaltava, não se controlava mais, e Syaoran percebeu... Percebeu o que ela tentara evitar todo esse tempo. Syaoran ficou em silêncio e Sakura saiu empurrando com força sua cadeira de rodas para fora do aposento, deixando Syaoran pasmo.
Syaoran: 'Como não percebi antes...?'
***
Sakura: 'Aquele louco! Aquele maldito! Como ousa dizer aquilo para mim?! Como ousa dizer que não quero me recuperar?! Como ousa tocar naquele assunto... como... como...?' Sakura parou de girar sua cadeira de rodas... Não podia mais, as lágrimas que tentara evitar até presente momento venceram suas forças e desceram por seu rosto, desceram com força e rapidez, desceram tristes e melancólicas, assim como estava o coração da dona do rosto por onde escorriam.
Voz feminina (sussurrando): 'Sakura-chan...' Sakura não se virou para ver de quem se tratava, sabia que era sua prima. Tomoyo se abaixou até ficar um pouco abaixo do rosto de Sakura, seu coração dilacerava-se ao ver sua querida prima naquele estado. 'Sakura, querida... O que houve?'
Sakura: 'Ah, Tomoyo...' E abraçou a prima com força, quase caindo de sua cadeira de rodas. Tomoyo abraçou a prima com força e carinho, tentando transmitir conforto para aquela menina tão perturbada.
---
Sakura: 'E foi isso, Tomoyo. Aquele maldito teve coragem de dizer que não quero me recuperar, ousou falar da morte do meu pai. Disse que a culpa não era minha, como ele pode saber?! Como ele poderia saber como é a dor de perder um pai!'
Tomoyo: 'Por que ele também já perdeu o dele...' Falou pura e simplesmente. Sakura, que mantinha os olhos na cama onde estava sentada junto com a prima, olhou esta com surpresa. "Como assim já perdeu o pai?" Pensou aturdida. 'Essa foi uma das razões para Eriol-san ter apoiado a sugestão de Meylin para trazer Syaoran para tratá-la, sim... é verdade.' Disse ao ver a surpresa no rosto de Sakura ao saber que haviam falado com Eriol. 'Pouco depois que Meylin sugeriu essa idéia, Touya me contou que Eriol ligou, disse que não podia falar muito, mas queria saber como estavam as coisas. Touya contou sobre a opinião de Meylin e ele apoiou na hora a decisão, disse que não haveria melhor pessoa para tratar do seu caso do que uma pessoa que sofrera semelhante situação... Eu não sei dos detalhes, só sei que Syaoran perdeu o pai mal tinha nascido, sofrendo pressão da família por ser o futuro líder do clã, sofrendo treinamentos dolorosos e ouvindo queixas à todo momento, Meylin me contou isso.
Sakura (desviando o olhar da prima): 'Eu não sabia disso... Mas... Mas mesmo assim ele não tinha o direito! Não podia ter dito o que disse! Não foi responsável pela morte do pai!' Disse olhando novamente para prima, com a dor estampada nos olhos, Tomoyo sentiu seu coração comprimir com tal visão.
Tomoyo: 'Sakura-chan... Como não percebe que ele está certo?!' O primeiro pensamento de Sakura foi de traição, como se sua prima, que sempre fora sua companheira das horas difíceis, houvesse traído-a apoiando aquele maldito chinês. 'E não me olhe assim, Sakura-chan! É verdade! Por que você teima em dizer que foi você a culpada? Por que insiste em dizer que foi você que deixou ele morrer?! Fora um ladrão responsável pela morte dele, um bandido, unicamente isso, o que você poderia ter feito?! Li está certo! Você se martiriza, acha que a culpa é sua, e eu tenho que concordar com ele quando disse que você quer se punir pela morte de seu pai! Diga-me, Sakura-chan, por que insiste em dizer que foi você a culpada se você não podia ter feito nada!
Sakura (se exaltando): 'Eu podia!' Tomoyo ficou um pouco assustada com a explosão, mas não comentou nada, deixou Sakura continuar. 'Você não entende, Tomoyo, eu podia! Não foi um bandido, não foi um ladrão! Não foi um simples e maldito bandido que o matou!!!' Tomoyo ficou totalmente estática, que história era essa de que não fora um bandido? Como... Se fora isso que Sakura dissera com tanta convicção a todos... à ponto... à ponto... à ponto de enganar até mesmo a ela!
Tomoyo (olhando seriamente para a prima): 'Que história é essa, Sakura?' Sakura desviou os olhos da prima... Como deixara escapar aquilo! Droga! 'Sakura, que história é essa?' Tomoyo repetiu mais uma vez, mais veemente. Sakura não viu outra opção além da verdade.
Sakura (olhando pela janela): 'Foi exatamente um ano depois de eu voltar para Tomoeda...' Fez leve pausa, como se estivesse se recordando e continou. 'Eu e meu pai passávamos muito tempo juntos, contei o que me ocorrera no treinamento, sobre Xiao Lang, sobre Mestre Lan, contei de tudo que aprendi e ele me escutava totalmente interessado, com aquele maravilhoso olhar de pai carinhoso que sempre me reservava.' Parou novamente, em um momento nostálgico 'Tinha muitas aulas para recuperar o ano perdido, era puxado, mas a presença constante de pai compensava tudo. Não podia estar melhor minha vida, até Touya parecia menos chato.' Disse mostrando um leve sorriso, que logo sumiu ao continuar. 'Mas infelizmente nem tudo é como queremos... E naquela noite...'
***FLASHBACK***
Sakura (pendurada ao braço do pai): Aonde vamos, Ottou-san?'
Fujitaka (sorrindo calmamente enquanto caminhavam): 'Calma, querida, é uma surpresa!'
Sakura (fazendo beicinho): 'Ah, Ottou-san! Diga-me, sim?!
Fujitaka: 'Não mesmo! Já disse que é surpresa.' Era uma noite calma e serena, as flores de cerejeira voavam junto ao vento que balançava os cabelos de Sakura, já um pouco longos, depois de ter que cortá-los há um ano, quando fora treinar nas montanhas e cabelo comprido só traria complicações.
Andaram por mais meia hora, sendo que Sakura não parava de insistir com o pai, às vezes cantava uma música qualquer, às vezes corria na frente do querido homem que lhe acompanhava. Mesmo com 18 anos, Sakura seria sempre a menininha sorridente que encantava seu pai.
No entanto, a natureza pareceu sentir algo, pois o vento parou de soprar, as árvores pararam de se mover, os pequenos animais noturnos ficaram em silêncio. E Sakura... Sakura pressentiu algo.
Sakura: 'Ottou-san... Ottou-san, vamos sair daqui, rápido!' Fujitaka não questionou a filha, sabia de sua percepção aguçada e segurou sua mão enquanto caminhavam a passos rápidos para perto do centro da cidade, onde havia movimento.
Mas não houve tempo. Seja lá quem estivesse atrás deles se fez presente, evitando que continuassem seu caminho. Sakura parou subitamente, já pegando a chave em seu pescoço, sabia que aquele que cercava-os neste momento não era um grupo de bandidos qualquer, apesar das roupas informais.
Mal houve tempo de invocar seu báculo, pois um deles, um tanto quanto rápido, a atacou com uma arma estranha para a moça, fazendo-a se desviar por milímetros.
Sakura (invocando Luta): 'O que vocês querem?!' Mas não houve resposta, e um segundo e terceiro ajudaram o primeiro a atacá-la novamente. Sakura se desviava com certa dificuldade, o que era estranho, já que ela tinha técnicas em luta, além de estar usando carta Luta.
Um homem de vermelho e preto atacou por trás de Sakura, que neste momento evitava um golpe frontal de uma espada com estranhos caracteres de um homem de azul. Sakura, pressentindo o inimigo, se abaixou, sendo que o mesmo acertou com suas adagas o abdômen de seu próprio companheiro. Sakura viu o sangue e percebeu que era mais sério do que imaginara.
Sakura (evitando um golpe lateral de um homem de preto): 'O que vocês querem de nós?!' A menina tentava se defender, mas eram mais de dez contra uma. Fujitaka tentou lutar, mas Sakura o prendeu em Escudo, aqueles guerreiros estavam além das forças do general japonês.
Mulher de preto: 'Dê-nos elas!' Finalmente um deles se pronunciava, era a única mulher do grupo, com certeza a chefe. Usava óculos escuro, evitando ser reconhecida; seus longos e ondulados cabelos loiros presos em um rabo de cavalo, sua roupa negra grudada ao corpo. Por um momento, Sakura não percebeu do que ela se referia, mas logo sua ingenuidade foi substituída por sua perspicácia de guerreira, eles queriam as Cartas.
Sakura (invocando Vento): 'Nunca!'
Vários homens foram ao chão, mas ainda assim eram muitos contra ela. Sakura lutava com braveza e logo desistiu de usar Luta, além de drenar energia de si ainda não estava adiantando muito. No entanto, invocou espada e alada, fazendo da luta um pouco mais justa.
Sakura sobrevoou os guerreiros e derrubou mais dois com golpes laterais de sua espada no abdômen, não os ferindo, apenas os desacordando. Sakura pousou e novamente se viu atacada por três guerreiros, estes um pouco mais rápidos, Sakura golpeou um e defendeu-se de outro com sua espada, mas não pôde evitar o ataque do terceiro, que chutou-a no estômago. Foi jogada longe, caindo um pouco desnorteada e, ao perder a concentração por instantes e quase os instintos, não percebeu que Escudo falhara.
Sakura tentou se levantar e bloqueou novamente um ataque de um quarto homem, que agora se levantava do golpe que recebera momentos antes. Talvez Sakura pudesse evitar maiores estragos, os guerreiros não demonstravam serem seres mágicos e talvez ela pudesse usar carta Sono.
Mas não houve tempo, assim que percebeu dois homens a atacando e conseguindo com certa dificuldade bloqueá-los, ouviu um disparo. Aquela mulher de preto, aquela que falara minutos antes, a que parecia ser a chefe e se mantinha um tanto quanto distante dos outros, imóvel, parecia ter percebido a periculosidade de sua inimiga e, infelizmente contrariando a idéia de que todos ali não possuíam magia, soltou um disparo da própria mão na garota. No entanto, foi com extremo pavor que Sakura não sentiu o tiro de energia lhe atravessando o peito. Seu pai... seu querido pai... entrara na frente e a protegera, a protegera do ataque e dera sua vida em troca da dela.
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Sakura ficou estática, em choque, não tinha forças para continuar e neste momento recebeu um golpe do homem de azul no rosto, sendo jogada no chão, sem forças para se levantar, quase perdendo a consciência, mais pelo choque do pai estar morrendo do que pela força do golpe. Olhou para frente, encarando com ódio a mulher que atirara em seu pai. Mas não teve tempo de dizer nada, pois sentiu outro disparo e, agindo mais por reflexo do que por força em seu corpo, conseguiu se movimentar, girando o corpo.
Sakura: 'Ah....!' Sakura não fora rápida o bastante, e arqueou as costas ao sentir a dor penetrando-lhe fundo na carne. O disparo atingira-a nas costas, próximo ao pescoço, mesmo que não mortalmente. Sakura percebeu que não agüentaria mais, sua consciência foi sumindo e pareceu ser em câmera lenta que ela se viu atingindo o chão.
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Mais barulhos, mais sons de luta, disparos de energia, Sakura não sabia o que acontecia. A consciência perdida por poucos segundos voltou fracamente, dando-lhe forças apenas de abrir lentamente os olhos. Viu a mulher de negro numa batalha com alguma pessoa, uma pessoa em um manto branco e violeta, parecia outra mulher, mas Sakura não tinha certeza. Piscou lentamente, não havia sinal dos outros guerreiros e a mulher em negro foi atingida com um golpe e ao se levantar fez um gesto e desapareceu.
Sakura perdeu a consciência novamente.
***
Voz feminina (serenamente): 'Menina... Vamos menina, acorde...' Sakura abriu os olhos lentamente, parecendo recobrar um pouco das forças, olhou para aquela em sua frente e pouco distinguiu no rosto da mulher que lhe socorrera. Olhos vermelhos rubi, cabelos negros, longos, um rosto que traria conforto a qualquer um. Ouviu sons de cavalos trotando, provavelmente a polícia local. A mulher desviou o olhar de Sakura para escutar o som que se aproximava, momentos depois encarou Sakura novamente. Sorriu com certa tristeza e se levantou sem o menor ruído.
Mulher (olhando para Sakura): 'Haveremos de nos encontrar novamente...' E correu, sumindo da visão de Sakura, que parecia sumir novamente.
***FIM DO FLASHBACK***
Tomoyo (espantada): 'Foi por isso que não encontraram bala nenhuma no seu e no corpo de seu pai... Era magia...'
Sakura (tristemente): 'Odiei magia por um longo tempo depois do que aconteceu, mas não podia evitar minhas amigas, assim como Kero e Yui, para sempre.
Tomoyo (olhando com pena para prima): 'Sakura-chan... Por que nunca me contou isso?'
Sakura: 'A dor era minha, tinha direito de sofrer e sonhar com aquele dia sozinha. Não queria que ninguém soubesse o quanto fui fraca... Isso era algo que eu tinha que encarar sozinha...' Tomoyo olhou para prima com os olhos cheios de lágrimas e em seguida a abraçou, com força, tentando se acalmar e trazer aconchego para sua prima.
Tomoyo: 'Sakura-chan... Saiba que estarei aqui com você nos momentos difíceis e alegres, não precisa sofrer isso sozinha... Não faça mais isso, por favor...'
Sakura: 'Tomoyo-chan... Não fique assim... por favor. Eu já disse, a culpa é só minha.' Tomoyo se desvencilhou da amiga, olhando-a seriamente.
Tomoyo (séria): 'Pare com isso, Sakura! Pare já com isso!' Disse gritando e assustando a prima que jamais vira a prima tão alterada como naquele momento. 'Pare de se culpar por algo que estava além de suas forças! Pare, Sakura! Pare! Pense no que Li-san te falou, escute-o pelo menos uma vez na vida! Não foi sua culpa, Sakura! Não foi!'
Sakura (olhando-a tristemente): 'Tomoyo-chan... Eu...' Sakura não sabia o que dizer... Será que ela errara tanto assim? Será que não fora realmente sua culpa? Será que não havia nada que pudesse fazer? Eram tantas questões, tantas dúvidas, tantos medos. Sakura se limitou a ficar em silêncio e Tomoyo fez o mesmo. Depois viu a prima levantar-se da cama e caminhar até a porta de seu quarto.
Tomoyo: 'Limpe estas lágrimas e se recomponha, daqui a pouco é sua consulta com Meylin-chan. Vou ver se ela já está pronta.'
Sakura: 'Certo...'
Tomoyo (sorrindo marota): 'E cuidado para não errar a porta do banheiro, hein?!' Sakura olhou-a interrogativa. 'Se não, vai acabar entrando no quarto de Li-san e vê-lo sem roupas, já pensou?!' Sakura sentiu as faces corar.
Como não houvera outros quartos onde Syaoran pudesse passar a noite depois do incidente do dia anterior com o ninja, ficou decidido que ele ficaria provisoriamente no quarto ao lado de Sakura, que era o antigo quarto de bebê da mesma e hoje era apenas um quarto de recordações da moça em relação à mãe. No começo, Sakura não aceitara de jeito nenhum, era um quarto pessoal. Mas depois de tanta insistência de Yukito e Tomoyo (Touya também foi totalmente contra, Syaoran poderia tentar algo com Sakura durante a noite, já que não havia tranca na porta), ela teve que ceder (e Touya também). O pior de tudo foi ter que escutar os comentário de Syaoran: "Eu não mereço isso... Um quarto rosa cheio de ursinhos!" Lembrou com raiva assassina.
Sakura (com raiva): 'Ah!!! Tomoyo!!!' Disse jogando uma almofada na porta que era fechada por uma Tomoyo saindo correndo do quarto e rindo da face corada, mistura de raiva e vergonha, de sua prima.
***
Horas mais tarde...
Meylin: 'Vamos, Sakura, faça um pouco mais de força! Eu sei que você pode!' Meylin tentava forçar as pernas de Sakura, tentava fazê-la sentir qualquer dor ou mesmo um mínimo sinal de que suas pernas estavam reagindo ao tratamento.
Sakura (de olhos fechados): 'Não dá, Meylin-chan! Não consigo mais!'
Meylin: 'Eu sei que você pode, Sakura-chan!'
Sakura: 'Ai.......!' Meylin parou subitamente.
Meylin: 'Você sentiu dor, Sakura-chan?'
Sakura: 'Sim...' Meylin ia pular de alegria quando Sakura continuou 'Mas nas costas...' A felicidade de Meylin se desfez na hora...
Meylin (exausta): 'Está bem, Sakura, vamos fazer uma pausa. Eu vou ir buscar algo para comermos. Você quer?' Sakura fez que não com a cabeça. 'Certo... Já volto...'
Sakura ficou quieta enquanto Meylin saía do aposento destinado aos seus exercícios. Já fazia vários meses que ela tentava se recuperar, mas eram mínimos os progressos "pelo menos tem progresso..." pensou numa alegria triste... Encostou-se no encosto da cadeira e respirou fundo, voltando a pensar nas palavras que trocara com Tomoyo e Syaoran.
"Não é tua culpa, Sakura! Você tem que reagir!"
Será mesmo que não era sua culpa? Será que estava realmente além de suas forças? Por anos escutou aquela história, mas pela primeira vez começava a acreditar naquilo. Sentia o coração um pouco mais leve.
Voz masculina: 'Meylin, você sabe onde...? Ah... Desculpa, achei que a Meylin estava aqui.' Disse Syaoran olhando para Sakura, não sabia se devia tocar naquele assunto que ficara pela metade... Saber se suas suspeitas estavam certas.
Sakura (sem olhá-lo e tentando voltar a fazer seus exercícios): 'Ela foi fazer um lanche, já volta... Pode esperá-la aqui se quiser.'
Syaoran: 'Certo...' Syaoran entrou no quarto e logo em seguida fechou-a, ficando no mesmo lugar, com certo receio de olhar Sakura. Ficaram em silêncio novamente. Nenhum sabia o que dizer para o outro, Sakura fingia fazer seus exercícios, ou realmente fazia, mas sem muita concentração. Resolveu falar.
Sakura: 'Andei pensando no que me falou hoje cedo...' Syaoran voltou o olhar para ela, Sakura ainda não o olhava.
Syaoran: 'Entendo...' Disse sem muita convicção. 'Espero que não tenha me achado rude demais...' Disse enquanto se sentava em uma poltrona próxima à Sakura.
Sakura (sorrindo um pouco): 'Já me acostumei com o modo estranho dos chineses.'
Syaoran (entrando na brincadeira): 'Ei... Quem tem modos estranhos são os japoneses!'
Sakura (olhando-o, divertida): 'Ah, sim... Quem conhece os ataques nervosos de Meylin e a sua cara de mau, provavelmente iria me apoiar.'
Syaoran: 'E quem conhece a sua inconstância provavelmente iria ME apoiar.'
Sakura (olhando-o, provocativa): 'O que você quer dizer com isso, hein?!'
Syaoran (fingindo desinteresse): 'Nada de mais... Só é estranho uma pessoa que está quase batendo em alguém de repente tentar beijá-lo e ...' Parou subitamente, percebendo o que acabara de dizer, olhou para Sakura, que estava totalmente vermelha. 'Eu quero dizer..!' Mas não sabia o que dizer...
Sakura (constrangida): 'Eu... Nós... Eu... Não iria beijá-lo...' Por algum motivo Syaoran se sentiu decepcionado com a resposta. Ficaram em silêncio novamente.
Sakura pegou um elástico e passou em volta do pé, enquanto tentava voltar a fazer um exercício qualquer, Syaoran passou a observar seus movimentos. Para alguém que não andava há cinco anos as pernas da moça, dentro de um corsário preto colado, Sakura tinha as pernas muito bem torneadas e... (!) Mas o que é que ele estava pensando?! "Mas que droga!" Balançou a cabeça tentando desviar pensamentos tão pecaminosos.
Syaoran: 'Conseguiu algum progresso?' Tentou mudar de assunto (e pensamentos).
Sakura (depois de um suspiro): 'Não muitos...'
Syaoran: 'Entendo...' Syaoran parou um instante de falar, mas logo tomou a palavra novamente ao lembrar-se de algo. 'Talvez você não esteja fazendo do jeito certo...'
Sakura (olhando-o, interrogativa): 'O que quer dizer com isso?'
Syaoran (olhando-a também): 'Meylin é muito boa com exercícios físicos, mas sempre esquece os mentais.' Diante do olhar intrigado da moça, Syaoran resolveu explicar. Levantou-se de sua poltrona e foi para trás de Sakura, sobre o olhar confuso da mesma. Encostou as mãos no pescoço da jovem, provocando arrepios em Sakura, que tentou se controlar. 'Agora feche os olhos e relaxe.' Meio perturbada pelo contato com Syaoran, Sakura acabou fazendo o que ele pedia. 'Procure tirar todas as preocupações de sua cabeça, agora é só você e suas pernas. Elas são uma continuação do seu corpo, fazem parte de um todo, do seu ser...' Sakura tentava obedecer, mas com aquele toque de mãos ásperas de homem em sua pele lisa e delicada se tornava muito difícil tal tarefa.
Syaoran também não parecia muito à vontade, fizera aquilo para tentar fazê- la relachar, mas a pele sedosa Sakura, o cheiro dos cabelos cor de mel da menina, aquela proximidade... Estavam começando a perturbar seus sentidos. Mas tentava, determinado, continuar.
Syaoran: 'Tente se concentrar nas coisas boas, quando corria pelos campos com Tomoyo, quando apostava corridas de cavalo com Touya, que você me contou... Quando praticava balé... Quando dançava com seu pai...' Syaoran sentiu a tensão de Sakura e tentou passar confiança com seu toque para ela. 'Lembre-se dos momentos felizes com seu pai, Sakura... Esqueça os momentos tristes, esqueça do que aconteceu a ele, sinta apenas a felicidade que sentia ao estar com ele.'
Sakura sentiu os olhos úmidos, mas não chorou. Novamente tocavam naquele assunto, novamente falavam de seu pai. Mas desta vez era diferente, desta vez lembrar de seu pai não trazia angústia e culpa ao seu coração. Trazia- lhe conforto, trazia-lhe a lembrança da melhor infância que alguém poderia ter. Talvez realmente tivessem razão, se pudesse... Se pudesse, jamais teria deixado seu amado pai morrer, teria salvo ele. Mas talvez, realmente, estivera além de suas forças e fora impossível defendê-lo. Talvez devesse tentar superar isso.
Sabia que seu pai não gostaria de vê-la daquela maneira, tinha certeza disso... Seu amado pai, por mais preocupações que sentisse em relação a ela, sempre a apoiou em suas decisões, tanto quanto em relação à vida, quanto à magia. A culpa não poderia ter sido sua, pois se pudesse... Sabia que o teria salvo...
Syaoran pôde perceber nitidamente desta vez, pode perceber a energia que pensou sentir vinda de Sakura horas antes quando brigaram. Se tivera alguma dúvida em relação aos poderes mágicos da menina, agora essas dúvidas sumiam.
Mas ao contrário do último encontro com a moça, desta vez sua energia não era agressiva, era calma, suave, transmitia paz àqueles que estivessem por perto. Fechou os olhos, provando da sensação gostosa que a aura mágica de Sakura lhe fazia sentir.
Era uma sensação única, como jamais sentira antes.
E Sakura...
Sakura (abrindo os olhos em direção às suas pernas): 'Xiao Lang...' Syaoran abriu os olhos, estranhando o motivo para Sakura tê-lo chamado. Sakura nem tentou segurar as lágrimas que formaram-se em seus olhos, a emoção era grande demais. Syaoran acompanhou o olhar da moça e sorriu sinceramente. 'Xiao Lang... Elas... Eu...' Sakura se virou sorrindo encantadoramente para Syaoran, o que o aturdiu por segundos. A visão era angelical, divina demais, nunca tinha recebido sorriso tão lindo como aquele e jamais poderia imaginar que poderia ser daquela menina... 'Xiao Lang... Eu posso mexer minhas pernas!'
E era a mais pura verdade... Sakura conseguira, mesmo que quase imperceptível, fazer leves movimentos com suas pernas. Seus dedos dos pés mexiam levemente, com muita dificuldade, mas ainda assim mexiam. Sakura se sentia radiante, era mais do que ela poderia esperar... Finalmente... Finalmente voltava a ter esperanças.
Syaoran sorriu feliz pela recuperação da moça, por um momento todas as suas preocupações... Todos os problemas, Yukito, magia, seu clã, tudo sumira diante da visão tão bonita e feliz que pudera presenciar. Era felicidade demais e ele não sabia dizer por quê sentira tal sentimento. Mas não se controlou e diante do sorriso doce e brilhante de sua paciente se viu, não só tentando, mas obrigado a pegá-la no colo, girando-a com alegria.
Sakura (rindo à toa): 'Eu vou cair, Li! Não faça isso!' Mas sua felicidade era tamanha que ela não poderia ralhar com o rapaz naquele momento.
Syaoran: 'Comemore, Sakura! Finalmente você pôde mover suas pernas! É apenas um paço para alcançar seu objetivo!'
Girou Sakura por mais alguns segundos, e logo parou, encarando-a e contagiando-se com a felicidade da menina. Sorriam um para o outro, os olhos brilhando, a respiração próxima... Os rostos próximos... As bocas próximas...
...
Meylin (abrindo a porta de repente): 'Prontinho, Sakura!' Syaoran e Sakura olharam espantado para a fisioterapeuta, assim como ela para eles.
(Continua)
29/02/04
Mary Marcato
Comentários da autora: Demorei, mas terminei! :) Espero que tenham gostado. E para quem perguntou do passado de Sakura, sobre a morte de Fujitaka, aí está. Eu já pretendia escrever sobre isso, mas cada coisa ao seu tempo.... E finalmente Sakura começa a se recuperar! ^-^ Muitas coisas reservadas para o próximo capítulo e espero que deixem a opinião de vocês, ok? Meu mail é mary_marcato@hotmail.com mas pode ser review! Até o próximo capítulo!
Agradecimentos: À Deus... Aos meus pais... À Bruna-chan que sempre me apóia, à Violet-Tomoyo e especialmente para à Franbhds. Graças ao comentário desta moça (acho q é moça né :P) que consegui motivação para continuar esta semana ainda. E como ela mesma disse, hoje em dia não são muitos comentários que recebemos, devido ao fato de serem poucas as histórias de qualidade, mas caso vocês achem que minha história merece (porque, se não acham, por que continuam lendo, não é mesmo?), eu tenho esperança de poder receber comentários tão legais como os dessas meninas ^- ^ Valeu gente!
Capítulo8: Recuperação
Voz masculina (sussurrando): 'Quem te deu o direito de se intrometer desta maneira?' ... ' Como assim eu já sabia? Sabia que você as queria e não que faria uma barbaridade destas para consegui-las!' ... 'Ora! Não me venha com essa! Ou você pára de se intrometer nos meus negócios ou estará sozinho nessa!' E desligou o telefone, mal contendo o nervosismo que se apossava de seu ser.
Caminhou a passos rápidos até uma das poltronas do quarto em penumbra e cruzou os braços, abaixando a cabeça e fechando os olhos em meditação.
"Preciso agir logo. Senão terá sido tudo em vão" Pensou pesaroso. "Espero que ele colabore comigo, caso contrário..." E respirou fundo, levantando-se da poltrona e indo até seu guarda-roupa, para se vestir, para logo ir para sua nova cama, já que sua antiga tinha sido destruída no mesmo dia devido àquele incidente. Antes que pudesse abrir seu guarda-roupa, se lembrou da causa do incidente e fechou sua expressão ainda mais "Droga! O pior é que ele tinha que enviar aquele maldito pra cá... Isso só piora minha situação. Agora sim é que não terei liberdade de fazer o que quero sem intervenções... terei que ser ainda mais cauteloso" Colocou sua roupa de dormir verde musgo e se deitou, fechando seus olhos castanhos profundos para só abri-los na manhã seguinte.
***
Oito e meia da manhã.
Voz feminina (extremamente irritada): 'Ah!!! Eu te odeio!!!'
Voz masculina (calmamente): 'Eu também te adoro, Sakura.'
Sakura (emburrada e de braços cruzados): 'Você é um irritante, sabia?!'
Syaoran: 'Você também é um amor de pessoa...'
Sakura: 'Grrrrr!' E fechou a cara, sem dizer nem mais um A.
Syaoran (sorrindo debochado): 'Se eu soubesse que era dessa maneira que eu conseguiria fazê-la ficar de boca fechada, já o teria feito há muito tempo.' Sakura não respondeu, apenas lançou-lhe um olhar de "eu ainda te mato" e Syaoran respondeu com um de "tente..." E ficaram em silêncio novamente, até que o rapaz resolveu falar.
Syaoran: 'Agora podemos começar?!'
Sakura (brava, mas sarcástica): 'Ah, claro, senhor "precisamos começar às seis e meia da manhã com as perguntas chatas"'...
Syaoran (irritado): 'Ora, Sakura! Eu só estou fazendo o meu serviço. Se eu resolvi te acordar cedo era para aproveitar mais o tempo.'
Sakura: 'Ah, claro... Mas precisava me acordar... aos berros... às seis da manhã?!'
Syaoran: 'Primeiro: Você foi dormir cedo ontem e não precisava de mais de oito horas de sono. Segundo: Se eu te acordei aos berros foi porque nada que a Daidouji fazia conseguiu te acordar, aí... ela me deu permissão para intervir no caso...' Disse com a cara mais inocente que Sakura já pudera ver antes.
Sakura: 'Desculpas... só desculpas...'
Syaoran: 'Que seja... Agora vamos começar, que é pra isso que eu estou sendo pago.'
Sakura (ficando deprimida de repente, mas não demonstrando): 'É só por causa disso que você está aqui?'
Syaoran (sem perceber o tom triste dela): 'Mas é claro! Você acha que eu iria te agüentar se eu tivesse outra opção?'
Sakura: 'Entendo...'
Syaoran (percebendo o tom triste): 'Bom... eu... Não estou dizendo que sua companhia é ruim...' Fez uma leve pausa, procurando as palavras certas para continuar 'Mas você sabe que a gente nunca se entende e...' Mas não conseguia terminar, Sakura estava incomodando-o com aquele rosto triste e isso, por mais que lhe parecesse impossível acontecer, mexia com ele...
Sakura (de cabeça baixa, sem perceber o olhar penetrante que ele lhe mandava): 'Está tudo bem, Li... Eu entendo sua posição... Eu sei que não sou a melhor das pacientes... E... Quem sabe... Não fosse melhor você desistir de mim?'
Syaoran (parecendo perceber aonde ela queria chegar): 'O que você quer dizer com isso?'
Sakura: 'Oras, se depois de tanto tempo com essas consultas e eu não melhorei nada... Parece óbvio que eu não tenho mais solução. Logo...' Mas não pôde completar pois Syaoran interrompeu-a.
Syaoran (bravo): 'Você só não melhora porque não quer!'
Sakura (a expressão de tristeza sendo tomada por uma de indignação): 'Como é que é?! Você está dizendo que não tenho tentado e me esforçado para melhorar?!'
Syaoran: 'Não... Só que você não está querendo melhorar.' Diante da face surpresa e indignada da garota, Syaoran respirou fundo e resolveu falar tudo o que suspeitava, mas não tivera coragem suficiente para dizer até presente momento. 'Para você é muito mais fácil continuar neste estado do que tentar e conseguir melhorar! E não me interrompa.' Disse quando Sakura ameaçou falar. 'Sakura, a perda de um pai é dolorosa, acredite, eu sei...' Fez nova pausa, como se lembrasse de algo, mas resolveu continuar. 'Mas você tem que aceitar isso. Tem que aceitar que não havia nada que você pudesse fazer.... E se houve...' Acrescentou quando viu a menina fazer um gesto de que iria protestar. 'Sei que você fez o possível. Mas ele se foi e não há nada que você possa fazer contra. E invés de passar toda sua vida se martirizando por algo que você acha que poderia ter feito. Você deveria tentar é se curar. Você diz que tenta, mas há algo que te impede, eu sei que tem, é algo além do consciente, eu sei o que é, mas você não enxergou isso ainda.' Fez nova pausa, era agora ou nunca. 'A verdade é que você sente que não tem direito de ser feliz sabendo que seu pai morreu. Sente que seria injusto, sente que sendo a culpa sua você deve sofrer como penitência por este crime que você pensa ter cometido pelo resto da vida. Sente que seria um insulto à memória de seu pai saber que você foi feliz às custas da morte dele.' Terminou com um longo suspiro, enquanto Sakura permanecia em silêncio, mas não por muito tempo.
Sakura: 'É mentira...' Disse ela de cabeça baixa, segurando as lágrimas que insistiam em embaçar seus olhos, mas não iriam cair, não se dependesse dela. 'Você não sabe o que diz! Eu podia ter feito algo sim! Eu sei que podia, mas não fiz! Fui fraca! Eu deixei meu pai morrer!!! Eu!!! Eu deixei ele morrer!!!' E tapou os olhos com as duas mãos, na tentativa de evitar que as lágrimas rolassem por seu rosto triste. Syaoran sentiu uma vontade imensa de aconchegar aquele corpinho tão frágil a seus olhos, sentiu vontade de dizer que tudo terminaria bem, sentia vontade de proteger aquela menina que, por mais que tentasse evitar, cativava-o cada dia mais. Mas se segurou, sabia que não devia fazer isso, era ridículo ter pensado em algo como isso.
Syaoran: 'Sakura...' Isso era estranho, como um psiquiatra experiente como ele não sabia o que dizer, não sabia como consolar aquela menina, não sabia quais eram as palavras certas?
Sakura: 'Meu pai morreu por minha causa! E por mais que digam o contra eu sei que foi minha culpa! E não há nada que eu possa fazer, não há nada...' Disse com o rosto entre as mãos ainda.
Syaoran: 'Você tem que superar isso, Sakura! Se não nunca irá se recuperar, você não percebe que é isso que te impede de andar? Não percebe que é essa culpa sem fundamento que te prende a esta cadeira?!'
Sakura: 'Não!!!' Gritou subitamente, encarando seu psiquiatra com raiva, como se a culpa de sua desgraça você daquelas palavras que ele dizia. 'Eu tento! Eu quero me recuperar! Você não sabe o que diz! Eu faço o possível! Eu não consigo andar porque essas malditas pernas...' Disse batendo com força no colo. 'Não me obedecem...! Você é um idiota! Não sabe o que diz! Não há nada de errado com minha cabeça, eu tenho todo direito de me achar culpada pela morte do meu pai! Eu tenho todo direito! Isso não tem nada a ver com meu estado, não diga besteiras!' Sakura se exaltava, não se controlava mais, e Syaoran percebeu... Percebeu o que ela tentara evitar todo esse tempo. Syaoran ficou em silêncio e Sakura saiu empurrando com força sua cadeira de rodas para fora do aposento, deixando Syaoran pasmo.
Syaoran: 'Como não percebi antes...?'
***
Sakura: 'Aquele louco! Aquele maldito! Como ousa dizer aquilo para mim?! Como ousa dizer que não quero me recuperar?! Como ousa tocar naquele assunto... como... como...?' Sakura parou de girar sua cadeira de rodas... Não podia mais, as lágrimas que tentara evitar até presente momento venceram suas forças e desceram por seu rosto, desceram com força e rapidez, desceram tristes e melancólicas, assim como estava o coração da dona do rosto por onde escorriam.
Voz feminina (sussurrando): 'Sakura-chan...' Sakura não se virou para ver de quem se tratava, sabia que era sua prima. Tomoyo se abaixou até ficar um pouco abaixo do rosto de Sakura, seu coração dilacerava-se ao ver sua querida prima naquele estado. 'Sakura, querida... O que houve?'
Sakura: 'Ah, Tomoyo...' E abraçou a prima com força, quase caindo de sua cadeira de rodas. Tomoyo abraçou a prima com força e carinho, tentando transmitir conforto para aquela menina tão perturbada.
---
Sakura: 'E foi isso, Tomoyo. Aquele maldito teve coragem de dizer que não quero me recuperar, ousou falar da morte do meu pai. Disse que a culpa não era minha, como ele pode saber?! Como ele poderia saber como é a dor de perder um pai!'
Tomoyo: 'Por que ele também já perdeu o dele...' Falou pura e simplesmente. Sakura, que mantinha os olhos na cama onde estava sentada junto com a prima, olhou esta com surpresa. "Como assim já perdeu o pai?" Pensou aturdida. 'Essa foi uma das razões para Eriol-san ter apoiado a sugestão de Meylin para trazer Syaoran para tratá-la, sim... é verdade.' Disse ao ver a surpresa no rosto de Sakura ao saber que haviam falado com Eriol. 'Pouco depois que Meylin sugeriu essa idéia, Touya me contou que Eriol ligou, disse que não podia falar muito, mas queria saber como estavam as coisas. Touya contou sobre a opinião de Meylin e ele apoiou na hora a decisão, disse que não haveria melhor pessoa para tratar do seu caso do que uma pessoa que sofrera semelhante situação... Eu não sei dos detalhes, só sei que Syaoran perdeu o pai mal tinha nascido, sofrendo pressão da família por ser o futuro líder do clã, sofrendo treinamentos dolorosos e ouvindo queixas à todo momento, Meylin me contou isso.
Sakura (desviando o olhar da prima): 'Eu não sabia disso... Mas... Mas mesmo assim ele não tinha o direito! Não podia ter dito o que disse! Não foi responsável pela morte do pai!' Disse olhando novamente para prima, com a dor estampada nos olhos, Tomoyo sentiu seu coração comprimir com tal visão.
Tomoyo: 'Sakura-chan... Como não percebe que ele está certo?!' O primeiro pensamento de Sakura foi de traição, como se sua prima, que sempre fora sua companheira das horas difíceis, houvesse traído-a apoiando aquele maldito chinês. 'E não me olhe assim, Sakura-chan! É verdade! Por que você teima em dizer que foi você a culpada? Por que insiste em dizer que foi você que deixou ele morrer?! Fora um ladrão responsável pela morte dele, um bandido, unicamente isso, o que você poderia ter feito?! Li está certo! Você se martiriza, acha que a culpa é sua, e eu tenho que concordar com ele quando disse que você quer se punir pela morte de seu pai! Diga-me, Sakura-chan, por que insiste em dizer que foi você a culpada se você não podia ter feito nada!
Sakura (se exaltando): 'Eu podia!' Tomoyo ficou um pouco assustada com a explosão, mas não comentou nada, deixou Sakura continuar. 'Você não entende, Tomoyo, eu podia! Não foi um bandido, não foi um ladrão! Não foi um simples e maldito bandido que o matou!!!' Tomoyo ficou totalmente estática, que história era essa de que não fora um bandido? Como... Se fora isso que Sakura dissera com tanta convicção a todos... à ponto... à ponto... à ponto de enganar até mesmo a ela!
Tomoyo (olhando seriamente para a prima): 'Que história é essa, Sakura?' Sakura desviou os olhos da prima... Como deixara escapar aquilo! Droga! 'Sakura, que história é essa?' Tomoyo repetiu mais uma vez, mais veemente. Sakura não viu outra opção além da verdade.
Sakura (olhando pela janela): 'Foi exatamente um ano depois de eu voltar para Tomoeda...' Fez leve pausa, como se estivesse se recordando e continou. 'Eu e meu pai passávamos muito tempo juntos, contei o que me ocorrera no treinamento, sobre Xiao Lang, sobre Mestre Lan, contei de tudo que aprendi e ele me escutava totalmente interessado, com aquele maravilhoso olhar de pai carinhoso que sempre me reservava.' Parou novamente, em um momento nostálgico 'Tinha muitas aulas para recuperar o ano perdido, era puxado, mas a presença constante de pai compensava tudo. Não podia estar melhor minha vida, até Touya parecia menos chato.' Disse mostrando um leve sorriso, que logo sumiu ao continuar. 'Mas infelizmente nem tudo é como queremos... E naquela noite...'
***FLASHBACK***
Sakura (pendurada ao braço do pai): Aonde vamos, Ottou-san?'
Fujitaka (sorrindo calmamente enquanto caminhavam): 'Calma, querida, é uma surpresa!'
Sakura (fazendo beicinho): 'Ah, Ottou-san! Diga-me, sim?!
Fujitaka: 'Não mesmo! Já disse que é surpresa.' Era uma noite calma e serena, as flores de cerejeira voavam junto ao vento que balançava os cabelos de Sakura, já um pouco longos, depois de ter que cortá-los há um ano, quando fora treinar nas montanhas e cabelo comprido só traria complicações.
Andaram por mais meia hora, sendo que Sakura não parava de insistir com o pai, às vezes cantava uma música qualquer, às vezes corria na frente do querido homem que lhe acompanhava. Mesmo com 18 anos, Sakura seria sempre a menininha sorridente que encantava seu pai.
No entanto, a natureza pareceu sentir algo, pois o vento parou de soprar, as árvores pararam de se mover, os pequenos animais noturnos ficaram em silêncio. E Sakura... Sakura pressentiu algo.
Sakura: 'Ottou-san... Ottou-san, vamos sair daqui, rápido!' Fujitaka não questionou a filha, sabia de sua percepção aguçada e segurou sua mão enquanto caminhavam a passos rápidos para perto do centro da cidade, onde havia movimento.
Mas não houve tempo. Seja lá quem estivesse atrás deles se fez presente, evitando que continuassem seu caminho. Sakura parou subitamente, já pegando a chave em seu pescoço, sabia que aquele que cercava-os neste momento não era um grupo de bandidos qualquer, apesar das roupas informais.
Mal houve tempo de invocar seu báculo, pois um deles, um tanto quanto rápido, a atacou com uma arma estranha para a moça, fazendo-a se desviar por milímetros.
Sakura (invocando Luta): 'O que vocês querem?!' Mas não houve resposta, e um segundo e terceiro ajudaram o primeiro a atacá-la novamente. Sakura se desviava com certa dificuldade, o que era estranho, já que ela tinha técnicas em luta, além de estar usando carta Luta.
Um homem de vermelho e preto atacou por trás de Sakura, que neste momento evitava um golpe frontal de uma espada com estranhos caracteres de um homem de azul. Sakura, pressentindo o inimigo, se abaixou, sendo que o mesmo acertou com suas adagas o abdômen de seu próprio companheiro. Sakura viu o sangue e percebeu que era mais sério do que imaginara.
Sakura (evitando um golpe lateral de um homem de preto): 'O que vocês querem de nós?!' A menina tentava se defender, mas eram mais de dez contra uma. Fujitaka tentou lutar, mas Sakura o prendeu em Escudo, aqueles guerreiros estavam além das forças do general japonês.
Mulher de preto: 'Dê-nos elas!' Finalmente um deles se pronunciava, era a única mulher do grupo, com certeza a chefe. Usava óculos escuro, evitando ser reconhecida; seus longos e ondulados cabelos loiros presos em um rabo de cavalo, sua roupa negra grudada ao corpo. Por um momento, Sakura não percebeu do que ela se referia, mas logo sua ingenuidade foi substituída por sua perspicácia de guerreira, eles queriam as Cartas.
Sakura (invocando Vento): 'Nunca!'
Vários homens foram ao chão, mas ainda assim eram muitos contra ela. Sakura lutava com braveza e logo desistiu de usar Luta, além de drenar energia de si ainda não estava adiantando muito. No entanto, invocou espada e alada, fazendo da luta um pouco mais justa.
Sakura sobrevoou os guerreiros e derrubou mais dois com golpes laterais de sua espada no abdômen, não os ferindo, apenas os desacordando. Sakura pousou e novamente se viu atacada por três guerreiros, estes um pouco mais rápidos, Sakura golpeou um e defendeu-se de outro com sua espada, mas não pôde evitar o ataque do terceiro, que chutou-a no estômago. Foi jogada longe, caindo um pouco desnorteada e, ao perder a concentração por instantes e quase os instintos, não percebeu que Escudo falhara.
Sakura tentou se levantar e bloqueou novamente um ataque de um quarto homem, que agora se levantava do golpe que recebera momentos antes. Talvez Sakura pudesse evitar maiores estragos, os guerreiros não demonstravam serem seres mágicos e talvez ela pudesse usar carta Sono.
Mas não houve tempo, assim que percebeu dois homens a atacando e conseguindo com certa dificuldade bloqueá-los, ouviu um disparo. Aquela mulher de preto, aquela que falara minutos antes, a que parecia ser a chefe e se mantinha um tanto quanto distante dos outros, imóvel, parecia ter percebido a periculosidade de sua inimiga e, infelizmente contrariando a idéia de que todos ali não possuíam magia, soltou um disparo da própria mão na garota. No entanto, foi com extremo pavor que Sakura não sentiu o tiro de energia lhe atravessando o peito. Seu pai... seu querido pai... entrara na frente e a protegera, a protegera do ataque e dera sua vida em troca da dela.
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Sakura ficou estática, em choque, não tinha forças para continuar e neste momento recebeu um golpe do homem de azul no rosto, sendo jogada no chão, sem forças para se levantar, quase perdendo a consciência, mais pelo choque do pai estar morrendo do que pela força do golpe. Olhou para frente, encarando com ódio a mulher que atirara em seu pai. Mas não teve tempo de dizer nada, pois sentiu outro disparo e, agindo mais por reflexo do que por força em seu corpo, conseguiu se movimentar, girando o corpo.
Sakura: 'Ah....!' Sakura não fora rápida o bastante, e arqueou as costas ao sentir a dor penetrando-lhe fundo na carne. O disparo atingira-a nas costas, próximo ao pescoço, mesmo que não mortalmente. Sakura percebeu que não agüentaria mais, sua consciência foi sumindo e pareceu ser em câmera lenta que ela se viu atingindo o chão.
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Mais barulhos, mais sons de luta, disparos de energia, Sakura não sabia o que acontecia. A consciência perdida por poucos segundos voltou fracamente, dando-lhe forças apenas de abrir lentamente os olhos. Viu a mulher de negro numa batalha com alguma pessoa, uma pessoa em um manto branco e violeta, parecia outra mulher, mas Sakura não tinha certeza. Piscou lentamente, não havia sinal dos outros guerreiros e a mulher em negro foi atingida com um golpe e ao se levantar fez um gesto e desapareceu.
Sakura perdeu a consciência novamente.
***
Voz feminina (serenamente): 'Menina... Vamos menina, acorde...' Sakura abriu os olhos lentamente, parecendo recobrar um pouco das forças, olhou para aquela em sua frente e pouco distinguiu no rosto da mulher que lhe socorrera. Olhos vermelhos rubi, cabelos negros, longos, um rosto que traria conforto a qualquer um. Ouviu sons de cavalos trotando, provavelmente a polícia local. A mulher desviou o olhar de Sakura para escutar o som que se aproximava, momentos depois encarou Sakura novamente. Sorriu com certa tristeza e se levantou sem o menor ruído.
Mulher (olhando para Sakura): 'Haveremos de nos encontrar novamente...' E correu, sumindo da visão de Sakura, que parecia sumir novamente.
***FIM DO FLASHBACK***
Tomoyo (espantada): 'Foi por isso que não encontraram bala nenhuma no seu e no corpo de seu pai... Era magia...'
Sakura (tristemente): 'Odiei magia por um longo tempo depois do que aconteceu, mas não podia evitar minhas amigas, assim como Kero e Yui, para sempre.
Tomoyo (olhando com pena para prima): 'Sakura-chan... Por que nunca me contou isso?'
Sakura: 'A dor era minha, tinha direito de sofrer e sonhar com aquele dia sozinha. Não queria que ninguém soubesse o quanto fui fraca... Isso era algo que eu tinha que encarar sozinha...' Tomoyo olhou para prima com os olhos cheios de lágrimas e em seguida a abraçou, com força, tentando se acalmar e trazer aconchego para sua prima.
Tomoyo: 'Sakura-chan... Saiba que estarei aqui com você nos momentos difíceis e alegres, não precisa sofrer isso sozinha... Não faça mais isso, por favor...'
Sakura: 'Tomoyo-chan... Não fique assim... por favor. Eu já disse, a culpa é só minha.' Tomoyo se desvencilhou da amiga, olhando-a seriamente.
Tomoyo (séria): 'Pare com isso, Sakura! Pare já com isso!' Disse gritando e assustando a prima que jamais vira a prima tão alterada como naquele momento. 'Pare de se culpar por algo que estava além de suas forças! Pare, Sakura! Pare! Pense no que Li-san te falou, escute-o pelo menos uma vez na vida! Não foi sua culpa, Sakura! Não foi!'
Sakura (olhando-a tristemente): 'Tomoyo-chan... Eu...' Sakura não sabia o que dizer... Será que ela errara tanto assim? Será que não fora realmente sua culpa? Será que não havia nada que pudesse fazer? Eram tantas questões, tantas dúvidas, tantos medos. Sakura se limitou a ficar em silêncio e Tomoyo fez o mesmo. Depois viu a prima levantar-se da cama e caminhar até a porta de seu quarto.
Tomoyo: 'Limpe estas lágrimas e se recomponha, daqui a pouco é sua consulta com Meylin-chan. Vou ver se ela já está pronta.'
Sakura: 'Certo...'
Tomoyo (sorrindo marota): 'E cuidado para não errar a porta do banheiro, hein?!' Sakura olhou-a interrogativa. 'Se não, vai acabar entrando no quarto de Li-san e vê-lo sem roupas, já pensou?!' Sakura sentiu as faces corar.
Como não houvera outros quartos onde Syaoran pudesse passar a noite depois do incidente do dia anterior com o ninja, ficou decidido que ele ficaria provisoriamente no quarto ao lado de Sakura, que era o antigo quarto de bebê da mesma e hoje era apenas um quarto de recordações da moça em relação à mãe. No começo, Sakura não aceitara de jeito nenhum, era um quarto pessoal. Mas depois de tanta insistência de Yukito e Tomoyo (Touya também foi totalmente contra, Syaoran poderia tentar algo com Sakura durante a noite, já que não havia tranca na porta), ela teve que ceder (e Touya também). O pior de tudo foi ter que escutar os comentário de Syaoran: "Eu não mereço isso... Um quarto rosa cheio de ursinhos!" Lembrou com raiva assassina.
Sakura (com raiva): 'Ah!!! Tomoyo!!!' Disse jogando uma almofada na porta que era fechada por uma Tomoyo saindo correndo do quarto e rindo da face corada, mistura de raiva e vergonha, de sua prima.
***
Horas mais tarde...
Meylin: 'Vamos, Sakura, faça um pouco mais de força! Eu sei que você pode!' Meylin tentava forçar as pernas de Sakura, tentava fazê-la sentir qualquer dor ou mesmo um mínimo sinal de que suas pernas estavam reagindo ao tratamento.
Sakura (de olhos fechados): 'Não dá, Meylin-chan! Não consigo mais!'
Meylin: 'Eu sei que você pode, Sakura-chan!'
Sakura: 'Ai.......!' Meylin parou subitamente.
Meylin: 'Você sentiu dor, Sakura-chan?'
Sakura: 'Sim...' Meylin ia pular de alegria quando Sakura continuou 'Mas nas costas...' A felicidade de Meylin se desfez na hora...
Meylin (exausta): 'Está bem, Sakura, vamos fazer uma pausa. Eu vou ir buscar algo para comermos. Você quer?' Sakura fez que não com a cabeça. 'Certo... Já volto...'
Sakura ficou quieta enquanto Meylin saía do aposento destinado aos seus exercícios. Já fazia vários meses que ela tentava se recuperar, mas eram mínimos os progressos "pelo menos tem progresso..." pensou numa alegria triste... Encostou-se no encosto da cadeira e respirou fundo, voltando a pensar nas palavras que trocara com Tomoyo e Syaoran.
"Não é tua culpa, Sakura! Você tem que reagir!"
Será mesmo que não era sua culpa? Será que estava realmente além de suas forças? Por anos escutou aquela história, mas pela primeira vez começava a acreditar naquilo. Sentia o coração um pouco mais leve.
Voz masculina: 'Meylin, você sabe onde...? Ah... Desculpa, achei que a Meylin estava aqui.' Disse Syaoran olhando para Sakura, não sabia se devia tocar naquele assunto que ficara pela metade... Saber se suas suspeitas estavam certas.
Sakura (sem olhá-lo e tentando voltar a fazer seus exercícios): 'Ela foi fazer um lanche, já volta... Pode esperá-la aqui se quiser.'
Syaoran: 'Certo...' Syaoran entrou no quarto e logo em seguida fechou-a, ficando no mesmo lugar, com certo receio de olhar Sakura. Ficaram em silêncio novamente. Nenhum sabia o que dizer para o outro, Sakura fingia fazer seus exercícios, ou realmente fazia, mas sem muita concentração. Resolveu falar.
Sakura: 'Andei pensando no que me falou hoje cedo...' Syaoran voltou o olhar para ela, Sakura ainda não o olhava.
Syaoran: 'Entendo...' Disse sem muita convicção. 'Espero que não tenha me achado rude demais...' Disse enquanto se sentava em uma poltrona próxima à Sakura.
Sakura (sorrindo um pouco): 'Já me acostumei com o modo estranho dos chineses.'
Syaoran (entrando na brincadeira): 'Ei... Quem tem modos estranhos são os japoneses!'
Sakura (olhando-o, divertida): 'Ah, sim... Quem conhece os ataques nervosos de Meylin e a sua cara de mau, provavelmente iria me apoiar.'
Syaoran: 'E quem conhece a sua inconstância provavelmente iria ME apoiar.'
Sakura (olhando-o, provocativa): 'O que você quer dizer com isso, hein?!'
Syaoran (fingindo desinteresse): 'Nada de mais... Só é estranho uma pessoa que está quase batendo em alguém de repente tentar beijá-lo e ...' Parou subitamente, percebendo o que acabara de dizer, olhou para Sakura, que estava totalmente vermelha. 'Eu quero dizer..!' Mas não sabia o que dizer...
Sakura (constrangida): 'Eu... Nós... Eu... Não iria beijá-lo...' Por algum motivo Syaoran se sentiu decepcionado com a resposta. Ficaram em silêncio novamente.
Sakura pegou um elástico e passou em volta do pé, enquanto tentava voltar a fazer um exercício qualquer, Syaoran passou a observar seus movimentos. Para alguém que não andava há cinco anos as pernas da moça, dentro de um corsário preto colado, Sakura tinha as pernas muito bem torneadas e... (!) Mas o que é que ele estava pensando?! "Mas que droga!" Balançou a cabeça tentando desviar pensamentos tão pecaminosos.
Syaoran: 'Conseguiu algum progresso?' Tentou mudar de assunto (e pensamentos).
Sakura (depois de um suspiro): 'Não muitos...'
Syaoran: 'Entendo...' Syaoran parou um instante de falar, mas logo tomou a palavra novamente ao lembrar-se de algo. 'Talvez você não esteja fazendo do jeito certo...'
Sakura (olhando-o, interrogativa): 'O que quer dizer com isso?'
Syaoran (olhando-a também): 'Meylin é muito boa com exercícios físicos, mas sempre esquece os mentais.' Diante do olhar intrigado da moça, Syaoran resolveu explicar. Levantou-se de sua poltrona e foi para trás de Sakura, sobre o olhar confuso da mesma. Encostou as mãos no pescoço da jovem, provocando arrepios em Sakura, que tentou se controlar. 'Agora feche os olhos e relaxe.' Meio perturbada pelo contato com Syaoran, Sakura acabou fazendo o que ele pedia. 'Procure tirar todas as preocupações de sua cabeça, agora é só você e suas pernas. Elas são uma continuação do seu corpo, fazem parte de um todo, do seu ser...' Sakura tentava obedecer, mas com aquele toque de mãos ásperas de homem em sua pele lisa e delicada se tornava muito difícil tal tarefa.
Syaoran também não parecia muito à vontade, fizera aquilo para tentar fazê- la relachar, mas a pele sedosa Sakura, o cheiro dos cabelos cor de mel da menina, aquela proximidade... Estavam começando a perturbar seus sentidos. Mas tentava, determinado, continuar.
Syaoran: 'Tente se concentrar nas coisas boas, quando corria pelos campos com Tomoyo, quando apostava corridas de cavalo com Touya, que você me contou... Quando praticava balé... Quando dançava com seu pai...' Syaoran sentiu a tensão de Sakura e tentou passar confiança com seu toque para ela. 'Lembre-se dos momentos felizes com seu pai, Sakura... Esqueça os momentos tristes, esqueça do que aconteceu a ele, sinta apenas a felicidade que sentia ao estar com ele.'
Sakura sentiu os olhos úmidos, mas não chorou. Novamente tocavam naquele assunto, novamente falavam de seu pai. Mas desta vez era diferente, desta vez lembrar de seu pai não trazia angústia e culpa ao seu coração. Trazia- lhe conforto, trazia-lhe a lembrança da melhor infância que alguém poderia ter. Talvez realmente tivessem razão, se pudesse... Se pudesse, jamais teria deixado seu amado pai morrer, teria salvo ele. Mas talvez, realmente, estivera além de suas forças e fora impossível defendê-lo. Talvez devesse tentar superar isso.
Sabia que seu pai não gostaria de vê-la daquela maneira, tinha certeza disso... Seu amado pai, por mais preocupações que sentisse em relação a ela, sempre a apoiou em suas decisões, tanto quanto em relação à vida, quanto à magia. A culpa não poderia ter sido sua, pois se pudesse... Sabia que o teria salvo...
Syaoran pôde perceber nitidamente desta vez, pode perceber a energia que pensou sentir vinda de Sakura horas antes quando brigaram. Se tivera alguma dúvida em relação aos poderes mágicos da menina, agora essas dúvidas sumiam.
Mas ao contrário do último encontro com a moça, desta vez sua energia não era agressiva, era calma, suave, transmitia paz àqueles que estivessem por perto. Fechou os olhos, provando da sensação gostosa que a aura mágica de Sakura lhe fazia sentir.
Era uma sensação única, como jamais sentira antes.
E Sakura...
Sakura (abrindo os olhos em direção às suas pernas): 'Xiao Lang...' Syaoran abriu os olhos, estranhando o motivo para Sakura tê-lo chamado. Sakura nem tentou segurar as lágrimas que formaram-se em seus olhos, a emoção era grande demais. Syaoran acompanhou o olhar da moça e sorriu sinceramente. 'Xiao Lang... Elas... Eu...' Sakura se virou sorrindo encantadoramente para Syaoran, o que o aturdiu por segundos. A visão era angelical, divina demais, nunca tinha recebido sorriso tão lindo como aquele e jamais poderia imaginar que poderia ser daquela menina... 'Xiao Lang... Eu posso mexer minhas pernas!'
E era a mais pura verdade... Sakura conseguira, mesmo que quase imperceptível, fazer leves movimentos com suas pernas. Seus dedos dos pés mexiam levemente, com muita dificuldade, mas ainda assim mexiam. Sakura se sentia radiante, era mais do que ela poderia esperar... Finalmente... Finalmente voltava a ter esperanças.
Syaoran sorriu feliz pela recuperação da moça, por um momento todas as suas preocupações... Todos os problemas, Yukito, magia, seu clã, tudo sumira diante da visão tão bonita e feliz que pudera presenciar. Era felicidade demais e ele não sabia dizer por quê sentira tal sentimento. Mas não se controlou e diante do sorriso doce e brilhante de sua paciente se viu, não só tentando, mas obrigado a pegá-la no colo, girando-a com alegria.
Sakura (rindo à toa): 'Eu vou cair, Li! Não faça isso!' Mas sua felicidade era tamanha que ela não poderia ralhar com o rapaz naquele momento.
Syaoran: 'Comemore, Sakura! Finalmente você pôde mover suas pernas! É apenas um paço para alcançar seu objetivo!'
Girou Sakura por mais alguns segundos, e logo parou, encarando-a e contagiando-se com a felicidade da menina. Sorriam um para o outro, os olhos brilhando, a respiração próxima... Os rostos próximos... As bocas próximas...
...
Meylin (abrindo a porta de repente): 'Prontinho, Sakura!' Syaoran e Sakura olharam espantado para a fisioterapeuta, assim como ela para eles.
(Continua)
29/02/04
Mary Marcato
Comentários da autora: Demorei, mas terminei! :) Espero que tenham gostado. E para quem perguntou do passado de Sakura, sobre a morte de Fujitaka, aí está. Eu já pretendia escrever sobre isso, mas cada coisa ao seu tempo.... E finalmente Sakura começa a se recuperar! ^-^ Muitas coisas reservadas para o próximo capítulo e espero que deixem a opinião de vocês, ok? Meu mail é mary_marcato@hotmail.com mas pode ser review! Até o próximo capítulo!
Agradecimentos: À Deus... Aos meus pais... À Bruna-chan que sempre me apóia, à Violet-Tomoyo e especialmente para à Franbhds. Graças ao comentário desta moça (acho q é moça né :P) que consegui motivação para continuar esta semana ainda. E como ela mesma disse, hoje em dia não são muitos comentários que recebemos, devido ao fato de serem poucas as histórias de qualidade, mas caso vocês achem que minha história merece (porque, se não acham, por que continuam lendo, não é mesmo?), eu tenho esperança de poder receber comentários tão legais como os dessas meninas ^- ^ Valeu gente!
