Bom, aqui está o capítulo 14 :) Espero que vocês gostem. Não tenho muito a acrescentar, apenas que, infelizmente não vou poder responder os reviews e os e-mails logo (Vou fazer! Mas não agora). Eu estou em época de vestiba, como já disse, e tenho que estudar. Mas... Para não dizerem que eu sou má :P Aqui está o capítulo :) Boa leitura!
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Capítulo14: Não fuja do seu coração
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Ela estava andando em um lugar escuro, muitas nuvens, muitos vultos, ninguém parecia vê-la. A jovem começou a andar mais rápido, como se um pressentimento ruim a obrigasse a fazê-lo. Os vultos se tornavam mairoes, mais constantes, mais perigosos, parecendo querer possuí-la, mesmo que não conseguissem alcançá-la.
Subitamente os vultos sumiram e ela parou da mesma maneira. A sua volta tudo ainda era negro, tudo ainda era frio e lhe fazia sentir um medo incomum. Na sua frente, ela pôde ver duas sombras, que ao contrário das outras eram distintas. Quis se aproximar, mas não pôde. Quis gritar, mas a voz não saiu. Quis brigar, mas parecia que seus braços e pernas a desobedeciam.
Pernas...
Só agora ela tomara consiciência que estivera correndo até então. Como? Não importava. Só importava aqueles dois, só importava aquele em específico.
Continuou tentando andar, suas pernas não cediam em ir ao chão, só que não obedeciam também. Quando finalmente parou com aquelas investidas inúteis, a névoa que envolvia seus olhos também sumiu e ela distinguiu perfeitamente o que ocorria ali.
Dois homens, dois grandes guerreiros. Eles discutiam, depois lutaram, depois pararam e finalmente um deles caiu em seus joelhos. Ela sentiu seu coração apertar ao vê-lo daquela maneira. O outro homem, o outro vulto, aquele que permanecera em pé, parecia proferir palavras duras, quem sabe mágicas! Pois só aquilo explicava a desistência do outro homem.
Aquele ao chão tentou lutar, encontrou forças em algum lugar e investiu com sua espada no peito do outro homem. Mas já era tarde demais, o outro homem amparou o golpe com uma de suas mãos, enquanto aproximava seu rosto ao daquele ao chão.
Ela viu o homem em pé dizer algo para aquele ao chão. Viu os olhos do segundo se arregalaram. Seria surpresa? Seria medo? Ela não poderia permitir! Não poderia deixar aquilo acontecer! O outro homem, aquele que dissera as palavras finais, voltou sua postura àquela que estivera segundos antes e olhou com desprezo para aquele aos seus pés.
Ela voltou a tentar se mover, a lutar contra aquela barreira invisível que a prendia naquele lugar ao chão. Voltou a gritar, a chamar o homem ao chão... Ele não poderia permitir que aquele outro fizesse aquilo com ele! Não podia!
Porém, não havia mais tempo. O homem com seus olhos naquele ao chão sorriu com ironia e maldade, antes de levantar sua própria espada. Levantá-la e levá-la com força de encontro ao corpo do outro guerreiro, de encontro ao corpo estático e aparentemente sem forças de Li Xiao Lang.
Sakura: "Naaaaaaaaaaaaão!!!!!!!!!!!!!"
...
Sakura (levantando-se em desespero): 'Naaaaaaaaaaaaão!!!!!!!!!!!!!'
Tomoyo (segundos depois entrando rapidamente ao quarto da prima): 'Sakura!!! O que houve?!'
Sakura (respirando com dificuldade, ainda sentada na cama): 'Tomoyo... eu...'
Tomoyo (chegando perto da prima e segurando seus ombros): 'Sakura-chan... O que houve? Estava saindo do meu quarto quando te ouvi gritando...'
Sakura (sem conseguir encarar a prima): 'De novo Tomoyo... Sonhei aquilo de novo...' Tomoyo pareceu compreender.
Tomoyo (abraçando a prima): 'Sakura-chan...'
Sakura: 'Eu vejo rostos, eu vejo vultos e no final eu vejo duas pessoas lutando... Sempre e sempre...'
Tomoyo (acariciando os cabelos da prima): 'Foi só um pesadelo, Sakura... Nada disso aconteceu ou vai acontecer...'
Sakura (sem parecer notar as palavras de Tomoyo): 'Eles lutam muito... Então um deles cai... O outro fala algumas coisas para o primeiro... Ele parece que vai desistir e eu tento ir ajudá-lo, mas não consigo me mover! Não consigo! Aquele homem levanta a espada para aquele caído ao chão e o ataca. E eu vejo quem é!! Eu vejo!'
Tomoyo (tentando acalmar a prima): 'E quem poderia ser, Sakura? Quem?'
Sakura (decepcionada): 'Eu vejo, eu reconheço... Mas toda vez que eu acordo...'
Tomoyo (suspirando): 'Você se esquece do rosto...' Sakura concordou levemente com a cabeça e Tomoyo suspirou novamente. 'Já faz quase um mês que você anda sonhando com isso, Sakura-chan. Não é hora de contar para ele?'
Sakura (levantando os olhos): 'Para Xiao Lang? E para que eu faria isso?'
Tomoyo (tentando manter Sakura calma): 'Ele é um psiquiatra, Sakura-chan... Ele entende de sonhos. Se isso tiver algum significado, ele saberá qual é.'
Sakura (desviando o rosto do da prima): 'Não! Não falei nem para Eriol e não será para aquele maldito cabeça dura que irei falar!'
Tomoyo (tentando disfarçar sua decepção): 'Já não está na hora de vocês pararem com esta briga boba?' Sakura pareceu indignada com as palavras da prima e voltou a encará-la.
Sakura (indignada): 'Parar? Briga? Eu fui sincera com ele, Tomoyo! Eu admiti que errei, pedi perdão! Eu aceito que ele não me perdoe, mas pelo menos pare de me tratar tão mal! Como você pode chamar minha situação de boba.' Tomoyo suspirou vencida.
Tomoyo: 'Desde que aquele ninja atacou você, desde que você brigou com Li e que Eriol apareceu... Desde esses dias você começou a ter estes sonhos. Não acha que tem a ver com tudo isso?' Tomoyo mudou um pouco de assunto, talvez fizesse a prima se acalmar e talvez tenha conseguido.
Sakura olhou para suas mãos em cima de seu colo, ainda sentada na cama ao lado de Tomoyo, pensou por instante nesta possibilidade. Não era a primeira vez que seus sonhos queriam lhe dizer algo... Mas o que poderia ser? Será que alguém iria morrer?!
Sakura arregalou os olhos, só em pensar em tal possibilidade sua espinha gelava e ela sentia seu corpo se arrepiar. Não podia permitir que isso ocorresse... Talvez Tomoyo estivesse certa e ela devesse dividir com mais alguém seu sonho.
Mas como poderia contar para Syaoran?
Logo que Eriol chegou e que finalmente Syaoran conseguiu rever sua mãe, sã e salva; assim que grande parte dos mistérios da vida do guerreiro chinês fora resolvida com a história de Eriol; depois dela saber finalmente seu papel naquilo tudo, se é que era um grande papel; Syaoran não dirigiu a palavra a ela, a não ser para lhe fazer escárnio, bem malvados, por sinal. Fora isso, o jovem chinês se dedicava exclusivamente a seus treinos, no intuito de se recuperar e estar apto para vencer aquele Tai Ming.
E isso já ocorria há um mês, assim como seus próprios resultados em um mês foram assustadores e seus sonhos, sempre os mesmos sonhos, que ocorriam desde do dia que soubera da história do Clã Li.
Sakura suspirou audivelmente e voltou seu olhar para Tomoyo. Em seguida, resignada de que nada adiantaria suspirar ou reclamar do que estava acontecendo, jogou seus cobertores para o lado, forçando suas pernas, que já a obedecia consideravelmente e pediu ajuda à prima para sentar-se em sua cadeira de rodas. Uma que logo ela não precisaria usar mais.
Se fosse há alguns anos, ela estaria totalmente feliz em saber que recuperara grande parte de seus movimentos em tão pouco tempo. Mas agora... Agora havia muito mais do que a simples vida que ela levara depois do seu "acidente".
Tomoyo: 'Já vai começar com seus exercícios? Ainda é muito cedo...'
Sakura (determinada): 'Quero ainda este mês poder andar sem esta cadeira... Nem que tiver que usar muletas.' Tomoyo sorriu lindamente, Sakura era a menina mais corajosa e determinada que conhecia, mesmo que ainda tivesse aquele ar tímido e delicado. Com certeza era uma guerreira, fosse em um campo de batalha, fosse na vida.
Tomoyo (já empurrando a cadeira): 'Então vamos logo, temos muito que fazer. Como Meylin-chan está ajudando Li-san, cabe a mim a sua melhora. Meylin- chan conta comigo, hein?!' E balançou levemente a mão no ombro da prima que riu com as palavras. Como era bom ouvir Sakura rir de novo...
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Eriol tomava chá calmamente na sala de estar da mansão. As chamas crepitavam lentamente na lareira, assim como fora no dia que decidira finalmente agir.
Tanta coisa acontecera desde então... O resgate de Yelan, as forças drenadas depois de ter que gastá-la no resgate e na recuperação da maga chinesa e finalmente sua chegada no Japão.
Não fora fácil salvar a senhora... Mas muito mais difícil foi contar aquela história para seus amigos. Principalmente para Syaoran... E por que não para Sakura? Havia muito mais naquele conto que ele não julgara correto contar... Não cabia a ele decidir o destino dos dois, apenas a eles mesmos.
Voz masculina (sarcasticamente): 'Pensando em mim?'
Eriol (depois de tomar um gole, sorrindo): 'Não, meu caro, só penso em você quando estou no banheiro.'
Syaoran (sorrindo irônico, aproximando-se do amigo): 'Engraçadinho... Pelo menos eu sei que pensa em mim.' Disse em um tom cínico, como fora o de seu amigo.
Eriol (voltando seus olhos para o chinês que se sentava pesadamente): 'Já está se esforçando desse jeito?'
Syaoran (encostando-se confortavelmente no encosto da poltrona): 'Nada que alguns minutos de descanso não possam recuperar.' E fechou os olhos, com um sorriso irônico nos lábios.
Eriol (olhando o amigo cautelosamente): 'Você sabe que ainda não recuperou todas as forças, não é?'
Syaoran (abrindo os olhos lentamente): 'Isso não quer dizer que não possa treinar... O ferimento ainda dói, mas já está praticamente cicratrizado.'
Eriol (voltando a tomar seu chá): 'Impressiona-me a rapidez como seus machucados se cicatrizam. Não faz nem um mes que você esteve entre a vida e a morte... Agora já está inteiro.' Syaoran fechou sua expressão com o comentário.
Syaoran (olhando seriamente o amigo): 'Isso também me intriga, Eriol. Quando Saigo me atingiu, pude jurar que não iria sobreviver. Apaguei totalmente, não via, nem ouvia, nem sentia nada. Só que... Não sei quanto tempo depois, senti vida em mim, como se energia fluísse em minhas veias invés de sangue...'
Eriol (olhando fixamente o amigo): 'Você não conversou com Sakura sobre aquele dia ainda, conversou?' Syaoran fez uma expressão de desgosto quando ouviu tal nome.
Syaoran (resmungando): 'Por que eu deveria falar com aquela fal...' Diante do olhar sério de Eriol, Syaoran resolveu não terminar a palavra. Não seria recomendável irritar o inglês no estado que se encontrava, por mais difícil que parecia fazê-lo, já que Eriol era o cúmulo da calma. Mas quando se tratava de Sakura, Eriol sabia ser mais firme e às vezes duro, para defendê- la.
Syaoran sentiu seu sangue correr mais rápido e uma sensação estranha em seu peito... Pensar em Sakura... Sendo defendida por outro alguém... Parecia tão estranho quanto pensar em um elefante voando. Riu internamente... Que comparação estranha...
Eriol (fechando os olhos enquanto terminava seu chá): 'Sakura saberá te explicar melhor que eu o que o fez sentir de tal maneira... Deveria parar com esta briga tola e perguntar para ela. Posso te garantir que sua recuperação súbita tem muito a ver com o que você sentiu naquela noite.
Invés de reclamar novamente, como seria o mais comum da parte do jovem chinês, este ficou quieto, como se analisasse a proposta. Ainda sentia grande raiva da jovem feiticeira... Mas, por quê não admitir, sentia muito mais curiosidade em saber o que havia ocorrido naquela luta. Sabia que fora ferido gravemente por Saigo, tinha certeza absoluta que iria morrer, no entanto, não foi o que ocorreu... E isso o intrigava demais.
Eriol (cruzando seus dedos em seu colo e encarando o amigo): 'Só que agora eu tenho outro assunto a tratar com você...'
O guerreiro chinês voltou de seus pensamentos e olhou o amigo. Novamente estava sério, mas era uma seriedade diferente. Se a primeira tinha um certo ar de raiva, irritação, que Eriol jamais admitiria ter sentido, agora era um ar preoupado, deveria ser um assunto, talvez, mais delicado. Endireitou- se na poltrona e observou o inglês, esperando que ele concluísse o que começara. E foi isso que o mago fez.
Eriol: 'Quando falávamos sobre o que estava ocorrendo... Sobre suas origens, o clã Li e o que ocorreu com sua mãe... Percebi que você ficou bastante tenso quando Yelan disse quem era o Segundo Grande Líder e arrisco- me a dizer que não foi por saber que era você.'
O rapaz que ouvia sorriu internamente, mesmo que amargamente. Eriol, com certeza absoluta, era muito, muito perspicaz. Fora apenas um momento, um mísero segundo, mas ele não deixara passar. Eriol percebera, em pouco tempo, a cara de espanto de Syaoran quando ouviu sua mãe pronunciar o nome de seu pai.
Syaoran (fingindo-se indiferente): 'E qual o problema?'
Eriol (soltando um leve suspiro sarcástico): 'Não me enganei, não é?' Syaoran não respondeu, apenas continuou a encarar o amigo. 'Quando o assunto é Li Shang, você fica pior do que quando falamos sobre sentimentos.' Por que será que Syoaran teve a leve impressão que ele se referia à Sakura?
Syaoran (sorrindo de lado): 'Talvez por que eu o odeie mais que à ela?' Eriol sorriu com o comentário.
Eriol (encostando-se no encosto de sua poltrona): 'Se a questão é ódio... Então acho que não devo me preocupar.' Syaoran estreitou os olhos.
Syaoran: 'O que você quer dizer com isso?' Eriol mantinha o mesmo sorriso enigmático, aquele mesmo que tanto irritava Syaoran. Mas para não fazê-lo demais dessa vez, resolveu responder.
Eriol: 'Se você diz odiar seu pai mais do que à Sakura... Então, provavelmente, você está sendo irônico... Logo, eu não devo me preocupar.' Syaoran levantou uma sombrancelha com a observação. 'Oras, creio que você saiba que quando falamos com ironia, dizemos uma coisa querendo se referir ao exato oposto dela.'
Syaoran (impaciente): 'Eu sei muito bem o que é ironia, Eriol. Não se preocupe em me avisar.' Eriol segurou o riso. 'O que não consigo compreender é... De onde você tirou a idéia de que eu, Li Syaoran, esteja interessado naquela japonesa? E muito mais... Como ousa dizer que não é ódio o que sinto por aquele covarde que eu tenho vergonha de chamar de pai.'
Eriol (fechando o sorriso): 'Há muito mais do que covardia nessa história, Li... E se eu não sou o indicado para falar sobre esse assunto, pelo menos o sou para falar sobre Sakura... E ela não fez nada a mais do que julgou correto para você se achar no direito de sentir ódio por ela.'
Syaoran (virando o rosto): 'Meu pai foi um covarde, Eriol. E você melhor do que ninguém sabe disso...' Fugiu ligeiramente do assunto.
Eriol (sorrindo com a atitude do amigo): 'Sei o que você me contou, Xiao Lang... Mas isso não é suficiente. Você já se perguntou por que razão ele agiu daquela maneira?'
Syaoran (voltando seu rosto com raiva para o amigo): 'Sei que ele foi um covarde! Que perdeu uma luta contra Tai Ming! E para poupar sua vida, jurou ir embora do clã aos pés do seu inimigo!' Nesse ponto Syaoran já sentia as faces vermelhas de raiva e vergonha do pai... Nunca agiria daquela maneira... Nunca permitiria se vencer! E se assim fosse, jamais pediria clemência de maneira tão covarde e sem honra como seu pai fizera. Se tivesse que morrer, morreria! Mas jamais permitiria que seu inimigo o fizesse pedir clemência!
Eriol (balançando a cabeça de um lado para o outro): 'Você apenas encherga o que seus olhos vêem, meu caro...'
Syaoran (ainda com raiva): 'Eu vejo aquilo que senti! Aquilo que sofri! Aquilo que me fez sentir tamanha humilhação! Eu vejo os risos e o desprezo dos outros membros do clã quando sabem que sou filho de Li Shang, aquele que implorou clemência em batalha e fugiu, deixando mulher e filhos!'
Eriol (olhando compreensivamente para Syaoran): 'Sei que não foi fácil, Xiao Lang... E sei que você é o último que merece ser tratado com indiferença ou desprezo... Conheço seu potencial e sei que você será um grande líder no futuro... Mas nem todos sabem disso e assim como você está fazendo, eles só vêem o que está diante dos seus olhos. No entanto, não me agrada nada crer que você pensa como estas pessoas sem sabedoria e sem o valor que tanto você quanto seu pai têm.'
Syaoran (abaixando os olhos e falando quase em um sussurro): 'Se meu pai tivesse sido tão valoroso... Jamais eu teria que ver minha mãe chorar escondida de mim e minhas irmãs.'
Por um momento... Eriol não soube o que falar... Ou talvez achou melhor não falar... Se Syaoran um dia pudesse ou tivesse que saber de toda sua história, não seria ele quem iria contar... Não cabia a ele... "Novamente" Concluiu Eriol com um suspiro pesaroso.
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Gotas de suor desciam por sua face, pescoço e seu peito nu. Depois de mais um salto realizado com maestria ele pousou como uma pluma no chão e apoiou sua espada no mesmo, respirando fundo, revigorando suas forças. Olhou para o enorme jardim da propriedade, talvez não tão grande como o da sua, mas certamente mais acolhedor. Estivera treinando ali por longos minutos, talvez horas, isso ele não sabia precisar.
Depois de mais um longo suspiro, novamente retomou sua posição de ataque, sua espada ao lado de sua cabeça, dando um ar arisco e selvagem ao seu ser, como um lobo, prestes a atacar sua presa. No entanto, seu objetivo não era tão violento. Ele, ao menos, pretendia golpear com mais força, com mais rapidez, com mais agilidade, apenas saltar mais alto e com mais vivacidade, superar seus limites, alcançar as barreiras que o prendiam à classe dos simples mortais e poder dizer que foi o melhor; Mais que isso, fazer jus ao seu título de melhor e acabar com seu tormento e das pessoas que amava ao derrotar aquele que era o motivo de seu treino.
Ele golpeou, atacou e defendeu, contudo, seu inimigo era apenas o ar, um inimigo invisível; mas o ar tem suas artimanhas e seus aliados e a gravidade era um deles. Esta dura e sem compaixão, o obrigava em tempos e tempos parar, relaxar e subir ás alturas novamente, para mais uma vez ter de tocar o solo.
Mais um e mais outro golpe vieram e seu suor agora refletia a luz do sol em seu corpo definido pelos anos de treino. Um enorme curativo se fazia visível, talvez apagando um pouco do brilho em sua pele, talvez incomodando demais a ele.
E foi este mesmo curativo, na verdade, este mesmo ferimento encoberto pelo primeiro, que o obrigou a parar mais uma vez. A dor não era lasciva, mas era forte, teimava em repuxar seu corpo e sua pele recém cicatrizada e mais uma vez ele apoiou a espada no chão, respirando mais ofegante do que antes.
Uma presença chamou sua atenção, obrigando-o, por orgulho, a recuperar a austeridade ligeiramente perdida pelo momento de descanço.
Syaoran: 'O que quer?' A jovem, aquele vulto que observava atentamente ao guerreiro minutos antes, vacilou um pouco antes de finalmente conseguir voz para responder.
Sakura: 'É tarde, Li. Todos estão na sala conversando e sentem sua ausência...'
Syaoran: 'Voltarei quando achar propício.' Talvez não rude, mas certamente não educado.
Sakura (depois de um suspiro): 'Treinar por tanto tempo apenas o fará gastar energias à toa... Seu ferimento irá abrir e...'
Syaoran (interrompendo-a e voltando-se para encará-la): 'O que irá acontecer comigo só diz respeito a mim.'
Sakura (desviando o olhar, enquanto girava sua cadeira de rodas para sair dali): 'Faça o que achar melhor...'
Um momento de dúvida, um segundo de vacilo antes que ele resolvesse falar.
Syaoran: 'Você...' A jovem parou no mesmo instante. 'Eu... Queria agradecer...' A jovem prendeu a respiração por um segundo, supresa, e em seguida voltou-se novamente para o rapaz com olhar inquisitor. O rapaz respirou fundo diante do olhar atento e profundo daqueles olhos verdes. 'Por ter me salvo... Contra os ninja e...' Como era difícil fazer aquilo... 'Por oferecer sua ajuda em me ajudar contra Tai Ming.' Pronto, havia falado.
Contudo, Syaoran se sentiu extremamente ansioso, o que não deveria, já que havia dito o que estava tentando falar há mais de dois meses, desde a última conversa com Eriol, quando conversaram sobre a jovem e seu pai. Mas era assim que ele se sentia... Expectativa definiria melhor ainda... Ele queria saber o que ela sentia, o que ela achava, o que diria e este pensamento perdubou-lhe a alma: E o ódio que sentia pela jovem japonesa?
Sakura olhou atentamente para o rapaz, sem se mover, há uns três metros de distância dele, os mesmo metros que estava quando chegou ali e viu-o lutar. Ela olhava-o com apreensão, buscando um sinal de ironia ou de maldade em sua voz, mas nada havia, apenas sinceridade. Ele agradecia... E ela não compreendia exatamente por quê, já que não fora ela que...
Sakura: 'Não fui eu que o salvei...' Syaoran voltou o olhar que desviara segundos antes para a jovem, dúvida podia ser vista em sua expressão. Sakura respirou fundo antes de continuar. 'Não fui eu que o salvei da morte quando Saigo o atacou...'
Syaoran (não compreendendo): 'Mas como? Se só havia nós ali... Tsukishiro e Touya não chegaram há tempo, eles já me falaram isso... Disseram-me que você não contou nada, apenas estava caída ao meu lado e ao de Saigo, com sang...' No entanto, Syaoran não terminou a frase... Sabia que fora Sakura a responsável pela morte do ninja. Mas será que ela já teria aceitado tal idéia? Aparentemente, não. Não pela expressão de dor que ele viu de relance nos olhos dela, que logo passaram.
Sakura: 'Com sangue em meu corpo, eu sei. Sangue de um homem... De um homem que eu matei.' Terminou ela com determinação. Já aceitara o fato de tê-lo feito, mas nada a fazia se acostumar totalmente com a idéia. Em sua infância, jamais pensara por um segundo, que seria capaz de tirar a vida de alguém. Contudo, na vida somos obrigados a tomar certas decisões, duras ou não. Se não fosse o ninja, seria ela... E até mesmo Syaoran. Sakura recuperou a postura antes de continuar. 'Mas mesmo assim... Não fui eu que o salvei.'
Syaoran (ainda sem entender): 'Então... Como?'
Sakura (encarando-o): 'Quando finalmente a luta acabou... Eu estava esgotada, preste a desmaiar, enquanto achava que você estava morto.' Visto a dúvida no olhar do rapaz, a moça continuou. 'Mas eis que... Eis que um vulto entrou na sala e me falou que estava errada... O mesmo vulto que me salvou de Saigo quando ele me usara como escudo contra você.' O jovem arregalou os olhos.
Syaoran (com as faces contraídas): 'E quem era ele?'
Sakura (sorrindo fracamente): 'Ela... Era ela, não ele... Não sei quem é. Apenas sei que ela disse que você ainda estava vivo, que apenas lhe faltava energia para suportar a fraqueza e a dor até que alguém te socorresse.' Fez uma leve pausa antes de continuar. 'Como eu já estava sem energias, me desesperei. Mas ela se abaixou até seu corpo, estendido no chão, e forneceu sua própria energia para salvá-lo.'
Sakura contou a história rapidamente, querendo logo sair dali. Quando terminou, achou que já podia ir, as dúvidas dele já estava cessadas e agora ele podia entender como sobreviveu. Contudo, quando olhou para o rosto do rapaz mais uma vez, ficou confusa... Confusa quando... Quando viu Li Xiao Lang sorrindo singelamente para ela.
A jovem ficou desnorteada... Quantas vezes já vira aquele sorriso? Poucas... Se não, nenhuma. Não era escárnio, ironia, ou qualquer sentimento relacionado. Era um sorriso calmo, carinhoso, um agradecimento silencioso que ela não compreendia.
Sakura (olhando-o, confusa): 'O que...' Mas não sabia o que perguntar, apenas ficou olhando-o.
Por sua vez, Syaoran não via dúvidas em seu ato. Apesar de dever estar mais preocupado com as palavras dela – sobre a revelação a respeito da mulher misteriosa, aquela que o fez sentir energia circulando em seu corpo, o que o fizera ficar vários e vários dias sem entender o que ocorrera – ele nem ao menos se lembrava direito de tal ocorrido. Syaoran sorria sim... Mas não por finalmente saber da verdade...
Syaoran: 'Você... Ficou desesperada?' Sakura arregalou os olhos enquanto prendia a respiração. Finalmente compreendendo o que ele queria dizer. Como fora idiota! Como se deixara soltar tais palavras?! Era apenas dizer "Como eu já estava sem energias não pude ajudar." Mas não, sua boca era grande demais para falar só aquilo... Ou era seu coração que falara mais alto no momento?
Sakura desviou o olhar dele, não podendo encará-lo, não depois do que falou. Girou a cadeira sem responder à pergunta do rapaz, sairia dali sem precisar passar por outra situação embaraçosa.
Porém...
Syaoran: 'Você...' Sakura manteve a cabeça abaixada por vergonha, ainda de costas. Mas novamente... Novamente se viu obrigada a voltar a encará-lo. 'Você ainda não me deu chance...' O que ele queria dizer? Encarou-o, confusa e ele sorriu de lado 'Chance de ter minha revanche.'
Sakura ficou surpresa por um instante. Na verdade, por vários segundos. Estava surpresa demais. Primeiro, desde quando ele voltara a falar com ela? Segundo, que história era essa de revanche? Terceiro, mesmo com aquele sorriso debochado... Ele ficava tão... Ai ai! Pare de pensar besteiras Sakura!
Syaoran (percebendo o olhar confuso da moça): 'Você me venceu uma vez, nas montanhas, depois eu te venci. Estamos empatados, eu quero a revanche.' Ah, então era isso. Sakura forçou um sorriso, antes de responder.
Sakura: 'Creio que, infelizmente, ainda não posso realizar sua vontade, Li.' Fez alusão ao seu estado físico e Syaoran logo entendeu.
Syaoran: 'Eu também não me recuperei totalmente. Mas fica aqui o meu desafio.'
Sakura (acenando afirmativamente com a cabeça): 'Talvez em um ou dois meses eu consiga voltar a andar sem ajuda, de acordo com Meylin. Acho que é tempo relativamente suficiente para eu ter alguma condição de enfrentá-lo.' Syaoran apenas afirmou que sim e dessa vez foi Sakura quem sorriu de lado. 'Pois mesmo que eu não tenha recobrado minha musculatura, não devo precisar de todo meu potencial para vencê-lo.'
Syaoran (sorrindo de lado e cruzando os braços): 'Eu esperarei pacientemente para provar como você está errada.' Sakura devolveu o sorriso e logo voltou a se virar, pronta para entrar na casa. Syaoran apenas observou-a sair dali.
Sakura: 'Não demore muito. Já fiz um grande favor para Eriol vindo te chamar.'
Syaoran não pôde deixar de sorrir com o comentário. Eriol não prestava mesmo, não perdia uma oportunidade para tentar fazê-los se reconciliar. Contudo, logo seu sorriso se fechou, por mais que tivesse conversado com Sakura agora, isso não fazia com que se esquecesse do que ocorreu. Ela mentira e como dissera já várias vezes para si mesmo, talvez em uma tentativa de fixar isso na mente, ele jamais a perdoaria.
Em seguida, Syaoran voltou-se para o outro lado, apertando sua espada nas mãos e voltando a realizar seus golpes marciais. Um pouco mais de treino não faria mal a ninguém.
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Era tarde da noite quando ela sentiu necessidade de aliviar sua sede. Vestiu seus pequenos chinelos bordados e colocou um robbie branco com alguns tons em violeta por cima de sua camisola na mesma tonalidade. Saiu lentamente e silenciosamente de seu quarto, para não acordar ninguém. Logo desceu as escadas a caminho da cozinha.
Contudo, uma luz a fez parar na metade de seu trajeto, há alguns metros de si, onde ficava uma das salas da casa, saía por baixo da porta luzes, claramente luzes de uma lareira. Por um momento hesitou, talvez fosse melhor deixar quem estivesse ali em paz, virou-se novamente para seu caminho e voltou a andar, relutantemente, sua curiosidade falando alto.
...
Minutos depois de aliviar sua sede, ela voltou por onde veio, quase esquecida da luz no corredor. Mas aquela chama estava tentando-a a observar o que ocorria na sala ao lado e dessa vez, com sua sede já cessada, nada pôde fazê-la recuar e ela abriu lentamente a porta do aposento.
A chama da lareira dançava calmamente, colocando tons entre vermelho e amarelo pelo salão que, sem o fogo, estaria totalmente escuro na noite. Ela andou alguns passos, procurando alguém que estivesse ali, duvidando que tivessem esquecido a lareira acesa.
Voz masculina: 'A que devo a honra da companhia?' A moça levou um susto considerável, colocando a mão pálida em seu peito. Respirou fundo por segundos, tentando controlar as batidas velozes que o susto causou-lhe. O dono da voz levantou-se da poltrona em que estivera sentado, oculto anteriormente para ela, uma vez que o assento estava de costas para a entrada da sala e de frente para a lareira. Os belos olhos azuis dele encontraram os violetas da moça. 'Sinto muito se a assustei, Tomoyo.'
Tomoyo olhou levemente assustada para o jovem inglês, mas logo seu susto inicial começou a passar. Assim que pôde controlar sua respiração ela analisou melhor o rapaz, este vestia um longo robbie azul marinho de seda que cobria seu pijama azul claro, seus cabelos estavam alinhados como sempre e em seu pé havia chinelos de inverno como os dela. Entretando, o que chamou a atenção da jovem foram os olhos do rapaz, que pela primeira vez, ela podia dizer com certeza, não estavam encobertos pelos aros finos dos óculos do inglês. Belos olhos azuis ele tinha.
Eriol (sorrindo para a jovem enquanto esta o analisava): 'Não fui eu a causa da sua "caminhada noturna" pela casa, foi?'
Tomoyo (parando de analisá-lo e olhando-o nos olhos): 'De maneira nenhuma, Eriol-san. Tive sede e vim buscar um copo de água.' Eriol manteve o sorriso e Tomoyo não soube mais o que falar, por um momento as palavras fugindo de sua boca. Desde quando agia dessa maneira? 'Está sem sono?'
Eriol: 'Sim... Estive pensando em alguns problemas e perdi o sono. Vim me aquecer enquanto buscava pelo por ele.' À menção da palavra "problema" Tomoyo imediatamente assossiou-a com a prima. Uma vez que era só isso que Sakura tinha nos últimos tempos.
Tomoyo (ligeiramente vacilante): 'Por acaso... Por acaso estes problemas têm a ver com Sakura?' Eriol sorriu com a perspicácia da jovem. Movimentou- se para o lado levantando uma de suas mãos educadamente.
Eriol: 'Gostaria de se juntar a mim por um momento? Ou estou atrapalhando seu sono?'
Tomoyo (aproximando-se do jovem): 'Acho que prefiro ficar aqui uns instantes.' A possibilidade de ouvir um pouco sobre o que estava ocorrendo com Sakura e que ela, Tomoyo, pouco entendia, foi mais forte do que sua vontade de dormir e ela se sentou ao lado da poltrona de Eriol, em outra. O mago sorriu e se juntou à jovem.
Eriol (depois de um momento de silêncio): 'Sim.' Tomoyo olhou interrogativa para o jovem e ele logo continuou. 'Meus pensamentos estavam nos problemas de Sakura... E de outras pessoas também.'
Tomoyo (sorrindo tristemente): 'Nos problemas entre Sakura e Li, você quer dizer, não?' Eriol não respondeu a pergunta, Tomoyo já sabia a resposta.
Ficaram em silêncio por vários instantes, antes que a jovem conseguisse encontrar coragem para dizer o que pretendia.
Tomoyo: 'Eu sinto... Eu sinto tanto medo por Sakura-chan.' Eriol resolveu não interromper, parecia que a jovem diria algo mais e não seria ele que iria impedir. 'Desde que Sakura se viu envolvida com magia e feitiços... Ela só tem sofrido.' A jovem falou com pesar, mas quase em um sussurro. Eriol gostaria de confortá-la, contudo, as palavras dela eram verdadeiras e ele não podia fazer nada contra isso. 'Primeiro o perigo que ela corria atrás das cartas, depois o juízo final, a luta contra você; em seguida aquela viagem maluca para as montanhas na China, que quase me matou de preocupação pelas poucas notícias e nenhuma visita...' Fez uma leve pausa, enquanto uma lágrima escorria por seu rosto. 'Então a morte do pai... A perda dos movimentos... A esperança perdida por vários anos... O reencontro com Li, que quase a fez ficar louca tentando se manter oculta a ele... E finalmente... Finalmente o dia em que ela matou pela primeira vez...'
Um silêncio incômodo surgiu, Eriol não se atrevia a olhar a jovem, seu sorriso desaparecera de seu rosto, enquanto Tomoyo deixava as lágrimas descerem sem barreiras por seu alvo rosto.
Era tão triste tudo o que ocorrera com sua querida prima, queria tanto poder ajudá-la, confortá-la, evitar que ela sofresse... Mas nada podia fazer, era uma simples humana, sem poderes, sem magia, sem, nem ao menos, força física. Contudo, ali, ao seu lado, estava alguém que sempre tivera o poder de ajudar Sakura, mas nada fez, não esteve nem ao menos presente quando ela perdeu o pai...
Tomoyo olhou subitamente com um ódio incontido para Eriol. Se não fosse pela aparição dele, se não fosse por aquelas malditas cartas que o Mago Clow, que um dia ele fora, criara, se não fosse pela insistência dela ir para as montanhas... Nada... Nada... Nada disso teria acontecido!
Tomoyo (com amargura na voz): 'Você... Você é culpado pelas tristezas na vida de Sakura...' Eriol não se manifestou diante do desabafo da jovem, simplesmente manteve seu olhar no fogo, ligeiramente abaixado. 'Sem essas malditas cartas, sem essa maldita magia, sem esses malditos poderes que você quis que ela possuísse! Nada disso precisava estar acontecendo, nada!' Ela soltou, quase não podendo conter o tom na voz, independente da hora que era. Mantinha suas mãos firmemente apoiadas no colo, enquanto sua cabeça estava abaixada, evitando que ele pudesse ver suas lágrimas.
Apenas os soluços da jovem podiam ser escutados na sala. Nada mais.
Tomoyo (tentando controlar suas lágrimas): 'E você nem ao menos esteve presente quando ela perdeu o pai... Nada fez quando ela estava preste a matar um homem!' Nesse momento a jovem voltou o olhar para o jovem, que neste segundo tinha a cabeça totalmente abaixada, seus olhos fechados, uma leve expressão de pesar em seu rosto. 'Você não é o amigo que sempre disse ser! Você a abandonou! Você a deixou no momento mais difícil! Eu vi o tanto que ela chorou! Eu vi o tanto que ela sofreu! Você nunca vai saber o que foi ter que ver a pessoa que você mais ama no mundo morrendo de tristeza a cada dia.' Tomoyo se controlava, ou pelo menos tentava, com todas as suas forças para não gritar e pular no pescoço do rapaz. Era tudo o que ela desejava fazer no momento, mas que sua moral, ou qualquer sentimento de amizade, evitava que ela concretizasse.
Diante das últimas palavras da jovem, um leve sobressalto se fez perceptível no corpo de Eriol. "Você nunca vai saber o que foi ter que ver a pessoa que você mais ama no mundo morrendo de tristeza a cada dia." Sim... Talvez ele nunca tivesse sentido aquilo... Talvez ele nunca tivesse amado alguém suficientemente para saber o que era aquilo. Seus guardiões, seus amigos, seus únicos amigos, já que, nem ao menos, tinha família... Será que eles tinham tão pouca importância assim na vida dele? Será que era justo o que a jovem dizia... "A pessoa que você mais ama no mundo..." Será que existia alguém assim para ele?
Tomoyo secou suas lágrimas com força, seu rosto branco como a neve vermelho pela raiva desabafada. Em seguida, a moça levantou-se de sua poltrona, sem poder mais ficar na presença do rapaz. Não suportava mais aquele clima... Levantou-se e começou a dar passos para se retirar...
Contudo, uma mão carinhosamente segurou seu pulso, impedindo que ela continuasse. Tomoyo parou no mesmo lugar, ainda com a cabeça baixa.
Eriol (quase em um sussurro): 'Você está certa...' A jovem ficou ligeiramente surpresa, enquanto Eriol levantou-se, ainda coma a cabeça abaixada, atrás da jovem. 'E eu sinto muito...'
Eriol segurou mais firmemente o pulso da jovem e esta se virou para o rapaz, tentando buscar o que ele sentia nos olhos deste. E ela encontrou o olhar dele e se surpreendeu, se não... Se arrependeu do que disse. Os olhos do mago inglês continham tristeza, dor, angústia, num misto tão intenso que doeu no coração da jovem vê-lo daquela maneira.
Eriol (olhando-a com pesar): 'Eu não estive presente quando Sakura precisou... Eu... Ele... O mago Clow que um dia eu fui... Foi o responsável pelas cartas que hoje são de Sakura, portanto, também são minha responsabilidade... Eu não a consolei quando deveria... Eu...' Eriol parou por um segundo, olhando profundamente nos olhos violetas e agora vermelhos de lágrimas de Tomoyo. 'Eu falhei... Eu falhei com uma das pessoas que eu mais amo... A pessoa que você mais ama...' Tomoyo não sabia o que dizer. 'Eu sinto muito... Eu sinto muito e... Estou aqui para reparar meus erros...'
Nenhum dos dois desviou o olhar do outro. Tomoyo tentando se controlar para não abraçá-lo e pedir perdão pelas palavras duras. Ele tentando buscar conforto nos olhos dela.
Eriol: 'Eu peço perdão... Para Sakura... E para você... Peço perdão e... Peço... Ajuda...' Falou pausadamente, buscando as palavras certas. 'Eu não quero falhar de novo, Tomoyo... Nem com Sakura... E nem com você...' Dessa vez a jovem não pôde mais se segurar e se aproximou, mesmo que lentamente, do rapaz. Este não se moveu, até que sentiu os braços dela rodearem sua cintura.
Eriol devolveu o abraço, tentando buscar ajuda, tentando buscar apoio para suportar todo a obrigação que seus poderes o faziam ter para consigo e para com os outros. Abraçou Tomoyo com força, abaixando levemente a cabeça ao lado esquerdo do pescoço dela.
Um misto de calor e conforto tomou conta do coração e do corpo dos dois jovens angustiados. Tomoyo não sabia identificar com exatidão o que seria aquilo e nem mesmo Eriol. Só sabiam que queriam ficar assim o tanto que pudessem, o tanto que o outro permitisse. Confortando e buscando conforto nos braços do outro.
Ficaram assim por vários minutos, até que se viram obrigados a afrouxar o abraço, talvez com medo da reação daquele(a) a sua frente. Contudo, mantiveram seus braços envolta um do outro, olhando-se nos olhos, um pouco da angústia e da dor abandonando-os.
Os olhos de um chamavam pelos do outro e eles se sentiam atraídos, cada vez mais. Eriol aproximou lentamente seu rosto do da jovem, enquanto esta levantava o seu próprio, assim como seus pés, inconscientemente.
Eriol olhou para aquelas orbes violetas como se estas clamassem pelas suas azuis, poucos centímetros do rosto de Tomoyo. Mas ele logo percebeu o que estava fazendo e e alterou levemente sua trajetória, chegando mais perto e raspando sua face levemente na face esquerda dela, enquanto alcançava o ouvido da jovem.
Eriol (em um sussurro): 'Obrigado...' Tomoyo sentiu seu corpo se arrepiar e o rapaz logo voltou sua face para olhá-la nos olhos, os seus um pouco menos pesados de tristeza. Sorriu calmamente para a jovem, que ainda se mantinha levemente tensa pelo carinho que o suspiro em seu ouvido fizera, e soltou- se lentamente dela.
A garota ficou parada em seu lugar, olhando o rapaz com expressão levemente alterada de surpresa e ele cumprimentou-a do modo educadamente inglês, beijando ternamente a mão dela. Em seguida olhou-a mais uma vez nos olhos e se retirou.
Enquanto Tomoyo não se viu possibilitada em fazer nada por alguns segundos. Assim que pôde, voltou-se para a porta e saiu lentamente pelo mesmo caminho que o jovem inglês fizera momentos antes dela.
# # #
Mais ou menos um mês se passara desde o último encontro entre Sakura e Syaoran no jardim da casa. A jovem, finalmente, conseguira dormir algumas noites sem ter aqueles pesadelos. Não sabia por qual motivo, mas se aliviava pela oportunidade adiquirida.
E para preencher mais sua satisfação, finalmente ela estava conseguindo andar sem a ajuda das muletas. Sim, pois, há aproximadamente quinze dias, ela parara de usar a cadeira de rodas e agora, nem as muletas se faziam tão necessárias.
Meylin estava assombrada com os progressos de sua paciente, mas ficava feliz, ao menos. Ela estivera certa (mais uma vez se cabava) o problema de Sakura estava mais relacionado com o psicológico dela que com o físico. Mais algumas sessões e Sakura poderia se ver livre de Meylin, ao que a jovem japonesa protestava veemente, pois não era porque ela poderia andar que ela iria querer se ver longe da nova amiga; ao que Meylin respondia com um sorriso envergonhado.
Meylin (segurando uma das pernas de Sakura, empurrando-a contra a barriga desta): 'Mais força, Sakura, precisa desatrofiar mais um pouco seus movimentos.' Sakura estava deitada em uma cama enquanto Meylin jogava seu próprio peso em cima da perna da jovem.
Sakura (com os olhos fechados para tentar suportar a dor): 'Pelo menos quando eu não podia andar, eu também não sentia dor... Ai!'
Meylin (forçando mais ainda): 'Pare de reclamar tanto e termine o exercício. Mais uma semana e você se vê livre de tudo isso.'
Sakura (com um sorriso forçado no rosto): 'Se uma semana significa "pouco" para você... Pode ter certeza que para mim não é! Ai!!!' Dessa vez um estralo se fez ouvir e Sakura quase berrou com Meylin.
Meylin (sorrindo de lado): 'Não falei que ainda estava precisando de mais um pouco?' Sakura teve que se segurar para não xingar sua fisioterapeuta.
Tomoyo (entrando no aposento): 'Pausa para o lanche!' Finalmente alguém aparecia para salvá-la, concluiu Sakura.
Sakura (sentando-se assim que Meylin a soltou): 'Finalmente alguém aparece para acabar com a tortura medieval que a carrasca Meylin estava fazendo com a pobre e indefesa Sakura.' Disse Sakura dramaticamente, Tomoyo riu, equanto Meylin olhou de lado para a paciente.
Meylin (sussurrando perigosamente): 'Ainda nem fui buscar o chicote e o iron maiden (#)'. Sakura engoliu em seco, enquanto Tomoyo segurava o riso.
Tomoyo se sentia bem mais leve depois da conversa com Eriol, ao que todos, inclusive Sakura, notaram, apesar de não terem sabido de tal conversa. Eriol e ela estavam mais próximos e diariamente, antes do café-da-manhã, se uniam para dar uma volta pelo grande jardim da propriedade.
O jovem inglês se mostrara mais do que um cavalheiro, era conhecedor de plantas medicinais e de pássaros e outros animais. Além de várias estórias medievais que encantaram a jovem. Contudo, era na música que eles mais se entendiam. Eriol tocava piano e tinha um vasto conhecimento sobre música clássica, a favorita da jovem japonesa. De tanto que conversavam sobre tal gosto em comum, que o jovem sugerira um pequeno recital em família, onde ela cantaria e ele tocaria piano. De início ela recusara, sua timidez falando mais alto, mas logo isso estava mudando e Eriol tinha quase certeza que logo a convenceria.
Sakura adorou saber que eles estavam se entendendo. Por mais distraída que fosse, sabia da distância que Tomoyo teimava em manter de seu amigo, o motivo ela não conhecia (e nem conheceria, se dependesse do inglês e da prima). Mas a amizade estava fazendo bem à prima e isso era o que importava.
Por outro lado, Tomoyo nutria um certo receio que Touya se incomodasse com as conversas, por mais que Sakura dissesse que fosse besteira da cabeça da jovem. E realmente era, pois Touya andava muito distante em seus próprios problemas e pensamentos para notar alguma diferença no comportamento da noiva. O que era lastimável, da parte de um noive e que Sakura teimava em dizer que se tornaria pior com o tempo se o irmão não tomasse consciência de que tal casamento não faria nenhum dos dois felizes.
Entretanto, o importante agora era que a jovem de olhos violetas estava contente, mais leve e menos preocupada com os problemas da prima. Eriol estava ajudando-a a se acalmar, assim como ela fazia com ele.
Meylin (balançando a mão na frente do rosto de Tomoyo): 'Oooi... Tem alguém aí?' Tomoyo voltou de seus pensamentos e olhou sem graça para a chinesa. Sakura segurou o riso ao ver a prima naquele estado, tendo uma idéia do que seria aquilo. Meylin olhou estranho para a amiga. 'Você anda passando tempo de mais com a Sakura, Tomoyo. Está ficando avoada igual a ela.'
Sakura (parando de rir e olhando brava para a amiga): 'Ei!' Meylin teve que se abaixar para escapar da almofada que veio em sua direção.
As três riram por algum tempo e logo se sentaram à mesa, para degustar o lanche que Tomoyo fizera para elas.
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Era quase quatro horas quando Sakura finalmente se viu livre de Meylin. Depois do lanche que a prima lhes trouxe, a chinesa parecia ter redobrado as forças e a "tortura" se tornara pior. Mas ela não podia reclamar, finalmente conseguia andar sem a ajuda de nada e nem ninguém e isso era suficientemente bom para fazê-la se esquecer de qualquer tortura.
E era justamente por esse motivo que ela andava sorridentemente pelo jardim de sua casa. Sakura andava com uma espécie de bastão em sua mão, caso viesse a se esforçar demais e precisasse de apoio. O que ela duvidava, já que seus treinos noturnos (além daqueles que tinha com Meylin) já tinham acabado com essa necessidade. Porém, Tomoyo era protetora demais para permitir tamanha "irresponsabilidade" e como Touya apoiava totalmente a noiva em tal ponto, não havia nada que ela pudesse fazer para evitar isso.
Mas isso não era importante agora. Agora ela estava em seu jardim, aproveitando o vento, os pássaros e as flores que sua mãe tanto gostava. Sorriu com o pensamento, a mãe adorava as flores de seu jardim e por mais que ela não pudesse se lembrar da mãe, Touya e seu pai contaram bastante sobre ela para Sakura poder imaginar bastante coisa.
Sakura encarou seu bastão por um momento, uma vontade de manejá-lo surgindo subitamente. Fazia tempo que não treinava com bastões, talvez fosse hora de recuperar o tempo perdido. Mestre Lan não gostaria nada de saber que ela não estava se esforçando... E ela podia sentir o peso do bastão de bambu dele em sua cabeça. Sorriu com o pensamento, enquanto, inconsicentemente, levou sua mão no alto da cabeça, onde lembrava-se com mais nitidez dos golpes de seu mestre.
Esqueceu finalmente tais pensamentos e se encaminhou mais para o meio do jardim. Estava com suas roupas de exercícios e isso evitava qualquer tipo de incômodo que uma roupa feminina poderia lhe causar.
Logo se posicionou em sua costumeira pose de ataque, enquanto o bastão seguia lateralmente pelo seu corpo, sua perna esquerda levemente dobrada e adiantada da outra. Respirou fundo enquanto buscava concentração e logo deu o primeiro golp...
Voz masculina: 'Vejo que já está bem, não?' Sakura parou na metade do caminho e voltou-se para trás, mesmo que já soubesse de quem pertencia aquela voz debochada.
Sakura: 'Bem o bastante para treinar um pouco... Li.' Disse para o jovem a sua frente, que sorriu de lado.
Syaoran (descruzando os braços e se aproximando calmamente da jovem): 'Será que já está pronta para o nosso acerto de contas?' E parou a pouco menos de meio metro da jovem, que o olhou nos olhos, assim como ele fez com ela.
Sakura (olhando-o seriamente e logo sorrindo de lado): 'Suficientemente bem para vencer você.'
Syaoran sorriu no mesmo tom que a jovem e se afastou alguns metros de Sakura, posicionando-se com seu próprio bastão, que até segundos antes estava preso na lateral de sua cintura.
Syaoran (olhando desafiadoramente para a garota): 'Isso é o que vamos ver.' Sakura sorriu e se posicionou também.
# # #
(Continua)
28/06/04
Mary Marcato
(#) Iron Maiden, pelo o que me consta, é uma "máquina" de tortura medieval. Uma espécie de cabine (caixão) onde só cabe uma pessoa cheio de espetos. Se estiver errada, me consertem :)
OBS.: Queria apenas por em destaque alguns pontos sobre a conversa entre Tomoyo e Eriol. Tomoyo estava bastante nervosa naquele momento e qualquer problema relacionado com Sakura é responsabilidade de alguém, na opinião dela. Tomoyo ama Sakura, talvez não como pensa amar, logo ela não mede conseqüências quando o assunto é a proteção da prima. Ela foi injusta com Eriol, talvez não estivesse totalmente errada, mas também não estava totalmente certa; como Eriol também se acha culpado, ele acabou ficando quieto enquanto a ouvia. Não havia um "árbitro" na discussão entre eles, logo não se pode dizer que apenas um estava certo. Como eu estou me acostumando a dizer: "justiça é subjetiva". Provavelmente retomarei este tópico nos capítulos seguintes, mas resolvi deixar claro esta parte.
Comentários da autora: Prontinho! :) Para quem queria um pouco mais de "love" talvez tenha se decepcionado um pouco. Mas eu já dei uma boa dose de, digamos, romance entre Tomoyo e Eriol... Romance? Hehehe, o tempo dirá o que acontecera com este casal tão fofinho... Casal? Aiai, acho que já estou falando demais :P Para quem queria ver mais Sakura e Syaoran, infelizmente não deu para rolar nada mais que uma conversa "amistosa". Bom, os dois ainda estão relativamente brigados e eu precisava fazê-los se entender um pouco para depois... Depois fazer uma cena mais... Hm... Ao gosto da maioria :P Eu sei que vocês esperavam mais... Eu sinto muito... Mas isso foi tudo que deu para fazer. Mas esperem pacientemente, pois a luta entre Syaoran e Sakura não vai ficar só entre chutes e socos ¬-¬ (sorrindo maliciosamente). Mas! Já falei demais, né :P Espero algum comentariozinho óò sim???? Se quiserem mandar mail para mim, é marymarcato(arroba)hotmail.com. Ja ne!
Agradecimentos: Bom, como o capítulo anterior foi mais explicativo, acho que não deu para insentivar muita gente :P Mas eu agradeço a todos que sempre me mandam um review ou e-mail pedindo a continuação :) Muito obrigada! É por vocês que eu continuo. Ah! E só para não dar o gostinho para a Miaka... Digamos que o Tai Ming vai ter "suas dúvidas" se ele devia ter feito tudo o que fez, só pra mim dar um gostinho para vocês mas não comprometer o mistério da história :P
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Capítulo14: Não fuja do seu coração
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Ela estava andando em um lugar escuro, muitas nuvens, muitos vultos, ninguém parecia vê-la. A jovem começou a andar mais rápido, como se um pressentimento ruim a obrigasse a fazê-lo. Os vultos se tornavam mairoes, mais constantes, mais perigosos, parecendo querer possuí-la, mesmo que não conseguissem alcançá-la.
Subitamente os vultos sumiram e ela parou da mesma maneira. A sua volta tudo ainda era negro, tudo ainda era frio e lhe fazia sentir um medo incomum. Na sua frente, ela pôde ver duas sombras, que ao contrário das outras eram distintas. Quis se aproximar, mas não pôde. Quis gritar, mas a voz não saiu. Quis brigar, mas parecia que seus braços e pernas a desobedeciam.
Pernas...
Só agora ela tomara consiciência que estivera correndo até então. Como? Não importava. Só importava aqueles dois, só importava aquele em específico.
Continuou tentando andar, suas pernas não cediam em ir ao chão, só que não obedeciam também. Quando finalmente parou com aquelas investidas inúteis, a névoa que envolvia seus olhos também sumiu e ela distinguiu perfeitamente o que ocorria ali.
Dois homens, dois grandes guerreiros. Eles discutiam, depois lutaram, depois pararam e finalmente um deles caiu em seus joelhos. Ela sentiu seu coração apertar ao vê-lo daquela maneira. O outro homem, o outro vulto, aquele que permanecera em pé, parecia proferir palavras duras, quem sabe mágicas! Pois só aquilo explicava a desistência do outro homem.
Aquele ao chão tentou lutar, encontrou forças em algum lugar e investiu com sua espada no peito do outro homem. Mas já era tarde demais, o outro homem amparou o golpe com uma de suas mãos, enquanto aproximava seu rosto ao daquele ao chão.
Ela viu o homem em pé dizer algo para aquele ao chão. Viu os olhos do segundo se arregalaram. Seria surpresa? Seria medo? Ela não poderia permitir! Não poderia deixar aquilo acontecer! O outro homem, aquele que dissera as palavras finais, voltou sua postura àquela que estivera segundos antes e olhou com desprezo para aquele aos seus pés.
Ela voltou a tentar se mover, a lutar contra aquela barreira invisível que a prendia naquele lugar ao chão. Voltou a gritar, a chamar o homem ao chão... Ele não poderia permitir que aquele outro fizesse aquilo com ele! Não podia!
Porém, não havia mais tempo. O homem com seus olhos naquele ao chão sorriu com ironia e maldade, antes de levantar sua própria espada. Levantá-la e levá-la com força de encontro ao corpo do outro guerreiro, de encontro ao corpo estático e aparentemente sem forças de Li Xiao Lang.
Sakura: "Naaaaaaaaaaaaão!!!!!!!!!!!!!"
...
Sakura (levantando-se em desespero): 'Naaaaaaaaaaaaão!!!!!!!!!!!!!'
Tomoyo (segundos depois entrando rapidamente ao quarto da prima): 'Sakura!!! O que houve?!'
Sakura (respirando com dificuldade, ainda sentada na cama): 'Tomoyo... eu...'
Tomoyo (chegando perto da prima e segurando seus ombros): 'Sakura-chan... O que houve? Estava saindo do meu quarto quando te ouvi gritando...'
Sakura (sem conseguir encarar a prima): 'De novo Tomoyo... Sonhei aquilo de novo...' Tomoyo pareceu compreender.
Tomoyo (abraçando a prima): 'Sakura-chan...'
Sakura: 'Eu vejo rostos, eu vejo vultos e no final eu vejo duas pessoas lutando... Sempre e sempre...'
Tomoyo (acariciando os cabelos da prima): 'Foi só um pesadelo, Sakura... Nada disso aconteceu ou vai acontecer...'
Sakura (sem parecer notar as palavras de Tomoyo): 'Eles lutam muito... Então um deles cai... O outro fala algumas coisas para o primeiro... Ele parece que vai desistir e eu tento ir ajudá-lo, mas não consigo me mover! Não consigo! Aquele homem levanta a espada para aquele caído ao chão e o ataca. E eu vejo quem é!! Eu vejo!'
Tomoyo (tentando acalmar a prima): 'E quem poderia ser, Sakura? Quem?'
Sakura (decepcionada): 'Eu vejo, eu reconheço... Mas toda vez que eu acordo...'
Tomoyo (suspirando): 'Você se esquece do rosto...' Sakura concordou levemente com a cabeça e Tomoyo suspirou novamente. 'Já faz quase um mês que você anda sonhando com isso, Sakura-chan. Não é hora de contar para ele?'
Sakura (levantando os olhos): 'Para Xiao Lang? E para que eu faria isso?'
Tomoyo (tentando manter Sakura calma): 'Ele é um psiquiatra, Sakura-chan... Ele entende de sonhos. Se isso tiver algum significado, ele saberá qual é.'
Sakura (desviando o rosto do da prima): 'Não! Não falei nem para Eriol e não será para aquele maldito cabeça dura que irei falar!'
Tomoyo (tentando disfarçar sua decepção): 'Já não está na hora de vocês pararem com esta briga boba?' Sakura pareceu indignada com as palavras da prima e voltou a encará-la.
Sakura (indignada): 'Parar? Briga? Eu fui sincera com ele, Tomoyo! Eu admiti que errei, pedi perdão! Eu aceito que ele não me perdoe, mas pelo menos pare de me tratar tão mal! Como você pode chamar minha situação de boba.' Tomoyo suspirou vencida.
Tomoyo: 'Desde que aquele ninja atacou você, desde que você brigou com Li e que Eriol apareceu... Desde esses dias você começou a ter estes sonhos. Não acha que tem a ver com tudo isso?' Tomoyo mudou um pouco de assunto, talvez fizesse a prima se acalmar e talvez tenha conseguido.
Sakura olhou para suas mãos em cima de seu colo, ainda sentada na cama ao lado de Tomoyo, pensou por instante nesta possibilidade. Não era a primeira vez que seus sonhos queriam lhe dizer algo... Mas o que poderia ser? Será que alguém iria morrer?!
Sakura arregalou os olhos, só em pensar em tal possibilidade sua espinha gelava e ela sentia seu corpo se arrepiar. Não podia permitir que isso ocorresse... Talvez Tomoyo estivesse certa e ela devesse dividir com mais alguém seu sonho.
Mas como poderia contar para Syaoran?
Logo que Eriol chegou e que finalmente Syaoran conseguiu rever sua mãe, sã e salva; assim que grande parte dos mistérios da vida do guerreiro chinês fora resolvida com a história de Eriol; depois dela saber finalmente seu papel naquilo tudo, se é que era um grande papel; Syaoran não dirigiu a palavra a ela, a não ser para lhe fazer escárnio, bem malvados, por sinal. Fora isso, o jovem chinês se dedicava exclusivamente a seus treinos, no intuito de se recuperar e estar apto para vencer aquele Tai Ming.
E isso já ocorria há um mês, assim como seus próprios resultados em um mês foram assustadores e seus sonhos, sempre os mesmos sonhos, que ocorriam desde do dia que soubera da história do Clã Li.
Sakura suspirou audivelmente e voltou seu olhar para Tomoyo. Em seguida, resignada de que nada adiantaria suspirar ou reclamar do que estava acontecendo, jogou seus cobertores para o lado, forçando suas pernas, que já a obedecia consideravelmente e pediu ajuda à prima para sentar-se em sua cadeira de rodas. Uma que logo ela não precisaria usar mais.
Se fosse há alguns anos, ela estaria totalmente feliz em saber que recuperara grande parte de seus movimentos em tão pouco tempo. Mas agora... Agora havia muito mais do que a simples vida que ela levara depois do seu "acidente".
Tomoyo: 'Já vai começar com seus exercícios? Ainda é muito cedo...'
Sakura (determinada): 'Quero ainda este mês poder andar sem esta cadeira... Nem que tiver que usar muletas.' Tomoyo sorriu lindamente, Sakura era a menina mais corajosa e determinada que conhecia, mesmo que ainda tivesse aquele ar tímido e delicado. Com certeza era uma guerreira, fosse em um campo de batalha, fosse na vida.
Tomoyo (já empurrando a cadeira): 'Então vamos logo, temos muito que fazer. Como Meylin-chan está ajudando Li-san, cabe a mim a sua melhora. Meylin- chan conta comigo, hein?!' E balançou levemente a mão no ombro da prima que riu com as palavras. Como era bom ouvir Sakura rir de novo...
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Eriol tomava chá calmamente na sala de estar da mansão. As chamas crepitavam lentamente na lareira, assim como fora no dia que decidira finalmente agir.
Tanta coisa acontecera desde então... O resgate de Yelan, as forças drenadas depois de ter que gastá-la no resgate e na recuperação da maga chinesa e finalmente sua chegada no Japão.
Não fora fácil salvar a senhora... Mas muito mais difícil foi contar aquela história para seus amigos. Principalmente para Syaoran... E por que não para Sakura? Havia muito mais naquele conto que ele não julgara correto contar... Não cabia a ele decidir o destino dos dois, apenas a eles mesmos.
Voz masculina (sarcasticamente): 'Pensando em mim?'
Eriol (depois de tomar um gole, sorrindo): 'Não, meu caro, só penso em você quando estou no banheiro.'
Syaoran (sorrindo irônico, aproximando-se do amigo): 'Engraçadinho... Pelo menos eu sei que pensa em mim.' Disse em um tom cínico, como fora o de seu amigo.
Eriol (voltando seus olhos para o chinês que se sentava pesadamente): 'Já está se esforçando desse jeito?'
Syaoran (encostando-se confortavelmente no encosto da poltrona): 'Nada que alguns minutos de descanso não possam recuperar.' E fechou os olhos, com um sorriso irônico nos lábios.
Eriol (olhando o amigo cautelosamente): 'Você sabe que ainda não recuperou todas as forças, não é?'
Syaoran (abrindo os olhos lentamente): 'Isso não quer dizer que não possa treinar... O ferimento ainda dói, mas já está praticamente cicratrizado.'
Eriol (voltando a tomar seu chá): 'Impressiona-me a rapidez como seus machucados se cicatrizam. Não faz nem um mes que você esteve entre a vida e a morte... Agora já está inteiro.' Syaoran fechou sua expressão com o comentário.
Syaoran (olhando seriamente o amigo): 'Isso também me intriga, Eriol. Quando Saigo me atingiu, pude jurar que não iria sobreviver. Apaguei totalmente, não via, nem ouvia, nem sentia nada. Só que... Não sei quanto tempo depois, senti vida em mim, como se energia fluísse em minhas veias invés de sangue...'
Eriol (olhando fixamente o amigo): 'Você não conversou com Sakura sobre aquele dia ainda, conversou?' Syaoran fez uma expressão de desgosto quando ouviu tal nome.
Syaoran (resmungando): 'Por que eu deveria falar com aquela fal...' Diante do olhar sério de Eriol, Syaoran resolveu não terminar a palavra. Não seria recomendável irritar o inglês no estado que se encontrava, por mais difícil que parecia fazê-lo, já que Eriol era o cúmulo da calma. Mas quando se tratava de Sakura, Eriol sabia ser mais firme e às vezes duro, para defendê- la.
Syaoran sentiu seu sangue correr mais rápido e uma sensação estranha em seu peito... Pensar em Sakura... Sendo defendida por outro alguém... Parecia tão estranho quanto pensar em um elefante voando. Riu internamente... Que comparação estranha...
Eriol (fechando os olhos enquanto terminava seu chá): 'Sakura saberá te explicar melhor que eu o que o fez sentir de tal maneira... Deveria parar com esta briga tola e perguntar para ela. Posso te garantir que sua recuperação súbita tem muito a ver com o que você sentiu naquela noite.
Invés de reclamar novamente, como seria o mais comum da parte do jovem chinês, este ficou quieto, como se analisasse a proposta. Ainda sentia grande raiva da jovem feiticeira... Mas, por quê não admitir, sentia muito mais curiosidade em saber o que havia ocorrido naquela luta. Sabia que fora ferido gravemente por Saigo, tinha certeza absoluta que iria morrer, no entanto, não foi o que ocorreu... E isso o intrigava demais.
Eriol (cruzando seus dedos em seu colo e encarando o amigo): 'Só que agora eu tenho outro assunto a tratar com você...'
O guerreiro chinês voltou de seus pensamentos e olhou o amigo. Novamente estava sério, mas era uma seriedade diferente. Se a primeira tinha um certo ar de raiva, irritação, que Eriol jamais admitiria ter sentido, agora era um ar preoupado, deveria ser um assunto, talvez, mais delicado. Endireitou- se na poltrona e observou o inglês, esperando que ele concluísse o que começara. E foi isso que o mago fez.
Eriol: 'Quando falávamos sobre o que estava ocorrendo... Sobre suas origens, o clã Li e o que ocorreu com sua mãe... Percebi que você ficou bastante tenso quando Yelan disse quem era o Segundo Grande Líder e arrisco- me a dizer que não foi por saber que era você.'
O rapaz que ouvia sorriu internamente, mesmo que amargamente. Eriol, com certeza absoluta, era muito, muito perspicaz. Fora apenas um momento, um mísero segundo, mas ele não deixara passar. Eriol percebera, em pouco tempo, a cara de espanto de Syaoran quando ouviu sua mãe pronunciar o nome de seu pai.
Syaoran (fingindo-se indiferente): 'E qual o problema?'
Eriol (soltando um leve suspiro sarcástico): 'Não me enganei, não é?' Syaoran não respondeu, apenas continuou a encarar o amigo. 'Quando o assunto é Li Shang, você fica pior do que quando falamos sobre sentimentos.' Por que será que Syoaran teve a leve impressão que ele se referia à Sakura?
Syaoran (sorrindo de lado): 'Talvez por que eu o odeie mais que à ela?' Eriol sorriu com o comentário.
Eriol (encostando-se no encosto de sua poltrona): 'Se a questão é ódio... Então acho que não devo me preocupar.' Syaoran estreitou os olhos.
Syaoran: 'O que você quer dizer com isso?' Eriol mantinha o mesmo sorriso enigmático, aquele mesmo que tanto irritava Syaoran. Mas para não fazê-lo demais dessa vez, resolveu responder.
Eriol: 'Se você diz odiar seu pai mais do que à Sakura... Então, provavelmente, você está sendo irônico... Logo, eu não devo me preocupar.' Syaoran levantou uma sombrancelha com a observação. 'Oras, creio que você saiba que quando falamos com ironia, dizemos uma coisa querendo se referir ao exato oposto dela.'
Syaoran (impaciente): 'Eu sei muito bem o que é ironia, Eriol. Não se preocupe em me avisar.' Eriol segurou o riso. 'O que não consigo compreender é... De onde você tirou a idéia de que eu, Li Syaoran, esteja interessado naquela japonesa? E muito mais... Como ousa dizer que não é ódio o que sinto por aquele covarde que eu tenho vergonha de chamar de pai.'
Eriol (fechando o sorriso): 'Há muito mais do que covardia nessa história, Li... E se eu não sou o indicado para falar sobre esse assunto, pelo menos o sou para falar sobre Sakura... E ela não fez nada a mais do que julgou correto para você se achar no direito de sentir ódio por ela.'
Syaoran (virando o rosto): 'Meu pai foi um covarde, Eriol. E você melhor do que ninguém sabe disso...' Fugiu ligeiramente do assunto.
Eriol (sorrindo com a atitude do amigo): 'Sei o que você me contou, Xiao Lang... Mas isso não é suficiente. Você já se perguntou por que razão ele agiu daquela maneira?'
Syaoran (voltando seu rosto com raiva para o amigo): 'Sei que ele foi um covarde! Que perdeu uma luta contra Tai Ming! E para poupar sua vida, jurou ir embora do clã aos pés do seu inimigo!' Nesse ponto Syaoran já sentia as faces vermelhas de raiva e vergonha do pai... Nunca agiria daquela maneira... Nunca permitiria se vencer! E se assim fosse, jamais pediria clemência de maneira tão covarde e sem honra como seu pai fizera. Se tivesse que morrer, morreria! Mas jamais permitiria que seu inimigo o fizesse pedir clemência!
Eriol (balançando a cabeça de um lado para o outro): 'Você apenas encherga o que seus olhos vêem, meu caro...'
Syaoran (ainda com raiva): 'Eu vejo aquilo que senti! Aquilo que sofri! Aquilo que me fez sentir tamanha humilhação! Eu vejo os risos e o desprezo dos outros membros do clã quando sabem que sou filho de Li Shang, aquele que implorou clemência em batalha e fugiu, deixando mulher e filhos!'
Eriol (olhando compreensivamente para Syaoran): 'Sei que não foi fácil, Xiao Lang... E sei que você é o último que merece ser tratado com indiferença ou desprezo... Conheço seu potencial e sei que você será um grande líder no futuro... Mas nem todos sabem disso e assim como você está fazendo, eles só vêem o que está diante dos seus olhos. No entanto, não me agrada nada crer que você pensa como estas pessoas sem sabedoria e sem o valor que tanto você quanto seu pai têm.'
Syaoran (abaixando os olhos e falando quase em um sussurro): 'Se meu pai tivesse sido tão valoroso... Jamais eu teria que ver minha mãe chorar escondida de mim e minhas irmãs.'
Por um momento... Eriol não soube o que falar... Ou talvez achou melhor não falar... Se Syaoran um dia pudesse ou tivesse que saber de toda sua história, não seria ele quem iria contar... Não cabia a ele... "Novamente" Concluiu Eriol com um suspiro pesaroso.
# # #
Gotas de suor desciam por sua face, pescoço e seu peito nu. Depois de mais um salto realizado com maestria ele pousou como uma pluma no chão e apoiou sua espada no mesmo, respirando fundo, revigorando suas forças. Olhou para o enorme jardim da propriedade, talvez não tão grande como o da sua, mas certamente mais acolhedor. Estivera treinando ali por longos minutos, talvez horas, isso ele não sabia precisar.
Depois de mais um longo suspiro, novamente retomou sua posição de ataque, sua espada ao lado de sua cabeça, dando um ar arisco e selvagem ao seu ser, como um lobo, prestes a atacar sua presa. No entanto, seu objetivo não era tão violento. Ele, ao menos, pretendia golpear com mais força, com mais rapidez, com mais agilidade, apenas saltar mais alto e com mais vivacidade, superar seus limites, alcançar as barreiras que o prendiam à classe dos simples mortais e poder dizer que foi o melhor; Mais que isso, fazer jus ao seu título de melhor e acabar com seu tormento e das pessoas que amava ao derrotar aquele que era o motivo de seu treino.
Ele golpeou, atacou e defendeu, contudo, seu inimigo era apenas o ar, um inimigo invisível; mas o ar tem suas artimanhas e seus aliados e a gravidade era um deles. Esta dura e sem compaixão, o obrigava em tempos e tempos parar, relaxar e subir ás alturas novamente, para mais uma vez ter de tocar o solo.
Mais um e mais outro golpe vieram e seu suor agora refletia a luz do sol em seu corpo definido pelos anos de treino. Um enorme curativo se fazia visível, talvez apagando um pouco do brilho em sua pele, talvez incomodando demais a ele.
E foi este mesmo curativo, na verdade, este mesmo ferimento encoberto pelo primeiro, que o obrigou a parar mais uma vez. A dor não era lasciva, mas era forte, teimava em repuxar seu corpo e sua pele recém cicatrizada e mais uma vez ele apoiou a espada no chão, respirando mais ofegante do que antes.
Uma presença chamou sua atenção, obrigando-o, por orgulho, a recuperar a austeridade ligeiramente perdida pelo momento de descanço.
Syaoran: 'O que quer?' A jovem, aquele vulto que observava atentamente ao guerreiro minutos antes, vacilou um pouco antes de finalmente conseguir voz para responder.
Sakura: 'É tarde, Li. Todos estão na sala conversando e sentem sua ausência...'
Syaoran: 'Voltarei quando achar propício.' Talvez não rude, mas certamente não educado.
Sakura (depois de um suspiro): 'Treinar por tanto tempo apenas o fará gastar energias à toa... Seu ferimento irá abrir e...'
Syaoran (interrompendo-a e voltando-se para encará-la): 'O que irá acontecer comigo só diz respeito a mim.'
Sakura (desviando o olhar, enquanto girava sua cadeira de rodas para sair dali): 'Faça o que achar melhor...'
Um momento de dúvida, um segundo de vacilo antes que ele resolvesse falar.
Syaoran: 'Você...' A jovem parou no mesmo instante. 'Eu... Queria agradecer...' A jovem prendeu a respiração por um segundo, supresa, e em seguida voltou-se novamente para o rapaz com olhar inquisitor. O rapaz respirou fundo diante do olhar atento e profundo daqueles olhos verdes. 'Por ter me salvo... Contra os ninja e...' Como era difícil fazer aquilo... 'Por oferecer sua ajuda em me ajudar contra Tai Ming.' Pronto, havia falado.
Contudo, Syaoran se sentiu extremamente ansioso, o que não deveria, já que havia dito o que estava tentando falar há mais de dois meses, desde a última conversa com Eriol, quando conversaram sobre a jovem e seu pai. Mas era assim que ele se sentia... Expectativa definiria melhor ainda... Ele queria saber o que ela sentia, o que ela achava, o que diria e este pensamento perdubou-lhe a alma: E o ódio que sentia pela jovem japonesa?
Sakura olhou atentamente para o rapaz, sem se mover, há uns três metros de distância dele, os mesmo metros que estava quando chegou ali e viu-o lutar. Ela olhava-o com apreensão, buscando um sinal de ironia ou de maldade em sua voz, mas nada havia, apenas sinceridade. Ele agradecia... E ela não compreendia exatamente por quê, já que não fora ela que...
Sakura: 'Não fui eu que o salvei...' Syaoran voltou o olhar que desviara segundos antes para a jovem, dúvida podia ser vista em sua expressão. Sakura respirou fundo antes de continuar. 'Não fui eu que o salvei da morte quando Saigo o atacou...'
Syaoran (não compreendendo): 'Mas como? Se só havia nós ali... Tsukishiro e Touya não chegaram há tempo, eles já me falaram isso... Disseram-me que você não contou nada, apenas estava caída ao meu lado e ao de Saigo, com sang...' No entanto, Syaoran não terminou a frase... Sabia que fora Sakura a responsável pela morte do ninja. Mas será que ela já teria aceitado tal idéia? Aparentemente, não. Não pela expressão de dor que ele viu de relance nos olhos dela, que logo passaram.
Sakura: 'Com sangue em meu corpo, eu sei. Sangue de um homem... De um homem que eu matei.' Terminou ela com determinação. Já aceitara o fato de tê-lo feito, mas nada a fazia se acostumar totalmente com a idéia. Em sua infância, jamais pensara por um segundo, que seria capaz de tirar a vida de alguém. Contudo, na vida somos obrigados a tomar certas decisões, duras ou não. Se não fosse o ninja, seria ela... E até mesmo Syaoran. Sakura recuperou a postura antes de continuar. 'Mas mesmo assim... Não fui eu que o salvei.'
Syaoran (ainda sem entender): 'Então... Como?'
Sakura (encarando-o): 'Quando finalmente a luta acabou... Eu estava esgotada, preste a desmaiar, enquanto achava que você estava morto.' Visto a dúvida no olhar do rapaz, a moça continuou. 'Mas eis que... Eis que um vulto entrou na sala e me falou que estava errada... O mesmo vulto que me salvou de Saigo quando ele me usara como escudo contra você.' O jovem arregalou os olhos.
Syaoran (com as faces contraídas): 'E quem era ele?'
Sakura (sorrindo fracamente): 'Ela... Era ela, não ele... Não sei quem é. Apenas sei que ela disse que você ainda estava vivo, que apenas lhe faltava energia para suportar a fraqueza e a dor até que alguém te socorresse.' Fez uma leve pausa antes de continuar. 'Como eu já estava sem energias, me desesperei. Mas ela se abaixou até seu corpo, estendido no chão, e forneceu sua própria energia para salvá-lo.'
Sakura contou a história rapidamente, querendo logo sair dali. Quando terminou, achou que já podia ir, as dúvidas dele já estava cessadas e agora ele podia entender como sobreviveu. Contudo, quando olhou para o rosto do rapaz mais uma vez, ficou confusa... Confusa quando... Quando viu Li Xiao Lang sorrindo singelamente para ela.
A jovem ficou desnorteada... Quantas vezes já vira aquele sorriso? Poucas... Se não, nenhuma. Não era escárnio, ironia, ou qualquer sentimento relacionado. Era um sorriso calmo, carinhoso, um agradecimento silencioso que ela não compreendia.
Sakura (olhando-o, confusa): 'O que...' Mas não sabia o que perguntar, apenas ficou olhando-o.
Por sua vez, Syaoran não via dúvidas em seu ato. Apesar de dever estar mais preocupado com as palavras dela – sobre a revelação a respeito da mulher misteriosa, aquela que o fez sentir energia circulando em seu corpo, o que o fizera ficar vários e vários dias sem entender o que ocorrera – ele nem ao menos se lembrava direito de tal ocorrido. Syaoran sorria sim... Mas não por finalmente saber da verdade...
Syaoran: 'Você... Ficou desesperada?' Sakura arregalou os olhos enquanto prendia a respiração. Finalmente compreendendo o que ele queria dizer. Como fora idiota! Como se deixara soltar tais palavras?! Era apenas dizer "Como eu já estava sem energias não pude ajudar." Mas não, sua boca era grande demais para falar só aquilo... Ou era seu coração que falara mais alto no momento?
Sakura desviou o olhar dele, não podendo encará-lo, não depois do que falou. Girou a cadeira sem responder à pergunta do rapaz, sairia dali sem precisar passar por outra situação embaraçosa.
Porém...
Syaoran: 'Você...' Sakura manteve a cabeça abaixada por vergonha, ainda de costas. Mas novamente... Novamente se viu obrigada a voltar a encará-lo. 'Você ainda não me deu chance...' O que ele queria dizer? Encarou-o, confusa e ele sorriu de lado 'Chance de ter minha revanche.'
Sakura ficou surpresa por um instante. Na verdade, por vários segundos. Estava surpresa demais. Primeiro, desde quando ele voltara a falar com ela? Segundo, que história era essa de revanche? Terceiro, mesmo com aquele sorriso debochado... Ele ficava tão... Ai ai! Pare de pensar besteiras Sakura!
Syaoran (percebendo o olhar confuso da moça): 'Você me venceu uma vez, nas montanhas, depois eu te venci. Estamos empatados, eu quero a revanche.' Ah, então era isso. Sakura forçou um sorriso, antes de responder.
Sakura: 'Creio que, infelizmente, ainda não posso realizar sua vontade, Li.' Fez alusão ao seu estado físico e Syaoran logo entendeu.
Syaoran: 'Eu também não me recuperei totalmente. Mas fica aqui o meu desafio.'
Sakura (acenando afirmativamente com a cabeça): 'Talvez em um ou dois meses eu consiga voltar a andar sem ajuda, de acordo com Meylin. Acho que é tempo relativamente suficiente para eu ter alguma condição de enfrentá-lo.' Syaoran apenas afirmou que sim e dessa vez foi Sakura quem sorriu de lado. 'Pois mesmo que eu não tenha recobrado minha musculatura, não devo precisar de todo meu potencial para vencê-lo.'
Syaoran (sorrindo de lado e cruzando os braços): 'Eu esperarei pacientemente para provar como você está errada.' Sakura devolveu o sorriso e logo voltou a se virar, pronta para entrar na casa. Syaoran apenas observou-a sair dali.
Sakura: 'Não demore muito. Já fiz um grande favor para Eriol vindo te chamar.'
Syaoran não pôde deixar de sorrir com o comentário. Eriol não prestava mesmo, não perdia uma oportunidade para tentar fazê-los se reconciliar. Contudo, logo seu sorriso se fechou, por mais que tivesse conversado com Sakura agora, isso não fazia com que se esquecesse do que ocorreu. Ela mentira e como dissera já várias vezes para si mesmo, talvez em uma tentativa de fixar isso na mente, ele jamais a perdoaria.
Em seguida, Syaoran voltou-se para o outro lado, apertando sua espada nas mãos e voltando a realizar seus golpes marciais. Um pouco mais de treino não faria mal a ninguém.
# # #
Era tarde da noite quando ela sentiu necessidade de aliviar sua sede. Vestiu seus pequenos chinelos bordados e colocou um robbie branco com alguns tons em violeta por cima de sua camisola na mesma tonalidade. Saiu lentamente e silenciosamente de seu quarto, para não acordar ninguém. Logo desceu as escadas a caminho da cozinha.
Contudo, uma luz a fez parar na metade de seu trajeto, há alguns metros de si, onde ficava uma das salas da casa, saía por baixo da porta luzes, claramente luzes de uma lareira. Por um momento hesitou, talvez fosse melhor deixar quem estivesse ali em paz, virou-se novamente para seu caminho e voltou a andar, relutantemente, sua curiosidade falando alto.
...
Minutos depois de aliviar sua sede, ela voltou por onde veio, quase esquecida da luz no corredor. Mas aquela chama estava tentando-a a observar o que ocorria na sala ao lado e dessa vez, com sua sede já cessada, nada pôde fazê-la recuar e ela abriu lentamente a porta do aposento.
A chama da lareira dançava calmamente, colocando tons entre vermelho e amarelo pelo salão que, sem o fogo, estaria totalmente escuro na noite. Ela andou alguns passos, procurando alguém que estivesse ali, duvidando que tivessem esquecido a lareira acesa.
Voz masculina: 'A que devo a honra da companhia?' A moça levou um susto considerável, colocando a mão pálida em seu peito. Respirou fundo por segundos, tentando controlar as batidas velozes que o susto causou-lhe. O dono da voz levantou-se da poltrona em que estivera sentado, oculto anteriormente para ela, uma vez que o assento estava de costas para a entrada da sala e de frente para a lareira. Os belos olhos azuis dele encontraram os violetas da moça. 'Sinto muito se a assustei, Tomoyo.'
Tomoyo olhou levemente assustada para o jovem inglês, mas logo seu susto inicial começou a passar. Assim que pôde controlar sua respiração ela analisou melhor o rapaz, este vestia um longo robbie azul marinho de seda que cobria seu pijama azul claro, seus cabelos estavam alinhados como sempre e em seu pé havia chinelos de inverno como os dela. Entretando, o que chamou a atenção da jovem foram os olhos do rapaz, que pela primeira vez, ela podia dizer com certeza, não estavam encobertos pelos aros finos dos óculos do inglês. Belos olhos azuis ele tinha.
Eriol (sorrindo para a jovem enquanto esta o analisava): 'Não fui eu a causa da sua "caminhada noturna" pela casa, foi?'
Tomoyo (parando de analisá-lo e olhando-o nos olhos): 'De maneira nenhuma, Eriol-san. Tive sede e vim buscar um copo de água.' Eriol manteve o sorriso e Tomoyo não soube mais o que falar, por um momento as palavras fugindo de sua boca. Desde quando agia dessa maneira? 'Está sem sono?'
Eriol: 'Sim... Estive pensando em alguns problemas e perdi o sono. Vim me aquecer enquanto buscava pelo por ele.' À menção da palavra "problema" Tomoyo imediatamente assossiou-a com a prima. Uma vez que era só isso que Sakura tinha nos últimos tempos.
Tomoyo (ligeiramente vacilante): 'Por acaso... Por acaso estes problemas têm a ver com Sakura?' Eriol sorriu com a perspicácia da jovem. Movimentou- se para o lado levantando uma de suas mãos educadamente.
Eriol: 'Gostaria de se juntar a mim por um momento? Ou estou atrapalhando seu sono?'
Tomoyo (aproximando-se do jovem): 'Acho que prefiro ficar aqui uns instantes.' A possibilidade de ouvir um pouco sobre o que estava ocorrendo com Sakura e que ela, Tomoyo, pouco entendia, foi mais forte do que sua vontade de dormir e ela se sentou ao lado da poltrona de Eriol, em outra. O mago sorriu e se juntou à jovem.
Eriol (depois de um momento de silêncio): 'Sim.' Tomoyo olhou interrogativa para o jovem e ele logo continuou. 'Meus pensamentos estavam nos problemas de Sakura... E de outras pessoas também.'
Tomoyo (sorrindo tristemente): 'Nos problemas entre Sakura e Li, você quer dizer, não?' Eriol não respondeu a pergunta, Tomoyo já sabia a resposta.
Ficaram em silêncio por vários instantes, antes que a jovem conseguisse encontrar coragem para dizer o que pretendia.
Tomoyo: 'Eu sinto... Eu sinto tanto medo por Sakura-chan.' Eriol resolveu não interromper, parecia que a jovem diria algo mais e não seria ele que iria impedir. 'Desde que Sakura se viu envolvida com magia e feitiços... Ela só tem sofrido.' A jovem falou com pesar, mas quase em um sussurro. Eriol gostaria de confortá-la, contudo, as palavras dela eram verdadeiras e ele não podia fazer nada contra isso. 'Primeiro o perigo que ela corria atrás das cartas, depois o juízo final, a luta contra você; em seguida aquela viagem maluca para as montanhas na China, que quase me matou de preocupação pelas poucas notícias e nenhuma visita...' Fez uma leve pausa, enquanto uma lágrima escorria por seu rosto. 'Então a morte do pai... A perda dos movimentos... A esperança perdida por vários anos... O reencontro com Li, que quase a fez ficar louca tentando se manter oculta a ele... E finalmente... Finalmente o dia em que ela matou pela primeira vez...'
Um silêncio incômodo surgiu, Eriol não se atrevia a olhar a jovem, seu sorriso desaparecera de seu rosto, enquanto Tomoyo deixava as lágrimas descerem sem barreiras por seu alvo rosto.
Era tão triste tudo o que ocorrera com sua querida prima, queria tanto poder ajudá-la, confortá-la, evitar que ela sofresse... Mas nada podia fazer, era uma simples humana, sem poderes, sem magia, sem, nem ao menos, força física. Contudo, ali, ao seu lado, estava alguém que sempre tivera o poder de ajudar Sakura, mas nada fez, não esteve nem ao menos presente quando ela perdeu o pai...
Tomoyo olhou subitamente com um ódio incontido para Eriol. Se não fosse pela aparição dele, se não fosse por aquelas malditas cartas que o Mago Clow, que um dia ele fora, criara, se não fosse pela insistência dela ir para as montanhas... Nada... Nada... Nada disso teria acontecido!
Tomoyo (com amargura na voz): 'Você... Você é culpado pelas tristezas na vida de Sakura...' Eriol não se manifestou diante do desabafo da jovem, simplesmente manteve seu olhar no fogo, ligeiramente abaixado. 'Sem essas malditas cartas, sem essa maldita magia, sem esses malditos poderes que você quis que ela possuísse! Nada disso precisava estar acontecendo, nada!' Ela soltou, quase não podendo conter o tom na voz, independente da hora que era. Mantinha suas mãos firmemente apoiadas no colo, enquanto sua cabeça estava abaixada, evitando que ele pudesse ver suas lágrimas.
Apenas os soluços da jovem podiam ser escutados na sala. Nada mais.
Tomoyo (tentando controlar suas lágrimas): 'E você nem ao menos esteve presente quando ela perdeu o pai... Nada fez quando ela estava preste a matar um homem!' Nesse momento a jovem voltou o olhar para o jovem, que neste segundo tinha a cabeça totalmente abaixada, seus olhos fechados, uma leve expressão de pesar em seu rosto. 'Você não é o amigo que sempre disse ser! Você a abandonou! Você a deixou no momento mais difícil! Eu vi o tanto que ela chorou! Eu vi o tanto que ela sofreu! Você nunca vai saber o que foi ter que ver a pessoa que você mais ama no mundo morrendo de tristeza a cada dia.' Tomoyo se controlava, ou pelo menos tentava, com todas as suas forças para não gritar e pular no pescoço do rapaz. Era tudo o que ela desejava fazer no momento, mas que sua moral, ou qualquer sentimento de amizade, evitava que ela concretizasse.
Diante das últimas palavras da jovem, um leve sobressalto se fez perceptível no corpo de Eriol. "Você nunca vai saber o que foi ter que ver a pessoa que você mais ama no mundo morrendo de tristeza a cada dia." Sim... Talvez ele nunca tivesse sentido aquilo... Talvez ele nunca tivesse amado alguém suficientemente para saber o que era aquilo. Seus guardiões, seus amigos, seus únicos amigos, já que, nem ao menos, tinha família... Será que eles tinham tão pouca importância assim na vida dele? Será que era justo o que a jovem dizia... "A pessoa que você mais ama no mundo..." Será que existia alguém assim para ele?
Tomoyo secou suas lágrimas com força, seu rosto branco como a neve vermelho pela raiva desabafada. Em seguida, a moça levantou-se de sua poltrona, sem poder mais ficar na presença do rapaz. Não suportava mais aquele clima... Levantou-se e começou a dar passos para se retirar...
Contudo, uma mão carinhosamente segurou seu pulso, impedindo que ela continuasse. Tomoyo parou no mesmo lugar, ainda com a cabeça baixa.
Eriol (quase em um sussurro): 'Você está certa...' A jovem ficou ligeiramente surpresa, enquanto Eriol levantou-se, ainda coma a cabeça abaixada, atrás da jovem. 'E eu sinto muito...'
Eriol segurou mais firmemente o pulso da jovem e esta se virou para o rapaz, tentando buscar o que ele sentia nos olhos deste. E ela encontrou o olhar dele e se surpreendeu, se não... Se arrependeu do que disse. Os olhos do mago inglês continham tristeza, dor, angústia, num misto tão intenso que doeu no coração da jovem vê-lo daquela maneira.
Eriol (olhando-a com pesar): 'Eu não estive presente quando Sakura precisou... Eu... Ele... O mago Clow que um dia eu fui... Foi o responsável pelas cartas que hoje são de Sakura, portanto, também são minha responsabilidade... Eu não a consolei quando deveria... Eu...' Eriol parou por um segundo, olhando profundamente nos olhos violetas e agora vermelhos de lágrimas de Tomoyo. 'Eu falhei... Eu falhei com uma das pessoas que eu mais amo... A pessoa que você mais ama...' Tomoyo não sabia o que dizer. 'Eu sinto muito... Eu sinto muito e... Estou aqui para reparar meus erros...'
Nenhum dos dois desviou o olhar do outro. Tomoyo tentando se controlar para não abraçá-lo e pedir perdão pelas palavras duras. Ele tentando buscar conforto nos olhos dela.
Eriol: 'Eu peço perdão... Para Sakura... E para você... Peço perdão e... Peço... Ajuda...' Falou pausadamente, buscando as palavras certas. 'Eu não quero falhar de novo, Tomoyo... Nem com Sakura... E nem com você...' Dessa vez a jovem não pôde mais se segurar e se aproximou, mesmo que lentamente, do rapaz. Este não se moveu, até que sentiu os braços dela rodearem sua cintura.
Eriol devolveu o abraço, tentando buscar ajuda, tentando buscar apoio para suportar todo a obrigação que seus poderes o faziam ter para consigo e para com os outros. Abraçou Tomoyo com força, abaixando levemente a cabeça ao lado esquerdo do pescoço dela.
Um misto de calor e conforto tomou conta do coração e do corpo dos dois jovens angustiados. Tomoyo não sabia identificar com exatidão o que seria aquilo e nem mesmo Eriol. Só sabiam que queriam ficar assim o tanto que pudessem, o tanto que o outro permitisse. Confortando e buscando conforto nos braços do outro.
Ficaram assim por vários minutos, até que se viram obrigados a afrouxar o abraço, talvez com medo da reação daquele(a) a sua frente. Contudo, mantiveram seus braços envolta um do outro, olhando-se nos olhos, um pouco da angústia e da dor abandonando-os.
Os olhos de um chamavam pelos do outro e eles se sentiam atraídos, cada vez mais. Eriol aproximou lentamente seu rosto do da jovem, enquanto esta levantava o seu próprio, assim como seus pés, inconscientemente.
Eriol olhou para aquelas orbes violetas como se estas clamassem pelas suas azuis, poucos centímetros do rosto de Tomoyo. Mas ele logo percebeu o que estava fazendo e e alterou levemente sua trajetória, chegando mais perto e raspando sua face levemente na face esquerda dela, enquanto alcançava o ouvido da jovem.
Eriol (em um sussurro): 'Obrigado...' Tomoyo sentiu seu corpo se arrepiar e o rapaz logo voltou sua face para olhá-la nos olhos, os seus um pouco menos pesados de tristeza. Sorriu calmamente para a jovem, que ainda se mantinha levemente tensa pelo carinho que o suspiro em seu ouvido fizera, e soltou- se lentamente dela.
A garota ficou parada em seu lugar, olhando o rapaz com expressão levemente alterada de surpresa e ele cumprimentou-a do modo educadamente inglês, beijando ternamente a mão dela. Em seguida olhou-a mais uma vez nos olhos e se retirou.
Enquanto Tomoyo não se viu possibilitada em fazer nada por alguns segundos. Assim que pôde, voltou-se para a porta e saiu lentamente pelo mesmo caminho que o jovem inglês fizera momentos antes dela.
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Mais ou menos um mês se passara desde o último encontro entre Sakura e Syaoran no jardim da casa. A jovem, finalmente, conseguira dormir algumas noites sem ter aqueles pesadelos. Não sabia por qual motivo, mas se aliviava pela oportunidade adiquirida.
E para preencher mais sua satisfação, finalmente ela estava conseguindo andar sem a ajuda das muletas. Sim, pois, há aproximadamente quinze dias, ela parara de usar a cadeira de rodas e agora, nem as muletas se faziam tão necessárias.
Meylin estava assombrada com os progressos de sua paciente, mas ficava feliz, ao menos. Ela estivera certa (mais uma vez se cabava) o problema de Sakura estava mais relacionado com o psicológico dela que com o físico. Mais algumas sessões e Sakura poderia se ver livre de Meylin, ao que a jovem japonesa protestava veemente, pois não era porque ela poderia andar que ela iria querer se ver longe da nova amiga; ao que Meylin respondia com um sorriso envergonhado.
Meylin (segurando uma das pernas de Sakura, empurrando-a contra a barriga desta): 'Mais força, Sakura, precisa desatrofiar mais um pouco seus movimentos.' Sakura estava deitada em uma cama enquanto Meylin jogava seu próprio peso em cima da perna da jovem.
Sakura (com os olhos fechados para tentar suportar a dor): 'Pelo menos quando eu não podia andar, eu também não sentia dor... Ai!'
Meylin (forçando mais ainda): 'Pare de reclamar tanto e termine o exercício. Mais uma semana e você se vê livre de tudo isso.'
Sakura (com um sorriso forçado no rosto): 'Se uma semana significa "pouco" para você... Pode ter certeza que para mim não é! Ai!!!' Dessa vez um estralo se fez ouvir e Sakura quase berrou com Meylin.
Meylin (sorrindo de lado): 'Não falei que ainda estava precisando de mais um pouco?' Sakura teve que se segurar para não xingar sua fisioterapeuta.
Tomoyo (entrando no aposento): 'Pausa para o lanche!' Finalmente alguém aparecia para salvá-la, concluiu Sakura.
Sakura (sentando-se assim que Meylin a soltou): 'Finalmente alguém aparece para acabar com a tortura medieval que a carrasca Meylin estava fazendo com a pobre e indefesa Sakura.' Disse Sakura dramaticamente, Tomoyo riu, equanto Meylin olhou de lado para a paciente.
Meylin (sussurrando perigosamente): 'Ainda nem fui buscar o chicote e o iron maiden (#)'. Sakura engoliu em seco, enquanto Tomoyo segurava o riso.
Tomoyo se sentia bem mais leve depois da conversa com Eriol, ao que todos, inclusive Sakura, notaram, apesar de não terem sabido de tal conversa. Eriol e ela estavam mais próximos e diariamente, antes do café-da-manhã, se uniam para dar uma volta pelo grande jardim da propriedade.
O jovem inglês se mostrara mais do que um cavalheiro, era conhecedor de plantas medicinais e de pássaros e outros animais. Além de várias estórias medievais que encantaram a jovem. Contudo, era na música que eles mais se entendiam. Eriol tocava piano e tinha um vasto conhecimento sobre música clássica, a favorita da jovem japonesa. De tanto que conversavam sobre tal gosto em comum, que o jovem sugerira um pequeno recital em família, onde ela cantaria e ele tocaria piano. De início ela recusara, sua timidez falando mais alto, mas logo isso estava mudando e Eriol tinha quase certeza que logo a convenceria.
Sakura adorou saber que eles estavam se entendendo. Por mais distraída que fosse, sabia da distância que Tomoyo teimava em manter de seu amigo, o motivo ela não conhecia (e nem conheceria, se dependesse do inglês e da prima). Mas a amizade estava fazendo bem à prima e isso era o que importava.
Por outro lado, Tomoyo nutria um certo receio que Touya se incomodasse com as conversas, por mais que Sakura dissesse que fosse besteira da cabeça da jovem. E realmente era, pois Touya andava muito distante em seus próprios problemas e pensamentos para notar alguma diferença no comportamento da noiva. O que era lastimável, da parte de um noive e que Sakura teimava em dizer que se tornaria pior com o tempo se o irmão não tomasse consciência de que tal casamento não faria nenhum dos dois felizes.
Entretanto, o importante agora era que a jovem de olhos violetas estava contente, mais leve e menos preocupada com os problemas da prima. Eriol estava ajudando-a a se acalmar, assim como ela fazia com ele.
Meylin (balançando a mão na frente do rosto de Tomoyo): 'Oooi... Tem alguém aí?' Tomoyo voltou de seus pensamentos e olhou sem graça para a chinesa. Sakura segurou o riso ao ver a prima naquele estado, tendo uma idéia do que seria aquilo. Meylin olhou estranho para a amiga. 'Você anda passando tempo de mais com a Sakura, Tomoyo. Está ficando avoada igual a ela.'
Sakura (parando de rir e olhando brava para a amiga): 'Ei!' Meylin teve que se abaixar para escapar da almofada que veio em sua direção.
As três riram por algum tempo e logo se sentaram à mesa, para degustar o lanche que Tomoyo fizera para elas.
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Era quase quatro horas quando Sakura finalmente se viu livre de Meylin. Depois do lanche que a prima lhes trouxe, a chinesa parecia ter redobrado as forças e a "tortura" se tornara pior. Mas ela não podia reclamar, finalmente conseguia andar sem a ajuda de nada e nem ninguém e isso era suficientemente bom para fazê-la se esquecer de qualquer tortura.
E era justamente por esse motivo que ela andava sorridentemente pelo jardim de sua casa. Sakura andava com uma espécie de bastão em sua mão, caso viesse a se esforçar demais e precisasse de apoio. O que ela duvidava, já que seus treinos noturnos (além daqueles que tinha com Meylin) já tinham acabado com essa necessidade. Porém, Tomoyo era protetora demais para permitir tamanha "irresponsabilidade" e como Touya apoiava totalmente a noiva em tal ponto, não havia nada que ela pudesse fazer para evitar isso.
Mas isso não era importante agora. Agora ela estava em seu jardim, aproveitando o vento, os pássaros e as flores que sua mãe tanto gostava. Sorriu com o pensamento, a mãe adorava as flores de seu jardim e por mais que ela não pudesse se lembrar da mãe, Touya e seu pai contaram bastante sobre ela para Sakura poder imaginar bastante coisa.
Sakura encarou seu bastão por um momento, uma vontade de manejá-lo surgindo subitamente. Fazia tempo que não treinava com bastões, talvez fosse hora de recuperar o tempo perdido. Mestre Lan não gostaria nada de saber que ela não estava se esforçando... E ela podia sentir o peso do bastão de bambu dele em sua cabeça. Sorriu com o pensamento, enquanto, inconsicentemente, levou sua mão no alto da cabeça, onde lembrava-se com mais nitidez dos golpes de seu mestre.
Esqueceu finalmente tais pensamentos e se encaminhou mais para o meio do jardim. Estava com suas roupas de exercícios e isso evitava qualquer tipo de incômodo que uma roupa feminina poderia lhe causar.
Logo se posicionou em sua costumeira pose de ataque, enquanto o bastão seguia lateralmente pelo seu corpo, sua perna esquerda levemente dobrada e adiantada da outra. Respirou fundo enquanto buscava concentração e logo deu o primeiro golp...
Voz masculina: 'Vejo que já está bem, não?' Sakura parou na metade do caminho e voltou-se para trás, mesmo que já soubesse de quem pertencia aquela voz debochada.
Sakura: 'Bem o bastante para treinar um pouco... Li.' Disse para o jovem a sua frente, que sorriu de lado.
Syaoran (descruzando os braços e se aproximando calmamente da jovem): 'Será que já está pronta para o nosso acerto de contas?' E parou a pouco menos de meio metro da jovem, que o olhou nos olhos, assim como ele fez com ela.
Sakura (olhando-o seriamente e logo sorrindo de lado): 'Suficientemente bem para vencer você.'
Syaoran sorriu no mesmo tom que a jovem e se afastou alguns metros de Sakura, posicionando-se com seu próprio bastão, que até segundos antes estava preso na lateral de sua cintura.
Syaoran (olhando desafiadoramente para a garota): 'Isso é o que vamos ver.' Sakura sorriu e se posicionou também.
# # #
(Continua)
28/06/04
Mary Marcato
(#) Iron Maiden, pelo o que me consta, é uma "máquina" de tortura medieval. Uma espécie de cabine (caixão) onde só cabe uma pessoa cheio de espetos. Se estiver errada, me consertem :)
OBS.: Queria apenas por em destaque alguns pontos sobre a conversa entre Tomoyo e Eriol. Tomoyo estava bastante nervosa naquele momento e qualquer problema relacionado com Sakura é responsabilidade de alguém, na opinião dela. Tomoyo ama Sakura, talvez não como pensa amar, logo ela não mede conseqüências quando o assunto é a proteção da prima. Ela foi injusta com Eriol, talvez não estivesse totalmente errada, mas também não estava totalmente certa; como Eriol também se acha culpado, ele acabou ficando quieto enquanto a ouvia. Não havia um "árbitro" na discussão entre eles, logo não se pode dizer que apenas um estava certo. Como eu estou me acostumando a dizer: "justiça é subjetiva". Provavelmente retomarei este tópico nos capítulos seguintes, mas resolvi deixar claro esta parte.
Comentários da autora: Prontinho! :) Para quem queria um pouco mais de "love" talvez tenha se decepcionado um pouco. Mas eu já dei uma boa dose de, digamos, romance entre Tomoyo e Eriol... Romance? Hehehe, o tempo dirá o que acontecera com este casal tão fofinho... Casal? Aiai, acho que já estou falando demais :P Para quem queria ver mais Sakura e Syaoran, infelizmente não deu para rolar nada mais que uma conversa "amistosa". Bom, os dois ainda estão relativamente brigados e eu precisava fazê-los se entender um pouco para depois... Depois fazer uma cena mais... Hm... Ao gosto da maioria :P Eu sei que vocês esperavam mais... Eu sinto muito... Mas isso foi tudo que deu para fazer. Mas esperem pacientemente, pois a luta entre Syaoran e Sakura não vai ficar só entre chutes e socos ¬-¬ (sorrindo maliciosamente). Mas! Já falei demais, né :P Espero algum comentariozinho óò sim???? Se quiserem mandar mail para mim, é marymarcato(arroba)hotmail.com. Ja ne!
Agradecimentos: Bom, como o capítulo anterior foi mais explicativo, acho que não deu para insentivar muita gente :P Mas eu agradeço a todos que sempre me mandam um review ou e-mail pedindo a continuação :) Muito obrigada! É por vocês que eu continuo. Ah! E só para não dar o gostinho para a Miaka... Digamos que o Tai Ming vai ter "suas dúvidas" se ele devia ter feito tudo o que fez, só pra mim dar um gostinho para vocês mas não comprometer o mistério da história :P
