.................. Desculpa!!!!!!!!!!!!!!!! T-T Desculpas, desculpas e mais desculpas... É tudo o que posso dizer... Gente, eu tive meus motivos e espero que vocês compreendam. Eu queria mesmo ter postado antes, mas foi praticamente impossível (só se eu tivesse me dobrado em três pra ter postado antes)... Olha, eu sinto mesmo pelo atraso e vou tentar compensar isso. Agradeço sinceramente a todos e todas que me pediram logo a continuação, mesmo... Vou fazer o possível para conseguir postar pelo menos a cada quinze dias (vou tentar fazer até menos que isso, se eu puder). Bom, o capítulo não está lindo maravilhoso, não porque eu não caprichei o máximo que pude, mas porque não está muito centrado em S&S e eu sei o quanto vocês gostam disso :) Novamente, desculpem-me a demora. Espero que gostem!


Capítulo 16: Entre o passado e o presente


A paisagem era escura, chuvosa, com raios e trovões; um dos maiores temporais da época. As ondas balançavam o enorme navio como se este fosse um pequeno barquinho. Mas não era o suficiente para afundar a embarcação, talvez mais devido a certos passageiros que ali se encontravam do que pela resistência deste em questão.

Ao se olhar no interior do navio, poderia-se constatar grandes divisões. A primeira, protegida pela superfície do navio, onde se encontravam enormes salões de festa e jogos para os poderosos e ricos; a segunda parte, os dormitórios de primeira classe; o terceiro, tratava-se do espaço entre a terceira classe e as grandes cozinhas que alimentavam todos os passageiros; a próxima, o bagageiro onde os mais ricos depositavam seus luxuosos carros e malas gigantescas; e finalmente, a sala de máquinas, vermelha e quente, cheia de fumaça e carvão.

No entanto, nada disso é suficientemente importante para se observar. O que realmente procura-se é um certo dormitório de primeira classe, dividido por um suposto casal renomado, vindo de Hong Kong.

No momento descrito, as luzes encontravam-se apagadas e convenientemente já não se ouvia nenhum dos barulhos... Entenda-se gemidos, que poderia ser ouvidos há quase meia hora. Contudo, apesar do silêncio, seus ocupantes não se encontravam no calmo mundo dos sonhos. Cada um estava no seu lado da cama, relativamente acordados, e sem ao menos se tocarem, como se o que houvera momentos antes nunca tivesse acontecido.

Apesar de todo o prazer carnal desfrutado anteriormente, nossos dois passageiros estavam ligeiramente tensos, talvez preocupados, mas provavelmente pensativos. Pensativos para encontrarem em suas brilhantes mentes a melhor maneira de concretizar os propósitos que os levara a viajar agora.

Mulher: 'Você acha que será fácil?' Subitamente perguntou a voz feminina, iniciando uma conversa, como se isso já estivesse ocorrendo.

Homem (numa voz neutra): 'O quê?'

Mulher: 'Vencer o Mestre das Cartas.' A mulher nem ao menos voltou-se para seu parceiro. E ele ficou em silêncio por instantes... Depois deu uma leve risada irônica antes de voltar a falar.

Homem (em tom leve e calmo): 'Não será a coisa mais difícil do mundo.' Pelo seu modo de dizer, parecia que o problema não tinha valor algum. Quanto à mulher, esta ficou quieta por vários segundos, como se não fosse falar.

Mulher (séria): 'Você não acha que isso é subestimar o inimigo?' O homem ficou quieto um momento, depois voltou-se para o corpo feminino, tocando o ombro dela e a fazendo virar de maneira um pouco bruta.

Homem (sério, olhando-a com expressão dura): 'O que você quer dizer com isso?' O corpo feminino e aparentemente frágil posicionou-se melhor para olhar o companheiro antes de responder.

Mulher: 'Saigo foi vencido. E pelo o que nos informaram, parece que Xiao Lang recebeu a ajuda do Mestre das Cartas para fazê-lo.' Fez uma pausa antes de continuar 'O próprio Xiao Lang não parece ter lutado com este homem... E se ele não o fez porque sabia que ia perder e não porque se aliou a ele?' Concluiu ela em tom neutro ao levantar tal questão.

O homem que a acompanhava olhou-a com olhos penetrantes por vários segundos antes de se manifestar. Soltou o ar preso em seus lábios em forma sarcástica, como se estivesse descrente do que a mulher falava e voltou seu corpo de forma que olhasse o teto do luxuoso dormitório. Ela não se moveu.

Homem (em tom leve): 'Por favor, Lin... Você realmente acha que eu me preocupo com um oponente que venceu Saigo ou seja mais forte que Xiao Lang?' disse em tom de certa forma divertida, anormal para uma pessoa como ele, demonstrando quase claramente que achava a idéia da mulher a mais estúpida de todas. Ela não respondeu e ele resolveu encerrar o assunto. 'Não se preocupe, Lin, não há razão, pelo menos não nesse sentido.' Lin Bai encarou o perfil de seu companheiro por instantes.

Lin Bai (quase em um sussurro): 'Eu não tenho tanta certeza disso...' Disse enquanto voltava suas costas para o homem mais uma vez.

O silêncio perdurou por vários minutos, como se não houvesse mais nada a se falar, ou como se já estivessem dormindo. Entretanto, o silêncio mais uma vez foi cortado, dessa vez pela voz grave e poderosa do homem ali presente.

Homem (em voz neutra): 'Há apenas uma coisa que me intriga...' Lin Bai não se voltou, mas ele sabia que ela o escutava. Continuou a falar, ainda olhando para o teto. 'A fuga de Yelan não foi sem ajuda...' Falou como se aquilo explicasse qualquer coisa. A mulher, por sua vez, ficou quieta e imóvel por alguns segundos, talvez refletindo. Depois, voltou-se mais uma vez para o parceiro.

Lin Bai (com o rosto bastante compenetrado): 'Você suspeita de alguém, Tai Ming?' O senhor mantinha uma expressão bastante parecida a dela, olhando fixamente para o teto, visto de perfil. Ele ficou assim, pensativo, depois voltou apenas seu rosto para olhar a mulher nos olhos.

Tai Ming: 'Havia resquícios de magia na câmara onde eu mantinha Yelan... Resquícios de uma magia poderosa, que poucos podem conjurar... Muito poucos...' Lin Bai observou Tai Ming por instantes, olhos centrados no rosto masculino, tentado descobrir o que ele queria dizer.

Lin Bai (ligeiramente alterada): 'Você acha que foi um dos anciãos?' Disse como se só agora a idéia lhe surgisse.

Tai Ming (pensativamente): 'Não... Não, já pensei nessa hipótese, mas duvido muito. Os anciãos pouco tinham de certezas em relação ao que ocorria com Yelan e eles não ousariam uma discórdia de tamanhas proporções que ocorre quando um ancião desafia outro...' Falou ainda pensativo. Parecia voltar ao passado, lembrar de algo que ele sabia e que os anciãos provavelmente também lembravam... E não ousariam fazer algo que causasse uma repetição de um episódio como "aquele". O mago estreitou os olhos, lembrando-se perfeitamente daquele dia, do dia em que Li Shang fora expulso do Clã por suas mãos...

Lin Bai (subitamente): 'Então, quem mais?' O homem piscou duas vezes, levemente aturdido, como se acordasse de algum transe. Voltou-se para a mulher, como se dissesse com os olhos para ela se repetir ou se explicar, e ao que ela supôs ser a segunda opção. 'Então... De quem mais você suspeita que não seja um dos anciãos? Alguém que tenha tão grande poder como você diz este ter...' O senhor encarou-a por momentos, antes de finalmente vir com uma resposta, voltando a encarar o teto.

Tai Ming: 'Primeiro eu suspeitei de certo homem... De grandes poderes e laços de sangue com Yelan para querer salvá-la... Mas eu duvido que ele esteja ciente do que anda ocorrendo no Clã Li, nunca se interessou, ainda mais com a vida que leva...' A imagem de certo ancião, localizadas em longínquas montanhas de sua mente, voltaram a aparecer e logo sumiram, fazendo o homem também voltar à realidade e continuar.

Tai Ming: 'Então... Depois de muito pensar e recordar de quem poderia ter alguma ligação com Yelan para ter coragem de entrar em nosso Clã e ter poder para concluir tamanha ousadia, pensei em outra pessoa...' Lin arregalou levemente seus olhos, como se um nome ou um rosto lhe viesse à cabeça, mas nada falou. 'E para tanto... Para entrar sem sofrer nenhum dano e burlar minha segurança... Lembrei-me de outro alguém, bastante ligado a Yelan, ou seria melhor dizer... Ligado a Xiao Lang...' E ficou quieto mais uma vez... Lin não ousava falar.

O homem finalmente voltou-se para ela e um leve brilho vermelho, mais vermelho passou pelos olhos dele, fazendo a mulher reconhecer aquilo como puro ódio...

Lin Bai: 'Você acha que esta pessoa é...' mas foi interrompida pela voz séria de Tai Ming.

Tai Ming (em um certo tom amargo na voz): 'Hiragizawa Eriol' Os olhos de Lin Bai se arregalaram ainda mais, como se estivesse totalmente surpresa com o nome. Não era bem dele que ela suspeitara... Mas era melhor assim, concluiu consigo. Ficou quieta, olhando o companheiro de "todas as horas" e acenou afirmativamente, parecendo concordar com ele e voltou-se mais uma vez para o seu lado, fechando os olhos para dormir.

Todavia, Tai Ming não fez o mesmo... Observava as costas da mulher e depois voltou seu olhar para o teto mais uma vez, cerrando eles, como se pudesse ver alguém desenhado na parte superior do quarto.

Tai Ming (em um sussurro cortante): 'Não irá me atrapalhar dessa vez... Mestre do Sol e da Lua...'


A jovem caminhava em seu passo decidido pelo enorme corredor daquela mansão. Estava tensa, pensativa... Queria e tinha que fazer algo e resolvera fazê-lo há pouco mais de uma semana, apenas. Contudo, a gigantesca tempestade que ocorrera tanto ali quanto em grande parte do Japão a fez aguardar um momento mais adequado... Talvez para melhor se preparar, talvez por receios de que tudo acabasse e ela tivesse que partir previamente...

Tudo o que ela não queria era voltar para seu clã antes de Xiao Lang. Todos aqueles anciãos davam-lhe arrepios, com algumas poucas exceções.

Chegou finalmente ao seu destino naquela casa e bateu levemente na porta. Sendo dada a permissão para que pudesse entrar, prendeu a respiração por um segundo a mais e entrou.

Sakura (vendo com felicidade quem entrava): 'Meylin-chan! Quanto tempo que eu não te vejo.'

Meylin (dando um sorriso meio fraco): 'Oras, Sakura... Não faz nem dois dias...'

Tomoyo (saindo de trás da porta do guarda-roupa onde procurava determinado acessório): 'Mas para quem mora na mesma casa, dois dias é relativamente bastante... Não concorda?' Meylin, que só agora percebia a presença da outra moça, deu um leve sorriso em concordância e permaneceu em silêncio.

Sakura (animada, sem perceber o rosto ligeiramente triste da amiga): 'Posso te ajudar em algo?' Meylin levou um pequeno susto, como se estivesse divagando e não percebesse ninguém a sua volta.

Tomoyo, com sua grande percepção, logo percebeu o estado de espírito da amiga e achou melhor deixá-la a sós com Sakura. Provavelmente queria conversar a sós; não passara despercebida a leve surpresa da amiga quando a viu no quarto, podia, quase com certeza, perceber que a moça fora ali com o intuito de conversar apenas com sua prima... Sem ninguém por perto. E não seria ela que impediria tal vontade de ser cumprida.

Tomoyo (como se nada tivesse notado): 'Bom, se vocês me dão licença, eu vou retirar-me. Touya disse para eu ir falar-lhe na biblioteca quando pudesse, acho que esse é um bom momento.' E começou a sair do quarto.

Sakura (sem entender): 'Mas eu achei que você queria arrumar o meu cabelo...'

Tomoyo (sorrindo inocente): 'Ah, Sakura... Eu acho que se seu irmão quer falar comigo, deve ser importante. E agora que eu lembrei disso, também fiquei curiosa.' Fez uma pausa, olhando discretamente para Meylin, que se mantinha calada e distante. Depois, sorriu e voltou a falar. 'Mais tarde eu faço isso. Na verdade, nem é algo tão importante, né?' Sorriu mais e como Sakura nada dissesse, se despediu e retirou-se.

Sakura ficou olhando a porta ser fechada e Meylin só voltou a "realidade" ao ouvir o barulho da porta ao ser fechada, tomando um pequeno susto. Finalmente notando que estava a sós com Sakura, passou a encarar a jovem japonesa, sem saber exatamente o que falar, ou melhor, como falar.

Quanto à outra garota, desviou o olhar da porta e olhou curiosa para a amiga chinesa, como se perguntasse com suas belas orbes verdes o que a moça queria lhe falar. Vendo que Meylin nada iria dizer, Sakura resolveu tomar a iniciativa.

Sakura: 'Então...?' Meylin piscou duas vezes, parecendo que não havia percebido ainda que Sakura agora a olhava. Depois, caminhou alguns passos inseguros, um tanto quanto divergentes daqueles que todos estavam acostumados a vê-la dar, e sentou-se em uma poltrona que havia no quarto, abaixando a cabeça. Sakura finalmente pareceu perceber a falta de animação da amiga e seu coração se apertou levemente, sinal de que seu senso de preocupação começava a agir.

O silêncio perdurou pouco, pois Sakura, em passos firmes – já não mais utilizava suas muletas, resolvera que andaria normalmente o mais rápido possível, esperara tempo demais para ter a chance de fazê-lo para simplesmente não se esforçar mais na fase final – em direção a Meylin. Mas esta não pareceu notá-la, permanecendo de cabeça baixa. Logo, Sakura agachou-se, colocando levemente suas mãos nos joelhos da amiga e, estando em uma altura menor que a outra, conseguindo ver os olhos rubis da chinesa.

Meylin, por sua vez, ao sentir as pequenas mãos em seu colo novamente pareceu se dar conta que não prestava atenção em nada a sua volta e fechou os olhos por um segundo, dando um longo suspiro. Estava sendo muito difícil para ela... E não conseguia imaginar o que Sakura iria achar... Talvez nem ligasse...

Sakura (com tom preocupado): 'Meylin... O que está acontecendo?' Ao tom firme, difícil de sair dos lábios da doce japonesa freqüentemente, Meylin viu que chegara a hora de acabar logo com aquilo. É, já estava passando dos limites com tamanho drama com tão pouca coisa.

Meylin (fechando os olhos mais uma vez, depois abrindo-os, com um sorriso triste no rosto): 'É, Sakura... Demorou... Mas finalmente você está se recuperando, eu fico muito feliz por isso... E...' Sakura fechou levemente a expressão, claramente em sinal de que não entendia porque a chinesa falava aquilo. Suspirou e resolveu ser mais direta, não tinha cabimento tamanha embromação de sua parte. 'Sakura... Você melhorou surpreendentemente e eu fico muito feliz por você e orgulhosa, tanto pelo seu desempenho quanto por eu saber que tive participação nisso. Mas agora... Agora minha "participação" chegou ao fim e...'

Sakura (interrompendo-a): 'Meylin-chan... O que você está querendo me dizer?' Os olhos da chinesa encheram-se de melancolia ao olhar mais fixamente para a garota a sua frente... Apegara-se mais a ela do que imaginara, podia constatar... Não fora apenas o medo de voltar sozinha para o clã e se separar de Xiao Lang que a fazia ficar em tal estado... Sakura... Tomoyo... até mesmo Touya... Agora eram pessoas que conquistaram um espaço no seu coração... E de quem ela sabia que sentiria muita falta...

Meylin (em tom triste, sem olhar diretamente para Sakura): 'Chegou a hora de eu partir, Sakura... Não tenho mais porque ficar aqui. Não tenho nenhuma utilidade mais aqui e...'

Sakura (em tom levemente alterado): 'Como assim não tem utilidade??? Como assim partir???' Meylin olhou assustada para Sakura, o tom de indignação e repreensão da japonesa causando surpresa na jovem de cabelos negros, que nunca ouvira tal tom vindo da garota e sendo dirigido a ela... Sakura mantinha um semblante sério, não acreditava em como Meylin tinha a coragem de falar aquilo. 'Por acaso você me considera apenas uma paciente? Uma relação apenas de médico e paciente, é? Não sou sua amiga? Não tem nem um pouco de afeto por mim para ter coragem de falar desse jeito? Como você não é mais necessária?! Como você fala isso, Meylin?! Poxa...' Nesse ponto os olhos de Sakura encheram-se de lágrimas, e ela diminuiu o tom. 'Pensei que fôssemos amigas... Que você não partiria... Pelo menos não assim...'

Dessa vez foram os olhos da chinesa que se encheram de lágrimas, lágrimas que foram impedidas de surgir até presente momento, mas que agora não mais podiam ser retidas. Meylin sentiu como se um peso caísse de suas costas... Como se ao saber que Sakura a considerava uma amiga fosse suficiente para ela não mais sentir-se melancólica ao ter que partir... Não por egoísmo, por saber que a outra também sentiria falta dela... Mas por saber que era querida... Querida de verdade...

Em sua terra, em seu clã... Quantas pessoas gostavam dela de verdade? Quantas pessoas disseram ou demonstraram afeto por ela? Poucas... Muito poucas... E agora, uma estranha, uma garota de outro país que ela conhecia a menos de um ano... Dizia se importar com ela... Chamava-a de amiga... E dizia que ela era importante... Ela era importante para alguém... Importante por ser quem era e não por sua família ou pela profissão que tinha... Alguém... Que mal a conhecia, que nem ao menos tinha laços de família com ela... Se importava com ela...

As lágrimas dos olhos da jovem chinesa caíram e logo ela não se segurou mais e abraçou a japonesa a sua frente. Sakura, pega de surpresa, quase caiu no chão, com os olhos arregalados. Mas passado o susto, logo retribuiu o abraço, tentando, em seu silêncio, acalmar o coração daquela que tanto se mostrava forte, mas que também sentia necessidade de ser querida... Soluços e mais soluços saíam dos lábios da chinesa... Soluços de felicidade, por mais estranho que pudesse parecer...

Ela era querida...

Ela era importante...

Ela... Tinha amigos queridos e importantes, amigos que ela nunca imaginou um dia poder ter na vida...

Amigos de verdade...


Ele andava de um lado para o outro, já não suportando nem mais o ambiente escuro que sempre apreciara em seus momentos de dúvidas. Seus passos eram apressados, mas não tinham direção certa, seu rosto era obscurecido pelos cabelos que lhe caíam levemente sobre os olhos, mantinha suas mãos uma segurando a outra nas costas, estava um tanto quanto pensativo.

Já havia se passado meses desde a última vez que pensara em tal assunto, mas nos últimos dias isso vinha lhe tirando o sossego, cada vez mais. Seus pensamentos deveriam estar voltados para a irmã, para tudo o que ela tinha passado nestes últimos tempos, para o que ele sentia que ia acontecer, um pressentimento que não lhe agradava nem um pouco.

Mas era impossível, concluiu com um suspiro pesaroso, por mais que tentasse, aquele rosto sereno, aquela pele clara, e aqueles belos olhos castanhos não lhe saíam da mente e do coração. Por que ela tinha partido? Por que deixara-o daquela maneira? Doera tanto e ainda doía... Ela fora embora e com o tempo nem ao menos mais lhe escrevia...

Parou de andar após alguns segundos de reflexões e literalmente se largou em uma das poltronas de sua biblioteca. "Ela foi embora, sem deixar endereço ou meio de localizá-la. Sumiu, ou simplesmente não quer ser encontrada."

Suspirou pesarosamente, as palavras de Eriol não saíam mais de sua mente. Kaho havia abandonado-o também. Após tê-lo deixado para ir embora com o jovem inglês, também deixara este... Fizera de propósito? Era um jogo malvado e cruel da parte dela? Não... Duvidava que fosse isso... Kaho, em cada gesto, em cada palavra, mostrava sua bondade, delicadeza e preocupação com os outros. Podia não ser o homem mais inteligente do mundo, mas sabia que a mulher por quem se apaixonara não seria capaz de tamanha crueldade.

Desencostou-se do encosto da poltrona para apoiar seus cotovelos nas pernas, enquanto escondia seu rosto entre as mãos. Não agüentava mais aquela situação, não conseguia mais viver sem saber a verdade por trás de todo o mistério nos olhos de Kaho, a mulher que ensinou Sakura a arte do aprendizado escolhar quando esta era quase adolescente, a mulher que ensinou ele, Touya, a amar de verdade.

Levantou o rosto meio surpreso ao ouvir o som de alguém batendo à porta. Piscou duas vezes parecendo acordar de seu transe e pediu para que a pessoa ali fora que entrasse.

Tomoyo: 'Com licença... Atrapalho alguma coisa?'

Touya abaixou os olhos de novo, por apenas um segundo... Um mero e insignificante segundo, teve a idéia estúpida de que aquela que batia a porta era...

Tomoyo (com preocupação nos olhos): 'Touya... Você está bem?'

O rapaz olhou mais uma vez para a garota a sua frente, cabelos escuros, pele alva como a neve e olhos de um azul arroxeado raríssimo. Tomoyo era bela, sua noiva era muito bela, qualquer um perceberia de longe a beleza rara daquela flor, uma flor linda, e serena...

Touya suspirou mais uma vez... Linda, calma, inteligente... Tomoyo era uma mulher perfeita para qualquer um... Contudo... Ela não era Kaho... Jamais seria.

A jovem aproximou-se mais de seu noivo, em seus olhos preocupação claramente visível. Touya não era a pessoa que mais falava no mundo, mas aquele ar melancólico e sombrio também não pertencia a ele... Tomoyo sentou-se na poltrona ao lado dele e tocou levemente na mão grande e masculina do jovem, que mais uma vez a encarou, profundamente.

Tomoyo (tentando ler algo no olhar do rapaz): 'Está acontecendo algo, não é? Por que não me conta?'

Ele permaneceu em silêncio, apenas contemplando os olhos ametistas da moça, antes de finalmente soltar um suspiro em desistência e resolver falar. Para tal, levantou-se da poltrona, enquanto libertava levemente sua mão da noiva.

Um silêncio quase sepulcral se instalou no ambiente, enquanto o rapaz andava até uma das prateleiras de sua biblioteca, pegando um certo livro... Sim, aquele mesmo livro que... Droga! Não era hora para isso! Fechou o livro com certa força e colocou-o da mesma forma na estante. Voltou-se para sua noiva, que ainda esperava por uma resposta.

Touya: 'Vou viajar a negócios, Tomoyo. Conto com você para cuidar de Sakura.' A moça piscou duas vezes, meio aturdida com as palavras ditas em um tom tão neutro que chegava a ser frio. Touya virou-se de costas enquanto colocava novamente as mãos entrelaçadas nas costas. 'Era só isso... Pode se retirar.'

Tomoyo nada disse, surpresa demais com o tom do rapaz e com as palavras proferidas para conseguir dizer algo. Piscou várias vezes, antes de parecer acordar para o mundo real. Repentinamente, em sua bela face, um olhar sério formou-se, tão sério que qualquer um poderia assustar-se, não por ser feio, ou perigoso, mas porque poucos, ou nenhum já vira tal olhar na face daquela serena jovem. Entretanto, o jovem general nada viu, pois não encarava sua noiva, não por medo, mas simplesmente por saber que seria grosso se continuasse com aquela conversa, ela não merecia isso, mas seu espírito vibrava em revolta, revolta contra tudo e todos ao seu redor, tendo eles culpa do seu destino ou não.

Tomoyo (ficando em pé, com a cabeça baixa, quase em um sussurro): 'Quando pretende partir como um covarde egoísta de novo, Touya?'

As palavras mais pareceram um baque no coração do rapaz do qualquer outra coisa. Virou-se no mesmo momento para a garota, sem poder ver os olhos dela. Já os seus, eram arregalados, arregalados de puro espanto. Tomoyo nunca falara assim, jamais agira assim seja qual fosse a situação, principalmente com ele... Talvez não por medo, mas Tomoyo sempre o respeitara demais e nunca levantara a voz ou contestara-o tão seriamente como nesse momento.

E as palavras da jovem... Como ela podia... Após um segundo de espanto o rapaz pareceu se recuperar e fechou sua expressão.

Touya (sério): 'Como pode falar desse jeito comigo, Tomoyo? O que você sabe da minha vida para...' Mas não concluiu, vendo a moça levantar os olhos, com lágrimas nestes, mas ainda séria, uma seriedade triste.

Tomoyo (em uma voz melancólica): 'Vai partir de novo... Como um covarde egoísta, Touya... Você sabe disso. Vai deixar sua irmã em uma hora complicada como essa... Simplesmente porque não consegue suportar mais...' O rapaz ficou atônito, o que ela queria dizer com isso?

Touya (meio irritado, meio confuso): 'Como pode dizer que estou deixando Sakura? Como pode dizer que eu não consigo suportar a situação? Quanto tempo eu já não apoiei e ainda apoio ela a cada momento?! Simplesmente porque eu tenho que viajar não significa que eu esteja abanando-a ou algo do gênero.'

Enquanto ele falava, Tomoyo balançava negativamente a cabeça, lenta e tristemente. Suportara... Esperara muito tempo para tomar coragem de falar sobre aquilo... Não sabia exatamente por quê se via na necessidade de falar aquilo para seu noivo, mas precisava. Ele iria partir de novo, mais uma vez, estava sendo egoísta, não por deixar Sakura para trás, sabia o quanto ele se preocupava com isso... Não era ela... Era alguma outra coisa que...

Tomoyo: 'Não estou dizendo que não consegue suportar a situação de Sakura, ou que está abandonando-a, Touya. Não... Não estou me referindo a situação dela...' Ante a falta de entendimento que suas palavras pareciam provocar nele, Tomoyo voltou a falar. 'Estou me referindo a sua situação...'

Ficaram em silêncio por um segundo, Touya tentando compreender o significado das palavras dela e ela esperando que ele dissesse algo. Vendo que isso não aconteceria, a jovem japonesa continuou.

Tomoyo: 'Não é a primeira vez que você parte, nem será a última, isso eu sei. Mas toda vez, ou na grande maioria das vezes que o faz, eu vejo... Ou quase percebo, que você faz isso para tentar fugir. Não fugir de suas responsabilidades, ou de mim, ou de Sakura... Simplesmente fugir... Fugir de algo que eu ainda não consegui descobrir o que é...' Os olhos de Touya se arregalavam a cada segundo, a cada palavra que a jovem proferia... Não havia dúvidas, Tomoyo era a pessoa mais perspicaz que ele já conhecera. 'Do que foge Touya... Por que tenta se manter distante?'

O rapaz desviou o olhar, levemente conturbado com o rumo daquela conversa. Tomoyo ainda não sabia do que ocorrera entre ele e Kaho. Ela tinha pouco mais de 15 anos quando Kaho partiu e naquela época eram pouco ligados um ao outro. Virou-se completamente de modo que Tomoyo não pudesse ver sua expressão, enquanto soltava o peso de seu corpo nas mãos, apoiadas na escrivaninha da biblioteca. Controlou a respiração, não podia nem iria falar sobre aquilo...

Era mentira... Ele não estava fugindo... Não estava, simplesmente tinha que ir. Kaho era passado e ele tinha que admitir e aceitar isso. Não estava fugindo, nunca fugira antes na vida, não estava fazendo isso agora. Não... Kaho era passado... Não voltaria mais... Não voltaria...

Tomoyo mantinha seu semblante triste. Apesar de não poder ver o rosto do rapaz, os gestos, a forma como o corpo respondia aos sentimentos, eram suficientes para fazê-la perceber o quanto ele estava em conflito consigo mesmo.

A jovem deu dois passos, chegando mais perto do rapaz. Levantou uma mão, para tocá-lo, para acalmá-lo. Não podia ver seu primo naquele estado... Era tão triste, tão... Touya sempre fora um homem forte e determinado... Vê-lo daquela maneira deixava seu coração pesado de preocupação.

Mas o toque que ela queria oferecer nunca chegou a acontecer, pois o rapaz virou-se novamente para ela, subitamente. Tomoyo deu um passo para trás, levemente surpresa com o movimento repentino. Contudo, o que mais lhe surpreendeu foram os olhos deles... Olhos nebulosos, cheios de confusão, cheios de raiva contida, cheios de lágrimas de dor. Ficou sem palavras.

Touya (respirando com certa força): 'Quem é você para falar sobre "fuga"? Justamente você, Tomoyo! Como ousa?! Justamente você que sempre fugiu dos seus sentimentos. Você que nunca demonstrou sua opinião para nada. Justamente você que, por medo da solidão, fugiu o mais que pôde desta, agarrando-se com todas as forças no carinho que Sakura te oferecia. Achando que por tê-la sempre de apoio, amava-a como um homem ama uma mulher!'

Dessa vez foi a jovem que ficou atônita. Sem saber o que falar, sem saber o que dizer. Seus olhos começando a se encherem de lágrimas... Touya nunca falara tão rudemente com ela, tão vulgarmente... Ainda mais... Sobre esse assunto... Como ele sabia...?

Tomoyo desviou-se do olhar duro que Touya lhe lançava, não iria escutar aquilo, não podia, não era assim... Mas foi obrigada a parar quando o rapaz segurou-a firmemente pelo braço, fazendo-a olhá-lo assustada.

Touya (em tom baixo e sério): 'Você começou isso, Tomoyo... Agora vai escutar cada palavra...' A jovem arregalou ainda mais os olhos diante do tom perigoso na voz do noivo. Prendeu o ar nos pulmões sem perceber, enquanto ele ainda a segurava rudemente, sem sinais de que iria soltar. 'Você diz que eu fujo de algo... Sim, você está certa... Mas eu admito, admito e tento lutar contra isso... Agora você... Você não... Você fugiu da solidão e se agarrou a Sakura, prendeu-se a ela de forma a nunca se aproximar verdadeiramente dos outros, pois ela lhe bastava... E depois... Agora... Você está fugindo de novo... Porque eu vejo nos seus olhos o rosto de alguém... E o mero pensamento de que o que eu digo estar certo te faz querer fugir de novo...'

Os olhos da jovem japonesa transbordavam de lágrimas, mas o estado de espírito em que Touya estava era tão conturbado que ele mal conseguia distinguir o que deve ou não ser dito, o que é verdade a ser dita e o machuca profundamente...

Tomoyo não tinha forças para revidar, seja por palavras ou fisicamente, visto seu braço ainda preso dolorosamente pela mão forte de seu noivo. Abaixou a cabeça, enquanto quase perdia as forças, tamanho seu desespero...

Não, não... Ele não podia falar assim com ela... Não era assim... Ela não estava fugindo... Não estava, não estava! Ela ama Sakura... Amava ela, não é? Sentiu seu braço ser apertado ainda mais e segurou o grito que lhe formava na garganta... Ele iria falar mais... Iria ferir-lhe o pouco orgulho que ela mantinha... Iria machucá-la ainda mais... E ela não agüentaria.

Voz masculina (séria): 'Mas o que significa isso?!'

Touya largou imediatamente o braço da noiva, parecendo acordar subitamente de um torpor do qual não tinha controle. E quando o fez, Tomoyo quase foi ao chão, se não fosse os braços de um certo homem de origens inglesas a ampará-la.


Sakura e Meylin desceram calmamente até o jardim dos fundos da mansão. As duas vestiam roupas de treinamento, prontas para algo ao qual Sakura não se sentia nem um pouco inspirada em fazer.

Sakura (com cara de preguiça): 'Ah, Meylin-chan... Tem certeza que a gente precisa fazer isso?'

Meylin (olhando de esguelha para a jovem, com um tom irritado na voz): 'Oras! Mas é claro que sim, Sakura! Eu preciso saber se você já se recuperou o suficiente para continuar seus exercícios sozinha e finalmente poder treinar como quer.... Quer largar de ser preguiçosa!'

Ante a resposta da jovem, ao qual provavelmente a japonesa não teria argumentos contra, Sakura simplesmente soltou um longo suspiro. Não que ela não gostasse de lutar, mas simplesmente não entendia por quê tanta necessidade de lutar com Meylin.

Luta era algo que ela aprendera a gostar durante os anos em que capturou as cartas, treinou com Eriol e finalmente com Mestre Lan. Contudo, algo que ela também aprendera, era que uma luta devia ter bons motivos, procurar briga à toa era algo indigno de um guerreiro, fosse ele de alto ou baixo nível de poder. E apesar de seu estado físico, sabia que estava muito bem preparada e, se Meylin não tomasse cuidado, suficientemente preparada até mesmo para vencer a chinesa em uma luta corpo a corpo.

Entretanto, maior do que suas convicções, sabia ser a teimosia da amiga. Meylin acreditava piamente em suas palavras e nada do que Sakura dissesse iria fazer ela mudar de opinião. "Tão parecida com o primo... Fico imaginando se é mal de família" pensou já derrotada.

Mais alguns passos e finalmente elas entraram no jardim, seguindo para o amplo clarão onde ocorrera sua luta com Syaoran há quase um mês.

As bochechas da jovem japonesa começaram a ficar rosadas ao lembrar-se dos acontecimentos daquele dia. Meu Deus... Aquilo realmente foi loucura da parte dos dois. Sim, tinha que admitir, a culpa fora dos dois. Quase fizeram uma besteira que não poderia ser reparada, se não fosse por aquela estranha energia que sentiram naquele minuto crítico.

Não sabia o que fora aquilo até o presente dia, mas agradecia aos céus por ter ocorrido. Seja o que fosse, fizera um grande favor aos dois. Nem queria imaginar o que teria acontecido se não tivessem parado naquele momento.

Meylin (em tom confuso): 'Sakura? Sakura-chan? Por que você está vermelha desse jeito? Está com febre?' Sakura pareceu acordar de seu transe e deu um pulo para trás ao perceber que não estava sozinha. Colocou uma das mãos na nuca, em clara pose de constrangimento, enquanto uma gota de suor descia-lhe pela lateral do rosto.

Sakura (sem graça): 'Hahaha... Não é nada, não, Meylin-chan... Deve ser o calor... Hahaha.' Meylin olhou desconfiada para a garota por alguns segundos, antes de finalmente sorrir, como se tivesse engolido a resposta dela.

Meylin: 'Bem... Já que parece que você está bem, acho que podemos começar, sim?'

Sakura perdeu o ar sem graça e olhou com um leve ar de seriedade para a amiga chinesa.

Sakura: 'Tem certeza que quer continuar? Realmente é preciso?'

Meylin (levemente irritada): 'Ah, Sakura! Já falei que sim!' Ao finalmente notar o olhar sério nos olhos da amiga, Meylin pareceu deixar a irritação de lado e falou em tom calmo. 'Qual o problema?' Sakura voltou a olhar para a amiga, sem saber se deveria falar, talvez Meylin se sentisse ofendida e...

Sakura (procurando as palavras certas): 'Bem... É que... Não me entenda mal, Meylin... Mas... Eu não queria que algum acidente ocorresse... E você saísse machucada e...' Meylin pareceu entender a amiga.

Meylin (sorrindo de lado): 'Ah, fala sério, Sakura-chan! Não está realmente pensando que vai me machucar, não é? Hah! Além de você ainda não estar completamente curada, eu ainda sou a melhor lutadora do meu clã, e isso é muito, pode ter certeza.' Falou em tom orgulhoso.

Contudo, Sakura não estava tão certa assim. A cada ano que passava, ela sentia os seus poderes aumentarem, mágicos ou físicos. Mesmo durante os anos em que permaneceu sem os movimentos das pernas, ela treinou como pôde e, era estranho mas, sabia que mesmo que não tivesse treinado, seus poderes continuariam a aumentar. O motivo? Ainda não sabia.

Com Syaoran não media esforços, pois sabia o nível do rapaz. Porém, apesar da certeza na voz de Meylin, e mesmo que soasse pretensão da sua parte, tinha sinceramente medo de poder machucá-la, de qualquer maneira.

Meylin, após perder o ar arrogante tão costumeiro entre os Li, voltou a encarar Sakura seriamente.

Meylin (falando calmamente): 'Escute, Sakura-chan. Eu entendo o seu medo, sei o quanto você é forte. Entendo perfeitamente o seu receio, mas te garanto que são infundados. Sei que você é extremamente poderosa. Xiao Lang, em todos os anos em que vivi com ele depois que voltou do treino nas montanhas, sempre me contava o quanto o parceiro de treino dele era realmente bom.' Sakura sentiu seu coração dar uma batida mais forte ao ouvir o elogio que, indiretamente veio de Syaoran. Meylin não percebeu a tensão da jovem e continuou. 'Você e ele têm níveis incríveis de força, física e mágica, mas, eu te asseguro, não vai me machucar. Eu treinei com Xiao Lang desde que somos crianças, posso não ter magia, mas sei que sempre fui páreo para ele em artes marciais.' Sakura levantou o rosto, levemente surpresa ao saber desse fato da infância dos dois jovens chineses, Meylin sorriu diante da reação da jovem, que logo se tornou um dos famosos sorrisos debochados dela. 'Então não se surpreenda se eu vencer você, facilmente.'

Sakura ficou em silêncio por um segundo, parecendo tentar chegar a uma conclusão razoável. Oras, não tinha por quê duvidar da palavra da amiga, não devia estar se preocupando tanto. Sorriu para Meylin, como se para mostrar que acreditava na palavra da garota e acenou positivamente com a cabeça.

Meylin sorriu também e logo tomou posição de luta, seguida pela jovem japonesa. Seria interessante saber qual o nível que uma guerreira chinesa tem em artes marciais, concluiu com um sorriso Sakura.


Eriol (segurando uma chorosa Tomoyo entre seus braços): 'O que estava fazendo, Touya?' Seu tom era sério, muito mais sério do que seria o normal. Mas Touya estava deveras perturbado para se incomodar com o tom do inglês. Estava virado para sua escrivaninha mais uma vez, mãos sustentando seu corpo nesta, sua respiração longa e forte, quase cansada.

Ficaram em silêncio por algum tempo, Eriol encarando as costas do japonês, Tomoyo tentando conter os soluços no peio do amigo e Touya tentando recompor-se de sua repentina ira.

Eriol (seriamente): 'Como pôde tratar uma jovem dama desse jeito? Ainda mais quando ela é sua noiva. Sinceramente, Touya, eu esperava mais de você.' Touya fechou os olhos com força, tentando conter o nervosismo, mas foi em vão. Virou-se para o casal abraçado, sentindo seu sangue ferver nas veias.

Touya (nervoso): 'Quem você pensa que é para me falar de etiqueta? De cavalheirismo? De respeito?! Quando, não por uma, mas por duas vezes, deu uma de galanteador para minhas noivas?!' Diante das palavras, o soluço de Tomoyo cessou, e um silêncio pesado se formou. "Noivas?" Pensou Tomoyo. "Como...?" Um flash pareceu clarear os pensamentos da jovem, que desencostou-se do peito de Eriol para olhar para o noivo. Esse ainda não tinha tomado consciência completa das palavras proferidas e ainda encarava raivosamente o jovem inglês. Este, por sua vez, mantendo o ar sério e ao mesmo tempo calmo.

A jovem japonesa abriu a boca, claramente no intuito de dizer algo, mas sentiu Eriol apertar levemente seus braços, como em um aviso para não se intrometer. A garota olhou para o rosto vários centímetros acima do seu, Eriol não a olhava, mas sim ao general japonês. Era melhor ela não se intrometer e dessa forma ficou quieta, ainda nos braços do rapaz de olhos azuis.

Touya (não parecendo perceber a comunicação por gestos entre os dois a sua frente): 'Uma vez você veio para cá, supostamente para ajudar Sakura e a levou de mim! Levou aquela que eu amei como nunca amei de novo!' Apesar de ser sua noiva, Tomoyo não se abalou com o dito, já sabia a intensidade de carinho entre ele e ela para se sentir incomodada. 'Você a levou para longe de mim! Levou-a e me deixou aqui sofrendo, desesperado, desiludido! Eu tentei superar, por momentos achei ter esquecido! Mas não... Nunca esquecia... E agora eu percebo porque estou tão perturbado estes últimos dias! Eu não a havia esquecido, mas ela era apenas mais uma lembrança. Mas você resolveu aparecer de novo! Você me lembrou do que havia acontecido e, o que é pior, você começou a fazer o mesmo que fez anos atrás!'

Eriol não interrompeu-o. Contudo, ainda mantinha a calma. Da última vez que tivera uma discussão, ao qual fora com a jovem agora abraçada a ele, estava se sentindo culpado, com remorsos e sabia o quanto Tomoyo sofria com tudo o que acontecera para conseguir revidar ou manter-se frio naquela discussão.

Naquele momento, ele não tinha direito e nem condições de manter-se calmo. Mas agora que ele começava a aceitar e entender que a culpa do que acontecera com Sakura não era toda sua, e a que fora, não fora de propósito e jamais seria, finalmente ele conseguira recuperar um pouco de sua confiança perdida.

Além disso, a situação em que se encontrava agora era diferente da anterior. Não só ele tinha culpa e se sentia assim na discussão que tivera com Tomoyo, como também não sentira-se motivado a se defender, não tinha por quê, não havia razões suficientes para tal.

Entretanto, dessa vez, além de saber o quão alterado e equivocado Touya se encontrava para julgá-lo de qualquer maneira, ele tinha um motivo para manter-se forte. E esse motivo agora estava em seus braços. Essa garota em seus braços fizera-o ver que ele errava, o fez ver que ele tinha defeitos como qualquer um, essa garota o fez ver que ele não era tão sem sentimentos como imaginara ser, essa garota o fez...

Tomoyo, pelo o que ele percebera antes mesmo de entrar no aposento, estava sendo injustiçada, maltratada, tanto física quanto mentalmente. Touya estava alterado, sim, mas jamais Eriol permitiria que alguém tratasse aquela jovem, aquela delicada flor misteriosa e serena, de maneira menos cortês que o mais educado cavalheiro trataria. Tomoyo era doce, era carinhosa, e apesar de todo a melancolia que ele sentia nela, tinha sempre um brilho de paz e conforto em seus olhos. Não... Ninguém a trataria assim... E logo Touya desabafasse, Eriol iria fazê-lo entender e certamente desculpar-se com aquela que não merecia sofrimento algum na vida.

Touya (em tom dificilmente controlado): 'Você não tem consideração alguma por ninguém, Eriol! Você roubou Kaho de mim! Não tem direito algum de me exigir algum respeito ou consideração por ninguém! Não sei como ainda o recebo na minha casa...' A última frase foi dita com esforço... Como se a raiva que consumia Touya fosse diminuindo de pouco em pouco... Talvez já cansada, talvez esgotada depois de dita tão veemente após tanto tempo de reclusão... Respirou fundo várias vezes... Não achava que tinha mais condições de falar, nem ao menos percebia a presença dos dois jovens na sua frente mais. Suas próximas palavras foram ditas em um sussurro quase inaudível. 'É tudo tão duro, tão injusto... Doeu tanto e sempre irá doer... Amei tanto ela... Tanto... E ela... Ela me abandonou...'

Um silêncio se formou mais uma vez, enquanto Touya tentava recuperar suas forças, encostado na escrivaninha, olhos baixos. Eriol ficou em silêncio por vários segundos e logo abraçou Tomoyo firmemente, em sinal de que agora seria ele a falar.

Eriol: 'Eu realmente sinto muito por sua dor, meu caro amigo... Sei o quanto você deve ter me odiado... Sei o quanto você deve ter sofrido...' Fez uma leve pausa e Touya não o interrompeu. 'Quando aquilo aconteceu, nós éramos muito mais jovens, tanto você, quanto eu ou Kaho... Sei que isso não é desculpa alguma... Mas... Houve confusões de sentimentos demais... Kaho amava você, Touya... Entretanto... Havia uma parte dela que amava o Mago Clown que ainda existe em mim, assim como essa minha parte a amava também...'

Tomoyo sentiu seus músculos tensionarem com as palavras... Aquela era uma história da qual ela não tinha idéia alguma, mas tinha certa consciência da gravidade que deveria ter sido.

Eriol (após um suspiro): 'Talvez tenha sido um erro, talvez não, o fato é que Kaho te deixou e depois a mim... Não a julgue, ela teve seus motivos, mesmo que eu não os saiba. E eu sei que você também sabe disso. Entretanto, apesar de tudo o que aconteceu, você não deveria remoer o passado, Touya. Durante esses anos eu aprendi que ele existe para relembrarmos do que já nos aconteceu, não para ser vivido invés do presente. Todos nós erramos em algum momento, mas remoer o que ainda é amargura não é certo... Nem saudável...'

Touya ainda mantinha-se na mesma posição, se ele ouvia ou não, nem Tomoyo, nem Eriol sabiam dizer. Mas o mago continuou.

Eriol: 'Touya... Não posso curar a ferida que ainda está aberta no seu coração... Só você pode fazê-lo. Mas eu te asseguro que você está tentando fazer isso de forma errada. Não será casando-se com Tomoyo que irá esquecer Kaho... Você sabe disso... E também não será jogando toda sua raiva em cima de mim ou de sua noiva que você irá esquecer... Entendo o quanto você está revoltado, entendo que não tenha a melhor idéia de mim, mas acredito que pouco fiz para merecer esse julgamento.' Parou por um segundo, antes de continuar. 'Contudo, o que eu não posso admitir, é que você desconte sua raiva dessa maneira em Tomoyo. Essa jovem, que viveu todos esses anos junto de você e Sakura, não merece nenhuma dessas suas palavras duras... Essa jovem, perdeu os pais e todo o carinho que eles um dia lhe deram... Essa jovem, está disposta a se sacrificar, casando-se com quem não ama, para ficar perto daquela que a faz feliz e ajudá-la no que puder a ser feliz...'

Enquanto ouvia as palavras do jovem inglês, os punhos de Touya fechavam-se com força. Não era mais raiva, ou ódio, era o peso que finalmente caía-lhe nos ombros ao tomar consciência do quão injusto fora com Tomoyo...

Eriol (vendo o estado do rapaz): 'Escuta, Touya. Escuta bem. Não será fingindo que o passado não existiu que você vai encontrar paz de espírito. Não será um casamento falso que irá lhe trazer felicidade. E não será esse ódio contido no seu peito que o fará amar novamente. Se você precisa se encontrar, se entender, faça-o agora, faça-o enquanto pode. Mas não machuque os outros a sua volta por se sentir frustrado, isso é indigno, é repugnante e egoísta, e eu sei que você não é assim.'

Ficaram silenciosos... Touya não mais respirava com dificuldade, simplesmente mantinha-se na mesma posição que se encontrava assim que começou a falar com Eriol.

Tantos erros, tantos medos, tantos remorsos, dores e tristezas. Mas ele tinha que aceitar isso. Aceitar que Kaho tinha que partir, porque assim ela queria, aceitar que Eriol não tinha culpa, pois no coração a gente não manda e aceitar que era ele a última pessoa que poderia julgar Tomoyo...

Tomoyo...

Touya levantou os olhos mais uma vez, encontrando em seu campo de visão um corpo pequeno e frágil encolhido entre os braços daquele rapaz inglês, que em tantos anos fora alvo de sua amargura. Suspirou pesarosamente... Como pudera falar e agir daquela maneira com sua querida prima...?

O general chinês avançou alguns metros, até alcançar o casal abraçado. Olhou por vários segundos nos olhos de Eriol, antes de finalmente voltar-se para Tomoyo.

Touya (em tom de remorso): 'Perdoe-me, Tomoyo.' Tomoyo sentiu-se tensa novamente, mas voltou-se lentamente para seu noivo, olhando-o nos olhos, ainda cheio de lágrimas. Um nó surgiu na garganta de Touya ao perceber o estado em que deixara a prima, mas ele precisava continuar. 'Perdoe-me por ter sido tão egoísta, injusto e cruel... Em cada palavra, gesto ou situação que criei apenas para me sentir melhor... Você é uma pessoa maravilhosa e eu não soube ver isso em você. Você é como uma segunda irmã para mim e me dói ver o quanto eu te magoei... Merece alguém melhor do que eu, cem vezes melhor... Alguém que saiba valorizar todo o amor e carinho que eu sei estar aí, dentro desse seu coração que já tanto sofreu...'

Ao ouvir as palavras do rapaz, Tomoyo soltou-se calmamente de Eriol, enquanto secava suas lágrimas. Ela podia ver claramente a culpa e o remorso estampado naqueles olhos tão parecidos com os seus. Durante toda aquela discussão pôde entender o sofrimento do rapaz, e agora também sabia o quanto ele estava arrependido...

Sorriu doce e calmamente, com o rosto ainda marcado pelas lágrimas, mas feliz... Talvez agora Touya finalmente se encontrasse, se entendesse, talvez ele pudesse encontrar a paz que tanto ele precisava, pois ela podia sentir que agora ele parecia saber o que queria e o que procurava.

Touya ainda tinha os olhos cheios de culpa quando, assustado, sentiu a prima enlaçar os braços envolta do seu corpo, num abraço terno e carinhoso. Fez a única coisa que lhe veio à mente, retribuiu com todo o carinho que sentia por ela.

Tomoyo: 'Eu sei o quanto você sofreu, Touya. Mesmo que antes eu não soubesse os motivos. Esqueça as palavras duras que eu te disse e eu farei o mesmo quanto ao que me falou....' O rapaz sorriu diante das palavras da prima... Sempre tão compreensiva. Apertou-a mais, enquanto descansava seu rosto na testa dela.

Touya (em um sussurro): 'Acho que já podemos parar com esse noivado nada "tradicional", não?' Os dois riram por um momento, os dois sabiam o quanto Touya não gostava exatamente de "tradições". Mas apesar da brincadeira, ela sabia o quão sério era o significado da frase, acenando afirmativamente para ele, em concordância.

A garota se soltou dele, ainda com um sorriso no rosto, calmo com sempre foi. Touya sorriu-lhe, como se assegurasse a ela que tudo ficaria bem e desviou o olhar para Eriol mais uma vez, cujo estava a uns dois passos atrás deles.

Touya (com um sorriso quase imperceptível no rosto): 'Cuide delas , Eriol... Não cabe mais a mim essa tarefa... Meu caminho agora é outro.' Tomoyo piscou duas vezes, sem entender o que seu, agora, ex-noivo, queria dizer. Mas Eriol pareceu entender perfeitamente, pois sorriu de volta, enquanto acenava positivamente com a cabeça.

Quando Touya se soltou da prima, ela ainda mantinha o olhar de confusão, ele lhe sorriu mais uma vez, enquanto saía pela porta, parando a centímetros dessa e olhando para trás.

Touya: 'Despeça-se de Sakura para mim, Tomoyo... Acho que não teria forças para fazê-lo.' Tomoyo arregalou os olhos, pronta para seguir o rapaz que agora saía da sala, mas Eriol segurou-lhe levemente o braço, evitando que continuasse seu percurso.

Assim que Touya fechou a porta, Tomoyo voltou-se para Eriol, nada entendendo. Ele lhe sorriu, mas o olhar dela não mudou.

Tomoyo: 'Eriol... O que Touya quis...' Mas não conseguiu concluir.

Eriol: 'Ele vai atrás das respostas que ele tanto procura, Tomoyo... E já estava em tempo...' Tomoyo ainda permaneceu meio desnorteada... Como assim...? Touya ia partir... Ia...

Um sorriso discreto, cheio de entendimento, apareceu no rosto da garota... Sim... Agora podia entender...

Tomoyo (olhando para a porta): 'Respostas... Espero que ele encontreA Resposta.'


Fazia pouco mais de dez minutos que as duas lutavam. Suor descia pelo corpo esbelto das duas guerreiras e a respiração arfante podia ser ouvida a alguns metros de distância.

A jovem de cabelos castanhos secou com uma das mãos o suor que descia por sua testa e incomodava seus olhos, em seguida, um sorriso apareceu em seus lábios.

Sakura: 'Puxa, Meylin-chan. Não achei que você ia me cansar tanto.'

Meylin (sorrindo de lado): 'Oras, pare com isso, Sakura. Sei muito bem que esse não é todo o seu potencial.' Sakura sorriu de novo, antes de voltar a atacar a amiga.

Tentou desferir um golpe de direita, frontalmente, mas Meylin esquivou o rosto, levando o punho esquerdo de encontro às costelas da japonesa. Sakura amparou com seu braço o punho e levantou a perna direita, de encontro ao rosto da amiga.

Meylin agachou-se, evitando o impacto, e durante a queda esticou uma perna, girando e tentando derrubar sua oponente. Entretanto, Sakura já previa o movimento e mais uma vez saltou para trás, pisando com tudo no chão e dando impulso para novo golpe.

---

Cheias de concentração, as duas moças que agora lutavam naquele jardim não notaram um par de olhos castanhos que as observava a alguns metros de distância, o suficiente para que elas não pudessem reparar em sua presença. Chegara ali não fazia mais que um minuto e resolveu observar a luta que seguia diante de seus olhos.

Meylin tinha treinado muito durante estes anos, ele podia ver claramente. Entretanto, Sakura conseguia bloquear os golpes com uma facilidade que o surpreendia, muito...

Elas não estava lutando sério, era claro, mas... Meylin era uma excelente lutadora e Sakura, apesar do treino que recebera, ficara anos sem realizar os devidos treinamentos. Ainda assim, podia ver que a técnica dela havia evoluído muito, coisa que não conseguira perceber da última vez que a vira lutar.

E a singularidade da situação não acabava ali. Além de toda a técnica que a moça possuía, ele podia sentir, quente, em cada ponto de sua própria pele, a aura mágica dela crescer. Ela não estava usando magia agora, isso era óbvio, mas, cada vez que ela lutava, cada vez que a via usar seus poderes, ele percebia o quanto os poderes dela aumentavam de maneira incrível.

Poderia ser apenas um caso diferente dos demais, um dom que ela possuía de sempre conseguir superar seus poderes. Contudo, a situação não parecia ser essa. Pois ele havia percebido.. Sim... Havia percebido já há algum tempo que o mesmo fenômeno acontecia com ele.

Contraiu levemente suas faces. Muitas coisas estranhas estavam acontecendo naquele ano. Muitas... De todos os tipos, diga-se de passagem. Porém, a coisa mais estranha era aquela sensação... Sim, aquela sensação que sempre se apoderava dele quando a via...

Era diferente do que acontecera com Yukito, ou melhor, Sakura, quando estiveram nas montanhas. Através do verdadeiro Tsukishiro Yukito, ficou sabendo que Eriol usara um feitiço para que quando Sakura estivesse na forma do médico, ela exalasse o mesmo tipo de aura que ele exalava, aura vinda da Lua. E como ele já sabia, a Lua atrai e era isso que acontecia com ele quando estava perto da moça disfarçada de homem durante os treinos na China.

Agora... Agora era algo totalmente diferente... Não era a aura dela que a o atraía, não era a técnica dela, nem ao menos as cartas dela o interessavam como antes...

O rapaz balançou a cabeça de um lado para o outro, tentando tirar esses pensamentos estúpidos da mente. Olhou mais uma vez para as duas garotas que lutavam e finalmente resolveu se aproximar, só havia uma forma que ele conhecia que o fazia esquecer de seus problemas ou de pensamentos não bem-vindos... Lutar... E era isso o que faria.

---

Sakura finalmente conseguiu prever os movimentos de sua rival e em um lance rápido desferiu um forte golpe no rosto dela, lançando-a a alguns metros longe de si. Iria partir para um novo ataque enquanto Meylin caía, mas não pôde fazê-lo. Sakura parou meio caminho de alcançar a garota... Que estava em pé... Porque...

Sakura (irritada): 'O que pensa que está fazendo, Syaoran?'

Syaoran (sorrindo de lado, enquanto amparava Meylin): 'Oras, essa luta já estava começando a ficar enjoativa... Pra não dizer chata... Sinceramente, vocês estavam lutando como duas crianças que estão a aprender artes marciais, isso é deprimente.' Falou em tom de sarcasmo, que irritou Sakura profundamente, o que já não era novidade.

Meylin (se soltando do primo com cara de brava): 'Óh, Senhor Guerreiro Todo Poderoso... Perdoe essas meras mortais fracas que não conseguiram diverti-lo.' Syaoran soltou uma leve gargalhada, antes de se sentar na grama.

Syaoran: 'OK, eu perdôo vocês.' O queixo de Meylin e Sakura caíram. Oras! Como era petulante! Syaoran sorriu ainda mais ao ver a cara de indignação dela, mas logo fechou os olhos, com expressão de superior, como se nada tivesse notado. 'Mas apenas com uma condição.'

Sakura e Meylin olharam Syaoran com olhos assassinos, fazendo ele rir ainda mais.

Meylin (indignada): 'Diga logo o que quer, Xiao Lang. Não estou com paciência para as suas gracinhas.' O rapaz parou de rir e sorriu para a prima, de forma brincalhona e depois voltou o olhar para Sakura, dessa vez de forma desafiadora.

Syaoran: 'Vocês estavam lutando... Eu gosto de lutar... Concede-me este prazer, senhorita Sakura?' Falou ironicamente. Novamente faces descrentes se formaram na frente do jovem chinês, que sorria como se nada entendesse.

Sakura (depois de se recuperar, fazendo cara de brava): 'Ah, qual é, Syaoran! Não tenho tempo para perder com você.' Disse ela já virando as costas e saindo do jardim calmamente. 'Já fiz muito em aceitar lutar com Meylin. Aliás...' Ela parou e voltou-se para os dois, que também a olhavam. 'Por que não luta com Meylin? Ela é tão boa quanto eu.'

Syaoran olhou para a prima, sem graça, sabendo que fora descortês de sua parte chamar Sakura para lutar invés dela. Sorriu constrangido, como se pedisse desculpas. Meylin deu um suspiro, sabia porque ele queria lutar com a japonesa. Se tinha uma coisa que ela odiava em sua vida, era saber que não possuía magia...

Meylin: 'Por que não luta com ele, Sakura?' A jovem japonesa parou no mesmo instante, e voltou-se mais uma vez, lentamente. Estava incrédula... Como Meylin podia apoiar as idéias daquele primo maluco e arrogante dela?! Syaoran sorriu de lado diante do rosto descrente da garota.

Mas Sakura realmente não queria continuar com aquilo, levantou as mãos para o céu, como se pedindo paciência e virou-se para voltar para a casa. O sorriso de Syaoran sumiu um pouco, enquanto ele se levantava.

Syaoran (em tom alto para Sakura ouvir): 'Não tem problema, Meylin. Eu já sabia que ela não ia aceitar, porque sabe que iria perder.' Sakura estacou de novo, punhos fechados, dentes rangendo.

Ela sabia muito bem que ele estava provocando ela. Ah, como sabia! Estava fazendo de propósito para ela ceder! Era visível até para alguém tão "tapada" como ela era chamada por seu psiquiatra...

Como ele podia usar um golpe tão velho, tão desgastado, tão...

Sakura suspirou fundo...

Droga... Não adiantava, ela não conseguia levar desaforo dele para casa.

Sakura (virou-se lentamente, olhos determinados): 'Muito bem, Li Syaoran... Esse seu golpe mais velho que a Muralha da China funcionou. Satisfeito?'

Syaoran (sorrindo de lado): 'Muito...'

Sakura deu um suspiro de derrotada e se aproximou dos dois jovens mais uma vez. Olhou de relance para Meylin, como se avisasse que teria volta por ela ter ajudado o primo. A garota fingiu não perceber e se afastou, para que os dois guerreiros pudessem se posicionar.

Assim que Meylin saiu do campo de alcance dos golpes de Sakura e Syaoran, os dois tomaram posição. E assim que o fizeram, seus rostos ficaram sérios.

Novamente iriam lutar...

E agora...? Qual seria o desfecho dessa vez?


(Continua)

Mary Marcato

29/12/04


(Big) Comentário da autora: Novamente peço desculpas pela enorme demora em escrever este capítulo. Na verdade, eu estou correndo contra o tempo, porque eu tenho muitas coisas para fazer, (tinha, tenho e ainda terei). Esse capítulo não era para terminar aqui, mas ele já estava grande e eu sabia que se não parasse aqui ia demorar muito mais para postá-lo e eu queria fazê-lo antes do "ano novo". Espero sinceramente que tenham gostado. Apesar de não ser exatamente "O" capítulo, eu precisava escrevê-lo. Vejam ele como um tipo de passagem de tempo. Ele precisava ser escrito, mas não contém exatamente muito sobre o tema principal da história, sinto muito. Contudo, espero sinceramente que vocês possam me deixar algum review (se acharem que é merecido), ou se preferirem, algum e-mail (acho q ele não vai aparecer aqui, mas o nome do e-mail é marymarcato e é do Hotmail. Qualquer dúvida é só olhar no meu profile).

Agradecimentos: Muito, muito, muito obrigada, pessoal! Mesmo! Consegui passar os 100 reviews e fiquei e ainda estou muito feliz por causa disso - Faz muito tempo que eu não respondo e-mail por e-mail, mas cada vez se torna mais difícil. Então, vou agradecer por "ordem de review", e pôr na frente do nick da pessoa qual capítulo ela leu quando revisou; e mais uma coisa, estes agradecimentos referem-se aos reviews feitos a partir do capítulo 14, que foi quando eu não consegui mais agradecer "propriamente" cada um. Há alguns nomes repetidos, de pessoas que postaram em mais de um capítulo (o que me agrada muito, pois assim eu sei que não estou a decepcionar :P), mas eu agradeci de novo, porque é referente ao capítulo que a pessoa revisou, ok? Espero q não esteja muito confuso, heheheh (risada sem graça :P).


Lan Ayath (capítulo14): não se preocupe :) Eu vou tentar não enrolar muito dessa vez.

Miaka (capítulo14): ah, que bom que você gostou da parte entre o Eriol e a Tomoyo :) Achei que o pessoal não se importasse muito com personagens secundários, que bom q me enganei :P Ah, é verdade, o Syaoran as vezes é cabeça dura demais! Até eu fico com raiva!

Violet-Tomoyo (capítulo14): quanto tempo! Desculpa não ter escrito mais vezes, não foi por mal. Quando li seu review, Portugal já havia jogado (Eurocopa), sinto muito, eles não ganharam, né? Mas, vamos falar de coisas mais "felizes", né? :) Ah, eu achei mesmo que você ia gostar da cena entre o Eriol e a Tomoyo, que bom! Quanto ao Syaoran e a Sakura... Bom... Muitas coisas irão acontecer ainda :) Só me sinto triste por não ser exatamente a "ótima escritora" que você falou, não queria ter demorado tanto para escrever, foi inevitável, minhas mais honestas desculpas.

MeRRy-ANNe (capítulo14): calma é tudo MeRRy :) Acho que você pôde perceber isso no capítulo 15 né :P

Serim (capítulo14): ah! Fico feliz q tanta gente gostou da cena do Eriol e da Tomoyo :) Mas... Como você pode ter visto no capítulo 15, a briga do Syaoran e da Sakura não terminou taaaão mal assim, né hehehehe :P

M. Sheldom (capítulo14): Bom, você pede desculpas por demorar a revisar e eu peço por demorar a postar :P Ah! Se você ficar falando desse jeito de mim eu vou ficar me achando demais, sabia! Hahaha. E eu concordo com você, qnd se quer escrever algo que prenda a atenção, é sempre legal terminar um capítulo na expectativa... mas... POR FAVOR! Não me esgane por eu terminá-los dessa maneira! :P Espero que o capítulo 15 tenha satisfeito suas expectativas quanto à luta do Syaoran e da Sakura :)

Carol Higurashi Li (capítulo14): ah, eu entendo perfeitamente o que é "falta de tempo", não se preocupe :) Espero que o capítulo 15 tenha satisfeito o que você esperava da luta entre o Syaoran e a Sakura, hehehe :P

Tat (capítulo14): ei! Legal você lembrar da minha outra fic :) Ainda me lembro do Fanfiction Brasil, snif... Saudades... Mas! Ah, muito obrigada pelos elogios :) E, se ainda está a ler, acho que já deu pra perceber que esses dois nunca ficam brigados muito tempo :)

Miaka-lutadora (capítulo14): hahahah, mas é claro que o Tai Ming vai ter o que merece!!! :P Porém, quanto à luta entre S&S... hehehe, acho q o final foi um pouco diferente do que vc esperava, né :P

Andréia (capítulo05): hei! Já te dei os parabéns, né :) Fico muito feliz em saber que está gostando e também pela coragem em ler tudo isso :P Obrigada

Andréia (capítulo14): que bom que está gostando, Andréia! Fico muito feliz :) E como pode ter visto no capítulo 15, acho que o desfecho da luta entre S&S foi do seu agrado, não? Hehehe :P

MeRRy-aNNe (capítulo15): pode não ter sido o review 100 mas ainda assim é muito importante para mim :) Fico mesmo feliz ao saber que estão a gostar. Hehehe, acho que a cena entre S&S foi meio inesperada pra todo mundo, né :P Também agradeço por citar os nomes dos anciões, realmente foi difícil achá-los, mas é gratificante saber que foram boas escolhas. Mas... Sinto muito, não consegui postar mais cedo o próximo capítulo, vou tentar fazê-lo da próxima vez :)

Shampoo-chan (capítulo01): êeeeh, minina! Achei q tinha lido!!! Hahhaa, ok, não tem problema, fico feliz só em saber que você vai fazê-lo quando puder, obrigada :)

Miaka (capítulo15): oba! Que bom que gostou!! :) Não sabia como o pessoal ia reagir com a "cena" entre S&S, mas eu achei q ia combinar hehehe. Quase ninguém mencionou isso, mas legal saber que algumas pessoas também gostaram da cena entre a Meylin e o Syaoran, acho que ela ficou "no lugar certinho" :)

Lan Ayath (capítulo 15): hahahaha, nada como uns bons "beijinhos" para reatar relações, hahaha. Eu também imaginei que ficaria engraçado o Syaoran tentando se levantar e não conseguindo se conter, hehehe :P

Violet-Tomoyo (capítulo 15): Oba!!!!! :P Ah, fiquei super feliz ao ler que você gostou desse capítulo, que achou ele o melhor, hehehe, acho q também é um dos meus favoritos. Eu estou tentando desenvolver cada personagem, seja principal ou não e é muito gratificante saber que as pessoas estão gostando também. Ainda muita coisa vai "rolar" entre S&S e qm sabe E&T :) Adorei mesmo o comentário, obrigada! Você sempre consegue me animar :)

RubbyMoon (capítulo01): muita coragem sua ler tudo isso!! Hahaha. Quem vai lendo de pouco em pouco é fácil, mas quem quer ler tudo de uma vez tem que ter muita paciência :) Não tenho certeza agora se já li seus fics, mas vou dar uma passadinha no seu profile, ok? Fiquei curiosa em saber como você escreve e agradeço os elogios qnt ao meu estilo :)

Andréia (capítulo15): ah!!! Fico até sem graça qnd o pessoal fala da cena de S&S hehehe, mas eu realmente achei que ia combinar. Que bom que gostou dos nomes, eu realmente ralei pra achar eles :P

RubbyMoon (capítulo8): hahahhaha, esse com certeza foi um dos capítulos mais "populares" hahaha. Acho q ninguém esperava o "soco", né :P Agradeço de verdade seus elogios, não sabe como é bom saber que as pessoas estão a apreciar minha escrita :)

Carol Higurashi Li (capítulo15): nossa! Até eu fico empolgada com a sua empolgação, hahaha :P Que bom que gostou, estou fazendo o possível para melhorar a cada capítulo e é gratificante saber que está gostando :) E como você é meu REVIEW 100!!!! Meus agradecimentos especiais!!! :)

RubbyMoon (capítulo15): minina.... adorei seu review! :) Nossa, adorei mesmo! Não é sempre que o pessoal escreve reviews assim e foi muito bom ver que algumas pessoas ainda vêem o que a gente tenta explorar em uma história. Sim, meu estilo é exatamente como você falou, parabéns! Hehehe :P E, sim (de novo) as coisas vão começar a esquentar de verdade, tanto em relação a S&S quanto ao "tudo de ruim" Tai Ming :P

Kyara (capítulo15): ah, valeu! :) que bom que está gostando, mesmo. Só sinto não ter podido cumprir seu pedido, não deu pra escrever mais rápido, mas eu espero sinceramente que os próximos capítulos façam valer toda a espera :)

Rita Rios (capítulo15): aiaiai, desculpa pela demora. Juro que não foi por que quis (queria justamente o contrário :/) mas não deu... Espero que os próximos capítulos compensem a demora desse e muito obrigada por me "cobrar", só assim eu funciono :P

Yoruki Hiiragizawa (capítulo15): oooooooi!!! :) Não preciso nem dizer que foi o seu review que finalmente conseguiu fazer eu "desempacar", né :) Eu já te respondi por e-mail, mas eu agradeço de novo, Yoru :) Mesmo... Fiquei super, hiper feliz qnd li seu review. Não esperava por ele, foi muito bom, meeeesmo! :) Obrigada de novo e boa sorte nas suas fics, hein!! Ah! E qnd precisar, estou sempre a disposição, ok?

Serim (capítulo15): aiaiaia, ok ok :P atendendo a pedidos, capítulo 16 no ar!!! :P Desculpa a demora, mesmo... E muito obrigada por ainda ter paciência pra me cobrar o que EU deveria estar me cobrando (preguiçosa, preguiçosa, preguiçosa!) espero que goste dos próximos capítulos :P acho q é o mínimo que eu posso fazer para compensar a demora.


Notas finais: Ufa! Acho q acabei. Mais uma vez eu agradeço a todos por cada review e cada e-mail que vocês me mandaram. E mais uma vez eu peço desculpas a todos pela demora... A cada dia eu aprendo mais e felizmente também faço mais amigos e eu devo muito disso a essas fanfictions, sejam minhas ou não. Infelizmente atrasos sempre acontecem, mas o melhor que eu posso fazer é tentar compensar isso daqui por diante. Obrigada a todos que tiveram paciência em esperar a continuação. Adoro todos vocês, meeesmo! :) Beijos!!! Ja ne!