Olá, zenty :) Não vou me estender muito, apenas dizer que cometi um erro no capítulo anterior. Eu coloquei que Tomoyo não sabia da partida de Touya, mas ela sabia. Eu concertei a cena e ela ficou um pouco diferente da original, talvez gostariam de ler, ela ocorre assim que Tomoyo se junta aos outros na conversa e Sakura pergunta a Eriol sobre Nakuru. Perdoem-me o erro. Espero que este capítulo compense minha falha. Se houverem muitos erros gramaticais, minhas desculpas novamente, fiz o possível para conseguir postar ainda na sexta, mas já passa da meia-noite, então tive que correr com a revisão, espero que não se incomodem com isso, mas se divirtam:)

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Capítulo20: O que é o Inevitável?

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Novamente ela se via andando naquele lugar escuro, as mesmas nuvens, os mesmos vultos, e ninguém parecia vê-la, mais uma vez... A jovem começou a andar mais rápido, como fizera das outras vezes, sabendo exatamente o que lhe impulsionava a fazê-lo. Os vultos se tornavam maiores, mais constantes, mais perigosos, parecendo querer possuí-la, mesmo que não conseguissem alcançá-la... Era sempre assim, sempre...

Sem que o acontecimento a surpreendesse, subitamente os vultos sumiram e ela parou da mesma maneira. A sua volta tudo ainda era negro, tudo ainda era frio, mas o medo que lhe possuíra das outras vezes já não mais parecia lhe afetar. Na sua frente, ela pôde ver aquelas duas sombras, que ao contrário das outras, eram distintas, muito distintas. Seu instinto lhe mandava prosseguir, mas ela sabia que não conseguiria, logo, ficou parada, apenas observando. Ela queria gritar, mas sabia que nenhuma voz sairia de sua garganta. Queria lutar contra tudo aquilo, mas novamente ela sabia que seus membros não lhe obedeceriam, nem braços, nem pernas, nem nada.

O que lhe trouxera surpresa e apreensão das primeiras vezes, não mais lhe parecia afetar, pelo menos assim ela queria pensar. Nem o mero pensamento que suas pernas estavam se movendo era importante, não mais, não quando ela tinha que presenciar aquilo.

Continuou parada, apenas observando, esperando, sabendo que logo tudo aconteceria de novo. E não estava enganada... Poucos segundos se passaram e a névoa que envolvia seus olhos sumiram como ela previra e ela mais uma vez pôde distinguir perfeitamente o que estava ocorrendo.

Dois homens, dois grandes guerreiros. Eles discutiam, ela nem mais precisava ver para saber, depois lutaram, depois pararam e finalmente um deles caiu em seus joelhos. Ela sentiu seu coração apertar pela milésima vez ao vê-lo daquela maneira, não importava quantas vezes tivesse que ver aquilo, sempre lhe doía, por mais que ela tentasse suprimir o sentimento. O outro homem, o outro vulto, aquele que permanecera em pé, assim como o fizera das outras vezes, parecia proferir, não, ela sabia que estava a proferir, palavras duras, mágicas! Ela chegara à conclusão de que era isso, não havia outro motivo para a desistência do outro.

A essa altura, ela tapou os ouvidos com força e fechou os olhos com a mesma intensidade. Ela sabia o que iria acontecer, sempre acontecia dessa maneira e ela não agüentava mais. Tudo o que ela queria era que acabasse antes que acontecesse, mas nunca acabava, nunca... Caiu de joelhos ao chão, sentindo prévias lágrimas nos olhos. Não suportando mais, abriu os olhos e voltou a observar a cena, que parecia ter parado exatamente no momento em que ela se negara a olhar.

Aquele ao chão tentou lutar, como tentara das outras vezes, encontrou forças em algum lugar e investiu com sua espada no peito do outro homem. Mas ela sabia que de nada adiantaria, que seria tarde, que o outro homem ampararia o golpe com uma de suas mãos, enquanto aproximaria seu rosto ao daquele ao chão. E assim ocorreu...

Ela viu o homem em pé dizer algo para aquele ao chão, como das outras vezes. Viu os olhos do segundo se arregalaram. Seria surpresa? Seria medo? Ela nunca sabia dizer! Só sabia que queria impedir! Que queria parar aquilo! Mas que nada adiantaria, que por mais que ela lutasse, aconteceria o inevitável! Iria acontecer... Iria... E como lendo os pensamentos dela, o outro homem, aquele que dissera as palavras finais, voltou sua postura àquela que estivera segundos antes e, como ela já presenciara outras vezes, olhou com desprezo para aquele aos seus pés.

Ela ficou imóvel, sem se mover, de nada adiantaria... Lutar contra aquela barreira invisível que a prendia naquele lugar ao chão era inútil... Não mais tentou gritar... Não mais tentou chamar o homem ao chão... Não conseguiria... Nunca conseguia...

E o momento aguardado chegou... E por mais que ela tivesse ansiado para tudo acabar logo, agora ela pedia para que não acontecesse... Não queria que acontecesse. Mas não havia nada nem ninguém que poderia mudar o que acontecera tantas outras vezes, da mesma maneira... Sempre...

Não foi diferente dessa vez... O homem com seus olhos naquele ao chão sorriu com ironia e maldade, sempre sorria e sempre daquela maneira... Ela sentiu todo seu ser tremer ao prever o próximo movimento, que não tardou. O homem levantou sua própria espada e ela sabia o que iria acontecer...

Fechou mais uma vez os olhos com força, encolhendo-se ainda mais, rezando quietamente, suplicando quietamente para que não ocorresse... Para que não ocorresse o que ela sabia que iria ocorrer...

Seu coração batia descontroladamente e ela sentia que suas forças a deixavam. Não... Não sua força física, mas sua força espiritual... Sua vontade de que aquilo não viesse a acontecer... Seu desejo de que aquilo fosse diferente... Sua esperança... Sua esperança estava a deixando...

Abriu os olhos novamente, não havia mais o que se fazer e ela assistiu quieta o que, mais uma vez, parou assim que ela fechou os olhos. Pensou em fechá-los novamente, ficar eternamente de olhos fechados para que não tivesse que acontecer... Mas iria acontecer...

O homem iria levantar sua espada e levaria-a com força de encontro ao corpo do outro guerreiro... De encontro ao corpo estático e aparentemente sem forças de Li Xiao Lang...

Sakura abriu os olhos para presenciar aquela mesma cena que sempre lhe perseguia, sempre... Todas e todas as noites... Presenciaria o final da luta entre Tai Ming e Xiao Lang... Sem poder fazer nada... Sem poder ajudar... Sem poder impedir... Aquele era sempre o mesmo fim...

Era inevitável...

'...'

Cinza...

Tudo ficou cinza e tudo ficou imóvel... Qualquer som, qualquer ruído... Qualquer movimento e ação que tinha ou iria ocorrer suspendeu-se repentinamente.

Sakura piscou várias vezes... Vendo, mas não crendo, na imagem de Tai Ming com sua espada levantada, pronto para desferir o golpe final em Xiao Lang, parado, a cena simplesmente tinha parado, como se estivesse usando a carta Tempo...

Mas...?

Dessa vez Sakura ficou confusa... Dessa vez ela não mais previa o que acontecia, pois simplesmente aquilo nunca havia acontecido...

O silêncio era intenso, como se pudesse consumir a tudo e a todos... Mas ela ficou parada no mesmo lugar, simplesmente sem saber o que fazer...

Voz: 'É inevitável... Sakura?'

A súbita quebra no silêncio e, principalmente, a súbita voz que preenchia tanto a mente de Sakura como todo o local a sua volta fez com que a moça arregalasse os olhos em puro espanto e levantasse seu tronco, antes encolhido, como se assim pudesse ver quem se encontrava ali.

Olhou para todos os lados... Mas nada, nem ninguém estava a sua volta. A mesma paisagem de sempre lhe cercava, apenas a falta de movimento fazia da situação diferente das outras vezes.

Voz: 'É inevitável... Sakura?'

A mesma voz, a mesma pergunta... Sakura olhava freneticamente para todos os lados e levantou-se, talvez para melhor observar e tentar achar aquele que lhe dirigia a palavra.

Sakura: 'Quem... Quem está aqui?'

Voz: 'Não respondeu minha pergunta, Sakura...'

A moça ficou calada, apenas observando a paisagem, tentando a todo custo achar quem lhe falava, mas era em vão... Mas a mesma voz voltou a se fazer presente.

Voz: 'Acha mesmo que isso é inevitável?' Sakura vacilou por um instante, sem compreender, sem entender o que se passava ali. Como se lendo a mente da menina, a voz voltou a falar. 'Acha mesmo que este é o fim da batalha entre Xiao Lang e Tai Ming?'

As palavras finalmente fizeram Sakura sair de seu estado aparentemente confuso. Parou de procurar quem lhe falava e voltou seu olhar para Tai Ming e Xiao Lang. O primeiro com a lâmina prestes a atingir o outro ao chão.

Abaixou os olhos... Não queria ver aquilo... Não queria...

Voz: 'Vai simplesmente assistir enquanto Tai Ming mata Xiao Lang?'

Sakura (de cabeça baixa, sussurrando): 'Não posso... Não consigo fazer nada... Toda vez que tento... Nada acontece... Nunca acontece... Simplesmente o que aconteceu da outra vez se repete, sempre e sempre... É...'

Voz (interrompendo Sakura): 'Inevitável?' Sakura ficou em silêncio diante da pergunta... E um certo silêncio transcorreu-se antes da voz misteriosa voltar a falar. 'O que é o inevitável, Sakura?'

Sakura arregalou levemente os olhos, digerindo as palavras daquele que não se revelava até agora. Sabia que a voz não se referia ao "inevitável fim daquela batalha" e sim ao "Inevitável".

"Não existem coincidências... Apenas o inevitável."

A famosa frase de Eriol voltou à mente da garota... Fazendo-a vacilar mais uma vez. Contudo, provavelmente a voz que lhe falava estava lendo sua mente, pois mal ela pensou, a voz voltou a falar.

Voz: 'Correto...' Sakura piscou várias vezes, sem compreender o que a voz queria dizer...

Sakura: 'Correto? Você...?' Mas não soube o que dizer.

Voz: 'Você está correta quando diz que não existem coincidências... Apenas o inevitável...'

Sakura (mais confusa): 'Então... Por que me questiona? Por que pergunta o motivo de eu não agir se já falei que sempre é assim, que por mais que eu tente sempre é assim... Isso é Inevitável. Não há como ser diferente, não há!' Terminou quase gritando, sentindo seus olhos cheios de lágrimas, abaixando a cabeça novamente.

Novamente se fez silêncio e Sakura pareceu sentir uma eternidade transcorrer antes daquela misteriosa pessoa falar mais uma vez.

Voz: 'Não existem coincidências, Sakura... Apenas o inevitável... Isso é verdade...' A voz fez uma pausa antes de continuar. 'O que você ainda não entendeu... É que somos nós que escolhemos o inevitável...'

Sakura mais uma vez sentiu os olhos se arregalarem e ela levantou a cabeça. E antes que pudesse dizer, sentir ou falar qualquer coisa... Uma imagem sumiu diante de seus olhos e o tempo voltou a transcorrer como nunca tivesse parado.

Ela piscou duas ou três vezes, parecendo acordar de um transe. Mas não tinha tempo para pensar ou refletir aquelas palavras, não havia tempo. Agora que o tempo voltava a seguir seu curso, aquilo iria acontecer de novo... Tai Ming iria ferir Xiao Lang novamente, mais uma vez, como fizera tantas outras vezes...

... Ou ao menos assim seria se ela simplesmente não tentasse fazer nada.

Observou com apreensão a arma de Tai Ming levantar lentamente, como ocorrera em todas as outras vezes. Ele iria ferir Xiao Lang, iria matá-lo...

Não... Não dessa vez...

Sakura cerrou seus olhos em pura concentração, enquanto forçava com toda sua vontade seu corpo, em direção aos dois em batalhas. Sentia seu corpo tremer com o esforço descomunal, sentia seu corpo quase cedendo e sua mente enchendo-se de névoa... Cansaço... Desespero...

Seu corpo não a obedecia, ela não iria se mover, não adiantaria... Nunca adiantava...

"Nós que escolhemos o inevitável..."

Sakura (com toda sua força): 'Xiao Lang!'

E antes que a arma finalmente alcançasse seu alvo, a Mestra das Cartas Clow se colocou entre a arma e o alvo. Suas duas mãos, agora banhadas em sangue, amparando a lâmina do inimigo.

Olhou nos olhos de Tai Ming, e pela primeira vez, de todas as outras vezes, de todas as milhares de vezes que presenciara aquela cena, os dois guerreiros pareceram tomar consciência de sua presença.

Xiao Lang (no chão, ainda fraco): 'Sakura...?'

Tai Ming (cerrando seu olhos com fúria): 'Sua pirralha intrometida!'

Sakura: 'Não dessa vez, Tai Ming... Nem agora, nem nunca.'

Empurrou com toda a força a lâmina do guerreiro enquanto desferia um chute no abdômen dele. O chinês foi jogado longe e Sakura recuperava seu fôlego enquanto voltava-se para seu amigo.

Sakura: 'Você está bem?'

Syaoran (respirando fundo, de cabeça baixa): 'Achei que não havia mais esperança...'

Sakura arregalou os olhos diante do dito.

"Esperança"

Sim... Nós que escolhemos o inevitável... Enquanto tivermos esperança...

E mais nada foi dito ou feito, pois tudo se tornou negro e desapareceu num mar de nada...

' ...'

Seus olhos abriram-se lentamente e uma leve dor de cabeça a impulsionou a colocar sua mão entre seus cabelos... Aquele mesmo sonho... O mesmo sonho de todas as noites... O sonho em que duas pessoas batalhavam e por mais que ela tentasse se lembrar de quem se tratava, sua mente parecia lhe trair.

Sakura se sentou na cama, sentindo os primeiros raios do sol atingirem o lençol que a cobria. Encostou-se no encosto da cama enquanto massageava levemente a cabeça. Subitamente sentiu uma dor aguda na palma da mão, ou melhor, na palma das duas mãos.

Voltou-as diante de si para observá-las e arregalou seus olhos ao que estava vendo.

Um corte, que parecia ter ou estar cicatrizando, seguia quase no mesmo ângulo na palma de cada uma de suas mãos. Observou por um segundo, sem entender o que acontecia e viu a manga de sua camisola levemente manchada.

Puxou uma delas, para melhor observar o que sujava sua roupa e mais uma vez seus olhos arregalaram-se, como se fosse possível arregalá-los ainda mais.

Sangue...

Em um flash compreensão pareceu encher a mente da garota e o sonho que tivera minutos antes voltou a sua mente.

Diferentemente das outras vezes, neste sonho ela conseguiu se mover e impedir que um dos guerreiros matasse o outro, entrando no meio dos dois. Era estranho, mas lembrava-se perfeitamente que impedira com as mãos nuas que a lâmina transpassasse seu alvo... E ainda mais... Lembrava-se claramente dos olhos negros e cheios de ódio do dono da espada.

Contudo, não conseguia lembrar-se de nenhum outro traço, nem de quem era a outra pessoa...

Ficou parada por segundos, antes de novamente parecer ser atingida por outro pensamento.

No sonho... Alguém falara com ela... Alguém que não se fazia presente, alguém que falara com ela por vários segundos e por fim lhe dera forças para agir quando já tinha desistido.

Sakura levantou a cabeça, olhando diretamente para a parede em frente a si, enquanto cerrava os olhos em concentração, tentado se lembrar daquela imagem que desaparecera tão repentinamente assim que o tempo tinha voltado a transcorrer durante seu sonho.

Um sorriso surgiu nos lábios da garota...

E mais uma vez ela a tinha salvado... Desta vez, salvado-a de si mesma...

# # # -

Sakura estava andando a passos rápidos entre os vários corredores de sua mansão. A manhã já tinha passado e ela só tinha conseguido dispensar os empregados, enviando-os para a cidade ou para a casa de algum outro familiar longe de sua casa. Dissera que era uma folga especial que estava dando a eles, por tantos anos de dedicação.

Sentiu-se lisonjeada quando eles insistiram em permanecer, dizendo que deveriam cuidar dela enquanto seu irmão estivesse fora e que não se importavam em perder um dia de folga. Mas Sakura sabia mais, sabia que não podia permitir que continuassem ali, por mais que quisesse, era totalmente perigoso.

Sabia muito bem que o que estava prestes a enfrentar era mais perigoso do que qualquer de suas aventuras enquanto Card Captor e dessa vez não podia se dar ao luxo de permitir que os empregados ficassem na casa. Nunca acontecera nenhum acidente com algum deles enquanto capturava as cartas, apesar de ter ocorrido algumas situações um pouco mais perigosas. Ocorrera de alguns até terem "imaginado" ter visto algo voando sobre o telhado da casa e um ou outro caso parecido.

Entretanto, nada se comparava ao que iria acontecer nos próximos dias e ela jamais permitiria que alguma coisa acontecesse com alguma daquelas pessoas que, mais do que empregados, eram seus amigos.

Resumindo, demorara quase toda a manhã para ela conseguir enviar a todos para longe da região. Além de alguns poucos camponeses que moravam próximos. A estes ela deu algum dinheiro para passarem pelo menos uma semana na cidade. Foi difícil inventar uma desculpa para tal ato, mas, o que realmente contou no final das contas foi a amizade e respeito que os camponeses tinham por aquela família e, para uns e outros, um dinheiro extra ganhado facilmente.

Sakura suspirou cansada enquanto seguia para certa direção. Quando tentava comparar o que tivera que passar para convencer às pessoas que moravam na mansão ou ali perto para irem à cidade com o que ela tivera que passar em relação a duas pessoas em especial...

Bom... Não havia nenhuma comparação...

Bendita teimosia e bendita super-proteção daquelas duas...

Lembrava-se quase começando a sentir outra dor de cabeça da reação de Meylin e de Tomoyo quando dissera que elas não podiam ficar ali.

Simplesmente aterrorizante...

Aquelas duas! Ah! Poderiam enlouquecer qualquer um.

Meylin tivera, como fora esperado, um ataque de raiva, ira descrita na face da chinesa. Só faltou pular em cima de Sakura para convencê-la a força de que não iria arredar o pé dali.

Tomoyo... Tomoyo começou a chorar, de uma forma tão... tão... oras, tão exagerada que Sakura simplesmente ficou estática, sem saber o que fazer ou falar.

Ela sabia que aquilo iria acabar acontecendo. Meylin jamais aceitaria deixar o primo "desamparado" e o mesmo se aplicava a Tomoyo em relação a Sakura... Foi mais de uma hora antes de finalmente conseguir "convencê-las"... Bom... Não exatamente...

Um riso quase surgiu no rosto garota quando ela se lembrava do que tivera que fazer...

# # # - FLASHBACK - # # #

Meylin (furiosa): 'Eu não arredo o pé daqui, Sakura! Você nem ouse sugerir isso novamente! Eu não saio daqui de jeito nenhum! Não vou deixar Xiao Lang desprotegido! Ele precisa da minha ajuda! E eu também tenho minhas contas a acertar com Tai Ming! Aquele velho nojento que vivia pegando no meu pé!' Parou por um segundo, respirando com força e raiva. 'Ouviu bem! Não vou, não vou e não vou!'

Sakura abriu a boca para falar, mas foi cortada pelo súbito barulho feito por uma voz normalmente tão angelical.

Tomoyo (às lágrimas): 'Sakura-chan! Você não pode fazer isso comigo! Você não entende! Eu não posso deixar você aqui! Sabe-se lá o que este chinês pode fazer com você! Eu jamais me perdoaria se algo lhe acontecesse!' As lágrimas manchavam o rosto alvo da garota quase como se ela tivesse acabado de sair de um banho.

Sakura respirou fundo... Não gostava nada nada de deixar a prima naquele estado. Mas o que havia de se fazer? Não podia permitir que as duas continuassem ali... Por mais que Meylin fosse uma ótima lutadora, ainda assim era alvo fácil contra magia. E por mais que Tomoyo se preocupasse com Sakura, não havia nada que ela pudesse fazer para evitar que Sakura ocasionalmente viesse a se machucar...

Mas as duas simplesmente negavam-se a partir. E Sakura já não conseguia achar argumentos para fazê-las reconsiderar...

Suspirou fundo mais uma vez... Que situação...

Nakuru (surgindo de repente): 'Algum problema, meninas? Ouvi barulhos do meu quarto e queria saber se estava acontecendo alguma coisa.'

Meylin (de braços cruzados e cara fechada, ainda olhando para Sakura): 'Não é nada Nakuru. Simplesmente Sakura acha que vai conseguir me fazer sair daqui. Hah! Nem que gatos latissem e que porcos voassem!'

Uma gota surgiu na cabeça de Nakuru e Sakura diante do dito.

Contudo, um estalo na mente pareceu dar a Sakura uma tão esperada solução. Porcos voassem, não?

Um sorriso maroto surgiu no rosto de Sakura. Meylin e Tomoyo pararam com o "drama" imediatamente, parecendo ler na fisionomia da japonesa algo que elas certamente não iriam gostar.

Meylin (cerrando os olhos para Sakura): 'O que você está pretendendo fazer, hein?' Sakura apenas sorriu para Meylin antes de se voltar para Nakuru.

Sakura (sorrindo docemente): 'Hm... Nakuru... Você poderia chamar ela pra mim?' A moça ficou quieta por um instante, mas compreensão se fez presente no rosto dela e Nakuru sorriu com certa "cumplicidade".

Meylin (sem entender): 'Mas...? Mas que droga está acontecendo aqui?'

Meylin e Tomoyo olhavam de Nakuru para Sakura, totalmente inconscientes do que estava prestes a acontecer.

Tomoyo: 'Sakura-chan...?' Mas a garota nada mais perguntou, pois uma luz forte preencheu o lugar e tanto Meylin quanto Tomoyo desviaram seus olhares de Sakura para observar a luz, ou melhor, a pessoa que emanava tal luz. Olhos arregalados.

Sakura (com sinceridade): 'Eu realmente não queria recorrer a isso... Vocês são minhas amigas e eu respeito a opinião de vocês...' Meylin e Tomoyo olharam-se com olhos arregalados, parecendo entender o que iria acontecer. 'Mas... Agora o que mais importa para mim é que vocês estejam seguras, e aqui não é o lugar ideal para isso.' Concluiu colocando a mão dentro de sua blusa, pegando um certo cordão.

Meylin (vendo o que Sakura estava fazendo): 'Não ouse, Sakura!' Meylin apontou um dedo acusador para a garota, que fingiu não escutá-la.

Tomoyo (olhos enchendo-se de água): 'Sakura-chan... Por favor...'

Sakura fez força para não prestar atenção nas súplicas da prima e apertou o objeto em uma de suas mãos.

Sakura: 'Chave que guarda o poder da minha estrela, mostre seus verdadeiros poderes sobre nós e os ofereça à valente Sakura que aceitou esta missão. Liberte-se!'

Meylin olhou com fúria para Sakura, enquanto Tomoyo o fazia com olhos suplicantes.

Meylin: 'Sakura... Você não pretende...?' Mas Sakura a interrompeu.

Sakura (com os olhos levemente tristes): 'Sinto muito, minhas amigas... É para o bem de vocês...' Sakura vacilou por um instante, sabendo que estava agindo contra a vontade das duas... Suspirou levemente antes de continuar, pois Meylin já estava prestes a pular em cima dela. 'Sono!'

E antes que Meylin ou Tomoyo pudessem agir, as duas caíram em sono profundo, Tomoyo amparada por Sakura e Meylin por RubyMoon, que acabara de surgir a pedido de Sakura.

A japonesa olhou com olhos levemente culpados para a prima. Não queria agir assim... Mas...

RubyMoon: 'Você agiu certo, Sakura-sama... Nem sempre o que queremos é o que realmente é preciso... Meylin e Tomoyo irão entender...' Sakura olhou para a guardiã e depois de um segundo acenou afirmativamente com a cabeça. Ficou em silêncio por um segundo, antes de voltar a falar.

Sakura: 'Escute, RubyMoon... Quero que você as leve para longe daqui... Para a casa de dois amigos meus, Chiharu e Yamazaki, eu lhe darei a localização... Eles moram há vários quilômetros daqui e quando verem Tomoyo e você disser que fui eu que as enviei, irão entender...'

RubyMoon: 'Sim, Sakura-sama... Como quiser.' Disse a guardiã, pegando Tomoyo dos braços de Sakura e segurando-a em um dos seus, enquanto fazia o mesmo com Meylin. RubyMoon olhou para Sakura mais uma vez, como se quisesse dizer algo. Sakura a olhou e logo compreendeu.

Sakura (suspirando pesadamente): 'Sim, RubyMoon... Tai Ming chegará aqui antes que você consiga voltar...' RubyMoon pareceu querer dizer algo, mas Sakura não deu oportunidade. 'Não se preocupe, Eriol não iria se opor a minha decisão. Ele também preza pela segurança de Tomoyo e Meylin, não só da minha... Além do mais... Yume-sama e Syaoran ainda estarão aqui...' RubyMoon ficou em silêncio por instantes, antes de se pronunciar.

RubyMoon: 'Não é só pelas ordens de Eriol-sama que gostaria de ficar aqui...' Sakura a olhou sem entender. 'Eu também me preocupo com você, Sakura-sama.' Sakura sorriu com gratidão para a guardiã, quase tão quieta e guardada quanto as suas emoções quanto Yue.

Sakura: 'Obrigada, RubyMoon... Alegra-me saber que tenho tantas pessoas que zelam pelo meu bem estar...' Parou por um segundo, aproximando-se da guardiã alguns centímetros mais alta do que Sakura e surpreendendo a mulher de asas com um carinhoso abraço. Depois de um segundo, Sakura soltou-a e olhou-a por um instante. 'É melhor assim, RubyMoon... Você leva Tomoyo e Meylin para um lugar seguro e continue lá, guardando elas. Não conheço Tai Ming, mas suspeito que ele tenha vários ninja por todo o Japão, não quero que sejamos pegos desprevenidos e ele consiga raptar duas pessoas tão importantes para mim e Syaoran...'

RubyMoon (acenando afirmativamente): 'Está certo, Sakura-sama. Creio que esta seja a melhor solução...' Uma pausa antes da guardiã continuar. 'Tome cuidado, Sakura-sama... Confio em você tanto quanto Eriol-sama, mas não gostaria que algo lhe acontecesse por descuido. Tome cuidado...' Sakura acenou afirmativamente e antes que qualquer outra coisa fosse dita, a guardiã sumiu do local com as duas garotas inconscientes em seus braços...'

# # # - FIM DO FLASHBACK - # # #

O sorriso de Sakura sumiu quando ela lembrou-se do que tivera que fazer para tirar Meylin e Tomoyo dali. Realmente não queria agir contra a vontade delas... Isso realmente a incomodava... Mas tinha que pensar em seus deveres, principalmente como amiga... Não podia permitir que alguém saísse ferido por sua causa... Ainda mais Tomoyo ou Meylin.

A face triste ficou levemente séria ao recordar-se das palavras de RubyMoon. Ela tinha razão... Por mais que Eriol ou qualquer um pudesse confiar nela, Sakura sabia que não podia depender somente disso... Tinha que tomar cuidado, sim, RubyMoon estivera certa ao dizer isso. Tomar cuidado... E Sakura pôde ler as entrelinhas nas palavras da guardiã, fazendo-a recordar-se de uma pessoa em especial: 'Não subestime seu inimigo, pois ele não o fará...' Tomar cuidado com o inimigo e lutar com todas as suas forças, era isso o que ela e Syaoran deveriam fazer...

Imediatamente Sakura se viu lembrando-se mais uma vez do sonho que tivera... Nunca conseguia distinguir quem lutava, mas lá no fundo ela sempre teve a ligeira idéia de quem eram... Aqueles não eram sonhos, tinha quase certeza disso, só podiam ser premunições, como algumas vezes lhe ocorrera durante sua época de Card Captor ou em algumas outras ocasiões depois disso...

E era por isso que os sonhos tanto a assustavam... Se seu coração estivesse certo... Se realmente aquela pessoa ao chão, prestes a morrer fosse...

Sakura parou subitamente, vendo que se encontrava na frente de uma porta.

Sorriu por um segundo, sabendo de quem era aquele quarto...

Se aquelas eram premunições do que iria acontecer... Ela sabia que seriam as escolhas que determinariam o inevitável do que previra em seus sonhos...

Assim como uma pessoa em especial tivera que fazer a mais difícil das escolhas para determinar seu próprio "Inevitável".

Sakura bateu duas vezes na porta, antes de receber permissão para entrar.

E ela escolheu entrar...

# # # -

Observava a paisagem através da janela, perdido em pensamentos que não pareciam querer abandoná-lo. Tanto para pensar e ele não sabia nem por onde começar...

Não poderia dizer como a maioria das pessoas: "tudo era mais fácil quando era criança, não havia preocupações, apenas diversão"... Não... Nem mesmo em sua infância as coisas foram fáceis, talvez esse fosse um dos motivos por ter sido sempre tão temperamental e, como dizia seu mestre, rabugento... Principalmente durante seus primeiros anos de adolescência.

Nunca tivera amigos, não tinha tempo para isso. Sempre eram treinos e mais treinos. Quando não estava treinando, estava estudando... Sempre e sempre. Um pouco mudou quando partiu para as montanhas e, apesar de ter ido para lá apenas com o objetivo de aperfeiçoar suas técnicas em artes marciais e magia, acabou aprendendo muito mais que isso. Não que tivesse feito milhares de amigos como um dia até teve vontade de fazer... Mas a companhia de seu mestre e de Yukito lhe bastaram para fazer pelo menos um ano de sua vida mais aceitável.

Não... Não fora Yukito, fora... Syaoran suspirou enquanto encostava a cabeça em um dos cantos da janela, pensando em tudo o que ocorrera nos últimos anos de sua vida. Se não podia dizer que na infância não havia preocupações, apenas diversão, como a maioria dizia, ao menos poderia dizer que sua infância tivera muitos menos problemas e complicações que sua juventude e maturidade...

Seu período nas montanhas com certeza fora os melhores tempos de sua vida. Aprendeu tudo, ou pelo menos quase tudo que desejou e ainda pôde "curtir" um pouco a vida que lhe fora tirada devido às responsabilidades.

Entretanto... Entretanto fora apenas um ano e, assim que voltou para casa já se viu novamente cercado de obrigações e estresse. Agradeceu aos deuses quando sua mãe conseguiu intervir por ele e mandá-lo para a Inglaterra, onde estudou medicina e posteriormente se especializou em psiquiatria, um campo não muito conhecido na época e ainda nos dias atuais.

Foi lá que conheceu Eriol, e surpreso ficou quando descobriu que Eriol conhecia sua mãe e sua família. E, mais ainda, quando descobriu que Eriol era a reencarnação do tão aclamado e conhecido Mago Clow.

De qualquer maneira, Syaoran teve que se dobrar em dois durante sua estadia na Inglaterra para terminar o curso de medicina e sua especialização(1) o mais rápido possível. E, mesmo longe de sua família como estivera enquanto nas montanhas, ainda assim se via sob a pressão desta, sempre lhe cobrando mais do que fazia, o que para a grande maioria já era mais do que uma pessoa normal poderia agüentar.

Mas Graças aos Céus os anos seguintes não conseguiram derrubá-lo e assim que terminou seus estudos, se viu atuando como psiquiatra e, num mais que surpreendente curto período de seis meses, já era reconhecido em Hong Kong como um jovem brilhante, começando a ser reconhecido por toda China.

E foi nessa época que praticamente toda sua vida deu a maior revirada de todas. Pois mal passados seis meses que voltara à China, os anciãos lhe informaram de que partiria para o Japão, Meylin já havia partido fazia algum tempo e, mesmo que ele tivesse a ligeira idéia de que o real motivo dela ir era para conseguir achar uma maneira de mandá-lo para lá, nunca teve certeza absoluta.

Contudo, ele estava certo. E mal foi informado de sua partida, já se viu pegando o navio para o país do sol nascente. Aliviado, por se ver mais uma vez longe dos anciãos, e angustiado, ao saber que deixava para trás sua mãe, em coma, Syaoran desembarcou no Japão, para reencontrar um "amigo" que há muito não via.

Syaoran abafou um riso sarcástico enquanto recordava-se. "Amigo"... Certo... Syaoran passou noites e noites esperando que Yukito voltasse para poder buscar nele ajuda e enquanto isso, bem debaixo de seus olhos, o verdadeiro Mestre das Cartas estava ali, morando no mesmo teto que ele, sendo atendido por ele...

Mesmo com o ataque de Saigo, mesmo depois de ver a morte de perto, o chinês não conseguia ver mais nada do que raiva e rancor ao descobrir a real identidade do Mestre das Cartas Clow.

Uma mulher... Uma mulher em uma cadeira de rodas era a Mestra das Cartas. Por mais que Syaoran negasse aos outros, não podia negar a si mesmo que estava cheio de preconceito e raiva por ser uma mulher a dona das Cartas.

Meylin estava certa quando deu aquele "sermão" nele... Não estava realmente com ódio de Sakura, por mais que ela tivesse lhe magoado por não ter contado a verdade desde o começo, não estava com ódio. Estava era com raiva, inveja, preconceito... Sentimentos que tanto sua mãe lhe ensinou a não sentir e ele próprio repudiava...

Uma mulher era a Mestra das Cartas, uma mulher havia o superado em magia e se tornado a Mestra das Cartas, aquelas que ele tanto ambicionou, mas foi proibido de ir procurar pelos anciãos...

Todavia, depois de tudo o que passara, depois de todo o convívio com as pessoas daquela casa, o convívio com Sakura... Apesar de não expressar por palavras, ele já não sentia a mesma raiva que sentira no começo. Como poderia? Estava era com raiva de si mesmo pelo o que pensara da garota... Por tê-la inferiorizado por inveja e machismo... Algo que sua mãe fez questão de lhe ensinar dentro de um Clã que era exatamente o oposto.

Syaoran estava com remorso de toda raiva e veneno que jogou em cima de Sakura nos últimos tempos por ser ela a Mestra das Cartas. Aprendera de pouco em pouco com a japonesa que existe muito mais do que os olhos podem ver...

Sakura não era uma frágil flor, fraca e inútil como ele imaginou ser. Era bela e delicada ao seu próprio modo, como uma flor rara, mas acima de tudo era determinada, como nenhuma outra pessoa que ele conhecera antes. E... Se antes sentira apenas atração por aquela mulher... De pouco em pouco o sentimento se tornou maior... Muito maior e...

Syaoran suspirou com raiva, apoiando a cabeça entre os braços, no parapeito da janela. Novamente voltava àquele tópico. Sim... Ele não mais sentia apenas atração por ela... Sentia mais que isso... Por mais revoltante que poderia parecer para alguém que fez justamente tudo o que era possível para não sentir aquilo...

Mas era em vão... E, se na primeira luta que tivera com ela no Japão fora apenas para provar a si mesmo que era o mais forte... A segunda luta ocorreu porque fora a única maneira que ele encontrou de poder se aproximar dela, e dizer sem palavras que não mais tinha ódio dela e, principalmente, que estava arrependido... Fora o único modo que achou de fazê-lo, já que seu orgulho não lhe permitia mais que isso...

Como psiquiatra, poderia dizer que Sakura havia o entendido, ou pelo menos que ela não mais lhe guardava nenhum rancor ou raiva do jeito que a tratara. Vira isso... Ou pelo menos sentia ter visto isso na troca de olhares que tivera com ela durante a conversa com Yume e os outros...

Syaoran levantou a cabeça e fechou levemente a expressão... Sua linha de raciocínio parecendo ter mudado totalmente... Aquela senhora, aquela mulher, Yume, interrompera sua batalha com Sakura e finalmente revelara a todos o porquê de estar ali, como e os motivos.

O chinês ansiou entender finalmente grande parte do que parecia estar acontecendo com aquela conversa. Mas, apesar de muito ser esclarecido, ainda assim... Ainda assim surgia-lhe mais e mais dúvidas. Sem contar a enorme teia que se formava quando ele ligava um fato ao outro, e, figurativamente falando, transformando Tai Ming em um aracnídeo muito mais venenoso, perigoso e mortal do que ele pudera, até mesmo em suas mais graves suposições sobre o ancião, imaginar.

E sua mãe... Depois de mudar totalmente sua idéia em relação a seu pai apenas em uma conversa, fora capaz de deixá-lo ainda mais confuso com um segredo que ela se negava a contar... O que seria? O que seu pai queria defender ao lutar com Tai Ming?

O que...?

A linha de raciocínio do rapaz foi interrompida com uma leve batida na porta. Voltou-se para trás, já que a janela encontrava-se exatamente no lado oposto daquela.

Syaroan: 'Quem é?'

Voz feminina (vacilante): 'Hm... Sakura...' O rapaz vacilou um segundo antes de se levantar e seguir até a porta, abrindo-a e revelando o rosto angelical e levemente tímido da japonesa... A única no mundo com aquelas duas esmeraldas no lugar de olhos...

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Um silêncio levemente incômodo se fez assim que ela encontrou aquele par de olhos chocolate. As duas figuras se encararam pelo o que pareceu horas, cada um preso em seus próprios pensamentos, antes do rapaz finalmente quebrar o transe desviando o olhar e abrindo mais a porta, para dar passagem à moça.

Syaoran: 'Entre...' A voz firme e grave contrariando totalmente o tremor que percorreu o corpo do rapaz assim que a moça entrou, passando ao seu lado. Syaoran observou ela caminhar quietamente até uma das poltronas, sem se sentar e, parecendo novamente acordar de um transe, fechou a porta calmamente.

Syaoran seguiu até a garota, dirigindo-se até uma outra poltrona de frente para aquela em que Sakura se encontrava de frente também, cabeça ainda baixa. Syaoran fechou um pouco a expressão, sem entender o acanhamento incomum da jovem.

Syaoran: 'Está tudo bem?' A súbita pergunta pareceu despertar ou até mesmo assustar a jovem japonesa, que levantou a cabeça rapidamente, olhos levemente arregalados, em direção ao rapaz. Assim que os olhares se encontraram, Sakura sentiu subitamente seu rosto se esquentar, fazendo-a desviar o olhar mais que depressa. Syaoran apenas levantou uma sombrancelha diante do ato. 'Quer se sentar?' Sakura apenas acenou afirmativamente, antes de se sentar, acompanhada do rapaz.

Novo silêncio se estabeleceu entre os dois, um silêncio um tanto quanto incômodo. Syaoran já começou a sentir uma leve impaciência, sem contar uma leve apreensão diante da atitude da jovem, que se mantinha levemente encolhida e de cabeça baixa.

Syaoran (expressão fechada): 'Qual é o problema, Sakura?' A moça sentiu o corpo tensionar levemente antes dela levantar a cabeça lentamente para olhar a face séria do rapaz. Encarou-o por alguns segundos, antes de dar um longo suspiro, encostando-se com tudo no encosto da poltrona, como se estivesse cansada.

Sakura (de olhos fechados): 'Desculpe-me...' Sakura falou subitamente, antes de abrir os olhos. Um rubor começou a tomar conta de suas faces novamente, mas a moça balançou a cabeça com força, dispersando qualquer coisa que estivesse em sua mente antes de continuar. 'Er... É que eu estive com Yume-sama agora há pouco... Hm... Acho que ela ainda me deixa meio incomodada.'

O chinês observou o rosto da jovem, que sutilmente tentava não olhá-lo, parecendo engolir a desculpa dela, bom... Apenas parecendo.

Syaoran (olhos levemente cerrados de desconfiança): 'Hm... Sei...' Sakura olhou de relance para o rapaz, sabendo perfeitamente que ele não iria engolir qualquer coisa que dissesse. Mas ficou quieta, não iria ficar ainda mais desconcertada na presença dele se pudesse evitar. 'Mas então... O que veio fazer aqui?'

A súbita pergunta tirou Sakura de seus pensamentos, fazendo-a olhá-lo mais uma vez, sem saber o que falar. Syaoran ainda a olhava com o mesmo olhar neutro que lhe dava quando eram "médico/paciente". Suspirou derrotada, sabia que não podia enganá-lo tão facilmente. Além de péssima mentirosa, estava conversando justamente com alguém que consegue ler facilmente a expressão de alguém.

Fechou a expressão levemente. Mas que droga! Por que ele tinha sempre que saber o que ela estava pensando?

E foi a súbita raiva que fez Sakura encontrar uma certa força para voltar a falar, especificamente sobre o que ele lhe perguntara.

Sakura (olhando-o com olhos estreitos): 'Eu realmente estava falando com Yume-sama e ela realmente ainda me incomoda um pouco com aquele ar meio, er... fantasmagórico dela...' Um tremor passou pelo corpo da garota com as últimas palavras e Syaoran teve que se segurar para não soltar uma gargalhada. Mas depois do dito, Sakura ficou quieta de novo, a "força" parecendo desaparecer de novo.

Syaoran (batendo os dedos na poltrona em leve irritação): 'Tá, tá... Não falei que você não estava com ela... Quero saber o que você está fazendo aqui.' Sakura olhou-o de novo, com olhos arregalados (de novo)... Antes de parecer se recompor... Suspirando ela continuou.

Sakura (olhando para baixo depois de suspirar): 'Hm... Eu... Acho que precisamos conversar... Certas coisas... Er... Você sabe... Depois que Tai Ming chegar talvez a gente não tenha a chance de fazer isso...' A frase terminada em murmúrio fez o chinês fechar mais a expressão. "Não ter outra chance?" Realização pareceu "bater" na cabeça do rapaz antes de ele falar subitamente.

Syaoran: 'Sakura! Se a gente tiver que conversar é claro que vamos ter outra chance!' A súbita sentença fez Sakura olhá-lo com surpresa mais uma vez. Syaoran viu que havia exagerado um pouco e tentou se recompor... 'Digo... Você não acha mesmo que um idiota como Tai Ming vai conseguir derrotar a gente, não é?'

Mas a moça ficou em silêncio... Parecendo lembrar-se de algo...

Sakura: 'Yume-sama disse que ele é muito poderoso, Syaoran...' O tom melancólico na voz da garota fez o rapaz sentir seu coração se apertar, aquela mesma vontade de confortá-la que sentiu durante a conversa com Yume no dia anterior voltando a tomar conta dele. Syaoran balançou a cabeça com força, não podia pensar nisso agora.

Fez-se silêncio, enquanto Syaoran observava o rosto abaixado, mas ainda visível de Sakura.

Syaoran: 'Não vai acontecer nada com você, Sakura.' A garota olhou-o mais uma vez, sem entender as palavras do rapaz. Syaoran se mantinha sério antes de continuar. 'Eu... Estarei lá para você.'

A sentença pegou Sakura totalmente de surpresa, fazendo-a arregalar os olhos e ficar totalmente sem palavras. Entretanto, Syaoran não pareceu se afetar com a reação, o mesmo olhar determinado mantinha-se em seu rosto.

Sakura observou o rapaz por vários segundos... "Alguém para ajudar a curar meu coração" A lembrança de seus pensamentos do dia anterior lhe voltaram... Sim... Realmente ainda havia alguém lá por ela... A garota sorriu para o rapaz por um momento, num agradecimento silencioso.

Ficaram em silêncio mais uma vez, contudo, dessa vez o silêncio pareceu um pouco mais confortável. Os dois não se encaravam, mas estavam bastante cientes da presença do outro, o que os incomodava e ao mesmo tempo os confortava.

Foi Sakura quem subitamente quebrou o silêncio dessa vez.

Sakura (sem olhá-lo): 'Você me deve uma explicação.' Syaoran levantou o olhar para a moça, incompreensão escrita em seu rosto, enquanto piscava várias vezes, totalmente sem idéia do que ela se referia. Iria perguntar, mas a moça levantou o olhar para ele e o rapaz foi pego de surpresa diante do sorriso de lado, tão comum tanto para ele quanto para ela, que se formou no rosto da japonesa. 'Que idéia é essa de sumir de repente e deixar nas minhas mãos a responsabilidade de fazer Tomoyo e Meylin partirem daqui, hein?' Concluiu em tom acusador.

Uma gota de nervosismo desceu pelo rosto do rapaz, enquanto ele riu sem graça.

Syaoran (encostando-se com força na poltrona): 'Er... Sabe como é, Sakura... Eu resolvi sair um pouco para tomar um ar fresco, er... E treinar! E...' O olhar assassino de Sakura fez o rapaz parar com a desculpa tão óbvia, fazendo-o engolir em seco.

Sakura (olhos estreitos): 'Você!' E apontou um dedo acusador para ele. 'Sabia o que iria acontecer, não é! Fez de propósito!' Syaoran sentiu várias gotas de nervosismo em seu rosto e em um pulo ele saiu da poltrona, um segundo antes da garota pular em cima desta, derrubando-a.

Syaoran (com as mãos para cima, em sinal de redenção): 'Calma, Sakura... Calminha... Não precisa ficar assim.' Antes de dizer mais alguma coisa a moça correu em direção a ele, fazendo-o se esconder atrás de outra poltrona. 'Sakura, entenda que eu tenho que agüentar todos os ataques da Meylin, eu precisava de um descanso.' Falou ele enquanto escapava de outro ataque da moça.

Sakura (bufando de raiva): 'Ah! E deixando a bomba estourar na minha mão, né!' Sakura pulou de novo. E, para desespero de Syaoran, ele não viu saída, preso entre a cama e ela.

Por sua vez, Sakura não esperava a falta de movimento do rapaz e, devido ao seu súbito pulo, não conseguiu se desviar a tempo de trombar com tudo nele, fazendo os dois caírem na cama, Sakura em cima de Syaoran.

'...'

Sakura olhou diretamente nos profundos olhos escuros do rapaz, como se presa nas duas orbes âmbares. Syaoran, por sua vez não se encontrava em situação muito diferente. Os dois respiravam com certa força, devido à "batalha" de segundos antes e a respiração de um se confundia com a do outro, tamanha era a proximidade dos dois.

Syaoran estava perdido nos olhos de Sakura e logo viu seus próprios olharem para os lábios levemente entreabertos e rosados da garota. Sem que ele percebesse, Syaoran se viu aproximando-se de Sakura, lentamente.

Sakura sentiu a aproximação do rapaz e seu próprio corpo pedindo para ela fazer o mesmo. Entretanto, a garota dolorosamente ignorou o que sentia, levantando-se de cima do chinês, seguindo para a janela ao lado da cama, sem encará-lo.

A situação aturdiu mais o rapaz do que ele esperara e demorou um segundo para ele se sentar na cama, ainda meio desnorteado, antes de olhar para a moça que se mantinha de costas para ele. Voltou a olhar para frente, encarando o chão por um segundo.

Syaoran (em um sussurro): 'Sakura, me desculpe, eu...' Mas não pôde concluir a sentença, pois, para sua surpresa, Sakura o interrompeu.

Sakura: 'Foi Yume...'

A afirmativa não pareceu fazer algum sentido para Syaoran se era isso que Sakura esperava. Foi Yume o quê? Syaoran voltou a olhá-la, ainda sentado na cama, pronto para perguntar o que Sakura previamente respondeu.

Sakura (ainda sem olhá-lo): 'Foi Yume quem interrompeu nossa luta, Syaoran.' E dessa vez o rapaz ficou ainda mais confuso. Oras, ele já sabia disso.

Syaoran: 'Qual o motivo de me dizer isso, Sakura? Eu sei que foi ela quem...' Mas foi interrompido mais uma vez.

Sakura: 'Estou me referindo a nossa primeira luta.' A isso Syaoran arregalou os olhos. Como assim...? Yume...? Mas...? 'Foi Yume quem interrompeu nossa luta...' Concluiu ela mais uma vez, antes de vacilar por um segundo e continuar. 'Bom... Não exatamente nossa luta...'

Syaoran não viu, mas pôde sentir o rosto de Sakura se tornando rubro, pois o dele se encontrava da mesma maneira. Yume os havia interrompido de fazer o que eles começaram depois daquela luta... Mas por que motivo ela faria isso? O rapaz continuou olhando para o chão, antes de levantar-se e se encaminhar para o mesmo lugar que Sakura se encontrava, posicionando-se ao lado dela, sem olhá-la.

Ficaram em silêncio por um segundo, Sakura tinha os braços cruzados, quase como se abraçando, enquanto Syaoran mantinha suas mãos em seus bolsos.

Sakura (quase sussurrando): 'Ela me contou algumas coisas enquanto estive conversando com ela antes de vir aqui... Inclusive que fora proposital o súbito aumento de energia mágica que ela provocou e nos fez perceber a presença dela naquele dia... Fazendo a gente parar... Er... Você sabe o que...' Falou Sakura meio sem graça. Syaoran ficou quieto por alguns segundos.

Syaoran (sem olhá-la também): 'E... O que mais ela lhe contou?'

Sakura ficou quieta por um instante... "Ai... Que vergonha..." Era o pensamento que novamente preenchia sua mente ao lembrar-se mais uma vez da conversa que tivera com Yume... O mesmo motivo que a fizera ruborizar-se nos primeiros minutos que passara com Syaoran anteriormente e que agora a fazia ficar vermelha de novo... Que situação...

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(Continua)

Mary Marcato

05/03/05

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(1) Acredito que medicina seja de 5 anos e uma especialização de 2 anos. Não sei como funcionava o sistema no começo do século passado. Logo, acredito que não esteja muito exato meus dados e talvez nem houvesse especialização em psiquiatria ou qualquer outra coisa naquele tempo. Contudo, assim como eu pedi para vocês não levarem em conta os fatos históricos desta época, peço que também não o façam para pequenos detalhes como este. Este é apenas um fic e meu objetivo aqui não é ser perfeita, mas agradar tanto a vocês quanto a mim mesma. Obrigada pela compreensão.

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Comentários da autora: Saco... ¬¬ Eu tinha muito mais para escrever... Mas já estava chegando na página trinta e eu ainda tinha milhares de coisas pra escrever, então resolvi parar na vinte... Sei que prometi mais S&S, mas não deu, desculpem-me. No próximo capítulo prometo satisfazer às expectativas de vocês (ou espero pelo menos um pouquinho disso). Espero que estejam gostando e, apesar de estar dando mais capítulos do que eu esperava ou gostaria, espero que esteja ficando bom na opinião de vocês. Review me ou e-mail me, ok:)

Agradecimentos: Não vou agradecer a cada um aqui pq não vou ter tempo agora e pq ia ficar um pouco grande demais :P Então só gostaria de agradecer a todos os reviews e por aqueles que me avisaram de alguns erros que cometi e já fiz o possível para consertar. Obrigada:) Assim que possível agradeço propriamente a cada um. Arigatou minna-san! Ja ne:)