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Ooooi :) Perdoem-me o atraso, mas não foi minha culpa. Estou morando em outra cidade por causa do início da faculdade e lá eu não tenho computador, como eu só volto pra casa a cada quinze dias isso me fez atrasar a postagem, desculpem-me. Vou tentar dar um jeito de entrar mais na net, mesmo q não tenha pc na minha "nova casa" eu vou ver se vou em um ciber ou coisa assim. Qnt a este capítulo... Mais algumas revelações (aaaaffs, um dia elas acabam :P) e... Principalmente... Uma "pitadinha" do que tanto vocês me pedem. Preciso dizer mais? Hehehe, acho que não, né? Então... Divirtam-se!

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Capítulo21: Dois poderes, duas almas

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# # # - No capítulo anterior - # # #

Syaoran: 'E... O que mais ela lhe contou?'

Sakura ficou quieta por um instante... "Ai... Que vergonha..." Era o pensamento que novamente preenchia sua mente ao lembrar-se mais uma vez da conversa que tivera com Yume... O mesmo motivo que a fizera ruborizar-se nos primeiros minutos que passara com Syaoran anteriormente e que agora a fazia ficar vermelha mais uma vez... "Que situação..."

# # # - Capítulo atual - # # #

Syaoran observou a moça que mais uma vez estava com as faces vermelhas sem entender a reação dela. Mas o que aquela mulher e Sakura tinham conversado para deixar a garota daquele jeito? Era exatamente isso o que iria perguntar, se não visse no olhar da jovem que ela mergulhara em seus próprios pensamentos.

Syaoran (levantando uma sombrancelha): 'Sakura?' Não houve resposta. A garota mais uma vez se via recordando-se daquela estranha conversa quase meia hora atrás...

"Que situação..." Era tudo o que lhe vinha à mente...

# # # - FLASHBACK - # # #

Voz feminina (após bater na porta): 'Entre...' A voz calma e leve da mulher se fez presente e a jovem se viu abrindo levemente a porta que estivera encarando durante uns bons dois minutos.

Sakura (sem graça): 'Er... Com licença, Yume-sama.' A mulher vestida em trajes chineses e observando a paisagem através da janela de seu atual quarto voltou-se calmamente para a moça que entrava ali. A face serena e neutra não dava idéia a Sakura do que a mulher estaria pensando.

Yume: 'Que prazer em revê-la, pequena estrela.' Sakura sentiu uma leve gota escorrendo ao lado de sua testa, ainda não se acostumara com aqueles apelidos que todo mundo adorava inventar para ela. Sorriu sem graça e se aproximou vacilante.

Sakura (vacilante): 'Hm... Er... Eu vim saber se a senhora gostaria de alguma coisa...' A frase ficou suspensa no ar por alguns segundos, enquanto Yume parecia estar a contemplar o rosto da jovem japonesa, deixando-a ainda mais sem graça.

Yume (calmamente): 'Sente-se, pequena.' Sakura obedeceu de imediato, sentando-se em uma das poltronas do quarto, assim como Yume também fazia em frente a ela.

Um silêncio mais do que incômodo para Sakura se formou e pareceu não ter fim. Yume observava a garota e Sakura não sabia se deveria dizer ou fazer algo. Preferiu ficar quieta... Antes prevenir que remediar...

Yume (quebrando o silêncio): 'Posso ler nos seus olhos vacilantes que você quer me perguntar algumas coisas, não?' Sakura assustou-se por um segundo e iria protestar, mas a mulher mais velha pareceu ler a mente da jovem e continuou. 'Sei que não veio aqui para isso, veio saber se precisava de algo... Mas eu também sei que você quer saber algumas coisas, como por exemplo... O que ocorreu no dia da morte do seu pai, não é?'

A pergunta pegou Sakura mais do que de surpresa. Sim... Aquela era uma das passagens de sua vida que nunca fora muito bem esclarecido e só havia uma pessoa que estivera presente naquela situação que poderia clarear um pouco a mente da jovem. Contudo, Sakura não imaginava que a mulher pudesse saber disso tão facilmente.

Pelo o que sabia de magia, algumas pessoas podiam ler a mente de outras, mas Sakura fora treinada para saber quando isso estava acontecendo e estava certa de que a mulher não estava fazendo isso agora... Era impressionante a percepção de algumas pessoas, Tomoyo era um exemplo bastante presente em sua vida desse tipo...

Yume: 'Então?' Sakura pareceu despertar de seus pensamentos com a voz calma da mulher, antes de olhá-la por um segundo.

Sakura (abaixando a cabeça): 'Sim... Eu queria saber sim... Queria saber quem e por que atacaram a mim e meu pai naquele dia... Disseram-me que não foi Tai Ming então...' Yume ficou quieta por um segundo, o que pretendia dizer tinha que ser dito com cautela.

Yume: 'O ataque... Que você e seu pai sofreram aquele dia não foi planejado nem feito por Tai Ming, realmente...' A isso Yume viu Sakura deixar os ombros caírem levemente, como se perdesse um pouco de esperança em saber o que ocorrera. 'E você já deve saber por quê eles te atacaram, não?'

Sakura (suspirando): 'As cartas...' Yume ficou quieta, apenas observando a garota. Yume passara a presenciar os anos da vida da garota assim que ela abriu o livro das Cartas e tudo o que ela passou por causa disso... Momentos felizes e tristes... Uma carga um tanto quanto pesada para uma pessoa tão jovem.

Yume: 'Você se arrepende?' Sakura levantou o olhar, sem entender a pergunta da mulher. 'Arrepende-se de ter aberto o livro?'

Sakura ficou quieta por instantes, olhando intensamente os olhos vermelhos da mulher, antes de desviar os seus para outro ponto qualquer.

Sakura: 'Houve uma época em que eu desejava com toda minha força nunca ter encontrado o livro de Clow...' Falou ela, com um leve tom melancólico. 'Mas...' E antes de continuar, Sakura voltou a olhar a mulher, um leve sorriso em seus lábios. 'Mas eu entendi que apesar do sofrimento, as cartas sempre estiveram comigo, me protegendo e a quem eu amo, sendo minhas amigas... Apesar de todo sofrimento que passei, eu... Eu acho que não poderia viver sem elas... Apesar de todo sofrimento que passei... Elas foram responsáveis pelos melhores momentos da minha vida também.' Parou um segundo, olhando pela janela, com uma certa nostalgia nos olhos. 'Poderia eu ser tão egoísta a ponto de exigir delas apenas que me dessem tudo de bom e as culpasse por tudo de ruim na minha vida?' Concluiu voltando o olhar determinado e cheio de carinho por suas amigas para Yume.

Yume ficou levemente surpresa com a maturidade nas palavras da garota. Sakura realmente era mais do que aparentava ser, em muitos sentidos... Clow escolhera certo e os deuses também...

Yume (recompondo-se de sua surpresa inicial): 'Sakura... Há certas coisas que estão relacionadas a você e... Acredito que você acabou de me provar que está pronta para saber.' Sakura continuou a olhar a mulher, esperando que ela esclarecesse sua sentença.

Yume observou a paisagem através da janela novamente, como se procurando as palavras e as lembranças certas em sua mente e coração para dizer a Sakura o que ela deveria saber, seja mais cedo ou mais tarde. Depois de um segundo, voltou-se novamente para a moça, que ainda a olhava.

Yume: 'Sakura... Quando eu disse que soube ser esta a época em que eu deveria aparecer porque duas grandes forças surgiriam, eu realmente achei que se tratava daquele a quem Clow daria suas cartas e à criança Li que nasceria com poderes dados diretamente por seu deus regente...' Começou Yume, e Sakura continuou quieta, apenas ouvindo. 'Eu só descobri ser Xiao Lang a criança detentora do poder do deus Trovão depois de algum tempo após meu despertar... Entretanto...'

Yume calou-se por um instante, observando o rosto da moça, talvez para ter certeza do que estava prestes a dizer.

Yume: 'Entretanto... Foi com grande surpresa que, pouquíssimo tempo após meu despertar, descobri que o outro grande poder que nasceria nesta época não era simplesmente uma pessoa capaz de controlar as cartas mais poderosas do mundo mágico...' Sakura olhou-a com inocente curiosidade e Yume finalmente concluiu. 'Mas sim uma pessoa que nasceu com poderes dados diretamente por um outro deus também...' Sakura arregalou os olhos...

'...'

Houve um certo silêncio após a sentença. Aquilo era mais do que inesperado, realmente. Não que Sakura já não estivesse se acostumando com situações como esta, mas... Algo assim... Tão drástico... Se ela tinha entendido direito, então...

Sakura (meio boba com a sentença): 'Você... A senhora... Está me dizendo que...' Sakura ficou quieta por um instante... Sem conseguir ou saber como continuar. Yume apenas acenou afirmativamente, antes de continuar.

Yume: 'Você, Kinomoto Sakura... É uma criança nascida com poderes dados diretamente por um deus, assim como Li Xiao Lang... Você... Nasceu com poderes doados pela deusa das Estrelas.'

Sakura prendeu a respiração... Sem saber o que dizer, se é que havia algo a ser dito. Contudo, Yume parecia crer que a verdade deveria ser dita de uma vez, para que compreensão se fizesse presente o mais rápido possível. A chegada de Tai Ming poderia ocorrer a qualquer momento, não poderia esperar muito que Sakura digerisse as informações. Por mais que gostaria de fazê-lo, não poderia.

Yume (séria): 'Escute bem, Sakura... Pois o que tenho a dizer é muito importante...' Sakura piscou duas vezes antes de parecer acordar de seu transe atônito e logo afirmou com a cabeça lentamente. 'Quando eu lhe disse que você e Xiao Lang deveriam aprender a lutar juntos, que deveriam se entender, não falei isso apenas para que não houvesse discórdia e brigas entre vocês dois... É muito mais que isso.'

Sakura (sem entender): 'Mas... Por que...?' Mas mal formulou a pergunta, Yume continuou.

Yume: 'Preste atenção, pequena... Você e Xiao Lang são crianças com poderes doados por deuses. Isso ocorre desde o começo dos tempos, mas nunca uma criança com poderes mágicos nasce com a benção de um deus na mesma época que outra pessoa com poderes mágicos nasce com este mesmo dom também. É perigoso demais, logo, os deuses só concedem este poder para uma pessoa mágica quando a outra já não mais vive, independente se caso elas vivessem na mesma época, morassem em lugares totalmente diferentes, Oriente ou Ocidente.'

Sakura (incrédula): 'Está me dizendo que um dos deuses doa seus poderes de vez em quando só para uma pessoa? Quer dizer... Nunca há mais de uma criança com poderes doados por seu deus regente na mesma época, independente do mundo ser tão grande, sendo poucas as possibilidades de um encontrar o outro? Mas... Por quê?'

Yume: 'Não, Sakura... Não é exatamente desta maneira. Todo século nasce quatorze crianças com poderes doados pelos deuses, entretanto, apenas uma dessas crianças tem poderes mágicos, as outras são pessoas comuns. Lembra quando te falei que não são apenas os seres mágicos regidos pelos deuses?' Sakura acenou afirmativamente e Yume continuou. 'Pois então... Nunca há mais de uma criança com poderes doados por um deus e poderes mágicos numa mesma época porque tamanho poder é deveras perigoso, mesmo que o mundo seja enorme demais como você mesma disse.'

Sakura (ainda sem entender totalmente): 'Er... Certo, acho que estou entendendo mais ou menos... Mas... O que uma pessoa comum tem de especial quando nasce com poderes doados diretamente por seu deus regente?'

Yume: 'Essa é uma pergunta um tanto quanto difícil de responder, Sakura, mas eu vou tentar. Normalmente as pessoas que nascem com esse dom, são pessoas que tem personalidade bastante parecida com seu deus regente, eu poderia até dizer que sempre é assim. E o que difere ela das outras pessoas é que tendo os poderes de seu deus regente é comum esta pessoa se destacar entre as outras, principalmente em relação a suas características semelhantes ao seu deus.'

Sakura: 'Você quer dizer, como se elas fossem gênios ou algo do tipo?'

Yume: 'Não... Nem sempre. Algumas até são gênios, como você mesma disse. Mas a grande maioria se destaca como pessoa, seja para ser um grande governante, um grande cientista, um pacificador, e, algumas vezes, até mesmo um conquistador, ou seja, uma pessoa que usou seu dom especial, mesmo que inconscientemente, para se impor entre os outros. E isso ocorreu durante toda a história.'

Sakura (mais uma vez incrédula): 'Você quer dizer então que alguns dos grandes nomes da História provavelmente receberam a benção de seu deus regente?' Yume sorriu diante da súbita perspicácia da garota. Sabia por anos de convivência que a garota era um tanto quanto ingênua, mas as adversidades da vida provavelmente fizeram ela amadurecer mais do que seria esperado.

Yume: 'Sim, Sakura... Alguns foram grandes nomes da história, mas nem todos.' Yume parou por um segundo, enquanto Sakura parecia tentar compreender tudo que lhe era dito. Contudo, Yume pareceu perceber que estavam desviando do assunto principal e resolveu voltar para este. 'Sinto que não posso me estender muito quanto a esses fatos da História Humana, Sakura... O tempo corre e eu quero que você entenda o que é realmente importante, o resto você terá que descobrir por si mesma...'

O tom da voz da mulher vez Sakura voltar seu olhar para ela. Uma certa tristeza tomou conta de seu ser ao entender perfeitamente o que ela queria dizer... Uma vez que ela cumprisse seu dever na Terra, Yume iria desaparecer... E não havia nada que ela pudesse fazer para evitar isso.

Houve um curto silêncio, mas Sakura resolveu interagir logo com a Yume e a linha de raciocínio desta... Por mais que tivesse um certo "medo" pelo o que a "mulher" representava, Sakura sentia-se cada vez mais afeiçoada com o carisma melancolicamente maternal da chinesa para com ela. Respirou um pouco mais fundo, antes de voltar a se concentrar na conversa.

Sakura (tentando compreender os fatos): 'Certo... Acho que posso compreender isso com o tempo... Mas, voltando ao assunto principal... Intriga-me em certo ponto sua história... Levando-se em conta toda a periculosidade que esse dom pode representar, pelo o que a senhora me disse... Então por que nasceram duas crianças com poderes doados pelos deuses e com poderes mágicos, como você disse ter ocorrido comigo e Syaoran?'

Yume (séria): 'É exatamente este o ponto crucial... Isso só ocorreu uma ou duas vezes antes, apenas quando um grande mal estava prestes a surgir...' Yume fez uma pausa e sua face era grave. 'Tai Ming é extremamente poderoso, Sakura... Mesmo com o poder que tenho agora, acredito que não tenha forças suficientes para vencê-lo.' Parou novamente, mas logo continuou. 'Todavia, eu tenho plena confiança em você e Syaoran... Sei que vocês têm o poder que é preciso para vencê-lo. Mas...'

Nesse ponto Yume parou vacilante e Sakura poderia jurar ter visto um brilho de preocupação nos olhos da mulher.

Sakura: 'Mas...?'

Yume (voltando a olhá-la): 'Sakura... Temo que não seja Tai Ming o real mal ao qual você e Syaoran devem unir forças para vencer...'

Sakura arregalou os olhos, mas nada disse... Isso era informação nova para ela... Muito nova e muito fantasiosa até mesmo em sua opinião para acreditar. Mas a gravidade no olhar de Yume a fazia duvidar na sua própria certeza...

Yume: 'E... Por mais estranho que pareça ser para acreditar...' Fez nova pausa, olhando Sakura firmemente nos olhos. 'Creio que foi esse mal desconhecido por mim que mandou atacar você e seu pai naquela noite.'

A sentença tomou total atenção de Sakura, fazendo-a ficar calada e presa em seus pensamentos, incapaz de perguntar qualquer coisa... Se isso fosse verdade...

Houve silêncio, Yume sabia que não poderia exigir mais de Sakura a esse respeito. Além do mais, ela mesma não sabia muito mais do que havia dito a Sakura quanto a esse assunto. Agora... O problema delas era Tai Ming e... Por mais que Yume estivesse preocupada com o Futuro, sua vingança e motivo para estar ali ainda era o Passado... Logo, achou mais certo mudar de assunto, mesmo que parecesse súbito demais... Não era hora para Sakura pensar em algo que nem ela mesma esta certa sobre.

Yume (suspirando): 'Sakura... Apesar de tudo o que te disse... Eu peço que você esqueça sobre isso por enquanto.' Sakura voltou a face ainda meio em transe para a mulher, pedindo com os olhos que ela se explicasse. 'Tai Ming... Apesar de tudo... Ainda é extremamente poderoso e nosso principal inimigo agora...'

Sakura abaixou a rosto por um segundo, presa em pensamentos. Alguns segundos passaram, mas ela finalmente levantou a cabeça, determinada, acenando positivamente. Yume sorriu levemente para a moça, antes de se recostar na poltrona, levemente cansada com o desgaste mental que aquela conversa provocara.

Sakura observou a mulher por instantes, antes de fazer a pergunta que estava lhe martelando na cabeça fazia algumas horas... Especificamente depois que acordara.

Sakura: 'Yume-sama...?' A mulher voltou seu olhar mais uma vez para a garota, esperando que ela continuasse. Sakura sentiu-se vacilar por um instante diante daquele olhar tão profundo, mas logo se recompôs. 'Hm... Eu tive um sonho hoje...' Começou ela sem muita certeza.

Yume: 'Uma premonição?' Sakura voltou o olhar que abaixara para a mulher, antes de responder.

Sakura: 'Talvez... Ainda não tenho certeza.' Falou ela lentamente. 'Só sei que ando tendo esse sonho praticamente todas as noites já faz alguns meses e...' Sakura parou por um segundo, talvez buscando as palavras certas e Yume manteve-se quieta, apenas a ouvindo. 'E toda vez que eu sonho... Sempre acontece a mesma coisa. No entanto... No entanto, dessa vez não foi assim...' Concluiu olhando mais uma vez para a mulher, como se esperasse que Yume soubesse responder a pergunta não feita no que foi dito.

Yume olhou Sakura por vários instantes, olhando fixamente nos olhos da garota. Após alguns momentos, ela respondeu.

Yume: 'E por que você está me contando isso?'

Sakura (abaixando a cabeça sem graça): 'É que... É que dessa vez as coisas aconteceram diferentes porque alguém me ajudou a fazer com que fosse diferente. Na verdade... Foi uma voz que conversou comigo durante algum tempo, devolvendo as esperanças que eu tinha perdido... E...' Nesse ponto Sakura parou, olhando mais uma vez para a mulher, que esperava que ela concluísse. 'E apesar de não ter visto o rosto da pessoa durante toda a conversa... No final... No final eu vi uma imagem e... Essa pessoa parecia ser...'

Yume (interrompendo-a): 'Você acha que essa pessoa era eu.' Sakura a olhou levemente surpresa, antes de confirmar levemente com a cabeça. Yume, por sua vez, olhou a garota por vários segundos, antes de falar. 'Talvez tenha sido eu... Talvez tenha sido outra pessoa usando minha imagem para lhe falar, nunca se sabe quando se trata de sonhos.' Sakura abaixou a cabeça, como se a sentença a tivesse desapontado levemente. 'Mas o importante é que essa pessoa fez você recuperar as esperanças, como você mesmo disse, pequena... Apenas isso importa.' Sakura voltou o olhar para a mulher, antes desta concluir. 'Se ela ajudou você, retribua fazendo o possível para não perder o que esta pessoa te devolveu...'

Sakura olhou a mulher por vários segundos, sorrindo por fim. Ela matinha as mãos no colo e, após um segundo, uma leve pontada de dor a fez lembrar-se de outra coisa. Levantou suas mãos um pouco, olhando para a palma destas. Os cortes que sofrera no sonho estavam ali... Mas... Como era possível?

Yume observou o movimento da garota e direcionou seu olhar para o mesmo lugar em que Sakura olhava. Seu rosto contraiu-se levemente, suas sombrancelhas aproximando-se uma da outra, certamente em concentração e tensão.

Yume (séria): 'Onde conseguiu estes cortes, pequena?' Sakura pareceu acordar de sua contemplação e levou um segundo olhando para o rosto sério da outra mulher para responder.

Sakura: 'Eu... Eu não sei direito...' Sakura ficou calada novamente, tentando desvendar o que tinha acontecido. Depois, levantou o olhar para Yume mais uma vez, uma leve expressão de concentração preenchia seu rosto delicado. 'Yume-sama, é possível que um sonho provoque ferimentos corporais?'

Yume pareceu levemente surpresa diante da sentença e abaixou novamente seus olhos para as palmas machucadas de Sakura, que mantinha-as descansando em seu colo.

Yume (voltando lentamente seus olhos para Sakura): 'Tome cuidado com seus sonhos, Sakura... Se isso aconteceu, realmente é uma premonição. E mais... Se isso aconteceu é porque você realmente usou de um esforço mental acima do que uma pessoa normal poderia conseguir ou até mesmo agüentar...'

Sakura (surpresa): 'Mas... Mas como isso é possível? Foi um sonho e...' Contudo, a moça estava sem palavras e Yume ainda mantinha a face séria, logo respondendo a pergunta.

Yume (olhando as mãos da moça novamente): 'Na sua mente, seu sonho foi tão real que os efeitos dele refletiram-se no seu corpo como se realmente tivesse acontecido. Se você continuar a se machucar nos seus sonhos, terá que buscar por treinamento mental para impedir isso... Ou...' A mulher vacilou por um segundo, voltando a olhar para a garota, preocupada. 'Ou você pode até mesmo morrer durante um sonho...'

Sakura não ousou falar, e nem queria fazê-lo. Aquilo era outra coisa com que ela não queria lidar agora... Não mesmo... E Yume pareceu perceber a preocupação e desconforto que suas palavras trouxeram à garota, pois decidiu acabar logo com aquele tópico, de uma vez...

Yume: 'Sakura... Eu sei que isso pode não parecer importante agora. Mas eu lhe peço para buscar equilíbrio e controle sobre sua mente... Um guerreiro não luta apenas com o corpo ou com magia, a mente pode ser um alvo bastante perigoso também e... Se isso ocorreu com você é porque você tem tendência a falhar neste ponto... E isso certamente é uma arma que qualquer inimigo bem treinado pode usar contra você.'

Sakura (olhando para Yume): 'Acha que Tai Ming pode fazê-lo?'

Yume (séria): 'Se ele perceber isso, sim, acredito que irá fazê-lo. Mas, até mesmo para ele seria difícil descobrir essa fraqueza apenas num primeiro e único encontro, que é o que provavelmente ocorrera. Entretanto... Se as minhas suposições de que outros inimigos irão perturbar você... É bem provável que eles irão descobrir e usar isso contra ti.'

Sakura (abaixando o olhar novamente): 'Bom... Ao menos espero que Tai Ming não perceba isso...'

Yume (olhando firmemente para a moça): 'Sakura... Você ter tendência para sentir em seu corpo os ferimentos de um sonho só prova que, infelizmente, você ainda tem uma mente fraca.' As palavras duras, por mais que não fossem intencionais, fizeram Sakura levantar rapidamente a cabeça para olhar a mulher nos olhos.

Sakura: 'O que quer dizer?' Yume tinha um certo olhar de remorso por ter dito o que dissera. Mas o que poderia fazer? Não podia simplesmente deixar a jovem e promissora feiticeira sem idéia de seu pontos fracos...

Yume: 'Sinto muito ter que usar essas palavras, Sakura, mas é preciso... Ao longo dos anos que observei você, vi que seus sentimentos sempre foram sua força e sua fraqueza. Você melhorou bastante com o tempo, não dependendo tanto, mas ainda sim, de seus sentimentos e estado de espírito para batalhar. Não quero que você se torne uma pessoa sem emoções apenas para se tornar mais forte, pois isso seria um grande erro. Peço que você tente aprender a usar seus sentimentos apenas como mais um ponto positivo, nunca negativo.'

Sakura ficou quieta por um instante, tentando digerir as palavras de Yume. Sim... Sakura sempre fora emocional e isso muitas vezes trouxe problemas para ela e outras a ajudou muito também.

Sakura (cabeça abaixada, refletindo): 'Entendo o seu ponto, Yume-sama...' E em seguida levantou o rosto, sorrindo para a mulher, o que surpreendeu um pouco esta diante da súbita mudança de humor. 'E apenas tenho a lhe agradecer... Pelos anos que me assistiu, pelas vezes que me salvou e pelos seus conselhos...' Seus sorriso se tornou um pouco menor, e ela olhou a mulher com carinho. 'Sei que você tem razão e... Prometo fazer o possível para me tornar uma melhor guerreira...'

Yume: 'Não apenas guerreira, Sakura... Mas uma mulher mais forte e destemida do que você já é. Tenha certeza disso.' Sakura sorriu mais um pouco, acenando afirmativamente, sem que palavras precisassem ser ditas...

'...'

Houve um breve silêncio, um pouco mais confortante. Antes de Sakura novamente voltar a falar, enquanto levantava-se de sua poltrona calmamente, com um leve sorriso no rosto.

Sakura: 'Bom, se a senhora realmente não precisa de nada, eu irei me retirar.' Disse fazendo uma leve mesura, enquanto Yume continuava a observá-la.

Sakura caminhou até a porta a passos calmos, entretanto, momentos antes de alcançar a maçaneta, parou subitamente, outro pensamento um tanto quanto perturbador retornando rapidamente a sua mente. Voltou-se mais uma vez para a outra mulher, que estava a olhar a paisagem lá fora pela janela. 'Yume-sama?' A mulher voltou lentamente o olhar para a japonesa.

Yume: 'O que foi, pequena?'

Sakura: 'Outro dia, quando Syaoran e eu lutávamos... Sentimos uma forte presença. Por acaso a senhora sabe de quem se tratava?' Perguntou com certa curiosidade na voz e se surpreendeu com o leve sorriso meio de lado que a mulher esboçou.

Yume: 'Sim... Era eu...' Sakura arregalou os olhos em espanto, antes de sentir as bochechas ruborizarem.

Sakura (gaguejando): 'Er... A senhora... Er... A senhora viu o-o-o que...' Mas as palavras mal saíam da boca da garota.

Yume (sorrindo): 'Vi sim, pequena estrela...' Sakura poderia cair durinha no chão agora tamanha a falta de sangue no corpo que seguiu todo para seu rosto.

Sakura (totalmente envergonhada): 'Yume-sam... O que aconteceu lá... Não era...' Mas Sakura parou ao ver a face da mulher tornar-se séria.

Yume (séria): 'Sakura, sei muito bem o que iria acontecer se eu não tivesse feito minha presença ser sentida por vocês naquele momento...' Sakura sentiu suas faces um pouco menos vermelhas e sua respiração um pouco mais leve. Entretanto, a pergunta martelava na mente da garota e ela não agüentou a curiosidade.

Sakura: 'Yume-sama... Por que a senhora nos parou?' A curiosidade era nítida na voz da garota, mas a face de Yume continuou séria, enquanto ela voltava seu rosto para a janela.

Yume: 'Naquele momento, o que vocês iriam fazer... Seria algo que arrependeriam-se depois, pequena estrela...' E olhou para Sakura, ainda meio sem graça com aquilo. 'Eu fiz apenas algo para que vocês não se arrependessem de algo que vocês iriam fazer...' Sakura ficou em silêncio por um instante, antes de continuar.

Sakura: 'E como sabia que iríamos nos arrepender?' A resposta foi tão simples quanto apergunta.

Yume: 'Porque não havia amor.'

# # # - FIM DO FLASHBACK - # # #

Syaoran (balançando levemente Sakura pelo ombro): 'Sakura? Terra para Sakura?' A moça piscou duas vezes antes de voltar o olhar para o rapaz, movimento que novamente a fez ruborizar-se.

Syaoran a observou sem compreender e soltou um suspiro cansado, já estava se cansando daqueles acessos de vergonha dela sem motivos. Sakura voltou a olhar pela janela, ainda vermelha.

Sakura: 'O que você dizia, Syaoran?' O rapaz demorou um segundo antes de se voltar para a garota mais uma vez. E ao registrar a pergunta dela a frase "eu não entendo as mulheres" estava escrita na sua face. Mas continuou.

Syaoran: 'Perguntei o que Yume lhe contou e você pareceu entrar em transe por quase um minuto. Você anda tomando algum remédio que eu não saiba?' Perguntou desconfiado e isso só resultou num olhar irritado que Sakura lhe lançou.

Sakura (irritada): 'Oras, claro que não!' Mas diante do olhar ainda sério e atento do rapaz ela voltou a se ruborizar, virando o rosto novamente. Syaoran mais uma vez suspirou exasperado.

Syaoran (também ficando irritado): 'Vai ou não vai me contar o que aquela mulher te falou para deixá-la desse jeito?' Sakura ficou em silêncio, por vários segundos, e Syaoran já achou que ela não diria mais nada. Mas a moça suspirou audivelmente, enquanto abaixava a cabeça para falar.

Sakura: 'De tudo o que ela me falou... O que eu posso te dizer em poucas palavras é que ela acha que eu e você deveríamos começar a nos entender... Só assim iremos conseguir vencer...' Syaoran ficou quieto, olhando atentamente para o perfil da japonesa e sabendo muito bem que havia muito mais que ela não parecia que iria lhe contar.

Syaoran: 'E a respeito da luta que ela interrompeu?' Sakura olhou-o surpresa, com a face vermelha. Contudo, mais surpresa ficou ao olhá-lo e não ver nenhum sinal de embaraço no rosto do rapaz, apenas seriedade. Suspirou novamente, voltando a encarar a paisagem lá fora.

Sakura: 'Ela disse que nos interrompeu porque sabia que iríamos fazer algo que iríamos nos arrepender depois.' Concluiu ela, esperando que as perguntas parassem por aí. Contudo, ela não parecia estar com sorte.

Syaoran: 'E por que ela achou que iríamos nos arrepender?' Sakura demorou o olhar na paisagem, o pensamento de que era um tanto quanto engraçado ele fazer a mesma pergunta que ela fizera a outra mulher passando levemente por sua mente. E apenas depois de alguns segundos é que voltou o olhar levemente melancólico para o rapaz.

Sakura: 'Por que não havia amor.'

Syaoran simplesmente não soube o que responder.

# # # -

Syaoran observara o estado de transe da garota com certa curiosidade. O que será que aquela mulher tinha dito para deixar a japonesa naquele estado? Era uma pergunta que ele só conseguiria achar a resposta depois de muita insistência.

Ah, pois se Sakura achava que iria conseguir manter aquela conversa fora do conhecimento dele, ela esta muito, demais, totalmente enganada. Ela era teimosa, mas ele também e não descansaria enquanto não descobrisse o que ocorrera durante a "tão misteriosa" conversa.

O chinês havia esperado vários segundos até perceber que meio minuto se passara e Sakura ainda estava perdida em pensamentos. Fechara um pouco a expressão, pronto para fazê-la "acordar" de uma forma a deixá-la bastante irritada, assim como ele estava naquele momento com aquele transe dela.

Contudo, antes que pudesse ao menos pensar em uma boa idéia, o jovem se viu estático... Quando percebeu mais uma vez que estava encarando tão atentamente o rosto da garota. Ela estava de perfil durante o "transe", mas a visão não fora menos prazerosa.

O quê!

O pensamento pareceu ter "socado" o rapaz quando o teve e ele piscou várias vezes, antes de voltar a olhá-la. Malditas japonesas se todas fossem... Fossem um décimo parecidas com a que estava diante dele...

Os lábios eram bem desenhados e rosados, macios e doces, como ele já pudera provar duas vezes e ansiava por fazê-lo novamente... Faces levemente coradas e aquele nariz pequeno e levemente arrebitado, que tanto dava um ar infantil a ela. Pele alva, mas cheia de vida, pele delicada que ele já havia tocado uma ou duas vezes, sempre desejando repetir o ato mais uma vez... Aqueles cabelos lisos e longos, de um castanho claro tão distinto que parecia folhas de outono e ao mesmo tempo tão sedosos que correram livremente por seus dedos quando os tocou...

Ele se vira preso em seu próprio transe enquanto finalmente contemplava a parte mais distinta daquela garota. Aquelas duas orbes da cor de esmeraldas, brilhantes como a própria jóia em si, dois belos e grandes olhos que sempre o faziam se perder, como se ele estivesse num oceano verde, sem ninguém por perto para resgatá-lo e ainda assim não querendo que houvesse ninguém lá para fazê-lo...

"Eu poderia observar ela sem me cansar por várias e várias horas..." Pensou por fim...

Mas Syaoran se viu se batendo mentalmente de novo. Quase um minuto e ela naquele estado de latência. Ele tinha que saber o que ocorrera naquele quarto e nada adiantaria se ele só ficasse olhando para ela.

Então ele balançou-a pelo ombro, fazendo-a "acordar". Ele estava meio irritado no "recomeço" da conversa, enquanto ela se ruborizava vez ou outra.

Quando perguntara sobre a conversa que tivera com Yume, ela simplesmente deu uma resposta evasiva, dizendo que aquela mulher dissera que "precisavam se entender e lutar juntos para vencer". Oras... Syaoran não era tão idiota para não saber que havia mais do que isso e ele sabia exatamente o que perguntar para pegar a garota de guarda baixa.

"E a respeito da luta que ela interrompeu?"

Fora o que ele perguntara e quase que sua fachada séria caiu quando a viu ficar surpresa, o costume de sorrir de lado quando conseguia o que queria quase falando mais alto, quase...

Entretanto, a resposta dela também o deixou levemente intrigado. Oras, como aquela maldita mulher se intrometia nos "assuntos dos outros" apenas por que achava que iriam se arrepender depois. Viu na figura tensa de Sakura que ela não queria continuar aquela conversa, mas ele não iria parar ali. E transformou em palavras a pergunta em sua mente.

Syaoran: 'E por que ela achou que iríamos nos arrepender?' Sakura demorou o olhar na paisagem, e dessa vez Syaoran realmente achou que ela não iria responder. Entretanto, após alguns segundos, a garota voltou o olhar para o rapaz, olhar que levemente o deixou surpreso, pois não era difícil distinguir a leve, mas ainda assim incomum, melancolia nos olhos da japonesa.

Sakura: 'Porque não havia amor.'

Syaoran simplesmente não soube o que responder.

# # # -

Sim... Realmente o jovem chinês não soube responder ou dizer qualquer coisa diante do que a garota acabava de lhe dizer, enquanto voltava seu olhar novamente para a paisagem, parecendo não mais querer olhá-lo...

"Porque não havia amor..."

Syaoran não pôde deixar de sentir um leve incômodo ao ouvir a frase... E mesmo assim, ele sabia que não podia negar a veracidade dela.

Lembrava-se muito bem do dia em que ele e Sakura lutaram pela primeira vez naquele lugar e acabaram numa situação totalmente diferente da prevista por ele inicialmente. Lembrava-se que tentara evitar o impulso, mas simplesmente lhe fora impossível... Não entendera e durante muito tempo não entendeu que efeito era esse que a garota tinha sobre ele que sempre parecia atraí-lo.

Fora uma incógnita durante muito tempo, entretanto, ele acabou por começar a descobrir a resposta.

Qualquer mulher bonita como Sakura chamava a atenção da grande maioria dos homens, mas isso não era suficiente para deixá-lo no estado que sempre ficava quando estava próximo dela.

Sakura tinha um poder de atração sobre ele incomum e por mais que ele já estivesse entendo o porquê, isso não queria dizer que ele tivesse aceitado totalmente...

E agora que Sakura lhe repetia o que aquela tal Yume dissera a respeito daquela luta, ele começava a compreender o quão certa a mulher estava e que realmente ele iria se arrepender se tivesse continuado aquilo já que só estava sentindo-se atraído, pura atração... Sem contar quão mal ele ficaria se magoasse a japonesa a sua frente de qualquer maneira, ainda mais de uma maneira tão séria como aquela.

Mas não era apenas isso que a frase de Yume o fizera compreender...

Fizera-o finalmente abrir os olhos para o que realmente estava ocorrendo. Sim... Ele já pensava nisso há muito tempo, mas sempre havia aquela parte dele que o fazia negar-se a aceitar.

Por um segundo Syaoran abaixou a guarda, enquanto voltava seu olhar para o perfil da jovem, o guerreiro dando lugar ao homem e o incômodo que antes lhe causava quando pensava nesse assunto não mais estava lá. Não sabia o motivo, realmente não sabia, só podia supor que toda essa sensação devia-se à proximidade, à calmaria, ao conforto e paz que agora parecia finalmente existir entre ele e Sakura...

O guerreiro e o homem eram a mesma pessoa, e por mais que a parte racional antes lhe dissesse o quão errado podia ser sentir o que ele sabia estar sentindo... Ainda assim... Ainda assim ele podia sentir que o guerreiro perdia a batalha ao perceber que diante de si também estava uma guerreira de mesmo valor e poder que ele...

Quanto ao homem... Este parecia finalmente compreender, ou melhor, aceitar que não era apenas desejo que o atraía àquela jovem... Era mais que isso... Muito mais...

E Syaoran se dava conta, talvez pela primeira vez, que não poderia vencer esta batalha que travara contra si mesmo. Não adiantava negar... Não só por ter entendido, não só por ele ver um "acordo de paz" entre sua parte sentimental e racional se estabelecendo... E sim porque ele soube que já havia perdido qualquer vontade de lutar contra o que estava sentindo, momentos antes, enquanto a observava. Ao perceber que se deixara se perder naquele oceano verde que eram os olhos de Sakura... Sem querer voltar mais...

E... No final... Apenas uma pergunta lhe sobrava... Por que ele resistira tanto?

'...'

Em um momento contemplação, no outro o jovem chinês finalmente se via lembrando-se da resposta para esta pergunta. Syaoran piscou duas ou três vezes, parecendo querer acordar de um sono que na verdade nunca havia ocorrido.

Assim que o fez, viu que Sakura ainda olhava através da janela, um olhar melancólico e uma expressão que o levava a crer que ela também estava presa a seus próprios pensamentos... Voltou seus olhos para a paisagem novamente, se prendendo em seus pensamentos de novo, os dois jovens mudos em seus próprios mundos...

Por que ele resistira tanto? A resposta agora era tão óbvia quanto sempre lhe pareceu aqueles meses todos. Meses que ele passara em outro país, longe de sua família, em busca de uma pessoa que iria ajudá-lo a combater algo que estava além da compreensão e dos poderes do jovem Li Xiao Lang que ele fora antes de chegar à casa dos Kinomoto.

Por que ele resistira tanto? Por que ele tinha um dever a cumprir e ele sabia disso... Ele tinha um dever a cumprir como filho e como guerreiro. E fora o guerreiro nele que o fizera resistir por tanto tempo, pois um guerreiro jamais pode buscar por mais fraquezas, mas sim superar qualquer que já tenha.

E Sakura sempre lhe pareceu uma fraqueza. No começo por motivos óbvios, ela estava paralítica e ainda sofria com o trauma da morte do pai. Depois, quando finalmente descobriu a real "identidade" dela e que ela conseguira voltar a andar, seu preconceito, inaceitável aos seus olhos agora, impedia-o de enxergar a real força, poder e determinação de uma jovem aparentemente tão frágil.

Mas agora ele não tinha mais desculpas, por mais que ainda tivesse seus deveres a cumprir. Não tinha como negar o que sentia agora. O guerreiro nele não tinha mais argumentos para lutar contra aquilo, não quando Sakura não era mais uma fraqueza aos seus olhos e sim uma grande e poderosa aliada.

No final das contas... Ele finalmente compreendia que não podia lutar contra o que estava sentindo... Não mais havia desculpas, razões, motivos, ou qualquer fato do gênero... No final... Ele mesmo era quem estava defendendo seus sentimentos por ela... Sem intervenção ou opinião de ninguém... Simplesmente ele...

Era ele... No final... Quem não mais queria negar...

Syaoran suspirou profundamente, enquanto fechava os olhos por um momento, talvez buscando forças para o que tinha que fazer... Já era hora de conversar com Sakura sobre tudo o que ainda precisavam conversar, seja sobre eles, seja sobre qualquer barreira em forma de "dúvidas" que existia entre eles. Era hora dele parar de evitar e sim aceitar o que ele já sabia que existia nele... Em relação a ela...

A frase de Yume fora apenas o estopim. Apenas o "soco" na cabeça que ele sempre precisava quando estava perdido em seus dilemas.

"Pois não havia amor".

Sim... Não havia amor... O verbo exato: "havia". Mas, e agora?

Era hora dele esclarecer suas dúvidas, era hora dele finalmente deixar para trás um obstáculo sem mais fundamentos e... Se Sakura não pudesse ou não sentia o mesmo...

Syaoran fechou os olhos, um leve tremor correndo por sua espinha... Se assim fosse... De duas, uma... Ou ele seguiria adiante, ou ele lutaria pelo o que queria.

Abriu os olhos, enquanto sorria de lado por um segundo, antes de tomar seu fôlego final para o que estava prestes a fazer... Voltou-se lentamente para Sakura, passando a observá-la mais uma vez. Pôde sentir o vacilo da garota, que após pouco tempo abaixava a cabeça agora e dava um longo suspiro.

Continuou olhando-a por um segundo, enquanto a viu voltando-se para ele também, observando-o atentamente, seus olhos presos nos dela. E pôde ver que ela também procurava por respostas, não havia dúvidas, aqueles belos olhos verdes abrindo as portas que ele jamais achou que iriam se abrir para ele. As portas para a alma e coração de Kinomoto Sakura...

Prendeu a respiração por um segundo, antes que novamente o sorriso de lado de segundos antes retornasse ao seu rosto, assim como seus pensamentos anteriores. "Ou ele seguiria adiante, ou ele lutaria pelo o que queria."

Entretanto, ao olhar, pela primeira vez com toda permissão, para a alma daquela japonesa, não havia mais "ou, ou". Havia apenas uma opção que ele aceitaria seguir...

Afinal de contas... Li Xiao Lang nunca fora alguém que não luta pelo que quer... Ah, isso ele jamais seria...

# # # -

"Por que não havia amor."

Fora a última coisa que ela dissera antes de observar a expressão "sem expressão" de Syaoran. Fora a última coisa que ela dissera e ele não mais fez perguntas.

Sakura suspirou fundo, sem saber exatamente o que ela esperava que ele fizesse quando dissesse aquilo... No começo apenas estava envergonhada por Yume ter visto o que eles quase fizeram, sem contar que ela também sabia que ali não havia nada mais que desejo...

Mas agora... Agora Sakura sentia-se levemente melancólica ao lembrar-se mais uma vez do que Yume dissera e ela repetira para Syaoran, o qual não disse nada.

Sakura voltou-se para a janela, sem olhar uma segunda vez para Syaoran, sem ter sequer coragem para fazê-lo. O que ela esperava dele, afinal? Não era como se ele fosse dizer "Era óbvio que havia amor!" Isso estava totalmente fora de questão.

Não somente porque ela sabia que ele jamais diria algo do tipo para ela, como, e principalmente, porque ela sabia que o que Yume dissera era verdade. Não houvera amora, nem por parte dele, nem por parte dela.

Afinal de contas, não fora justamente a lembrança do que Yume dissera que a impedira de responder ao convite que Syaoran lhe oferecera momentos antes depois daquela "perseguição"? Não fora por isso que ela evitara beijá-lo?

Por que não havia amor?

Sakura não mais via o jardim a sua frente e muito menos notou se Syaoran ainda a olhava ou não. Tudo o que lhe vinha a cabeça era o que Yume dissera e o quanto ela estivera certa.

Entretanto...

Entretanto, por mais que ela estivera certa... Ela tinha se referido ao passado... E Sakura sabia que as coisas tinham mudado. Tinham mudado, não tinham? Não podia usar mais exatamente aquela frase agora, podia?

Mudado... Mas mudado quanto? E para pior ou para melhor?

Suspirou exasperada...

Não era de hoje que Sakura sabia existir mais do que atração entre ela e Syaoran. Mas, ainda assim, quanto mais existia entre os dois, se não atração? Quanto mais ele sentia por ela... Quanto mais ela sentia por ele?

Abaixou levemente a cabeça, ainda dando a impressão de observar o jardim. Estava confusa novamente, e dessa vez era ela mesma quem a estava confundindo. Tinha que admitir para si mesma, ao menos, por quê não o beijara agora há pouco... Não o beijara porque estava confusa, com dúvidas... Sem saber o que, afinal de contas, estava acontecendo, o que estava sentindo.

Totalmente confusa...

Será que toda essa história de batalhas, pessoas que retornam a vida, deuses do Poder, crianças abençoadas pelos deuses... Será que tudo isso estava sendo mais do que sua mente podia agüentar, tudo de uma vez?

Será que ela era tão fraca em relação as suas emoções como Yume havia dito? Será que sua mente era tão frágil que ela não conseguia compreender a si mesma e aos seus sentimentos?

Sentiu uma ardência nos olhos, sabendo que poderia sentir suas lágrimas a qualquer momento. Tudo aquilo era angustiante demais, severo demais para alguém como ela que sempre teve uma vida tão pacífica. Mesmo com a diferença que as Cartas lhe dava em relação às outras garotas de sua idade, seja na infância, seja na adolescência, ainda assim ela tivera uma vida boa, saudável, relativamente comum, com a presença das pessoas que ela amava quase sempre por perto.

E mesmo que não fosse assim, ainda era normal. Ainda outras pessoas passavam pela perda de alguém como ela tivera que passar, por duas vezes, primeiro a mãe, depois o pai... Entretanto, a batalha cuja ela estava sendo imposta agora era um pouco mais, ou melhor, muito mais do que ela esperara ter que enfrentar um dia quando aceitou ir para as montanhas treinar, totalmente excitada com a idéia de que poderia dominar melhor as artes marciais e a magia, coisas que nunca imaginara quando pequena...

Sakura não nascera uma guerreira, nem uma feiticeira (por mais que a segunda já fizesse parte dela, sendo apenas libertada quando o Livro de Clow fora aberto também). Contudo, ela aprendera o que é ser maga, aprendera a ser guerreira, aprendera e aceitara. Não era realmente algo a se chamar incomum.

Nem sempre nascemos com um objetivo na vida e seguimos ele até o fim. Pessoas mudam, pessoas melhoram e outra pioram, sonhos mudam, personalidades as vezes mudam... Mas saber que ela poderia proteger sua família, proteger seus amigos e a quem ela amava porque tinha um dom e desenvolvera outro, fizera-a aceitar de pouco em pouco e, até mesmo, a gostar do que ela era agora.

Mas... Talvez Yume estivesse certa e ela tivesse a mente fraca demais para suportar tudo aquilo. E voltando ao início de toda sua reflexão, talvez fosse essa confusão que sua mente fraca estava provocando que a impedia de entender por que se sentia melancólica ao lembrar das palavras de Yume.

"Amor"

Era isso o que ela esperava de Syaoran durante todo esse tempo? Era isso o que ela queria? Mais que isso... Era isso o que ela sentia?

Era isso o que não existira naquela primeira luta entre eles e que agora começava a surgir, a crescer? Suspirou exasperada, mas baixo e discretamente para que o rapaz ao seu lado não pudesse ouvir.

Piscou duas vezes ao perceber que Syaoran ainda estava ali, ao seu lado e pelo silêncio que transcorrera até agora, provavelmente preso nos seus próprios pensamentos.

Será que ele estava pensando o mesmo que ela? Será que ele estava pensando nela?

Sentiu seu corpo tenso ao sentir, mais do que ver, que o rapaz tinha se voltado totalmente para ela. Não se voltou para ele, apenas olhou-o com o canto dos olhos por um segundo, desviando imediatamente, com um leve tremor, ao perceber a intensidade do olhar que ele direcionava para ela.

O que ele pretendia? O que ele iria dizer? O que ele iria fazer?

As dúvidas de todos os tipos corriam pela mente de Sakura. Contudo, a garota sentiu lá no fundo que talvez estivesse preocupada demais com as perguntas, invés de tentar achar as respostas.

Syaoran tinha as respostas... Pelo menos as que seu coração tanto ansiavam saber...

Talvez fosse essa a hora deles terminarem definitivamente com as dúvidas. Talvez o amanhã não fosse tão fácil e as dúvidas nunca mais poderiam ser solucionadas...

Sakura abaixou a cabeça novamente, por um segundo, enquanto deu um suspiro longo. Não mais tardando o encontro, Sakura levantou a cabeça, voltando-se para o rapaz ao seu lado. Encontrando, mesmo que surpresa, o olhar profundo e não mais tão duro daquele chinês que indiscutivelmente já era parte de sua vida, mesmo que ainda não tivesse descoberto ou entendido qual o tamanho da importância dele nela...

Encontrando naquele olhar escuro e penetrante a alma que por tanto tempo se escondia dela... Sentindo, no seu próprio olhar, que aqueles olhos escuros também estavam a ler a sua alma.

Sentiu seu coração dar uma batida mais forte, enquanto certa realização lhe ocorria.

Viu o sorriso de lado tão característico do rapaz surgir nos lábios dele. Contudo, ela sabia que esse sorriso não era o mesmo dos anteriores. Diziam tanto quanto a alma dele. As respostas já sendo ditas sem que palavras fossem proferidas.

Viu-o se aproximar um pouco mais, não muito, nem pouco, mas suficiente para que pudessem sentir a aura mágica quase quente um do outro.

# # # -

Os dois jovens se olhavam atentamente, enquanto um conforto novo percorria seus corpos pela mera proximidade. Após vários minutos que se passaram sem que os dois percebessem, enquanto pensavam em suas próprias dúvidas e certezas, eles finalmente tinham voltado-se um para o outro. Parecendo querer, pela primeira vez, acabar de uma vez com aquelas dúvidas de uma maneira que antes eles se negavam a aceitar.

Olharam-se por vários segundos, segundos quase sem fim, em silêncio completo, silêncio finalmente parecendo querer quebrar... Já era tempo daquelas duas almas conturbadas e confusas chegarem a um acordo.

'...'

Syaoran (com um leve sorriso): 'Acho que precisamos conversar sobre isso.'

Sakura (sem entender direito): 'Sobre o quê?'

Syaoran (seu sorriso refletindo-se em seus olhos): 'Sobre o que Yume te falou...' Sakura sentiu como se seu coração tivesse despencado.

Sakura (desviando levemente o olhar): 'Ah...' Foi tudo o que disse para mostrar que entendera. Será que estivera errada? Será que a frase de Yume ainda tinha o mesmo sentido agora...?

Sakura sentiu seus olhos arregalaram-se levemente ao sentir o toque surpreendentemente leve e carinhoso de Syaoran, dois dedos que tocaram o queixo da jovem, fazendo-a voltar o olhar para ele. E Sakura sentiu sua respiração suspensa e seu coração quase parar quando viu o que os olhos de Syaoran refletiam.

'...'

Syaoran voltou o rosto da jovem para ele, pronto para falar algo, para quebrar o leve gelo que surgira entre eles. Contudo, se viu impossibilitado ao mergulhar novamente nos olhos esmeraldas daquela mulher...

Não falou... Não havia palavras... Não havia algo que conseguisse dizer, nem sabia se havia palavras a se dizer...

Simplesmente seguiu, com totalidade, pela primeira vez em sua vida, seu coração...

'...'

Sakura nada falou, nada fez, enquanto viu o rosto do rapaz se aproximar dela, olhos âmbares sendo escondidos por pálpebras que se fechavam... Ela nada falou e nada fez... Pelo menos nada além do que seu próprio coração lhe pedia...

Seus olhos se fecharam lentamente, enquanto o rosto masculino encontrou definitivamente o seu...

'...'

Lábios quentes e macios encontrando lábios doces e delicados novamente, mas pela primeira vez sem dúvidas... Dúvidas solucionadas sem palavras...

Duas almas que finalmente pareciam ter encontrado as respostas...

Encontrado-as...

Uma... Na outra...

# # # -

(Continua)

Mary Marcato

08/03/2005

# # # -

Comentários da autora: Ah! Acho que estou perdendo o jeito para cenas de romance T – T Ufa... Eu realmente empaquei pra escrever os pensamentos da Sakura e do Syaoran. Imagina só para a cena final! Foi um pesadelo... Espero (com toda esperança que uma aspirante a escritora como eu pode esperar hihihi :P) que tenha valido a pena. Tomara que tenham gostado, realmente não é fácil mergulhar na alma de dois seres apaixonados tão complexos (pelo menos aos meus olhos). Mas eu não posso reclamar, né... Eu moldei eles assim :P E dessa vez ninguém pode reclamar que eu deixei suspense no ar! Eu fui até o fim, hein! (Hehehe... Em termos... Até o fim... Hehehe... "Inner Mariana: Mariana! Qr ficar de boca fechada!" :X "Mariana: Ok Ok, fiquei quieta u.u") :P

Agradecimentos: Puts! Por UM não é dia de comemoração dos 150 reviews :P Hehehe, mas estou extremamente feliz com todos os comentários que recebi! Adorei todos, todos, meeesmo. Alguns então... Me fizeram dar pulinhos e outros até me fizeram cair na gargalhada. Realmente, o capítulo anterior foi um "tantinho" de volta da "comédia" que eu tinha deixado um pouco de lado, hehehe. Perdoem-me não deixar um agradecimento para cada um, mas resolvi fazer isso de "tantos em tantos" capítulos, é mais fácil e prático e com a minha atual falta de tempo é o único jeito. Contudo, muuuuuuuuuuuito obrigada! Não sabem como me deixam animada com seus reviews (gente, parem com: "de repente vc nem lê pq ta muito grande o review" q isso! Eu amo de paixão os reviews grandes :P Principalmente os grandes, hehehehe) e e-mails! (E não fiquem com vergonha ou qualquer coisa do gênero em me mandar e-mail, adoro e-mail! E respondo todos sempre que posso :)) Arigatou minna-san! Ja ne!

Agradecimento especial para a Yoru-chan :) Arigatou Gosaimasu! Muito obrigada por ler e me ajudar a resolver alguns "dilemas" tão cruciais para os próximos capítulos e desculpas por não ter postado semana passada igual eu falei que iria, não deu mesmo:( Mas... se precisar de mim, é só chamar, bl? Posso não estar sempre disponível no msn (falta de pc u.u) mas sempre existe e-mail hehehe. :)