Oi... Hehehe... Bem... Er... Tô atrasada, né? Hehehe (gota). Cof cof... Er... OK. Desculpem-me people, pelo enorme, gigantesco atraso, tenho muitos motivos para isso ter acontecido, o principal é que eu estava sem computador e daí não dava para mim escrever em tempo, né. Bom, eu tenho uma boa notícia, agora eu voltei pra casa definitivamente (ao menos até em Agosto, hehehe), então, acho que não vou mais me atrasar como antes. Espero que este capítulo compense a espera de vocês, não falta muito para mim acabar, então, aproveitem enquanto ainda há capítulos. Divirtam-se!

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Capítulo22: À sombra da verdade

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Os gritos de uma mulher preenchiam o ambiente, enquanto a escuridão de janelas cobertas por grossas e ricas cortinas escuras complementavam o cenário pesado.

Ela se viu ajoelhada, também sendo uma ouvinte daqueles gritos angustiantes, enquanto suas mãos pareciam trabalhar sozinhas limpando e molhando um pano já bastante vermelho.

Arregalou levemente os olhos ao finalmente tomar consciência do que estava ocorrendo ali. Voltou seu olhar para a cama próxima a si e seu rosto já pálido perdeu toda e qualquer coloração. A jovem mulher que a espectadora via deitada e se contorcendo dolorosamente na cama tentava conter o grito que lhe subia à garganta devido às dores do...

Os olhos que assistiam a cena rapidamente mudaram de ponto e agora ela observava ao fim da cama duas mulheres. Um era uma ama, a qual se retirava do quarto a pedido da outra para buscar mais água.

A espectadora voltou-se para a mulher que não se retirara do quarto e percebia agora que esta fazia o mesmo que ela mesma estivera fazendo segundos antes. Com exceção de que o pano agora estava mais vermelho que antes.

Num segundo ela fazia parte do que estava ocorrendo ali, e agora apenas era uma mera espectadora, tudo em um flash de visão. Os gritos pareceram mais abafados aos seus ouvidos e a imagem mais ofuscada.

Olhou mais uma vez para a jovem deitada, longos cabelos castanhos e olhos da mesma cor, cujos ela sabia terem sido iguais aos do pai da moça. Sim, ela conhecia aquela garota naquela cama... Como conhecia...

Voltou-se para a mulher que limpava a jovem na cama agora, cabelos brancos da idade, pele pálida como sempre, olhos... Vermelhos como os seus... Era ela mesma aquela velha mulher que se encontrava ao lado da jovem agonizante... Assim como fora àquela noite... Naquela mesma situação...

Os pensamentos da espectadora foram cortados subitamente pelo estridente e vivo choro... Choro que calava os gritos da jovem mulher deitada... Choro de uma criança recém-nascida.

A espectadora tentou se mover, conseguiu levantar-se, mas apesar deste pequeno êxito, ninguém parecia vê-la. Era apenas um espírito longínquo, que apenas vê, que apenas escuta, para aqueles que se encontravam tão ocupados naquele quarto.

O choro do bebê foi diminuindo, enquanto a espectadora via sua versão mais velha enxugar delicada e cuidadosamente o pequeno ser vivo, em seguida enrolando-o em uma riquíssima manta.

Aquela que assistia a cena fechou seus olhos por um segundo, preparando-se para presenciar novamente o que já havia acontecido uma vez.

Houve silêncio e em seu estado de observadora distinguiu a voz cansada, porém doce, da mulher deitada naquele aposento. Palavras tão vivas para aquela que ouvia, mas que agora pareciam tão distantes e fatiadas em minúsculos pedaços pelo tempo...

"Meu sangue... (sons indistintos) por meu filho... (sons indistintos) até... (sons indistintos) outro poder... (sons indistintos) surgir."

A mensagem em forma de feitiço parecia tão longínqua que ela mal a identificava. No entanto, seu significado estava tão impregnado em sua cansada e desgastada alma que meros murmúrios já lhe clareava totalmente a mente, como se visse escrito na frente de seus olhos cada letra, cada palavra daquela complicada magia proferida.

Ela sabia o que iria acontecer...

A espectadora abriu levemente seus olhos, não encarando nem a cama, nem a velha senhora ao lado desta e que ela sabia estar cheia de confusão e profunda dor com o que também ouvia. Assim como ela, a senhora não entendia o que ouvia... Não na primeira vez que as palavras lhe soaram na mente...

Seus olhos que a tudo presenciava recaíram na esquecida toalha, agora totalmente vermelha, que pendia de uma bacia douradão no chão. Da toalha pingava algumas gotas do líquido viscoso misturado à água, agora já fria.

Olhou para o chão, para onde as gotas carmim se dirigiam, formando uma pequena poça de um vermelho bastante escuro ao chão.

Observou com atenção o líquido que representava vida, vida não mais existente... E na imagem viscosa ao chão ela pôde imaginar, se não ver, outra cena ocorrendo. Por entre as várias gotas de sangue e água que formavam aquela poça, ela viu o que só sua mente raramente ousava sequer imaginar.

Sua visão pareceu penetrar fundo naquele líquido e agora ela via com quase clareza a cena pintada de vermelho, como se visse tudo ao vivo...

Um corpo masculino... Um corpo masculino que se movia com rapidez e brutalidade sobre um frágil corpo feminino... Corpo feminino que continha na garganta a necessidade louca de gritar, implorar por uma ajuda que jamais viria.

Apenas os gemidos do homem eram ouvidos e, subitamente, o mundo daquela que dolorosamente àquilo assistia pareceu ruir...

Seu mundo ruiu quando os olhos daquela jovem já sem esperanças presa por entre as várias garras daquele homem abriram-se repentinamente. Olhos que olharam diretamente para a mulher que presenciava a cena... Para a espectadora... Para ela... Que antes não era vista por ninguém... Mas agora... Agora era vista por olhos cheio de sofrimento, cheios de agonia, quase que acusando-a... Acusando-a por não ser capaz de evitar o que ela presenciava agora...

O brilho agonizante dos olhos daquela jovem perfurou fundo na alma daquela que observava... E o castanho profundo desses mesmos olhos jovens e angustiados se distinguiam, destacavam-se escrutinantes naquele mar vermelho como morte.

A cena rapidamente pareceu se distanciar daquela que a observava. Ou melhor, eram os olhos vermelhos de quem observava que voltavam como flash a recuperar o foco.

A última cena que a espectadora viu – assim que seus olhos recuperaram foco, desviando-se rapidamente daquela poça de sangue ao chão – foi a de uma mão gélida que escorregava neste instante daquela gigantesca cama... Pendendo pálida...

Totalmente sem vida.

Pálpebras se abriram subitamente e olhos vermelhos, que descansavam pela primeira vez em tanto tempo, despertaram, totalmente embaçados de sentimentos... E no mesmo instante que assim faziam uma única gota transparente escorreu rapidamente pelo rosto pálido e temporariamente vivo de Yume.

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O silêncio reinava naquele quarto. O ar de tranqüilidade ali era respirado, a temperatura primaveril denotava paz. As cores claras ali presentes pareciam vivas, a vida em si ali era palpável.

Um farfalho de lençol se fez ouvir sob dois corpos que ali se encontravam. Uma moça de formas delicadas encostava-se confortavelmente no peito do rapaz recostado na cama, o braço dele descansando em torno da cintura esbelta da garota.

Estavam silenciosos há algum tempo. Depois das trocas de alguns carinhos, ao lado da janela do quarto, os dois haviam se dirigido à cama para melhor conversarem e descansarem um pouco durante e após toda a conversa que dividiram, um nos braços do outro.

Haviam conversado sobre a primeira vez que se encontraram e aquele difícil treino ao qual tiveram que se submeter. Revelaram um ao outro o que fora suas vidas nos anos seguintes em que não se viram e muito havia sido esclarecido.

Além disso, sentiam-se à vontade o suficiente para conversarem um pouco sobre suas infâncias e a presença de magia nelas e, por fim, o que esconderam um do outro ou simplesmente não fora dito quando se encontraram pela segunda vez e o tempo seguinte em que passaram juntos.

Ainda havia muito que não fora dito, mas não mais sentiam aquela angústia por respostas, Haviam dividido um com o outro muito do que jamais disseram para outro alguém. E, assim sendo, não ansiavam com desespero por mais além do que já sabiam, o que um oferecia de bom grado ao outro.

Se fosse possível ou necessário, como tempo compartilhariam mais de suas vidas entre si, não era preciso palavras para sentirem essa verdade um no outro. O estado íntimo, de puro contentamento em que estavam, era prova disso.

Sakura (mexendo-se levemente): 'Há tempos que não me sinto tão bem...'

Syaoran (sorrindo maliciosamente): 'Eu imaginava, mas não sabia que eu era tão bom assim.'

Sakura (levantando o dorso e dando um soco no ombro dele): 'Ei!' Syaoran riu levemente antes de responder.

Syaoran (ainda rindo um pouco): 'Desculpe-me, força do hábito.'

Sakura (voltando a se recostar nele): 'Pretensioso e convencido. Como se tivéssemos feito algo de mais.'

Syaoran (sorrindo de lado): 'Podemos consertar isso.' Vendo que Sakura iria repetir o que fizera segundos antes, Syaoran apertou um pouco mais a cintura feminina, como que para impedi-la. 'OK, OK, já parei.' Sakura relaxou novamente e um leve silêncio surgiu antes dela voltar a falar.

Sakura: 'Quando disse que me sentia bem, me referia a um estado de espírito.'

Syaoran (sorrindo calmamente): 'Eu sei... também estou me sentindo assim.' Suspirou levemente antes de beijar o topo da cabeça de Sakura. Sorriu entre os cabelos dela e continuou. 'É só que eu te acho linda quando irritada...'

Sakura (sorrindo de lado): 'Hm... Está dizendo que eu sou feia quando não irritada, é?'

Syaoran: 'Sakura, essa é uma das frases mais clichês do mundo!'

Sakura (voltando o olhar para ele, rindo): 'Hah! A sua não foi muito melhor.'

Syaoran (rindo também): 'OK, eu admito a derrota.' E beijou o rosto de Sakura, deixando-a rubra. Syaoran percebeu o rubor da garota e fez cara de confuso, realmente não compreendendo. A jovem sorriu sem graça, coçando levemente a nuca.

Sakura (sem graça): 'Desculpe-me, não estou acostumada com este tipo de... Hm... "Relação".'

Syaoran (sorrindo compreensivo): 'Entendo... Bom, não é como se eu tivesse muita experiência também... Não com uma prima como Meylin.' Sakura riu baixinho, mas foi surpreendida quando Syaoran a apertou mais em seus braços, levando seu rosto até o pescoço dela, inspirando o doce perfume feminino. Syaoran voltou a falar, um sussurro contra a pele delicada. 'Mas não gostaria de estar com ninguém mais nesse momento.'

Sakura (sorrindo): 'Eu também não...' E aconchegou-se melhor entre os braços fortes do chinês.

Ficaram aproveitando a presença um do outro por algum tempo e apenas o vento que entrava pela janela cortava o silêncio confortante que novamente começava a surgir. Entretanto, foi Sakura novamente quem o interrompeu.

Sakura (em tom levemente triste): 'Queria que pudéssemos aproveitar esse tipo de momento por mais tempo...' Syaoran suspirou fundo, entendo o que a garota em seus braços queria dizer. Afinal de contas, o mesmo tipo de pensamento estava lhe ocorrendo.

Syaoran (em tom de remorso): 'Eu sinto muito, Sakura.' Pega de surpresa, a jovem mais uma vez voltou seu olhar para o rosto do rapaz, sem entender o que ele queria dizer e tentando buscar a resposta nos olhos deste.

Entretanto, Syaoran não ousou voltar-se para o olhar inquisidor da jovem, sua face resplandecia uma certa sensação de culpa não confessada. O rapaz abaixou o rosto por um segundo, antes de finalmente conseguir voltar-se para Sakura.

Syaoran (com culpa escrita em seus olhos): 'Sinto muito por ter te colocado nesse perigo... Afinal, é um problema do meu clã, problema que eu deveria saber resolver sozinho.'

Sakura sentiu seu peito contrair-se diante das palavras do rapaz, compreendendo o que o deixara daquele jeito, por mais que não concordasse com elas. A japonesa voltou-se totalmente para aquele ao seu lado, abraçando-o como para assegurar algo em que ele não parecia acreditar...

Sakura confiava em Syaoran... E sabia que o que sentia por ele era suficientemente forte para arriscar muito mais do que ele podia imaginar... Não precisava de alguém para entrar na sua frente para protegê-la de todo mal... Precisava de alguém para estar ao seu lado, para ampará-la e a quem ela pudesse amparar também na hora de enfrentar seus medos e os perigos que surgiam e surgiriam na sua vida.

E ela queria mais do que nunca que ele entendesse isso...

Sakura (contra o pescoço de Syaoran, enquanto o abraçava): 'Por favor, Syaoran... Não diga mais isso. Eu sei que você teria resolvido tudo sozinho, se pudesse. Mas há certas coisas que não se pode solucionar sem ajuda...'

Levantou a cabeça calmamente para olhar o rapaz nos olhos, talvez para demonstrar da melhor maneira possível o quanto o que dizia era verdade para ela e o que significava. Ela estaria com ele, não importa o quão difícil a situação se mostrasse ser. Só esperava que o rapaz a compreendesse e a aceitasse como ajuda, mesmo que ela não fosse mais um homem aos olhos do rapaz como fora há alguns anos...

Sakura (respirando um pouco mais fundo antes de continuar): 'Alegra-me saber que você tinha tanta confiança em mim para ajudá-lo, mesmo que ainda eu fosse Yukito ao seus olhos.' Concluiu com um sorriso sem graça.

Syaoran (colocando uma de suas mãos no rosto de Sakura, para que ela não desviasse o rosto): 'Eu ainda confio em você, Sakura. Não importa se você não é a mesma pessoa, ao menos fisicamente, que eu conheci nas montanhas.' Sakura olhou-o longamente, procurando a verdade nas palavras dele e, assim, finalmente sorrindo um pouco, mesmo que incerta.

Syaoran observou a reação da garota e facilmente podia dizer que ela ainda não estava convencida da veracidade das palavras dele. Apesar de toda confiança que pareciam agora ter um no outro, o rapaz sabia que não poderia culpá-la por estar tão insegura. Afinal de contas, fora com medo da reação dele que ela mentira. E agora ele sabia o quão certa ela estava, e o quão infantil fora seus motivos para ficar com raiva ao saber da mentira dela.

Se tivesse aceitado desde o começo, se tivesse demonstrado que não havia diferença para ele se ela era ou não um homem, que ela continuaria sendo uma preciosa amiga para ele, como agora ele entendia, talvez ela não tivesse escondido a verdade dele. Sabia que precisava acabar com as dúvidas dela, mas... Como mostrar para ela que não se importava se ela era ou não um homem se... Se realmente se importava?

Um pensamento surgiu nos lábios do rapaz... E ele sabia como fazê-la entender...

Syaoran (suprimindo o sorriso que se formava em seus lábios.): 'Eu ainda confio em você, Sakura. Mas...' Diante da "cláusula", Sakura sentiu-se um tanto quanto apreensiva, entretanto não se pronunciou. O rapaz ainda segurava aquele sorriso e ele continuou, parecendo estar um tanto quanto sério e grave enquanto falava. 'Mas admito que é mentira quando digo que não importa você não ser a mesma pessoa, porque realmente importa.'

Mais do que nunca Syaoran teve que se segurar para não sorrir ou fazer alguma outra besteira diante do olhar de Sakura. Oras... Ele não podia evitar achá-la adorável mesmo com aquela expressão surpresa. Contudo, ele sabia o que ela poderia estar pensando e resolveu concluir, talvez assim aliviando um pouco a garota sobressaltada ainda em seus braços.

Syaoran (finalmente deixando aquele sorriso um tanto quanto malicioso aparecer): 'Afinal de contas... Agrada-me muito mais a visão de uma parceira com as suas curvas do que a de um homem.'

Sem palavras...

Era exatamente assim que Sakura se sentiu... Sem palavras...

Como... Como que aquele maldito arrogante e convencido chinês ousava fazê-la ficar daquele jeito e...

Diante do olhar incrédulo de Sakura, Syaoran não agüentou mais e começou a rir de novo, ainda mais do que da primeira vez. Sakura ainda se via sem condições de falar, olhos arregalados. E sua única reação foi de balançar a cabeça lenta e negativamente. Ela até pensou, mas acabou desistindo de bater no rapaz de novo... Syaoran realmente não tinha salvação.

Sakura (ainda incrédula, mas com um sorriso quase despontando em seus lábios): 'Eu não acredito que você fez isso...' Syaoran ainda ria, muito mais diante daquele olhar de Sakura.

Syaoran (tentando parar de rir, respirando fundo): 'O que mais eu poderia ter feito...? Você realmente não estava acreditando em mim. Que melhor forma de fazê-lo se não a pegando desprevenida?' Sakura olhou-o por um longo momento e o rapaz começava a achar se talvez não tivesse ido longe demais.

Sakura (suspirando profundamente e voltando a encostar-se no peito masculino): 'Homens...' Por sua vez, Syaoran soltou a respiração que não percebera ter prendido. Por um momento achou que aquele seria seu último instante vivo...

Entretanto, Sakura ainda não estava em um estado sublime de espírito que lhe fosse capaz de ler os pensamentos de alguém, ainda mais os pensamentos perturbadores e pervertidos que um homem poderia ter. Logo, aconchegou-se melhor nos braços do rapaz, sem nada dizer.

Visto a situação, Syaoran a apertou novamente em seus braços, algo que já estava se acostumando a fazer, apreciando o momento de calma que sempre parecia surgir quando finalmente ele começava a se entender com Sakura. Ficou calado por algum tempo, mas logo se viu acabando com aquele silêncio de vai e vem novamente.

Syaoran (em tom baixo): 'Queria que soubesse...' Fez uma leve pausa e Sakura levantou um pouco a cabeça, lentamente, para olhar a face do rapaz, tentando assim prestar mais atenção no que ele falava quase em sussurro. Syaoran, por sua vez, voltou seu olhar para ela, fazendo assim que os dois tivessem contado visual um com o outro. 'Eu queria que soubesse, Sakura que... Mesmo tendo vindo para o Japão por causa dos problemas no meu clã... eu... Realmente fiz o possível para tentar ajudá-la a se recuperar...'

As últimas palavras foram ditas um tanto quanto hesitantes, não sabendo se tinham sido as palavras certas a serem proferidas.

Sakura ficou em silêncio por alguns segundos, encarando Syaoran nos olhos, mas de uma forma um tanto quanto diferente daquele momento anterior. Buscava a verdade nos olhos dele novamente, era verdade, mas seus olhos agora continham uma compreensão de situação que antes ela não fora capaz de ter.

Sakura começava a compreender melhor Syaoran, talvez não da mesma forma que um psiquiatra entende o que um paciente diz através de atos e palavras, como o era meses atrás entre os dois, mas de uma forma um tanto quanto mais profunda... Mais espiritual, mais subjetiva, como havia acontecido durante algumas vezes, quando trocavam olhares, como ocorrera no jardim um dia antes, quando ele lhe transmitira confiança, como ocorrera naquele mesmo quarto há quase uma hora, quando ela lhe abrira sua alma e ele lhe abrira a dele...

Sakura olhava fundo nos olhos castanhos, mais uma vez, como ocorrera algumas vezes antes... Olhava-o atentamente, assim como Syaoran também estava fazendo. Eles finalmente começavam a se compreender... A se entender... Não mais psiquiatra e paciente... Não mais amigos ou companheiros...

Sakura (sorrindo docemente): 'Não sabe o quanto me alivia ouvir isso, Sayoran...' E dessa vez foi Syaoran quem a olhou silencioso por segundos. As palavras costumavam ser bem vindas, mas havia momentos que ele simplesmente preferia que apenas se olhassem... Se entendessem apenas um nos olhos dos outros...

Contudo, nem sempre era assim, ele sabia. E, por mais que tivessem começado a se entender, ele também sabia que faltava um pouco mais para acabar com qualquer barreira entre os dois. Ainda não sabia distinguir do que se tratava e, mesmo que gostaria de saber, agora não era o momento.

Syaoran deixou sua curiosidade tomar conta de si, afinal de contas, não entendera completamente a resposta de Sakura. Todavia, a garota pareceu compreender isso e foi ela a primeira a falar.

Sakura: 'Bom... Eu fiquei, de certa forma, angustiada quando fiquei sabendo por quê você veio para cá... Eu achava que conhecia você e... Uma pessoa que usa os outros não era uma das coisas que eu lembrava em você.' Syaoran quase notou um tom de brincadeira na voz da garota. Entretanto, vendo-a encolher os ombros e mostrando-se meio sem graça com o que acabara de dizer, Syaoran se viu tendo outra reação da esperada vinda de um "grande psiquiatra".

Syaoran (indignado): 'Ei! Eu nunca fiz nada que pudesse...' Syaoran viu sua indignação apagando antes mesmo de começar a esquentar. Engoliu em seco, vendo o quanto mentira era o que estava prestes a dizer, e ainda por cima sendo assaltado por aqueles enormes olhos verdes que agora pareciam lhe dizer "O que você esta ousando dizer!"

Ele tinha que admitir. Ele realmente não tinha ido para o Japão especificamente para ajudar Sakura, não é? E... Pela cara dela, Sakura sabia muito bem disso. Ele não fora lá justamente para ajudá-la, ele mentira, ele escondera muita coisa e... Realmente, seria uma grande hipocrisia dizer que "não havia feito nada".

Syaoran (suspirando derrotado): 'Certo... Você tem razão... Eu dei motivos para você acreditar que eu estava usando-a. Mais ainda, dei razões suficientes para você não confiar e acreditar em mim...'

Sakura (sorrindo discretamente, compreensiva): 'Tudo bem, Syaoran, não precisa continuar... Na verdade... Na verdade eu também tenho culpa nisso, não é?' Olhou para o rapaz um momento, antes de abaixar a cabeça para continuar. 'Eu menti... Menti mais e por muito mais tempo que você. Não posso julgá-lo por um erro que eu também cometi várias vezes.' Olhou vacilante para ele. Aqueles momentos de "quem é que tem mais culpa" naquela conversa já estava se tornando constante e um tanto quanto desgastante, para ambos.

Syaoran ficou quieto por um segundo, sem olhar a garota nos olhos. Entretanto, finalmente voltou o olhar para ela, um leve sorriso no rosto.

Syaoran: 'Acho que ficar tentando achar quem é mais culpado não vai nos levar a lugar nenhum, não é?' Sakura sorriu para ele, acenando afirmativamente com a cabeça. Olharam-se por alguns segundos, antes de Sakura falar novamente.

Sakura (sorrindo marota): 'Bom... Acho que só temos uma solução.' Vendo a falta de compreensão nos olhos do rapaz, Sakura sorriu de lado, levantando sua mão direita. Seu punho estava fechado e apenas o dedo mindinho estava esticado, apontando na direção do rapaz.

Syaoran (confuso): 'Mas o quê...?' Sakura riu um pouco, antes de esclarecer-se.

Sakura (sorrindo): 'Bom, acho que uma promessa entre nós dois talvez ajude um pouco.' Syaoran olhou por um segundo para a mão da garota e por fim voltou o olhar para ela. Sorriu e riu um pouco, antes de levantar sua mão também.

Syaoran (sorrindo de lado): 'Uma promessa de dedinho, não podia ter pensado em algo melhor.' Disse com ironia e Sakura riu novamente. Os dois cruzaram os dedos e Sakura falou.

Sakura: 'A partir de agora, prometemos confiar mais um no outro, desconsiderando qualquer mentira ou desentendimento que tivemos até essa promessa. O que acha?' Falou ela sorrindo marota.

Syaoran (sorrindo de lado): 'Por mais que eu esteja parecendo uma criança de dez anos...' Falou rindo. 'OK, eu prometo.' Sakura sorriu novamente e eles selaram a promessa.

Sakura (rindo um pouco): 'Há muito tempo que eu não faço esse tipo de coisa.'

Syaoran (irônico): 'E que melhor pessoa do que o chinês aqui para se voltar à infância, não?' Sakura olhou para ele, suprimindo o sorriso e o riso, antes de se aproximar mais do rosto do rapaz.

Sakura: 'Não é exatamente em voltar à infância que eu me lembro quando penso em você.' Sorriu de lado e, apesar de uma surpresa inicial, Syaoran sorriu da mesma maneira. Entretanto, antes que pudesse responder, sentiu os lábios doces da garota de encontro ao seu.

Realmente... Não era em infância que ele pensava quando junto de Sakura...

"Xiao Lang... Seu pervertido..."

Foi o último pensamento do rapaz antes dele mergulhar em um beijo apaixonado um tanto quanto esperado pelos dois...

E, ao menos temporariamente, qualquer lembrança do perigo que estavam prestes a enfrentar parecia ter se dissipado totalmente de suas mentes.

Temporariamente...

# # # -

As ruas estavam quietas e escuras, nenhuma pessoa, nenhuma carruagem, nenhuma criatura viva era vista ou ouvida. O vento, entretanto, fazia-se notável, seu som mais parecido com o uivo de um lobo, sua força apenas intensa o suficiente para fazer as várias folhas das árvores ali farfalharem.

A única construção ali, austera e imponente, resplandecendo em sua beleza fria, poderosa, como uma casa imperial ainda não destruída pelo tempo nem as guerras, estava escura e sombria, tenebrosa, com ares de assombrada, como toda a paisagem ali em geral estivera nos últimos meses, refletindo em suas paredes límpidas e firmes o mesmo estado de espírito de suas dezenas de moradores.

O portão da propriedade estava fechado, uma muralha impenetrável comandada apenas pelos senhores e senhoras da mansão. Nada poderia transpô-lo sem que a morte lhe alcançasse primeiro. Entretanto, nem os mais poderosos feitiços que o mantinham indestrutível era capaz de impedir aquele pequeno grupo de adentrar no suntuoso jardim ali.

Com a leveza e cautela de um lince, eles tocaram no gramado da propriedade e, mesmo que feitiços protegessem a mansão do que o portão não poderia impedir de adentrar ali, o poder oculto que rodeava aqueles seres nas sombras anulava qualquer barreira que ousasse se manifestar.

Os quatros seres ficaram imóveis e silenciosos no mesmo local em que aterrissaram. Seria impossível dizer exatamente por quê o faziam, se por medo, se por cautela, se para analisar sua situação. Mas assim continuaram, a respiração longa e pesada era o único vestígio do que fora uma viagem comprida e cansativa, porém, mais veloz do que qualquer outro seria capaz de fazê-la.

Um deles, o mais alto, finalmente resolveu quebrar o encanto inexistente que parecia mantê-los imóveis. Foi com um leve passo, mais silencioso que o sussurro de uma brisa, que ele saiu de sua latência. Contudo, após o pequeno movimento, a sombra parou novamente, observando, sem nada mover além dos olhos, o local em que estavam.

Pareceu satisfeito com a conclusão que chegou, pois seu corpo perdeu toda a tensão que lhe cobria dos pés a cabeça e ele se permitiu mover-se normalmente. Aproximou o pé traseiro daquele que se movera, anteriormente na dianteira. Corrigiu calmamente a postura e olhou para trás, onde estavam seus companheiros, os quais não pareciam ter sido afetados por sua calma, pois ainda se mantinham rígidos e alertas, como ele mesmo estivera momentos antes.

A Lua, que antes se escondia por entre as nuvens, parecendo sentir também os ânimos daqueles seres, agora se fazia visível, resplandecente em sua serenidade, talvez refletindo em si a calma daquele que primeiro se movera entre os quatro.

Assim que as nuvens avançaram para longe do astro, o brilho e a luz deste refletiu-se no gramado da propriedade, conseqüentemente revelando a identidade daqueles que antes se encontravam como sombras misteriosas da noite.

Eriol (sorrindo calmamente para seus amigos): 'Parece que ainda não perceberam nossas presenças.' As palavras mais soaram como um feitiço, pois a tensão entre eles pareceu sumir logo em seguida e os três que ainda se mantinham tensos pareceram relaxar visivelmente, mesmo que ainda se percebesse um certo ar de alerta ali.

Yelan (respirando fundo, de olhos fechados): 'Suponho que esteja certo. Do contrário, acredito que estaríamos no meio de rajadas mágicas e garanto-lhes que não seriam de boas vindas.'

Eriol (sorrindo um pouco mais e dando alguns passos em direção da mansão): 'Não seria tão drástico em minhas observações como a senhora, mas concordo ao dizer que boas vindas seria a última coisa que eles nos dariam.'

Kerberus (olhando-o de esguelha, murmurando): 'Sempre fazendo piadinhas nos momentos menos oportunos... Certas coisas nunca mudam mesmo.'

Eriol (voltando o olhar divertido para o guardião): 'Nada posso fazer contra isso, meu caro, é um dom!' Kerberus bufou com certa impaciência, pronto para iniciar uma discussão.

SpinelSun (interrompendo uma possível desavença de começar): 'Mestre... Creio que o momento requer-nos maior cautela e certa pressa. Mesmo com toda nossa velocidade, é possível que o inimigo também esteja chegando ao seu destino agora... Precisamos agir logo.'

Eriol (ficando sério e voltando o olhar para a mansão): 'Infelizmente tenho que concordar... A situação não e nada agradável, mas...' Abaixou a cabeça e deu um longo suspiro. Em seguida, voltou-se completamente para seus amigos, olhando-os com atenção. 'Estão prontos?'

Silenciosamente, os três seres mágicos acenaram afirmativamente para o rapaz. Estavam mais uma vez eretos, tensos e totalmente alerta.

Eriol (suspirando): 'Muito bem... Creio que este é o momento.' Olhou-os mais um segundo, rostos cheios de determinação e apreensão, e fechou seus olhos em seguida, concentrando-se. Os outros fizeram o mesmo, liberando com certa cautela suas auras, sinal mais que evidente para que qualquer outro ser mágico nas redondezas os percebessem.

Kerberus (começando a sentir várias auras mágicas sendo libertas também): 'Seja como os deuses quiserem...' Murmurou por fim.

# # # -

Era tarde da noite, o silêncio apenas quebrado pelo longo suspiro do vento lá fora. Já ouvira aquele som antes, sua noiva o ensinara a entender a voz do vento e era com certa clareza que ele entendia seu significado agora.

Era o vento da mudança, o vento que presenciava e anunciava situações críticas, situações em que o destino via seu poder enfraquecido, quando era nas mãos dos próprios seres humanos que estava o rumo que tomaria suas vidas e do resto de toda uma humanidade, naquele incrível e fascinante Efeito Borboleta (#).

Ele ficou quieto, apenas ouvindo, tentando captar nos sons alguma pista do que poderia estar prestes a acontecer. Suspirou, por fim. A deusa dos ventos não parecia quere-lhe clarear a mente mais do que já estava.

Caminhou até a porta da biblioteca, apagando com um gesto da mão as várias velas que iluminavam o aposento. Em seguida, atravessou a porta, fechando-a e seguiu quase inconscientemente para seu quarto, sua mente perdida em pensamentos. Pensamentos tenebrosos, confusos e cheios de dúvidas.

Era ele o caçula de dois irmãos, e assim sendo, cabia-lhe a função de seguir e proteger seu irmão mais velho, por direito um dos Grandes na família.

Nunca teve verdadeiros laços de afeto com o primogênito, mas respeitava-o e fazia o possível para agrada-lo. Nunca concordou verdadeiramente com as idéias do outro, por vezes injustas e cruéis aos seus olhos, entretanto, sendo o caçula, nunca se pronunciou. Foi com certa amargura que pressentira que seu sobrinho seguiria os mesmos passos do pai, mas era apenas o tio mais novo e nunca se intrometeu na educação da criança.

Nunca concordou, nunca falou, nunca se intrometeu, afinal, era o caçula. E, de acordo com as tradições que tanto estimava e respeitava, o mais novo se mantém submisso e quieto.

Todavia, o destino pareceu querer brincar com sua medíocre vida de previsível obediência. Seu irmão morreu repentinamente e, assim, ele se viu obrigado a falar, a agir, a participar... Não fora nada fácil para alguém que nunca se imaginara entre os poderosos e ele chegara perto de sucumbir e desistir.

Contudo, não fora assim, tudo graças a um homem. Um homem a quem ele jamais imaginou dando ouvidos. Um homem poderoso, porém, rebelde aos olhos da tradição.

Fora esse homem rebelde, porém justo, que lhe estendeu a mão e o ajudou a superar seus medos interiores e seu conformismo submisso do qual fora prisioneiro por tantos anos.

Fora esse homem que o ajudara a ser crítico, a transformar em palavras suas opiniões, mesmo que fossem contrárias aos outros. Fora esse homem que lhe mostrara que tradição é apenas um parâmetro, parte da História e, como tal, deve ser estimada e analisada, mas que somos nós que construímos a História Futura, não por aquela que já se foi.

Ainda lhe custava entender isso e às vezes ele ainda se via perdido. Mas aprendera a ter suas opiniões, aprendera a fazer uso delas e logo se viu sendo chamado um dos maiores Senhores da Razão que já existiu no Clã Li...

Tao parou subitamente, voltando à realidade ao perceber que estava em frente à porta de seu quarto. Abriu ela e entrou silenciosamente, fechando-a atrás de si. Seguiu até seu guarda-roupa, agindo novamente por instinto, se perdendo mais uma vez em seus pensamentos.

Ele agora era uma das vozes mais ouvidas pelo Clã, algo ao qual seu passado quieto e obediente a tudo não fazia jus.

Não conseguira tal proeza sozinho, sabia que se dependesse apenas de si mesmo seria apenas uma figura simbólica entre os outros anciãos, jamais teria feito algo que valesse a pena ser lembrado.

Felizmente, não foi assim. Felizmente, uma pessoa entrou na sua vida e foi mais irmão mais velho do que um dia Satsugai jamais poderia ter sonhado em ser. Fora apenas uma pessoa... Apenas uma pessoa e foi suficiente para lhe modificar toda uma existência que não parecia ter propósito.

Um homem, um rebelde, um líder. Um querido e inigualável amigo, um irmão que ele jamais esqueceria...

O que Li Tao era hoje, o que o poderoso e estimado Senhor da Razão era hoje, ele devia à lembrança querida e sem igual de Li Shang...

Tao caminhou até a sua cama, colocando suas vestes de dormir sobre esta, pronto para se trocar, enquanto concluía sua linha de raciocínio.

Li Shang fora o irmão que Satsugai nunca fora para ele. Shang ensinara-o a concordar quando justo e a se rebelar quando necessário. Um líder rebelde aos olhos de muito, Shang era a coragem e justiça personificada aos seus. Era íntegro, bondoso, inteligente e poderoso. Um excelente pai de família, quatro lindas e talentosas filhas, um filho que tanto resplandecia ao pai.

Tao deu um longo suspiro, finalmente chegando ao personagem responsável por suas atuais crises de insônia.

Li Xiao Lang era o retrato perfeito de seu pai, física e mentalmente. Para Tao, Xiao Lang era o brilho que o Clã perdera quando Shang desaparecera. E, até presente momento, ele ainda acreditava ter estado certo.

Contudo, pensava com pesar, os atuais atos e as atuais circunstâncias em que Xiao Lang se encontrava fazia-o vacilar e repensar suas conclusões anteriores. Estaria ele tão cego diante da imagem de Shang no filho para não ter sentido a traição em Xiao Lang?

Não sabia, e, novamente, ele voltava a seu estado de confusão e dúvidas. Estaria o tão estimado e longamente sábio Tai Ming mentindo... Ou o corajoso e rebelde, assim como o pai, Xiao Lang traindo o Clã?

Tao suspirou exasperado mais uma vez, terminando de vestir seu pijama. Olhou pela janela, o vento balançando calmamente os galhos das árvores, e finalmente voltou-se para sua cama, pronto para mais uma noite de insônia e perguntas sem respostas.

'...'

A sensação foi rápida e os pêlos de sua nuca eriçaram. Piscou duas vezes, assimilando o mais calmamente que pôde as auras que tão subitamente se fizeram sensíveis a ele, e provavelmente a todos da casa.

Elevou o corpo que já se curvava para a cama e olhou pela janela, identificando as presenças uma por uma.

Primeiro concentrou-se nas auras provavelmente mais fracas. Reconhecia-os, ao menos a um deles reconhecia de longa data, o guardião de Eriol, SpinelSun e, devido à semelhança da aura, a outra provavelmente pertencia a outro guardião do Sol, Kerberus, Guardião do Mestre das Cartas Clow...

Em seguida, concentrou-se nas duas outras auras, e, devido às auras dos dois guardiões, por conseqüência a primeira que reconheceu foi do próprio criador deles. Aura que de certa maneira se assemelhava a dos felinos, sendo elas de origens próximas. Há quantos meses não sentia aquela, de certa forma, misteriosa presença da reencarnação do Mestre das Cartas...

E...

Os olhos de Li Tao se arregalaram assim que começou a identificar a quarta aura.

Seu coração deu um salto e foi quase como um raio que ele seguiu até sua porta, sem pensar duas vezes e liberando sua própria energia

Com passos largos cruzou o corredor de seu quarto, nem ao menos ouvindo a voz de sua noiva que saía segundos depois que ele do quarto ao lado do seu.

Era totalmente inesperada aquelas visitas no meio da noite. Principalmente dela.

Seu coração batia acelerado, com força e sua mente trabalhava a mil. Finalmente ele parecia que teria suas dúvidas esclarecidas, finalmente ele parecia que saberia a verdade.

Tai Ming ou Xiao Lang? Quem era o verdadeiro traidor?

Sua parte racional, aquela que dava jus a seu nome, dizia-lhe para não chegar a nenhuma conclusão precipitada.

Entretanto, seu coração, aquela parte quase sempre tão quieta, tão escondidinha no fundo de seu peito... Aquela parte que tanto se assemelhava ao que ele fora antes de conhecer Shang... Esta parte batia cada vez mais forte, cada vez com mais convicção, querendo se fazer ouvir assim como ele mesmo aprendera a ser ouvido e respeitado pelos outros... Dizia cada vez mais, cada vez com mais força, que o filho honraria o nome do pai... Que Xiao Lang ainda honrava e honraria ainda mais o nome de Li Shang.

# # # -

Não demorou muito para os quatro, ainda parados no mesmo lugar, ouvirem o barulho alto e grave das duas portas frontais da mansão se abrindo.

Foi em menos tempo ainda que eles se viram na frente dos mais poderosos e mais temidos homens de toda China.

Quase que inconscientemente, Kerberus e SpinelSun se encolheram levemente, seus instintos mais do que nunca alertando-os que se encontravam, talvez, na situação mais perigosa de suas vidas. Afinal de contas, não ó todo dia que, até mesmo seres poderosamente mágicos como eles, se viam na frente de onze magoa ainda mais poderosos.

O silêncio após a aproximação dos anciãos parecia sepulcral. O olhar penetrante e quase acusatório deles causando profundos calafrios no "poderoso" Kerberus.

A situação realmente era crítica e perigosa, o mero ato de respirar parecia que poderia ser interpretado de forma errada. O suficiente para o pior acontecer. E Yelan e Eriol sabiam que realmente se trataria do pior. Por mais que os dois possivelmente fossem os mais poderosos alis presentes, não havia dúvidas que seriam massacrados numa batalha de onze contra quatro.

Precisavam agir com cautela, precisavam usar as melhores palavras possíveis. Tratava-se das suas e das vidas de seus amigos em jogo. Pois, se Tai Ming possivelmente viesse a falhar, Eriol sabia que Sakura e os outros não poderiam medir forças contra todos os anciãos. Dependia agora dele e de Yelan que essa possível catástrofe fosse evitada.

E, dessa vez, seus poderes mágicos de nada lhe valeriam... Era nas palavras que se encontrava a sua e a salvação de seus amigos.

"É, Eriol... Uma vez mais você terá de usar a magia das palavras... E, dessa vez, mais do que nunca..." Pensou por fim.

# # # -

Os dois caminharam mais um pouco, seus cavalos agora presos pelas rédeas há alguns metros pareciam sentir o que aconteceria daqui a alguns minutos, remexendo-se e relinchando, tentando inutilmente se libertarem das correias que os aprisionavam ali.

Contudo, as duas figuras mal ouviam qualquer possível barulho, seja quase fosse. Suas atenções totalmente centradas naquela construção a duzentos metros de distância.

O homem foi o primeiro a parar, enquanto um sorriso malicioso formava-se no canto da sua boca. A mulher parou logo em seguida, seus olhos claros cheios da mesma diversão maldosa que refletia nos de seu companheiro.

Caminharam lenta porém ansiosamente, até a entrada do local. O silêncio ali era tanto que eles ouviam com enorme clareza o "uivo" do vento, o mesmo uivo que previa para o outro lado do oceano as mudanças inevitáveis que estavam prestes a ocorrer.

Foi com excesso incontido que ele libertou sua aura. Sua excitação era tamanha que qualquer tentativa de aparição surpresa foi deteriorada com a intensidade de seus poderes soltos.

A barreira invisível, aquela criada por longos e mais longos caminhos, aquela que os impedira de usar de magia para chegar ali, pareceu chocar-se com força com a aura do homem. Sendo, provavelmente, ali o centro onde foi concentrada e libertada aquela barreira, era ali que ele deveria atacá-la para destruí-la, mesmo que estivesse fazendo sem perceber, uma vez que toda sua atenção estava na mansão e nas possíveis pessoas que ali se encontravam.

A mulher não pareceu se importar com o movimento precipitado dele, pois logo em seguida ela libertou com a mesma excitação sua própria aura, quase incontrolavelmente, juntando-se a ele na tarefa quase despercebida de destruir a barreira mágica que evitava qualquer uso de magia dali até o mar, onde haviam desembarcado.

Em poucos segundos, a barreira pareceu explodir, deteriorada totalmente e sem dificuldade alguma por aqueles dois seres de magia imensa. Teriam percebido uma certa sensação de alívio por se verem "livres" do que os impedia de usar seus poderes, entretanto, nenhum dos dois parecia prestar atenção, seus olhos atentos e totalmente dirigidos para os enormes portões da propriedade.

Era uma questão de segundos agora...

E foi realmente dessa maneira. O homem alargou ainda mais seu sorriso ao sentir ao longe certa energia. Energia liberta milésimos depois da quebra da barreira. Energia que ele aguardava sentir há muitos e muitos meses.

Foi quase que instantaneamente que os dois sentiram aquela aura em específico, se aproximando rapidamente, juntamente com outras energias que eles aparentemente não se incomodaram em descobrir de quem se tratavam.

Os enormes portões da propriedade se abriram por fim, revelando lentamente aquele rosto tão odiosamente aguardado.

Até mesmo o vento pareceu se calar diante daquele encontro.

Nada nem ninguém ousou se pronunciar quando aqueles olhos castanhos, em busca de vingança, cruzaram-se com aqueles olhos negros, em busca de poder...

Auras intensificaram-se subitamente, o verde e o negro parecendo ricochetearem-se mesmo a vários metros de distância um do outro.

O que fora adiado era inevitável...

O começo do fim...

O confronto mais aguardado...

O Trovão...

... E a Astúcia.

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(Continua)

13/05/2005

Mary Marcato

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Comentário da autora: Hohoho, até eu fiquei na maior expectativa com esse capítulo :) Admito para vocês que quando eu escrevi aquela cena de S&S no começo não achei "aquela" coisa, mas depois, quando eu reli, achei que ficou tão bunitinhu:) Espero que gostem também. Hohoho, estou tão feliz com esse capítulo (mesmo com a demora – gota), finalmente... finalmente (!) o encontro! Aguardo os comentários de vocês e aguardem o próximo capítulo, este não demorará tanto, se tudo sair como planejado. Review me ou e-mail me, ok? Meu mail é marymarcato(arroba)hotmail(ponto)com(ponto)br... Ah, vcs entenderam, né:) Arigatou minna-san. Ja ne!

Agradecimentos: Bem, graças a todos :) eu tenho muito o que agradecer, mas vou deixar para depois, para poder agradecer a cada um. Em especial agradeço aos e-mails que recebi e espero que tenham gostado das minhas respostas. Sempre que puder estarei em contato. Muito obrigada por ainda não desistirem dessa pessoa mais que atrasada, hehehe.