Disclaimer: Card Captor Sakura e todos seus personagens não pertencem a mim.
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Capítulo25: Sua escolha# # # -
Tudo estava ofusco e nublado, os sons eram abafados e por mais que ela tentasse se mover, seu corpo não respondia aos seus comandos. Seu rosto se movia para os lados, em busca de um rosto conhecido. Subitamente, seus olhos se arregalaram ao ver a última pessoa que imaginava a seu lado, encostada em uma árvore, totalmente inerte. Os longos cabelos castanhos claros desgrenhados, o rosto levemente rosado, machucado e com marcas de sangue.
Era ela mesma...! Sakura via a si mesma encostada em uma árvore e por um momento realmente achou que havia morrido. Se assim era, por que ainda estava ali!
Nao teve tempo de pensar no assunto, pois sons de vozes a tiraram de sua contemplação. Olhou para os lados novamente e encontrou alguns vultos que não conseguia distinguir, dois deitados, outro cuidando de um dos dois. Quem seriam...? E mais importante, por que não conseguia distinguir quem eram e onde estava?
A última lembrança que tinha era de ter sido presa pelo pescoço e sufocando nas mãos de...
Agora se lembrava! Lin Bai... Aquela maldita mulher... Aquela que matara seu pai!
Será que a matara também? Será que ninguém pudera salvá-la...
Syaoran!
Sakura arregalou os olhos ao lembrar-se de que não estivera sozinha naquela batalha. Buscou novamente aos seus lados e finalmente seus olhos focaram vultos que não haviam visto antes, a sua frente, ao longe. E, estranhamente, pôde identificá-los, diferente dos outros que ali estavam.
Tai Ming e Syaoran.
Tentou mover-se, tentou chamar, tentou inutilmente fazê-lo notá-la ali, que estava presente, que via aquela luta, mas era em vão... O rapaz estava concentrado unicamente naquele que tanta desgraça trouxera a sua família.
Não adiantava... Novamente se via em um sonho em que não podia se movimentar. Mas o que a fazia duvidar se aquilo era sonho ou realidade era o fato daquilo tudo ser diferente dos costumeiros sonhos que tinha. Não estava acontecendo como antes, não havia milhares de vultos, ela não tinha visto antes seu próprio corpo caído ao chao, nem Syaoran estava caído com uma espada prestes a lhe cortar como em seus sonhos... Por quê?
Será que seus sonhos mostravam-lhe uma possibilidade do que poderia ter acontecido ou uma outra realidade que ainda estava por vir?
E se Tai Ming ainda estivesse para atacá-lo como vira em seu sonho!
Não podia permitir isso e mais uma vez tentou se mover, sem sucesso. Tentou se concentrar, tentou ter os mesmos pensamentos que tivera nos seus sonhos para poder se libertar. Mas não conseguiu, não por que não teria forças para isso, mas por que não havia mais tempo.
Sakura mais uma vez sentiu seus olhos arregalarem e sua respiração prender na garganta. Syaoran e Tai Ming partiam de encontro um ao outro, era um ataque final, podia sentir isso. Quis fechar os olhos, mas não podia fazer isso, tinha que ver o que iria acontecer...
Sentiu seu corpo tensionar e...
Um alívio percorreu-lhe o corpo enquanto lágrimas enchiam seus olhos... Syaoran havia acertado Tai Ming, em um ataque mortal... Ele havia ganhado...!
Sakura sentiu suas pernas fracas depois de tamanha expectativa e caiu de joelhos, abaixando a cabeça por um segundo. A neblina que enchia o local pareceu começar a diminuir e até o ar parecia mais fácil de respirar. A garota levantou a cabeça para observar aquele que ganhara aquela terrível batalha e...
Seus olhos se arregalaram mais uma vez...
Subitamente um vulto surgiu atrás de Syaoran, enquanto este tirava a espada com dificuldade do corpo de seu inimigo...
O vulto cresceu mais e mais, e sem que Sakura pudesse agir, envolveu Syaoran completamente.
Dois olhos malignos surgiram nas sombras que envolviam o chinês e um grito de desespero e angústia partiu de dentro delas.
Sakura berrou, sem poder ser ouvida, tentando mover-se e impedir seja o que fosse aquilo de ferir Syaoran. Dolorosamente, seu corpo começou a obedecer, levantando-se, tamanha a força e desespero de seu ato.
Antes que pudesse dar dois passos, a sombra abandonou o corpo do rapaz, que caía de joelhos, olhos perdidos no espaço. Lágrimas cheias de dor escorreram dos olhos dele, e seu corpo finalmente tombou ao chão.
Sakura tentou gritar novamente, e novamente o som era abafado em sua garganta. A força novamente abandonou-lhe o corpo e ela caiu de joelhos, esticando um dos bracos na direção em que se encontrava o rapaz...
Voz maligna: "Você acha mesmo que este ser insignificante que vocês derrotaram era o fim da tua dor e de Syaoran... Pequena Sakura...?" A voz ecoou pelo espaço e na cabeça da garota, que ainda tentava mover-se adiante... Em vão...
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O rapaz se encontrava em seu quarto, tudo ali parecia mais escuro que o normal, mas ele não parecia se importar. Estava em pé, ao lado da comoda, seu corpo enfaixado em várias partes fazia-o parecer muito fraco, e realmente o estava, mas não parecia se importar. Estava ao telefone, seu semblante era sério e sua voz se encontrava mais impessoal que nunca.
Rapaz: 'Sim, o doutor disse que com mais algum tempo ela irá acordar.'
Pessoa na linha: 'Alegra-me escutar isso... Gostaria poder estar aí agora.' O rapaz continuou em silêncio e o homem na linha voltou a falar 'Eu nao queria tocar nesse assunto agora, mas... Vai mesmo fazer isso tão cedo?'
Rapaz (dando um suspiro longo): 'Depois de tudo o que passou? Não acho que possa adiar mais... Sabendo que tenho tanto o que resolver.'
Homem na linha (suspirando também): 'Sei o quanto deve ter doído se enterar de tudo aquilo... Eu tinha uma idéia do acontecido, mas não podia dizer nada, era algo pessoal demais.' O rapaz olhou para o lado, como se realmente conversasse com alguém a sua frente e não quisesse encará-lo.
Rapaz: 'Você não tem idéia de como isso está acabando comigo... Aquele maldito... Aquele...' Fez uma pausa, como que para controlar sua raiva. 'Não importa... Nao há como reverter algo que eu não tinha nenhum controle sobre... Agora só me resta tentar superar e melhorar as coisas. No entanto...' Fez nova pausa, olhando para baixo. 'No entanto, só queria poder falar com ela apropriadamente.'
Homem na linha (depois de um momento de silêncio): 'Crê que realmente iria fazer isso?' O rapaz não contestou imediatamente, e o homem na linha aguardou em silêncio.
Rapaz (quase em sussurro): 'Não... A verdade é que mesmo que ela despertasse... Não poderia contar a ela que tenho que...' Não concluir a sentença, mas o homem na linha entendeu perfeitamente ao que o rapaz se referia.
Homem na linha: 'Tem certeza que tem que ser assim? Quero dizer... Sei que você quer resolver tudo agora, mas isso não quer dizer que nunca mais você poderá...'
Rapaz (interrompendo o amigo): 'Sei que vai ser assim. Nao é necessário eu chegar aí para saber que qualquer contato que eu mantenha com ela possa ser interpretado como alguma tentativa de conspiração ou golpe contra eles... Conheço-os bem, e na situação em que nos encontramos agora, temo que qualquer ligação com ela possa parecer um desafio direto... Não quero que ela sofra por causa da mente débil daqueles malditos...'
Homem na linha (suspirando): 'Entendo ao que se refere... Contudo, não acha que ela irá se revoltar com isso?'
Rapaz (sorrindo triste): 'Exatamente por isso que não lhe direi nada...' Ficaram em silêncio por um momento e o rapaz voltou a falar. 'Bom... Vou desligar agora, quero ver como ela está.'
Homem na linha: 'Certo… Qualquer notícia, entre em contato comigo.'
Rapaz: 'Igualmente. Até logo.'
Homem na linha: 'Até…'
O rapaz desligou o telefone e se apoiou na cômoda, dando um longo suspiro. Toda essa situação era mais estressante e incomoda do que previamente imaginara. Sabia, quando viera, que algo assim iria acabar acontecendo, só não imaginara que aconteceria tudo o que passara... E agora...
Sua linha de raciocínio foi interrompida pelo som de alguém batendo à porta. Endireitou-se, recompondo-se do momento de cansaço e se dirigiu à entrada do quarto.
Rapaz (vendo quem era): 'Aconteceu alguma coisa?'
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"Você acha mesmo que este ser insignificante que voces derrotaram era o fim da tua dor e de Syaoran... Pequena Sakura...?"
Sakura tentou mais uma vez se mover, mas parecia que seus esforços eram totalmente em vão. Sentiu seu corpo doloroso, mas eram seus olhos os quais realmente refletiam a dor sem igual de sua alma.
Sakura (em um sussurro quase inaudível): 'Syaoran...'
Voz maligna (rindo baixa e lentamente): "A dor não tem fim... Sakura... Jamais terá..."
Os olhos da japonesa pareciam nublados de tamanha tristeza, enquanto seu corpo tentava ceder, sendo apenas mantido pela vontade angustiada de Sakura de alcançar Syaoran...
"Não tem fim..." Ecoava a voz, torturando a mente de Sakura, sem relento…
"Sakura..."
"Sakura..."
"Sakura..."
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"Sakura..."
"Sakura-chan..."
"Sakura, me escute."
Repentinamente a garota abriu os olhos, arregalados, enquanto inspirava uma vez profundamente. Estava coberta de suor, enrolada em lençois e uma edredon. Piscou várias vezes, sem poder exatamente se pronunciar, uma dor no coração que não parecia partir, tão dolorosa quase chegava a ser física...
Voz feminina: 'Sakura-chan?'
A jovem piscou mais algumas vezes antes de focar os olhos naquela que lhe chamava. E antes que pudesse entender onde e como estava, já tentava se levantar da cama, sendo segurada firme pelas mãos de Tomoyo.
Sakura: 'Onde está ele!'
Tomoyo (sem entender): 'De quem fala, Sakura?'
Sakura (olhando ela fundo nos olhos): 'Syaoran! Onde ele está? Como ele está!' E tentou mover-se de novo, mas parou ao sentir sua cabeça rodar, colocando a mão nela por um estante.
Tomoyo (levemente preocupada): 'Acalme-se, Sakura-chan... Li-san está -'
Sakura (interrompendo a prima): 'Como ele está? Se está bem por que não está aqui? Está ferido?'
Meylin (entrando no quarto): 'Escutei barulho e vim ver se estava tudo bem, Tomoyo. Como está...' Parou ao ver Tomoyo tentando segurar uma agitada Sakura na cama. Sorriu. 'Graças a Deus, você -'
Sakura (voltando o olhar para Meylin): 'Como ele está, Meylin? Onde está Syaoran?' Continuou as mesmas perguntas, sem realmente parecer estar prestando atenção em qualquer resposta.
Meylin (sorrindo sem graça): 'Er... Acho que vou chamar ele, é melhor...'
Sakura (já ficando brava): 'Vocês querem por favor responder minhas perguntas!' Tentando levantar-se mais uma vez da cama e sendo parada por Tomoyo de novo.
Tomoyo (olhando para Meylin, quase derrotada): 'Melhor você vir segurar ela na cama Meylin, voce é mais forte que eu.'
Meylin (dando de ombros): 'Certo... Como quiser.' E foi em direção a Sakura, que ficou com o semblante ainda mais indignado quando Meylin foi segurá-la. Antes que Sakura pudesse começar a protestar, Tomoyo já tinha saído do quarto.
Sakura (parando de se debater e olhando indignada para Meylin): 'Não acredito que você vai fazer parte disso!'
Meylin (dando de ombros de novo): 'Você não pára quieta, coitada da Tomoyo. Além disso, nada do que ela tentava falar você parecia escutar, porque eu faria o mesmo sendo que você não iria me escutar que Syaoran está bem...?' Imediatamente os ombros de Sakura relaxaram, e Meylin deu um sorriso de lado ao conseguir o que queria. A jovem fisioterapeuta empurrou lentamente Sakura contra a cama, e esta não pareceu mais protestar.
Sakura (suspirando aliviada): 'Então ele está bem mesmo?' Meylin acenou afirmativamente com a cabeca. 'Totalmente bem?' A essa Meylin vacilou, mas não querendo preocupar a amiga, apenas acenou afirmativamente novamente. Sakura suspirou aliviada.
Não mais de um minuto se passou e a porta do quarto da garota novamente era aberto. Entrando um apressado Syaoran por ela.
Syaoran (sem focalizar os olhos em Sakura direito): 'Como ela está Meylin? Tomoyo veio ao meu quarto e eu levei um baita...' Parou seu súbito "ataque" preocupado quando seus olhos finalmente descansaram na figura deitada de Sakura. Foi sua vez de suspirar aliviado.
Tomoyo acabara de entrar no quarto e observou a cena com olhos serenos e um pequeno sorriso no rosto.
Tomoyo: 'Meylin, pode vir me ajudar com os outros, por favor?' Meylin apenas acenou afirmativamente, já caminhando em direção a Tomoyo. As duas saíram sem mais nenhum comentário.
Sakura, assim que escutara a voz de Syaoran, sentara-se novamente na cama, ainda que a mão firme de Meylin a impedisse de levantar. Seus olhos começavam a formar lágrimas, mas um leve sorriso mostrava que eram lágrimas de alívio e felicidade. Quando a porta foi fechada, a garota pareceu finalmente se dar conta que encarava Syaoran fixamente e ela se ruborizou, seus olhos caindo levemente para a região do abdômen dele. Seus olhos se arregalaram.
Sakura (com preocupação na voz): ´Syaoran! Você está bem? Para que todas essas ataduras! Você deveria estar descansando.' A ironia das palavras fizeram Syaoran sorrir e caminhar até a cama da garota, sentando-se de frente para ela nesta.
Syaoran (observando com carinho a garota): 'Estou bem, não se preocupe. Mestre Lan curou a maioria de minhas feridas e...'
Sakura (arregalando os olhos): 'Mestre Lan está aquí!'
Syaoran (sorrindo de novo): 'Ele apareceu pouco depois que você desmaiou. Se não fosse por ele, acho que não estaria aqui agora.' Parou, olhando para baixo, lembrando-se com certa amargura da batalha que mudara toda sua vida.
Sakura (interpretando erroneamente expressão dele): 'Mas ele está bem, não é?'
Syaoran (voltando a encará-la, e sorrindo de novo): 'Alguns arranhões, nada mais...' Sakura olhou Syaoran com suspeita, mas ele não falou mais nada.
Sakura (lembrando-se subitamente de algo): 'E os outros, estão bem? Yue e Yume, estão bem?' O semblante de Syaoran ficou levemente alterado, mais sério.
Syaoran: 'Yue está ferido, mas também está bem, descansando...' Concluiu, fugindo visivelmente da outra pergunta. Sakura não deixou por muito tempo.
Sakura (olhando-o mais atentamente): 'E Yue...?' Syaoran a olhou nos olhos por alguns segundos e logo abaixou a cabeça para continuar.
Syaoran (de cabeça baixa): 'Durante a luta, Yume foi gravemente ferida e apenas observava o decorrer dos eventos... Quando eu estava lutando e finalmente transpassei minha espada no peito de Tai Ming...' Fez uma pausa, voltando a olhá-la nos olhos com a frase seguinte 'Assim que Tai Ming fechou seus olhos para sempre, Yume desapareceu também.'
Houve silêncio após as palavras e Sakura desviou o olhar para que Syaoran não visse seus olhos se enchendo de lágrimas de novo. Syaoran apenas a contemplava, sabendo que não era o momento para falar mais nada.
Sakura (em um sussurro, sem olhá-lo ainda): 'A vingança dela foi concluída... Era óbvio que sua alma ia descansar em paz depois disso... Mas... Mesmo assim...'
Syaoran (olhando-a sem saber como consolá-la): 'Não me lembro muito bem do que aconteceu depois que golpeei Tai Ming, pois desmaiei quase em seguida... Mas eu me recordo ligeiramente de ter escutado a voz dela enquanto isso...'
Sakura (voltando-se para ele novamente): 'E o que ela disse?'
Syaoran (franzindo levemente o cenho e olhando para algum lado, tentando se concentrar): 'Não me recordo bem... E nem sei se foi sonho ou realidade... Mas o que escutei foi "Quando o equilíbrio é quebrado, apenas dois imperfeitos podem superar a perfeição... Sempre... Obrigada por tudo, meus jovens, finalmente poderei descansar em paz... Com minha família..."' Syaoran fez uma pausa e logo olhou para Sakura. 'Não sei se foi bem isso, porque ela falou em japonês e eu estava quase inconsciente, mas creio que foi algo assim…
Sakura (sem parecer prestar muita atenção nas palavras de Syaoran): 'Yume-sama... Queria ter podido me despedir dela...'
Syaoran não respondeu, por mais que entendesse o que ela deveria estar sentindo. Só o tempo podia curar a ferida que a partida de alguém querido pode causar, e ainda assim sempre averia uma cicatriz para lembrar...
Sakura (limpando as lágrimas e tentando parecer mais alegre): 'Bom, ao menos me sinto feliz porque tudo terminou bem e eles terem sido derrotados.' Olhou para Syaoran sorrindo, tentando buscar confirmação. Mas o semblante sério de Syaoran fez o sorriso de Sakura desaparecer e um olhar interrogativo surgir. 'Não é?'
Syaoran (tentando buscar as palavras certas): 'Sakura... Não sei bem como lhe dizer... Tai Ming com certeza não irá nos incomodar mais... Mas...' Os olhos de Sakura se arregalaram.
Sakura (surpresa): 'E Lin Bai! Eu não me recordo bem, mas tenho certeza que ela foi atingida pela minha explosãde magia, não é?'
Syaoran (preocupado com a reação que Sakura demonstraria): 'Sim... Ela foi atingida... No entanto... Lin Bai conseguiu escapar, Sakura.'
Sakura ficou calada, observando Syaoran. Tentando assimilar o que ele dizia, querendo crer que logo ele diria "brincadeira"... Não podia ser verdade... Aquela maldita mulher...
Sakura (olhando para baixo e apertando o lençol entre suas mãos): 'Aquela mulher... Syaoran... Não pode ser... Não... Syaoran... Ela matou meu pai, Syaoran! Foi ela! E ela escapou!' Concluiu olhando com desespero para Syaoran, buscando não sabia bem o que, mas talvez uma forma de que pudesse consolá-la e garantir a ela que Lin Bai pagaria por seus crimes.
Syaoran olhou-a sem saber o que fazer, não havia palavras que poderiam consolá-la. Nenhuma de suas idéias pareciam razoável o bastante. Logo, fez o único que pareceu-lhe ao menos um pouco apropriado para aliviar o coração da jovem japonesa. Abraçou-a, abraçou-a com carinho, mostrando-lhe que estava ali para ela e, imediatamente, lágrimas começaram a escorrer dos olhos de Sakura, enquanto ela abraçava Syaoran de volta, e soluços chegavam-lhe a garganta.
Ficaram assim por vários minutos, sem pronunciar se quer uma palavra, fosse de tristeza ou consolo.
Depois de que as lágrimas não pareciam mais poder sair de seus olhos, Sakura se desencostou do peito de Syaoran, voltando sua face para a do rapaz, olhos vermelhos e tristes, mas um pouco menos desamparados.
Sakura (sorrindo, ainda que triste): 'Obrigada por estar aqui comigo, Syaoran...' O rapaz sorriu ligeiramente, olhando a garota com carinho. Em seguida, os lábios dela se aproximaram dos do chinês e um beijo cálido e terno encheu os corações dos dois de renovada esperança e conforto.
Seus lábios se tocaram por alguns segundos, um beijo doce e simples que dava um arrepio suave e gostoso, fazendo os dois se sentirem mais em paz do que sentiram-se por um longo tempo.
Assim que seus lábios se separaram, os dois olharam um para o outro com brilho nos olhos e um leve sorriso no rosto, o momento parecia ter acalmado a alma de Sakura mais do que poderia ter imaginado.
Syaoran (sorrindo levemente): 'Tudo vai terminar bem, Sakura...' A jovem sorriu para o rapaz e mais uma vez o abraçou.
Syaoran descansou sua cabeça no ombro da garota, voltando seu rosto para o pescoço e os longas mechas de Sakura. Inspirou calmamente, deixando o cheiro doce e confortante da pele e cabelo de Sakura penetrar em si completamente.
Em seguida, voltou seu rosto para frente, ainda abraçado a Sakura, posição que impedia os dois de se encararem. E, lentamente, quase como que não querendo que ocorresse, o sorriso de Syaoran começou a desaparecer, assim como a alegria que o momento parecia ter-lhe causado ia sumindo. Seu rosto pareceu ficar sério, cheio de melancolia e tristeza. Fechou seus olhos, como se o ato impedisse de pensar no que torturava-lhe a alma, algo que parecia-lhe quase impossível...
Como gostaria que suas palavras fossem verdade...
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Mais tarde aquele dia, o homem escutou alguém batendo a sua porta. Permitindo que a pessoa entrasse, o homem não se surpreendeu ao ver seu jovem pupilo adentrando, seu semblante sério como quase sempre.
Mestre Lan: 'Ela já acordou?'
Syaoran (aproximando-se para sentar ao lado do homem em uma poltrona): 'Sim... Estava com ela até agora...' Olhou para o lado, onde Yukito se encontrava deitado em sua cama, descansando. 'Como ele está?'
Mestre Lan (voltando-se para observar o jovem na cama também): 'Só precisa recuperar as energias agora, a maioria dos ferimentos irão se curar sozinhos, Yue está fazendo isso pouco a pouco dentro dele agora.'
Syaoran (abaixando um pouco o olhar, parecendo meio vago e perdido em pensamentos): 'Entendo...' E se calou, perguntas de por quê seu mestre ajudara Sakura a mentir que era Yukito totalmente esquecidas em tal momento. O ancião observou-o atentamente, antes de voltar a falar.
Mestre Lan: 'Percebo que não mudou de opinião.' O rapaz voltou o rosto rapidamente para seu mestre e, ao perceber ao que ele se referia, apenas acenou afirmativamente, olhando para baixo de novo. 'Mas vejo que seu coração e mente se encontram perturbados...'
Syaoran (dando um longo suspiro e voltando a olhá-lo): 'Tenho que fazer isso... Para o bem dela e para que tenhamos paz... Não posso contar a ela o porquê dos meus atos, ela já está bastante debilitada, tanto física quanto espiritualmente.'
Mestre Lan (cerrando um pouco os olhos): 'Se eu tivesse um vara de bambú aquí... Você veria só...' O rapaz levantou o olhar novamente para o mestre, olhos levemente arregalados. 'Não acha que o que está fazendo é falta de consideração e desrespeito com os sentimentos dela?'
Syaoran (olhando para o lado para não encarar seu mestre): 'Ela vai se zangar, mas sei que é o melhor... Ela entenderá um dia e aceitará, ela é forte. Além disso, não posso permitir que nada de mal lhe aconteça caso escolhesse meus sentimentos acima da segurança dela.'
Mestre Lan (soltando um suspiro irritado): 'Você deveria saber se impor melhor, Syaoran. O que seu pai pensaria se visse você se entregando tão facilmente diante daqueles malditos anciões.'
Syaoran (levantando um pouco a voz): 'Do que voce está falando, meu pai fez a mesma coisa comigo!' Mestre Lan arregalou os olhos, mas não se pronunciou, aquele era um assunto que tanto ele quanto Syaoran não estavam prontos para discutir. Syaoran ficou calado por um segundo, talvez recuperando a paciência subitamente perdida, e logo voltou a falar. 'Muito menos sou você, Mestre... Não vou fugir de meus deveres se isso significa a segurança de todos.'
Mestre Lan nao pode responder... Syaoran estava um tanto quanto certo em suas palavras, e nao cabia a ele discutir a decisão do garoto. Afinal, o que realmente lhe irritava era que sua pupila fosse sofrer com o processo.
Mestre Lan (fechando os olhos e se encostando em sua poltrona): 'A decisão é sua, Syaoran. A decisão e as conseqüências de seus atos.' Syaoran observou o mestre por um segundo, desviando logo em seguida o olhar e se levantando.
Syaoran: 'Já tomei minha decisão e não vou voltar atrás...' Fez uma pausa, antes de continuar, sem olhar seu mestre. Obrigado... Mestre Lan.' E começou a se retirar do quarto, sem voltar-se novamente e conseqüentemente não vendo a expressão preocupada e triste de seu mestre.
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Tomoyo andava calmamente pelo corredor, indo em direção a cozinha para buscar algo para Sakura comer. Em seu percurso, viu Syaoran saindo do quarto em que Mestre Lan se encontrava, assistindo Yukito.
Tomoyo (parando em frente ao rapaz que a viu em seguida): 'Li-san...' Sorriu.
Syaoran (acenando levemente com a cabeca): 'Tomoyo...'
Tomoyo (observando a porta): 'Como estão Lan-sama e Yukito?'
Syaoran (voltando o olhar para a porta também): 'Estao bem, não se preocupe.' Concluiu voltando-se para ela também.
Tomoyo (sorrindo levemente): 'Que bom... Estava indo para a cozinha agora, preparar algo para Sakura comer, faz mais de 24 horas que ela não come nada.' Syaoran observou-a por um segundo, em seguida se aproximando lentamente dela. Colocou uma de suas mãos no ombro da garota, fazendo-a se surpreender levemente.
Syaoran (sorrindo fracamente): 'Cuide bem dela, Tomoyo.' A garota piscou duas vezes e vendo que ele ainda a encarava, acenou afirmativamente com a cabeça. O jovem levantou um pouco mais um dos cantos da boca, em um meio sorriso e soltou-a. Fez uma leve reverência e seguiu para seu quarto.
Tomoyo voltou-se para trás, por onde o rapaz seguia, e o observou até ele desaparecer por um dos corredores. Franziu levemente o cenho.
Tomoyo (levemente preocupada): 'Espero que eu esteja errada...' Falou para si mesma e voltou-se novamente para frente, seguindo em direção a cozinha.
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Uma hora mais tardeTomoyo (sentada em uma poltrona, observando Sakura): 'Como estava, Sakura-chan?'
Sakura (sorrindo para a prima): 'Muito bom, obrigada, Tomoyo-chan.' Tomoyo sorriu para a prima, mas logo desviou o olhar para o lado, perdida em pensamentos. Sakura, que observava a prima, nao deixou de notar o ato. 'Algum problema, Tomoyo-chan?' A garota em questão voltou rapidamente o olhar para a amiga, surpresa.
Tomoyo (sorrindo): 'Não, Sakura-chan... Tudo está bem, perfeitamente bem.' Sakura observou a prima por alguns segundos e vendo que esta desviava o olhar, sentiu-se levemente preocupada, não parecendo crer nem um pouco na garota.
Sakura: 'Você nunca foi uma boa mentirosa, Tomoyo-chan.' A garota novamente a olhou surpresa e um rubor subiu-lhe as faces, enquanto Sakura franzia levemente o cenho com a reação da prima. 'Tomoyo... Qual o problema? Diga-me, por favor...'
Tomoyo olhou Sakura apreensivamente, antes de abrir a boca para dizer algo que realmente transtornaria sua prima.
Tomoyo: 'Sakura-chan... Eu acho que...'
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Meylin andava pelo corredor da casa quase aos pulinhos, assoviando uma canção qualquer, face com uma expressão um tanto quanto feliz.
Por mais que tivesse se irritado com seu primo com o que ele resolvera fazer, não podia deixar de conter a felicidade que sentira quando ele lhe dissera que Eriol lhe avisara, quando telefonara horas atrás, que seu pai queria lhe falar e que ela deveria ligar para ele imediatamente.
OK... Talvez não tenha ficado feliz em ter que falar com seu pai, pois tinha certeza que ele iria exigir que ela regressasse imediatamente. No entanto, não foi desse jeito e foi por isso que ficara tão feliz. Assim que ligara, seu pai lhe dissera que depois dos acontecimentos envolvendo seu primo e os outros anciãos, ele finalmente tinha sido instruído a ir ao Japao para tratar de assuntos diplomáticos com as famílias possuidoras do dom divino, a magia, no Japão e isso incluía até a família imperial! E o que isso lhe favorecia? Ela poderia passar mais uma temporada no Japão! Poderia finalmente fazer a especialização que tanto queria em Tóquio!
Precisava contar isso a Tomoyo e Sakura, tinha certeza que elas ficariam felizes por ela... Bom... Ao menos ela esperava que sim, pois quando Sakura soubesse que Syaoran...
Meylin foi tirada de suas reflexões quando já estava para bater na porta de Sakura, isso porque a mesma abriu a porta com tudo, mal vendo ela ao sair correndo. Meylin arregalou os olhos, sem entender nada. Em seguida, Tomoyo apareceu a seu lado, com um rosto preocupado e surpreso também.
Meylin (impedindo por um segundo que Tomoyo corresse atrás de Sakura): 'Tomoyo! O que houve!'
Tomoyo (sem prestar muita atenção a Meylin): 'Tenho que ir atrás dela, Meylin!' E antes que Meylin pudesse pará-la, Tomoyo saiu correndo.
Meylin (totalmente confusa): 'Mas o que foi isso?' Sem pensar mais um segundo se quer, partiu atrás das duas japonesas também.
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Sakura, ainda vestida em seu pijama, corria pela casa atrás de Syaoran. Fora ao quarto ao lado do seu, não estava... E agora corria ao quarto de Yukito. Como ele ousara fazer aquilo com ela!
Sakura (abrindo a porta sem ao menos bater): 'Syaoran!' A única coisa que a recepcionou foi o olhar cheio de culpa de seu mestre, ao lado da cama em que Yukito descansava. Compreensão encheu sua mente imediatamente. Apontou um dedo reprovador a seu mestre. 'O senhor! Sabia de tudo!'
Mestre Lan (triste e se sentindo culpado): 'Sinto muito, Sakura... Não havia nada que eu poderia fazer.' Sakura só cerrou mais os olhos, como se dissesse "depois falaremos disso" e saiu correndo novamente, em direção ao seu quarto novamente. Contudo, no meio do caminho deu de encontro com Tomoyo novamente, que a parou com braços mais firmes do que Sakura poderia imaginar.
Sakura (olhando Tomoyo seriamente): 'Deixe-me, Tomoyo! Tenho que ir atrás dele e preciso buscar minhas cartas para ir mais rápido!'
Tomoyo (com olhar mais determinado do que nunca): 'Não senhora! Sakura, você está fraca demais para usar suas cartas! De nenhuma maneira vou permitir que as use! De maneira alguma!'
Sakura olhou firmemente para Tomoyo e a jovem devolveu o mesmo olhar.
Sakura (suspirando derrotada): 'Certo... Tem razão...' E parou de tensionar o corpo, Tomoyo deixou suas mãos relaxaram ao ouvir as palavras prima.
Tomoyo (soltando Sakura e respirando aliviada): 'Ao menos um pouco de juízo na tua cabeça...'
Tomoyo levantou o rosto para a prima e arregalou os olhos quando a viu sair correndo na direção oposta novamente.
Tomoyo: 'Sakura! Aonde vai?' Nesse exato momento, Meylin a alcançava. Entretanto, antes que essa pudesse perguntar o que aconteceu, Tomoyo já saía novamente correndo atrás da prima. Meylin suspirou profundamente.
Meylin (fazendo cara de irritada): 'Isso já está passando dos limites...' E saiu correndo atrás de Tomoyo de novo.
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Sakura correu até a entrada da casa, buscando por uma das capas na entrada e colocando as botas que estavam dentro do armário camuflado do hall, calçados que só usava em dias de chuva.
Sakura (vestindo-se): 'Vai ter que ser isso mesmo...' Escutou a voz da prima chamando-a mais uma vez, mas não prestou atenção. Estava com a mente a mil, nervosa, irritada e a beira do desespero! Como Syaoran podia fazer isso com ela... Como...
Saiu da mansão e foi direto a um pequeno estábulo que havia na propriedade. Um dos empregados da casa cuidava de um dos cavalos, Sakura foi em sua direção.
Sakura (tomando as rédeas do cavalo): 'Com licença, Aki, necessito desse cavalo.'
Aki (um pouco inseguro): 'Senhorita Sakura... Não sei se este cavalo é uma boa escolha... Trovão não é perigoso, mas é muito rápido... Somente Touya-san costuma andar nele.
Sakura (olhando determinada para Aki): 'Velocidade é exatamente o que preciso, Aki...' E subiu no cavalo.
Tomoyo (chegando ao estábulo): 'Sakura-chan! O que pensa que está fazendo!' Sakura segurou firme as rédeas e o cavalo relinchou um pouco, dando dois passos para trás. Olhou para Tomoyo e esta sentiu seu coração se apertar ao ver a expressão de sua prima.
Sakura (olhos cheio de lágrimas, desespero na voz): 'Tenho que ir, Tomoyo... Não vou deixar que ele faça isso comigo...'
Tomoyo ficou parada no mesmo lugar, sabendo que não estava no seu direito impedir sua prima de fazer o que achava certo. Acenou afirmativamente com a cabeça, sem nada dizer. Sakura deu uma batida firme com as botas no cavalo e este empinou, antes de sair correndo pelos portões da mansão que começavam a se abrir para sua mestra. Tomoyo olhou sua prima já a vários metros de distância, suas mãos contraindo-se em seu peito, como em presse pela segurança de sua prima ainda debilitada depois de tantos acontecimentos marcantes, felizes e tristes...
Meylin (chegando finalmente ao estábulo, parando ao lado de Tomoyo): 'E Sakura, onde foi?' Tentava recuperar um pouco o fôlego, olhando para Tomoyo com curiosidade.
Tomoyo (sem desviar os olhos dos portões que começavam a se fechar): 'Atrás da felicidade...'
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O vento quase cortava-lhe o rosto, enquanto o barulho dos cascos do animal retumbavam fortemente contra o chão, revelando muito bem de onde o cavalo recebera seu nome. Sakura segurava firme as rédeas do animal, seu corpo inclinado para frente, para um maior equilíbrio e para evitar que o vento batesse com tanta força no seu rosto.
Sakura (batendo de leve nas ancas do cavalo): 'Vamos Trovão... Preciso da tua velocidade mais do que nunca...' O cavalo relinchou fortemente e foi como se tivesse mesmo entendido a garota, pois sua velocidade voltou a se renovar.
Enquanto o caminho passava por ela quase como flalshes, Sakura sentia sua mente dar voltas e mais voltas, como uma grande tormenta. Seus olhos ainda ressemblavam um pouco das lágrimas que deixara Tomoyo ver há uns quinze minutos, mas nenhum rastro delas pareciam ter cruzado o rosto pálido da japonesa. Não podia chorar agora... Não podia...
Lembrou das palavras da prima, as que a fizeram se encher de surpresa e desespero e seu peito pareceu apertar novamente. Não gostava de sentir aquilo... Já sentira aquilo demasiadas vezes para conseguir suportar mais uma vez... Era mais do que podia aguentar.
Não entendia porque Syaoran estava fazendo isso com ela. Por que não falou com ela? Por que não contou-lhe o que planejava? Afinal, ele não confiava nela? A opinião dela não importava para ele?
Sakura (falando consigo mesma, em um sussurro): 'Droga, Syaoran... Por que tudo tem que ser tão difícil com você...'
O que ele estava pensando quando tomou esta decisão? Nada de bom vinha de fazer isso tão subitamente, ainda mais sem contar-lhe nada, sem consultá-la também!
Não iria permitir que o rapaz fizesse o que bem entendesse... Dessa vez ele teria que falar com ela antes de tomar qualquer decisão. Estava cansada de escutar a verdade só depois de que não havia mais volta. E dessa vez realmente não haveria mais volta se ela demorasse.
A primeira coisa que ela faria era dar um bom soco na cara dele! Sim... Gritar com ele, soltar toda sua raiva pela falta de confiança que ele sempre disse ter nela e depois...
Depois ela o abraçaria e o beijaria. Não iria mais esconder ou negar seus sentimentos, iria assumir aquilo definitivamente... Beijaria ele... E depois diria a ele...
Mais uma vez Sakura bateu de leve com as botas no cavalo, exigindo mais velocidade.
Não chegaria tarde dessa vez...
Não deixaria Li Syaoran partir, sem falar com ela, de volta para China...
# # # -
O barulho das sinetas e chaminés era escutado por um largo diâmetro ali. Pessoas apressadas ou não, ricas e pobres, famílias e amigos, todos caminhavam em um incessar de ruídos e uma gostosa brisa de mar pelo cais que começava a crescer naquela provincia preenchia o ambiente. Pessoas compravam passagens, garotos corriam atrás de seus cachorros e os primeiros modelos de carros que chegavam ao Japão começavam a ser embarcados ou desembarcados dos enormes navios.
A atenção estava dispersa, cada um preso em seu pequeno mundo, sonhos de um novo país, famílias se despedindo, outras se reencontrando, pessoas apenas comerciando seus mais novos produtos aos passageiros ou seja lá quem estivesse ali. Contudo, muitos se voltaram quando escutaram o apressado e poderoso galopar de um cavaleiro que se aproximava do pequeno estábulo que ali havia, rapidamente.
O cavaleiro, que tinha seu capuz sobre a cabeça, desceu apressado do animal, entregando, muito afobado, uma certa quantia para um dos empregados do estábulo. O rapazinho aceitou com alegria e foi logo guardar o bonito cavalo que acabara de ser entregue aos seus cuidados, deixando o "patrão" seguir seu caminho, sem muitas perguntas, afinal, a quantia tinha sido boa.
O cavaleiro encapuzado chamava a atenção devido ao forte animal que trazera e a destreza que o conduzira, além de, mesmo que de baixa estatura, demonstrar uma certa elegância em seu andar, ainda que apressado.
E foi esse o motivo que fez muitos dos transeuntes segurarem a respiração ao verem o "cavaleiro" retirar seu capuz e revelar tamanha beleza em forma de mulher! Não era todo dia que se via naquela região uma amazona...
Sakura não pareceu se afetar com os olhares que recebia quando entregou Trovão a um dos pequenos criados do estábulo local. Mantinha seu capuz posto, mais por força de hábito – seu irmão sempre lhe ensinara a não chamar muita atenção, afinal, era uma pessoa rica – do que por querer se esconder. Contudo, estava transpirando depois daquela corrida e necessitava de ar.
Não foi preciso dizer que qualquer atenção que seu irmão gostaria que ela não chamasse foi totalmente impossível de evitar quando abaixou seu capuz. Muitos que passavam pararam para observá-la e Sakura teve que focalizar porque estava ali para não deixar suas bochechas ficarem rubras com tudo aquilo.
Sakura (susurrando para si mesma): 'Tudo que eu precisava... Um bando de curiosos...'
Olhou para os lados e buscou um ponto de informação. Conversou por menos de um segundo com o senhor e olhou em uma direção em especial. Voltou-se para o homem, agradecendo e partiu para o local indicado.
Sakura (começando a correr): 'Syaoran... Nao faça isso comigo...' Seu coração começava a se apertar em apreensão... Tinha, com certeza, um mal pressentimento... Só esperava que não passasse de fruto de sua preocupação. Tentou manter sua atenção em alcançar o ancoradouro que o senhor lhe informara... Não podia voltar a se desesperar, tinha que manter a calma...
Sakura parou mais uma vez, incerta de que se encontrava no local indicado. Buscou informação com mais alguma pessoas, metade simplesmente a ignorando, outra negando com a cabeça.
Sakura (parando um senhor já de idade): 'Com licença...' O senhor parou ao escutar a jovem chamando-lhe. 'Por favor, o senhor sabe qual é o último navio que sai para China? Acredito que o nome é Saint Louis II.' O senhor amigavelmente levantou um de seus braços e apontou para um dos ancoradouros em específico.
A jovem japonesa voltou seu olhar para o lugar em questão... E um arrepio subiu-lhe a espinha...
Saiu correndo sem ao menos agradecer ao senhor...
# # # -
Syaoran olhava sem realmente prestar atenção o fluxo de pessoas que começavam a subir a escada do navio. Seus pensamentos estavam em outro lugar, assim como seu coração.
Doía-lhe na alma ter que partir, ainda mais dessa maneira... Mas nada nem ninguém tirava-lhe da cabeça que estava fazendo a coisa certa. Ele sabia que se ficasse, nem que por um mâs mais, só traria problemas para Sakura...
Sua família não se pronunciara diretamente, fora Eriol quem lhe ligara esse mesmo dia e contara o que estava acontecendo no Clã. Muitos estavam indignados, ou assim aparentavam, com Tai Ming, outros exigiam o regresso de Syaoran imediatamente para aclarar o que supostamente ainda parecia duvidoso.
Os atos de Tai Ming tinham causado um tremendo abalo em sua família, os anciãos, de acordo com Eriol, entravam em discórdia e ainda havia o fato de que ele mesmo precisava voltar a assumir suas responsabilidades e estudos para se tornar o Líder do Cla.
Sabia que não podia ficar... Os anciãos já estavam um tanto quanto enfurecidos com o que passara (Syaoran até suspeitava que alguns apoiavam Tai Ming de alguma maneira e estavam preocupados com o que poderiam perder já que o Mestre da Astúcia falhara), e Syaoran tinha absoluta certeza que isso acabaria dando pretextos para eles virem atrás de Sakura e as Cartas. Provavelmente dizendo que as cartas dariam maior suporte e credibilidade ao maior Clã da China depois dos atos vergonhosos de Tai Ming (pois Syaoran sabia que muitos da sociedade Mágica haviam ficado sabendo do acontecido... Não era para menos, depois do "show" de magia que metade do Oriente deve ter sentido durante aquela luta...).
Precisava proteger Sakura... Sabia que depois desse fatos ela acabaria sendo alvo dos Anciãos. Syaoran, mais do que nunca, precisava tomar as responsabilidades que seu pai lhe deixara em suas mãos para que pudesse evitar que qualquer um ousasse ir atrás da Mestra das Cartas e ele prometera a si mesmo que a segurança dela seria sua prioridade como Líder do Clã Li... Mesmo que isso significasse que ela ficasse com raiva dele por não tê-la consultado antes... Conhecia-a bem... Sabia que a primeira coisa que diria se lhe contasse algo seria "Eu sei me cuidar sozinha".
Não podia falar com ela... Além de saber muito bem que ela não aceitaria isso... Sabia que ele mesmo não aguentaria o peso de um afronte emocional como este. Ele podia ser ótimo em uma batalha física... Mas quando tratava de sentimentos... Belo psiquiatra era ele...!
Syaoran sentiu alguém lhe cutucar e viu que era sua vez de subir ao navio. Deu um longo suspiro enquanto pegava suas duas malas e seguia em direção as escadas...
Por que as coisas não podiam ser mais simples!
Parou subitamente, escutando alguém lhe chamando...
Voltou-se para trás...
# # # -
Sakura corria em direção ao ancoradouro que o senhor lhe indicara, seus coração a mil, enquanto mais uma vez lágrimas enchiam seus olhos...
Isso não podia estar acontecendo... Isso não podia!
Sakura (gritanto): 'Syaoran!'
# # # -
Syaoran voltou-se para trás e viu alguém correndo em sua direção.
Jovem (esticando o braço): 'Senhor... Deixou isso cair...' O chinês observou a jovenzinha alcançá-lo com um objeto em suas mãos, esticou a mão e tomou o pequeno caderno que a garota lhe extendia.
Syaoran (olhando o caderno e depois a moça): 'Obrigado...' Voltou a caminhar, enquanto observava o caderno que caíra de seu sobretudo... Sorriu tristemente... O caderno em que fazia as anotaçães sobre Sakura... Fazia tempo que não o usava...
Talvez a única recordação que teria da japonesa que maracara para sempre sua vida...
Guardou novamente o caderno em seu sobretudo, tomando extra cuidado dessa vez. Subiu as escadas do navio e seguiu direto para sua abitação... Sem olhar para trás...
# # # -
Sakura correu o mais rápido que pôde, tentando negar a si mesma que não havia mais tempo... Que chegara tarde demais... "Droga, Tomoyo... Por que não me deixou trazer minhas cartas!"
Mas qualquer arrependimento agora não fazia nenhuma diferença... Pois, por mais que corresse, tentando negar o que estava bem diante de seus olhos... O navio de Syaoran já havia partido... Não maior que um dedo na distância do longo e largo manto azul e verde...
# # # -
Syaoran colocou todas suas coisas em um dos armários do relativamente grande quarto. Olhou em volta por um segundo e viu que não tinha estado de espírito para deitar e descansar. Deu meia volta e seguiu para a popa... Enquanto o fazia, escutou o apito que indicava a partida do navio...
Sentindo uma pequena inércia quando o navio começou a navegar, Syaoran seguiu seu caminho, chegando finalmente ao parapeito do navio... Observando as terras de um país que se tornara tão querido para ele começarem a se distanciar tão... tão lentamente... Apoiou-se no parapeito com os cotovelos, enquanto via a distância se tornar cada vez maior...
Ouviu o apito do navio tocar uma última vez e apenas o som distante de máquinas trabalhando e o ruído do mar se faziam presente...
Não havia mais volta...
As terras japonesas já estavam longes, e o tamanho do enorme cais não passava de um dedo no seu ponto de vista... Syaoran suspirou, cansado e triste...
Estava fazendo isso para o bem dela... Para protegê-la... Para não vê-la se machucar...
Então... Por que doía tanto?
Sentiu uma brisa suave passar por seus cabelos...
E uma lágrima singela desceu por seu rosto... Enquanto um sussurro escapou de seus lábios, sendo levado pelo vento...
# # # -
Sakura observava o navio seguir lentamente, mas tão distante de si... Seus joelhos tremiam e por um momento ela não sentiu nada... Tudo era branco, tudo era vazio.
A jovem apertou seu peito com força, contendo a angústia que logo começava a estrangular seu peito. Um som rasgante e baixo saiu de seus lábios, como tentando aliviar físicamente uma dor que lhe estava na alma.
Não podia mais se enganar... Não podia mais manter uma expressão de raiva quando era dor que lhe vinha ao peito...
Syaoran partira... Deixara-a para trás... Fosse qual fosse o motivo dele... Ele deixara um buraco no peito dela... Um que ela não sabia se um dia poderia tapar...
Sakura abaixou a cabeça, enquanto seus olhos mais uma vez ardiam e começavam a se encher de lágrimas. Mas dessa vez não havia mais força... Não havia mais força nem vontade de evitar que o líquido salgado descesse por seu rosto.
Mas foi uma, somente uma lágrima que não se deteve em seu rosto ou em suas roupas... Uma única lágrima que seguiu até o chão... Enquanto a voz cheia de dor e tristeza, mas algo mais, ainda que tentando ser reprimido em seu peito, soou em um sussurro.
Sakura: 'Eu te amo... Syaoran...'
A lágrima tocou o chão e um brilho dourado e cálido envolveu o piso em que ela pisava, ainda que não chamasse a atenção dos transeuntes que passavam a alguma distância de si. Era um brilho de um círculo ao seu redor, com símbolos antigos, de um sol, de uma lua e de uma estrela...
Sakura levantou os olhos e viu algo começar a girar a sua frente... Levou suas mãos, ainda que vacilante, em direção ao objeto que começava a surgir bem diante de seus olhos.
O brilho a sua volta começou a sumir, lentamente, e Sakura finalmente pôde tocar a figura que surpreendentemente se mostrava a ela.
Uma carta... Uma nova carta, uma que era dela, criada por ela... Apenas por ela...
Obsevou por um instante a carta sem nome que estava em suas mãos e a apertou contra seu peito, enquanto mais e mais lágrimas desciam por seu rosto.
Olhou mais uma vez em direção àquele navio, que agora não mais passava de um pequeno ponto na distância... Um sorriso triste apareceu no rosto da jovem, era doce e amarga a sensação... Amava-o, sim... Mas a decepção dele ter partido sem nada lhe dizer... A confiança que ele parecia não ter tido nela... E, principalmente, a dor que transpassava seu coração agora, pelo o que ele lhe fazia nesse momento era tanta... Que o amor por ele começava a ficar nublado pela dor da perda...
Então, sem se deter nem mais um segundo, deu as costas para o mar... Caminhando lentamente de volta para sua casa, para aqueles que estariam lá para ela...
Não mais de três passos foi dado, quando um forte vento passou por Sakura... Mas ela não mais prestava atenção no que acontecia ali... Sua atenção voltada para frente, apertando em suas mãos o último presente que Syaoran poderia lhe deixar... A única e última lembranca que teria dele...
E com esse pensamento em mente... Não pôde identificar as palavras que vinham direto para o coração, trazidos pelo vento...
"Eu te amo... Sakura..."
E naquele mar de gente, sons e movimento, nada pareceu compartilhar do momento de angústia daquela pequena figura.
Mas houve alguém... Um vulto... Austero, esbelto, de longos cabelos negros e pele alva, que se encontrava no alto da construãço principal do cais que parecia ter presenciado a cena tão dolorosa que se passara ali. Olhos vermelhos, tristes e ao mesmo tempo cheios de esperanças, que observavam por uma última vez uma jovenzinha que ainda tinha tanto para viver e ao mesmo tempo já vivera tanto...
"Quando o equilíbrio é quebrado, apenas dois imperfeitos podem superar a perfeição... Sempre... Espero que você se lembre disso, minha pequena..."
E o vulto alvo e cheio de sabedoria deu as costas para a cena, desaparecendo em pleno ar, definitivamente...
Sem deixar nenhum rastro e para nunca mais regressar...
# # # Fim # # #
29/12/05
Mary Marcato
# # # -
Comentários finais: Por que eu tenho a ligeira impressão que vão me matar depois desse final? ... Aiai... Demais emoção para mim, por favor, respirem um segundo antes de realmente pensarem em me matar...
Admitam... Não foi um final lindo?
Hahahaha...
Olá, meus queridos leitores... Como podem ver, este foi o último capítulo deste longo e querido fanfiction para mim. Talvez vocês devem estar sentindo "como... como ela acaba assim?"... Eu sei, eu sei que não deve ser o que vocês estavam esperando, mas para aclama-los e finalmente soltar o segredo (que já nao é segredo para alguns), eu vou dizer porque terminei a fic assim...
"A Verdadeira Face"... Minha fic querida do coração... Meu bebê... Vai ter continuação.
Espero que voces tenham gostado da noticia. Espero que estejam dispostos a ler... E espero que estejam dispostos a esperar uns seis meses porque vai ser isso o mínimo que vai levar para mim escrever toda a segunda parte e responder todas as perguntas pendentes desta fanfiction...
Muitas coisas ficaram soltas e muita história está por vir... Por isso, quero fazer tudo da melhor maneira e quando terminar, só depois que terminar, vou começar a postar. Já tinha pensado na continuação faz muito tempo, talvez lá pelo capítulo 7, mas demorou muito para mim ter certeza que teria disposição e forças para fazê-la. E só nos capítulos finais desta fic realmente disse para mim mesma "Vou fazer". Na minha cabeça já tá tudo praticamente pronto, só falta ter coragem de passar para máquina aqui, heh.
Espero que vcs possam gastar mais um pouquinho do tempo de vcs e me dizerem o que acharam, sim? Não sei se ficou bom, mas eu gostei muito (apesar que minha opinião não conta, né... hehehe). Tomara que vcs tenham sentido um pouquinho do que eu senti quando escrevi... Dei tudo de mim nesta fic, principalmente neste final, diferente das minhas outras fics. Sei que não eram o que esperavam... Mas tem uma razão (também) por ter terminado assim...
Ainda estou um pouco "boba"... Não dá para acreditar que finalmente terminei... Terminei todas minhas fics pendentes e... Por mais que eu adore escrever, não sabem como é um alívio terminar algo assim, tão grande, querido e ao mesmo tempo aguardado por outras pessoas. Finalmente posso respirar profundamente e dizer "Consegui". Talvez me acostume com a idéia, mas por enquanto nao tenho como escrever um comentário muito "eloqüente"... Mas saibam que é tudo de coração...
Não há como deixar de agradecer a todos os reviews que recebi... Alguns que me lembro bem...
Violet-Tomoyo: essa linda que acompanhou minha fic desde o início e nunca deixou de ter uma palavra amiga, um review especial para cada capítulo, muitíssimo obrigada... tem a continuacao agora... mas sempre que quiser me escreva, espero poder continuar falando com uma pessoa tao querida como vc.
Yoruki-chan: seu primeiro review me deixou de sorriso de canto a canto do rosto e depois dele sempre foi uma das primeiras a dizer o quanto gostou do capítulo. Muito obrigada por toda ajuda nessa fic e sempre que precisar para algum trabalho de facul, hehehe, estamos aquí... Sinto falta das nossas conversas na net, kd vc!
Yuri Sawamura: os maiores comentários que eu já recebi, hehehe, ler os teus reviews sempre foi o maior gosto para mim... obrigada.
MeRRy-aNNe, RubbyMoon, M. Sheldon, Yumerin, Tamires Stuart, Analu: muito obrigada pelos lindos comentários por praticamente todo o percurso da fic… reviews que me emocionavam e me faziam continuar sempre…
Kikyou Priestess, Lara Gallas, serim, miaka, Andréia, Carol Shirou: que me deixaram reviews em praticamente todos os capítulos desde que começaram a ler... é de leitoras assim que escritores precisam... muito obrigada.
Isinha (meu primeiro review em VF no ff . net), Ying Fa, Saki Kinomoto, Fab Lang, Belle Lolly Perversa Black, Calerom, Shampoo-chan, Kyhara, Line, Mauricio-kun, Rô, Sakura Scatena, Jenny-Ci, Lucy, Lan Ayath, Bruna T., Bruna, Serenite, Michele Shirou – Anygiel, Nani, Carol, Lili, Raissa, Miaka-lutadora, Bru, Kirina Malfoy, Xianya, Merrick, Tat, Rita Rios, Maísa, Rachel, Xoninha, GirlofLx, Kirisu-chan, Kayra Hiyana, littledark, lucianinha, Susspirinho, Makino Tsukasa, Kaena Zeho, Saky Kinomyia, Yami Umi, Haruyuki-chan, estrelinha W.M, analoka, Bellynha...
Desculpa se repeti alguém, mas vcs mudam de nick sempre e eu fico toda confundida. Algumas de vocês lembro mais que outras, poderia escrever um agradecimento especial para a maioria... Mas eu prefiro deixar assim, pois não quero cometer o erro de ter esquecido alguém e ficarem chateados comigo...
Vocês fizeram a grande diferença nesta fic e dedico ela a vocês... Muito obrigada por todos os lindos e maravilhosos reviews que recebi com esta fic, que estará sempre no meu coração.
Tomara que vocês possam ler a continuação e que eu possa escrever ela logo... Pois estou muito entusiasmada com ela... Sei que podia ter feito melhor alguns capítulos, algumas partes em especiais, mas por agora, estou feliz com o resultado. Talvez em um futuro não tão próximo volte a revisar esta fic, ainda que saiba que vou ficar pondo defeito em tudo e querer reescrever tudo de novo, hehehe.
A todos os leitores, o meu mais humilde e vindo de todo coração: Obrigada... Que o caminho de vocês seja iluminado e que possam ler e escrever muitas fics lindas e maravilhosas sempre!
ARIGATOU MINNA-SAN!
