Disclaimer: Saint Seiya e seus personagens originais não me pertencem. Porém, os nomes Dante e Horemheb são de minha autoria, bem como o enredo original desta fic, portanto se você quiser odiar alguém por esta lambança, este alguém sou euzinha!

Comentários da autora: YES! Vamos lá, mais uma fic fluffy e açucarada de Máscara da Morte, Afrodite e Dante... Ah, se você não sabe quem é Dante, ele é o filhinho adotivo de Câncer e Peixes e a estória dele está em outra estória, a 'O Presente de Afrodite'.

Aproveitem! Beijocas...


Maior que Tudo

Capítulo I

A Viagem

– Um mês, é tanta coisa, Hô...

– Já falamos sobre isso, pisciano.

– Pfff... A deusa e essas missões ridículas! Como ela não tem homem, manda o homem alheio para longe!

– Sem performance hoje, Dite. Estou ansioso com a viagem.

– Você é insensível e bruto.

– Você é fresco e aviadado, mas mesmo assim te amo. – estendeu as mãos morenas na direção do amante. – Anda, me passa a frasqueira, colocou minha loção de barba aqui, não?

– E as suas cuecas também.

– Mas eu não uso cueca...

– Mas vai usar enquanto eu não estiver por perto. Eu comprei umas bem largas e feias.

Dite mio... Não vou fazer turismo sexual em Varsóvia. Só vou inspecionar uma construção.

– Nunca se sabe, eu te conheço, você tem fogo nas partes e um mês é muita coisa!

Ele riu alto das precauções do amante.

– Não colocou camisinhas também?

Peixes fez um adorável biquinho sedutor para o amante, fingindo estar furioso.

– Pensei nisso. Mas desisti. Ia parecer que eu estava te encorajando a me trair. Controle-se. É o que eu espero! Coloquei umas fotos minhas pelado no fundo da mala... Faça uso delas e pronto!

Brincou com o queixo de seda do pisciano. Como se precisasse de fotos para se lembrar do quanto amava e desejava aquele homem...

– Dite, onde está o Dante?

– Não sei. Acho que foi à praia.

– O que é que Saga queria falar com você hoje à tarde?

– Nada. Só que o Dante anda preguiçoso para os treinamentos.

– Preguiçoso?

– É... Nada que umas palmadas não resolvam.

– Você não acha estranho? Saga sempre vinha nos chamar a atenção porque Dante fazia mais do que ele pedia, estava sempre com medo dele ter um estiramento muscular ou coisa parecida...

– Pré-adolescente, Hô. Só quer saber de sexo. E como dorme! Dorme a tarde inteira se deixar!

– Esse é um mau hábito novo também...

– No mínimo, aprendeu com os moleques vadios da baixa. Mas quando você voltar a gente tem um conversa com ele.

– É, eu preciso mesmo conversar sério com ele.

– Eu não entendo o que deu errado com ele, Hô.

– Mimamos ele demais.

– Isso não é motivo para ele virar um brigão. Toda semana alguém nos chama até Star Hill para fazer queixas dele.

– Ele é esquentadinho. Demais.

– O que me preocupa, Hô, é como vai ser quando ele for cavaleiro e ficar mais forte... É tão perigoso esse gênio dele.

– Deixa para depois. Quando eu voltar a gente conversa – nós três. Anda, Dite... Vem me dar um beijo...

– Não... Você não merece beijinhos... Você pediu para ir...

– Ah, Dite! Não era justo mandarem o Saga outra vez.

– Mas ele é o Mestre, não é?

– A mulher do pobre está grávida, cheia de complicações! Ia ser muita canalhice nossa se nenhum de nós se oferecesse para ir! É muito confortável para a gente sempre empurrar tudo para o Saga!

– E por que tinha que ser você?

– Porque nem você nem eu fomos a nenhuma missão. Era o certo.

– Depois que você ficou bonzinho ficou tão chato...

– Pisciano... Apanha a caixa com meus cds, em cima da mesa... Te mexe!

– Hô... – o sueco passou a caixa de cds para o outro. – Vou sentir sua falta. Tenho medo de ficar sozinho com o Dante e não dar conta do recado... Ele é levado, muito levado! E ele te respeita muito mais!

– Você tem uma arma na sua mão que vale muito mais que meu tapas e meus gritos.

– O que? – o pisciano riu, sentado na cama.

– Chantagem.

– Ai, pára! – ele gargalhou gostosamente, arrumando o embrulho com os sapatos de Horemheb.

– Você sabe que é verdade. Ele te acha frágil e doce. Se você fizer essa tua carinha de peixinho pidão, ele não resiste, pede desculpas até pelo que não fez!

– Nosso filhotinho é tão sensível, Hô!

– Só com você... – ele se debruçou para dar um beijo suave nos lábios do sueco. – Mas para mim, já é o bastante que ele cuide bem de você...

– Amor... Se cuida, tá?

– Pode deixar, vou me comportar bem.

Naquela noite, depois de fazer amor três vezes, Afrodite conseguiu deixar Horemheb ir para o aeroporto. Fora uma proeza hercúlea colocar Dante Rafael na cama e fazê-lo dormir depois da agitação do dia. Se despediu do pai uma centena de vezes, deu-lhe seis desenhos para colocar na mala, meias para esquentar o pé e a camiseta que ele fizera na escola – com sua foto e seu nome – na mala do pai, recomendando-o que a usasse e, no processo de enfiá-la entre as coisas de Horemheb, acabou achando as fotos de Afrodite pelado: fazer o garoto parar de rir e recuperar as fotos de suas mãozinhas infantis sujas de doce e areia da praia foi um custo.

Só depois que Dante estava dormindo é que puderam sair, no carro da Fundação Kido, enquanto Afrodite se debulhava em lágrimas e recomendações para o seu homem, que o confortava e também fazia recomendações sobre como o pisciano devia lidar com Dante.

(xxx)

O Incidente

– Vamos, cara!

– Hoje não.

– Qual é? Amarelou?

– Vou para a casa.

– Casa? Mas são três horas só, mané!

– Eu sei, cacete. Mas meu pai tá sozinho em casa, vou dar uma força.

– Ih... O macho da casa faltou agora tá a maior tristeza, né?

O menino ruivo enfiou o punho com toda a força que tinha no rosto do colega.

– Merda, Dante! Meu dente! – o garoto resmungou, vendo um pedaço do dente, branquinho, no chão.

– É para você aprender! Na minha casa tem três machos e cada fez que alguém fala de um na frente do outro é isso que acontece. Você ainda tem um monte de dentes para eu tirar, então cuidado!

– Eu vou falar com o Mestre Saga!

– Fofoqueiro! Te arranco os olhos!

– Então arranca!

Os meninos que até então estavam por perto, só assistindo, começaram a urrar "quebra a cara dele, Dante!". Todos estavam cansados de saber o temperamento do 'reizinho da baixa'. Ter Dante Rafael por perto era sinônimo de agitação constante.

– Te encho de porradas!

– Enche mesmo! Estou louco para te dedurar para o mestre! Nunca mais vai andar de nariz pro alto por aí, cavaleiro de gêmeos!

– Não me provoca, Péricles! Você é um nada, nem que fizesse muita força, nem que nascesse outra vez o mestre Saga ia perder tempo te treinando!

– Só porque você é cria dos viadinhos cavaleiros é que você tem essa banca de ser bom! Se você fosse órfão como a gente, você não ia ficar metido desse jeito!

– Eu vou arrancar esses seus dentes para você não falar mais dos meus pais, seu palhaço! E eu sou forte, muito forte e é por isso que o mestre Saga me escolheu para a armadura!

– Ninguém sabe quando você nasceu! Como é que você sabe que é de Gêmeos? Você é um largado, te encontraram no lixo e te deram para eles – você é um órfão, é tão merda quanto a gente! Só porque aqueles cavaleiros lá, os traidores, te pegaram que nem se pega gato vadio no lixo, você é não é melhor do que a gente!

– Agora eu te mostro!

– Vai me quebrar os dentes, valentão?

– Vou te dar uma lição! – alinhou os braços na direção do garoto e liberou seu cosmo poderoso. – Outra dimensão!

(xxx)

– Dante! Dante! Venha já aqui!

– Me chamou, pai? – o menino assoou o nariz no braço.

– Chamei. Pode me explicar o que aconteceu ontem?

– Ontem?

– É. Há quanto tempo seu pai viajou?

– Duas semanas.

– Há duas semanas você me dá uma dor de cabeça diária! Não quer comer direito, dorme como um porco o dia inteiro, não quer saber de treinar e agora... Isso!

– Isso o que, pai?

– Não seja cínico! Você usou um golpe de cavaleiro! Um golpe sagrado de cavaleiro contra um coleguinha de treinamento! O menino quebrou um braço!

– Mas, pai...

– Cala a boca! Já chega! Todos os dias eu saio da minha casa e ouço uma reclamação sua! Você prometeu que ia se comportar e hoje, na reunião dos cavaleiros eu fui chamado atenção na frente de TODO mundo! Por sua causa! Porque me perguntam o que é que eu te ensino! Parece que eu não te ensino nada! Você só me envergonha, constantemente, dia após dia! Você é sujo, mal educado, indisciplinado, mal criado, ignorante!

Dante escutou o sermão em silêncio, mas seus ombros tremiam violentamente. Afrodite nunca tinha falado com ele daquela maneira e ele estava completamente apavorado. Se não estivesse tão atordoado com a bronca, teria se ajoelhado e implorado perdão, mas não tinha coragem de mexer um músculo. O pisciano voltou à carga:

– Você não fala nada! Nada! E é tão falante! Não fala porque não tem o que explicar! Você só me dá aborrecimentos! Se eu soubesse que ia ser assim, eu tinha me oferecido para ir na missão da deusa! Esperto foi o Hô que se livrou de tomar conta de você e ouvir o que eu tive que ouvir!

Quando Afrodite acabou de falar – desanuviar e descontar na vítima mais próxima o seu mau humor e a falta que sentia do amante – reparou que Dante tremia. Ia dizer mais alguma coisa como "não seja dramático", mas não teve chance. Viu duas lágrimas furtivas descerem pelo rosto do menino, que deu-lhe as costas e saiu correndo pelas escadas. O sueco ainda gritou, mas o menino já descia longe dentro da casa de Capricórnio.

"Droga! Droga! Não precisava ter dito aquilo pro meu filho! Estou ficando maluco, maluco!"

(xxx)

– Ouviu isso, Shaka?

– O quê?

– Batidinhas na porta.

– Não, não ouvi. Poderia ver o que é, Mu, por favor?

– Claro, meu querido.

Do lado da porta, encolhido e soluçando, o pequeno Dante.

– Dante!

Ao ouvir o nome da criança, Shaka imediatamente correu até a porta.

– Dan! O que houve?

– Mestre... Mestre... Me protege?

Shaka abraçou o menino ternamente, sentindo que ele tremia.

– O que te aconteceu, pequeno? Entre...

– Mestre... Meu pai vai me jogar fora... Posso morar nos fundos da sua casa? Eu prometo que trabalho para comer... E não te incomodo... Eu juro! Mas não me expulsa do Santuário... Me deixa ficar, por favor...

– Mas que tolice! Seu pai não vai te jogar fora... Venha...

Entraram no belo saguão da casa de Áries. Shaka sentou-se no tapete do chão, com o menino ao seu lado. Abraçou-o junto a si e perguntou com todo o cuidado:

– O que houve?

– Meu pai... Brigou comigo... Ele está bravo, muito bravo... Ele não me quer mais porque ele descobriu que eu sou muito ruim... E muito mau... E vai me botar para fora... Eu não queria ir... Eu não queria... Mestre... Não me põe para fora... Eu juro que vou ser bonzinho...

– Mas você é bonzinho, Dan! Pare de chorar, criança.

– Mestre... Eu tenho vergonha de você... Desculpa? Você tava aqui, todo feliz com o tio Mu e eu atrapalhei...

Mu veio da cozinha da casa com um copo d'água com açúcar, que entregou para o menino, que secava as lágrimas.

– Por que estava sentado na porta, Dante?

– Eu tava com falta de ar.

– Falta de ar?

– É... Eu vim correndo.

Shaka olhou para Mu desconfiado. Dante estava cansado de subir e descer aquelas escadarias correndo e nunca ficava ofegante. Seu fôlego era famoso no Santuário.

– Filho, você se sente bem?

– Não... – ele se agarrou em Shaka. – Mestre, eu tenho medo...

O virginiano pousou as mãos suaves sobre a testa do menino.

– Você está com febre, Dante.

– Será que não é porque eu vim correndo?

– Não, não... Você está com febre mesmo. Sua falta de ar deve ser uma gripe.

– Shaka, nós não devíamos ligar para Afrodite e levar o menino para casa? Já é tarde, daqui a pouco começa a serenar.

– Não! Não! Não me leva, mestre! Por favor! Meu pai tá muito bravo... E se ele me bater?

– Veja, Mu! A inabilidade de Afrodite é gritante! Não vou levar esse menino doente e fragilizado para aquele tresloucado maltratá-lo mais! – apertou com mais força o menino nos seus braços. – Você ficará comigo hoje. Seu mestre Shaka vai cuidar de você, está bem assim?

– Obrigado, Mestre.

Shaka, posando muito dignamente de pai super protetor, colocou o menino na cama, o medicou e deu-lhe o beijo de boa noite, segurando as mãos do menino que não parou de tremer e fazer conjecturas sobre como seria se não pudesse mais morar com seus pais.

– Shaka...

– O que foi, Mu? Só agora essa pobre criança conseguiu dormir. Não parou de chorar.

– Liguei para o Afrodite, mas ele não estava em casa. Então, tentei falar com o Shura.

– O que foi que aquele espanhol desagradável te disse?

– Uma coisa curiosa. Ele disse que ontem o Dante apareceu na casa dele e disse que estava com uma dorzinha de cabeça. Pediu por um remédio e quando ele foi buscar, o menino perguntou se era antitérmico também...

– E o que tem de estranho, Mu?

– Porque o Aldebaram me disse a mesma coisa, só que na quarta feira. E ele disse que tinha acontecido a mesma coisa, só que com o Camus, no domingo.

– Mas, Mu...

– Eu não dei muita atenção na hora, mas é possível que ele já esteja doentinho há um tempo...

– Irresponsável do Afrodite sequer percebeu!

– Oras, Shaka... – Mu sentou-se ao lado do amante, trançando-lhe os cabelos amarelos cor de ouro, o que ele sabia era um calmante natural para Shaka – Você sabe como é o Dante... Ele não deixaria ninguém saber. E se não fosse pela bronca de hoje, nem nós saberíamos. Veja como ele é esperto: cada dia pediu remédio para alguém diferente para despistar. Ele sempre foi assim.

– Mu... Por alguma razão que não sei explicar, me sinto tão inclinado a gostar desse garoto...

– Eu sei. Mas não seja grosseiro com Afrodite. Ele adora o menino também. Eu não sei que palavras ele usou para corrigi-lo, mas com certeza Dante merecia uma reprimenda pelo comportamento dele na baixa ontem.

– Está bem. Me dê o número do celular daquele vaidoso. Tenho certeza de que não larga daquele celular um minuto.

Shaka discou o número rapidamente, ao que o pisciano, que tinha saído de casa para procurar o filho, atendeu também muito depressa, pensando que se tratava do menino.

– Alô? Dantezinho?

– Sou eu, Shaka. Seu filho está em Áries comigo e com Mu. Não sei o que disse a ele, mas fez um bom serviço em aterrorizá-lo e fazê-lo adoecer. Estava com febre e eu fiquei sabendo que tem tido febre há dias. Falaremos amanhã.

– Shaka, você foi horrível! Desligou o telefone na cara dele, que torturante... Afrodite deve estar procurando o Dante há horas.

– Sabe, Mu... Afrodite me irrita profundamente. Como uma criança doce e pura como Dante foi parar nas mãos dele?

– Shaka... Ele é um pai tão amoroso.

– Mas perdeu o controle muito rápido...

– Bom, amanhã levaremos o menino de volta e então veremos.

(xxx)

Ainda traumatizado com os gritos do dia anterior, Dante subia as escadas escondido atrás da silhueta delicada de Shaka. Estava apavorado com a idéia de que seu pai pudesse simplesmente abandoná-lo e que ele nunca mais pudesse voltar à sua casa. Quando saiu de Capricórnio, vislumbrou Afrodite no primeiro lance da escadaria, enrolado na sua túnica branca drapeada, cabelos presos no alto da cabeça, o ar desprotegido de quem também chorara muito.

Quando Shaka estava a poucos passos do pisciano, percebeu que Dante deixara de acompanhá-lo, estando parado degraus abaixo, esgueirado atrás de Mu.

– Seu filho está assustado. – pronunciou-se Shaka, com seu rigor característico na voz.

– Eu sei, não precisa me repreender.

– Você é instável. Nunca devia ter tido um filho.

– É fácil falar, você não tem nenhum.

– Ele não está bem. Quero dizer... De saúde.

– O que ele tinha?

– Febre. Falta de ar. E parece que tem tido febre com freqüência.

– Eu vou levar ele ao médico amanhã. Eu liguei para o pediatra dele e ele me mandou deixá-lo em jejum pela manhã para um exame de sangue. Mas deve ser só uma gripe.

– É melhor que seja assim.

Acariciou os cabelos ruivos e despediu-se do garoto, deixando-o de frente para Peixes, mas ainda sem olhar o cavaleiro nos olhos.

– Filho... Não vai falar comigo? – Afrodite usava magistralmente da sua voz de veludo.

– Desculpa, pai... – balbuciou o menino, uma voz tão baixa que era quase inaudível. – Me desculpa por tudo... Eu não faço por querer... Eu... Eu... Eu...

– ... Me perdoa? Você sabe que eu te amo mais que tudo... Eu sou bobo... Um bobão cara de mamão... Mas ainda somos... os peixinhos do Hô? Somos?

– Pai, não precisa me pedir desculpas... Eu fiz tudo errado... De novo.

– Você não fez certo, mas eu também não fiz. Escuta – ele segurou o queixo do menino, levantando-o até seus olhos se encontrarem. – Eu me preocupo porque te amo.

– Eu sei, Rosinha. Prometo que vou me esforçar para me segurar, tá?

– Está bem. Então... Vamos para casa?

– Vamos!

(xxx)

No dia seguinte, Afrodite acordou cedo para levar o filho até o hospital para a consulta e o exame de sangue. Dante era independente e confiante, mas sempre que saía do Santuário, era como se ainda fosse um bebê. Não sabia como se comportar e o que dizer. Entrou no quarto do pisciano, que se arrumava, mais de dez vezes perguntando o que deveria vestir. Afrodite, por fim, resolveu vesti-lo de uma vez.

Vestiu o menino com calça jeans, uma camisa pólo azul claro, a jaqueta jeans ( apesar de ser pai, Afrodite tinha um complexo materno com agasalhos), com as meias do Bob Esponja e o tênis azul e amarelo da All Star. Ainda fez o filho ficar parado, por mais de vinte minutos, tirando fotos dele – porque ele estava irresistivelmente lindo e a despeito do armário do menino estar abarrotado de roupas caras, era tão raro que ele deixasse o Santuário em trajes normais que normalmente o pai ficava emocionado.

Abaixou-se, como sempre fazia, para falar com o filho olhando-o nos olhos e na mesma altura.

– Benzinho... É só um exame. Você está gripadinho. Mais nada, está bem?

– Tá, pai.

– A gente vai em um pé e volta em outro, certo?

– Certo.

– Não quero que fique preocupado. Responde sem mentir tudo o que o doutor te perguntar, ok?

– Ok, pai. Eu já fui no médico outras vezes.

Ao médico! Sua gramática é horrível!

– Sim, senhor Afrodite pai. Já fui ao médico. Lavei as orelhas direitinho até, ó! Estão cheirosas!

– E os pés?

– Também.

– Limpou o nariz?

– Limpei.

­ – E os... países baixos?

– Lavadinho com sabonete em barra.

– Pôs a cueca nova?

– Cueca faz o saco coçar, pai.

– Eu sei, mas para ir ao médico é bom colocar uma.

– Eu pus a roxa, aquela que o senhor comprou e eu não tinha usado ainda.

– Então está bem. Vamos.

– Você vai dirigir, pai?

– Não entendi o tom da pergunta.

– Você sabe que o Hô não gosta que você dirija sem ele, ele diz que você é distraído e é mesmo.

– Fofoqueiro real... Mas não, eu não vou dirigir... Vamos de táxi, já mandei chamar.

– Melhor assim. Não vou precisar ficar tomando conta do retrovisor para você...

– Você é muito folgado! Vem, anda logo!

(xxx)

– E aí, como foi, filho?

– Não doeu, mas a borrachinha apertou meu braço.

– Vamos para casa?

– Eu tô com fome, pai.

– Podemos comer alguma coisa aqui fora mesmo.

– Oba, pai! Faz tempo que a gente não sai junto!

Olhou para o menino que passara boa parte de seus doze recém completos anos dentro do Santuário. Normalmente, viajava com os pais. Horemheb e Afrodite adoravam viajar e levar Dante com eles. Mas também era verdade que já fazia mais de dois anos que não viajavam e quase sempre que Afrodite saía de casa com Horemheb, era para ir ao motel – um programa ao qual, obviamente, Dante não era convidado. Naquele momento, o sueco lamentou não ter saído tanto com o filho. Ele logo seria um adulto, um cavaleiro. Sua companhia então não seria mais requisitada. Como seria o dia em que Dante preferiria sair com sua namorada ( ou namorado... ) do que com ele e Hô?

– Hoje então vamos comer fora... O que você quer comer?

– Não sei, pai... – o menino parecia deslumbrado. – Eu posso mesmo escolher?

– Mas é claro! Posso dar uma sugestão?

– Pode!

– Vamos comer uma dessas coisas horrorosas que os jovens comem?

– Que coisa horrorosa, pai?

– Hambúrguer? Refrigerante... Batatas fritas... Sorvete...

– Pode sundae?

– Sundae! Com calda de chocolate?

– E amendoim! Muito amendoim!

– Então vamos!

Afrodite levou um orgulhoso Dante, de mãos dadas, para a lanchonete fast-food mais famosa do mundo – A McDonald's. Encantando, o menino pediu as porções maiores de todos os itens, além do milkshake e do sundae. Discreto, o sueco pediu só as batatas fritas e o sundae de chocolate. Ficou observando filho comer.

– Papai, você já reparou? Todo mundo olha pra você.

Afrodite deu um suspiro entediado.

– Demoram a perceber que sou homem.

– É mesmo, né? – o garoto concordou com um enorme sorriso.

– E você fica feliz?

– Claro.

– Claro por quê? – inquiriu Peixes com um sorriso misterioso.

– Porque no Santuário você é lindo, mas todo mundo já tá acostumado. E todo mundo é exótico, tipo, o tio Mu... Mas aqui é diferente! As pessoas ficam todas bobas de ver como você é lindo, pai! Todo mundo te olha!

– Você também é lindo, Dante...

– Ah, eu sou normal. Você não... Você é especial.

Peixes achou aquilo lindo. Nem nos seus momentos mais inspirados, seus amantes conseguiram fazer-lhe elogios tão naturais e tão sinceros.

– Já acabou, filho?

– Já... Mas a gente vai para casa agora?

– Ué, vamos.

– Pai... No caminho para cá eu vi um parque! Um parque de diversões! A gente pode ir lá? Pode? Por favor, por favor! Tem roda gigante! Eu gosto tanto da roda gigante, uma vez só, pai? Pode? Uma vez, só! Eu prometo que não demoro, vai? Vai?

Peixes não estava no melhor do humores para ir ao parque. Mas achou razoável fazer uma vontade ao filho. Aliás, a quem queria enganar? Fazer a vontade de Dante, razoável ou não, era algo que lhe dava sempre um prazer enorme...

– Está bem, vamos... Mas não vamos demorar, hein?

Caminharam até o parquinho de diversões modesto instalado em uma praça no centro da cidade. Afrodite lembrava-se com alguma certa insistência de um belo parque de diversões, sofisticado e frio que freqüentava na infância, uma vez por ano, no dia do seu aniversário, quando sua mãe e seu pai o visitavam na Groenlândia e o levavam para a Suécia para o 'dia especial'. A mãe que não conversava com ele, exceto algumas perguntas sobre seu treinamento e o pai, que apenas dirigia o carro na ida e na volta. Era uma lembrança dura. Ficava no carrossel enquanto a mãe o observava de longe, com seu belo chapéu coco da Chanel. Ela não permitia que ele a tocasse com a desculpa de que 'meninos com boa educação não ficam se esfregando nos outros.' Realmente, ele aprendera bem regras de etiqueta – sua mãe e seu mestre eram pessoas sofisticadas e tão frias quanto a neve sueca.

O parque grego era bem menos bonito e requintado, mas a alegria sincera dos olhos de Dante compensava em tudo os poucos encantos do parquinho. Estava mergulhado em seus pensamentos quando a mão pequena do filho juntou-se à sua.

– Pai, vamos na roda gigante?

– Não... Não... Eu não gosto. Vai você...

– Ah, pai! Vem comigo! É Legal! A gente balança os pés lá no alto! Dá pra a ver a cidade toda!

– Não, eu...

flashback

– Senhor Vündhegen, deseja ir na Roda Gigante? A senhora Vündhegen diz que o senhor pode ir ao brinquedo que desejar.

Lançou um olhar para mãe, que sentada em um banco lia um pequeno libreto de óperas. La Traviatta. Excelente escolha.

– Sim, mas... A minha mãe não poderia me fazer companhia?

– Temo que não seja possível, a Senhora Vündhegen é sensível e tem vertigens com alturas.

– Eu também tenho...

– Então, devo avisar à Senhora que o Senhor deseja voltar para a casa de vosso Mestre?

Afrodite secou as poucas lágrimas que, aos oito anos, ainda era capaz de chorar. A mulher que era sua mãe mal disfarçava o incômodo que era permanecer aquelas poucas horas com ele e toda a impaciência que ela tinha com qualquer coisa que ele pudesse fazer perto dela.

– Sim, Kolmen. Diga à senhora que já podemos voltar à Groenlândia. Eu não vou ocupar o tempo dela... E nem o meu.

Nunca mais viu a mãe.

Nem o pai.

fim do flashback

– Eu tenho medo de alturas, Dante.

– Mas eu seguro a sua mão, pai.

Ah! Como queria que sua mãe algum dia tivesse segurado a sua mão. Ela nunca o fez. Mas seu pequeno filho parecia gostar tanto de ficar perto dele... Por ele faria qualquer coisa.

– Então vamos nós dois. Juntos.

Se deixou arrastar até a roda gigante. Era o único adulto na fila. Em volta do brinquedo, mães observavam os filhos. Mal sentou-se nos banquinhos, sentiu o braço do filho envolver-lhe. Passou seu braço pelos ombros dele também. O rapazinho que ajeitava as travas das cadeiras achou graça e riu, ao que Dante imediatamente respondeu:

– Meu pai tem medo de altura e eu vou proteger ele. Não tem perigo, né, moço? Diz para ele!

– Não, menino! É bem seguro. Seu pai vai gostar.

– Viu, pai? Não tem perigo.

O brinquedo começou a mexer. O sueco achou que fosse passar mal ou ter suores frios – os típicos sintomas da sua fobia de lugares altos. Mas não foi assim. Estava calmo, seu coração estava em paz. Os barulhos do parque iam ficando distantes à medida que a cadeira em que estavam subia. O céu estava tão azul, o sol tão claro. Tudo era tão bonito. Era tão confortável estar ali, com seu filho, tão perfeito de uma maneira desconcertante.

– Anjo, você gosta mesmo de roda gigante, hã?

– Gosto! Eu adoro a roda gigante, a montanha russa, o mar... Eu gosto de me sentir livre... No céu. No mar...

– Livre... Você se sente livre, Dante?

– Sinto, pai. Muito livre. Você não?

– Um pouco.

A roda gigante fez sua tradicional parada. Para sorte dos cavaleiros, ele ficaram no topo. A vista da cidade era lindíssima. O sol brilhava sobre a acrópole.

Quando saíram da roda gigante, Dante fez questão ainda de andar em todos os brinquedos do parque e comer algodão doce, pipoca, maçã do amor. Afrodite estava chocado com a quantidade de comida que aquela pequena criatura conseguia ingerir.

– Já é tarde, Dante. Vamos para casa.

– Ah, pai... Mas a gente vai de táxi?

– Sim, por que?

– Por que a gente não vai de ônibus?

– Ônibus?

– Demora mais... Aí a gente passeia mais tempo...

Afrodite gostou da proposta.

– Vamos de ônibus então.

– Toma, pai! – o menino lhe estendeu um pequeno urso de pelúcia rosa. – Eu ganhei para você...

– Para mim?

– É. Ele não é bonitinho? A menininha loira queria que eu desse para ela, mas eu preferi deixar para você.

– Mas por que, Dante?

– Eu nem conheço a menina. E eu sei que você gosta de bichinhos cor de rosa.

– Obrigado, meu filho! Mas o nosso urso precisa de um nome! Ele tem cara de quê?

– Não sei, pai. Que tal Brutus?

– Brutus?

– Ele já tem cara de boiola e é rosa. Se você chamar ele de um nome 'fofo', aí já era, né, Peixinho?

Afrodite desatou a rir.

– Brutus está bom!

O sueco não levava jeito para viver modestamente e sequer conseguia entender o sistema de ônibus da cidade. Felizmente, depois de algumas incursões na cidade com os coleguinhas, Dante sabia mais ou menos que transporte pegar para ir até o Santuário. Era fácil: a Acrópole Central era um dos pontos turísticos mais visitados da cidade.

No caminho, Dante se encarrapitou na janela, apontando o dedo para tudo que via e falando como uma matraca. Afrodite achava engraçado o entusiasmo do menino. Também não queria que aquele dia acabasse tão rápido. Olhou para o relógio de ouro em seu pulso. Eram seis horas da tarde. Agarrou o braço do filho e o puxou.

– Vem, vamos descer aqui!

– Mas pai, falta até chegar em casa e...

– Vamos ao cinema!

– Cinema, pai? Você vai me levar no cinema? Eu?

– Ué, garoto! Você não quer?

– Quero muito! Muito! Mas eu pensei que você só fosse ao cinema com o meu pai...

– Sim, mas com seu pai vou ver filmes de sacanagem. Com você vamos ver um filminho família... Que tipo de filme quer ver hoje? Comédia, pancadaria?

– Quero ver desenho! Vamos ver Nemo?

– De novo? Mas você não foi ver Nemo com seus amigos semana passada?

– Mas eu gostei muito, pai, muito! O Nemo é tão bacana!

– Olha lá, hein? Se for ruim vou dormir no cinema...

– Bobo! É legal!

– Filho, promete que não vai se entupir de pipocas? Você já comeu tanto... E coisas tão gordurosas!

– Tá, pai. Eu quero chocolate então. – ele olhou timidamente para o pai. – Você pode comprar chocolate para mim? – ele botou o dedinho na boca e murmurou. – Eu já gastei muito dinheiro hoje, né?

Afrodite puxou o menino para seus braços, coçando os belos cabelos cor de cenoura entre seus dedos.

– Tudo o que você quiser, cenourinha, você terá.

– Olha, pai... A fila, a gente vai perder a sessão!

Peixes assistiu o filminho divertindo-se muito. Aliás, divertira-se mais com as gargalhadas de Dante do que com o filme em si, porque seu filho era capaz de rir das coisas mais bobas e era uma alegria tão pura e tão contagiante que nem ele podia resistir-lhe ao charme; se pegou ele mesmo imitando a Dorothy, só para ver o menino rir.

Eram por volta de oito e meia quando o sueco conseguiu sair do cinema. Não quis pegar o táxi dessa vez também e pegou o ônibus. Dessa vez o filho fez-lhe a gentileza de ceder o lugar na janela. Excelente. O pisciano mirava a noite ateniense com um misto de felicidade e nostalgia. Fora um dia perfeito. Só faltava o Hô... Suspirou de saudades. Mais uma noite sozinho. Odiava dormir em camas vazias. Até gostava de dormir com seu filho – era delicioso dormir abraçado com seu cenourinha, seu ursinho de pelúcia grande. Mas fazia-lhe falta os braços fortes do seu homem. Fazia-lhe falta o seu homem. Olhou para o lado e reparou que o menino cochilava com a cabeça apoiada em seus ombros.

– Principezinho... Chegamos... Levanta...

– Pai, tô cansado...

– Eu sei, vem... Deixa que eu levo o Brutus.

Veio com o menino empurrando-o pelas passagens. Quando atravessaram a área proibida do Santuário, cansado de ver o menino ofegar na subida, Afrodite o pegou no colo e subiu na velocidade da luz – afinal, era ou não cavaleiro?

Pôs Dante na cama dele, prometendo que ia voltar para forçá-lo a tomar banho e escovar os dentes ( o garoto resmungava que tinha sono e não queria nem trocar as roupas ). Foi tomar seu banho, pensativo.

Era sim, estranho, estranhíssimo, que Dante estivesse tão cansado. Foi um dia agitado, ele estava de jejum por causa do exame de sangue , brincou muito no parque, comeu uma comida excessivamente pesada e ainda foi ao cinema – os olhos de uma criança que mal via televisão e que sabia por alto da existência de videogames.

Mas seu filho não costumava se cansar fácil. A subida do Santuário era íngreme, mas ele sempre subia e descia aquelas passagens correndo, vindo da praia – que ficava a uma distância considerável do Santuário. Seu fôlego era famoso. Não podia ser normal que ele se cansasse tanto assim... Ele o carregara no colo sem protestos. Dante odiava ser tratado como bebezinho; se aceitou a 'carona', foi porque devia estar realmente cansado.

Quando saiu do banho, Dante estava exatamente como ele o deixara. Roncando sobre sua cama, de tênis e todo vestido. Afrodite também se sentia cansado demais. Arrancou os sapatos do menino e o levou para o seu quartinho, perto do seu. Depois voltou para seu quarto, apagando as luzes da casa. Mais uma noite sem...

"Zeus... Um mês tem tantos dias assim?"

(xxx)

– Alô? É você, Saga?

– Afrodite, tivemos um incidente aqui com o Dante. Pode vir buscá-lo?

– Mas.. Mas... Que tipo de incidente? Ele está bem, não está?

– Ah, sim, não é nada de saúde. Ele... Está de castigo, digamos assim. Quando vier, eu explico, está bem? Mas venha logo.

– Onde vocês estão?

– Em Star Hill. Venha vestido de acordo. A deusa e os cavaleiros de bronze estão aqui.

Afrodite resmungou com seu indefectível deboche.

– Ah, sim... A deusa de neve e seus cinco anões... Já vou.

(xxx)

– Precisa controlar os modos do seu filho, Afrodite.

– Sim, senhora. – ele fez uma reverência forçada. Não tinha nenhum problema com Saori, além de achá-la cafona e sem charme. Mas tinha um sério problema em ouvir reprimendas de quem quer que fosse e muito pior ainda, quando dirigidas indiretamente ao seu filho.

– Ele não apenas se descontrolou na frente de todos, mas também ameaçou os colegas e agrediu verbalmente outros cavaleiros. Temo pelo futuro dele como defensor de Athena... Será que algum dia ele vai estar preparado?

– Dante já está preparado para a armadura de Ouro de Gêmeos. – ele encarou a mulher a sua frente. – Mas é verdade que ele tem pouca tolerância com o que considera errado. Seiya e Aioria são assim, mas eu nunca a ouvi repreendendo-os... senhora.

Saori riu, suavemente.

– Apenas cuide para que ele não perca o controle tão facilmente, Peixes.

– Sim, senhora.

(xxx)

– Odeio quando ela faz isso, odeio.

– Eu sei, Afrodite. Mas... – Saga viu o pisciano pisando forte, punhos cerrados, na direção da sala onde estava Dante, esperando por ele. Antes que colocasse a mão na maçaneta, Saga o interrompeu. ­– Por favor... Não... Não seja duro demais com ele.

– Hum?

– Os cavaleiros de bronze vieram dar uma... uma espécie de palestra sobre a guerra em Hades e... Afrodite... Eu e os outros estávamos aqui e... Enfim... Você sabe como contam sobre Hades para os meninos... O Dante, ele... – Saga apartou os cabelos azuis para trás. Estava suando. Como mestre do santuário, não devia dizer coisas como aquelas mas... Para os diabos! – A indignação do Dante é uma coisa preciosa, Dite! Preserve-a! Entenda: não é que meus filhos não me amem, mas... Para eles o fato de eu ter sido considerado um traidor um dia... Isso não importa. Eles já nasceram tão distantes disso que não compreendem a dor que... que esse estigma nos causou... Mas em Dante... É como se isso fosse uma ferida aberta nele. Ele não suporta ouvir a estória contada daquela maneira. Eu também não suporto, mas... Temos que ouvir!

– Eu não ia repreender meu Dante porque ele me defendeu, Saga...

– Eu imaginei que não. Mas eu quis que você soubesse que eu, Miro, Camus, Mu, Shura... Nós estávamos aqui e... Pensamos dessa maneira também. Eu não sou covarde. Não fugirei nunca das responsabilidades que minhas antigas ações causaram... Mas... Em toda estória... Há mais do que um único olhar.

– Obrigado, Saga.

O pisciano abriu a porta da pequena sala onde seu filho tinha sido 'confinado' a espera dele. A criança ruiva estava sentada no canto esquerdo, no chão, a cabeça escondida entre os joelhos. O sueco se aproximou e sentou-se de frente para o menino.

– Dante... Eu já não disse que você não precisa defender a gente? Nem eu nem seu pai? Uh? É perda de tempo.

O menino levantou o rosto, olhos rubros de tanto chorar.

– Disseram que você e o Hô eram traidores sanguinários. É mentira. Eles são todos mentirosos!

– Você sabe que eu nem sempre fui bom. Por que a surpresa?

– Pára! Você é bom! – ele tapou as orelhas com as mãos pequenas. – Eu não estou ouvindo, eu não quero ouvir!

Afrodite, cuidadoso, mas firme, afastou as mãos pequeninas que tapavam os ouvidos.

– Eu fui um traidor, um assassino. Horemheb era tão miserável que até sua armadura o rejeitou.

– Mentira! Mentira! Pára, pai! Pára!

– Dante, eu não me envergonho do passado...

– Pai! Você é um herói! O Hô é herói e o Mestre Saga, o tio Camus, o Mestre Shura!

– Querido, eu...

– Não! Eu não quero saber! Vocês são heróis! Ninguém foi ao inferno como vocês foram! E tudo para os magricelinhos bobos dos cavaleiros de bronze colherem todos os louros da vitória depois que vocês todos tinham dado o sangue por eles! E tudo que eles tiveram foi SORTE de achar a deusa primeiro! Como é que vocês iam saber? Aquela garota com cara de fome era a deusa! Quem ia acreditar!

– Dantezinho...

– Pai... – o menino secou os olhos, segurando uma das mãos do sueco. – É tão difícil saber o que é certo e o que é errado... E ninguém sabe isso sempre, né? Como é que vocês iam saber? Porque, quando eu não sei o que é certo, daí você me diz e o Hô também me diz e aí eu sei porque vocês me ensinam, mas não tinha ninguém para dizer para vocês, né? Então, como é que vocês podiam saber? Os cavaleiros de bronze só tiveram sorte, não foi? Porque eles estavam no lugar certo com a pessoa certa... Mas isso foi sorte... Eles não mereciam mais do que vocês... Eles não deram o sangue tanto quanto vocês... Porque eles já chegaram aqui sabendo o que era certo... E vocês não... Ainda tinham que lutar para saber o que era certo. Mas qual é a diferença, então? Porque eles tinham que dizer aquelas coisas? Eles não sabem! Ninguém sabe o que é vestir aquela armadura... Ela pesa, pai. Ela pesa.

–Anjinho...

– Um armadura de ouro pesa muito, pai. Tudo de bom que você faz com ela é uma pena. O que você faz de mau, é uma tonelada de chumbo. E você carrega com você as penas levinhas do bem e as toneladas do mal. A armadura de ouro faz isso. Mas eles não sabem, nem nunca vão saber. Porque cavaleiro de bronze morre cavaleiro de bronze... A deusa também sabe e por isso ela manda eles sempre aqui! Para empurrar eles goela abaixo de vocês todos! Mas não tem jeito! Por mais brava que ela fique, nem ela pode mudar as regras! Nenhum daqueles vai vestir sua armadura, pai!

O menino meneou a cabeça em um sorriso misturado com um pequeno soluço.

– Eu queria tanto ser de Peixes, para poder herdar a sua armadura... Talvez nem a de Gêmeos me deixem vestir... Eu sei que não fiz bem, Peixinho... Você me pediu para ficar calmo e eu não fiquei... Desculpa eu, outra vez?

– Escuta... Dá a mãozinha.

Ele estendeu o braço e a mãozinha.

– Você vai me bater?

–Quantas vezes na vida eu já te bati, Dante?

– Nenhuma.

– Então?

– Se você me batesse, é porque eu mereço.

– Você não merece apanhar, anda. Vamos.

– Para onde a gente vai?

– Para a praia. Não é assim? Quando a gente está triste ou chateado, a gente vai para o lugar que faz a gente feliz. O meu lugar é o jardim, entre as minhas rosas... O lugar do Hô é o Monte, onde ele fica sozinho. O seu é a praia, onde você se sente livre. Não é?

–Não! Não me leve para passear, Afrodite!

– Por que não?

– Porque! Olha, toda vez que eu faço uma coisa errada, você não pode passar a mão na minha cabeça! Me castigue! Me castigue! Eles dizem que você me apóia quando faço coisas erradas porque você também é errado! Peixinho, eles adoram me ver errar... Mas eles gostam muito mais quando você erra comigo... Porque assim eles atacam a gente onde dói.

Afrodite apenas segurou o menino pelo braço e o puxou. Quando já estavam na entrada da Décima Segunda Casa, o pisciano decretou:

– Vai ficar preso em casa por três dias de castigo. E eu também vou ficar, já que sou tão ruim. Entra correndo e manda as servas colocarem a pipoca doce no microondas; eu vou fazer uma lista de dvds que quero assistir e vou mandar os moleques buscarem para gente. Se é um castigo e é para valer, então não podemos sair. Mas também não vamos ficar tristes por causa dos cretinos lá de cima, certo?

O menino sorriu largo.

– Então tá!


(xxx)

Good enough for a first chapter... Sim, é isso aí. Preparados? Espero que sim. Beijocas da Tia Vê. THANKS PARA ADA, que betou este capítulo como sempre, generosa... brigadão, sensei!