Disclaimer I: Saint Seiya não me pertence. A série original e seus personagens são propriedade de Masami Kurumada.

Disclaimer II: Mozão e Mozinho são expressões cunhadas por Pipe, usadas com a permissão dela nessa fiction. O enredo desta fanfiction, bem como seus personagens originais e nomes, quando não especificados, me pertencem.

Ps: penúltimo capítulo. Esse não precisei dividir. Ufa! Estamos chegando lá. Explicando a confusão dos capítulos. Eu dividi os dois últimos capítulos. O capítulo seis – porque se eu escrevesse mais, não ia acabar tão cedo e o capítulo sete, que, na íntegra, seria esse mais o anterior, juntos. Mais de sessenta páginas. Muita coisa até mesmo para dar upload pelo site. Então, as 'divisões' acabaram, o próximo é o último. Dessa vez, sem prorrogações!


MAIOR QUE TUDO

CAPÍTULO 08

Meu menino, meu amor

— # —

Afrodite tentou. Mas acabou voltando, mal entrou no hospital. Teve medo. Via seu filho morrer mil vezes em seus pesadelos, mas mesmo assim, queria fugir – porque parecia que quando não via o menino ligado aos tubos, era como se o menino não estivesse mesmo ligados aos tubos. Era algo como "se os olhos não vêem, o coração não sente." Ele jurava, no caminho de volta, que ia ter coragem no dia seguinte e chegaria ao hospital com entusiasmo e docinhos para o seu menino – ia abraçá-lo e beijá-lo e... Acariciar suas bochechinhas roliças que agora eram magras como as de um doente terminal? Enrolar o dedos nos chachinhos ruivos que foram raspados? Olhar no fundo dos olhos vivos e inteligentes que agora estavam sempre opacos e molhados? A verdade doía, a verdade era mais seca do que qualquer coisa que já tinha lhe acontecido na vida, então ele voltava para casa, simplesmente, e dedicava-se a arrumar melhor o quarto do filho, passava os dias no telefone, comprando brinquedos e roupas por catálogos, na esperança de que seu filho fosse superar tudo e de quando ele voltasse, aí sim, eles seriam novamente felizes, ele voltaria a ser o anjo ruivos de cachos cor de cenoura e tudo, tudo mesmo, seria como sempre foi.

— # —

Dante não melhorou. Ele passava os dias na cama. As enfermeiras o colocavam na cadeira de rodas para passear pelo hospital, porque ele tinha dificuldades para respirar, pela pneumonia, mas não gostava. Máscara da Morte quase sempre preferia carregá-lo no colo, de ala em ala, pelos jardins de inverno. Doía no velho canceriano ver o menino do jeito que ele estava. Ele percebia os olhos verdes da criança, atentos, inquietos, procurando entre cada um dos que entravam e saíam do hospital a figura de Afrodite. Em vão. O pisciano não apareceu.

Então, começou a fase do choro.

Dante acordava e ia dormir chorando. Desesperado, Máscara da Morte considerou a idéia de arrastar com porradas Afrodite de sua Décima Segunda Casa até o hospital, mas talvez Dante ficasse muito magoado de ver os hematomas da 'peripécia'. Resolveu-se por implorar. Ligou para casa e implorou, por todos os deuses, santos, anjos e almas do céu e do inferno, para que o pisciano se compadecesse da dor do filho e viesse vê-lo. Afrodite jurou que ia. Marcou hora para estar no hospital.

Bastou tocar no assunto para que a choradeira do menino se extinguisse como num passe de mágica. Ele ficou elétrico, exigiu atenção e mimo de todas as enfermeiras, para que o ajudassem a se arrumar para rever o pai. Preocupou-se com a cabeça pelada e pediu um gorrinho para tapá-la. Quis trocar de camiseta e short, até as meias quis trocar.

Horemheb ficou extasiado em ver, depois de semanas, um sorriso de verdade no rosto do filho. O garoto estava tão eufórico que não quis esperar no quarto e pediu que Máscara da Morte o carregasse até a porta do hospital para ver Afrodite chegar.

Já Afrodite não gozava da mesma confiança do amante e do filho. Parecia ser uma força má, que o empurrava para trás, cada passo para fora de casa eram dois passos que ele arrumava uma desculpa para voltar: saiu de Peixes umas seis vezes. Voltava porque tinha 'esquecido' alguma coisa sem a menor importância. Da primeira vez, por uma caixa de lenços de papel, mesmo tendo três no carro. Depois, por causa de um brilho labial que não precisava, porque sua nécessaire tinha dois, fora os batons cor de boca. Na última, voltou sem razão alguma, sentou-se no sofá para se atrasar muito e quem sabe, com isso, resolver-se por não ir.

Por fim, depois de algum vai e volta, saiu do Santuário com o carro grande de Horemheb, rezando para ter coragem. Chegou a entrar na rua do hospital. O carro entrou pela ruazinha estreita, florida, Afrodite chegou mesmo a ver, parados no grande portão de entrada, o seu homem e seu menino, no colo dele, de máscara.

Ficou paralisado de pânico. Teve medo de si, das suas ansiedades e expectativas, depois teve medo das expectativas do menino e dos olhos acusadores de Máscara da Morte. Não pensou duas vezes: deu marcha ré e voltou por onde tinha vindo. Acuado demais para raciocinar sobre como o filho se sentiria vendo-o fugir dele daquela maneira.

Parado na entrada do hospital, em choque, Dante não disse uma única palavra, vendo o carro de Afrodite dar a ré e desaparecer. Máscara da Morte sentiu que devia dizer algo, mas estava tão desconcertado que lhe faltaram palavras. O menino que até então esteve agarrado ao seu pescoço, soltou-se bruscamente. A voz da criança despertou Horemheb do seu torpor.

– Quero ir pro quarto.

– Dante, filho... Eu...

– Não quero falar.

– Dante, eu te carrego.

– Não, eu quero a cadeira.

– Mas...

– A cadeira, Horemheb.

– Filho, não faz assim.

– Eu quero dormir. – ele puxou o braço da enfermeira. – Me dá aquele xaropinho que faz dormir?

– Está bem, Dante. Vou buscar a cadeira, ok?

Ele assentiu com a cabeça. Passou a mão pela nuca e arrancou o gorrinho. Máscara da Morte sabia o quanto ele estava revoltado. Ele também estava. Mas o que ia fazer com Afrodite? Matá-lo? Não podia fazer nada. Maldito pisciano covarde... Devia ter imaginado, devia! Horemheb começou então a se torturar – a culpa era toda dele, afinal. Conhecendo Afrodite não devia ter dito ao menino que ele iria. Não. Devia ter esperado e se, por um milagre, aquela biba desgraçada resolvesse fazer o enorme favor de aparecer para ver o filho, fazer uma surpresa boa para Dante. Mas não! Quis dar esperanças ao moleque – quis vê-lo feliz; e por isso, estava pagando caro. O barulho do coração do seu filho se partindo em mil pedaços o estava matando por dentro. "Culpa minha. Tudo culpa minha. Maldito Afrodite! Por que eu confio em você?"

Quando a enfermeira voltou com a cadeira ele se sentou e voltou para o quarto sem conversar. Logo estava dormindo. A enfermeira avisou Horemheb que tinha ministrado. alguns calmantes leves e que ele provavelmente dormiria bastante.

"Ótimo", pensou consigo mesmo. "Tenho tempo para arrebentar a cara de Afrodite."

— # —

O pisciano cochilava, levemente, no seu sofá. Depois de ter voltado para casa, chorou até cansar, mas sabia que não tinha feito bem. Sabia que Máscara da Morte o reconhecera, mas contava que Dante, talvez, não o tivesse visto. Ligaria para o menino de noite e diria que não pôde ir. Compromissos com a deusa – inadiáveis. Marcaria outro dia, não era possível que sua covardia fosse eterna. Nunca tinha sido covarde antes, isso ia passar, tinha que passar e logo.

Naquele lânguido estado entre o despertar e o dormir, via o seu menino na porta do hospital, acenando para ele. E, no meio de tudo, uma luz... Uma luz dourada, uma luz... Luz dourada. Luz de uma armadura dourada. Abriu os olhos. Máscara da Morte, vestido com a armadura de Câncer, estava na frente dele. E não era sonho, era bem real. Conseguia até ver o arco de cosmos dourado em volta dele.

– Como quer morrer? Quer que te mande direto para o Inferno com um golpe só ou vai sofrer aos poucos? Vários golpes talvez?

– Hô... Me desculpe...

– Eu vou matar você, Afrodite. Agora. Mas antes, eu te darei uns minutos para colocar a sua armadura, não quero ser covarde com você.

– Até porque, o covarde sou eu, não é?

– Por que fez aquilo?

– Não tive coragem.

– Ele te ama. Isso não vale nada pra você, não é? Isso é lixo pra você. Tantos já se jogaram aos seus pés, tantos. Tantos te juraram amor. Eu lembro das estórias. Quantos se mataram por você? Quando eu cheguei no Santuário a contagem estava em quatro... A lista cresceu, não é? Você nunca correspondeu ao amor de ninguém. Se aquele merda do Shura fosse um pouco mais fraco, depois do chute que tomou, era bem capaz de ter engrossado as estatísticas e morrido por você. Mas você não ia se importar. Você nunca se importa. Você merece a sua família. Você merece o seu passado. E sabe do que mais? Eu já estou achando que os pais biológicos do menino não eram tão ruins assim...

– Horemheb...

– Sabe por que? Porque deles o garoto não esperava nada. Mas de você... Ele endeusa você. Você era o mundo para ele. Ele não merecia isso. Ele não merece!

– Eu sei que ele não merece... Não é por ele... É por mim...

– É sempre por você, nunca reparou? Sempre você, você, você... Ninguém importa, só você. Só a sua dor, a sua tristeza, os seus conflitos... O garoto era sua boneca. Ele era tão lindo e tão fofo... Agora ele não é mais. Agora é a hora de jogar a boneca velha em um canto escuro do quarto e brincar com outros brinquedos, não é?

– Você sabe que eu não penso assim...

– Pare de chorar. Seja homem. Me encare! Me olhe nos olhos! Não precisa fugir dele para sempre! Ele não vai durar para sempre. Ele está morrendo... Vai olhar para ele quando ele estiver morto? Vai ter coragem de ficar perto do caixão dele? Ou vai ter medo também? Vai preferir não ver?

– Horemheb, é mais forte do que eu... Eu não consigo!

– Você não faz nem força... Você nem levanta desse sofá para falar comigo... Eu não tenho nem tesão de te matar. Você é tão miserável... Não merece nem ser morto por mim. Eu tenho mesmo vontade de...

Ele não terminou a frase. O telefone tocou ruidosamente e antes mesmo de atender, Horemheb já sabia do que se tratava.

– Alô. O Senhor Al Hat'sur, por favor?

– É ele.

– Senhor, o seu filho... Infelizmente, ele fugiu do hospital.

– Fugiu? Como um menino de doze anos, com leucemia, consegue fugir de um hospital desse tamanho? Que tipo de gente vocês colocam tomando conta dos pacientes? Ele é só uma criança! Não me digam que ninguém o viu sair!

– Senhor, não sabemos explicar. Ele simplesmente... Sumiu.

Máscara da Morte bateu o telefone furioso. Ele sabia explicar: telecinese. Dante sabia usar telecinese. Mal e mal, mas sabia. Shaka desistiu de ensinar os fundamentos da arte lêmure porque o menino era indisciplinado e lhe dava um trabalho sobre-humano. Mas mesmo assim, ele aprendera o suficiente para sair do hospital sem ser visto.

– Ele fugiu, Hô?

– Fugiu, Afrodite. Não está feliz? Agora talvez nunca mais precise ver seu filho.

– Onde você vai?

– Procurar por ele, claro.

Máscara da Morte saiu de Peixes em disparada. Afrodite desceu as escadas em choque até Gêmeos. Bateu à porta, mas logo foi recebido por quem ele esperava ver.

– Sabia que viria.

– Sabe onde ele está?

– Sei.

– Como você sabe?

– Ele usou telecinese. Um fluxo de poder foi deslocado. Eu consigo sentir. Se ele tivesse só corrido para fora do hospital, seria mais difícil encontrá-lo.

– Onde ele está?

A jovem de quinze anos lhe entregou um papalezinho azul timbrado com o símbolo de Gêmeos nele.

– Esse é o endereço. Meu pai me ajudou a descobrir o número da rua no catálogo pelas referências que eu vi, na bacia...

"Ah, sim. A bruxa vê por hidromancia." Lembrou-se o pisciano.

– Eu sei onde é isso... É...

– O orfanato. Papa me disse isso também.

– Obrigando, Allyanda.

– Faço por ele. Tudo que eu puder fazer por Rafael, farei.

– Obrigado.

– Quer que meu pai te leve até lá? Você não parece bem.

– Eu estou bem, obrigado.

– Boa sorte... Ah... – ela puxou do pescoço um medalhão coma figura de uma mulher sentada. – Leve. Pode ser útil.

– O que é?

– Um medalhão de Hécate. Esfregue na testa dele. Se ele estiver passando mal.

– Vou levar. Obrigado.

– Corra. Ele está naquela área, mas não posso precisar se ele vai continuar andando para mais longe.

– Vou correr.

— # —

Afrodite foi direto ao lugar indicado, mas não encontrou o filho. Dante tinha mesmo fugido do hospital em direção ao orfanato. Chegara a falar com as irmãs que cuidavam da casa, mas depois foi embora de novo. Não andou muito, teve falta de ar, caiu desmaiado com febre poucos metros dali. Como as senhoras acharam estranho um menino que parecia tão doente estar sozinho, elas imediatamente ligaram para a polícia; como o hospital também já havia notificado a polícia a respeito do sumiço do menino, foram rapidamente para o local e resgataram o garoto. Horemheb, com carro e celular, logo foi avisado também e seguiu para o hospital.

As irmãs de caridade contaram para Afrodite toda a estória e entregaram a ele o bilhete que o menino deixara com elas.

E era um bilhete escrito com giz de cera, que dizia assim:

" Irmãs,

Por favor, separem um filho novo para meus pais. Logo eu vou morrer e eles vão pegar uma criancinha boa, sem nenhum defeito. No final dessa carta eu desenhei os dois, assim vocês já podem escolher uma que se pareça com eles. É bom que seja menina, que já esteja desmamada, porque neném que mama dá muito trabalho. Se a menina tiver olhos cor de piscina, melhor ainda. Eu sei que meus pais são dois homens, mas eles são pais muito bons, sorte da menina se ela for adotada. Por favor, quando tiverem a criança perfeita, é só ligar para o número do celular no final da carta – é o número do meu tio Aioria. Ele vai saber o que fazer.

Atenciosamente,

Dante Rafael Al Hat'sur Vündhegen."

No final, também, estava o desenho dele e de Máscara da Morte e o telefone de Aioria, escrito em garranchos com giz de cera azul. Afrodite pôs o bilhete no bolso e saiu sem falar com as mulheres – mas elas tinham entendido tudo perfeitamente. Tudo.

— # —

– Filho... Não fala...

Máscara da Morte já não tinha mais lágrimas para chorar. Estava esgotado. Segurava a mão do filho, já de volta ao hospital. Havia tantos tubos naquela cama que ele tinha medo de chegar perto e derrubar ou soltar algum deles – algum dos preciosos fios que mantinham seu filho vivo.

– Pai... Aqui... – o menino apontou o narizinho para o pai. Horemheb pousou o rosto cansado na mão pequena do filho. Dante delicadamente acariciou as bochechas ásperas do canceriano, com a barba ainda por fazer. – Pai, você tá cansado...

– Não tô não, filho...

– Vai pra casa...

– Não, nunca... Nunca vou deixar você...

– Eu... Não pedi pra você me deixar... Só para você ir descansar... Velho...

– Eu quero descansar perto de você... Dante... Por que você foi fazer isso?

– Eu não vou ficar aqui muito tempo, Hô...

– Pára com isso.

– Não briga com o Dite... Ele também sabe...

– Covarde... Ele é covarde, Dante... Você nunca gostou de gente assim...

– Não é culpa dele, pai... Diz que não tá bravo... Diz...

– Se eu disser que perdôo o Afrodite vou estar mentindo.

– Pai... Por favor... Por mim... Vocês vão ficar sozinhos...

– Dante, meu filho...

– Pai, perdoa ele. Jura que perdoa...

– Não posso...

– Pai... Faz por mim...

– Não chora, Dante... Você já está com falta de ar...

– Faz eu parar, então... Diz que você ainda gosta dele e que vocês não vão brigar...

– Eu prometo, meu filho... Por você. Só por você.

– Pai... Vai pra casa...

– Não... Vou esperar você dormir...

– Eu vou dormir logo, tô todo mole...

– Eu sei... O médico te deu um calmante, você estava nervoso...

– Por que você não me deixou lá, pai? Ia ser tão mais rápido...

– Porque eu te amo, seu moleque burro... Eu não vou te deixar para trás nunca...

– Então tá... – os dedinhos do menino circundaram o rosto do canceriano. – Você é durão mesmo... Mas eu também tô feliz... Porque eu também prefiro ficar com você...

— # —

– Como ele está, Horemheb?

– Se você estivesse interessado, viria aqui ver o moleque.

– Eu vou, eu quero ir.

– Cala essa boca. Você me irrita. Quer saber se ele está bem? Não está. Está magrinho, não engorda de jeito nenhum. Está com pneumonia, não respira direito. Está cheio de bolotinhas na pele, de tanto ficar deitado. Está satisfeito?

– Horemheb, eu...

– Boa noite, Afrodite.

– Hô, espera... Ele falou de mim?

– Você é cretino mesmo. Se você tivesse cara de me fazer essa pergunta pessoalmente eu ia arrancar seus dentes. É claro que ele falou. Ele fala de você.

– Ele... Está com raiva de mim?

– Quem me dera.

– Eu...

– Ele... Ele... Tão fraco, Afrodite... E ele não tem raiva de ninguém... Não culpa ninguém, ele é tão... Cheio de amor... Ele não quer nada, ele não pede nada... Ele só quer ver você... como pode ignorar o menino? Ele é... A coisinha mais bonita desse mundo, Dite... A mais perfeita... Ele parece um anjinho... De gorro... Nosso menininho, Dite... Você não tem coração?

– Eu vou, Hô, eu vou.

– Se você demorar muito, não vai mais encontrar ele aqui.

— # —

dois dias depois.

– O doutor quer você aqui, Dite.

– Eu...

– Não é para ver o garoto, então não precisa inventar uma desculpa. Ele só quer nos ver.

– Hô, você sabe que...

– Vem. Já sei o que você vai dizer mas eu discordo. Só aparece, está bem?

– Vou estar aí.

— # —

– Boa noite, doutor.

– Boa noite senhor Horemheb... Senhor Vündhegen.

Fez sinal para que sentassem. Horemheb evitava, aborrecido, o olhar de Afrodite. Por mais que as justificativas do sueco fossem convincentes e por mais verdadeiro que fossem os sentimentos do seu amante, não aceitava tranqüilamente – e nunca aceitaria – a recusa de Afrodite em ver Dante.

– O senhor queria falar conosco... o Dante... Ele já conseguiu a medula, doutor?

– Na verdade, não. Chamei vocês dois aqui porque, infelizmente, o quadro de Dante se agravou muito. O senhor – ele apontou para Máscara da Morte – que está sempre com o menino, sabe do que estou falando. Ele não reage aos medicamentos. Quando nós o trouxemos para cá, ele já reagia à medicação de maneira discreta, mas reagia. Agora ele simplesmente não apresenta reação ao que ministramos. Ele também já não se alimenta normalmente e está sendo mantido com o soro. O soro é uma via alimentar segura, um homem pode ser sustentado com soro por longos períodos, mas a questão é o impacto psicológico que isso tem sobre o paciente, tanto mais em um paciente já tão debilitado como o menino Dante.

– Mas doutor, eu estive com ele hoje e... Ele estava fraco, mas estava bem.

– Ele não está bem, Horemheb. Ele não está há semanas. Ele tem uma pneumonia no pulmão esquerdo e não dá sinais de melhora. Eu posso dizer, com toda a certeza, que se eu tivesse hoje, aqui no hospital, uma medula compatível, eu não recomendaria o transplante porque ele não ia suportar uma intervenção cirúrgica.

– Então, por que o senhor nos chamou? – perguntou Afrodite, já com medo da resposta.

– A equipe e eu concordamos que, infelizmente, Dante talvez não sobreviva a mais esta noite. Eu gostaria que vocês estivessem aqui.

Horemheb ficou lívido. Levantou-se bruscamente.

– O senhor me diz com essa cara que meu filho vai morrer hoje?

– Sinto muito, mas o senhor, melhor que ninguém, sabe as condições de saúde da criança. É como se... Como se o menino tivesse desistido de lutar. Nada o anima, nenhum estímulo, nenhuma reação. Tentamos de tudo mas ele não reagiu nem aos medicamentos mais modernos.

O cavaleiro olhou nos olhos de Afrodite furiosamente e replicou, para o médico.

– E quando foi que ele começou a piorar? Quando, doutor?

O médico estendeu uma pasta.

– Aqui há estatísticas que detalhamos sobre o caso do menino. Ele é um caso único. Uma criança dessa idade e com a saúde que ele tinha, devia ter reagido bem melhor aos medicamentos. Como o senhor vê, até determinado momento do tratamento, ele teve reações, pequenas, é verdade, mas contínuas, aos remédios. Ele até teve uma reação satisfatória à quimioterapia. Quando os efeitos da quimio se tornaram mais evidentes ele sentiu o baque. É natural que os efeitos visíveis da quimioterapia abalem a disposição do paciente: a queda dos cabelos, dos pêlos do corpo, alterações na pele, os enjôos, a fraqueza. Mas as reações de Dante foram muito, muito críticas.

– Alguma coisa que o senhor ache que tenha sido decisiva? – a mágoa dos olhos de Horemheb era insuportável.

– A intervenção dos pais biológicos foi desastrosa, eu diria. Mas nada o abalou mais do que... O senhor Vündhegen ter se recusado a voltar para ver a criança com certeza abalou a saúde dele.

– Mas, doutor eu...

– Desculpe senhor Vündhegen, não há julgamento nenhum da minha parte, eu não conheço a vida pessoal dos meus pacientes e seus parentes. Mas objetivamente falando, apenas dos resultados, desde que o senhor deixou de visitar a criança, o comportamento dele se alterou sensivelmente. Ele ficou calado, chorou muito, começou a falar de morte com os enfermeiros. É óbvio que para um menino de doze anos o afastamento de um dos pais em um momento de fragilidade é algo aterrorizador.

– Satisfeito, Dite? Viu o que você fez? – Horemheb chorava. – Você conseguiu! Vai matar nosso filho! Já estava matando ele aos poucos! Por infelicidade minha, o menino adora você!

– Senhores... – o médico os interrompeu com sua voz de veludo, tranqüila e apática. – Eu os chamei aqui só para informá-los do quadro do menino. Já sabem. Por favor, não discutam. Já não fará nenhum bem pela criança.

Os dois saíram do consultório. Máscara da Morte não olhou para Afrodite, apenas resmungou, enxugando as lágrimas com as costas das mãos.

– Eu vou ficar com meu filho. Não me interessa se ele está feio, fraco, enjoado. Eu quero ficar com ele.

– Hô, não faz assim comigo. Você sabe que eu amo nosso menino...

– Eu sei que você é egoísta. Você só pensa em você! Você nunca pensa em mim? Eu já perdi um filho! Como acha que eu me sinto? Mas você nem liga! Você só pensa em você! Você sofre vendo o menino doente, sofre vendo ele ficar sem cabelo, mas e ele? Você não pensa nele? Ele está se sentindo sozinho, abandonado! Ele pergunta por você todos os dias!

– Hô...

– Estou indo comer alguma coisa para ficar direto com ele. Pode ir para casa. Para sua televisão, seus livros e seu jardim. Eu vou ficar com meu filho.

Virou as costas antes que Peixes pudesse responder.

O sueco jogou-se sobre um dos bancos do belo hospital. Chorou, chorou, chorou, mas em nenhum canto da sua alma dolorida encontrou consolo ou perdão. Foi monstruoso o que fizera com seu filho. Era sincero que ele não suportava a dor de ver a transformação de seu menino forte, orgulhoso, sadio naquela criança fraca, magra, de olhos opacos, sem cabelos, com sobrancelhas falhadas. Mas devia ter feito força, engolido sua fraqueza e ficado ao lado de Dante como Máscara da Morte o fizera.

Sentiu-se tentado a ver o menino pela fresta da porta. "Só um pouco", ele pensou para si mesmo. Se Dante não o visse, tudo daria certo.

Caminhou até o quarto que já não visitava há tempos. Abriu a porta delicadamente e espiou dentro da escuridão. O corpinho pequeno na cama nem parecia seu Dante, tão robusto.

Estranhamente, sentiu-se atraído para perto da cama do filho. Caminhou pé ante pé,com receio de acordar o menino. Máscara da Morte havia lhe dito que Dante tinha de ser sedado para dormir, caso contrário, acordava a noite inteira, incomodado pelas reações da quimio ou mesmo pelo atritos dos tubos de soro em seu braço.

Aproximou-se da cama, o coração aos pulos, apertado. Dante Rafael dormia. A cabeça sem nenhum fio de cabelo reluzia branquíssima. O pisciano passou os dedos pela pele já sem nenhum traço do bronzeado constante que o menino exibia antes de ficar doente. Os olhos verdes abriram-se para ele, mas não havia nenhuma surpresa ou espanto neles.

– É você, Mozinho? Você veio? – a voz infantil sussurrou.

– Vim, Dante...

A mão arroxeada do menino, por onde saía, debaixo do esparadrapo, o tubo de soro, procurou o rosto do pai.

– Mas você é sonho, não é?

– Não, Dantezinho... Você está acordado. Eu estou mesmo aqui.

Só então o menino percebeu que aquele não era um dos seus costumeiros sonhos em que Afrodite o visitava. Levantou-se ligeiramente na cama, em choque, segurou o rosto do pai entre os dedinhos gelados – e Afrodite se lembrou de como eles eram quentes no passado.

– Rosinha... Rosinha! É você mesmo! Você veio! – ele atirou-se nos braços do pai que o recebeu junto ao peito. Afrodite sentiu tudo dentro dele desmanchar, aquecer, expandir. Era seu filho – seu amor. Lembrou-se de quando Máscara da Morte arranjara para que ele o encontrasse em uma caixa de papelão e a primeira vez que aconchegou o embrulhinho cor de rosa no seu peito. Seu amor. A razão de todo o pôr do sol e de cada uma das estrelas do céu. Seu filho.

– Sou eu, Dantezinho... Eu mesmo... Seu Afrodite.

– Pai... Pai... – o menino tremia violentamente nos braços do sueco. – Desculpa, pai, desculpa! Eu não queria... Eu juro que não queria ficar doente, eu juro! Eu juro! Eu... Quando você mandava passar o protetor solar, lembra? Eu dizia que não usava só para te irritar, mas eu passava sempre, sempre... Depois que me molhava, usava de novo, os meninos riam de mim mas eu não ligava, pai... Eu juro que eu não sabia! Eu não tive culpa... Eu não queria... Não queria ficar doente... Eu sei que meu sangue é fraco, é ruim, ruim que nem o dos meus pais de sangue... Eu queria tanto ser seu filho de verdade! Mas... eu não sabia! Se eu soubesse, eu não... Desculpa, papai, desculpa...

– Filho, não foi culpa sua, não foi culpa de ninguém...

– Papai... Papai... Promete uma coisa, promete para mim? – ele tornou a segurar o rosto do pai entre as mãos trêmulas. Afrodite já não sabia mais o que fazer para acalmar o menino.

– Prometo qualquer coisa, filho.

– Pai... Paizinho... Quando eu morrer e você e o velho Máscara arrumarem um outro menino, você jura pai, jura, que você não vai tirar a foto minha que está na estante da sala? Eu não ligo se você trocar por uma moldura mais feia como meu pai fez com a foto do mestre Shura... Mas eu... Não ligo... Promete que ela vai ficar lá, pai? Promete? Se o senhor tiver preguiça de limpar todo dia e ela ficar com poeira, eu nem ligo, mas jura que você não vai jogar fora, jura, papai? Jura?

– Dante... – gemeu o pisciano com a cabeça da criança enterrada no peito. – Nunca vai haver outro menino...

– Pai... Pai... Não me deixa sozinho mais... Por favor...

– Fica calmo, Dante... Eu vou ficar com você hoje.

– Jura, pai? Você vai ficar hoje?

– Vou... Só deixa eu apanhar a cadeira e...

Ao ver que Afrodite fez menção de se mover, Dante agarrou-se nele mais firme e gemeu alto um apavorado "não!".

– Dante, eu...

– Não, pai... Não vai embora... Não vai... – balbuciou a criança engasgada com os soluços.

– Mas, Dante, eu só vou apanhar uma cadeira, eu volto logo...

– Não, não, pai... Não vai não...

– Filho, eu já disse que volto...

– Você também disse que voltava da última vez... E não voltou... – o menino secou com a gola do avental que usava os olhos molhados. – Fica, pai... Agora não vai demorar mesmo...

– O que não vai demorar, Dante?

– Eu vou morrer. Eu sei. Eu ouvi o médico falar, por isso você veio...

– Dante, criança... Você não vai morrer... Eu não vou deixar, não vou!

– Papai... Você já me disse – morrer não dói...

– Mas você não vai morrer, Dante...

– Vou sim, Mozinho... Mas... Não vai ser ruim. Você vai ver... Aí nem você nem meu pai vão mais ter que vir aqui... Hospital é ruim... O cheiro é ruim.

– O hospital é ruim, Dante... Por isso vamos sair daqui juntos...

– Será, pai?

– Vamos sim, filho... Vamos sim... Você sabe que eu te amo... Te amo, meu filho, te amo...

– Você gosta de mim, Rosinha? Mas por que? Eu sou seu filho de mentirinha, olha... – estendeu o braço roxo das picadas em busca da veia. – Meu sangue não é como seu... E eu tô feio... Fraco... Eu não pareço nem com você nem com o velho Máscara... Entendeu? Agora você não precisa mais ficar comigo...

– Você não é um cachorrinho, Dante! Você não é 'filho de mentirinha'! Se você tivesse nascido de mim seria tão meu filho como é agora! Seu sangue é forte e bom, você é forte e bom! Você é meu. Você é Dante, não é o maldito do teu pai de sangue nem a puta da mulher que te pôs no mundo. Você é você. É puro, lindo, doce... Você é meu. E se parece comigo, porque fui eu quem te criou. Entende? Entendeu? Você é meu filho. Meu único filho. Nada no mundo vale mais do que você. Nenhuma criança no mundo é melhor do que você. Pode haver meninas perfeitinhas, garotos inteligente e de cabelos azuis, mas não quero essas crianças, eu não quero nada, o amor me cegou – porque eu só vejo você. Todo o meu coração, os meus olhos e meus ouvidos... Eu só quero a sua voz, só a sua voz, só o seu rostinho e seu jeitinho. Se não for meu Dante, não serve mais ninguém. Insubstituível. Você é único. É meu. Não ouse se entregar! Não ouse!

O menino o encarava com os olhos brilhando. Colou seus lábios infantis ressecados nos lábios macios, úmidos e carnudos de Afrodite. Beijou-o ternamente.

– Obrigado, pai.

– Obrigado, menino?

– Porque você gosta de mim.

– Me agradece lutando, neném... Luta!

– Eu vou lutar por você.

– Faça por mim. Vou ficar destroçado se você me deixar.

– Eu nunca vou te deixar, pai... Nunca...

– Promete?

– Prometo sim.

– Seja forte... Seja forte...

– Eu sou forte se você fica comigo.

– Eu nunca vou te deixar, meu filho. Nunca mais.

— # —

Algumas horas depois

– Doutor, eu sei que Dante não está me perfeitas condições, mas... Não podemos fazer nada?

– Não posso fazer nada se Dante não reage.

– Afrodite está com ele... Ele está... Feliz, eu acho...

– Que bom, será melhor assim, ao menos o manterá calmo... Ele tem poder, não tem?

– Tem. Dite tem poder. O Dante... Ele... Ele brilha quando Afrodite está por perto... Eu sei que meu filho me ama. De uma maneira que não é nem comum... Eu sei disso. Mas com o Dite é diferente... Dante fica maravilhado com ele... É um deslumbramento que eu nunca vi na vida...

– É amor. – o médico deu um sorriso suave. Via pacientes morrendo todos os dias. Mas nunca era fácil ver uma família se esfacelar. – Eles se amam.

– Doutor... Acha mesmo que meu filho vai... O senhor sabe...

– É bem possível. A pneumonia não foi controlada, ele está respirando com dificuldade. A febre não cede e ele está fraco.

– Acha que... Poderíamos levar o Dante para casa?

– Como?

– Se o senhor acha que... Não há mais... O que esperar... Ao menos, deixe... Que ele vá, que meu filho vá para a casa dele... Ele está cansado desse hospital... Se... Na nossa casa ele vai... Se sentir um pouquinho melhor...

– Isso é muito irregular. Mas, como venho acompanhando o caso e sei do que se trata... Vou pedir ao diretor que abra uma exceção. Vou liberar o menino. Se os responsáveis legais assinarem um termo de responsabilidade, acho que podemos liberar o Dante.

– Por favor, faça isso. Eu vou... Passar na capela e... Depois vou voltar para ficar com ele...

– Se eu tiver novidades, eu vou até lá e os aviso.

– Obrigado, doutor. Por tudo que tentou fazer pelo Dante.

— # —

– Filho... O Hô chegou.

– Oi, pai.

– Oi, meu filho. – beijou o menino na testa. Sua expressão pesou ao sentir a testa do menino que ardia em febre. – Está sentindo alguma coisa?

– Não. Só estou com frio...

– Está bem.

– Hô, fica com ele? Eu preciso dar uma saidinha.

– Pai... Pai... onde você vai? Fica aqui... Fica... – a criança começou a chorar.

Afrodite segurou o rosto do menino entre as mãos.

– Escuta, Dante. Eu volto já. Promessa de Cavaleiro de Ouro para Cavaleiro de Ouro. Combinado?

O menino beijou as mãos de Afrodite.

– Eu espero você, paizinho.

– Eu volto logo.

— # —

– Doutor?

– O diretor não gostou nada da idéia, mas eu o convenci... Vocês podem levar o menino para casa. Eu já trouxe os papéis que vocês vão ter de assinar se responsabilizando pela decisão de retirá-lo daqui.

– Graças a Zeus... Meu filho vai voltar para casa...

– Ele está dormindo?

– Cochilou um pouquinho.

– E o senhor Vündhegen?

– Deu uma saída, mas já deve estar voltando.

Foi só falar nisso que o sueco entrou, sem fazer muito barulho, no quarto. Seu rosto estava estranhamento empalidecido e assustado.

– Você está bem, Dite?

– Estou sim. Só estou cansado. E o Dante?

– Cochilou. Vamos levar ele para casa.

– Vamos? – perguntou surpreso.

– Ele... O doutor acha que... Já não importa...

– Entendi... Mas... Vai ser melhor para ele, não? Não vai, Hô?

– Vai sim, Dite. Vai sim.

– Vocês precisam esperar uma ambulância. Para levar o Dante na maca. – informou o médico.

– Não precisa, nós o levamos de carro, no colo.

– Mas...

– Nós vamos fazer direito.

– Então está bem.

O médico saiu do quarto com os papéis assinados.

Máscara da Morte soltou um por um dos fios e amarras que prendiam Dante à cama. Pegou o filho encolhido e ainda sonolento no colo e o pôs no colo de Afrodite.

– Segura ele, Dite. Tá firme?

– Claro, o que está pensando em fazer? – perguntou, prendendo o menino ao seu peito com mais força, enrolado nas mantas verde claro.

– Vou pôr você no meu colo. Estou meio velho, mas ainda consigo correr na velocidade da luz...

– Cavaleiro, você só melhora com a idade.

– Segura o menino. – Câncer riu. – Eu seguro você, Peixes.

– Eu não tenho dúvidas...

— # —

– E aí? Gostou da viagem?

– Despenteou meu cabelo... Mas pelo menos o Dante não acordou...

– Você cobriu ele direito? O vento estava frio.

– Eu sei cuidar do meu filho, Máscara da Morte...

– Estou com medo, Afrodite... – Máscara da Morte abria as portas da casa. Só quando estava ali é que pensou que, talvez, aquela não tivesse sido a melhor das idéias.

– Eu também, mas... Agora está feito. Nosso filho está em casa.

– O que vamos fazer com ele?

– Ele ainda está com febre... Será que ele bebe um suco se eu fizer?

– Talvez... Vamos dar um banho nele, para ver se abaixa um pouco a febre... Tirar esse cheiro de éter de hospital dele... Essa bata de doente, colocar um pijama... E... Seja como os Deuses quiserem.

– Vamos poder ninar nosso menininho outra vez, Hô...

– Vai dormir como gosta: na nossa cama...

– Mas dá até pena de acordar ele, Hô... Dorme que nem anjo...

– Acorda... Vai ser melhor...Ele vai gostar...

­– Benzinho? – cobriu a testa da criança de beijos – Benzinho... Estamos em casa... Acorda, benzinho...

O menino sonolento coçou os olhos. Ao abri-los, em genuíno espanto, viu que estava em casa. Sua casa.

– Pai... É a minha casa?

– É... Agora vamos cuidar de você aqui. Você só vai voltar para o hospital para fazer quimio e para receber sua medula.

– Pai... Pai... Eu...

– Você precisa ajudar a gente, Dante... Você precisa comer e ficar calminho.

– Eu prometo que ajudo, pai... Se eu puder ficar com vocês... Eu faço tudo.

– Vamos tomar banho na banheira da Rosinha?

– Vamos!

Afrodite encheu a banheira hidromassagem enorme que mantinha em seu banheiro. Era um enorme quadrado de azulejos branquíssimos, com alguns degraus internos que funcionavam como bancos. A água quente perfumou-se com o odor de rosas característico do seu dono e a superfície da água cobriu-se de pétalas azuis. Horemheb tirou as roupas de Dante e o colocou, sentado, em um dos imensos degraus da sofisticada hidromassagem.

– Está boa a água, filho?

– Está.

– Está frio, Dante?

– Não, a água está quentinha...

– Quer a bucha de algas ou a espuminha?

– A bucha.

– Deixa que eu te ajudo, Dante... Você é bruto que nem seu pai, vai acabar machucando...

– Eu sou bruto? – resmungou Máscara da Morte entrando na água.

– Que sunguinha é essa, Hô?

– A que você me deu...

– Eu nunca te dei uma sunga vermelha...

– Deu sim, pai. No natal passado, só que ele não usou.

– E por está usando agora?

– Foi a primeira coisa que eu achei na gaveta ali do closet.

Os olhos acusadores e ciumentos de Dite pousaram sobre a mal explicada sunga vermelha. Deu um muxoxo.

– Está bem, depois conversamos... Vamos, Dantezinho... Você quer o sabonete líquido de gérmen de trigo com mel ou o de óleo de amêndoas doces com camomila e aloe vera?

– O de amêndoas.

Afrodite começou a esfregar as costas da criança com a bucha suavemente, o menino apoiou a cabeça no ombro nu do pisciano.

– Está doendo, neném?

– Não, pai.

Horemheb esfregava os pés do menino com a espuma. Quando terminou, entregou ao menino a espuma limpa com mais uma porção de sabonete líquido.

– Vai, moleque. Esfrega as 'partes' com isso aí.

– Pai, que nojo... Você vai ficar olhando?

– Anda, Dante... Já cansei de ver essa sua bunda branca... Troquei suas fraldas, lembra?

– Ah, pai, mas agora eu sou grande...

– Você não toma banho na frente dos outros garotos no vestiário?

– Mas é diferente! Vocês são meus pais...

– Ai, meus sais, Hô... vamos ficar de costas logo...

– Ridículo... Não tem nada aí que a gente já não esteja cansado de olhar... Mas eu fico de costas...

Afrodite o abraçou por trás, rindo.

– Não dê as costas assim para um homem, Hô... É perigoso...

– Respeita a criança, viu? – debochou Horemheb.

– É, me respeita! – resmungou Dante.

– Essa sunguinha vermelha deixa a sua bundinha tão arrebitada, Hô...

– O que deixa a minha bunda arrebitada são as sessões de musculação diárias.

– Mmm... Que homem saudável!

– Pára, pai! – gemeu o menino. – Eu já acabei!

– Que demora, hein?

– Minhas partes são grandes...

– Olha só... Convencido...

– Tá bom, Dante?

– Só faltava o meu cabelo... Mas agora não tenho mais cabelo...

Afrodite olhou para Horemheb. O sueco sentou-se do lado do menino, abraçou o corpinho magro.

– Quando você veio para mim, você tinha a cabeça coberta de fiozinhos cor de cenoura, tão bonitos... Você era cabeludo... Não era, Hô?

– Era... Cabeludinho.

– Daí, depois de uma semana seu cabelo caiu todo! Eu chorei tanto! Achei que era minha culpa... Seu cabelo caiu, você ficou com a cabeça pelada assim como você está agora... – ele beijou a cabeça nua do menino, acariciando a pele que cheirava a amêndoas. – Mas depois... Depois o seu cabelo cresceu... E ficou cheio de cachinhos de anjo... Cachos cor de laranja... Tão bonito... Um anjo ruivo. O meu anjo ruivo.

– Seu cabelo vai crescer de novo, Dante...

– Vai, pai?

– Vai. E mesmo assim, de cabeça pelada, você é lindo. Você é o menino mais lindo do mundo... Sem cabelo, seus olhos parecem maiores... Você tem olhos cor de esmeralda... – Afrodite puxou o menino e sentou-o no seu colo.

– Eu queria que o meu cabelo fosse que nem o seu, Mozinho... Grande, cacheado, com cor de água do mar...

– Cor de água do mar, só pintando... Mas grande e cacheado... É só você ter paciência, filho. Vem...Vamos levantar... Ajuda, Hô, pega a toalha. Eu te enxugo. Que pijama você quer usar?

– O verde com desenho de porquinho.

– Pega para ele, Hô.

Horemheb saiu para o quarto de Dante e voltou com o pijama verde claro com caras de porquinhos. Era um pijama roto, velho, que Dante usava obsessivamente. Tinha luvinhas para as mãos ( que já tinham desaparecido ) e os pés eram integrados com a pezeira, como as dos macacões de bebê.

– Quer que eu te vista, anjo?

– Não, eu consigo, pai.

– Então se veste.

Ambos olhavam o garoto lutar contra o algodão velho do pijama.

– Tô pronto, pai.

– Passa talco nele, Hô. Na cabeça e nos pulsos também... para não roçar na cama e machucar, os pulsos já estão todos vermelhos das ataduras do soro.

Horemheb fez questão de carregar a criança no colo até o quarto, mesmo com as reclamações do moleque que jurava que podia andar sozinho. Mas o velho Máscara da Morte estava gozando a sua atuação de 'papai', tratando Dante como se ele ainda tivesse dois anos e precisasse dele para tudo. Começou a pensar que sentia saudades do tempo em que ele era só um bebezinho.

Acomodou-o na cama, como de habitual, entre ele e Afrodite. Dante Rafael parecia deslumbrado. Enrolou-se no edredom de recheio de penas de ganso de Afrodite, ronronando como um gato.

– Se sente melhor, meu filho?

– Eu tô tão feliz de estar aqui, pai... – os olhos verdes fizeram a ronda pelo quarto inteiro que conhecia tão bem. – Eu achei que nunca mais ia entrar aqui...

– Essa é sua casa, ela sempre vai ser sua, Dante... Tudo aqui é seu. Você será sempre bem vindo. E esses velhos cavaleiros aqui sempre vão estar te esperando.

– E por que você já está deitando assim? – replicou Afrodite, atrás do biombo perto do closet, vestindo sua calça de pijama, da mais pura seda.

– Ué, não posso dormir, pai?

– Pode. Mas você vai dormir no colinho... Qual é graça de se ser velho e dormir nas cama dos pais se não for de colinho?

– Mas pai, para eu dormir de colinho, você tem que dormir sentado, como quando eu era neném e você dormia na cadeira de balanço.

– E qual o problema de dormir um mísera noitezinha sentado?

– Pai, você vai ficar com dor nas costas.

– Imagina... – Afrodite riu malicioso. – Minhas costas estão acostumadas com peso, não é, Hô?

– É, isso é verdade, filho.

– Mmm... Que nojo... Vocês não param, né?

– Como reclama... – Afrodite se sentou na cama, se ajeitando para receber o menino sentado no seu colo. Ajeitou-o, a cabeça pelada ajustou-se perfeitamente contra o pescoço do pisciano, que empurrou as pernas do menino para o colo de Horemheb, que também sentou-se ao seu lado. O sueco apertou o menino nos braços. ­– Tá bom assim?

– Ahã. Você é macio e cheiroso, Mozinho. Como rosas bebês.

– Toda rosa tem espinho.

– Seu espinho é sua língua, pai. Você é cruel.

– Ai, que falso! Ouviu isso, Hô?

– Tão pequeno e já tão esperto...

As mãos firmes, curtas e fortes de Máscara da Morte enlaçaram os dedos brancos e finos de Afrodite e, juntas assim, repousaram sobre o peito de Dante. Horemheb não tinha esquecido do porque Dante estava ali: o médico acreditava que ele não viveria muito mais.

Estava ficando velho, o canceriano. Ele já tinha visto muitas coisas, feito muitas coisas, cometido crimes, presenciado injustiças. O mundo era um lugar injusto – um lugar onde um menino de doze anos podia agonizar por meses com uma doença daquelas, em que ele podia ser martirizado por pessoas como os pais biológicos e que dependia meramente da sorte para encontrar um doador e viver. Um criança que ele criou com tanto amor, que ele e Afrodite adotaram como uma âncora, como a última esperança de se redimirem e de serem bons e de amarem. Então, o menino foi o alvo da vingança dos deuses. Tudo que haviam feito de mau estava se voltando, não contra eles, mas contra o seu filho.

Era um mundo cruel. E Máscara da Morte achava tremendamente irônico que, num passado não muito distante, ele mesmo tivesse sido um agente de crueldade.

– Hô... Você ainda tem esperança? – murmurou Afrodite, percebendo que Dante já cochilava.

– Não sei porque... Mas tenho...

– Eu sinto que... Talvez... A gente ainda posso ver nosso menino crescer...

– Será, Dite?

– Eu sinto que ainda vou ver o Dante de Armadura de Ouro... Cavaleiro...

– Eu também, Dite. Zeus há de nos dar forças para vermos nosso filho crescido.

— # —

– Dite...

– Huh?

– Ele está vivo... Ouve... O coraçãozinho batendo...

– Ele... Ele está vivo... Nosso neném...

– Vivo. Quentinho. Seguro. E todo nosso – outra vez.

– Por quanto tempo?

– Se depender de mim, Horemheb... Nem mesmo Athena de báculo na mão arranca mais meu filho de mim. Já chega. Primeiro, doença. Depois, pais biológicos. Agora era só o que estava me faltando, a morte querer paquerar meu filho de doze aninhos... Doze aninhos, Hô... Uma criança... Por que não nós? Já somos velhos. Por que nosso menino? Não... Ele não...

Tanto ficaram namorando o menino, alisando bochechas e beijando a testa, que ele logo acordou. Abriu os olhos lentamente, encarando Máscara da Morte e Afrodite que admiravam o despertar do pequeno ruivo. Dante adorava ser admirado pelos pais, quando sabiam que estavam olhando, ficava todo prosa, exibia-se e fazia 'coisas fofas' porque Afrodite gostava. Dessa vez não foi diferente – estava todo prosa.

– Pai... Bom dia...

– Bom dia, meu amor. Bom dia! Como é que você está se sentindo?

– Muito bem.

– Bem?

– Eu tô com fome.

– Fome? Fome?

Afrodite estava eufórico. – Eu... Eu.. Eu vou fazer o seu café, meu anjo...

– Vai mesmo, Mozinho?

– Vou sim. Vou fazer o seu café. O que você quer comer?

– Mm... Eu bem queria comer açaí. Tio Deba trouxe mais?

– Trouxe... Ele nunca deixa de trazer as comidinhas que você gosta... Dá para fazer o açaí com o guaraná e tem até banana para bater junto e ficar docinho...

– Xi, pai, faz tempo que eu nem como banana...

– Você quer, meu amor?

– Quero...

– Dite... – Máscara da Morte se levantou da cama – Eu vou fazer o café... Fica com ele mais um pouco na cama.

– Obrigado, meu amor... Vou ficar um pouco mais com o anjinho...

– Pai... Pai... Não me leva mais pro hospital não... por favor...

– Anjinho, eu já disse que...

– Pai, se eu tiver de morrer, deixa... Mas não me leva de novo pra lá, não me deixa mais sozinho, tá? Eu quero ficar aqui...

– Psss... Você não vai morrer... E agora você está seguro aqui, com seus pais. Ninguém vai tirar você daqui, amorzinho, ninguém...

– Mesmo?

– Verdade.

– Então, mais tarde a gente pode ver televisão?

– Pode. Eu vou mandar trazer uns dvds para a gente assistir juntinho.

– Oba!

– Mas antes...

– Antes o quê, Mozinho?

– Eu tô morrendo de saudades do Hô... Será que você fica chateado se a gente ficar um... tempinho aqui no quarto? Depois do café?

– Não ligo não, pai. Eu acho até bom... O Hô me disse que um homem precisa fazer isso no mínimo sete vezes por semana, no mínimo uma vez por dia, senão ele fica maluco.

– Uma vez por dia? Ele especificou com quem o homem devia fazer isso?

– Com o namorado, claro, porque as vadias estão cheias de doenças que fazem o pinto cair, foi o que ele me disse.

– Isso mesmo. Homem que trai, o pinto murcha. E depois ele cai.

– Eu entendi, pai.

– Vamos pra cozinha agora, dorminhoco?

– Ué, vamos, mas primeiro a gente tem que tomar banho e escovar os dentes, não é?

– Nossa, que garoto bom! Lembra de tudo que os pais ensinam, isso mesmo... Assim que acorda, escova os dentes.

– É, assim a gente dá tempo pro atrapalhado do Hô terminar meu açaí.

— # —

Máscara da Morte preparava o açaí com um sorriso nos lábios. Sim – era verdade. Era seu moleque, estava vivo e contente, com fome. Era como nos velhos tempos, acordar tarde nos finais de semana, preparar o café do seu pisciano e do filho, fazer amor com seu pisciano enquanto o moleque ia correndo para a praia. Voltava só na hora de comer de novo, todo molhado, bronzeado, berrando aos quatro ventos quantas corridas ele tinha ganho dos meninos da baixa.

Seus pensamentos foram interrompidos por Dante, já de túnica e Afrodite, que saíam do quarto fazendo barulho. Estendeu a tigela com a papa cor púrpura.

– Pra você, moleque.

– Mmm, Hô. – Afrodite lançou ou braços ao redor do pescoço do amante. – E para mim? Eu não ganho nada?

– Para você, beijo.

– Boa barganha. Mas beijo não mata fome...

– Bingo.

O canceriano olhou, por cima dos ombros do seu pisciano, o garoto entulhar colheradas enormes de açaí.

– Filho, tá bom?

– Tá. Tá docinho, pai...

– Você adora doce, não é, formiguinha? – o pisciano passou um paninho molhado no queixo do menino, limpando traços de açaí que escorriam. – Come devagar, filho.

– Eu como devagar, pai.

– Come... Estou vendo... Vai se engasgar com a aveia, já falei, cuidado, Dante...

– Ai, pai, deixa eu comer.

– Filho... Eu... Estou tão feliz... Eu... Eu e o Hô, a gente vai dar um... Pulinho lá no quarto, tá?

O menino riu, cúmplice. Ele entendia muito bem de que pulinho Afrodite estava falando.

– Mas se você sentir alguma coisa, qualquer coisa, mesmo que você não ache importante, chame a gente, ok, moleque? Chute a porta e a gente sai. – recomendou Máscara da Morte, tentando parecer sério com Afrodite pendurado em seus pescoço.

– Tá bom, Mozão, eu chamo.

– Chama mesmo, viu, neném? A gente volta logo.

– Não precisa correr, pai. Eu tô bem.

– Tudo bem...

— # —

– Alô?

– Dante? É você?

– Quem é que está falando?

– Sou eu, o seu médico, não se lembra mais da minha voz? Vou ficar magoado, hein?

– Oi, doutor! Não reconheci você, o senhor tem uma voz bonitona no telefone!

– Muito obrigado, estou vendo que você está melhor.

– Tô mesmo. Eu te disse, doutor, tudo que eu precisava era ficar na minha casa com meus pais.

– Onde estão eles?

– No quarto, namorando.

– Você está sozinho?

– Tô tomando café.

– Você já está comendo!

– Já, açaí com banana e guaraná. É bom. Era pra ter granola, mas a minha acabou. Vou ter que esperar o tio Aldebaram voltar no Brasil e comprar pra mim.

– Eu gostaria de falar com seus pais.

– Peraí...

Afrodite e Máscara da Morte já saíam do quarto, ressabiados quando ouviram o telefone tocar e a voz de Dante na cozinha.

– Quem é, neném?

– Meu médico, quer falar com vocês. – ele os olhou desconfiado. – Vocês não vão me mandar de volta não, né?

– Me dá o telefone, neném...

– Alô, doutor, é o Sr. Vündhegen.

Afrodite pegou o telefone, mas não pode deixar de rir, ao ver Máscara da Morte passeando pela cozinha com o menino trepado nas costas dele, o canceriano segurando a tigela de açaí, o menino de colher na mão, devorando o creme violeta.

Máscara da Morte o observava de rabo de olho, ouvindo os "hã, ahã" que o sueco fazia ao telefone. De repente, ele viu Afrodite ficar pálido, quase azul como seus próprios cabelos, apoiar-se na bancada, emudecido por algo que fora dito pelo médico. O telefone escorregou dos dedos dele e caiu pesadamente no chão. Horemheb imediatamente pôs o menino sentado na bancada e apanhou o telefone, a outra mão tentando reanimar o pisciano, imaginando qual seria a tragédia que o fez perder a fala.

– Alô? Alô?

– Doutor, sou eu, Horemheb.

– Senhor Al' Hatsur.

– O que houve?

– Falava ao senhor Vündhegen que nós encontramos um doador compatível com seu filho.

– C-Como?

– O pai do Senhor Vündhegen nos telefonou ontem a noite. Os exames feitos no cordão umbilical da sobrinha do senhor Axel deram um resultado de compatibilidade satisfatória. Assim que a menina nascer, vamos poder coletar o material. Será um tempo providencial para que Dante se fortaleça um pouco para a dose de quimioterapia a que ele será exposto por conta da cirurgia. Mas estivemos conversando e talvez haja uma boa chance de salvar o seu filho! Se ele estiver em condições, logo poderá receber a medula.

Máscara da Morte continuou sem fala. Diante de seus olhos, Afrodite, também mudo, com Dante em seu colo. Balbuciou apenas o que poderia, o que melhor conseguiu no estado de choque e júbilo em que estava.

– S-Sim... Obrigado, doutor...

A voz chorosa do menino, vendo a comoção dos pais, despertou ambos do torpor:

– Pai... Não é pra me levar de volta não, né? Eu não quero... Diz que vocês não vão mais me deixar lá sozinho, por favor?

– Neném... Neném... Eles... Eles acharam uma medula pra você, meu amor... Eles acharam...

– Verdade? Jura?

– Juro, meu amor, eu juro... Você vai ficar bom... Viu? Eu não prometi?

– Prometeu, Rosinha... Prometeu...

– Agora acabou, meu filho, Agora vai dar tudo, tudo certo.

– Pai, eu vou ter uma medula? Uma medula só pra mim?

– A filha do meu irmão, neném...

– E eu vou ter seu sangue, Mozinho?

–Vai, amor. Vai sim. Mas isso não tem nenhuma importância... Porque você não tem meu sangue, mas tem meu coração...

– Ih, Mozinho... Que coisa mais brega...

– Você é abusado, menino... Você puxou ao Horemheb.

– A mim não, quem tem espinho na língua é você, Rosa.

– Nosso filho, Hô. Nosso filho está salvo.

– Graças aos deuses, Dite... Nosso filho está salvo. Salvo...

— # —

Gente, muitíssimo obrigado por todos os reviews. Eu juro que estou tentando respondê-los via site, o que me facilitou muito. Quem não pode fazer um review assinado, receberá também sua resposta. Depois desse sábado, estarei de 'férias' no trabalho, então poderei fazer isso com calma e colocar em dia minha leituras de fics, mais as respostas para vocês. Eu não esqueço de ninguém, viu? E estou muito contente, contente mesmo com o feedback que eu tenho recebido. É das fics que mais me deixou feliz em termos de reviews. OBRIGADA MESMO. Um beijinho especial, dessa vez, para a Litha-chan, que sempre lê e se emociona e assim mesmo não larga esse sofrimento! Eita mulherzinha corajosa! Obrigado, querida. De coração!