Enquanto Você Dormia

Capítulo 4: Uma Boa Tarde

Thora terminou seu turno no bar e foi logo para o hospital, correu o máximo que pode, mas os Weasley já haviam ido. Por mais que os quisesse ver, Thora preferiu ficar sozinha mesmo com Carlinhos, sentia-se culpada como se tivesse o traído, depois da cena entre ela e o primogênito, Gui. Fora um lapso, mas ainda assim pecaminoso. Ela passou o resto da noite pensando naquele sorriso.

- Se você pudesse sorrir para mim, para eu me apaixonar mais ainda por você... – Ela comentou baixinho. – Seria muito bom. Assim eu não tenha nenhuma recaída para os sorrisos do seu irmão.

Ela afagou os cabelos ruivos dele:

- Passei o "natal" com sua família, eles são tão amáveis. Você tem muita sorte de tê-los, já disse? Eles são tão animados e amigos uns dos outros. Imagino como sua infância deve ter sido feliz ao lado deles.

Thora acariciou o suéter Weasley que vestia.

- Sua mãe fez esse suéter. São ótimos, olhe só, tem a inicial de meu nome, T. Parece que todos vocês ganham um a cada ano, deve ser muito bom. Mas é uma pena que talvez eu não possa usá-lo pensando que sou da família.

Thora desviou os olhos e ficou olhando o mural onde os Weasley pregavam mensagens de melhoras e coisas do tipo. Viu o cartão que Ginny fizera e mandara da universidade medi-bruxa que estava, e o achou bem simpático.

- Com licença. – Alguém bateu na porta.

Thora congelou, reconhecia aquele homem, era um dos companheiros de Carlinhos. Um dos colegas de trabalho e aparentemente eles viviam grudados. E como ela temia, ele a reconheceu, e erguendo a sobrancelha ia começar a falar, mas Thora foi mais rápida.

- Eu posso explicar. – Falou rápida. – Eu o salvei de um assalto de possíveis comensais.

- Comensais? – O homem perguntou confuso.

- Sim. Os que sobraram às vezes têm essas revoltas, ridículas. Bem, deixe-me explicar, eu estava fechando o bar quando o vi cair, sendo atacado e o salvei. Porém... – Thora mordeu os lábios.

- Hmm, fale. – O homem disse mais interessado, sentando-se em uma cadeira perto de Thora.

- Houve um engano e acham que eu sou a noiva de Carlinhos.

- Carlinhos, noivo? HAHAHHAAH! – O homem teve um ataque de riso.

- Não ria! Estou preocupada, não consegui desmentir o fato para a família, tenho medo que Molly sofra algo.

- Molly? Já tem intimidade?

- Não, não é assim. Eu apenas passei um jantar de Natal com eles. Quer dizer... Olha, vamos começar direito, meu nome é Thora, trabalho naquele bar que vocês freqüentam. Quero acabar logo com esse mal-entendido, e prometo-lhe que o farei logo.

- Acalme-se, você acha que eu vou te denunciar a alguém, ou coisa do tipo? Eu sei quem você é, diferente de Carlinhos. Eu via os olhares direcionados a ele, sabe? Eu não sou desatento como ele. – O homem riu. – Chamo-me Paul, sou escocês, mas trabalho com Carlinhos por aqui. Olha, eu sei que você realmente gosta dele, e isso me leva crer que talvez...

- Eu não gosto dele. – Thora mentiu.

- Não? – Paul fez cara de deboche. – Vou fingir que acredito!

Thora não gostou e fez uma carranca tão feia para esse, que resolveu deixar de lado seu o humor e ser sério, ele tinha dó dela com aquela situação.

- Olha, eu entendo sua aflição, a coisa é delicada. Molly é toda nervosa, e seria uma decepção para ela e Arthur, porque mesmo que você tivesse três piercings na língua, um na orelha e etc, eles viriam a gostar de você. Eles desejam mais que qualquer um, que Carlinhos e Gui assentem-se, e tudo mais.

- Sem contar que ela tem problemas cardíacos. – Thora o interrompeu, essa era uma das principais razões para ela estar fingindo ainda.

- Pois é, descobriram isso há pouco, uma facada, não é? Mas aí que está, nem por isso Carlinhos foi os visitar. Ele é distanciado da família, não que não goste deles, mas os evita, de alguma forma. Ter você como noiva, fez com que eles pensassem que Carlinhos estaria de volta, pelo menos, teriam a festa de casamento e tudo mais, depois netinhos.

Paul parou para olhar o relógio, parecia estar apressado:

- Carlinhos e Gui são os filhos mais liberais, que gostam de ficarem mais sozinhos e tudo mais, embora gostem muito da família. Percy, fico pensando como esse vai, é mais voltado ao trabalho, mas permanece com a família sempre, creio que por culpa daquela briga no começo da guerra.

- O que quero dizer Thora. – Paul suspirou. – Que por mais terrível que possa parecer, essa mentira é de certa forma boa. Eu já sabia que havia uma tal "noiva" e estranhei. Mas vejo que é você e não tem problema. Acredito que você poderá animar a família nesse momento, e depois, no momento apropriado você contará para eles a verdade, e eu estarei com você. – Levantou-se – Preciso ir agora, viagem. Carlinhos viria comigo, mas está doente e eu arranjarei alguém para ir no lugar. Cuide dele, estarei de volta logo e a procurarei no bar, certo?

- Certo. E obrigada. – Thora sorriu ainda surpresa com a ajuda misteriosa.

- De nada, até mais Thora. – Paul sorriu e sumiu, ao sair pela porta.

Thora virou-se para Carlinhos e também se levantou, decidida a tomar um banho, relaxar e pensar um pouco.


Thora deitou-se com um suspiro aliviado em sua cama. Desligara o telefone, a lareira estava fechada e avisara para o porteiro que não estava em casa, caso alguém viesse procurá-la.

Rori estava muito feliz com um animal que pegara em um pequeno passeio, Thora não tivera estômago para olhar para a coisa bizarra que virara almoço de Rori. Enquanto isso, fizera o próprio que na sua opinião estava perfeito.

Desistindo de tentar ver algo na TV, deitou-se. Iria ler um livro, mas desistiu quando percebeu que seus pensamentos voariam para cabelos ruivos não importasse o quanto ela tentasse impedir isso.

Pensava no que Paul dissera. Pensava na situação toda, que era absurda. As coisas passavam rápido, e ela ainda estava ali na mesma situação do inicio. E as coisas estavam boas para ela, afinal, até agora não haviam feito-lhe nenhum tipo de questionário ou coisa do tipo, sobre Carlinhos.

Levantou-se com vontade de tomar um chá, e ao passar pela janela viu uma cena que lhe desagradou e alertou. Tirou o robe correndo e com a saia e a blusa velhas, e o suéter um pouco amarrotado desceu correndo para a portaria.


Gui não havia engolido nem um pouco essa história. Carlinhos noivo? Sofrendo um ataque e sendo salvo pela "noiva"? Alguma coisa estava errada e ele não deixaria essa história passar. Persistente iria descobrir o que havia com aquela "noiva", alguma coisa o dizia que ela tinha algo suspeito. E precisava saber se era paranóia dele ou se estava certo.

Aproveitou que sua mãe fizera um bolo para Thora e se ofereceu para levar até essa. Afinal, a primeira coisa que se deve saber é sobre a casinha que o seu inimigo mora, por via das dúvidas.

Só se deu conta da furada que se metera quando parou em frente ao edifício dela e lembrou-se que não sabia qual era o andar e o número do apartamento. Para sua sorte, viu um homem saindo do apartamento.

- Hei, com licença, você conhece Thora Ingalls?

- Claro! – O homem deu um sorrisão, Gui pode ver que ele era meio brega e escondeu o riso. – Sou o namorado dela.

- Desculpe-me? – Gui ergueu uma sobrancelha, desacreditado.

- Oras, gracinha, estamos juntos há anos, sabia? Sou Jimmy Jr. O que quer com ela?

- Quer saber? Nada não, resolvo pelo telefone.

- Mas você veio até aqui, veja que eu te lev...

- Não será necessário. – Thora descabelada os interrompeu e furiosa com sua falta de sorte pegou Gui pelo braço o puxando para dentro do prédio.

Gui mantinha um sorriso vitorioso, desmascarara Thora. Ele sabia que o irmão não estava noivo! Já Thora parecia perturbada e realmente furiosa. Já bastava ter que agüentar as cantadas de Jimmy Jr e agora que ele estragasse tudo, aliás, não, atrapalhasse no processo em que ela contaria a verdade?

Abriu a porta barulhenta e logo atacou com palavras:

- Você é louco, ficar falando com Jimmy Jr. Ele é um dos mais pentelhos do prédio, ele fez a Sra. e o Sr. Smith separarem-se mês passado, foi horrível. Peço perdão pelo desconforto que ele causou. E esqueça o que ele disse, okay? Desde que me mudei para cá ele vem com essa história que sou a namorada dele.

- E você não fez nada?

- Olhe só para o pobre coitado que ele é! Deixe-o! Se você souber lidar com ele não terá problemas.

- Então não é verdade?

- O que?

- Que você é namorada dele.

- Claro que não! Sou noiva do seu irmão, lembra? – Ela disse com tanta firmeza que assustou a si mesma.

Gui acreditou, a mulher ficara realmente transtornada e ele tinha que admitir que aquele cara não parecia normal. Passaria para a próxima tática.

- Certo, desculpe-me, trouxe um bolo enviado por mamãe. – Ergueu o bolo para Thora que o aceitou pousando-o na mesa. – Pensei que poderíamos dar uma volta se você quiser.

Thora ficou surpresa com a proposta, afinal, até onde parecia Gui não ia com a cara dela, mesmo com a troca de sorrisos. Não querendo arriscar muito, cedeu-lhe duas horas:

- Bem, eu tenho duas horas livres, se você achar bom.

- É perfeito, vamos?

- Deixe-me apenas pegar um casaco e um cachecol.


Gui ficou em dúvida para onde leva-la. Optaram por andarem e se achassem algo legal parariam no local. Gui fazia pequenas perguntas, nada comprometedoras, apenas dela mesmo. Preparava-se para falar de Carlinhos:

- Você e Carlinhos saiam muito juntos?

- O suficiente. – Thora disse distraída olhando para uma loja.

- Hmm, e ele costumava gostar de ir a lanchonetes?

- Bares, você quer dizer? – Thora virou-se para ele, ainda sem entender a jogada de Gui.

- E a bebida?

- Fire Whisky, não que eu recomende é claro. Dragon's Dribble era outro que ele parecia gostar, além de Butter Beer. O que mais me chamava a atenção no seu irmão é que mesmo bêbado ele nos tratava bem. Ele tinha um amigo que era terrível, xingava a todos e dizia coisas horrorosas para as mulheres. Ele era diferente.

- Sim, Carlinhos sempre foi diferente, desde pequeno. Ele nunca foi um fracote, sabia se defender muito bem, tinha muitos amigos e podia achar namoradas facilmente, mas nem por isso ele escondia seu lado sensível que ele costumava usar apenas na presença de animais. Duvido que eu conheça alguém que se dê tão bem com animais quanto ele.

- Tem que ter muita coragem para trabalhar com dragões como ele, não é mesmo? – Thora sorriu, parecia que Carlinhos era como ela imaginava.

- Sim, e Carlinhos parece entendê-los. Foi um choque para muitos quando ele recusou uma vaga num time de quadribol e até hoje ele se recusa a nos dizer qual foi, presumo que tenha sido um bom e se soubéssemos qual foi, iríamos cair em cima dele, seja como for, ele preferiu ficar com os animais. Com os dragões, respectivamente. Admiro meu irmão.

- Sim, também o admiro. – Thora sorriu. – Admiro toda a sua família, Gui. Oh, posso te chamar assim?

- Pode. – Gui parou de andar, e Thora fez o mesmo. Ele suspirou. – Sabe, Thora, eu tenho pena de você. Não sei como você e Carlinhos se relacionam e se eu bem conheço meu irmão, ele não é o namorado exemplar. Esquece datas, fica horas trabalhando com os dragões, chega atrasado... Pode parecer terrível, mas pelo pouco que estou sabendo sobre você, começo achar que meu irmão não te merece.

Thora arregalou os olhos e abriu a boca, mas fechou-a, porque ela não sabia o que dizer. Talvez, de fato, Carlinhos não fosse tão perfeito assim.

- Não é porque ele não ame a pessoa, mas ele é avoado assim mesmo. Ele era uma pessoa bondosa, nunca deixava alguém na mão, mas ele nunca foi muito bom em demonstrar sentimentos. Aliás, isso é um defeito de família, creio eu – Gui voltou a andar seguido por Thora. – Acho que chegamos. – Olhou para o apartamento de Thora. – Amanhã mamãe pretende visitar com todos nós, Carlinhos, ela me pediu que eu a convidasse. Não falte, okay? Até amanhã!

Gui sorriu e dando sua mão para Thora a cumprimentou se dirigindo para um beco onde, certamente, aparataria.

(continua...)