Capitulo 6: Tomando Certas Decisões
Thora entrou no hospital como um raio e só parou na sala de espera onde encontrou Paul brincando com um jogo de paciência que se tem em sala de espera de médicos.
- Então...? – Perguntou esquecendo-se da educação que recebera.
- Ele já sabe de tudo.
- Ótimo. – Thora foi se adiantando para abrir a porta.
- A propósito, ele não te odeia.
Thora arregalou os olhos, isso mudava tudo. Todo o discurso que ela formulara no caminho, tudo que ela diria, e até o que ela planejava fazer. No entanto, seu coração se sentiu muito mais calmo com isso:
- Isso é...isso é realmente muito bom de se saber. – Ela sorriu para Paul, por fim abrindo a porta e entrando na sala.
Carlinhos estava virado para a janela, observando a paisagem na certa. Parecia despreocupado, embora seu rosto não estivesse sereno. Thora fechou a porta e ele voltou o olhar para ela, fazendo esforço para se sentar. Ficaram os dois se encarando, sem saber o que dizer.
Foi Thora quem tomou a iniciativa se sentando ao lado de Carlinhos na poltrona que havia na sala.
- Creio que Paul o tenha explicado a situação.
- Sim, ele explicou, gostaria que soubesse que não tenho raiva de ti.
- Sim, ele me avisou quanto a isso, acho que lhe ficou grata por isso. Se você ao menos soubesse como eu sinto por essa confusão toda que eu criei graças a essa mentira, não era meu desejo, realmente.
- Você se sente culpada? Como pode se sentir culpada pelo que você fez por mim?
- Bem, eu menti, nada pode explicar o fato de uma pessoa mentir.
- Em certos casos e principalmente, em certas horas não há nada que se possa fazer além de mentir. A mentira, às vezes, pode ajudar. Continuo a achar que você agiu certo, e continuo-lhe grato pela preocupação que teve comigo.
- Não diga isso, sob hipótese alguma. – Thora exaltou-se. – Não era mais do que minha obrigação, você estava em perigo, qualquer um teria a obrigação de fazer o mesmo.
- Mas nem todos o fazem. – Carlinhos sorriu vitorioso quando Thora fechou a boca sem argumentos contra si mesma e baixou a cabeça. – Paul me confessou que você tem medo que minha família fique com raiva de ti, você pode ficar segura quanto a isso, eles não irão.
- Você acha? – Thora perguntou esperançosa.
- Tenho certeza absoluta.
- Isso me deixa imensamente feliz. Sua família é realmente... acho que não tenho palavras para resumir o quanto sou agradecida a eles pela felicidade que eles me deram ao me acolherem por esse tempo todo. Eu nunca soube direito como é uma família de verdade, a sua nesse pouco tempo me trouxe algo que em acho que nunca teria conseguido em toda a minha vida.
- Eles são maravilhosos, realmente. – Carlinhos a interrompeu. – É triste, não é? Como eu desperdiço o que tenho quando há pessoas como você que prezam tanto famílias como a minha.
- As pessoas têm diferentes modos de demonstrar seu amor, talvez você apenas não saiba como mostrar a sua família o quanto os ama. Eu só tive meu pai comigo por alguns anos. Éramos muito colados e por isso, talvez, eu tenha essa concepção de família colada e tudo mais, que é como a sua é. Mas as pessoas podem ser diferentes, não mostrarem tantos seus sentimentos. Afinal, antes de tudo, esse tipo de coisa é pessoal, portanto, é metamórfico.
Os dois ficaram quietos e Thora mordeu os lábios com medo de ter falado alguma asneira, ela queria menos do que qualquer coisa fazer inimizade com ele. De certo que não queria nada amoroso com ele, mas desejava se tornar amiga, ao menos.
- Paul estava certo, você realmente é um amor. – Carlinhos sorriu.
- Obrigada. – Thora disse incerta.
- Pelo que eu vim saber de Paul... – Carlinhos começou, Thora percebeu que ele estava corado. – Bem, para mim é difícil, quero dizer, eu mal acordei e vem isso tudo. Mas o que acontece é que... – Suspirou tomando coragem. – Circunstâncias me levam a crer que você teria algum tipo de afeto por mim, sendo assim eu gostaria de saber se você... – Ele virou-se para ela por fim. – Gostaria de casar comigo.
- Desculpe-me? – Ela perguntou surpresa.
Era difícil pode acreditar no que ela ouvia, ninguém mais a não ser ela podia entender o que se passava por sua cabeça. Se essa pergunta tivesse sido feito um tempo antes a resposta seria rápida e afirmativa.
No entanto, agora ela tinha algumas coisas a levar em conta. Primeiro de tudo, ela já não mais sentia aquele sentimento antigo por ele. Parecia-lhe totalmente incorreto enganar ele dizendo que ainda o amava.
E o mais importante de tudo, ela amava outra pessoa agora, ou pelo menos acreditava que amava, e o pior, era o irmão dele. Não, ela não poderia fazer isto. Sob hipótese alguma ela poderia se casar com Carlinhos sabendo que não o amava, mas sim a seu irmão. Não seria o honrado, não seria o certo.
- Eu creio que eu a pedi em casamento. – Carlinhos disse receoso. – Verdade que não a amo, mas creio que você poderia me ajudar bastante e amor também se constrói, não é?
- Oh, bem. – Thora acordou de seus pensamentos. – Se você tivesse feito essa pergunta há alguns meses atrás eu certamente iria respondê-lo mais rapidamente. No entanto, acho que agora temos alguns empecilhos para uma resposta tão rápida. É verdade eu era apaixonada por ti, embora nem o conhecesse. Porém, receio que já não sinto mais o mesmo sentimento que antes. E o pior, eu estou gostando de outro alguém agora. Talvez, se eu não estivesse gostando desta pessoa eu aceitaria e como você disse, poderíamos construir algo, mas...
- Eu entendo. – Carlinhos sorriu. – Fico agradecido por ter sido sincera. Eu poderia saber quem é essa pessoa?
- Acho que ficaria bravo comigo.
- Não ficarei, mesmo.
- É o seu irmão, o mais velho. Nós nos conhecemos enquanto você estava dormindo e eu acabei me apaixonando por ele.
- Gui é realmente uma pessoa encantadora, eu acho que você não poderia ter escolhido melhor. Fico feliz por ti, ele sente o mesmo?
- Acho que não, ele não gostou muito de mim, quando nos conhecemos.
- Sim, ele é meio desconfiado, mas é completamente leal após conhecer a pessoa.
Ficaram quietos novamente, Thora resolveu levantar-se, estava tudo resolvido, então, restava agora contar aos Weasleys. Ficava feliz por ter resolvido tudo com Carlinhos pacificamente.
- Acho que agora vou. Tenho de pedir desculpas a seus parentes agora.
- Não será necessário, eu os aviso de tudo, pode deixar. – Carlinhos sorriu. – é o mínimo que eu posso fazer para agradecer-lhe.
- Mas não há nada para você me agradecer.
- Tem. – Carlinhos baixou os olhos. – Muito obrigado, por ter me amado por um tempo.
Thora não esperava por isto e ficou congelada em frente a ele. Quando por fim absolveu, sorriu. Dirigiu-se até o ruivo e o abraçou. E então foi embora sem dizer nada.
Acenou para Paul quando saiu da sala e então quando pôs os pés fora do hospital sorriu, bem, agora os Weasley realmente haviam ido embora da vida dela.
Paul não gostou do modo que Thora saiu do quarto de Carlinhos e se adiantou, entrando no quarto. Encontrou o amigo olhando para as próprias mãos:
- Você estava certo, ela é demais.
Paul ficou parado, sem entender o que o amigo dissera, estava curioso, ela havia aceitado ou não?
- Não, ela não aceitou. – Carlinhos disse como se adivinhasse os pensamentos do amigo. – Mas ela fez o certo, ela já não gosta mais de mim, gosta de outra pessoa. Sabe quem? – Olhou para o amigo que negou com a cabeça. – Gui. Coisas da vida, hein? Mas acho que não teria melhor pessoa para ela.
- Eu sinto muito.
- Pois é, eu também. Mas tudo bem, eu pensei nisso tudo e eu acho que mesmo sem a ajuda dela tentarei fazer isto que me alertou, está na hora de eu começar a lembrar que eu tenho uma família e que a vida não se resume a animais. Assim que eu sair daqui arranjarei algo na Inglaterra, a fim de ficar mais perto deles.
- Isso é muito bom de saber.
- Creio que sim. – Carlinhos sorriu. – Poderia chamar-los para cá? Gostaria de explicar-lhes sobre ela.
- Sim, claro, vou fazer isso agora mesmo.
- Sabe, Paul. – Paul parou em frente a porta e voltou-se ao amigo. – Acho que estou começando a me arrepender por nunca ter-la notado antes, está começando a me sentir por eu ter perdido-a. Mas tudo bem, quero que ela seja feliz com Gui.
- Você acha que Gui sente algo por ela?
- Acho que ela faz exatamente o tipo dele.
Os Weasleys vieram rápidos ao saberem que Carlinhos queria falar com eles. Estavam todos no quarto a espera do que Carlinhos queria lhes falar. Paul preferiu não ficar, dissera ser assunto de família.
- Bem, eu os chamei por causa de Thora, estou fazendo um favor a ela, tal como ela me fez. Sabe aquela história de noivado e tudo mais? Era mentira. Na verdade, eu nem sabia direito que ela existia. Mas ela sabia que eu existia e me salvou. Infelizmente, houve uma confusão no hospital e acharam que ela era minha noiva, ela tentou explicar, mas não conseguiu e além do mais, ela não queria que vocês perdessem toda a esperança que pareceram carregar ao saberem que eu estava noivo e decidiu esperar para comunicar. – Carlinhos tomou ar. – Agora que eu acordei e tudo mais, nós dois conversamos com a ajuda de Paul e esclarecemos tudo, gostaria de deixar claro que eu sou grato a ela, e espero que assim como eu, vocês não estejam chateados com ela, ela pode ter mentido, mas com boas intenções, e afinal, quem somos nós para julgá-la?
Instalou-se o silêncio no quarto até que por fim, Gina pronunciou-se.
- Porque eu haveria de ter raiva dela? Ela te salvou, não é mesmo?
- Atire a primeira pedra que nunca pecou. – Rony adicionou.
- Ela nunca se importava com as brincadeiras que fazíamos. – Os gêmeos lembraram.
Carlinhos sorriu feliz, então era como imaginava, eles não haviam se ressentido. Percy e os pais também se mostraram a favor dela. Só Gui não se pronunciou e Carlinhos entendeu o porquê. Por fim, pediu que os outros se retirassem, mas que Gui ficasse.
Ninguém pareceu estranhar o fato, afinal, Gui e Carlinhos tinham mais afinidade um com o outro.
- Você não se pronunciou sobre o fato, Gui. – Carlinhos logo disse ao ouvir a porta fechando-se.
- Não acho que seja educado dizer o que penso.
- Espero que não sintas raiva da moça. Eu cheguei a pedi-la em casamento ao saber tudo o que ela fez por mim, mas ela foi sincera e me contou que já não sente o mesmo por mim e que gosta de outra pessoa.
- Não sinto raiva, na verdade, me sinto até aliviado de vocês dois não serem noivos. Você sabe que você nunca seria bom o bastante com ela.
- Sua sinceridade sempre me assustou. – Carlinhos riu. – Mas é a verdade, deve ser por isso que ela se apaixonou por você e você por ela, vocês se merecem.
- Como é que é? – Gui arregalou os olhos.
- Você entendeu, maninho, não se faça de mal-entendido.
- Bem, eu não sei o que dizer.
- Porque não há o que dizer, só tem que se agir.
Os dois ficaram calados, por fim Gui sorriu para o irmão que retribuiu o sorriso.
- Continuará a ser meu conselheiro do amor, embora não tenha nenhuma sorte com este, Carlinhos?
- Acho que sim, Gui. Acho que sim. De qualquer modo, seria melhor deixar a poeira abaixar. Depois sentar com papai e mamãe e expor seus sentimentos e tudo mais, se eles consentirem, perfeito. Caso não? Vá até ela mesmo assim.
(Continua...)
