Capítulo 5:

Ron arregalou os olhos. Como se não bastasse estar ali; morrer de fome e saber que lá longe Hermione deveria se casar com alguém e ter filhos, agora estava ficando louco, ou melhor, esquizofrênico, ouvindo e vendo pessoas que não existiam.
- Então, pode me ajudar aqui? – O senhor pediu, tirando a mão de dentro do buraco com dificuldade e a erguendo para cima, depois coçando a cabeça. – Não entendo como posso ter errado.
Ron o olhou, mas depois virou o rosto meio envergonhado. Olhou de novo e se virou. Depois de um tempo fazendo isso, foi até um canto e se sentou lá com a cabeça nos joelhos. O senhor o olhou impaciente.
- Ora vamos, garoto. Ajude esse pobre velho. Já não basta ver que ele teve uma terrível decepção com seus cálculos ao errar com o túnel?
- Você é apenas uma ilusão, saia, vamos saia! Eu já estou cansado de ter ilusões.
- Hmm.. eu não sou uma ilusão e isso lhe garanto, qual seu nome, filho?
- Sou Ron Prewett, injustamente preso.
- O mesmo digo sobre mim, Alvo Dumbledore, a seu dispor. Agora, faria o favor de ajudar esse pobre velho?
Ron, com um pouco de relutância, ajudou o senhor a sair do buraco. Assim que Dumbledore pisou no chão, Ron se afastou pensando em como deveria estar louco agora.
- Oh, pobre rapaz, me parece tão... desconsolado.
- Porque você simplesmente não é um espírito que irá me levar embora daqui?
- Pobre rapaz, te garanto que já estive a pé da loucura como você. Mas! – Ele levantou o dedo e rodou a cela – Eu achei uma razão para qual continuar a viver.
- Me deixe em paz!
- Acalma-te, filho de Deus! Deveria fazer como eu... arranjar um motivo para continuar a viver.
- Meu único motivo é vingança! – Ron disse, com os olhos insanos.
Dumbledore balançou a cabeça e se curvou na frente de Ron, mexendo no cabelo dele. Ron o afugentou com tapas.
- Meu motivo é fugir daqui. Parecia divino e... – Os ombros deles caíram – Eu procurei uma solução e pareci encontrá-la. Comecei a cavar o túnel. Eu tinha duas opções para chegar fora do forte e ir ao mar. – Ele se sentou do lado de Ron - E a que usei, pelo que vemos agora, está errada.
- Essas paredes... elas tem...
- Huh? Está bem meu filho? – Dumbledore se virou para Ron, que tremia.
- Elas... tem... 72.519 pedras no total. Eu já contei várias vezes.
- E você já deu nomes a elas? – Dumbledore deu uma risadinha divertida e se levantou muito animado, na opinião de Ron - Meu filho, você pode ficar tranqüilo que eu não sou fantasma, agora recomponha-se e deixa essa loucura de lado.
- Eu não sou louco, nem estou, pelo menos... não por enquanto.
- Você poderia me levantar?
- O que disse?
- Me levante para eu poder olhar pela sua janela?
Ron deu de ombros e se levantou. Era bem mais alto do que Dumbledore. Os dois se encaminharam até a janela, aonde desajeitadamente Ron levantou Dumbledore que pisou nos ombros de Ron para se apoiar.
- Você ainda não viu o céu? – Ron disse gemendo de dor.
- Espere mais um pouco! Eu não vejo o céu a uns 11 anos.
- Mas eu já não agüento mais! – Ron berrou.
- Está bem, pode me abaixar.
E com dificuldade Ron abaixou Dumbledore que parecia até fazer uma prece:
- Obrigado, Deus. Por me deixar mais uma vez ver o céu antes de morrer.
- Nessa cela não se pronuncia o nome Deus, pois ele não existe.
- E que inscrição é essa aqui? – Dumbledore apontou para a inscrição que Ron vira e reforçara assim que entrara na cela: "Deus Fará Justiça".
- Essa inscrição está tão apagada quanto minha fé em Deus.
- Pobre garoto. – Dumbledore balançou a cabeça. – Venha comigo.
- Para onde?
- Ora, pra onde mais? Para minha cela, meu filho. Por quê? Está ainda delirando e pensando que eu sou um anjo que vai te levar para o paraíso?
Ron não respondeu, seguindo Dumbledore que, de um jeito hábil para sua idade, entrou no buraco e voltou para sua cela. Ron arregalou os olhos quando viu a cela do companheiro. Era melhor que a dele, maior, larga, com uma "rachadura" na parede fazendo formato de uma cama, e uma mesa e cadeira cheia de livros em cima. Se dirigiu a mesa e pegou um dos livros, enquanto Dumbledore olhava ao redor parecendo concentrado em algo:
- Nós temos de ir no oposto do que fomos... então... começaremos daqui. – Dumbledore apontou para uma pedra e se acocorou na frente dela. – Ou você tem alguma outra ocupação no momento? – Dumbledore riu – Quem sabe contar mais algumas vezes as pedras na parede?
- Você está louco que eu irei te ajudar.
- Se você me ajudar, eu te dou uma coisa que não se pode se retirada.
- Alô, meu velho? Nós estamos numa prisão, e não me venha dizer que vai me dar liberdade. – Ron bufou.
- Não, cabeça oca, como nós dois sabemos, liberdade pode ser roubada. – Dumbledore foi até ele e pegou um livro – O que te oferto é tudo o que sei. Sabedoria. Física, Economia, Filosofia...
- Isso quer dizer, que você vai me ensinar a ler e escrever? – Ron o cortou maravilhado.
- Claro! – Dumbledore olhou piedosamente para Ron que sustentava um sorriso agora no rosto.
- Então, irei te ajudar. – Ron disse convencido indo até Dumbledore, que começou a bater palmas.
- Então começaremos puxando a pedra aqui, poderia puxar? – Dumbledore apontou para pedra e deu a Ron seu abridor de cartas – Se nós dois cavarmos, dia e noite... creio que conseguiremos em no máximo oito anos sairemos desse forte.
Ron riu, não tinha muita fé nisso, mas desde que aprendesse estava bem para ele. Puxou com enorme dificuldade a pedra. Mal ele puxou a pedra e Dumbledore já estava com um instrumento estranho, que certamente era uma colher ou algo do tipo há anos atrás.
- Você ficou louco com essa obsessão? – Ron perguntou se sentando ao lado dele.
- Não, meu jovem. – Dumbledore deu um instrumento estranho que Ron assimilou a um antigo garfo de madeira. – Me ajude aqui.
- Louco... – Ron resmungou e pois se a ajudar o seu mais novo amigo.


Já haviam se passado vários meses, e o túnel era mínimo, mas Dumbledore estava bastante feliz. Enquanto Ron se deliciava com suas aprendizagens, se mostrava um aluno atento e esperto.
Não sabia ler nem escrever com perfeição, mas aprendia aos poucos e dedicadamente. Estava começando mudar seu vocabulário, falando mais requintadamente igual a seu novo amigo. Já tinha em sua cabeça o básico sobre filosofia e economia.
- Apague a vela, Ron. – Dumbledore disse saindo do túnel e se encaminhando a parte que havia uma deformação na parede onde ele se deitava.
- Mas o livro está tão interessan...
- Não teime, meu caro. Temos de economizar, lembre-se.
Ron fechou o livro e apagou a vela meio revoltado. Sentou-se perto de onde Dumbledore estava deitado e começou a conversar.
- Porque você está aqui? Faz no mínimo dois anos que cavamos, mas... – Ron se virou para ele e viu um Dumbledore pensativo – Eu não sei porque você está aqui, frade.
- Eu era um jovem comandante na milícia de Cornelius. Estávamos eu e meus soldados lutando bravamente, mas como Riddle acabara de tomar o poder e não queria me desperdiçar, pois me achava um bom estrategista, disse-me para sacrificar meus soldados. – Dumbledore respirou fundo.
- Os levei a um igrejinha e os tranquei lá, eles pensando que eu os estava ajudando. Mas então, Riddle foi comigo e me deu uma tocha, e eu fui obrigado a tacar a tocha dentro da igrejinha. Ainda sonho com os gritos deles.
- Nossa senh... – Ron o interrompeu boquiaberto.
- Então, arrependido, – Dumbledore cortou Ron – resolvi me dedicar a tentar tirar esse peso de mim. Entrei no convento, mas não fiquei por muito tempo. O Conde Spada, um homem muito rico, embora nobre e católico, me conheceu em meio a suas visitas ao convento e, admirado com minha sabedoria, me pediu que fosse seu conselheiro.
- Com isso, me tornei o melhor amigo e conselheiro de Spada. Isso era um cargo de se invejar a qualquer um. Ele me contava todos os seus segredos, como conseguira o seu dinheiro honestamente, entre outras coisas. Até que ele foi assassinado por Riddle que queria saber onde estava seu tesouro tão rico.
- Mas eu não disse, porque não sei onde está. Então ele me colocou aqui, como ele disse mesmo? – Dumbledore colocou um dedo na bochecha, parecendo pensativo – Ah, sim. "Quem sabe Azkaban refresque sua memória?". Então, aqui estou eu.
- Nossa senhora... – Ron se deitou. – Que história. Estou definitivamente surpreso, mas não conseguiria arranjar outra razão para vê-lo aqui, o senhor me parece tão bom e nobre.
- Não de todo, como lhe contei, cometi o crime de assassinar meus próprios soldados os quais vi crescer e alguns me consideravam como um pai.
- Todos temos nossos pecados.
- Não vejo nenhum em você, meu jovem.
- Meu pecado é atual, meu pecado é meu desejo, meu pecado são os pensamentos que vem me atormentando. Já lhe contei? Sobre meu plano de vingança?
- Plano de vingança?
- Sim... – Ron fechou o punho. – Desejo, almejo ter vingança, se eu conseguir sair daqui, farei justiça perante aqueles que me traíram.
- Você não sabe o que diz, meu jovem. Se conseguirmos fugir, seja bom, esqueça isso e procure refazer sua vida.
- Eu não posso.
- Aff... o que posso fazer? Agora com sua licença, preciso dormir.


No outro dia, quando Dumbledore acordou, viu Ron a seu lado com uma cara pensativa. Ficou a olhá-lo pensativo também e, só depois de minutos o observando, Ron saiu de seus pensamentos.
- Ah, você acordou.
- Bem pelo que me consta, eu sim, mas você ainda me parece no mundo da lua.
Ron resmungou algo e voltou sua atenção a seus pensamentos. Enquanto isso, Dumbledore se mexia acordando de vez e já se preparando para voltar ao trabalho.
- Dumbledore... – Ron o chamou, assim que ele entrou no túnel.
- Huh?
- Você disse que era das forças armadas, comandava uma milícia.
- Sim, sim... por quê?
- Você me ensina a lutar?
- Lutar?
- Sim, lutar, usar espada, essas coisas.
- Pra quê meu filho? Vamos, precisamos trabalhar.
- Bem, se você não me ensinar, eu irei parar de te ajudar com o túnel. Afinal, já aprendi bastante coisa, já sei ler e escrever.
- E ficou trapaceiro!
- Talvez, realmente, agora que você lembrou. Ao me prenderam me transformaram em um canalha. Eu não iria trair Cornelius, eu nunca fui a favor de nenhum dos dois.
Dumbledore revirou os olhos e bufou.
- Okay, espertinho, okay, vamos lá.
Ele saiu do túnel com dificuldade e então se dirigiu a porta a observando. Se abaixava e levantava enquanto olhava para a porta com uma fisionomia refletiva.
- Está louco?
- Não, apenas estou procurando – Ele puxou com o instrumento que usavam para cavar, dois pedaços de madeiras retas da porta. – ... isso. Isso será nossa espada.
- Você é louco mesmo, hein? – Ron foi até ele que o deu uma das "espadas" de madeira. – Então, comecemos?
- Você quem sabe. – E com um sorriso Dumbledore atacou, mas não bateu forte em Ron. – Temos um longo trabalho pela frente.
E os dois começaram a lutar, com Ron toda a hora recebendo "espadadas" de Dumbledore.


- Certo, essa é sua próxima lição – Dumbledore tossiu – Está vendo essa goteira? Terá de fazer sua mão ultrapassá-la sem se molhar.
- Faz-me rir. Isso é impossível. – Ron deu uma risada.
- Não, não é. Veja só.
Dumbledore passou o punho rapidamente sem que ele se molhasse.
- O melhor homem não é necessariamente o mais forte e o vencedor. O que o faz ganhar é isso, a rapidez. Rapidez da mão, rapidez da mente.
- Você enlouqueceu esses anos, não é? Deus... – Ron balançou a cabeça e inutilmente tentou imitar o amigo, mas foi em vão. – Isso é impossível!
- Não é. – E mais uma vez Dumbledore atravessou a mão. – Agora preciso trabalhar. Treine.
Ron o seguiu com os olhos e se voltou a goteira apenas quando a cabeça de Dumbledore sumiu e ele ouviu pequenas batidas. Balançando a cabeça voltou a tentar atravessar a mão.


- Então, meu caro jovem Prewett. Vamos fazer uma revisão de nossos estudos. Defina a Economia.
- Economia é a ciência que conjunta a produção e distribuição de capital.
- Traduza? – Dumbledore o cortou.
- Cavar primeiro, dinheiro depois. – Ron respondeu com um sorriso maroto.
- Você está aprendendo – Dumbledore sorriu e voltou a cavar.
- Claro que estou. – Ron sorriu.


- Então vamos lá, treinaremos a espada e depois me mostrará se seu punho está rápido o bastante.
Dumbledore começou e mal acabou de falar atacou Ron que se defendeu habilmente e deu uma "espadada" em Dumbledore.
- Então o aluno está superando o mestre?
- Como sempre será. – Ron sorriu – Você está velho, também!
- Ei! O que eu disse sobre ofensas? – Dumbledore atacou novamente e Ron se defendeu. Logo dando outra batida forte com a "espada" – Em quem você está pensando, filho, para bater tão forte assim nesse pobre velho?
- Malfoy. E Crouch, ele me mandou para cá. Eu só não sei porque... – Ron abaixou a "espada".
- Diga-me uma coisa. Me reconte como foi a conversa de vocês dois. Acho que não me recordo muito bem.
- Você sabe, eu falei para ele que não sabia ler e nunca violaria a carta, por tanto não sabia o que continha. A única coisa que sabia é que estava escrito Bartô e ele simplesmente queimou a carta. – Ron sentou-se ao lado de Dumbledore no chão – Podemos falar de outra coisa?
- Ele... simplesmente... – Dumbledore tomou ar – queimou a carta... – Deu um risinho cínico – apagando a única prova contra você e, bem, as únicas pessoas que sabiam da carta eram você e ele, estou certo?
Ron arregalou os olhos, entendendo a mensagem de Dumbledore, mas não podia ser! Não?
- Ah, não... não pode ser... – parou e com raiva pegou a mesa tacando no chão – Aquele filho da put! Ele estava protegendo alguém! Você sabe quem? – Olhou para Dumbledore que dava sorrisos de vitória sobre sua descoberta – O filho dele! Sim, o filho dele tinha uma amizade colorida com Riddle. O idiota me mandou para cá e queimou a carta, assim ninguém poderia culpar seu filho, pois esse iria preso e Crouch perderia seu crédito no governo de Cornelius.
- Parabéns! – bateu palmas – Então, preparado para mais uma? Quem estava com você e Riddle na noite?
- Malfoy, já te disse e ele quem me dedurou.
- Sim, mas você disse que Crouch falou em "testemunhas".
- Não foi ele, foi um daqueles marinheiros terríveis que me trouxeram a Azkaban...
- Você tinha... alguém que o invejasse ou mostrasse não ir com sua cara além de Malfoy?
- Severus e Pettigrew, mas não acho que eles...
- Eu aposto o resto de saúde que me resta que eles tem dedo nisso!
Ron olhou para Dumbledore nervoso, como podia ser? Como podiam ter tanta raiva dele assim para acabarem com sua vida? Porque um homem honesto não pode ser feliz e viver em paz?
- Como você consegue tirar essas conclusões?
- Você sabe, eu sou veterano de guerra... leio e... depois de se ouvir toda a história de sua vida, dá para se tirar uma conclusão. – Dumbledore sorriu e deu tapinhas de "animação" em Ron.
- Sabe, você foi até agora o meu melhor amigo. – Ron fez um esforço para dizer isso, não era muito do seu feitio.
- Lamento ter de dizer que você está mais para um filho do que um melhor amigo. – Dumbledore afagou a cabeça dele – Estou brincando. Vamos me mostre o quanto seu punho está rápido. Aquela goteira ali serve?
Ron deu um de seus sorrisos animados que há tempos não dava e se dirigiu à goteira. Rapidamente, atravessou as gotas, arrancando um sorriso de Dumbledore.
- Que progresso tivemos, hein? Mas agora voltemos ao trabalho.
Dumbledore foi até o túnel e voltou ao trabalho junto a Ron.

(continua...)

N/A: O que acharam do tio Dumblie fugitivo?

Dedicatória: À Nikari Potter, minha beta perfeita e paciente que betou esta fic e me acompanhou em todo o processo de re-escrever-la.