Capítulo 8:

- Grande rei... – Harry cantarolava baixinho desanimadamente. - ... que estais a olhar a nós, no mar.
- Faria o grande favor de ficar calado? – Ron sibilou. – Não adianta fazer esse drama, eu também estou me irritando com isso, e sinto que se comesse algo que não fosse peixe, dançaria.
- Não é problema comer peixe... Eu vivi como pirata praticamente toda minha vida, estou acostumado. O problema é estar aparentemente perdido no meio do Mar Mediterrâneo, Zatarra. Ou melhor, Ron. Não temos ninguém aqui para nos ouvir, certo? Então, você é Ron agora... – Harry voltou a olhar para o mar. – A nossa última parada foi na França, já éramos para ter parado em algum lugar.
- Você reclama demais... Realmente não parece que é um pirata, o seu sangue real não deve ter conseguido acalmar... Creio que ainda sonha com os confortos de uma vida de realeza.
- Todos dizem isso, que infortúnio! O que vocês podem saber? – Harry virou de costas, irritado. – Vocês não me entenderiam nunca...
- Talvez, se você me explicasse. Talvez, seu eu tivesse crescido junto a você... se tivéssemos as mesmas idéias e mentalidade...
- Ei! Não me venha com essa, temos a mesma idade, nada de dizer que é mais maduro ou inteligente que eu! – Harry se levantou. – Eu vou lhe dizer uma coisa: dizem que quando se está perdido com alguém, deve se dizer claramente o que se pensa da pessoa, criticá-la e tudo mais. E eu farei isso agora.
Ron deu uma risadinha, enfurecendo mais ainda Harry.
- Está vendo? Eu não o conheci antes de ser preso, mas sinto que era um bom homem, amigo... Mas, infelizmente, ir a Azkaban te fez mal.
- Bem, eu era ingênuo, metido a palhaço, pessimista e burro...
- Ron, eu digo que você continua pessimista. Sinceramente? Lembra-se de quando estávamos quase sendo derrotados pelos piratas franceses? Você foi o primeiro a dizer que perderíamos.
- Algumas coisas nunca se perde.
- Então eu espero que você ainda tenha um pouco de bom humor e...
- O que você quer dizer, Harry? – Ron o cortou.
- Você sabe, eu conheci um Ron quando fui salvo da morte. Mas agora só vejo esse ser ruim que se apossou de você. Isso não é o seu verdadeiro eu.
- Temo que meu verdadeiro eu tenha mudado para esse atual – Ron riu. – Harry, o que você...
- Não se faça de desentendido. Você sabe que dificilmente Bill ou Charlie me matariam. Afinal, eles me criaram e...
- Eu não sei, os outros poderiam ter lhe matado.
- Ron, pelo amor de Deus, o que você está pensando? Você nem sequer me explica uma coisa, apenas fala do plano de vingança, sendo que até agora eu não sei de quem você quer se vingar ou como é esse plano.
- Harry, talvez você devesse ficar calado. Eu irei explicar a você depois.
- Está vendo, o antigo Ron não diria isso...
- Por que você não cala a boca? Você diz "o que você sabe? O que você sabe?" – Ron imitou a voz de Harry. – Eu quem pergunto isso a você. Se você quer saber, você não passa de um homem que ainda não entendeu que nunca terá de volta sua realeza. Bill e Charlie fizeram mal em criar você contando o seu passado. Você não consegue entender? Nada voltará a ser como antes. É a lei da natureza, Harry. Apenas, submeta-se a ela e viva.
- O que? O que você disse? – Harry agora estava com o rosto vermelho como um tomate. – Você não me entende, seu idiota. Você não tem sangue real nas veias e vive como um rato. Apenas porque um idiota que morreu aprisionado fez isso a você. Eu prometi uma coisa a mim mesmo quando criança. Eu mataria o assassino dos meus pais e vida, mas... – Harry pareceu acalmar - Como eu conseguirei isso se estou preso a você? E além disso, por mais que eu lute bem com facas, eu nunca saberei lutar com espada e...
- Você precisa de ajuda, Harry – Ron o cortou, revirando os olhos.
- Talvez eu precise mesmo Ron, mas ninguém ajuda nessa merda de mundo! – Harry voltou a ficar vermelho.
- O que? Por favor, faz me rir! – Ron parecia estar nervoso, pois ele deu aquela risadinha nervosa costumeira dele e então fez uma careta. – Bill, Charlie... eles sempre estiveram a seu dispor! Perguntando se tudo estava bem... Aposto que se você tivesse reclamado, eles teriam dado um jeito de você não ser um pirata, de morar com uma família rica conhecida da sua ou...
- Eu te odeio! – Harry berrou agora mexendo nos cabelos.
- Oh, que bonito, agora você banca o adolescente! Isso tudo porque está perdido no mar – Ron ironizou.
- Claro que estou! Eu sei que minha vida pertence a você, mas isso é tortura das piores. Estou assim há meses, você ouviu? Meses! Nessa porra dessa merda de mar!
- Você esteve a vida toda no mar – Ron retrucou, aumentando a voz.
- Não dessa forma! Não num barco tão pequeno e com um sujeito louco! Ron, eu estou dizendo você... – Harry agora balançava a Ron.
- Cale a boca, idiota. Não está vendo?
- Vendo o quê? – Harry perguntou irritado, levando as mãos na cintura.
- Nós chegamos ao nosso destino, a ilha tem o formato de elefante.
- Não diga... – os olhos de Harry brilharam. – FINALMENTE!
- Eu disse que nós íamos chegar – Ron sorriu.
- Cale a boca, pessimista. Você parecia não acreditar nisso há alguns minutos atrás.
- O que? Espere só chegarmos em terra firme e eu lhe dou novamente uma luta de facas e dessa vez você morre – Ron brincou e mexeu nos cabelos de Harry.
Deu um cafuné no amigo, que embora tivesse a mesma idade do que ele, era bem mais baixo. Talvez não fosse culpa de Harry, Ron era realmente grande.


Quando eles finalmente chegaram a ilha, estavam contentes demais para depois ver o quão deprimente ela era, praticamente sem vegetação. Não tinha sequer uma arvorezinha com frutas.
Harry era o mais decepcionado dos dois. Ron não se importara tanto com isso, desde que ele achasse o tesouro. Pegou o mapa e resmungou, quando se deu conta que não estava marcado aonde ele estava. Tinha uma charada, apenas.
Fora ingênuo em achar que algo que tivera ajuda de Dumbledore fosse tão fácil de se achar. Diferente de Harry, que começou a correr à procura de alguma árvore ou cachoeira, sentou-se no chão e começou a reler a charada várias vezes tentando raciocinar.
Infelizmente, estava realmente difícil de se entender a charada. Harry sentou ao lado de Ron um pouco mais animado por ter achado algumas plantas, e dentre delas havia umas comestíveis que poderiam fritar junto ao peixe.
Aquela informação entrou e saiu do ouvido de Ron, que ainda tentava solucionar a charada. Levantou-se, assustando Harry, e começou a andar sem lugar definido, às vezes virando ao dar um passo e depois retornando a se virar e dar mais passos.
- Algum problema, Ron? – Harry levantou-se também. – Parece que você nem ouviu que eu achei algumas ervas e...
- Eu ouvi sim, mas eu estou tentando solucionar a charada para acharmos o tesouro... – Ron disse indiferente, com o cenho franzido.
- O que? Aqui tem um tesouro? Nós estamos procurando um tesouro? Por que você não me contou? Tudo teria sido diferente então, teríamos evitado brigas! Deixe-me ver o papel... – Harry disse, estendendo a mão para pegar o mapa.
- NÃO! – Ron berrou virando-se. – Deixe que eu faço, você não conseguiria.
- E o senhor sabido parece que também não consegue – Harry emburrou.
- Está bem, olhe – Ron mostrou para Harry. – Está vendo? E então, alguma idéia de onde ele possa estar?
- Não... – Harry continuava emburrado.
Ron deu um suspiro e voltou a ler, palavra por palavra, bem pausadamente. Porém, não conseguiu ficar concentrado com os resmungos de Harry.
- Por alguns minutos, eu pude sentir felicidade, mas vejo que nem essas plantas conseguiram me fazer ficar feliz...
- Não diga isso, lembre-se que eu quem sou o pessimista – Ron disse, ainda preso ao mapa.
- Eu sei, mas não consigo – Harry levantou-se andando para o barco. – Eu vou preparar a comida.
Ron assentiu com a cabeça e voltou a se concentrar no mapa.


O pôr do sol estava ocorrendo, quando uma idéia iluminou a cabeça de Ron. Levantou-se e correu até onde a ilha parecia ser a cabeça do elefante. Bateu com os pés tentando achar algo oco, mas nada encontrou. Harry, que até então tentava em vão conseguir o segundo peixe, resolveu correr até o amigo.- Algum problema, Ron? Você estava batendo o pé como um louco e eu vim ver o que é.
- Não é nada, eu apenas me enganei. Pensei que era o tesouro, segui a lógica aqui no mapa. – Ron parecia derrotado.
- Bem, continue a tentar enquanto houver luz. Vou tentar outra área da ilha para achar algum peixe. Deseje-me sorte que desejo para você também – Harry riu e com um pulo desceu da "cabeça" do elefante caindo no buraco abaixo dela.
Ron se sentou e começou a reler o mapa mais vezes. Tudo indicava a cabeça, mas ali estava ele, na cabeça do maldito elefante-ilha e nada encontrava! O mapa dizia claramente que se podia ver o tesouro. Não se precisava cavar ou coisa do tipo.
Deitou-se, abrindo os braços e pernas. Viu o sol desaparecendo no horizonte e suspirou. Pareciam que os anos de estudos junto a Dumbledore não tinham rendido muito em sua cabeça.
Para achar o tesouro tinha de raciocinar como Dumbledore, e foi pensando nisso que outra idéia começou a se formar em sua cabeça.
- Ron! Veja só, consegui não só um peixe, mas milhares! Venha aqui!
- Cale a boca, Harry, estou pensan... – Ron parou e se levantou. – É isso, o tesouro está embaixo da cabeça, por que não pensei antes?
- Eu não sei, mas venha logo, os peixes estão fugindo, eu sem querer acabei com a cerca que os prendia.
Ron deu um pulo e parou ao lado de Harry, mas não deu atenção ao peixe que se balançava na mão de Harry, viu os vários peixes e pulou na água cristalina. Afastou as algas que o atrapalhavam e os peixes facilitaram o trabalho de Ron ao abrirem passagem para ele. E então, apareceu.
Ron sorriu, ali estava o enorme tesouro de Spada. Ele era agora o homem mais rico do mundo.


Harry se levantou, afastando a areia que estava em volta dele. Pular daquela altura não fora boa idéia. Virou-se e não acreditou no que viu.
Havia milhões de peixes ali. Olhou para o laginho a sua frente e procurou ver alguma saída para o mar, e viu um pequeno espaço. Colocou a mão e sentiu uma rede fina e a puxou, vários peixes vieram em sua mão indo em direção ao mar. Mas outros continuavam no laguinho.
Deu um riso de conquista. Gastara horas procurando mais um peixe para ele e Ron, e ali estavam milhares de peixes, não importava o quanto Ron demorasse a solucionar o mapa, eles tinham peixe o suficiente para dias. E aqueles não eram qualquer peixe, eram peixes finos.
Correu até um local que desse para ver Ron em cima da cabeça do elefante e berrou para o amigo. Como sempre, recebeu uma resposta rígida e rabugenta, mas era esperado devido a situação que Ron estava no momento.
Mas, de repente, Ron pulou a seu lado e correu até o laguinho de peixe, assustando os pobres peixes, e pulou na água. Harry já ia falar algo, quando Ron voltara a superfície com moedas de ouro na mão.
- Achei! Achei o tesouro, Harry! Nós somos ricos agora! – Ron tacou as moedas em Harry, que largou o pobre peixe que já parara de se debater.
- Meu Deus, eu voltei a ser rico! – Harry berrou e então pulou pegando algumas moedas para ele. – Vamos Ron, precisamos tirar os baús.
- Olhe, vejam só, quem está mais empolgado aqui?
- Cale a boca e me ajude.
Os dois tiraram dois baús e pegaram algumas moedas. Então, resolveram que era hora de comerem. Harry pegou dois peixes e facilmente preparou jantar dos dois que embora não luxuoso os satisfez bastante.
Harry dançava um pouco bêbado depois de achar escondido algumas garrafas de vinho e rum. Tinha uma pequena coroa na cabeça e um bastão na mão, com o que dançava alguma das músicas que Bill, Charlie e ele haviam feito em suas noites infelizes na infância de Harry.
Ron permanecia sério e sóbrio, embora tivesse tomado um pouco de vinho e tinha a garrafa a seu lado. Ele pensava. Pensava em seu plano de vingança que agora teria de reformulá-lo e com tanto dinheiro assim, ele poderia ampliar e fazer algo majestoso.
Mas para isso teria de mudar de nome, Ron Prewett era um homem morto. Ele agora teria de inventar um outro nome. Pensara em Ron Spada, afinal, ele ficara rico com o dinheiro de Spada. Pensara até mesmo em Ron Dumbledore, mas poderia chegar aos ouvidos das pessoas de Azkaban e poderiam relacionar ele ao que fugira, e assim poderia ser preso. Ele queria passar despercebido. Um nome novo, que o satisfizesse e fosse discreto.
O nome da ilha era Monte Cristo, embora fosse apelidada pelas pessoas de ilha de elefante. Ron Monte Cristo? Não, não era do seu tipo. Olhou indiferente para Harry dançando e se lembrou de Bill e Charlie conversando durante as noites com ele e Harry. Noites boas aquelas...
E então, ele se decidiu. Seria Ron Weasley. Em dedicação a Bill e Charlie que o trataram como irmão. Eles não eram identificados por Bill e Charlie Weasley, mas sim Bill e Charlie O'Bannon.
Sorriu e um pouco mais animado com seu plano de vingança perfeito. Levantou-se e se juntou a Harry, acompanhando a dança ligeiramente louca dele.


Estavam colocando alguns baús no barco, quando Harry foi apagar a lareira e Ron o impediu, jogando o mapa na lareira.
- Ninguém mais saberá da ilha e do tesouro. Quando precisarmos retiraremos o resto do ouro. De acordo?
- Com certeza – Harry sorriu. – Esse dinheiro já é mais do que o suficiente!
- Sim, é – Ron se apoiou em Harry passando o braço pelo pescoço do amigo. – Vamos, então? Promete que dessa vez será mais bonzinho comigo e não cantará?
- Eu tentarei, se você me prometer que agora vamos parar em Roma, seguir até a França de carroça e depois irmos a barco para a Inglaterra.
- Pensarei no seu caso – Ron riu. – Ok, faremos isso.
Os dois acabaram de ajeitar o barco, empurraram-no e logo estavam no mar. Ron sorria, não estava nem um pouco rabugento quanto antes, embora soubesse que agora viria a sua vingança. Harry estava feliz por saber que mais uma vez na vida, ele era rico. Sabia que Ron deixaria ele pegar um pouco do dinheiro para ele.
- Hmm, Ron... – Harry chamou o amigo, eles já estavam longe da ilha, pelo menos, já não a avistavam longe no horizonte. – Peço desculpas pelas coisas que disse. Eu sei que as coisas que você disse, metade estava certa, mas a razão de eu ser assim não é apenas a anseio de voltar a ter uma vida real.
- Não se preocupe, eu exagerei também – Ron riu. – Amigos brigam, é normal. Lei da natureza, lembra?
- Sim, mas eu sinto como devesse contar a você meus pensamentos e tudo mais – Harry suspirou. – Quando eu tinha algo aproximado a 11 anos, Bill e Charlie me contaram tudo. Me falaram sobre Riddle e me contaram que quando achassem que eu tinha idade, me dariam informações mais precisas sobre minha família.
- Aquele saquinho que eles te deram?
- Sim, no saco há a arma com a qual ele matou meu pai. Resta uma bala e eu prometi a mim mesmo, desde meus 11 anos, que eu mataria Riddle com essa bala. E cortaria a garganta dele como ele fez a minha mãe.
- Bill e Charlie apóiam isso? – Ron perguntou chocado. – Não me parece que eles concordariam.
- Eles nem sabem de meu plano – Harry olhava para o horizonte.
- O que eu posso dizer? – Ron riu. – Nós estamos no mesmo barco – Harry olhou para ele como se fosse uma coisa óbvia. – Falo metaforicamente. Nossos desejos são iguais Harry, você não percebeu? Você falou basicamente que eu deveria esquecer minha vingança, e veja só o que você acabou de me dizer. Você deseja vingança também. Resumindo, estamos desgraçados no mesmo barco.
Ron sorria de um jeito misterioso e Harry bufou.
- É diferente.
- Ahn? Eu não acho... é exatamente a mesma coisa. Vingança é vingança, não importa o tamanho.
Harry resmungou e afundou no banco que estava. Ron riu do amigo e então fechou os olhos, descansando.

(Continua...)

N/A: Hhahaha eu fiz esse capitulo ouvindo The Calling O.o'. Mas sabe, eu não gosto deles XD. Não mais. Perdoem-me se o cap estiver muito ruim, é culpa do The Calling e aquele primeiro Cd deles u.u'.