Capítulo 3: As aparências enganam parte III.
Nem quis mais saber de presente nem nada. Rodei o hospital todo, mas finalmente achei o Dr. Kovac do lado de fora do hospital.
--Ei!Ei! Luka, você mexeu nos meus presentes?
--Mexi—falou gaguejando.
--Quem mandou? Isso é invasão de privacidade.
--Só queria ver o que o Carter tinha te dado.
--Vai começar com ciúme bobo de novo?—Nessa altura do campeonato já estava gritando.
--Vou. Por que? É proibido ter ciúmes da minha namorada?—Ele engrossou a voz, o que me assustou um pouquinho.
--Não, não é proibido, mas eu não te dou motivos para você ter ciúmes, e mesmo que eu desse você não tinha o direito de mexer nas minhas coisas, NÃO TEM.
--Se não gostou, vai reclamar com o Carter, ou melhor, com seu eterno John.
--Carter, Carter, Carter...Para com criancice Luka, o Carter é meu amigo, só isso. Apesar de eu achar que você às vezes você deseja o contrário.
--O que você está insinuando?—Seu único defeito, único, a droga do ciúme.
----Não tô insinuando, to afirmando que seu verdadeiro desejo, é que eu tenha alguma coisa com o Carter, não é?
--Não, não é. Mas se você quer realizá-lo assim mesmo, pode ir eu não quero nem mais saber. To de saco cheio, de você e de suas amizades coloridas.
--De saco cheio to eu, que não agüento mais essa sua frescura de achar as coisas e não falar nada, hoje, por exemplo, você podia ter vindo falar comigo, mas não, seu orgulho é muito grande, né? Ao invés disso ficou frio o dia todo, sabe de uma coisa? Quem não ta mais nem aí sou eu. Dane-se você e seu ego do tamanho do mundo. Tchau, eu vou realizar seu grande desejo!
--Já vai tarde!
Claro que eu não tinha a menor intenção de ir atrás do Carter, meu plantão estava no fim, o hospital calmíssimo, Chuck tinha ido visitar Susan juntamente com Cosmo, meu afilhadinho parecia cada vez maior(não ia estragar o momento chamando a Susan para ouvir minhas dores de cotovelo), então resolvi seguir para o Magoo, e me juntar a um preto quentinho.
--Um café puro.—falei para a garçonete que devia estar nos seus dezessete anos.
--Procurando por companhia?—Foi tão bom ouvir aquela voz familiar, meu eterno amigo John Carter, me virei de costas—Claro!Por que, não?—logo fui me sentando.
--Então...gostou do presente?
--Para falar a verdade ainda nem tive tempo de abrir! Vou fazer isso quando chegar em casa.
--Tem um palpite do que seja?
--Um livro—chutei.
--Em cheio.
--Qual?
--Isso você vai ter que descobrir sozinha.—Não tava com saco de insistir, com aquela dor de cabeça que eu tava que veio junto com o cheiro do café.
--Mas então...sozinha no dia do seu aniversário?
--Não to sozinha...Tô com você.
--Eu quis dizer, achei que você ia passar com o Luka ou com sua mãe.
--Das suas opções, Maggie seria minha escolha.
--Brigou com Luka de novo?—Não gostei da entonação do "de novo?", será que nossas brigas já estavam tão comuns e só eu não percebia?
--A gente têm gênio difícil.
--Qual o motivo dessa vez?
Tentei dar uma disfarçada...
--Será que meu café ainda vai demorar?...mas acho que ele percebeu.
--Abby, qual o motivo? Por favor não diz que foi ciúmes do Luka de novo?—O que eu faço?Falo logo e deixo ele ficar com peso na consciência ou devo ficar com o peso nas minhas costas?
--Ah não...Foram outras coisas.
--Até já conheço vocês dois. Não esquenta. Amanhã vocês já estão de bem.
--Não sei não Carter...Não que dessa vez tenha sido diferente das outras, mas sabe, a gente brigou e eu não senti nada, nem remorso nem saudades muito menos vontade de pedir desculpas, achei que depois que passasse meu aniversário ia ser diferente, a gente não ia brigar mais, mas não foi bem assim, acho que esgotei de tanta briga, é melhor cada um ficar para seu lado.
--A esperança é a última que morre.
--Mas sabe que desde de criança eu sou assim?
--Seu café. Desculpe pela demora.—A garçonete colocou a xícara bem perto de mim e eu até senti o calor do café.
--Assim como?—Ele retoma a conversa depois que ela se afasta.
--Quando eu era criança sempre esperava que minha vida fosse mudar depois do meu aniversário, para melhor claro, eu acreditava que a Maggie ia tomar seus remédios, meu pai iria voltar, nossa família iria ganhar um novo membro e seríamos feliz, mas acabava que o meu aniversário passava e nada mudava.
--Talvez esse ano mude.
--John, já desisti.—será que eu tinha que chamá-lo de John?Será?
--Você não pode, você sabe o que vai acontecer amanhã quando você acordar?
--Sei!Eu vou estar mais uma vez atrasada e vou ouvir sermão da Weaver mais uma vez, só para não fugir ao costume.
--É sério Abby. Sua vida pode sim mudar da Noite para o Dia.—Minha dor de cabeça piorou, e eu não ouvia mais nada do que ele falava, tentava ler seus lábios, mas realmente não conseguia.
