CAPÍTULO VII
- Eles... já foram?
- Já –
Remus responde num sussurro, ciente de que ela está
envergonhada por toda aquela situação.
- Eu...
sinto muito... eu...
- Shiiii... – ele ergue seu rosto e
pousa um dedo sobre seus lábios – Quietinha, está
tudo bem. Sorte sua que era eu quem estava lá fora.
Ele
ri, um sorriso terno e quente, e Mary sente seu coração
e também seu corpo inteiro se aquecer. E sorri, também,
tímida e vacilante.
Remus a fita por um minuto, então,
tomando seu rosto entre as mãos, murmura:
- Você
é tão linda... tão doce... me dá
vontade de...
- De que? – Mary o fita, seus olhos novamente
castanhos e já rasos de água.
- Disso. – sem
dizer mais nada, Remus a beija.
Um beijo lento e tranqüilo,
quase como se lhe pedisse pra não rejeitá-lo.
Mary
quase foge, mas por um momento pensa estar sonhando. Ele, seu
amado Remus, está ali, e a beija. E ela sente tanta ternura
naquele beijo, que pensa que não perderia aquele momento,
mesmo que se arrependesse depois.
O primeiro beijo, ela
poderia fingir que não tinha acontecido. Que não
passava de mais um dos seus sonhos. Mas daquela vez era diferente.
Não tinha como negar. Não tinha como fugir. Que lhe
importa se no dia seguinte todos a apontarem na escola? Ou que até
tiver que partir? Pelo menos levará essa lembrança
boa.
Sentindo que ela o aceita, Remus intensifica o beijo, até
parecer ser capaz de lhe demonstrar toda a sua paixão. Até
ambos ficarem sem fôlego.
Ao se afastarem, a lucidez
parece voltar. Mary se arrasta para a parede oposta, encolhida
como uma criança assustada, e Remus sente-se um perfeito
idiota.
- Desculpe-me. Eu... abusei da sorte, reconheço.
Sei que você vai me odiar por isso, mas não resisti.
- Por que? – Mary pergunta baixinho, mal acreditando que
ainda tenha voz.
- Por Merlim, eu... – Remus a fita, o olhar
sofrido e tenso – Você não entende? Eu faço
tudo que posso pra ficar longe, mas... não consigo. Sei que
não tenho nenhuma chance, mas... eu amo você, Mary.
- Isso é mesmo verdade? – ela se aproxima novamente,
ignorando o cansaço causado pela transformação,
e a vergonha que sentia por tê-lo atacado, enlouquecida e
cega pela sua maldição.
- Sim. – Remus
responde simplesmente, fitando-a intensamente.
- Não
posso acreditar. Eu nunca pensei... – Mary soluça.
-
Por favor, me perdoe. Sua maldição é tão
terrível quanto a minha. E, ainda por cima, isso é
mais um motivo para estarmos longe um do outro, mas a gente não
manda no coração. E eu amo você, sua vampira
louca e linda!
Mary arregala os olhos. Lupin a abraça
de novo, expressão aflita.
- Você não está
dizendo isso só pra rir de mim depois, com seus amigos, não
é? Só pra fazer eu confessar que também te
amo, que sempre te amei, desde o primeiro minuto que o vi, que o
vejo em minhas visões e me acho uma impostora por ver algo
impossível?
- Verdade? – ele se abri num sorriso –
Você também me ama? Então...
Ele não
diz mais nada, apenas a beija com renovada paixão. Até
que ela reclama por ele a estar apertando e deixando sem ar.
-
Desculpe... – ele sorri sem graça. Então,
erguendo-se e pegando a varinha, ele a puxa pela mão –
Venha, vamos conversar lá em cima.
Ele a conduz pelo
resto do túnel, até o interior da casa dos gritos,
onde podem pelo menos se sentar em cadeiras ainda inteiras. Isso,
claro, depois de verificar que não há um único
buraquinho por onde o luar entrasse.
Mary refreia a
curiosidade sobre aquele lugar. Sabe que a escola era cheia de
passagens secretas, mas não tem nem idéia de aonde
estão, não pode nem imaginar que estivesse em plena
Hogsmeade, na casa conhecida como "a mais assombrada de toda a
Inglaterra"!
- Como você não poderá sair
agora, acho que teremos muito tempo pra conversar.
- Sim... –
Mary suspira – Você sempre soube?
- Sim, assim como
você. Nós nos identificamos mutuamente, e por mais de
uma razão. Bem... é aqui que eu permaneço
durante toda a lua cheia... o prof. Dumbledore, como sempre,
encontra um jeito pra tudo.
- E como vai ser? Depois que
terminar a escola?
- Tenho pensado nisso, afinal, só
falta mais um ano. Vai ser difícil encontrar um emprego,
tendo que me ausentar por uma semana todo mês. Não
haverá como negar o que sou. Mas encontrarei um jeito. Mas
uma coisa eu sei: nunca me unirei a outros que pensem em espalhar
esse mal, não serei um ser das trevas, espalhando minha
infelicidade.
- Eu também penso assim... mas é
tão difícil! Você pelo menos só sofre
os efeitos da lua cheia... quanto a mim, sofro o mês quase
inteiro, só tenho paz na lua nova. Quero ser professora,
mas como sujeitar crianças ao risco de uma mordida
acidental? Videntes não encontram emprego fácil, a
não ser entre os trouxas, que sempre estão à
procura de alguém pra lhes dizer o seu futuro...
- O
Prof. Dumbledore disse que há um bruxo desenvolvendo uma
poção nova, que talvez me ajude... Mas isso pode
levar anos, você sabe como são esses fazedores de
poções.
- Sei... – Mary o fita – mas você
não vai desistir, vai?
- Claro que não! – ele
sorri tristemente – Eu vou encontrar um jeito de ir...
sobrevivendo. E você?
- também não vou
desisitir, mas... é tão duro pensar que se vai ficar
só, por causa disso! Como posso me aproximar de alguém,
me arriscar a ferir quem eu mais amo? Mesmo você... olhe o
que eu quase te fiz hoje. EU não me perdoaria se... se eu
tivesse mordido você.
- Você talvez me matasse. –
Remus comenta, mas percebe que isso a transtornou – Olha, me
perdoe, sou um imbecil mesmo. Mas... não, não.
Impossível.
Ele se afasta dela, indo tamborilar nas
teclas do velho piano, automaticamente tocando as notas de "Verão
de 42", a melodia triste os envolvendo.
- Não sabia
que tocava – Mary fala, docemente, caminhando até ele.
-
Minha mãe me ensinou. Ela dizia que a música eleva o
espírito, nos torna bons.
- E o que você acha
impossível? – Mary se encoraja a perguntar.
- Eu ser
capaz de fazê-la feliz... – Ele se volta e a encara –
Amanhã de manhã, você poderá sair
daqui, mas não poderá voltar comigo à noite,
quando eu me confinar por toda a lua cheia. Porque, ao contrário
de você, não basta estar a salvo da luz da lua.
Então, será impossível ficarmos juntos.
Mary
o fita, confusa. Então, num ímpeto, abraça-o
com força e diz:
- Se é verdade que você
me ama, isso não importa. Não interessa se estaremos
longe um do outro por uma semana inteira. Teremos o resto do mês
para ficarmos juntos. Se você for capaz de estar num lugar
completamente protegido da lua por duas fases inteiras, na lua
nova, passearemos à beira do lago, e poderemos nos sentar e
apreciar as estrelas.
- Mary... você é a mulher
mais incrível do mundo!
- Não, não sou.
Você vai descobrir, se ficar ao meu lado, que sou insegura,
ciumenta, destrambelhada...
- Linda, doce, alegre, divertida.
– Remus a beija e depois a faz encostar em seu peito novamente.
Mesmo assim, de pé, ela pode fazê-lo, pois ele é
mais alto.
- Amanhã pela manhã, vamos falar com
Dumbledore. Ele achará uma solução pra nós.
Feliz, rindo como se nenhum problema existisse, pois revê
em sua mente sua visão mais bela, Mary se coloca na ponta
dos pés e lhe dá um beijo, antes de dizer:
-
Então, Senhor Remus Jonh Aluado Lupin, esteja certo de que
não desgrudarei de você um só minuto daqui por
diante.
- Tem certeza? – ele sorri, maroto.
- Claro que
tenho! – mas a velha insegurança brotou – a menos
que... você não me queira mesmo com você...
-
Não querer você? – ele quase grita – Por Merlin,
garota! A minha vontade agora é poder mantê-la aqui
de algum jeito, para eu nunca mais passar uma noite sozinha na
vida... – ele passa as mãos pelos cabelos – Mas eu
posso ferir você mortalmente, então... acho melhor a
gente esquecer essa história.
- Não! Eu não...
Mary irrompe em lágrimas e Remus se sente ainda pior. O que
está fazendo? Jogando fora sua única chance? Ela,
como ele, carrega uma maldição das mais terríveis.
Quem mais seria capaz de entendê-lo, ou suportar
circunstâncias tão terríveis? Mas... terá
ele o direito de exigir dela um peso ainda maior do que o que já
carrega?
- Não terei um peso maior, pelo contrário.
Dividindo com você, ambos teremos um peso menor para
carregar.
Só quando ouve sua resposta, é que
Remus percebe ter exposto seus receios em voz alta. E a coragem
que aquela garota demonstra nesse instante o conquista de vez.
Afinal dos professores e dos seus três amigos, ninguém
mais o aceita como era.
- Você tem razão. Juntos,
seremos mais fortes para vencer essa tormenta. O que importa o que
os outros dirão? Nós nos amamos, é o que
basta.
Dizendo isso, ele a abraça ternamente, e eles se
beijam, felizes e convictos de que juntos vencerão qualquer
coisa...mesmo que amanhã seja lua cheia!
