CAPÍTULO X
Lupin e Margareth ficaram se olhando, ambos confusos;
ela, sem saber o que fazer; ele, sem entender aquela reação
tão estranha da parte da menina, que mais parecia um ratinho
assustado, olhando-o de olhos arregalados e se debatendo, pedindo:
-
Me solta!
- Claro que eu solto. - Ele replicou. - Mas só
depois que você me explicar porque é que sempre foge de
mim. Fiz algum mal para você?
Margareth baixou os olhos e
parou de se debater, murmurando:
- Não... Você não
fez nada...
Remus segurou o queixo dela, obrigando-a a olhá-lo
nos olhos e inquiriu:
- Então? Porquê? - Soltou o
queixo dela, mas continuou segurando o braço.
- Porque...
- Ela corou violentamente, antes de continuar a falar - É
que... eu sou tímida, você é tímido... nós
temos tanta coisa em comum e eu queria tanto chegar perto de você...
mas eu não quero que você me rejeite.
Foi a vez de
Lupin corar. Imediatamente, largou o braço da menina e virou
as costas para ela, coçando a cabeça atrapalhado,
enquanto uma ruga de preocupação surgia entre os seus
olhos. A menina estava... apaixonada por ele? Ele, Remus Lupin, iria
quebrar um coração? Ainda por cima sabia que Margareth
era amiga de Mary e bem solitária... Como lidar com aquela
situação?
- Er... rejeitar? - Começou,
voltando-se de novo para ela e olhando-a nos olhos. - Olha... eu...
eu não quero te magoar de jeito nenhum... só que...
você sabe, você é amiga da Mary... é a ela
que o meu coração pertence. Me perdoe, por favor, mas
tudo que eu posso te dar, e com todo prazer, é a minha
amizade.
O rosto de Margareth se iluminou num sorriso, perante um
Lupin boquiaberto de surpresa.
- A sua amizade? - repetiu ela,
com um sorriso rasgado. - Com todo prazer, você disse?
-
Sim... - Gaguejou ele, totalmente confuso com mais uma reação
incompreensível da parte daquela garotinha que tinha o condão
de confundi-lo.
- Mas era isso mesmo que eu queria! - Exclamou
Margarteh, perdendo, como que por encanto, o ar de ratinho assustado.
- Eu sempre olhei para você como uma espécie de irmão
mais velho que eu nunca tive. Nunca passou pela minha cabeça
te namorar! Imagine, eu sou amiga da Mary e sei que ela te adora,
aliás, ela vive para você! - Ele sentiu as faces queimar
de tanto rubor. - Mas a sua amizade é muito importante para
mim. Promete que vai ser o meu irmão mais velho?
Remus
sorriu, vencido:
- Prometo... irmãzinha!
Sem perder o
sorriso, a garota continuou:
- Combinado, então. Ah...
e... por favor, faça a Mary feliz. - Piscando o olho como se
fosse uma nova Margareth, a surpreendente menina se afastou, deixando
Remus sozinho, lembrando-se de onde estava indo quando trombara com
ela. Não precisou andar muito para se aproximar do seu alvo.
- Mary...
A loirinha se virou para ver quem a chamava e corou
até a raiz dos cabelos:
- Rem... er... Lupin! - Gaguejou,
enquanto olhava dele para as amigas, Cecille e Stacey, que
conversavam animadamente, antes da chegada do rapaz.
- Estavamos
justamente falando de você! - Atirou Cecille, com um sorriso
mordaz e sem parecer minimamente preocupado com o olhar furibundo que
a jovem vampira lhe lançou e que não foi indiferente a
Lupin. Ele teve certeza: ela contara às amigas sobre o namoro
dos dois. Mais um motivo para também ele partilhar a sua
alegria com os seus próprios amigos. Viu Stacey cutucar
Cecille com uma cotovelada indignada, mas a estrela do time de
Quadribol da Lufa-Lufa, Cecille Johnson, não era mulher de
fingimentos nem omissões e replicou:
- Ah, gente, se vocês
querem continuar com esse segredinho absurdo, me deixem de fora, por
favor! Eu acho isso tudo ridículo. A Mary e o Lupin se gostam,
estão namorando, ótimo! Para quê esconder?
-
Shhh! - Pediu Mary, irritada, ao reparar num grupo de meninas do
quarto ano que os olhava, com ar interessado e certamente haviam
escutado parte da conversa. - Desse jeito, isso que você chama
de "segredinho absurdo" vai acabar virando um segredo de
Polichinelo, isso sim!
Remus não dizia uma única
palavra. Limitava-se a fixar cada uma que falava, como se elas
tivessem esquecido que ele estava ali. A custo, consegui reprimir um
sorriso, ao pensar que ele próprio e os seus amigos talvez
fizessem figuras parecidas.
Foi a vez de Stacey se pronunciar,
num tom doce, porém provocador, como se estivesse escondendo
ela mesma algum outro segredo:
- Ah, Cecille, não vai me
dizer que tem coisa no mundo mais romântica do que um amor
secreto!
A amiga rolou os olhos e bufou, exclamando:
-
Secreto, só se for para a Lula Gigante e mesmo assim duvido!
Sim, porque acho que até as criaturas mágicas que a
chata da Grubly-Plank nos obriga a estudar já estão
carecas de saber que esses dois se gostam!
- As... as criaturas
mágicas? - Balbuciou Mary e, mais uma vez, Remus reprimiu um
sorriso. Não podia deixar de achá-la encantadora, no
seu jeito infantil e atrapalhado.
- 'Tá, 'tá! -
Stacey acenou com a mão no ar, num gesto agastado, mas
prosseguiu. - O sentimento pode até não ser mais
segredo para ninguém...
- Não! - Interrompeu
Mary, com ar aflito, mas as duas amigas preferiram ignorá-la e
Stacey continuou:
- ...mas o namoro, é! - O seu rosto
assumiu um tom levemente avermelhado, quando voltou a falar - Existe
algo mais romântico do que namorar escondido?
Cecille
suspirou:
- Vocês é que sabem. Eu, pessoalmente, não
acho a menor graça. Se vocês querem saber, acho essas
coisas de romantismo uma tremenda bobagem. Façam como
entenderem, mas eu acho ridículo.
A garota virou costas e
começou a andar na direção oposta, deixando os
outros três boquiabertos.
- Hey! - Chamou mary, em tom
desafiador. - Que é isso, agora? Resolveu fazer beicinho e
fugir, foi?
Cecille parou de repente. Respirou fundo, como se
estivesse contando até dez para não responder torto à
provocação da amiga. Só então se oltou
para ela, replicando:
- As palavras "Treino de Quadribol"
te lembram alguma coisa, Srtª Romantismo? Francamente, prefiro
um milhão de vezes a emoção de voar numa
vassoura e ganhar pontos para a Lufa-lufa do que essas coisas
ridículas de paixões avassaladouras que deixam as
pessoas com cara de idiotas. - Voltando as costas de novo, Cecille
sumiu.
Era tarde... muito tarde... mas Lupin continuava
sem sono. As lembranças o invadia, cada vez com mais força.
Lembranças de histórias vividas, presenciadas e
contadas.
Sorriu ao se lembrar o quanto Cecille "pagara pela
língua": realizara, de fato, o seu maior sonho de ser
jogadora profissional de Quadribol, contribuíndo por duas
vezes para que a Inglaterra se sagrasse campeã europeia e uma
vez campeã Mundial da modalidade... mas a vida pessoal estava
longe de ser menos interessante, já que fora marcada por uma
das coisas que ela mais criticava e desprezava: uma "paixão
avassaladora".
Ainda não tinha terminado os estudos
em Hogwarts, quando os pais, uma tradicionalíssima família
de sangue-puro cujo maior desgosto era o fato dde nenhum dos filhos
ter ido parar na Sonserina (o Chapéu seletor achara que
Cecille possuía qualidades de todas as casas e, na dúvida,
acabara por mandá-la para a lufa-lufa), acabaram descobrindo a
"paixão avassaladora" de Cecille por um vizinho
trouxa.
Contra tudo e todos, a garota acabara por fugir com o
trouxa, casara com ele e voltara para seguir uma carreira brilhante
como jogadora profissional de Quadribol.
Remus lembrou a sobrinha
de Cecille, Angelina Johnson, também ela uma exímia
jogadora, embora muito mais bonita e feminina e tentou se imaginar se
também ela entraria para um time profissional.
Todavia,
não conseguiu imaginar. Só torcer do fundo do coração
por Angelina. Do futuro, ele nada sabia... Quanto ao passado,
continuava jorrando da sua mente, como se uma torneira tivesse se
aberto e não fosse possível tornar a fechá-la.
