CAPÍTULO XII

Mary olhou Lupin, com a perplexidade no olhar. Fora pega de surpresa e levou alguns momentos para se refazer e poder replicar:

- Remus, a gente tinha combinado...

Ele a interrompeu:

- Mary, escuta: eles não vão me zoar, como você teme tanto. Eles são meus amigos de verdade, você mesma acabou de dizer isso... E depois... ah, depois, se me zoarem vai ser só de brincadeira e eu garanto para você que tenho boas respostas para dar para eles se eles se atreverem a zoar de mim. - Ele piscou para ela, com um sorriso que imediatamente a derreteu e a fez devolver o sorriso:

- Você quer partilhar a sua felicidade com eles, não é?

Ele abriu mais o sorriso, sentindo que esse sorriso se formava igualmente dentro do seu peito. Afinal, fora tão fácil. Tanto tempo magicando e afinal ela tinha entendido tão rápido. Mulheres! Todas imprevisíveis. Todas com o dom de deixá-lo sem fala.

- Eu sei o que é isso. - Ela continuou. - Eu também não consegui me segurar até dividir tudo com a Stacey e a Cecille.

- Quer dizer que eu não preciso mais esconder dos meus amigos que a gente está namorando.

Mary deu de ombros.

- Não vou dizer que é uma coisa que me agrada muito... mas quem sabe assim eu não consigo simpatizar um pouco mais com eles? Se eles não zoarem muito...

- Mary... - Começou Remus. - Eles sabem que a gente se gosta e sinceramente dão a maior força.

- S... sabem? - Ela gaguejou.

- A Cecille tem razão - ele prosseguiu-, acho que até a Lula Gigante já sabe que a gente arrasta o Notibus um pelo outro sem usar magia!

Ela não conseguiu conter uma gargalhada.

- A gente dá tanto assim nas vistas?

Lupin se limitou a acenar com a cabeça, confirmando com um sorriso ligeiramente acanhado e ela desatou a rir, enterrando a cabeça no ombro dele, com um ataque de riso, que ele acompanhou por uns momentos, envolvendoa-a num abraço e depois silenciou-a com um beijo...

Foi então que um soluço atrás deles interrompeu a manifestação de carinho.

- Mary... - Ouviu-se uma voz chorosa atrás deles.

Os dois apaixonados olharam em direção da voz e depararam com Stacey Weasley. A garota ruiva e brincalhona, sempre de sorriso nos lábios, estava quase irreconhecível, com o nariz e os olhos inchados pelo choro e o rosto, normalmente pálido, tão vermelho que quase se confundia com a cor dos cabelos.

Mary deu um pulo e correu para a amiga, aflita e sem jeito. Não sabia lidar com os seus próprios sentimentos, mas lidar com sentimentos alheios era mais terrível ainda. Mexia demais com as suas próprias emoções. Pegou a mão dela e inquiriu:

- Stacey... o que foi?

A ruiva olhou para Remus, que logo percebeu aquele olhar como uma deixa para se retirar e deixar as duas amigas conversar a sós.

Seguiu o seu caminho até o salão comunal da Grifinória e deu de caras com Sirius Black, gritando para Peter Pettigrew:

- Me deixa em paz, Rabicho! Bando de grudentos! Porque é que eu só me meto em fria? Porquê?

- D... desculpa... - Murmurou Peter, baixando os olhos.

James Potter segurou Sirius pelo braço e o abanou, exclamando:

- Calma, cara! O Peter não tem culpa! Vamos conversar...

- Eu não quero conversar! - Berrou Sirius, desenvencilhando-se de James e rumando para o dormitório, com as faces rubras de raiva e revolta, enquanto todos os alunos presentes o olhavam, pasmos. Conheciam as explosões de Sirius, mas todas elas eram imprevisíveis. Ninguém sabia o que ele poderia fazer em seguida.

James fez menção de segui-lo, mas Remus o segurou.

- Não. - Pediu. - Ele quer ficar sozinho. Deixe-o só.

- Ele está louco! - Exclamou Potter, passando nervosamente os dedos pelos cabelos negros e desalinhados. - Está avolumando uma coisa que não tem a menor importância. Eu preciso falar com ele, trazê-lo à realidade... Aliás... - Estacou, olhando o jovem lobisomem e só então continuou a falar - Porque não vai você falar com ele?

- Eu? - Espantou-se Lupin.

- É. - Confirmou James. - Você. Remus, você é o mais calmo e o mais sensato de nós quatro. Só você pode acalmar aquele cabeça-dura.

- Mas... mas eu nem sei o que foi que aconteceu... - Gaguejou Lupin.

Nesse momento, a conversa foi interrompida por uma bela garota de longos cabelos cor-de-fogo e olhos cor de esmeralda: Lily Evans, que, aproximando-se dos dois comentou:

- Aconteceu que o Black é tão idiota quanto aqui o seu amigo Potter!

- Evans! - Exclamou James, em tom indignado. - Eu jamais agiria como o Sirius, eu jamais...

Ela preferiu ignorá-lo, dizendo a Remus:

- É melhor você ir até lá, sim, e explicar para o Black que o que é para ser usado são as coisas e não as pessoas e que a reação dele ao perceber que magoou a pobre da Stacey e que ela tinha criado expectativas em relação a ele só pode vir de um insensível como ele. Francamente, Lupin, juro por Merlim que não entendo como é que você consegue ser amigo desses dois cretinos! - Olhando de repente para trás de James, viu Peter e acrescentou - Três!

Antes que algum dos rapazes pudesse abrir a boca para falar alguma coisa, Lily virou costas e saiu ventando para o seu próprio dormitório, bufando de raiva e deixando James de queixo caído.

- Eu... eu vou lá... - Murmurou Remus, seguindo também ele para o seu dormitório, onde encontraria Sirius, deitado na cama, brincando com um pomo de ouro que Potter tinha conseguido roubar sabe-se lá de onde.

Lupin respirou fundo e se preparou para uma longa conversa. Mais tarde, viria a saber a versão de Stacey pela boca de Mary e tudo faria sentido na sua cabeça.