Capítulo
XXVI
De nada servira o seu cuidado. O seu afã
em proteger Mary, em defendê-la com a própria vida se
preciso fosse, tudo isso fora em vão. Lupin a perdera do mesmo
jeito... e da pior forma possível...
Já pouco antes
havia perdido todos os seus amigos. James e Lily haviam sido
assassinados por Voldemort e seu filho de 1 ano, Harry, sobrevivera
de forma misteriosa, provocando o desaparecimento do senhor das
trevas e se tornando numa verdadeira lenda para o mundo bruxo. Hoje,
Voldemort voltara com força redobrada e Harry, apesar de muito
jovem, era o seu maior inimigo.
Logo depois da morte de Lily e
James, Sirius fora mandado para Azkaban, a terrível prisão
bruxa, acusado do assassinato não só do casal de amigos
(dizia-se que ele era seguidor de Voldemort e o havia informado do
paradeiro dos pais de Harry), mas também de vários
trouxas e de... Peter Pettigrew. Sim, o pequeno e gordo Peter, de
quem apenas sobrara um dedo.
Hoje, Lupin sabia que a verdadeira
história era bastante diferente, mas naquele tempo...
-
Chora. – Dizia Mary, de olhos inchados, acariciando os cabelos
castanhos de Lupin, mais pálido do que o costume. – Coloca
para fora tudo o que você está sentindo. Vai te fazer
bem.
Ele baixou os olhos, sem conseguir encará-la.
-
Não consigo... – Murmurou. – Ainda não.
Ela
olhou-o com uma profunda tristeza nos olhos castanhos e soltou um
longo suspiro, dizendo baixinho:
- Eu estou aqui. Também
estou sofrendo e é quase insuportável te ver assim. De
qualquer forma, eu estou do seu lado. Se precisar de um ombro para
chorar, se precisar falar, se precisar ficar quieto e calado, só
assimilando tudo o que aconteceu... eu estou aqui.
Lupin a
abraçou, agradecido. Queria falar, sim, mas as palavras
pareciam presas na sua garganta, junto com lágrimas que não
conseguia derramar. Ficou assim algum tempo. O calor do corpo dela
pareceu tê-lo enchido de forças para falar. Começou:
- Como é que eu não percebi antes?
Mary
levantou a cabeça e o olhou, fixamente, com muita meiguice no
olhar:
- Não percebeu o quê?
- Que o Sírius
estava trabalhando para Voldemort. Ele vivia sumindo, dizia que ia
sair com mulheres... Só se fossem comensais da morte... como
as primas dele, Bellatrix e Narcissa... Como é que eu não
percebi? Eu poderia ter evitado toda essa tragédia!
-
Shiu! – Fez Mary, em tom indignado. – Remus, você não
podia ter adivinhado. Quem tem o dom de adivinhação
aqui sou eu e jamais vi alguma coisa que incriminasse o Sirius.
Cheguei até a desconfiar do pobre do Peter, imagine só!
Do Sirius, eu nunca desconfiei. Sempre achei que a amizade entre ele
e o James fosse a toda a prova!
- Eu também... –
Lamentou Remus, sem erguer o olhar. – E pensar que ele sabia do seu
segredo... Ele poderia ter te denunciado...
De repente, parou. Só
depois de falar dera conta do que acabar de dizer. Mary nunca soubera
que os Marotos haviam descoberto que ela era uma vampira. Olhou para
ela. A jovem tinha uma expressão indecifrável.
-
Mary... – Ele começou. Ia se explicar.
- Eles sabiam? –
Perguntou ela, com voz embargada.
- Mary, eu...
- Você
contou para eles?
- Não, Mary, eu...
- Como é
que você pode! – Ela estava fora de si. Grossas lágrimas
escorriam dos seus olhos castanhos. – Era um segredo nosso, você
jurou que não ia contar para ninguém!
- Mary,
escuta, você não está entendendo, eles eram meus
amigos e...
- ... e você não agüentou deixar de
contar para eles que eu era uma vampira. Então, foi por isso
que eles me aceitaram... Como eu fui idiota. Eles não mudaram
de opinião a meu respeito, eles ficaram foi com pena de mim!
Remus estava apavorado. Nunca a vira assim. Mary estava
completamente transtornada. Correu para ela, segurou as suas mãos,
mas ela o sacudiu, gritando:
- Me solta! Nunca mais toque em mim!
Você traiu a minha confiança, que era a coisa mais
importante na minha vida...
- Mary, escute...
- Eu não
vou escutar nada! Se eles sabem, quem mais sabe? Eu não estou
segura em lugar nenhum! Você sabe quem pode até querer
me recrutar! – Fora de si, ela saiu de casa, batendo a porta. Remus
a seguiu e olhou o céu. Estava escurecendo. Ela não
podia sair de noite. A lua logo ia estar no céu...
Saiu
atrás dela, disposto a impedir um acidente. Tarde demais. A
lua apareceu e iluminou os cabelos louros de Mary, como se fossem um
sol. De longe, Remus viu-a se transformar. Não era mais a
mulher que ele amava e com quem partilhava a sua vida. Era uma
vampira, sedenta de sangue, que corria sem rumo.
Remus respirou
fundo e correu atrás dela. Na sua forma vampírica, era
imensamente mais rápida e, pela primeira vez, ele desejou que
fosse noite de lua-cheia, para que pudesse se transformar, poder
correr mais rápido e alcançá-la.
Seguiu-a
até a orla de uma floresta. Ela parara junto de uma árvore
e ele se aproximou.
Num ápice, ela o agarrou e abriu a
boca, mostrando os caninos afiados, querendo se cravar no pescoço
dele. Os seus olhos vermelhos não tinham mais a doçura
costumada. Não possuíam qualquer expressão
humana.
- Mary… - Falou Lupin, com doçura, tentando
trazê-la à realidade. Em vão. Algo dentro dela a
impedia de voltar a ser a jovem meiga de sempre. Algo a impedia de
ser humana… e ia mordê-lo, sem dó nem piedade. Não
o reconhecia…
A última coisa que Lupin se
lembrava era daquele momento: ela, de caninos afiados, pronta para
mordê-lo. Depois… não conseguia lembrar de mais nada.
Perdera os sentidos. Desmaiara…
Acordou na manhã
seguinte e instintivamente levou a mão ao pescoço,
buscando as marcas que, por certo, ela teria deixado nele. Além
de lobisomem, era agora um vampiro e teria que se acostumar com essa
desgraça… Todavia, as marcas não estavam lá.
Não fora mordido. Não era um vampiro. Ela o poupara.
Suspirou, aliviado e imediatamente olhou em redor, procurando por
ela. Contundo, não viu ninguém.
- Mary! – Chamou.
A sua voz rouca ecoou na floresta. O som foi-lhe devolvido, mas não
obteve resposta.
- Mary! – Gritou, mais alto. O resultado foi o
mesmo.
Começava a ficar aflito. O que teria acontecido com
ela? Teria sido levada pelos vampiros, como tanto temia? Não.
Não podia ser. Ele tinha jurado protegê-la, ele… De
repente, parou. Um terrível arrepio percorreu a sua espinha.
Não. Não podia ser. Não podia acreditar. Ele não
tinha feito aquilo que imaginava… mas… só poda ser…
aquela mancha enorme do seu lado… aquele galho de árvore
ensangüentado que jazia junto da mancha vermelha… Um galho de
árvore… poderia ter a mesma serventia que uma estaca de
madeira quando cravado no coração de um vampiro? Isso
explicava porque não havia sido mordido: para se defender…
matara Mary. A sua Mary. Não era só perigoso
transformado. Mesmo na sua forma humana, matara a pessoa que mais
amara na vida.
Desesperado, se deixou cair sobre os joelhos,
gritando:
- NÃÃÃÃÃÃÃOOO!
Uma lágrima rolou pela sua face pálida.
Acabou. Não queria lembrar mais nada…
