Capítulo XIV – A Traição (continuação)

Aquela cena tocou fundo o coração de Harry. Não conseguiu se mover. Não conseguiu organizar os pensamentos. Não conseguia nem ver direito o que acontecia. Só sabia que Draco e Hermione se beijavam. Como? Porque? Ele não sabia. Seu mundo despencou ali mesmo, no saguão de entrada, até que foi salvo por Rony e seu repentino vôo até Draco. Rony puxou Draco pelo ombro e jogou toda sua força em seu pulso, acertando certeiramente o queixo de Draco, que caiu. Hermione começou a tossir e puxar fôlego, desesperada.

"Como você pôde?" – Rony se jogou sobre Draco. – "Eu confiei em você! NÓS CONFIAMOS EM VOCÊ E VOCÊ APRONTA ISSO?"

"RONY, PARE!" – Hermione gritou, puxando o ruivo.

Rony se levantou nervoso e vermelho. Hermione recuou. Ele não parecia disposto a conversar.

"E você o defende? Como pode? Há quanto tempo vocês escondem isso e mim e do Harry?"

"Rony, a gente não fez nada! Eu não quis fazer aquilo, juro que não queria!"

"CALE A BOCA! EU PERGUNTEI HÁ QUANTO TEMPO!"

"NÃO HÁ TEMPO NENHUM, SEU IDIOTA!" – As lágrimas escorriam com pressa pelo rosto de Hermione. – "ISSO NUNCA ACONTECEU! E EU NÃO SEI PORQUE ACONTECEU AGORA! EU SÓ SEI QUE NÃO ERA EU!"

"COMO NÃO PODERIA NÃO SER VOCÊ? EU VI! HARRY VIU! NÃO SE FAÇA DE SONSA!"

"EU JÁ DISSE QUE EU NÃO QUIS!"

"Ele te obrigou então?" – Rony apontou para Draco, que limpava a boca, já de pé. – "EU FIZ UMA PERGUNTA, DROGA! ELE TE OBRIGOU A BEIJÁ-LO? ESTÁ SENDO CHANTAGEADA?"

"POR MERLIN, RONALD ELE NÃO FEZ NADA!"

"ALGUÉM TEM QUE TER FEITO ALGUMA COISA!"

"ELA JÁ DISSE QUE NÃO FIZEMOS NADA, DROGA!" – Draco interveio.

"VOCÊ NÃO SE CANSOU DE APANHAR? CALE A BOCA! EU ESTOU FALANDO COM ELA ENTÃO CALE A MERDA DA BOCA!"

Os alunos que saíam do salão principal faziam um círculo ou se debruçavam sobre o corrimão para assistir a tudo aquilo. Didy e Claw começaram a rosnar para Rony, apontando as garras afiadas para ele.

"POR DEUS, SERÁ QUE VOCÊ É TÃO IDIOTA QUE NÃO CONSEGUE VER? NÃO FIZEMOS NADA!" – Draco gritava cada vez mais alto.

"Porque não perguntamos ao Harry o que ele acha? Me diga, Harry..." – Rony se virou para Harry, que continuava estatelado. – "Eu estou cego ou devemos aplaudir a encenação dos dois?"

Harry continuou parado. Seus olhos expressavam terror e incredulidade. Draco parou à sua frente, os lábios e o canto do olho sangrando.

"Harry?"

Mas antes que pudesse dizer mais alguma coisa sentiu o rosto formigar por causa do tapa de Harry. Levou a mão ao rosto e voltou a olhar para o garoto.

"Como você pôde? Depois de tudo aquilo que a gente viu. Depois de tudo que passamos juntos!"

"Harry, acredite em mim!"

"CALE A BOCA, DRACO! CALE A BOCA! COMO OUSA DIZER O MEU NOME E OLHAR NOS MEUS OLHOS DEPOIS DO QUE EU VI? COMO VOCÊ PÔDE?"

"Eu te explico como ele pôde, Harry." – Rony segurou Draco pelo colarinho. – "Ele é um Sonserino. E sonserinos são sempre estas cobras falsas e SANGUE-SUGAS!" – Rony empurrou Draco para o chão.

"PARE COM ISSO, RONALD! EU JÁ DISSE QUE NÃO FIZEMOS NADA! DEVIA ACREDITAR NOS SEUS AMIGOS!"

"MEUS OLHOS SÃO OS MEUS AMIGOS! E QUEM OS TEM NÃO PRECISA DE DOIS 'AMIGOS' COMO VOCÊS. Vocês realmente se merecem."

Rony segurou Harry pelo braço e começou a puxá-lo escada acima. Didy parou na frente de Draco, ainda sentado ao chão. Seu rosto demonstrava uma expressão triste e aborrecida.

"Draco mau..." – e tentou rosnar, mas sua tristeza era muito grande.

Rony só sabia bufar e bater os pés enquanto fazia o caminho até a sala comunal da Grifinória. A tempestade no cérebro de Harry parecia não ter fim. Draco afirmava não ter feito nada, assim como Hermione. Então, será que Voldemort estava fantasiando sua vista também? Ou eles estariam apenas...

"Mentindo! Estavam todo este tempo mentido! E nós, dois pequenos seres inferiores, burros e ingênuos não percebemos o que estava em nosso nariz! Como pudemos nos fazer de cegos durante tanto tempo? Dois vermes imundos! É o que eles são!"

Harry não conseguia pensar. Chegou à Torre da Grifinória sem nem notar os numerosos olhares que o encaravam e se viravam para cochichar alguma coisa. Subiu logo ao dormitório dos garotos e se deitou em seu leito sem ao menos trocar de roupa. Ele não sentiu, quando, segundos depois, Didy subiu em sua cama e ficou a olhá-lo tristemente. Ele também não ouviu quando Rony chegou batendo a porta e socando todas as camas que conseguiu, o que foi uma, pois logo seu pulso quebrou e ele correu gritando e chorando para a Ala Hospitalar.

O.o.O.o.O

Hermione estendeu a mão para que Draco se levantasse. Ele olhou para os garotos que formavam o círculo e as estátuas da escadaria de mármore.

"O show acabou! Vão embora! Não há mais nada para ser visto aqui!"

Todos começaram a murmurar e andar devagar, contrariados. Draco olhou para Hermione, que ainda chorava.

"O que nós fizemos, Draco?"

"O que você fez? Tá louca, Mione? Desde quando você se joga pra cima de mim desse jeito?"

"Mas eu não te beijei! Que saco! Nem você acredita em mim?"

"É difícil de acreditar, mesmo!"

"Então não culpe o Harry se ele não voltar pra você! Você está entendendo o lado dele perfeitamente!"

Draco pensou um pouco, nervoso.

"Está bem... então... me diga o que aconteceu."

"EU NÃO SEI! Algo dentro de mim me disse para te beijar, mas eu não queria! Eu não queria mesmo! Você acredita em mim?"

"Ah..." – Draco olhava para todos os lados, ainda tentando registrar o que acontecera. – "Não sei, Hermione. É estranho demais."

"VOCÊ ACHA QUE EU IRIA QUERER BEIJAR O NAMORADO DO MEU MELHOR AMIGO?"

"EU NÃO SEI! EU NÃO SEI! EU ESTOU CONFUSO! EU PRECISO DE UM BANHO! EU PRECISO PENSAR! Conversamos amanhã. Pense no que pode ter sido isso."

Draco desceu as escadas para as masmorras, deixando Hermione completamente sozinha.

O.o.O.o.O

O sol nasceu, mas não fez a menor diferença para Harry. Ele não sabia se era noite ou se era dia. Acompanhara a luta de Didy para se manter acordado junto a Harry. O pequeno animalzinho segurava o pano que usara metade da noite para secar as lágrimas de Harry. Agora ele dormia tranqüilamente sobre o corpo de Harry. Estivera o tempo todo acordado, as lágrimas escorrendo por seu rosto involuntariamente. Ele já se cansara de tanto chorar, mas não conseguia parar. Por mais que seus olhos ardessem, implorando por um segundo que as águas secassem e Harry não pudesse mais torturá-los. Os pensamentos se reviravam em sua mente como furiosos furacões. Harry se sentia tonto, confuso, nauseado e outras coisas do gênero. Ouviu seus amigos se levantarem, se arrumarem e saírem para as aulas do dia. Rony, assim como Harry permaneceu em sua cama desde que resolvera parar de quebrar coisas pelo castelo durante a madrugada. Os pensamentos de Harry duvidavam que ele estivesse dormindo. Poderia ele estar, assim como Harry, tentando acalmar a vontade de seus pensamentos sobre a forte hipótese de matar Hermione e Draco. Mas não. O garoto se levantou de repente e abriu num só movimento o cortinado da cama de Harry.

"Será que somos tão burros a ponto de não perceber que é isso que eles querem?"

"Não quero falar sobre isso, Rony."

"Anda, levanta e vamos para as aulas. Claro, agora não dá mais para tomar café, mas acho que, assim como eu, você não está com fome."

"Não vou sair daqui!"

"Harry! Você quer se tornar um escravo do Malfoy? Não vê que é isso que ele quer? Te tirar do caminho! Você vai entregar ele a Hermione assim? De bandeja? Anda logo e se arrume! Eu não vou deixar eles rirem de nós. Saia daí!" - Rony começou a sacudir Harry, acordando o pequeno Didy. – "Eu vou te levar mesmo que seja arrastado!"

"ME SOLTA! JÁ DISSE QUE NÃO VOU!"

"SOLTA HARRY!" – Didy sacudia Rony.

"VOCÊ PRECISA ESTUDAR! NÃO VAI SE MATAR POR CAUSA DAQUELE IDIOTA!"

De repente, Didy pulou o mais alto que pôde, levando sua mão ao rosto de Rony, deixando o lugar onde batera completamente vermelho e um pouco arranhado, devido às garras de Didy.

"AH! BICHINHO IDIOTA!" – Rony o pegou pelo pescoço, mas Harry se levantou e puxou–o de suas mãos.

"Larga ele, Rony! Ele não tem culpa de ter feito o que eu mais quis no último minuto."

O semblante de Rony tomou todas as cores possíveis, até que ele começou a gaguejar.

"Está bem! Torne-se o elfo doméstico de Malfoy! Mas não me venha pedir ajuda depois!"

Rony saiu batendo os pés. Didy desceu da cama e fechou o cortinado, voltando a se assentar sobre Harry.

"Harry bem?" – Didy olhava Harry, preocupado.

"Sim. Estou muito bem, Didy. Obrigado."

"Draco não idiota! Didy não idiota! Rony idiota!"

Harry forçou um sorriso.

"Sim, Didy. O Rony é um idiota. Vá brincar. O Rinícido de Ichiro deve estar por aí."

"Yoko?"

"É, é. Vai atrás dele, vai."

Didy desceu do colo de Harry, que voltou mais que imediatamente a pensar em Draco. As lágrimas novamente rolando por seus olhos. Só pôde descansar ao fim da tarde, quando seus olhos se cansaram de tanto relutar. Mas, mesmo assim, foi para ter pesadelos torturantes com a cena que vira na noite passada, coisas que ele sabia, só podiam vir de Voldemort.

O.o.O.o.O

Draco já estava sentado em sua mesa na sala de poções. O rosto entre as mãos e uma pequena sombra de olheiras saindo de seus olhos. Ele se assustava com o menor barulho que ouvia e logo olhava, procurando a única pessoa que desejava ver o dia todo, mas ela não aparecia. Hermione entrou pela sala de poções e seus olhos se encontraram. Draco voltou a ficar nervoso e enterrou o rosto novamente nas mãos, controlando-se. Hermione se dirigiu até uma mesa vaga. Se suas previsões estivessem certas aquela mesa ficaria com apenas uma pessoa o horário inteiro. Ichiro entrou pela sala, que não estava com um ambiente muito bom. Ele viu Hermione sozinha a um canto escuro da sala. Todos sempre evitavam se assentar ali, principalmente ela. Ichiro andou até ela e se assentou a seu lado. Hermione amarrara o cabelo tentando se livrar da obrigação de se pentear, mas parecia que ela não sabia fazer aquilo. Muitas mechas se soltaram, piorando seu semblante.

"Ei... porque está tão triste?"

Hermione chegou mais para o canto.

"Não me diga que não soube."

"Toda a Hogwarts soube. Mas isso não explica sua cara de sono."

"Eu não consegui dormir direito."

"Não foi a única. Imagine como o Harry está."

"Escuta aqui, se for pra jogar tudo isso na minha cara eu prefiro que vá embora."

"Prefere? Achei que não quisesse me ver de jeito nenhum."

Hermione se calou, olhando para o nada.

"Mas não, eu não vou jogar nada na sua cara. Eu acho que a culpa não foi sua."

"E não foi mesmo!" – Hermione se virou para o garoto. – "Sabe, não era eu quem beijou o Draco!"

"Não foi isso que todos disseram."

"Mas foi isso que aconteceu! Eu ouvi uma voz me dizer para fazer aquilo, mas eu não queria! Eu tentei lutar mas... foi mais forte do que eu." – Ichiro continuou calado e Hermione se encolheu novamente no canto. – "Mas é claro que você não acredita. Você é como todos eles!"

"Não, não sou. Eu sou um chinês. Não tem nenhum outro chinês aqui. Além do mais, eu acredito em você."

Hermione voltou a olhá-lo.

"Acredita?"

"Claro! Afinal, eu sou ou não seu amigo?"

Hermione sorriu e abraçou Ichiro, secando os olhos, com quem ela lutou muito tempo para não chorar.

"Isso era o que eu mais queria ouvir."

"Eu vou te ajudar a descobrir o que foi isso, está bem? Mesmo que eu tenha que usar Veritaserum em toda a Hogwarts."

Hermione soltou o garoto, secando os olhos.

"Obrigada Ichiro. Eu estava errada a seu respeito."

Ichiro sorriu e, sem que eles percebessem, logo seus lábios estavam a centímetros de distância, mas antes que a distância fosse quebrada Ichiro foi brutamente puxado para trás, sendo quase elevado ao chão por Snape, que o segurava pela gola da camisa.

"Mas que coragem os Grifinórios tem! Orgia na minha sala? Menos cinqüenta pontos para Grifinória."

Ichiro abriu a boca para falar alguma coisa, mas antes que isso fosse possível Snape o atirou fortemente contra uma mesa, fazendo com que o garoto quase caísse do outro lado.

"Não permito este tipo de coisas na minha sala. O próximo que for pego fazendo isso terá um mês de detenção. Estou sendo claro?"

Todos acenaram com a cabeça, amedrontados. Snape começou a separar as duplas para a aula de poções e Draco quase teve um ataque cardíaco de tanta felicidade ao ouvir "Potter e... ah! Malfoy". Ele olhou de um lado para o outro,confiante, mas o garoto não apareceu e ele se entristeceu, piorando ao ouvir "Então, já que estamos finalmente livres da presença irritante de Potter, Granger, faça compania a Malfoy. E menos vinte pontos para a Grifinória".

Hermione se assentou tristemente ao lado de Draco, que olhava para a parede a seu lado, emburrado.

"Já que ele nos fez este 'favorzinho' vamos aproveitar e conversar sobre o que aconteceu."

"Não preciso nem quero conversar sobre nada!"

"Eu duvido que você dissesse isto se Harry estivesse aqui."

"Como pode dizer o nome de Harry depois de tudo?" – Draco encarou Hermione, nervoso.

"Assim como você pode. Sou tão culpada quanto você."

"EU NÃO FIZ NADA!" – Draco se levantou.

"E EU TAMBÉM NÃO!" – Hermione fez o mesmo movimento, levantando-se.

"Vão querer que eu pare a aula para que discutam seu relacionamento?"

Hermione se assentou sem tirar os olhos de Draco, mas este continuou de pé e encarou o professor

"É! Se não for incomodar eu quero sim!"

Todos estavam acompanhando aquilo tudo de boca aberta. O murmúrio que invadiu a sala quando Draco voltou a encarar Hermione quase se comparou ao barulho do salão principal na hora do jantar.

"Então. Não vai querer continuar?" – Draco desafiou. – "Porque se não quiser eu peço licença, pois tenho muita coisa para fazer!"

Draco andou firme para fora da sala, parando na porta ao ouvir Snape pronunciar seu nome.

"Eu permiti a sua saída?"

"Não! Mas o que me importa? Você me odeia mesmo! E eu estou agora mesmo indo chorar por isso!"

E sem mais uma palavra, ele saiu da sala, deixando todos boquiabertos.

N/A: Depois de muito tempo, aqui está. Mais um capítulo novo para vocês. Eu peço desculpas pela demora, mas estava com uns probleminhas. Mas agora eu estou bem e vou continuar a fic, escrevendo o máximo que eu puder. Sim, porque eu estava com muita saudade de escrever esta fic. Eu sei que este capítulo está meio ruinzinho, mas foi só para explicar a situação a qual nos encontramos. No próximo teremos muitas brigas e desafios, mas só no próximo, e não nesta nota. Um beijo a todos vocês.

Gmvalentim: Pois é, né? Eu tô tendo umas idéias loucas aqui, uns surtos ali... mais eu acho que você vai gostar do resultado.

AganishLottly: Sei lá... escrever até que eles cresçam? Vai ficar muito grande... Mas eu posso te jurar que a fic está muito longe do final. No mais, vou pensar na sua idéia e não descarto a possibilidade de cumpri-la.

Mione03: O capítulo estava tão bom assim? Ótimo. Isso, quando eu entrar a gente troca umas idéias.

Annianka: Os Rinícidos não são maus! Tadinho do Claw... Mas logo saberemos quem ou o que é o culpado, mesmo que tenham sido Draco ou Mione.

Os malfeitores: É! Morra todo mundo! Vou matar Mione, Ichiro e Karey de diarréia, o que acha?

Dmi.gb: Legal! Um calouro! Seja bem vindo. Eu li o sumário da sua fic. Ficou interessante. Vou ler ela agora. Bem, espero que você chegue rápido ao capítulo 14 e que deixe reviews sempre, ok? Senão eu não deixo na sua.

Aline Potter: Sim, eu estou bem, obrigada. Digo isso porque sei que você vai perguntar e se não perguntar... também eu nem queria que você perguntasse!