Título: CONSTELAÇÕES
Autora: Jade Toreador
Gênero: Yaoi
Casal: Aiolia X Shaka
E-mail: jadetoreador arroba uol. com. br
Sumário: O que pode acontecer quando Deuses maléficos resolvem atacar a encarnação de Buda, aproveitando essa natureza humana dele, essa fragilidade, para destruí-lo? Aiolia, Cavaleiro de Ouro de Leão, um homem marcado pela desonra de carregar o sangue de um "traidor" em suas veias, ama esse Deus, esse menino, e jurou protegê-lo a qualquer preço. Aiolia irá desafiar até mesmo os Deuses para salvar Shaka!
CONSTELAÇÕES
- Capítulo 2-
Mesmo sabendo que despertaria a ira de Shura, Aiolia parou e, ao invés de percorrer o caminho entre as rochas que o levariam para onde estavam os aprendizes remanescentes, tentou chamar Shaka mais uma vez...
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A mistura de emoções que comandava os pensamentos de Shaka naquele momento não poderia ser maior nem mais profunda. De fato, pela primeira vez desde aceitara abraçar aquela vida austera do Santuário, ele se sentia preso; dividido. Percebia de longe o cosmo de Aiolia chamando por ele, mas não queria responder.Tinha medo...Medo profundo do sentimento que, uma vez liberto, não poderia mais ser contido. Eram tantos os segredos... Como dizer a Aiolia? Respirou fundo. Ainda tentando controlar sua raiva e ciúmes, Shaka podia sentir o cosmos de Afrodite. Ele também devotava a Aiolia um amor profundo, no entanto... Quem eram eles? Seriam Cavaleiros! Da Deusa deveriam ser a devoção e o amor deles, de mais ninguém! Que direito tinham eles quanto a isso? Nenhum! Como já dissera a Aiolia, Eros e Tanathos andavam juntos e Eros servia apenas às pessoas comuns...
O chamado de Aiolia era insistente. Shaka estremeceu. Se algum dos mestres ou cavaleiros sagrados percebesse essa tentativa de comunicação mental, seria Aiolia severamente castigado!
O hindu estremeceu novamente.Dessa vez, por recordar o momento em que vira Aiolia sobre Afrodite. Todo o ambiente estava repleto da masculinidade de Aiolia... Seus lábios tremeram, mas ele conteve sua perturbação emocional. Em seu rosto, nada evidenciava sua angústia.
O grão mestre apareceu para uma última despedida, altivo, com sua capa e elmo cerimoniais. Seu olhar intenso percorreu toda a assembléia de adolescentes e mestres:
- Que a Deusa os acompanhem e que os melhores sobrevivam!
Shaka e os outros partiram... Difícil seria dizer que não tinham medo, mesmo tendo desde muito cedo aprendido a conviver com Fóbos. Na verdade, todos os aprendizes de Cavaleiros, assim que eram admitidos no Santuário, começavam a aprender os segredos da Phobologia, disciplina que os antigos espartanos chamavam de 'Ciência do medo'.Eram vinte oito exercícios físicos e mentais. Focava, cada um deles, um nexo do sistema nervoso.Cinco exercícios primários trabalhavam os joelhos, jarretes, pulmões, corações e intestinos... Outros mexiam com os músculos das costas, ombros e, sobretudo, com os trapézios, músculos que uniam a articulação do ombro ao pescoço. Também havia exercícios que os Lacedemônios haviam criado para os músculos do queixo e para os constritores oculares ao redor da cavidade dos olhos. Todos estes pontos físicos eram chamados pelos antigos espartanos de "as diversas casas de Fóbos". Eram nichos do corpo onde o medo se instalava para dominar e derrotar um guerreiro. O medo da mente, diziam os mestres, era para ser combatido no corpo. Uma vez que a carne fosse tomada pelo "circuito do medo", Fóbos criava um cosmo poderoso, uma corrente incontrolável de terror, que fazia um Cavaleiro ser derrotado antes mesmo de qualquer batalha ser travada. Por isso, o domínio da Phobologia era algo cultuado no Santuário através de uma disciplina férrea e dos exercícios. Enquanto caminhava rumo à encosta do litoral, onde ele e os outros aprendizes partiriam para países diversos, Shaka ia mentalizando seus chácras e fazendo os exercícios respiratórios e físicos que dominavam o medo.
A idéia que pairava na mente e corações de todos os jovens era a mesma que bailara dentro deles durante as festas cerimoniais que haviam antecedido a hora da partida:talvez nunca mais voltariam! Mesmo agora, já fora dos limites do Santuário, que lhes era permitido falarem novamente entre si, permaneciam em silêncio absoluto, tensos, tentando antever o futuro de cada um...
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Aiolia quis gritar quando Shaka partiu sem nem uma vez ter aberto os olhos para ele ou ter respondido ao seu chamado silencioso. Seu coração se apertava de dor. Dor e raiva pela impotência daquela situação. Naquele instante jurou a si mesmo que ganharia a armadura de Leão e, numa última tentativa, mandou para Shaka um pedido de desculpas mudo e cheio de paixão. Assustou-se, porém, quando alguém colocou as mãos em seus ombros...
- Mas o que...
Ao contrário do que esperava, não era o antipático Shura, mas seu irmão e mestre Aiolos, que havia se colocado ali, entre ele e Shura, com uma expressão séria no olhar...
- Não faça isso! – seu irmão parecia olhar dentro de sua alma. Disse: - De agora em diante toda sua energia tem que estar concentrada aqui. Vamos...
- Espere! Deixe-me apenas...
- Não tem mais nada aqui que mereça sua atenção, mano, a não ser a armadura sagrada de Leão!
- Aiolos, será que eu não podia...
- Não!
Aiolia sabia que de nada adiantaria discutir com o irmão, não naquela situação. Por um instante pensou em Milo que não havia feito nada para esconder seu sofrimento ao ver Camus partir para a Sibéria... Milo assim como ele, Aiolia, também ficaria no Santuário... Vendo que não havia mais esperanças de se comunicar com Shaka, que já estava longe, Aiolia lançou um olhar altivo para Shura e seguiu seu irmão sem olhar para trás.
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Durante os dias seguintes Aiolia treinou como se estivesse tomado por uma força oculta. Nada parecia cansá-lo, nenhum desafio parecia ser demais para ele. Acordava muito cedo e se deitava muito tarde. Aiolos, uma dessas noites, aproximou-se silenciosamente e, ao ver o que o irmão estava lendo, disse, irritado, mas um pouco curioso também:
- De novo com isso? Já não disse que deve se concentrar apenas nas lutas finais?
- Não me amole, Aiolos, estou dando o máximo de mim, não estou? Pode ficar sossegado que eu não vou decepcionar você. Vencerei todas as batalhas e serei o ganhador da armadura de Leão... – Aiolia teve vontade de se abrir com o irmão sobre Shaka, mas... Calou-se.
Ouviu o irmão ralhar:
- Não se deite tarde!
Aiolos saiu do quarto. Aiolia voltou sua atenção novamente para o pergaminho que tinha nas mãos. Era antiguíssimo como quase tudo que havia ali no Santuário. Falava sobre a Deusa Kali, mitos, suposições e fatos. O candidato à armadura de Leão não contara para ninguém a visão que tivera na casa do velho pescador, mas aquilo lhe voltava à mente quase todas as noites. Ele tinha uma certeza íntima de que o hindu corria perigo...
Voltou sua atenção à leitura, queria saber tudo... E quanto mais lia, mais seu coração pesava. Mitos ou não, as informações sobre Kali eram sempre regadas de violência e sangue nas suas descrições. Estaria Shaka sobre influência dela? Ou... Estaria sendo perseguido pelos Tugues...? Talvez tudo que ele, Aiolia, temia fosse apenas imaginação do seu coração confuso e... Apaixonado. Como podia sentir algo tão forte assim? Eros brincava com ele...
Lia: "Os Tugues, adoradores de Kali, a mãe negra, freqüentemente adotavam os filhos de suas vítimas, iniciando os meninos na seita e lhes ensinando seu dialeto e os sinais secretos".
Shaka havia vivido entre esses assassinos! Como fugira? Teriam os budistas salvado Shaka, resgatando-o desta seita medonha? O menino aspirante à armadura de Virgem teria fugido antes ou depois da sua iniciação definitiva na seita? Seria por isso que Shaka sempre se penitenciava vivendo numa eterna escuridão, de olhos fechados?
Aiolia, farto de conjecturas, suspirou e resolveu dormir um pouco.
Cansado, adormeceu. Com os pensamentos em Shaka, logo estava sonhando com ele... A paisagem era linda, grandes campos verdejantes, e o hindu vinha para perto dele, Aiolia, sorrindo, parecendo um Deus loiríssimo. Vestia um "peplos" branco e dourado... De repente, Kali, a Vampira-Deusa, surgiu do éter, espirrando uma enorme quantidade de sangue na roupa clara de Shaka. Aiolia acordou, tenso, suando frio.
Não havia mais dúvidas no coração agoniado de Aiolia: Kali queria Shaka para ela... E lutaria contra todos, até contra Atena, para conseguir a posse do menino...
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Novamente o presente... A dor da morte de seu irmão latejava em seu peito! As lembranças haviam se dissipado pelo ar como bolhas de sabão e ficara apenas a amargura no coração de Aiolia. Meses duros de treinamento... Sangue, dor, lutas sem fim... Finalmente, obtivera a glória de ser o portador da armadura sagrada de Leão... Para quê? Agora, seu irmão estava morto, desonrado, e ele, Aiolia, mergulhado num mar de vergonha... Era um pária entre os seus! Irmão do traidor que tentara assassinar a reencarnação de Atena na Terra!
Shaka falara com ele, cuidara de seus ferimentos por causa da tentativa de apedrejamento que acontecera com ele, Leão, pela manhã, mas, mais uma vez, recusara a aceitar o amor que havia entre eles dois! Sim, sentia esse amor onipresente e forte, mais forte do que os Deuses, até! Mas Shaka recusava a admitir essa verdade! Agora, passados os meses de provação, obtivera também a sua armadura de ouro. Mais lindo do que nunca, era o hindu a imagem perfeita de um cavaleiro, mas almejava apenas 'o oitavo sentido', a proximidade com Deus... A carne, a matéria, a vida e a morte... Tudo era para Shaka um caleidoscópio de ilusões que o afastaria do seu objetivo único: se elevar espiritualmente!
Aiolia riu de si mesmo, um riso amargo, de descrença e dor... Ah, o cavaleiro de virgem não pensava em banalidades como sexo e paixão... E os sentimentos dele, Aiolia, não significavam nada para o hindu!
Quanto àquelas bobagens sobre os Tugues e Kali... Não haviam sido nada! Eram apenas a imaginação fértil dele, Aiolia, um tolo apaixonado que fantasiara tudo para se imaginar íntimo de uma pessoa que não lhe correspondia! As estranhas aparições da Deusa fora apenas fruto do seu coração impressionável querendo criar uma situação de superproteção na esperança de ser notado... Ah, loucuras de Eros...
- Aiolia...
O perfume era tão doce que todo o quarto pareceu se tornar um roseiral na entrada da primavera...
- Vá embora. Não quero conversar...
Ignorando o comando do outro, Afrodite sentou-se ao lado dele, na cama. Suspirou quando viu o supercílio de Aiolia machucado e, sem resistir, lhe depositou um cálido beijo... Havia esperado Shaka se afastar para entrar ali sem ser notado por ele, ou por qualquer outra pessoa.
- Afrodite...
As mãos surpreendentemente macias pousaram nos lábios bonitos de Leão, calando-o.
- Não. Não diga nada... Você sabe, eu sou assim mesmo, não vou obedecer ou ouvir... Faço só o que me dá na telha.
Antes que o Cavaleiro de Leão pudesse começar a dizer alguma outra coisa, Afrodite subiu sobre Aiolia, colando seu corpo no dele. Os olhos lindos brilhavam como estrelas...
- Nesses meses que fiquei longe do Santuário... Estive muito perto da morte, tive muito medo, mas, no momento crucial, pensava em voltar, Aiolia, em voltar para você... E tive forças para vencer e ganhar a minha armadura.
- Eu não penso em você como um...
- Um dia, vai pensar. Eu não tenho pressa...
Sem esperar pela resposta do outro, Peixes colou seus lábios no dele. Foi um beijo suave, quase melancólico. Algo surpreendentemente terno para alguém considerado fútil, rótulo que acompanhava o belo cavaleiro da décima segunda casa zodiacal como um estigma inseparável. Aiolia, amargurado pelos últimos acontecimentos, a morte do irmão e seu ato incompreensível de traição, mesmo assim, sentiu-se, naquele momento, subitamente revigorado. Puxou Afrodite ainda mais para junto de si, querendo sentir a proximidade instigante daquele corpo andrógeno e tenro. O efeito do seu gesto foi como se ele aspirasse um ópio poderoso. Seu corpo reagiu com um desejo tórrido. As línguas se entrelaçaram numa volúpia ascendente e irrefreável.
Afoito, com pressa agora, Afrodite, o belo, livrou-se das vestes de Leão e das suas próprias, como se elas o incomodassem. E incomodavam! Queria os músculos de Leão roçando os seus, queria carne contra carne! Gritou de prazer quando Aiolia lhe deu um tranco, fazendo seu corpo se encaixar no sexo dele, Leão, com uma urgência agressiva e dominadora. Dessa vez nada ou ninguém iria detê-los!
Dor e prazer: um paradoxo incompreensível, mas que fazia a volúpia de Afrodite crescer exponencialmente, a cada toque daquele homem faminto. Seu corpo foi dominado, e ele ficou assim, a mercê do outro, estranhamente encaixado nele, de pernas abertas e erguidas, seu ânus todo invadido: uma pose deliciosa de submissão, que o fazia gritar a cada estocada violenta e deliciosamente punitiva que Aiolia lhe impunha num ritmo alucinado. Gotículas perfumadas de suor se formavam na fronte de Peixes, enquanto seus gemidos de êxtase, dor e agonia instigavam ainda mais a cavalgada frenética de Leão... Os minutos escovavam lenta e punitivamente e nenhum dos dois poderia dizer como Cronos, Deus do tempo, estava agindo sobre eles: a tortura deliciosa, os corpos se friccionando, os gemidos, a dor, o cheiro de suor e pecado no ar, a respiração ofegante, a energia vindo em ondas de calor e êxtase cada vez mais fortes e incontroláveis... Mergulharam no cosmo e no prazer um do outro até que, finalmente, explodiram ao mesmo tempo um gozo irrefreável... Peixes gritou ao sentir dentro de si o sêmen de Aiolia explodir como uma Tsunami, ao mesmo tempo em que o seu próprio sêmen, quente e viscoso, espirrava abundantemente sobre o peito másculo do outro e respingava sobre os lençóis...
Peixes corou, como um menininho acanhado. O êxtase de sentir o corpo Leão tombar fremindo de prazer sobre o seu foi algo tão intenso quando o prazer que ainda o fazia tremer por inteiro... O riso de Peixes soou feliz e cristalino e ele beijou o rosto amado com veneração. Sorriu, um sorriso lindo, triunfante, de quem havia recebido um presente digno de Deuses, que era a presença do ser amado. Mas Aiolia se constrangiu com aquela súbita demonstração de afeto pueril. Não era cego. Peixes queria mais do que uma trepada bem feita! Queria algo que ele, Aiolia, não podia dar... Seu coração, senão podia ser de Shaka, não seria de mais ninguém!
Leão levantou-se.
- Espera... O que...
- Saia agora, "Dite", não quero que o encontrem aqui...
O sorriso de Peixes morreu com a chegada da mágoa em seus olhos lindos...
- Está me mandando embora...
- Já disse que não quero nada com você! Se pensa que vamos ficar de confidências e afagos, esqueça!
O outro se ergueu, irado...
- Se acha que eu sou um garoto de programa para ser dispensado como...
- Não acho, Afrodite, você é.
O soco veio tão forte e ágil que Leão não teve como reagir. Pegou o rosto dele em cheio. Mas a mágoa que via nos olhos de Peixes lhe doeu bem mais na consciência do que o rosto agredido. Sabia que estava sendo um canalha... Mas era melhor assim... Afrodite só teria problemas ao se envolver com ele, um cara que estava desonrado perante todo o Santuário...
Afrodite vestiu-se o mais rapidamente que sua dignidade permitiu e riu, um riso de pura incredulidade agora...
- E eu que achei que Máscara da Morte fosse o único escroto desse maldito lugar...
- Agora que já sabe que não, fique longe de mim...
- Com prazer! Agora sei porque Shaka quer ficar longe de você. Você fede!
Antes que Aiolia pudesse retrucar algo, Afrodite saiu, batendo a porta com força. Caminhava tão furioso, ajeitando a túnica no corpo e as sandálias nos pés, que sequer percebeu Máscara da Morte ali, entre as colunas do corredor, mergulhado na penumbra. Tinha no rosto uma expressão mortal de ciúmes por ter sido de Aiolia, e não dele, as atenções e favores do belo cavaleiro de Peixes...
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O dia seguinte foi inesperado para Saga. O falso Ares preparava se para as preces matinais quando foi informado por um serviçal que os alquimistas do antigo continente de Lemúria, sagrados conhecedores da feitura das armaduras haviam vindo ao Santuário para vê-lo. Respirou fundo, tenso, realmente preocupado. O místico continente da Atlântida havia sido absorvido pelos mares durante a Guerra Sagrada onde haviam se enfrentado cavaleiros e titãs... Agora que Shion e Ares haviam sido assassinados por ele, Saga, eram os alquimistas, como o jovem cavaleiro Mu, os últimos descendentes do antigo continente. O que queriam ali no Santuário? Estariam desconfiados dele, Gêmeos, se passando por Ares?
Tenso, Saga os recebeu de acordo com o protocolo do Santuário e os ouviu, sempre se passando por Ares. Taciturnos, calados, mas também donos de um cosmo poderoso, os velhos mestres, tão antigos como o falecido Shion, eram uma ameaça aos planos de conquista de Saga...
A manhã toda se arrastou naquela reunião de cúpula...
Quando, finalmente, os antigos mestres se despediram e foram novamente para Jamiel, Saga se pôs a meditar: não podia, de maneira alguma,arriscar-se a ser pego como um impostor. Aparentemente, não haviam os alquimistas desconfiado de que ele não era Ares... Mas daqui para frente, o risco de ser descoberto por eles poderia ser grande demais! Os sinais secretos de Lemúria haviam sido executados por ele, Saga, com perfeição diante dos antigos, mas arriscar-se de novo seria estupidez!
Saga, mais uma vez dominado pela sua cobiça maligna, tomou uma resolução: exatamente como fizera com Shion e Ares, iria assassinar os três antigos mestres de Lemúria. Quanto a Mu... Sorriu, um sorriso malévolo de pura libido... Mu ganhara a armadura de Ares e mais uma vez voltara a Jamiel...Bem, alguém de Lemúria deveria perpetuar, porque tinham eles o dom sagrado de manipular oricalco, gamânio e pó de estrelas, os sagrados elementos alquímicos e cósmicos que formavam as armaduras. Então que esse alguém fosse o recém graduado cavaleiro de Áries. Ele era... Belo demais para morrer. Seria um tolo desperdício de carne nova!
Os alquimistas não eram guerreiros como Mu, ou como fora Shion. Eram indefesos, e contavam com a proteção dos cavaleiros sagrados de Atena para sobreviverem... Matá-los, seria algo simples, sem maiores problemas... Mas uma ajuda para ele, Saga, viria bem a calhar...
O grão mestre chamou a sua presença Máscara da Morte e Guilty, mestre da Ilha da morte. Eram, como eles, possuidores de uma aura negra que não iria pestanejar diante da ordem de matar os alquimistas...
- Foi boa a coincidência de você estar no Santuário hoje, Guilty. Você e Câncer vão comigo para o caminho de Jamiel...
Os dois, ainda ajoelhados diante do grão mestre, se surpreenderam... Máscara da Morte disse, resoluto...
- O senhor mesmo numa missão? Isso é indigno do senhor, grande sacerdote de Atena. Ordene, e faremos tudo conforme sua vontade.
- Não, Câncer... Os velhos alquimistas foram os mandantes da tentativa frustrada que Aiolos fez para matar a Deusa. Eu mesmo quero puní-los. Mesmo sendo do meu povo, não merecem eles viver...
Sem esperar mais, Saga saiu pela porta lateral que o levava para fora. Câncer e Guilty seguiram-no, solícitos. Não ousavam perguntar a verdade, quando ela vinha do grão mestre. Três corcéis negros os aguardavam. Eram garanhões belíssimos, donos de uma força sobrenatural. Os três montaram em silêncio e partiram. Era uma visão temerária o elmo e capa de Ares, a reluzente armadura de Câncer e a horrenda máscara símbolo da ilha da morte, no rosto de Guilty, reverberando sob a tênue luz lunar... O som dos cascos dos impacientes animais trazia para o ar o prenúncio de morte...
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Mu, de olhar aflito e lábios trêmulos, era uma personificação singela de beleza e inocência. Os anos de treinamento, a austera renúncia aos prazeres mundanos e bens materiais: nada disso o havia preparado para mais aquela tragédia... Primeiro, a morte de seu mestre, depois, o abandono de seu amante Ares, e agora... ah, agora Saga aparecia subitamente ali, na torre de Jamiel, para lhe dar aquela notícia terrível...
- Não pode ser verdade! Os antigos de Lemúria não fariam nada contra a Deusa!
Saga abraçou Mu. Naquele momento, não se passava por Ares. Havia dispensado Câncer e Guilty e depois ocultado o elmo e a capa cerimoniais. Ao chegar ali, na torre, havia dado a Mu a desculpa de que saíra do Santuário sob ordens do grão mestre, em missão confidencial, missão esta que era justamente a de procurar os traidores que queriam a morte da Deusa... Os antigos de Lemúria eram eles...
- Lamento, Mu. Não há dúvidas. O próprio Ares decretou a morte deles. Ele, Câncer e Guilty, nesta madrugada executaram os 'Antigos' há poucos quilômetros daqui... Fui incumbido por Ares de lhe trazer a notícia pessoalmente. Ele poupou você, um cavaleiro de Atena, porque todos nós temos em nossos corações a certeza de que você jamais pactuaria com eles...
Mu encostou a cabeça nos ombros largos de Saga e se deixou cair num pranto genuíno... Saga exultou-se com a intimidade, forçada naquele momento de fragilidade do belo cavaleiro. Tocou-lhe os ombros, as costas... Saboreou a visão das coxas firmes e imberbes que se insinuavam na túnica grega curta, bem acima dos joelhos. Fingindo que consolava o recém graduado cavaleiro de Áries, foi aproximando seus lábios dos dele, até que conseguiu um beijo deliciosamente roubado... Mu suspirou. Não recusou o beijo. Estava se sentindo fragilizado demais para lutar contra o interesse súbito de Gêmeos por ele...
- Saga...
- Psiu, não diga nada... Não estamos fazendo nada de errado, Mu... Sempre quis você...
Sem esperar mais pela resposta do outro, Saga o deitou ali mesmo, no chão da estranha torre que não tinha portas, e sem esperar mais, sem delongas ou afagos, puxou com força a túnica para que ela saísse pelas pernas longuilineas de Mu. Foi mais violência do que sexo. Saga extravasou toda sua fome, tomando o corpo de Áries como tomaria um pedaço de carne após um longo período de jejum. Mu estava sob impacto da perda do seu mestre, do abandono do seu amante Ares e, agora, chocado com a traição dos 'Antigos' de Lemúria. Uma forte depressão havia tomado conta do seu corpo que, apático, se deixou subjugar pelas frenéticas estocadas que o sexo avantajado de Saga lhe impunha. De quatro, numa posição humilhantemente submissa, Mu gemia baixinho, com dor, suportando mordidas e afagos enquanto se deixava submeter, passivo, à frenética cavalgada que Gêmeos fazia nele, marcando e tomando seu corpo furiosamente. Poderia reagir se quisesse, mas não o fez. Sentia sobre si, exatamente como acontecera com Aiolia, o peso da vergonha de ter seu povo envolvido numa trama sórdida de traição contra Atena. Por isso, não fez nada além de deixar Saga se saciar. O tempo escoou lentamente, até que, finalmente, Saga, sentindo a proximidade do seu gozo, desencaixou-se das nádegas firmes e pequenas do outro e, segurando-o com força pelos cabelos, fez com que a face de Mu se aproximasse de seu sexo avantajado. Espirrou seu sêmen no rosto do jovem cavaleiro exatamente como faria com uma vagabunda qualquer. Mu, mais uma vez, não reagiu. Limpou o rosto devagar, e, em silêncio, encolheu-se num canto do quarto da torre, abraçando suas próprias pernas e se encolhendo como se pudesse consolar sua tristeza infinita. Saga, satisfeito, ficou ali, lindo e ofegante, recuperando seu fôlego, saboreando mais aquela vitória. Porém o rosto lindo e tristonho do jovem cavaleiro, subitamente, lhe deu mais um daqueles raros lampejos de consciência. Sentiu-se como o que realmente era: um crápula. Não pode deixar de se lembrar da época em que todos os meninos eram como anjos, uma época onde Shion reinava e cuidava da paz do Santuário... Uma época onde ele mesmo cuidava dos garotos, de Milo, mesmo do pequeno Mu, com amor, sem a menor malícia na alma... Seu coração ficou dividido mais uma vez entre o dualismo do bem e do mal que fervia dentro dele...
- Mu... Eu... Eu não quis... machucar você... Perdoe-me.
Mu deu de ombros...
- Você não me machucou, Saga. A dor física não é nada... Foi Ares quem me machucou, quem me jogou fora como um traste... Foram os mestres alquímicos do antigo continente que me feriram, me cobrindo de vergonha por traírem a Deusa...Ah, agora sei como Aiolia está se sentindo... A dor da alma é a pior de todas...
Saga deu um sorriso triste...
- Machuquei você bem mais do que imagina, pequeno...
Os olhos lindos de Mu encararam Saga... Inocentes...
- Por que diz isso?
Saga virou-se de costas, recompondo suas vestes, controlando a louca vontade de contar a verdade ao jovem cavaleiro. Mas, mais uma vez, seu olhar tornou-se vidrado de maldade e aquele tênue momento de amor e compaixão pelo jovem descendente de Lemúria desapareceu... Saga mentiu:
- Porque me doeu muito vir lhe trazer essa notícia. De verdade. Mas os traidores tinham que ser punidos...
-...
- Olhe, trouxe algo que vai deixar você feliz... Venha comigo até lá fora...
Intrigado, Mu levantou-se com dificuldade. Seu corpo doía horrivelmente. Saga fora... Brutal demais!
- O que... O que é?
- O próprio grão mestre ordenou que você cuidasse dele...
- Dele?
- Venha... Ele está dormindo lá fora...
Sim, havia um cosmo próximo da torre, um cosmo de alguém... Ele, Mu, estivera tão submerso na agonia da notícia que recebera, que não percebera... Um doce e tênue cosmo...
Caminharam até a clareira e pararam diante de uma frondosa árvore que jogava sua sombra sobre uma cesta de vime. Dentro, um menininho com cerca de um ano, gorducho e rosado, com fulgurantes cabelos ruivos, dormia. Na testa, duas manchas roxas e fortes apareciam...
- Mas é um menininho!
- Um menino que tem o símbolo sagrado do povo de Lemúria na fronte, como você e Ares, Mu. Durante a execução ordenada pelo grão mestre, foi encontrado com os antigos alquimistas, provavelmente é filho de um deles... O grão mestre, mais uma vez, para comprovar a misericórdia de Atena, poupou o garoto da morte. Ele vai ser criado pelas amazonas até os seus seis anos. No sexto ano, se tornará seu discípulo. Você e ele, ao que tudo indica, são os únicos descendentes vivos de Lemúria agora... além de Ares, é claro. São os que perpetuarão os segredos alquímicos da construção e manutenção das sagradas armaduras...
- Ele... É lindo... Tem nome?
- Achei que você o conhecesse... Ou soubesse o nome dele.
- Não, não o conhecia... Até agora.
- Então lhe de um nome você...
Mu pensou apenas por poucos segundos...
- Kiki... Na língua nativa dos antigos, quer dizer...Grandioso.
- Muito bem... Kiki será seu discípulo, Mu.
Mu assentiu com a cabeça, agradavelmente surpreso agora. A visão daquela pequena criança havia lhe despertado um pouco de esperança... Era um menino de Lemúria, alguém para manter viva as tradições do seu povo... Para limpar a imagem dos antigos junto à Deusa...
Saga sorriu. Um sorriso condescendente e ao mesmo tempo malicioso:
- E o que quer dizer Mu na língua nativa de Lemúria?
Mu enrubesceu.
- Aquele que é belo...
- Hum... Eu deveria ter imaginado...
Os olhos de Saga brilhavam por ele estar se lembrando do sexo deliciosamente bem feito, ainda há pouco. O cavaleiro de Áries abaixou a cabeça, sem jeito. Saga, ainda sorrindo de satisfação, apanhou a cesta em seus braços...
- Vou levar o menino para as Amazonas. Mas voltarei mais vezes para Jamiel, Mu. Eu prometo.
Sem jeito, sem saber se realmente queria o retorno ocasional de Saga para visitá-lo, o cavaleiro de Áries preferiu não responder... Saga, como fora Ares para ele, Mu, um dia, era perigosamente sedutor... Saga deixara Milo inconformado quando partira do Santuário abandonando a armadura de Gêmeos e também o pequeno amante, menino que hoje era o jovem cavaleiro portador da armadura de Escorpião...
Mu, pensativo, cabelos longuíssimos soltos ao vento, ficou ali, no alto da colina, enquanto Saga e sua preciosa carga humana sumiam no horizonte, indo para o mesmo lado onde o sol se punha..
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Saga, já envolto no elmo e manto cerimonial do templo, voltou ao Santuário já personificado como Ares. Deixou o pequeno Kiki com as amazonas e adentrou a área central, onde estavam acontecendo os treinamentos do dia... Chegou bem a tempo de presenciar os treinos que os cavaleiros faziam entre si. Era nesses treinos permitido apenas o contato físico, sem a queima de cosmos. O motivo daquilo era óbvio... Um único golpe cósmico entre cavaleiros seria capaz de destruir todo o Santuário. Seria como a explosão de uma bomba atômica de consideráveis proporções... Por isso, os treinos corpo a corpo se limitavam às habilidades físicas de cada cavaleiro. Perspicaz, o falso Ares ficou por ali, observando a todos silenciosamente... Às vezes ainda estremecia sensualmente, por causa da lembrança do corpo tenro de Mu sob o seu...
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Estavam na arena, naquele momento, Peixes e Máscara da Morte. Afrodite havia entrado ali despreocupadamente. Máscara da Morte e ele lutariam em igualdade de condições. Embora de compleição andrógena, ele, Peixes, tinha uma boa técnica e alta velocidade. Além disso, seu ego narcisista se sentia confiante porque tinha o hábito de sempre, durante os treinamentos, portar a máscara de metal usada pelas amazonas. Alguns riam do seu hábito, mas ele não ligava. E daí que era um privilégio reservado às mulheres? Ele era mais belo do que qualquer uma das amazonas daquele santuário, e, por isso, tinha o direito àquela proteção durante os treinos! Sabia que, na verdade, seu rosto era tão sedutor e como o de qualquer fêmea! Vaidoso, fazia questão de protegê-lo.
Ele e Câncer reverenciaram os mestres do templo e se colocaram em posição de combate, porém Máscara da Morte sequer esperou o soar da trombeta que marcava o início da luta. Jogou-se sobre Peixes com um violentíssimo golpe em seu rosto, fazendo a máscara voar longe. Afrodite conseguiu se equilibrar antes de cair, mas, ao tentar ir para onde estava a máscara de metal, levou mais um poderoso golpe, fulminante, que quebrou o belo nariz, fazendo-o engolir sangue e perder momentaneamente a visão, por causa da grande quantidade de hemáceas que espirrou dentro de seus olhos. Peixes cuspiu sangue. A dor foi terrível, mas não menor do que a agonia dele, Afrodite, ao ter certeza que estava com seu delicado nariz quebrado. Conseguiu, com muito custo, evitar mais um golpe, que de certo o poria a nocaute, mas, logo em seguida, levou um chute terrível nos rins que o fez cair novamente... Afrodite fez seu cosmo arder, mas não ousou usar a evocação das rosas piranhas. Sabia que, se assim o fizesse, seria vergonhosamente indigno de ser chamado de cavaleiro. A competição ali era de natureza física, não cósmica... Tinha que vencer aquele arrogante pelo uso exclusivo de suas técnicas físicas de luta!
Ouviu a risada triunfante do outro...
- Hoje, vou deixar você tão desfigurado, 'Querida', que nem o mais feio dos mortais vai querer se aproximar de você. Levante-se!
Afrodite ergueu-se com visível dificuldade. Estava com os olhos cheios de sangue e não conseguia ver absolutamente nada!
Shaka, Aiolia, Shura e Aldebaran, juntamente com alguns cavaleiros de Prata e aprendizes, estavam assistindo ao treinamento. Sentiam forte indignação por Máscara da Morte ter atacado antes da trombeta soar, mas continham a vontade de interferir na luta, porque seria desonroso para Peixe se assim o fizessem...
Shaka abriu seus olhos. Envergonhado pela pequena satisfação que comichava dentro dele por ver o rosto do 'rival' ferido, conteve aquele sentimento inferior e gritou para o cavaleiro de Peixes...
- Use os olhos da mente, como eu, Peixes, sei que você consegue! Esqueça o físico de Câncer, concentre-se em sentir a presença dele! Reaja!
Ouvir o conselho surtiu um bom efeito. Peixes, fazendo vibrar a glândula hipófise, grandemente responsável pela 'terceira visão', conseguiu vislumbrar mentalmente a silhueta de Câncer e lhe devolver um poderoso soco de direita, mas aquilo ainda não foi suficiente para derrubar o outro. Serviu apenas para enfurecê-lo ainda mais. Ele, Câncer, atacou o mesmo ponto do nariz machucado, fazendo Afrodite soltar um grito agoniado de dor e cair mais uma vez...
Aiolia olhou furioso para Shura...
- Você está monitorando as lutas. Viu tanto quanto nós que o cretino do Máscara atacou antes do tempo. Faça alguma coisa.
- Numa batalha, o inimigo não vai esperar o soar de uma trombeta para atacar. Aquele narcisista tem que aprender a se virar sozinho...
- Dane-se, Shura. Numa batalha real, Peixes poderia agir com todas suas forças! Isso era para ser um simples treinamento físico, com regras definidas. Se a regra de não usarem as forças cósmicas durante o treino continua, as outras regras devem também ser respeitadas. Se você não vai agir, eu vou!
Sem esperar pela resposta do cavaleiro de Capricórnio, a quem agora odiava visceralmente por causa da morte do irmão, Aiolia pulou dentro da Arena, mandando um murro certeiro no rosto de Câncer. Um rosto não propriamente bonito, mas atraente na sua compleição máscula e forte.
Máscara, com o golpe possante,"voou" para trás e bateu as costas numa das colunas que circundavam a arena. Sua mão direita chegou a vibrar energia pura, e foi com muito custo que conteve um contra golpe cósmico... Gritou:
- Traidor, irmão do traidor! Você indigno de pisar nessa arena e nesse Santuário! Deveria ter sido banido para Ilha da morte, ou preso em Cabo Sunion!
- Sou um cavaleiro de Ouro, tanto quanto você!
- É indigno de portar a armadura!
Os cosmos dos dois, movidos pela raiva, vibraram a tal ponto que a arena chegou a tremer, como se fosse haver ali um grande terremoto...
Shaka quase gemeu, de tanta preocupação...
- Shura... Interrompa a luta!
Também preocupado com o desfecho daquilo, Capricórnio ergueu o braço para interromper os dois, mas, nesse instante, ouviu a voz de Saga, o falso Ares, que, sadicamente, estava se divertindo com aquela desavença entre os cavaleiros...
- A luta está acabada! Shura, leve Peixes aos cirurgiões...
Imediatamente, Capricórnio obedeceu. Apoiou Peixes em seus braços e o moveu para onde os cirurgiões lhe dariam uma intervenção cirúrgica de emergência. Saga, por sua vez, não conseguiu resistir à oportunidade de humilhar Aiolia. Disse, resoluto:
- Você não deveria ter interferido na luta, cavaleiro de Leão. Ajoelhe-se agora diante do cavaleiro de Câncer e peça perdão por seu atrevimento.
Aiolia respirava com dificuldade, tamanha sua indignação e revolta...
- Senhor, todos viram que ele desonrou as regras!
- Ajoelhe-se.
- Devo me ajoelhar diante da Deusa, não de um homem sem moral!
A voz de Ares soou o "ultimatum"...
- Se não se ajoelhar agora, cavaleiro,vou declarar você indigno de continuar como o titular da Casa de Leão. A decisão é sua.
Shaka quase gritou de frustração. Aquilo não era justo! Céus, como o mestre podia agir com aquela crueldade? O seu amor nada fizera além de... Seu amor? Deuses, sim, amava Leão!
O hindu viu Leão crispar as mãos de ódio. Sentia a revolta de Aiolia vibrar dolorosamente, era como se ele mesmo, Shaka, sentisse aquela dor!
Minutos intermináveis se arrastaram. Os presentes àquela tragédia, cavaleiros de ouro, prata e alguns aprendizes, esperavam o desfecho dela numa muda inquietação.
Finalmente, Aiolia dobrou o joelho direito e se abaixou... Por amor à lembrança do irmão, amor à honra deles dois, não podia deixar de ser um cavaleiro...
- Perdão, cavaleiro de Câncer...
Máscara riu, visivelmente satisfeito:
- Agora está no seu lugar, Aiolia, com o joelho na terra!
Aiolia ergueu os olhos, cheio de raiva e orgulho... Somente sua determinação de continuar como um cavaleiro o impediu de socar aquele maldito. O mestre, se dando por satisfeito, interferiu mais uma vez...
- Os treinamentos dos cavaleiros graduados estão suspensos por hoje. Agora, me retiro... Façam o mesmo!
Saiu... Máscara se retirou com ele, ainda vibrando de satisfação. Aiolia, ainda amargando aquela humilhação, afastou-se para as grandes rochas a leste do Santuário, rochas pontiagudas que avançavam para o mar Egeu...
Shaka sabia que Leão, como um animal machucado, queria ficar a sós para lamber suas feridas, mas não conseguiu se conter... Caminhou a passos decididos, seguindo-o.
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- Você agiu corretamente... Teve mais coragem do que eu, Shura, ou Aldebaran. Ficamos presos às regras idiotas e você não...
- Vá embora. Se não posso ter seu amor, cavaleiro, também não quero sua piedade!
Shaka, de olhos abertos, fixou-os no rosto de Aiolia. Céus, como não percebera antes a grandiosidade do seu sentimento por ele?
- Cavaleiro... Não lhe devoto nada a não ser ágape, na forma mais pura que Eros concebeu esse sentimento imortal...
As inesperadas palavras surpreenderam Leão...
- Porque isso, porque justo agora?
- Porque percebi, Aiolia, que entre as qualidades de um sagrado cavaleiro e de um homem, a justiça e a bondade são as mais importantes. E você carrega essas duas dádivas com a grandiosidade de um Deus...
Aiolia não conseguiu resistir a proximidade súbita de Shaka. Acariciou os cabelos loiríssimos, mas seu sorriso era melancólico...
- Não quero ser um Deus para você, cavaleiro de Virgem, quero ser apenas... Um homem...
O estômago de Shaka embrulhou de pura emoção... Ele estremeceu, mas sabia que não era por causa da brisa marítima... O hindu ficou na ponta dos pés para que seus lábios quase se encostassem nos de Aiolia. Os olhos imensamente azuis brilhavam como as armaduras douradas quando reverberavam ao sol. A voz de Shaka soou emocionada...
- Então seja meu homem...
Aiolia soltou uma exclamação de puro espanto e, no mesmo instante, tomou para si os lábios macios com fome e sede, como se estivesse recebendo o próprio néctar dos Deuses.
O0O
Continua...
Espero que gostem desse novo capitulo. Mandem seus comentários. bjus JADE.
