Título:
CONSTELAÇÕES
Autora: JADE TOREADOR
Gênero: YAOI
Casal: AIOLIA X SHAKA
E-mail: jadetoreador (arroba) uol. com. br
Sumário: O que pode acontecer quando Deuses maléficos resolvem atacar a encarnação de Buda, aproveitando essa natureza humana dele, essa fragilidade, para destruí-lo? Aiolia, Cavaleiro de Ouro de Leão, um homem marcado pela desonra de carregar o sangue de um "traidor" em suas veias, ama esse Deus, esse menino, e jurou protegê-lo a qualquer preço. Aiolia irá desafiar até mesmo os Deuses para salvar Shaka!
CONSTELAÇÕES
- Capítulo 5 -
Afrodite não se fez de rogado! Se, para proteger Aiolia, tinha que deixar o grão mestre satisfeito, ah! Então Ares nunca mais esqueceria aqueles momentos... Afrodite arrebitou ainda mais suas nádegas tenras dando ao falso Ares uma visão deliciosa de seu corpo...
- Pois estou a sua total disposição meu senhor, total e irrestrita... Vou atender a todos os seus desejos, sejam eles quais forem...
E foi o que fez o cavaleiro de Peixes...
OooOooO
Aiolia saiu correndo com Shaka nos braços enquanto as pedras caiam sobre os dois. Máscara tentava com seu cosmos criar um escudo que os impedisse de ficar ali, soterrados, mas a Deusa maligna ainda deveria estar por perto, pois uma energia poderosíssima o impedia de se concentrar. Máscara corria na frente, mas voltou quando escutou o grito de Aiolia.
- Pegue Shaka de uma vez! Leve-o desse inferno!
O Cavaleiro de Leão tinha sido atingido por uma enorme pedra que caíra sobre suas pernas quando estavam quase na saída da caverna... Protegendo o corpo de Shaka na queda, Leão havia se machucado muito. Máscara da morte soltou uma imprecação e voltou correndo e, sem prestar atenção no que dizia Leão, tentou tirar a pedra de suas pernas...
- Saia com Shaka, eu fico aqui!
- Que grande palerma, o herói!
- Droga Máscara, pelo menos uma vez faça o que estou pedindo! Logo não teremos mais como sair...
- Foda-se Leão, não vou levar Virgem e deixar você aqui! A idéia me agrada, muito, mas vim vigiar você, não ver a sua tumba cair na minha cabeça!
Se tivesse forças naquele instante, se suas pernas não estivessem doendo tanto, Aiolia teria matado o cavaleiro de Câncer. Mas, no meio daquela chuva de rochas, uma coisa o agoniava ainda mais do que tudo: de todas as palavras falsas que tinha ouvido da megera-Deusa, uma em especial havia marcado seu coração: Shaka era a reencarnação de um deus! Seu amor era o cavaleiro de Virgem... Mas era também Vishnu, o deus... Era Buddha, o sagrado... Era Shaka, o menino... Era mesmo inatingível!
Deveria o hindu ser salvo acima de qualquer coisa, acima dele mesmo, por isso, Aiolia praguejou contra Máscara da morte:
- Porra! Não entendeu? Ele não pode morrer! Leve-o, eu me viro sozinho!
Mas nesse exato instante, uma avalanche fechou a entrada da caverna. Máscara gritou furioso:
- Veja o que fez, seu idiota! Demorou demais para se mexer! Estou me fodendo se Shaka é Buda ou um qualquer, para mim ele será sempre um babaca idiota!
Enquanto falava, Máscara da morte, com sua força imensa, tirou a pedra que prendia as pernas do Cavaleiro de Leão e então, ofegante, pegou Shaka dos braços de Aiolia:
- Agora, veja se consegue ficar de pé, seu cretino! Vamos unir nossos cosmos e explodir a entrada, mas vamos ter que ser rápidos, pois mais uma explosão aqui dentro será o fim de tudo!
Aiolia não parou para pensar. Tudo o que ele queria era Shaka fora dali... Ergueu-se cambaleante, suas pernas doíam terrivelmente. A última coisa que pretendia na vida era depender de Máscara da Morte. Não confiava nele, mas, naquele momento, estava em suas mão... Shaka estava nas mãos dele!
- Posso andar perfeitamente! Vamos correr...
Leão e Câncer fecharam seus olhos, elevaram suas forças até atingirem a magnitude de seus cosmos direcionado à parede de pedras a frente deles... Um segundo depois as pedras voaram, a claridade era intensa demais... Aiolia podia jurar que havia sentido o cosmos do cavaleiro de Virgem ajudando-os a quebrarem as rochas, mas não tinha tempo para cogitar sobre aquilo agora! Saiu correndo atrás de Máscara da Morte, que levava Shaka nos braços...
Não conseguiriam, depois, jamais dizerem o que aconteceu, pois, enquanto tudo pareceria passar em câmera lenta, os fatos, na verdade, aconteciam rapidamente!
Como relâmpagos, eles passaram pela saída da gruta parcialmente livre. Continuaram correndo, mas uma nova explosão, que tinha vindo não sabiam donde, os jogou longe!
Apesar de serem cavaleiros, tiveram um momento de pânico... Fóbos! Precisavam vencer mais esse deus!
A adrenalina corria forte nas veias deles, bombeando os corações apressadamente... Aiolia tentou respirar... Doeu! Com certeza deveria ter quebrado algumas costelas! Mas onde estavam Máscara da Morte e Shaka?
Não poderia acreditar que, depois de tudo, os dois estivessem... A que Shaka estivesse... Apesar da dor horrível para se mexer, ele se deitou de barriga para cima e chamou fracamente; a dor nas costelas impedindo-o de gritar... Respirou fundo, fazendo os exercícios respiratórios que seu mestre e irmão havia lhe ensinado pra combater o pânico.
"A dádiva de um verdadeiro cavaleiro é a de superar a dor física, extrapolar a prisão da sua humanidade e atingir o milagre de ser tornar ilimitado como um deus...".
Aiolia deu um gemido abafado e murmurou...
- Aioros, eu preciso dessa força agora...- Virou-se trincando os dentes para não gritar... Suas costelas doíam horrivelmente - Másk... Shaka... – muito baixo clamou – Meu amor... Responda...
Silêncio, segundos... Minutos... Que pareceram horas... Demorou até que Cavaleiro de Leão tivesse forças para chamar outra vez...
- Máscara...
- Estou perto...
- Por que não respondeu da primeira vez?
A voz soou com o cinismo familiar de sempre:
- Por que eu iria aliviar seu sofrimento assim tão fácil Leão?
- Mataria você se pudesse...
- Ama Shaka, Leão! - Mesmo sem querer a imagem de Afrodite se fez na mente do Cavaleiro de Câncer...O italiano resmungou:
- Amar é perda de tempo... Coisa de viado.
- Não enche o saco, e fala de uma vez! Como ele está?
- Continua frio... Imóvel...
- Não é possível – disse Leão se arrastando até o som da voz de Câncer – Tenho certeza de que senti o cosmo dele na explosão da gruta...
Máscara da Morte:
- Vai ver era seu coração falando... hahahahahahahha
Leão chegou perto de Shaka. Tocou o corpo do cavaleiro de Virgem. Sim, estava gelado...Demais! Deitou-se sobre o corpo de Shaka. Elevou seu cosmo, tentando escutar a pulsação de Shaka. Olhou para Máscara da morte que estava ali perto, o rosto manchado de sangue e com os olhos cheios de lágrimas pediu:
- Carlo...(1) Você é capaz de abrir uma porta para o mundo dos mortos através do "Mergulho dos Espíritos...". Com seu golpe "Ondas do Inferno" envia quem quiser para junto das almas dos que partiram. Você pode transitar entre o mundo dos vivos e dos mortos. Por Atena... Traga Shaka de volta, ele não pode morrer...
Máscara estava incomodado com aquele amor desesperado de Leão. Olhou duro, inflexível, disposto a torturar o outro com sua impiedade...
- Por mim ele que fique lá!
- Máscara...
Se quiser salvá-lo, faça-o você mesmo. Não sou Madre Tereza!
- Muito bem. Transporte-me, então.
Carlo riu, um riso cruel...
- Arriscar a pele assim por uma viadagem! Você me dá mais do que asco, me dá pena!
Aiolia estremeceu de raiva diante das palavras de desprezo do outro, mas, agora, tudo o que tinha em mente era Shaka ali, ao seu lado, lívido, imóvel...
E tinha que precisar justo daquele maldito?
- Você sabe que há muito mais em jogo... Você ouviu a Deusa...
De repente, os dois ouviram uma voz suave, mas firme, ao mesmo tempo em que sentiram o ar se impregnar de um odor delicioso de rosas...
- Ele vai transportar você, Leão.
Afrodite havia conseguido, após cair nas boas graças de Ares, permissão para ir até a Índia, e, após horas de uma busca tensa, havia localizado o cosmos dos cavaleiros selva adentro...
Os dois viraram o rosto em direção a voz que se aproximava, enquanto o vulto lindo de Afrodite ficava mais nítido; a armadura brilhando sob a luz reflexiva e etérea da lua. Máscara sentiu um ódio súbito, visceral...
- Que diabos você está fazendo aqui? Quem você pensa que é, seu pirralho, para dizer o que eu faço ou deixo de fazer?
Afrodite olhou firme para Máscara. Por dentro, seu coração doía. Aqueles dois o desprezavam: Aiolia porque amava Shaka e Carlo porque era um maldito hetero que via a ele, Afrodite, apenas como um ser digno de pena! Mas agora, eram apenas três cavaleiros! O amor, o ódio, as desavenças, tudo deveria ser colocado de lado, em nome da Ordem Sagrada de Atena!
- Escute, Carlo. Eu mesmo direi ao mestre que deixou um cavaleiro morrer sem mexer um único dedo...
Máscara deu um passo em direção a Afrodite, olhos brilhando de ódio...
- Bicha atrevida, acha que tenho medo de você!
- Deveria! Tenho voz aqui como um cavaleiro sagrado!
- O que você quer é cair nas graças dele, seu ridículo efeminado!
Afrodite olhou preocupado para Aiolia. Percebia agora, que se aproximara ainda mais, um corte horrível na perna dele, Leão, onde o sangue jorrava com insistência... Ajoelhou-se e rasgou sua capa, colocando um torniquete improvisado na perna de Aiolia. Suspirou... No íntimo de sua alma, bem que queria Shaka morto para ser dele, Afrodite, as atenções de Aiolia, mas...Céus, não tinha o direito de pensar aquilo, era um cavaleiro!
As bênçãos de Athena sobre a Terra dependiam da proteção deles... Deles todos, inclusive de Shaka... "O homem mais perto de deus!" Não eram esses os boatos no Santuário?
Ainda de costas para Máscara, Afrodite tentou dar a sua voz um tom cortante. Lamentou não conseguir fazer o mesmo tom gélido que Camus tinha quando estava zangado com Milo:
- Sua missão aqui é a de vigiar o comportamento de Aiolia, não é a de deixar um cavaleiro de Atena morrer!
Era visível que Carlo fazia um esforço enorme para não socar aquela linda boca pintada com batom azul.
Afrodite sorriu, um sorriso amargurado. Se Carlo o socasse, não seria a primeira vez... O italiano o detestava! Desde que eram pequeninos, Máscara da Morte usava as horas de treinamento para transformá-lo em saco de pancadas!
Mesmo o sexo entre eles, nas raras vezes em que acontecera, era assim! Para Carlo, ele, Afrodite, era um pedaço de carne bom de se comer, mas só! Algo que era para ser ridicularizado e pisado por ter de feminino apenas o nome...
De repente, como se um raio fulminante o atingisse, Afrodite percebeu porque havia fixado suas atenções em Aiolia... Ele era... Gentil com Shaka! Amava-o por ser o que era! Não se importava se o cavaleiro de Virgem era homem, mulher, macaco ou deus! Queria-o, acima de qualquer maldito rótulo! Ah, invejava Shaka, sim, tinha uma inveja visceral dele, porque... Carlos de Angelis JAMAIS veria a ele, Afrodite, com aquele respeito e veneração! - Os olhos lindos de Afrodite encheram-se de lágrimas contidas-mas até ai, não podia deixar o hindu morrer bem ali, podia?
Máscara percebeu os olhos de Afrodite lacrimejarem e, aquilo, sabe-se lá porque, o encheu de fúria ainda maior. Deu um tapa violento no rosto do Cavaleiro de Peixes, com as costas da mão direita, fazendo voar e bater as costas de encontro à árvore mais próxima. Afrodite elevou seu cosmo, chegou a pegar uma rosa branca, mas... Espremeu-a na mão, sentindo o gosto de sangue nos lábios rachados, e a largou no chão... Não era hora de duelar com aquele cretino... Os minutos corriam contra o Cavaleiro de Virgem... Escutou a voz irritada de Carlo...
- Se queria motivo para chorar, acabei de lhe dar um!
Aiolia queria protestar contra a violência desnecessária que presenciava, mas a verdade, é que estava atordoado, quase perdendo os sentidos.
Afrodite se ergueu com visível dificuldade... O gosto de sangue na boca... Ah, como Eros, o deus, era cruel... Ainda mais do que Carlo! Aquele homem ali, na sua frente, com um ar furioso, cheio de asco... Ah, não, preferia morrer a admitir que gostava do italiano... Apanhava dele, era tratado como cadela e ainda... Ah, amar um heterossexual, ainda mais AQUELE hetero era algo pior do que a morte! Respirou fundo:
- Honre sua armadura, Carlo, por favor...
- Ora, olha só quem fala em honra, o puto do santuário! Ah, muito bem! Se quer tanto ajudar esses infelizes, vou despachar Leão e torcer para que seja uma viagem só de ida!
Ao mesmo tempo em que dizia isso, Máscara soltou seu poderoso "Mergulho dos Espíritos" sobre Leão... A terra estremeceu como se acontecesse um grande terremoto e Aiolia perdeu a consciência.
Afrodite gritou de agonia. Morto? Não, não podia ser... Adivinhando-lhe os pensamentos, Carlo explicou:
- Não, Dito, o cretino não está morto, mas no estágio que chamam de viagem astral. O espírito dele está a caminho do Yomatsu.
Carlo deu alguns passos. Virou-se para trás quando ouviu a voz de Afrodite, que, ainda encostado na árvore onde fora jogado, estava simplesmente lindo, mesmo com os lábios inchados e os cabelos desgrenhados...
- Aonde você vai?
- Fazer uma fogueira e improvisar um acampamento para o Romeuzinho e a Julieta hindu... Esse santuário é uma pocilga! Cada um pior do que outro... Um bando de fracotes boiolas!
- Precisa ser tão... Sarcástico? Tão cruel nos seus valores de machão?
"Afinal, você bem que me usa quando quer...". Afrodite pensou em completar com essa frase, mas segurou-na nos lábios. Não era hora de discutir com Carlo. Tinha que velar pelos amigos...
Máscara da Morte não respondeu nada. Catou alguns gravetos, fez uma fogueira em poucos minutos e, depois, arrastou os corpos de Aiolia e Shaka para mais perto do calor... A noite estava fria e a selva nem de longe era o lugar onde Afrodite gostaria de passar a noite, ainda mais, tão preocupado com os dois amigos. Amigo... Era estranho pensar em Shaka como amigo, apesar de sempre tê-lo visto como um... Rival...
Em silêncio, se aproximou de Máscara... O outro pensou em protestar quando o corpo lindo de Afrodite desacoplou a armadura dourada e se acomodou próximo ao seu, mas, no íntimo, sua reação foi prazerosa, porque o perfume de rosas impregnou deliciosamente suas narinas... Olhou para a boca cujo ferimento ele mesmo provocara momentos antes... Sempre apetitoso, o maldito viado!
Máscara resmungou e virou o rosto para o outro lado, fingindo que olhava agora para as chamas bruxuleantes da fogueira...
Ouviu a voz suave do cavaleiro de Peixes, apreensiva...
- Acha que Aiolia vai conseguir?
- Por mim, espero que não...
As chamas faziam os cabelos de Afrodite brilharem como estrelas e ele então resistindo a tentação de se recostar no corpo do cavaleiro de Câncer disse:
- Você não deveria falar assim...
Máscara sorriu, sarcástico, tentando esquecer as reações voluptuosas que a proximidade de Afrodite causavam em seu corpo.
- Eu não deveria era ter mandando Aiolia para lá! Ares não vai ficar nada contente com isso!
Afrodite pensou em responder algo malcriado, mas sabia que, com certeza, ganharia um outro soco. Era sempre assim, quando estavam juntos, por alguma necessidade. Ou se atracavam feito bichos, com sexo, ou com socos... Nunca havia uma terceira situação onde... Onde pudesse receber o mesmo carinho que Aiolia entregava a Shaka...
Sentindo um frio absurdo, que não sabia bem dizer se era do corpo ou da alma, Afrodite deu de ombros...
- Pois eu achei uma atitude muito... Nobre, a dele.
Ficaram em silêncio, um silêncio pesado, quase físico. Dite respirou fundo e, como por magia, fez pétalas rosas se materializarem do seu cosmo cálido e perfumado. As rosas rodearam os corpos gelados de Shaka e Aiolia, aquecendo-os. Sem refletir sobre o que dizia, Afrodite confessou:
- Eu teria muito medo de, um dia, ir parar no Inferno de Hades... Mesmo sendo um cavaleiro, acho que eu não suportaria ficar lá nem um minuto... Sempre tive... Muito medo de morrer.
-...
- Por isso, resolvi ser um cavaleiro...Para aprender a não temer a morte.
Máscara da Morte respirou fundo e soltou o ar lentamente. Tinha o olhar fixo na cama de rosas que Afrodite colocara sob os corpos dos cavaleiros de Leão e Virgem. Por um instante tinha imaginado o corpo nu do cavaleiro de Peixes numa cama daquela, feita de pétalas...
Subitamente, conforme Afrodite falava, ele teve uma visão do cavaleiro de Peixes muito machucado, o rosto bonito coberto de sangue, justamente ali, no portal do Inferno, o Yomatsu. Sacudiu a cabeça com violência para afastar a terrível visão e fixou os olhos no rosto delicado de Afrodite...
- Não deve ter medo... Deve-se sempre conhecer suas fraquezas e superá-las, não se lembra mais das lições dos mestres?
Os lábios de Afrodite deram um sorriso melancólico. Oh, céus, o que estava fazendo? Confessando seus temores secretos a um cara que o desprezava! Mas aquela situação tão melancólica, os dois ali, sozinhos, com seus amigos à beira da morte... Tudo parecia conspirar contra ele, fazendo-o se sentir ridiculamente frágil...
- Lembro-me delas, claro, mas entro em pânico quando penso no portal... Sei lá, antes que você diga, digo eu, viadagem mesmo...
Um leve tremor nos lábios de Afrodite fez com que Carlo tivesse a súbita intuição que de havia algo mais além de "frescura"...
- O que aconteceu que você tem...Esse medo?
- Quando eu era... Pequeno... Antes de vir para cá... O acidente de carro que matou meus pais, eu estava lá, no carro, com eles! Fiquei no hospital vários dias, em coma... Tive visões, coisas que não gosto de me lembrar... Fui parar em um lugar horrível, um lugar cheio de cadáveres, um buraco enorme... Um lugar desolado, onde as almas caiam... E choravam...
Máscara se inquietou. O Yomatsu! Afrodite se calou por alguns segundos, mas o outro, agora com a voz desprovida do seu odioso tom irônico, incentivou-o a falar...
- Continue, diga o que viu!
Algo nos olhos escuros de Carlos hipnotizou Afrodite. Sua razão o mandava calar a boca, mas seus lábios e seu coração não obedeceram:
- Vi um homem horrível, sei lá, parecia ser um homem, mas acho que era o barqueiro, o barqueiro das almas... Eu tentei fugir, mas não conseguia... Para onde eu corria, via almas sofrendo e ele, bem na minha frente. O homem me disse que eu logo iria morar, ali, com ele...E que nunca mais sairia dali... Que era o destino.
Máscara da Morte estava perplexo...Um menino, uma criança pequena demais para suportar os horrores de Hades! Pequena e linda demais! Máscara já tinha visto e ouvido coisas assombrosas e apavorantes até para ele sobre o que acontecia no portal a uma criança bonita... Ou a um adolescente excepcionalmente belo, como o cavaleiro da casa de Peixes havia se tornado. Se alguém de lá tinha dito a Peixes, declaradamente, que logo ele iria viver ali, então era porque...
- O que foi Máscara da Morte? – Afrodite se assustou com o olhar perdido e distante do Cavaleiro de Câncer... – Carlo, o que foi? Você sabe de alguma coisa que eu não sei? Já esteve lá, não esteve? Pode me dizer se eu vou ficar lá mesmo? Olha para Mim! – Afrodite então ficou de frente para Máscara da Morte e o segurou delicadamente pelo rosto. Os olhos de Afrodite brilhavam de emoção e temor.
- Não me envolva nas suas frescuras, eu não sei de nada!
Máscara falou aquilo por instinto, era um modo de defender sua arrogância costumeira, mas por dentro, tremia, e não era de frio! Peixes iria morrer! E em breve. E o pior de tudo era que... Não iria passar para os Elíseos, iria ficar ali, eternamente... Nos domínios de Hades! A simples idéia de imaginar Afrodite a mercê dos espectros o enchia de um pesar genuíno! Não! Se Athena permitisse tal coisa, ela não era verdadeiramente Deusa!
Ora, Afrodite que se danasse...Tudo isso que acabara de ouvir havia sido imaginação de uma criança, somente isso! E ele, Máscara, não dava a mínima para presságios!
Uma voz dentro dele sussurrava... "Mentiroso, você se importa...".
Máscara da Morte virou de costas, numa luta interior terrível. Pesava em seu coração o dilema de falar sobre a morte próxima de Peixes ou de simplesmente ignorar aquilo, como se fosse um sonho ruim...
- Cale a sua boca, Dito, e se concentre em aquecer esses malditos moribundos...
- Se um dia eu morresse... Você não iria me buscar como Leão fez...
Não era uma pergunta, era uma afirmação triste e conformada. Carlo virou-se e, no rápido momento em que os olhares dos dois se encontraram, Carlo entendeu porque o feitiço de Eros era simbolizado por uma flechada certeira que machucava e aniquilava até o mais irreverente guerreiro... Respirou fundo... Maldito Afrodite...
- Não só não iria, como de certo iria dançar sobre o seu túmulo. Como vou fazer quando esses dois cretinos não voltarem mais! O santuário é um lugar de homens, não de maricas...Como vocês!
Afrodite, mais uma vez, não retrucou. Máscara, não suportando o olhar triste dele fechou os olhos e fingiu que dormia...
OooOooO
Completamente desorientado, Aiolia, Cavaleiro de Leão, não tinha a menor idéia de onde estava e nem o porquê! Seu corpo todo doía como se tivesse levado a mais violenta das surras. Sentia-se estranho, muito estranho. Tentou se erguer, mas parecia não ter nenhuma coordenação motora. Seus músculos não obedeciam. Quando conseguiu abrir os olhos percebeu que estava em meio a uma névoa pesada e fria... Um cheiro de enxofre no ar... Se é que havia ar naquela atmosfera estranhamente avermelhada...
- Alô... Tem, alguém por aqui! – tentou dizer, mas sua voz também parecia não sair de maneira normal!
Ergueu-se com dificuldade, e aos poucos, foi compreendendo tudo, a medida em que sua memória ia voltando: o Yomotsu Hirasaka, o portal do inferno! Câncer o havia jogado lá para que resgatasse Shaka!
Notou que nem suas costelas e nem a perna doíam mais e compreendeu a verdade: Não estava ali com seu corpo, não havia corpo ou músculos! Ele estava ali com seu espírito! Atento, até um pouco assustado, percebeu sobre si uma estranha aura de luz que parecia um fio dourado. O "fio" saia da sua cabeça rumo aos céus... O que seria aquilo, um tipo de cordão umbilical? Um elo dimensional com a terra? Seu corpo, ou fosse lá o que fosse, estava estranhamente leve... Um espectro! Era isso o que ele havia se tornado agora? Precisava achar Shaka e sair dali...
Tentando enxergar na penumbra, aos poucos Aiolia foi fazendo seus olhos espectrais se acostumarem com a escuridão, e não gostou nada do que viu... Corpos mutilados que sangravam incessavelmente, um sangue paranormal, que não parava nunca de jorrar! Havia também almas moribundas uivando e rangendo os dentes... Corpos nus e esquálidos... Gritos, dores, desolação! E o enorme Yomotsu despontando na cena inóspita e nua.Ao lado do abismo, uma pilha incontável de cadáveres e espectros agonizantes... A porta para inferno... O reino de Hades...
Uivos e lamentos incessantes cortavam o ar juntamente com um frio que machucava até mesmo a alma desencarnada! Céus... havia ouvido, quando criança, que o inferno queimava, mas sempre achara que isso acontecia pelo fogo, não por causa daquele frio que deixaria até Camus morrer de hipotermia! Um frio desolador...
De repente, um pensamento sombrio passou pela mente de Aiolia... Kali! De certo ela era uma das centuriões guerreiras dos espectros, a grande mãe negra, senhora da escuridão...
Shaka era um iluminado, mesmo os deuses do Olimpo o temiam, mas... A questão não era essa, não queria Shaka vencendo deuses e indo para o Campos Elíseos, o Nirvana, para o Paraíso Cristão, ou qualquer outro lugar! O que queria era levar Shaka de volta para casa, são e salvo. Como o cavaleiro sagrado de Athena que era, o hindu ainda tinha uma missão... Não podia morrer tão jovem ainda!
O coração de Aiolia se apertou...Não podia deixá-lo morrer! Iria mover o próprio Hades do lugar, desde que pudesse ter o seu Shaka de volta!
- Blasfêmia...Um único cavaleiro não irá conseguir nada contra deuses... E o destino.
A voz feminina o surpreendeu...Kali! Como a havia visto antes, em suas visões, ela apareceu muito linda, nua, com um colar de cabeças enfeitando o pescoço delgado, o sangue escorrendo da boca bonita, mostrando que era uma Deusa que se alimentava de sangue, o sangue que simbolizava as mazelas humanas. Ao lado dela, surgiram três poderosos espectros, com armaduras negras e reluzentes, que tinham o símbolo de Kali cravados a fogo em seus elmos... Eram os espectros que agiam sob as ordens de Kali!
- Eu faço o meu próprio destino.
- Vai morrer bem aqui, mortal insolente... E eu mesma vou torturá-lo pela eternidade...
- Titia, saia da frente, eu não tenho tempo para papo furado!
- Moleque, eu vou...
Repentinamente, uma imensa luz brilhar ao lado direito de Kali, interrompendo o que ela dizia. A luz foi se tornado intensa, tão intensa, que fez as almas que penavam por ali, que não gostavam da luz, se jogarem desesperadas no Yamatsu. Contorciam-se de dor e medo.
Aiolia sentiu uma emoção indescritível... Shaka! O seu amor surgia esplendorosamente dourado, com as contas sagradas de Budha em suas mãos alvas!
Shaka respondeu para a Deusa...
- Um cavaleiro amparado no amor, mãe negra, é muito mais que um homem, é muito mais do que um deus, e este homem está amparado pelo meu amor...Nenhum mal irá acontecer a ele!
- Ele vai morrer aqui, Sidartha! E você o verá ficar preso para sempre no reino de Hades.
- Mulher, ainda não aprendeu que o cosmo se eleva infinitamente diante do amor?
Dizendo isso, Shaka, abrindo os seus lindos olhos, resplandeceu ainda mais e emanou sua poderosa energia para Aiolia. Leão sentiu seu cosmos arder e chegar a atingir proporções inacreditavelmente grandiosas! Céus... Shaka era a face de um deus agora!
A Deusa urrou de raiva. Maldito Budha, face do senhor Vishnu...
- Nós dois não podemos nos confrontar aqui... É o reino de Hades. Ele domina o portal...
- De fato. Mas o livre arbítrio do cavaleiro o trouxe até aqui, um fato inusitado que nem mesmo um deus pode mudar. O cavaleiro de Athena é livre em suas ações. E as conseqüências dos seus atos devem ser respeitadas. É a lei. É o karma.
Kali fremia de ódio. Maldição...
- Muito bem, meus cavaleiros e o cavaleiro de Athena lutarão... Se ele vencer, estarão livres para partir...
Shaka olhou em volta... Eram três contra um, três espectros malignos contra um cavaleiro de Athena, cheio de honra e coragem... O cavaleiro de Virgem arriscou:
- Também sou um cavaleiro...
Kali riu...
- Aqui você é muito mais do que isto, meu senhor, mas se eu não posso interferir, você também não pode! Agora vamos, comecem a luta!
Nem bem ela terminou de falar e os cavaleiros sob seu comando voaram para cima de Aiolia de Leão numa fúria mortal...
Pego de surpresa, Aiolia se desequilibrou, escorregou e quase caiu num do Yomatsu. Foi então que ouviu a voz de Shaka direto em seu coração...
- Estou aqui! Com você, meu amor!
O cavaleiro de Leão saiu de perto do perigoso abismo e fez seu cosmos arder. Com um grito de concentração, fez sua energia explodir em direção aos cavaleiros negros de Kali...
Foi uma explosão impressionante, com uma capacidade atômica capaz de destruir matéria e antimatéria. Uma explosão cósmica quase tão intensa como o "Big Bang", a força criadora que, há quinze bilhões de anos, criara a Terra...
Eram os cosmos de Aiolia e Shaka juntos, unidos em uma imensuravelmente poderosa: o amor!
O golpe de leão fez com que os três guerreiros desintegrassem bem ali, enquanto as almas que vagavam eram jogadas para longe por causa do impacto cósmico impressionante.
A Deusa enfureceu-se...
- É contras regras você ajudar o humano!
Shaka sorriu. Ali, tinha plena consciência do seu poder...
- Não o ajudo. Apenas o amo. Já disse, mulher sem fé, a força do meu sentimento e do dele é que leva o Cosmo ao infinito. Ele ganhou. Agora, nós dois podemos voltar e ajudar Athena...
A Deusa fitou o ser dourado perplexa:
- Vai voltar a ser mortal? Vai sofrer encarcerado em carne e se tornar um adolescente tolo, sem lembranças da sua divindade? Eu o libertei, irmão, você pode ir ao Elíseos e ser o grande Senhor Cósmico. Porque isso? Vai sofrer, ter dores, morrer! Para que essa tarefa mísera e desonrosa de padecer como humano...Athena que fique com essa desonra sozinha!
- Homens se tornam deuses pela evolução, pelo progresso espiritual, assim como uma pequena pedra pode se tornar uma estrela um dia... Athena fará a missão dela, assim como eu, farei a minha. Humildemente, como mortais. Athena defenderá a terra com seus cavaleiros, e eu serei um deles.
Kali não era capaz de compreender a divindade que falava com ela. Mas sentiu o peso da vergonha e da derrota em seus ombros... Não ousava afrontar Shaka em seu estado espiritual, naquele momento. Precisava de reforços... Hades a ajudaria um dia!
A Mãe Negra, Kali, afastou-se deles, mergulhando no Yomatsu para ir até o reino de Hades.
Aiolia estava caído no chão, exausto. Shaka se aproximou dele, lindo, resplandecendo toda sua aura divina. Leão se ajoelhou, a luz era tão forte que quase o cegava... Shaka disse, com doçura:
- Vamos... A terra nos espera.
- Você...
- Você e eu não lembraremos de nada do que aconteceu aqui...
- Shaka, Buda... Vishnu... Zeus... Quem é você, afinal?
Shaka deu um sorriso triste...
- Sou apenas um garoto solitário...
Sem poder se conter Aiolia ergueu as mãos e tocou o rosto de Shaka:
- Pena que não nos lembraremos de nada do que aconteceu aqui...
- Por que diz isso, meu amor?
Leão se ergueu, e sentiu-se gigantesco sem as amarras de um corpo físico a contê-lo. Então deu de ombros e respondeu, amargurado:
- Porque você nunca disse que me amava antes! Porque só aqui você admitiu esse amor sem medo e sem vergonha. Na Terra você não me quer, me evita e... E me despreza como os outros, que me vêm apenas como o impuro, irmão de um traidor!
- Isso não é verdade!
Leão respirou fundo. Havia uma melancolia agora em sua alma, tão profunda como o abismo que estava logo ali...– Se temos que ir vamos! Máscara da Morte e Afrodite nos esperam...
OooOooO
A volta para o Santuário foi tensa...A bordo do avião que fazia a escala Dheli -Atena havia no ar um certo pesar, como se Kali houvesse deixado uma maldição no ar...
Afrodite se escondia de si mesmo falando frivolidades, Máscara da Morte o provocava com suas ironias costumeiras, Aiolia permanecia em silêncio e Shaka não havia aberto os olhos uma vez sequer... Mergulhado em uma serenidade apenas aparente.
O cavaleiro de Virgem não conseguia se lembrar de nada, mas sabia que Aiolia havia quase havia morrido por causa dele, Shaka! Escapara por muito pouco! E para piorar tudo, Aiolia estava assim, quieto, daquele jeito taciturno, um cosmo cheio de revolta... Por quê?
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Chegaram ao Santuário. Leão assim que apresentou seu relatório sobre o ocorrido na Índia, se afastou e se recolheu na casa de Leão. Estava amargurado, não queria falar com ninguém. Um vazio estúpido na alma. Mas pelo menos... Shaka estava de volta...
- Posso entrar? Como está a sua perna?
Leão virou-se surpreso... Como não havia percebido o Cosmo de Shaka se aproximando? Estava tão distraído assim?
- Se veio me agradecer, esqueça. Aquilo foi apenas uma missão. Eu tenho que mostrar o meu valor como cavaleiro de Athena, só isso.
- Você não precisava ter ido literalmente até o inferno por minha causa, Máscara da Morte disse que...
- Não perca tempo ouvindo o que o cretino diz... Fiz porque precisei fazer... Fiz porque preciso limpar o meu nome diante da Deusa... E diante da maldita Criptéia. Sei que Máscara é um dos assassinos da polícia secreta do Santuário.
- Pensa mesmo assim? Não se importou comigo?
Aiolia não conseguiu confirmar seu pensamento. Às vezes, numa freqüência preocupante, odiava os cavaleiros, odiava o mestre, odiava a própria Athena, porque haviam pactuado para a morte do seu irmão Aioros... Estava se sentindo assim agora... Tivera a impressão louca de que havia atingindo algo que queria muito para depois perder o alvo do seu amor... Porque essa sensação? Shaka estava ali, vivo, porque então se sentia tão... Frustrado? O que acontecera no Yomatsu? Droga, não conseguia se lembrar de nada!
- O que você quer, Shaka? Se quer me dizer algo filosófico e grandioso, deixe isso para os seus pupilos!
Shaka respirou fundo. Não sabia bem o que era, mas a verdade é que... Não podia mais mentir para si mesmo...
- Quero ficar aqui, hoje, com você...Na Casa de Leão.
Aiolia sentiu seu coração disparar tal era a profundidade da voz de Shaka. Estremeceu, um arrepio de excitação e dúvida passou por sua coluna vertebral, como uma faísca elétrica. Voltou para olhar o cavaleiro de Virgem... Quem estava ali afinal? Um deus? Um cavaleiro, uma lenda?
Shaka estava de olhos fechados... Mas todo o ar dentro da casa de Leão estava carregado de emoção... E de uma energia tremendamente sensual... Algo... Muito físico, que mexia com seus nervos...
Aiolia aproximou-se até ficar apenas alguns centímetros de distância de Shaka. Em seu peito agora misturavam-se raiva e amor!
- Porque isso agora Shaka! É gratidão, não é? Eu não quero a sua maldita gratidão! Não preciso da sua gratidão, nem da sua pena. Vou provar a TODOS que sou digno de ser um cavaleiro!
A confusão de sentimentos do Cavaleiro de Leão era sentida em toda casa. Ele não conseguia manter seu cosmo controlado, tão intensas eram suas emoções... O cheiro de Shaka o enchia de desejo... Uma sensação que não era nada santificada!
O cavaleiro de Virgem abriu os olhos e a Casa de Leão se encheu de uma energia ainda mais tensa.
- Acha que é somente gratidão o que sinto, Aiolia? Isso não é justo...
- Só sei que... Também quero você, cara!
Aiolia empurrou Shaka para a parede e o pressionou, mostrando seu intenso desejo, imperioso, que vinha das entranhas do seu ser! Algo que era mais forte do que qualquer outro sentimento que não fosse o imediatismo da volúpia.
- Aiolia...
- Cale a boca... Não diga nada, não agora!
Leão tapou os lábios de Shaka com um beijo punitivo. Não se lembrava realmente de nada do que havia acontecido na dimensão do portal infernal, mas estava frustrado, irritado, sentindo-se estúpido e pequeno, como se não tivesse o direito de estar ali com Shaka, o mais iluminado, ou mesmo de estar ali no Santuário. Tinha o sangue impuro dos traidores, era alguém vigiado pela Criptéia, alguém que... Droga, que Shaka deveria estar se sentindo na obrigação de confortá-lo!
Aiolia puxou Shaka para si, sentindo uma coisa ruim dentro do peito, um cosmo quase negro. Estava cansado de deuses, honra e castidade! Queria Shaka, agora, como humano, como... Seu objeto de desejo! Era um homem, porra, não um santo!
Deixando todos os seus pensamentos mais puros e cavalheirescos de lado, Aiolia jogou Shaka sobre o chão, suas entranhas ardiam, seu peito arfava.
Colocou-se sobre o cavaleiro de Virgem e mais uma vez tomou a boca tenra:
- Agora você é meu! Meu! Só meu! Fique de olhos bem abertos, Shaka, porque nunca mais vai esquecer esse momento...
Aiolia se ergueu por um instante livrando-se da túnica que usava expondo seu corpo perfeito, pleno de uma excitação urgente.
Shaka tentou se libertar debilmente. Uma reação mais de surpresa do que de protesto. Não esperava uma atitude daquelas de Aiolia! Sua súbita tentativa esquiva fez o outro cavaleiro irritar-se ainda mais:
- Você veio até aqui, cara, eu não pedi! Vai amarelar agora? O que foi, sua gratidão já acabou?
- Não estou aqui por gratidão!
- Então vamos ver porque está aqui de uma vez!
Aiolia arrancou o curto "péplos" grego de Shaka com um solavanco e se forçou contra ele, o corpo magro, mas forte, se impondo com raiva e urgência.
- Aiolia, você não é assim tão...
- O que foi? Queria que eu ficasse ao seu lado orando aos deuses? Porra, estou farto deles!
Aiolia tapou novamente os lábios de Shaka com um beijo furioso. Num instante em que conseguiu livrar sua boca da outra, Shaka respirou fundo, mas Aiolia fez seu sexo avantajado duro, latejante de desejo, penetrar as nádegas de Shaka com a força de um aríete! Forçou a entrada do seu sexo no corpo de Shaka, estocando-o de uma só fez.
- Aiolia... AI!
- Chega... Chega... Não fale mais nada...
Leão ergueu as pernas de Virgem expondo-o feito uma fêmea e começou uma frenética cavalgada.
- Ai! – os olhos de Shaka se encheram de água e ele disse baixo Eu não pensei que fosse assim... Não com raiva Aiolia, não assim...
Aiolia foi tomado de uma vergonha súbita, um ódio de si mesmo que suplantou qualquer desejo. Parou e fitou os olhos imensamente azuis... O que estava fazendo? Desencaixou-se do corpo desejado com um gemido rouco de frustração e se afastou...
Shaka sentiu que o cosmo de Leão esvaziava a sua revolta... Aiolia virou o rosto para o lado, porque sabia que não conseguiria suportar o olhar de Shaka o acusando de uma atitude indigna...
- Vá embora...
Um segundo... Um minuto... Dois... Ainda sentia o cosmo de Shaka ali, porque ele não ia embora de uma vez?
- Shaka, eu...
Engoliu o que ia dizer quando, ao se virar, deparou com o cavaleiro de Virgem ainda ali, na sua cama, o corpo longilíneo reencostado suavemente, como se o esperasse ainda, os olhos abertos... O olhar cheio de desejo!
Shaka aproximou-se devagar e foi ele, agora, quem tomou os lábios de Leão, um beijo suave, mas cheio de promessas, o corpo alvo reagindo, exibindo agora uma excitação tão forte quanto ao do cavaleiro de Leão!
- Eu não vou embora, Leão... Vou ficar aqui, com você, e quebro suas duas pernas se disser de novo que estou aqui por gratidão! Não duvide de que eu não seja capaz!
Os olhares de ambos ficaram num tempo indefinido um fixado no do outro! Brilhavam como as constelações que protegiam os dois cavaleiros, até que, finalmente, numa explosão súbita de felicidade, Leão riu, um riso másculo de prazer e alívio. Shaka riu também, um riso cristalino, suave, que fez os dois se tornarem, naquele instante, apenas dois amantes que se descobriam!
Shaka, agora com uma expressão travessa no olhar, tomou a iniciativa: aproximou-se lânguido como um gato e enlaçou Aiolia nos braços para, logo depois, começar a percorrer o tórax largo do cavaleiro leonino com sua boca, em beijos que pareciam marcar com fogo cada pedacinho da pele bronzeada! Aiolia gemeu, extasiado, e resmungou...
- Eu não vou responder por mim dessa vez...
Shaka riu...
- A idéia é justamente essa...Mas sem rancores...
Aiolia não esperou mais nada. Pulou com a agilidade de um felino e novamente se pôs sobre o corpo bonito de Shaka. Dessa vez, nem o próprio Zeus, em pessoa, iria conseguir pará-lo!
Tomou o corpo de Shaka para si outra vez, primeiro com cuidado, depois com fúria. Massageava o sexo do cavaleiro louro, friccionava-o, enquanto o possuía, na esperança de distraí-lo da dor do coito. Shaka gemia, dor e prazer misturavam-se igualmente em seu corpo magro, mas as carícias de Aiolia, o corpo do outro no seu, aos poucos, foram fazendo com que ele literalmente atingisse o céu, e sem nenhuma meditação!
Os gemidos de Shaka tornaram-se extasiados! Eram mesmo gritos de prazer que ecoavam pelas paredes do grande quarto de pedra, mostrando que a natureza do hindu, por baixo daquela serenidade aparentemente desligada do mundo material era, na verdade, plena em sensualidade! E que sensualidade! Havia um vulcão oculto sob toda aquela calmaria!
Aiolia se sentia tragado por um delicioso abismo, caindo infinitamente num mar de prazer, enquanto Shaka, ele mesmo, fazia as nádegas pequenas e firmes friccionarem no sexo de Leão, freneticamente, entregando-se, abrindo-se, alucinando o amante recém conquistado com a libido do seu corpo imberbe!
Foram horas madrugada adentro... Horas mágicas, que fizeram os próprios deuses invejarem os prazeres sensuais dos corpos de dois jovens amantes...
oOo - Fim - oOo
12.06.2005
Gostaram? Espero que sim. Aqui houve um "fim" meia boca, porque, provavelmente, na próxima fanfic, tudo o que aconteceu por aqui vai valer, uma fic vai completando a trama da outra...
Acabou a fic deles bem no dia dos Namorados, eh, eh, eh, simbólico, né?
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Até a próxima fanfic dos nossos queridos dourados!
1) Atenção: Carlo di Angelis é um nome criado pela Pipe, que me deu autorização para utilizá-lo.
Jade Toreador
