MISSÃO: CRIANÇA

CAPÍTULO 02 – DIVIDINDO UM MESMO ESPAÇO...

Sally estava pasma, ainda tentando processar o monte de informações recebidas no curto espaço de tempo, enquanto ajudava a colocar os monitores nos corpos dos pilotos.

-Eu só não entendo uma coisa... Se eu tenho apenas quatro anos, como vou poder ajudar?

-Vamos pensar num modo, Q-boy. E além do mais, nem que for só pra você dar cobertura ao garoto, já ta de bom tamanho...

-Eu tenho outra dúvida. Como entraremos na mente deles?

-O portão dimensional tem um filtro. Sempre está regulado apenas para mentes. A transferência só vai ser possível, porque meu duplo levou os netos para o seu laboratório, com a desculpa de examina-los após o ataque de Heero...

-Demorei tanto pra crescer, vou voltar a ser um pirralho de sete anos. E irmão da Relena ainda por cima! Filho de Zechs Marquise!

-E meu irmão... – sorriu Quatre.

-É a única coisa boa em tudo isso. – retrucou Duo. – Mas não vai ser difícil para o Wuffei ser filho da mulher dele lá?

-Nunca fugi de desafios, Maxwell, nem permiti que sentimentos pessoais não me deixassem levar uma missão a termo.

-Woa! Falou o frio e calculista Wufei Chang! Me perdoe por pensar no seu coração primeiro... Acho que você está andando muito com o Heero, sabia?

-Ok, jovens. Lá está tudo preparado. Sejam cautelosos, mas não forcem muito os meninos. Boa sorte.

-Cuidem bem do meu corpinho, viu, Sally? Pretendo voltar pra ele em breve...

-Quando Heero acordar, ele vai pra lá também? – perguntou Sally, ao ver os olhos de todos se fecharem.

-Se ele acordar a tempo, vai. Eles precisam de toda ajuda possível.

Na outra dimensão...

Jheronimus Kusherenada olhou para os netos de olhos fechados, pensando se aquela loucura ia mesmo dar certo. Trazer os duplos pra essa dimensão para defender seus netos e a paz ainda fresca era uma idéia pra lá de arriscada, mas eles não tinham mais nada a perder. O ataque terrorista a casa de Treize, que quase matou seu neto Heero e feriu gravemente sua nora Une provava que os traidores estavam dispostos a tudo mesmo. Uma oscilação nas ondas cerebrais dos meninos acusava o sucesso da primeira parte do procedimento. Duo abriu os olhos primeiro.

-Duo?

-Deu certo? Quero dizer, você parece mais velho que o doc lá, então...

-Vai se lembrar de me chamar de vovô na frente dos outros?

-A mente dos seus netos não foi apagada, né?

-Ela está aí, em algum lugar. Basta deixar que ela venha pra frente...

Os outros garotos foram acordando e o conselho foi o mesmo. Sempre que estivessem perto dos adultos, deixassem a mente dos meninos assumir o controle. E levou-os pra casa.

-Não podemos ver o Heero? Como ele está?

-Ele já saiu da UTI. Mas ainda inspira cuidados...

Os meninos arregalaram os olhos para a casa destruída do outro lado da rua. Era incrível que alguém pudesse ter sobrevivido ali. Foi quando a porta do sobrado abriu e um grito se ouviu por pelo menos metade do quarteirão:

-DUUUUUUUUUOOOOOO!! O que você fez com meus esmaltes??

O piloto vasculhou na memória do garoto o que ele poderia ter aprontado e riu. Aquele menino era bom em ser irmão da Relena... O avô puxou-o pra trás do corpo:

-O que você fez, diabinho?

-Coloquei gelatina em pó nos vidrinhos, vô. – respondeu o neto, mostrando a língua para a irmã, por trás do corpo do velho.

-Eu vou contar pro papai quando ele chegar! – sentenciou a loira, batendo a porta.

Os pilotos sorriram e se aproximaram da porta, vendo seguranças por todo o lado. Quem abriu a porta foi a governanta, Meiran. Wuffei sentiu um baque no coração, mas se segurou. Buscou na mente do garoto de nove anos a serenidade que precisava. Se surpreendeu com o certo medo que a jovem senhora inspirava no filho. "Disciplina, seu nome é Meiran" sorriu para si mesmo.

-Estão todos bem, senhor Kusherenada?

-Sim, Meiran. Depois levarei as meninas pra examinar também.

-Certamente, senhor. Venham, pequenos, não fiquem expostos aqui fora...

Os pilotos entraram, observando a casa por dentro, tentando não ficar de boca aberta... Era uma casa à antiga, como nos anos anteriores à colonização do espaço, com algumas automatizações. Meiran já foi estabelecendo:

-Trowa, Wufei e Duo, terminar as tarefas de escola. Quatre, venha comigo, hora do banho.

Gemido coletivo. Quatre resolveu deixar o pequeno assumir, os outros acharam bom dar uma mãozinha para seus duplos, mas o avô não deixou. Nem bem a mãe colocou os pés em casa, Relena já estava junto dela, pra reclamar do irmão do meio. Noin suspirou, descalçando os saltos:

-Oh, por todos os deuses, Lena. Será que algum dia eu vou chegar em casa e encontrar tudo em paz? Duo! DUO!

O garoto colocou a cabeça pra fora do batente da sala de TV, onde estava vendo desenho com os outros.

-Oi, momis.

-Não tem essa de "oi, momis". Venha até aqui, agora.

Ele veio arrastando os pés.

-Vou descontar os esmaltes estragados da sua mesada. – o menino gemeu, mas o piloto nele detectou um sorriso mal escondido na mãe. – O castigo quem vai escolher é seu pai.

Duo buscou na mente do menino se isso era um bom ou mau sinal. Na média. Relena não ficou satisfeita. Seus olhares se cruzaram e eles se mostraram a língua. Noin bufou e foi atrás do caçula e do sobrinho. Passou a mão pela cabeça de cabelos escuros de Wufei, abraçou Trowa e recebeu o loirinho no colo, que lhe deu um beijo estalado na bochecha. Quatre adorou sentir o carinho cansado da mãe, que foi com ele no colo atrás de Meiran. A governanta tirou o menino do colo da mãe.

-Vou tomar um banho pra relaxar. Peça pra servir o jantar dos meninos quando eu terminar. Talvez o Zechs demore hoje.

Meiran beijou Quatre antes de coloca-lo no chão. Ele voltou para a sala de TV com as novidades:

-"Papai" Zechs vai chegar tarde hoje...

-Será que é encrenca ou será que ele costuma fazer serão mesmo? – Trowa ergueu uma sombrancelha.

Duo e Quatre buscaram a informação nas memórias dos meninos e era problema mesmo. E perceberam que o tamanho do caçula facilitava a infiltração.

Após o jantar, o corpinho de Quatre demonstrou cansaço. Os pilotos se olharam, assimilando que deviam estar preparados para as limitações dos garotos. Ação noturna estava descartada... Trowa se sentou pra ver o jornal da noite com a tia, preparado pra justificar a ação como trabalho de escola. Telefones sem vídeo e telas planas de plasma eram coisas de museu. O piloto do Heavyarms suspirou: "Heero ficaria doido com todas essas coisas antigas." As notícias não eram muito boas. Ataques terroristas, alguns suicidas por todo o canto. Noin suspirou baixinho, mas o garoto ouviu:

-E talvez eles nem estejam contando tudo... – virou-se para o sobrinho, deitado no tapete. – Não está cansado, Tro?

Trowa pesquisou na memória do garoto a hora de dormir. Estava quase na hora. Mas eles tinham muito em comum, ele e seu duplo. Eram silenciosos, inteligentes e queriam proteger aqueles que amava. A quase morte de seu irmão e o estado crítico de sua mãe o tinha abalado além do que ele demonstrava... Trowa resolveu proteger seu duplo, dando pouca chance ao verdadeiro tomar o controle. "Crianças não deveriam passar por certas coisas... eu já passei e não recomendo a ninguém."

N/A: To nervosa...será que isso vai dar certo? Critiquem, please. Eu sei, eu não acordei o Heero ainda... Calma, que no próximo ele aparece...