MISSÃO: CRIANÇA – CAPITULO 04
PAI AMOROSO, LÍDER CARISMÁTICOO recém-chegado entrou no quarto do sobrinho, seguindo o som das vozes animadas. Parou um instante, saboreando a cena: seu irmão e sua cunhada abraçados às crianças. Quatre que olhou para a porta e gritou, chamando a atenção dos outros:
-TIO TREIZE!!
-Olá, olá... boas novas, meus queridos! – o homem alto, de cabelos castanhos claros se abaixou para erguer o pequeno e amoroso sobrinho. – Heero acordou! – rodou com o menino, depois fazendo aviãozinho com Quatre, arrancando risadas gostosas dele. – E finalmente Une está fora de perigo. Ainda está em coma, mas sua condição já é considerada estável.
-Oh, graças a Deus! Boas notícias, realmente. – suspirou Lucrezia.
-E Wing? – perguntou Duo, da cama.
-O veterinário ainda não me ligou. –Treize franziu as sombrancelhas.- Está doente, Duo? Porque está na cama a essa hora?
-Ah, isso? – riu Zechs, fechando o punho e esfregando na cabeça do filho. – Hoje foi o dia de meus filhos brincarem de cabelereiro. – e contou ao irmão as aventuras da tarde...
Treize riu, descontraindo um pouco. Aqueles formavam sua família, apesar de diferentes dos seus. Zechs tinha puxado a extroversão da mãe, sempre brincalhona, risonha e faladeira. Natural que seus filhos fossem iguais, barulhentos e travessos. Ele tinha puxado a timidez do pai e procurado uma companheira semelhante a ele. Une era silenciosa, firme mas amorosa. Tinham criado os filhos de um jeito mais sossegado. Enfim, os dois lados se completavam tranqüilamente. Eram felizes. Até agora. Zechs e ele eram agentes de segurança, responsáveis pelas informações sobre organizações terroristas talvez no mundo inteiro. Como Zechs definia "somos os fofoqueiros que apontam os dedos em cima dos bandidos, para que os mocinhos os peguem. Uns alcagüetes de alto nível." Agora os alcagüetes estavam visados.
Zechs observava o brilho dos olhos do seu irmão mais velho mudar várias vezes. Bateu palmas, chamando a atenção da sua molecada:
-Ok, ok! Quem não tomou banho ainda, vai, que já que estamos todo mundo em casa vamos poder jantar juntos hoje. Venha Treize, vamos tomar um drink no escritório enquanto Luckie toma conta das coisas.
Lucrezia abriu os olhos, espantada, mas cruzando o olhar com o do marido, percebeu. E concordou. Chamou Trowa pra cima, pra tomar banho, mandou Duo acompanha-lo pra ganhar tempo. Foi o piloto gundam que olhou para Quatre e foi o piloto do Sandrock que entendeu o olhar. Se recusou a sair do colo de Treize e como consideravam ele muito criança, Treize e Zechs desceram com ele para o escritório, deixando que ele escutasse tudo, apostando que Quatre não ia acompanhar o papo mesmo.
-Agora, me diga: o que te preocupa, irmão? – disse Zechs, enquanto preparava duas doses de uísque. – Une não está tão bem?
Treize desceu Quatre do colo e deu um livrinho na mão do sobrinho, para que ele pintasse e se distraísse. Depois voltou para perto do irmão mais novo:
-O estado dela é mesmo estável. Tenho fé que esse pesadelo acabe logo. Quando os olhos de Heero se abriram hoje, você nem imagina como eu me senti. Mas o que me preocupa, Zechs, é que até hoje, sempre fizeram o trabalho sujo em nosso lugar. Nós não somos agentes de campo, o nosso treinamento de combate na academia está guardado em algum lugar do nosso cérebro... E nossas famílias também não têm treinamento de guerrilha... – riu, com amargura. – Me diz alguma família, sem ser desses fanáticos perigosos, que tenha...
-Entendo o que você quer dizer... Mas não podemos nos isolar, entrar em bunkers para protege-los.
-Não há lugar seguro para eles, droga! Foi o que o ataque à minha casa quis dizer. Nunca pensei que os meus entes queridos fossem meu ponto fraco... É inominável jogar tão sujo assim...
-Não se deixe levar pela amargura, Treize. Se não, eles vão vencer logo de início... Além do mais, se Une e as crianças não existissem, eles viriam atrás de mim e do papai. Ou se você fosse sozinho, viriam atrás do seu cachorro, da sua planta de estimação, dos seus livros... Vale a pena ser sozinho apenas pra ser o soldado perfeito, sem fraquezas?
"Nossa, acho que já ouvi isso antes, em algum lugar..." pensou Quatre. Mas antes que alguém falasse mais alguma coisa, o pequeno estômago roncou, e alto. Os homens saíram de seus pensamentos para rodear o menino, esquecidos de toda tristeza, por hora.
-Opa! Tocou o alarme!
-Sim. Vamos jantar, pequeno artista? Ele pinta muito bem, pra idade. Olha só, não deixou passar nada das linhas...
Logo que foi erguido no colo, novamente, Quatre beijou seu pai e seu tio, que o apertaram e Treize murmurou a Zechs:
-À sua pergunta, a resposta é não. Não vale a pena. – e virando-se para o sobrinho, brincou – Vai raspar o prato hoje, Campeão? Vai comer tudo pra crescer tanto quanto nós?
-Vou ficar mais grande que vocês... – riu o menino. E foram jantar, Zechs ensinando ao caçula a diferença entre grande e maior...
Na hora de dormir, Trowa e Wufei deram um jeito de se juntarem a Duo e Quatre.
-O que temos até agora? –perguntou Trowa.
-Os filhos dos estrangeiros na escola estão se transferindo, com medo de retaliações, porque mesmo que seus pais sejam gente de bem, estão visados por serem da mesma raça. – informou Duo.
-Na ala dos empregados, as fofocas são de gente estranha aparecendo nos mercados, sem morarem por aqui perto. Anda todo mundo agitado. – disse Wufei.
-"Papai" e "titio" acham que estão amolecendo com o trabalho burocrático e que seu treinamento de defesa pessoal está sendo esquecido. Eles gostariam que a gente também soubesse se defender. – Quatre sorriu. – Ah, se eles soubessem... "Tia" Une vai sair dos aparelhos amanhã, pra ver como reage sem eles. Heero chega em dois dias.
-Mesmo com ele aqui, vai estar ferido ainda. Com o nosso Heero não seria problema, mas o garoto não pode ser levado ao extremo da sua condição física. – lembrou Trowa.
-O que vocês estão fazendo aí? – Relena entrou no quarto, de repente. – Posso jogar também?
-NÃO! Isso é jogo entre homens. – reclamou Duo.
-E desde quando vocês são homens? – ironizou ela. – Jogam mau-mau e fingem que é pôquer, seus ridículos.
-Ridícula é você, que passa batom e esmalte, mas ainda brinca de boneca e chama ela de "minha filhinha". – rebateu o irmão.
Relena ficou da cor do pijama e se virou pra ir embora, atirando pra matar, antes de sair:
-É melhor você ir dormir, Duo. Vai ter que acertar o cabelo antes de ir pra escola.
Chang assoviou e Trowa colocou a mão sobre a barriga:
-Uau, essa pegou abaixo da cintura. Que diferença da nossa Relena.
-Com uma irmã dessas, agradeço a Deus por ter sido órfão...
No dia seguinte, um pouco antes do almoço, Noin foi obrigada a ligar para Zechs no celular:
-Por favor, antes que eu bata nele, mande seu filho se trocar para ir à escola. Ele se recusa a tirar o capacete de futebol americano que colocou desde que saímos do salão de beleza e já falou que não vai pra escola até o cabelo dele crescer de novo.
-Hum? Ponha ele no telefone. Aê, campeão! Vai se trocando que daqui a pouco eu vou te pegar pra irmos à escola, ta? Eu vou almoçar aí e a gente conversa... Maya, se alguém perguntar onde eu fui, fui resolver uma crise importante, mas volto depois do almoço, ok?
Wufei olhava e não acreditava. Era outro Duo, aquele de cabelo cortado na altura da nuca. Só provava que era ele o fato dele estar brigando com a mãe ainda:
-Eu não vou sair daqui! Nunca mais! Nunca mais vocês vão me ver sem capacete...
-O homem da máscara de ferro... – sorriu Trowa. – Tio Zechs está demorando...
Mas quando ele chegou, se ouviu os queixos estalarem, de tanto que caíram.
-ZECHS! O QUE VOCÊ FEZ COM SEU CABELO?
-Cortei, ué? Não se preocupem, cresce rápido. Certo, Duo? Agora vamos almoçar logo que eu ainda tenho que te levar pra escola e voltar para o escritório.
Nem o piloto nem o filho acreditavam naquilo. O pai tinha cortado o cabelo, que já estava na cintura apenas para que o filho não se sentisse por baixo...
Duo nem acreditava naquilo. Quem sacrificaria algo tão importante por alguém? Somente por amor mesmo... E um bem grande... Pulou nos braços de Zechs, se segurando pra não abrir um berreiro. O loiro apertou o filho forte, depois colocou-o no chão, dando um tapa de brincadeira no traseiro dele:
-Vai, vai, que eu já fugi por bastante tempo do trabalho, daqui a pouco eles podem achar que eu fui seqüestrado.
Na volta da escola, encontraram Quatre na porta com os olhos brilhando de alegria, louco pra contar a novidade: Heero já estava em casa, instalado na sala de TV, porque ele não podia ficar subindo e descendo escadas... Trowa jogou o material escolar longe e foi ver o irmão. Recostado em um par de travesseiros macios no sofá-cama, o garoto via televisão, assombrado com tudo que já tinha visto até agora. Adoraria desmontar cada eletro-eletrônico da casa, só pra ver como era que funcionavam, toda aquela tecnologia antiga ao alcance da sua mente e dedos curiosos. Viu a porta da sala se abrir e um par de olhos ansiosos logo estarem ao seu lado, um par de braços o envolver o apertando. Teve vontade de dar um murro no emotivo irmão do seu duplo, mas se controlou. Logo o piloto do Heavyarms assumiu o comando e deu um tapa carinhoso nos ombros de Heero.
-Bem-vindo!
-Me ponha a par de tudo. Como o povo dessa casa é grudento, caramba! Já perdi a conta quantos beijos e abraços já ganhei desde que Treize me trouxe.
Trowa riu baixinho. Heero ia ter problemas com "adaptação familiar"
-Deixe o seu duplo tomar a frente de vez em quando...
-Ele ta muito assustado ainda. E sente muitas dores... Melhor deixa-lo comigo...
-PelamordeDeus, Heero, isso não é o cockpit do Wing Zero. É uma criança. Você deve protege-lo, mas não suprimi-lo.
-Hn. – resmungou Heero, mas não teve tempo de mais nada. Duo e Wufei entraram na sala, e o japonês não teve como disfarçar a surpresa – Duo?
-Oiê. Que foi? Ah, é, meu cabelo... Depois eu te conto...
Mas naquela noite não puderam conversar, porque toda família quis ficar ao redor do garoto. Heero não queria deixar o duplo vir à frente, mas Trowa o intimou. E o irmão mais velho notou o que o piloto quis dizer. O garoto Heero estava com os nervos abalados. Ainda constrangeu o pai, ao perguntar do cachorro. Duo também olhou para o tio Treize, esperança nos olhos, que logo ruíram. Treize não queria dizer antes de estarem todos reunidos, mas Wings tinha morrido no primeiro dia. Foi horrível, Heero precisou tomar um calmante fraco, antes de adormecer, sussurrou ao Trowa:
-Agora você me entende? Ele não estava bem e agora vai ficar pior... – bocejou, deixando o irmão ajeita-lo melhor.
A família estava meio perdida, não sabendo o que fazer... Treize resolveu:
-Vamos descansar. Amanhã é outro dia, com o cérebro descansado podemos ter soluções para nossos problemas.
Zechs bateu nas costas dele, abraçou Noin e beijou os filhos. Treize abraçou Trowa e foram para o quarto. Wufei deitou-se num colchonete na sala de TV, disposto a velar o sono inquieto e cheio de pesadelos do amigo.
N/A: Agora vem a encrenca propriamente dita... Agradeço às reviews, às sugestões, não, eu não assisti Charmed, mas li Stephen King, me baseei nele. Ai, podem me bater, cortei o cabelinho do Duo e do Zechs! Mas até o fic acabar, já cresceu de novo... Agora sim, o Zechs parece o pai do Quatre.
