MISSÃO: CRIANÇA – CAPÍTULO 06
UM ADULTO NO TIMETreize não achou uma família de ferrets, mas pode trazer um casal pra casa. Duo ficou tão feliz que nem se importou em ficar com a fêmea. Os primos os chamaram de Bow e Arrow... Mas o pai ainda estava curioso com as mudanças no filho caçula. Heero comia pouca carne e se esforçava para comer verduras e legumes que antes odiava mortalmente. (Acordos alimentares entre Yui e o garoto). Viu de relance Wufei e Trowa ao redor dele, os três observando maravilhados o interior do aparelho de som de Noin. Treize ficou horrorizado ao pensar que a cunhada ia dar um show quando descobrisse que o aparelho não funcionava mais e já tinha ido atrás do preço de um novo. Qual não foi sua surpresa que Lucrezia estava escutando música à noite, como se nada tivesse acontecido.
-Que foi, Treize?
-O seu som, está funcionando?
-Melhor que quando eu comprei, há uns dois anos atrás... Não é fantástico? Trowa me disse que eles limparam hoje. São garotos maravilhosos, esses meus sobrinhos... –Deu um beijo na testa de cada um, os garotos sorrindo, partilhando de uma piada particular, os pilotos satisfeitos por poderem, finalmente, terem acesso a todo aquele aparato de museu...
Mas a cabeça de Treize dava voltas, tentando encaixar peças. Une tinha tido alta e sido acomodada num dos quartos de hóspedes, porque precisava de repouso e sossego. Heero subia as escadas devagar e ia se sentar na beirada da cama, as emoções se atropelando, fazendo com que o piloto do Wing Zero se atrapalhasse: "Como é possível sentir tanta coisa ao mesmo tempo? Parece que eu estou numa nave sem barra de direção. Hey, garoto. Calma."
Une abria os olhos e estendia a mão para seu amado caçula. Ele se deitava, posicionando a cabeça debaixo da mão. Só saía dali quando a mão parava de acaricia-lo, sinal que ela adormecera de novo.
O nosso time sentia a tensão crescente no ar, que podia ser cortada com uma faca. Os alunos de outras raças tinham se evaporado da escola, com medo de retaliações, já que os atos terroristas se multiplicavam. E de repente, aconteceu um fato que desencadeou uma sucessão de reações, como uma explosão atômica.
Os garotos, apesar de odiarem, não saíam mais sozinhos de casa nem pra ir na padaria, não depois do que aconteceu com Wufei. Os adultos, ignorantes desse pormenor, achavam que eram as notícias da TV que estavam assustando seus pequenos. A irmã de Lucrezia, Dorothy veio vê-la, trazendo as filhas, Hilde e Sally. As meninas eram tão diferentes entre si, em aparência e personalidade quanto Duo e Quatre. Duo sempre reclamava para a mãe:
-Com certeza, você trocou com a minha tia na maternidade. A Relena é filha da tia Dorothy e a Hilde era pra ser a minha irmã. Só pode!
Relena dava um tapão nele e subia para mostrar algum novo brinquedo para as primas. Hilde descia logo, enjoada de tanta boneca e futilidade, para procurar por Duo e brincarem de algo mais de acordo com sua hiperatividade, de preferência no quintal e que se sujasse bastante. Sally ultimamente andava preferindo ficar lá embaixo, vendo e sendo vista por um certo garoto de cabelos negros e olhos puxados. Naquele dia em especial, Dorothy subiu com a irmã para ver a concunhada, Sally ficou trocando informações sobre maquiagem e garotos com Relena, Hilde foi com Duo para o quintal para brincarem nos balanços. Quatre estava com seu forte apache no meio dos canteiros, distraído com seus cowboys e índios. Os outros foram para o quintal e combinaram brincar de pegar, enquanto Heero se sentava perto de Quatre, Winner e Yui fascinados pelos bonequinhos perfeitamente desenhados e articulados. Como sempre acontecia quando se misturava Relena e Duo numa mesma brincadeira, eles brigaram sobre o piques – sabe como é, quando vale ou não – ele puxou a trança que ela estava usando, ela correu atrás dele até empurra-lo para que ele caísse e ela o pegasse, ele caiu, mas em cima da brincadeira de Quatre. Se arranhou bastante no canteiro, mas quem chorou mesmo foi o pequeno. Na queda, o irmão amassou seu cowboy favorito. Une chamou a atenção das cunhadas:
-Aconteceu alguma coisa lá embaixo.
-Onde se misturam Duo e Relena, sempre acontece...
-Mas quem está chorando é Quatre...
-SALLY! – Dorothy apareceu na janela – Quatre se machucou?
-Não, mamãe. Quem se machucou foi o Duo.
-Vão lá ver, queridas. Eu espero.
Noin achou que era uma boa desculpa pra encerrar a visita e puxou a irmã para o quintal. Meiran já estava lá, limpando os arranhões de Duo, enquanto Sally amparava o choroso Quatre, que segurava o bonequinho amassado numa das mãos.
-Vocês são um apocalipse ambulante. Fique quieto, que eu sei que este antisséptico não arde!
-Mas ta ardendo! MÃÃÃE, fala pra ela que ta ardendo! Ela não quer soprar! Dá beijinho pra sarar?
Noin sorriu, beijando a testa do manhoso filho do meio, depois erguendo seu caçula e enxugando seu rostinho molhado.
-Oh, judiação. Sempre um inocente paga o pato, né, fofinho? Vamos lá falar pro papai comprar outro hominho pra você.
Dorothy olhou para sua filha mais velha, suada e com marcas de dedos sujos no rosto e achou melhor bater em retirada. Às vezes, até ela pensava se não tinha trocado as filhas na maternidade. Hilde tinha a idade de Relena, mas enquanto a outra encorpava na pré adolescência, sua filha ficava cada vez mais alta e magra, o cabelo escuro sempre curto, fugindo de esmalte e batom como o diabo da cruz, se misturando sempre com os meninos e suas brincadeiras brutas.
Zechs tirou o carro, afivelou Quatre no banco de trás e foram pro hipermercado atrás de outro bonequinho para substituir o "ferido". Uma ação simples, que dispensava segurança reforçada, até os pilotos relaxaram, tinha um adulto no comando. O que poderia dar errado?
TUDO!
Na saída do hipermercado, uns cem metros adiante, dois carros fecharam a frente e a traseira de Zechs. Homens armados com sub-metralhadoras, fuzis e pistolas mantiveram o pai no volante, enquanto uma mulher cortava o cinto de segurança infantil e puxava um assustado Quatre de dentro do carro. Winner ficou apavorado com a possibilidade de matarem o garoto ali mesmo, mas manteve o pequeno sob controle. Ao ver que iam mesmo levar o filho caçula, Zechs Kusherenada esboçou uma leve reação instintiva e levou uma coronhada, ficando estendido ao lado do carro. Tudo rápido e em minutos os carros sumiram, as pessoas atordoadas com o que viram foram socorrer o loiro, conhecidos ligaram para a casa dele para avisar os familiares. Um dos guarda costas foi buscar o carro, enquanto Treize ia buscar o irmão no hospital. Em casa, o caos. Meiran não sabia quem socorria primeiro, se a histérica mãe ou Relena, que gritava o nome do irmão sem parar. Trowa meteu a mão no rosto da prima e levou-a para a cozinha, para tomar um pouco de água fresca. Heero subiu para dar a notícia à mãe, que tinha acordado com os gritos de Noin. Duo olhou para Wufei, e foi Chang quem lembrou ao outro:
-Winner está com ele.
-Mas precisamos de um adulto agora, para resgata-lo. – Trowa entrou na sala.-Agora todo mundo aqui não vai deixar a gente ir até o quintal de tanto medo.
-Os pais deles não têm experiência de campo. – Duo lembrou.- Colocar um deles em perigo não nos ajudaria em nada.
-Mas poderíamos chamar alguém com experiência. – Yui entrou na sala. – Um duplo de um de nossos adultos.
-Quem? Será que Zechs levou uma pancada muito forte na cabeça ou será que está em condições de nos ajudar?
-Estou em perfeitas condições pra qualquer coisa. – o loiro entrou na sala, amparado pelo irmão. – Muito bem, poderiam me explicar que diabos está acontecendo aqui? Quem são vocês? E como vieram parar aqui?
Todos os olhos se arregalaram para a dupla. Treize viu os olhos frios e adultos serem substituídos pelos infantis, mas não permitiu a retirada.
-Já desconfiamos, podem ficar onde estão. Eu contei a Zechs no caminho minhas suspeitas, então, é agora ou nunca. Quatre está em perigo. Se vocês vieram ajudar, essa é a melhor hora.
Relena entrou de supetão, ainda soluçando, a marca da mão de Trowa no rosto, apontou para o primo:
-PAIÊ! Esse moleque me bateu!
-Relena, vamos ter uma conversa muito séria aqui. Poderia nos dar licença? –Zechs suspirou.
-Vai bater nele também?
-Depois de tudo, se ele merecer, sim, eu vou. Porque você não vai ver como está a sua mãe, queridinha? Faz esse favor para o papai?
-Sim, papai. – antes de sair, mostrou a língua para os meninos.
Todo mundo rolou os olhos. Heero se adiantou e se apresentando, explicou tudo para os boquiabertos Kusherenadas.
-Nosso pai afinal é um cientista maluco mesmo.
-Se eu não estivesse vendo com meus próprios olhos eu não acreditaria.
-Bem, eu... – Wufei se adiantou, curvando-se numa reverência e depois falando baixo. – Eu me sinto envergonhado. Fui eu que disse ao garoto para omitir a nossa pequena aventura outro dia. Se ele tivesse contado a vocês, talvez hoje vocês não tivessem saído tão despreocupadamente e nada disso teria acontecido. Peço perdão. Me ofereço para voltar à nossa dimensão e pedir a Treize que venha nos ajudar.
-Porque Treize e não Zechs? – perguntou Duo. – Zechs está sempre à vista. Treize a gente nem sabe onde está.
-Primeiro porque precisamos de um bom estrategista. Depois que onde está Lady Une sempre tem o Treize por perto.
-Mas se a Lady Une daqui já saiu do hospital, a de lá também já.
Zechs interrompeu-os:
-Me desculpem. Estou ficando confuso. Mas vocês pretendem trazer o duplo do meu irmão pra cá para ajudar, é isso?
Treize se levantou, deu uns passos pra lá e pra cá e depois se sentou novamente, chamando a atenção para si:
-Tudo é muito confuso e diferente para nós. Mas eu compreendo que somente com nossa experiência de campo, não vamos conseguir nada, irmão. Quanto ao seu pedido de desculpas, Chang Wufei, eu aceito e te digo mais. Se a intenção desses malditos era mesmo seqüestrar uma de nossas crianças, ainda bem que foi longe de casa e somente o Quatre. Já imaginaram o que aconteceria se eles tivessem vindo até aqui buscar alguém? Talvez não estivéssemos aqui tendo essa conversa. – Todos se arrepiaram. – Se fosse possível eu gostaria que vocês buscassem os dois, tanto meu duplo quanto do meu irmão. Eles são amigos? Trabalhariam bem juntos?
Novamente os olhares se arregalaram.
-Bem, eles... – Duo se atrapalhou na resposta e olhou para Heero e Wufei em busca de ajuda.
-Zechs era subordinado a Treize. Mas também era seu melhor amigo e discípulo. Tenente Zechs Marquise, o Conde do Trovão. – respondeu Heero, ganhando tempo.
-Gostei desse nome. – riu Zechs. – Mas vocês estão usando o verbo no pretérito. Aconteceu algo ruim entre eles?
-Divergências de pensamentos... Mas se houver uma causa comum e importante, talvez eles venham a se dar uma segunda chance... – murmurou Trowa, perdido em pensamentos.
-Então, podemos ir? Acho que já perdemos tempo demais aqui... Minha cabeça dói, mas não tanto como o meu coração, pensando no meu filhote nas mãos daqueles malucos.
-Sim. Por favor, senhor Treize, ligue para seu pai explicando que estamos indo pra lá, pra ele avisar nosso contato na outra dimensão e deixar tudo pronto.
-Está bem, Heero Yui. Mas não seja tão formal, por favor...
Noin e Relena estavam esperando por eles na porta.
-Zechs! – soluçaram elas. Lucrezia se agarrou ao marido – O que nós vamos fazer?
-Você vai ficar aqui e se acalmar, por Deus! Relena e Une vão precisar da sua força mais que nunca agora. Vamos pedir ajuda especializada e logo, logo teremos nosso filhote de volta.
-Porque você vai levar os meninos e não eu? – choramingou a menina.
-Porque isso é assunto de homens! – respondeu Duo, abrindo a porta. – As mulheres sempre ficam em casa rezando e torcendo, nos filmes.
-Seu machistazinho de araque... – resmungou a irmã, já partindo pro ataque, mas parando ao ouvir a voz do tio:
-Agora não, Relena! Fique aqui e seja boazinha. Voltamos já! Não se preocupe, cunhada, não pretendemos colocar mais ninguém em perigo.
E saíram, deixando uma Noin de boca aberta e uma Relena ofendida. Alguma coisa grandiosa e interessante estava acontecendo e ninguém partilhava com ela. Esse mundo machista é uma grande injustiça mesmo! Pois quando ela crescesse ia ser uma mulher de poder, pra mandar nos homens, eles iam ver uma coisa!
N/A: Bem, umas fãs queriam que eu buscasse o Zechs, outras queriam ver o Treize em ação. Pois vamos ficar com os dois, afinal, como ponderou o Trowa, eles merecem uma segunda chance na amizade deles. Judiei da Relena? Aaaah, nem tanto... Calma, gente, que ninguém vai encostar um dedo sujo no Quatre, acha? Temos o Winner pra defende-lo.
