Capítulo 2: Lorde Voldemort É Um Escamoso Megalomaníaco

A próxima coisa da qual me lembro era a dor. Como se meu corpo tivesse sido rasgado e mal-costurado depois. Principalmente minha perna esquerda. Era como uma onda... ia e vinha, às vezes mais fraca, às vezes, mais forte, até o limite que eu poderia suportar. Não sei por quanto tempo fiquei assim, oscilando entre a consciência e os desmaios. Até que voltei à superfície. Abri os olhos. E então, havia o escuro. E alguma coisa macia sob minha cabeça. Soltei um gemido involuntário quando tentei me mover.

"Remus! Ah, Remus... calma."

Senti as mãos dela deslizando sobre meu rosto. Com cuidado, afastaram meu cabelo da testa suada. Sua voz vinha de cima, o que queria dizer que eu estava deitado em seu colo. Sentia o chão frio e úmido. Ainda estávamos na adega.

"Não se mexe."

"O que... o que aconteceu?" eu perguntei, a voz falhando.

"Crucio. Malditos."

Minha memória foi voltando aos poucos. Não havíamos sequer chegado ao primeiro piso da casa. Os Comensais nos esperavam no final do túnel; e tinham nos atacado antes mesmo que pudéssemos erguer nossas varinhas. E então... ali estávamos nós. Não devia ficar assim tão ruim por causa de um Crucio, mas... eu tinha acabado de sair de uma transformação particularmente difícil. Tentei passar a mão pelo rosto e notei que a minha mão tremia. Talvez febre, porque eu queimava...

"Tonks... se afasta. Não é seguro ficar perto de mim. Sangue... na floresta..." ... e logo comecei a delirar. Não me lembro exatamente todas as palavras que eu disse, mas era fácil saber qual era o meu medo naquele instante. O mesmo que sempre me seguiu a vida toda.

Ela não deu a menor importância ao que eu dizia. Continuei deitado ali por muito, muito tempo, delirando e sentindo as mãos dela em meu rosto. Finalmente, com algum esforço, e a ajuda dela, consegui me sentar no chão. Minha perna devia estar quebrada, doía muito, e tive que me agarrar a ela, fechando os olhos para tentar suportar a dor. Meu coração se acelerou por causa da adrenalina. Ela me abraçou; e pude sentir algumas poucas lágrimas dela em meu rosto.

"Não estou tão mal assim", menti. "É só a minha perna. Já passei por coisas muito piores, Tonks. Acredite."

"Malditos."

Ela afastou-se um pouco de mim, mas ainda sentia suas mãos segurando as minhas; e um braço protetor em volta de meus ombros. Estava me sentindo mais lúcido, mas tremia por causa da dor, do frio. Ela retirou a capa e me cobriu. Protestei.

"Nem pensar. Fica com ela. Você precisa muito mais do que eu..." e ela concluiu com a mesma pergunta que me atormentava: "E agora? Levaram nossas varinhas. Malditos."

Disse-lhe que não havia muito o que fazer; a única solução era esperar até nossos reforços aparecerem. Ouvi-a suspirar próxima a mim. Segurou uma das mãos, vendo que eu ainda tremia. Não gostava de ficar assim tão frágil perto de ninguém; ainda mais de alguém que era, apesar de tudo, um estranho. Mas Tonk não parecia estar sentindo... pena de mim, o que eu sempre havia achado constrangedor. Me senti grato por isso.

De repente as coisas se apagaram outra vez, minha cabeça desabou para um lado, ouvi-a gritando meu nome, senti suas mãos me puxando antes de apagar definitivamente. Quando dei por mim, sentia suas pernas me envolvendo, minha cabeça em seu ombro. Ela me dizia para agüentar firme; e tudo o que eu conseguia responder, com a voz cada vez mais fraca, era:

"Lua... crescendo. Não me toca... sangue..."