Capítulo 6: A Mulher Ideal Para Remus Lupin
Nossa primeira aula de dança durou apenas dez minutos, mas, depois deles, as coisas nunca mais foram mais as mesmas. Havia algo mais no ar.
Tenho que confessar. A essa altura era difícil ignorar o quando ela era... atraente. Mesmo que, a princípio, ela fosse a coisa mais distante da "Mulher Ideal para Remus Lupin", que eu me permitia às vezes pensar. Mas havia aqueles olhos dela. O rosto... não. Ainda mentindo pra mim mesmo. Tonks não era "atraente". Eu já a achava... linda. Além disso, era difícil esquecer a sensação do corpo dela próximo ao meu, as mãos apoiadas em meu peito, a cabeça em meu pescoço, dizendo coisas no meu ouvido. Tinha sido diferente de qualquer contato que já havíamos tido até então.
Mas ela não me queria. Éramos... "apenas amigos". Eu sempre me lembrava daquela conversa que havia ouvido no quarto... o tom de voz que ela tinha usado com Hermione era completamente casual; e não, desesperado, como se tivesse tentando convencer alguém de uma mentira... era um fato. Ela me enxergava apenas como amigo. Mas claro. Eu não a repreendia por isso. Ainda mais quando ela soubesse do meu "caso com a Senhorita Diana", se é que ela já não sabia. Não queria perguntar e ainda não me sentia preparado para contar. Às vezes, quando ela me tocava por acaso, suas mãos pareciam ficar em contato com as minhas por mais tempo do que o necessário; e então eu me perguntava se havia algo mais. Mas não, eu sabia: ela era exatamente assim com todo mundo. Não significava, absolutamente, que sentisse algo especial em relação à minha pessoa.
Estes eram os fatos.
Por isso, não ia tentar nada. Não queria ser imprudente, dar um passo em falso e perder o que já tínhamos. Era como se ela me acendesse, me levasse a outro mundo, como aquele furacão cheio de cores, apenas estando a meu lado. E eu gostava dela porque podíamos conversar. Pura e simplesmente conversar, ficar horas falando sobre todo o tipo de assunto. Era verdade, nos completávamos. Fosse uma outra garota qualquer, que eu jamais fosse ver novamente, teria sido bastante simples. Eu deixaria alguma coisa sutil no ar. Mas já havia tanta coisa ali. Uma ligação. Cumplicidade. Amizade. E era isso o que importava. O que eu sentia era uma atração física. Apenas uma atração. Eu tinha que lutar contra isso. Eu simplesmente não podia dar atenção a esses pensamentos.
Às vezes, pensava em evitá-la. Mas não era justo. Ela não tinha culpa... e eu não queria me trair. Começar a evitá-la de repente atrairia todo tipo de atenção. Além disso, eu não podia simplesmente abandonar a Ordem ou atrapalhar as missões apenas por causa de uma atração mal-resolvida.
Então, eu continuava conversando e saindo com ela como sempre... esperando não dar motivo algum para que ela notasse como eu vinha ficando ao lado dela.
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Tudo isso, porém, mudou em uma outra noite... que iniciou uma sucessão de acontecimentos tão rápida quanto um castelo de cartas desmoronando. Era o primeiro dia de lua nova. Sentado numa poltrona velha e aconchegante, eu olhava o céu negro pela janela do sótão e suspirava enquanto pensava e arrancava pedaços do recheio por um furo no tecido gasto.
Ela me aceitaria? Eu já devia ter contado há muito tempo... logo que ficamos mais íntimos. Tinha medo de me envolver demais, ou deixá-la se envolver demais... e então, de certa forma, traí-la. De não ser o que ela esperava que eu fosse. Dela não aceitar... de as coisas nao serem mais as mesmas. Só de pensar nisso eu me sentia vazio por dentro. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia mais olhar para ela sem que, dentro da minha cabeça, aquele mesmo pensamento se repetisse: "preciso contar a ela", "preciso contar a ela", "preciso contar a ela"... infinitamente.
Ouvi passos subindo a escada.
Havia concordado com aquela insensatez de ensiná-la a dançar e, hoje, eu não tinha mais desculpa alguma para atrasar nossa segunda aula. Já havia dado todas as possíveis: terminar algum projeto ( inexistente, é claro ) que Dumbledore havia me pedido. Vigiar o Beco Diagonal à noite. Procurar velhos livros de Artes das Trevas.
Mas agora, lá estava ela na porta, parada, apenas me observando como eu havia feito há algum tempo. Nos últimos dias, ela vinha ganhando a capacidade de me tirar o fôlego... ainda bem que estava meio escuro ali. Ela usava suas roupas de sempre, simples: camiseta, uma calça. Mas, essa noite, aquele "algo mais" a tornava linda como se usasse o mais belo dos vestidos. Ela se aproximou. Não disse nada por alguns minutos, apenas ficou parada, a cabeça inclinada, me estudando. Ergui os olhos para ela.
"Você anda muito mais sério e preocupado nos últimos dias... o que acontece?"
Meus disfaces não estavam sendo tão eficazes assim... Murmurei algo sobre a guerra e me levantei. Precisava ficar em movimento; se continuássemos nos olhando daquela forma, ela acabaria percebendo o que realmente me perturbava.
"Quer que eu me transforme em alguém?" ela se ofereceu, sorrindo. "Posso fazer algo pra te animar!"
Sorri; e disse que não precisava, eu queria apenas a companhia dela como sempre. Me apressei em começar a aula, mas não tive muito sucesso como da outra vez.
"Eu sou mesmo um caso perdido, Remus?" ela perguntou contra o meu pescoço.
"Talvez", respondi para provocá-la. Ela ergueu os olhos para mim.
Eles brilhavam. Negros como a lua lá fora. Em vez de desviar os olhos, algo me levou a fixá-los. Então eu notei. Suas bochechas ficaram vermelhas de repente, as pupilas dilatadas, as narinas tremiam com a respiração forte. Havia os lábios, entreabertos outra vez, vermelhos. Por alguns segundos me perguntei se eles seriam tão macios quanto pareciam. Ela tinha uma sobrancelha erguida como um desafio mas, ao mesmo tempo, era frágil e pequena em meus braços... Vendo que eu a encarava de volta, ela desviou os olhos por alguns segundos; e então, eles voltaram a se grudar nos meus.
Neste instante, percebi que não era só eu quem andava... apaixonado por ali, afinal.
