Capítulo 7: Ligeiramente Bêbado
Suspirei satisfeito depois de tomar mais um gole do chá. Tardes vazias estavam ficando cada vez mais raras, e eu me sentia ansioso para poder se sentar numa cadeira, ao lado do fogo, com um livro e o chá. Sem ter que pensar em mais nada... embora, claro, essa última parte viesse se tornando cada vez mais e mais difícil.
Teria que ir a Hogsmeade quando escurecesse. Havia a guerra e havia...
Nymphadora Tonks.
Eu ainda não havia compreendido muito bem o que acontecera na noite anterior. Quero dizer, antes do quadro da Sra. Black começar a berrar desesperado e furioso quando Bicuço escapou. Tivemos que levá-lo de volta a seu quarto e, depois disso, inventamos nós dois desculpas para não ficarmos sozinhos no mesmo lugar. Mas... se eu tinha interpretado corretamente aquele olhar... ela me desejava também. Ainda não tinha me acostumando com essa idéia, temia ter me envolvido demais ao ponto de estar vendo coisas. Só o simples pensamento de que pudesse mesmo ser verdade fazia meu coração disparar; e eu me sentia meio fora de mim, como se tivesse bebido umas quatro ou cinco doses de firewhisky.
Como se estivesse lendo meus pensamentos, a pessoa que finalmente estava me tirando o sono apareceu. Surgiu lentamente de dentro das sombras daquele final de tarde. Ela se adiantou sala adentro, a voz meio tensa, poucas palavras.
"Hm... oi."
Era óbvio que o que restava da minha concentração acabou exatamente ali. Tonks também me parecia bastante inquieta, puxando algumas linhas soltas na manga de sua blusa. Ela se sentou na cadeira ao meu lado, me estudando, me deixando sem jeito enquanto fingia ler. Muitos minutos depois ela finalmente falou:
"Você anda mesmo sério e preocupado demais."
Deixei o livro de lado e a encarei de volta, pensando no que dizer. Antes que eu pudesse reagir, Tonks estendeu as mãos, rápida, tocando os cantos dos meus lábios e forçando-os para cima. Surpreso, não queria admitir que eu tinha adorado aquilo.
"Tonks, não... comporte-se!" respondi, segurando as mãos dela e tirando-as do meu rosto.
Ela riu; e ficou de pé, me puxando pelas mãos.
"Você sabe que eu tenho um problema sério com essa história de me comportar."
"Realmente... um problema sério."
Suas mãos continuavam nas minhas. Meu coração batia muito rápido; e o dela também, tenho certeza, quando ela se aproximou. Olhando pra cima, estendeu um dedo que tocou de leve o canto do lábio, mas, dessa vez, não parou ali... mas começou a subir pelo meu rosto. Fechei os olhos. Sentia a ponta de seus dedos explorando meu nariz, pálpebras, testa... lentamente. Seu toque era suave como seda e ia espalhando pequenas ondas de prazer por onde passava. Como se desfizesse as minhas rugas e preocupações. Me desprendesse de mim mesmo. Apagasse o "preciso contar a ela". Eu tinha a garganta seca, a mão pegando fogo onde se encontrava com a dela. Meu dedo traçava circulozinhos na palma de sua mão. Aquilo não podia estar finalmente acontecendo.
Então ela tocou meus lábios. Mais devagar ainda. Num impulso, beijei a ponta de seus dedos. Segundos depois, eles não estavam mais ali. Abri os olhos. Ela estava muito próxima de mim. Os olhos brilhando, os lábios entreabertos. Ela me perguntou baixinho:
"Sorrir de vez em quando não faz mal, faz?"
"Nem um pouco", respondi e me aproximei, sentindo sua respiração contra minha pele. Fechei os olhos outra vez. Nunca soube quem começou. Nossos lábios se tocaram. A princípio, suavemente; se explorando, se acostumando um com o outro. Os dela eram macios, cheios. Doces e apimentados ao mesmo tempo. Beijava-a lentamente, saboreando cada movimento, cada toque, cada instante.
Quando senti os lábios dela se abrindo sob os meus, movi um pouco a cabeça; e eles se encaixaram. Como se tivessem sido moldados uns nos outros. Se abriram mais; e agora eu conseguia sentir seu gosto. Nossas mãos deslizaram. As línguas deslizaram uma contra a outra. Meu sangue borbulhava. Logo nos explorávamos mais, todo o desejo e a tensão de meses finalmente se desfazendo. Mãos agarrando vestes e cabelos, agarrando aqueles segundos, que pareceram durar séculos. Eu não queria que terminassem, temia que fosse apenas mais um delírio meu. Vários beijos, entre suaves e intensos, começaram e terminaram antes que conseguíssemos finalmente nos separar, com Tonks puxando de leve meu lábio inferior entre os dentes, me fazendo ter certeza de que era real e soltar um suspiro pesado de prazer. Abriu os olhos e sorriu e então, me enforcou em um abraço.
"Tenho que te contar uma coisa", ela ficou na ponta dos pés e murmurou em meu ouvido. "Era tudo uma desculpa.
"Uma desculpa?" murmurei de volta numa voz que quase não reconheci como minha, ainda mais rouca, mais baixa.
"Eu gosto de você sério."
Abracei-a de volta, bem forte, respondendo contra seus cabelos:
"Você não precisava de nenhuma desculpa."
"Precisava, sim. Eu... eu achei que você não me quisesse... me achasse, sabe..." e deu de ombros "... meio criança demais ou algo assim."
"Eu é quem achei que não me quisesse... quando falou aquilo... no dia em que fomos buscar o Harry."
"Justamente por isso! Era um... teste. Dependendo do que você respondesse, se as pessoas podiam ou não se dar bem sem se apaixonar, eu saberia se tinha alguma chance ou não. Não acredito que deu tudo errado!"
Rimos; e ficamos ali, abraçados. Minha respiração se acalmava enquanto eu ia assimilando tudo. Sorri de uma forma que não acontecia há anos, sentindo alguma coisa quente se espalhando pelo meu corpo. Como chocolate. Não havia mais nada aquela noite, lá fora. Nada de guerra, Voldemort, Comensais da Morte. Apenas uma coisa eu não conseguia esquecer. Não estava sendo sincero com ela. E me sentia cada vez mais culpado por estar escondendo alguma coisa tão importante. O pensamento martelava em minha mente mais uma vez. Suspirei. O livro jazia aberto no chão, o vento leve virando as páginas. Mechas espetadas de cabelo rosa tampavam quase toda a minha visão; me deixando ver apenas a curva do pescoço. A pele era tão branca... cremosa. Podia apostar que era doce, também. Não resisti, e tive que descer os lábios para provar. Senti que ela se arrepiava. E sabia: não poderia ir além disso. Voltei então a acariciar seus cabelos, porque era mais seguro.
"Sério outra vez?"
Ela afastou a cabeça e olhava para mim. Ergui uma sobrancelha, tentando não sorrir.
"É o que parece."
"Sorria."
"E se eu me recusar?"
"Aí eu vou ter que tomar alguma providência... te obrigar a sorrir."
"Oh", desafiei.
"Você prefere o jeito mais simples ou o mais complicado?"
"O mais complicado."
E ela me beijou.
