"Você... você realmente não se importa?" eu precisava ter certeza.

"Eu pareço alguém que se importa?"

Na verdade, naquele exato momento, a única coisa que ela parecia era a mulher que eu mais desejava no mundo todo.

"Pode respirar, Remus."

Só então notei que prendia a respiração.

"Prefiro gastar meu fôlego com outras coisas" respondi, próximo aos lábios dela. E a beijei.

Dessa vez foi um beijo longo, intenso. Quando nos separamos pra tomar fôlego, consegui ouvir um pequeno gemido escapando de seus lábios. Não consigo descrever o efeito que isso teve sobre mim... basta apenas que foi bombástico; e arrasou com o resto das minhas defesas. Abracei-a, enquanto tentava colocar as idéias em ordem. O que era bem difícil com ela sentada no meu colo e beijando meu pescoço. Tentava... e falhava miseravelmente, é claro, em ser racional.

"Mais algum segredo cabeludo pra me confessar? Hm... vai me dizer você é um vampiro também?" ela perguntou, um sorriso malicioso e irresistível brincando em seus lábios, a sobrancelha esquerda erguida.

Engoli em seco e minha voz soou bastante estranha quando respondi:

"Estou, ahn... tendo alguns pensamentos impróprios."

"Oh"; e ela ergueu uma sobrancelha. "Que curioso." E o dedo dela passeou pelo meu nariz. "Eu também estou tendo vááários pensamentos impróprios neste exato momento. Não é..." ela se aproximou e me encarou, os olhos grandes e negros faiscando. Me hipnotizando. Seus lábios tocaram os meus por alguns segundos "... engraçado?"

Sacudi a cabeça. Será que ela realmente sabia o que ia fazer? Eu era a parte racional naquela dupla.

"Mas... ainda não sei se devemos..."

Ela me interrompeu, colocando um dedo em meus lábios.

"Esquece 'não devemos'. O que você sente agora? Pensa... tudo o que importa é o agora. O que você quer agora..."

Fechei os olhos, me deixando enfeitiçar pelas palavras, pelo perfume dela, pelo gosto de sua pele contra meus lábios. Pelo desejo. Sentia seu corpo pressionado ao meu, quente. As mãos em minha nuca, segurando firme meu cabelo. Os lábios se colaram aos meus. A língua entrou atrevida em minha boca. Algo sussurrou em meus ouvidos que não existia razão nessa hora... e então eu já havia decidido.

"Vamos", murmurei numa voz rouca, me erguendo. Ela se adiantou, ficando de pé e me puxando pela mão escada acima.

Milhares de pensamentos passaram pela minha mente durante aqueles vinte e três degraus. Todos os meus sintomas de "embebidamento" ficaram ainda mais fortes. Tudo parecia tão onírico... tive mais um pequeno momento de indecisão antes de entrar em seu quarto, mas ela me puxou outra vez, os olhos faiscando. Nossas mão fecharam e chavearam juntas a porta de seu quarto.

Desse momento em diante, tudo se tornou um grande borrão. Me lembro de ter me voltado para Tonks e pensado não achar possível, depois de anos, desejar tanto alguém como um adolescente. Uma fração de segundo depois, tomei seu rosto entre as mãos e voltamos a nos beijar. Lentamente, fui forçando seus lábios, sugando-a para dentro de mim. Sentia seus dedos pressionando minha nuca; e momentos depois, entrando pela minha roupa. Suspirei contra seus lábios quando ela me tocou.

Minhas mãos desceram para sua cintura. Era a primeira vez em que eu me permitia tocá-la assim, com calma e sem culpa. Sua pele era aveludada, quente... irresistível. Não conseguia mais tirar minhas mãos dali, era maravilhoso. Levei séculos para percorrer todas as suas curvas. Memorizando-as... querendo perceber cada detalhe. Os quadris estreitos, a cintura fina, sua barriga se movendo rápida com a respiração; e então... os seios se insinuando sob minhas mãos. Senti-a deixando outro pequeno gemido contra meus lábios e tudo o mais se tornou instinto.

Murmurava coisas sem sentido em seu ouvido enquanto a acariciava. Beijei sua orelha, seu pescoço, sempre descendo... Sentia seu corpo se comprimindo contra o meu; sentia sua respiração cada vez mais intensa e agora era a vez dela murmurar coisas em meu ouvido e... sim, era instinto. Meu corpo sabia exatamente o que fazer, se movendo contra o dela.

Seus braços então envolveram meu pescoço. Em algum momento ela havia me livrado de minhas roupas; e agora eu sentia todo seu corpo nu e quente pressionado contra o meu. Andamos, voamos até a cama. E, dessa vez, não me importava absolutamente nem um pouco com o que qualquer pessoa poderia pensar. Não existia mais ninguém naquele momento.

Naquele instante, em que nossos corpos se uniram, senti como se tudo estivesse finalmente fazendo sentido. Como se, desde a primeira vez em que nos vimos no hall de entrada, tudo tivesse conspirado para nos levar até lá. Até aquela cama, cheia de travesseiros coloridos, naquele quarto iluminado apenas pela luz cálida das velas.

Tudo o mais deixou de existir naquele instante, tempo e espaço.

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Não conseguia parar de pensar no que havíamos feito. No que eu havia feito. Me deixado enfeitiçar por palavras, sensações... devia ter sido mais responsável, como todos pensavam que eu fosse. Não tinha sido "só uma noite...". Porque eu não era apenas um homem... nunca pensei poder ir tão longe.

Caminhava sozinho pela rua da Londres trouxa naquele início de noite. Caía uma chuva leve, que transformava o chão em um espelho, refletindo os globos de luz dos postes. Tinha um encontro com Arthur na saída do Ministério. Como tinha tempo, resolvi ir a pé, para poder pensar enquanto andava. Fazia exatamente dez dias que tudo tinha acontecido; e não havíamos nos visto desde então. Tinha sido a semana da lua cheia e Tonks tinha ido para a França, ver seus pais. Então, com o passar dos dias, toda aquela aura de encantamento foi passando... passando... e me deixou apenas com a culpa. Outra vez.

Oh, sim. Ela havia me dito que não se importava, entre os vários beijos que trocamos naquela noite, quando nos despedimos na porta de seu quarto. Mas eu me importava. Com ela. Com as reações que certas pessoas no Ministério da Magia poderiam ter se isso vazasse... um lobisomem... e uma auror. Por Merlin. Aurores deviam caçar lobisomens... não ir para a cama com eles.

Por outro lado... teria sido tão errado assim?

Suspirei e ergui a cabeça, deixando a chuva acariciar meu rosto.

Porque eu me sentia bem apesar de tudo. Apesar das implicações "políticas" no nosso... relacionamento. Freqüentemente pensava sobre aquela história de esquecer todo o resto e sentir apenas "o agora". Agora... eu me sentia ótimo. Meu coração dizia que havia feito a coisa certa. Ou quase. Porque o velho Remus ainda estava lá em algum lugar; e eu ainda não havia achado uma nova função para ele nesse momento da minha vida.

Eu odiava o velho Remus. Tão inseguro, preocupado e nobre; não parava de dar voltas e mais voltas sobre aquele assunto. Sobre o nosso... relacionamento. O que ia acontecer agora? O que ela queria de mim? O que eu queria dela? O que seria... "certo"? Às vezes, simplesmente odiava todas essas perguntas. Era tudo tão simples. Eu gostava dela, ela de mim. Não era amor, mas era o bastante. Talvez tão bom quanto; talvez melhor. Amar seria arriscar demais naqueles dias.

Então estava tudo certo, não estava? Enquanto não me envolvesse, não havia tantos riscos assim. Enquanto fôssemos apenas amigos, sempre podíamos voltar atrás sem maiores conseqüências.

Esse era o ponto-chave: não se envolver.

Eu tinha que ser racional.

Nem que eu houvesse planejado as coisas teriam saído tão perfeitas. A duas quadras do Ministério, enxerguei uma forma familiar, de cabelos curtos e arrepiados e botas negras e brilhantes por baixo da capa púrpura, surgindo numa rua à minha esquerda. Me apressei, sorrindo sem notar. Senti aquela coisa quente se espalhando outra vez pelo meu corpo à medida em que me aproximava dela, com passos muito silenciosos.

Murmurei um "petrificus totalus" em seu ouvido para assustá-la; ela respondeu me dando uma cotovelada no estômago.

"Remus!" e então ela se desculpou com mil abraços. "Não quer subir um pouco? Moro logo ali", ela me contou, apontando com a mão uma velha casa decrépita, com dois ou três andares e muitas janelas.

"Eu realmente tenho que ir; combinei com Arthur. Mas te acompanho até lá eu disse, oferecendo-lhe o braço e carregando sua mala com a outra mão."

Por mais que tivesse sentido sua falta naqueles dias, ainda continuava ruminando sobre 'o nosso futuro'. Não consegui sequer lhe dar a atenção que eu queria... demonstrar o quanto eu tinha sentido saudades. Entenda... eu não estava sendo frio. Apenas racional. Se eu não fosse o que era... um lobisomem... pobre... perigoso... seriam tantos os planos, tantas as coisas que eu lhe falaria... Foi uma das poucas vezes em que senti que as coisas eram realmente erradas demais, me senti até mesmo... injustiçado. Suspirei.

"O que é que te preocupa?"

"Oh. Nada de mais... você sabe... os problemas de sempre"; desviei os olhos e tentei desconversar; seria extremamente indelicado ir anunciando, tão cedo; e sem saber sequer o que ela queria, que não deveríamos ir muito adiante. Mas ela segurou meu braço e me olhou de forma incisiva.

"Remus... nenhum problema novo surgiu desde que fui viajar. Shacklebolt me manteve por dentro de tudo. E você não estava assim antes". Ela cruzou os braços. "Pode me contar". E seu tom de voz, seu olhar, divididos entre mandão e compreensivo, tiveram um efeito poderoso sobre mim... além do quê, o quanto antes eu resolvesse aquelas dúvidas, melhor. E já que ela havia dado o primeiro passo...

"Oh. Bem... sabe..." Procurava com cuidado as palavras; tentando ser o mais delicado possível. "Eu... não acho que seria bom... entende... irmos rápido demais... por enquanto e..."

Seu semblante se desanuviou.

"Ah. É só isso? Pois eu também acho a mesma coisa. Quer dizer... estamos em guerra, não é? Quem é que sabe o dia de amanhã? Não que..." Ela me olhou de esguelha, muito séria, "... eu queira perder você... ou Sirius... ou os garotos... ou... ah, bem, você sabe. Mas... também acho que não devemos nos envolver demais... por enquanto", e concluiu com um sorriso.

Soltei o ar preso em meus pulmões e balancei a cabeça, enquanto recebia um beijo dela na bochecha. Tinha tirado um peso enorme dos ombros. Eu gostava muito de Tonks, realmente muito mesmo... e não me agradava nem um pouco a idéia de vê-la sofrendo por minha causa.

Por fim, chegamos. Paramos ali na entrada da velha casa, o vendo atrapalhando nossos cabelos, olhos nos olhos.

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Ahhhh! Finalmente! Capítulo novo! quer dizer, restinho de capítulo; e capítulo 10 chegando. Nem acredito que o maldito bloqueio passou. De qualquer forma, a fic tá na reta final, já. Mais uns três capítulos e pronto. Prometo não demorar tanto nas atualizações )

E muito, muito obrigada mesmo pelos comentários. As ceninhas íntimas são mesmo lindas... esperem pelas próximas.