"Apesar disso... não me importaria em repetir a dose algumas vezes." Ela sorriu e me disse com os olhos brilhando. Como é que eu poderia dizer não?
Agora que a nuvenzinha cinzenta havia se afastado, não conseguia deixar de reviver todos os momentos que havíamos passado juntos... os beijos... as provocações... Realmente... repetir a dose de vez em quando não faria mal algum. E eu até queria repetir logo, pensando bem.
"Vou estar de volta na próxima quinta-feira", me ouvi dizendo, um pouco vacilante. "Acho que... lá pelas nove já devo estar em casa... se interessar."
"Ah. Quem sabe?" Ela respondeu, uma sobrancelha erguida acompanhando uma indiferença estudadamente fingida.
Me aproximei para um leve beijo de despedida. Meus passos, quando voltei a caminhar, eram igualmente leves; não havia perigo algum: ela não estava querendo nem um pouco a mais do que eu poderia lhe dar. Comecei a pensar que podia me sentir seguro.
Esse foi meu grande erro.
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Me sentia outra vez como um adolescente enquanto a esperava. Um suor frio deixava minhas mãos pegajosas e meu estômago não se comportava da forma normal; mas sim, como se estivéssmos a poucos dias da lua cheia e toda aquela tensão e energia acumulada que precediam uma transformação tomassem conta do meu corpo.
Aquela conversa que tivemos havia sido a melhor coisa que eu poderia ter feito. Me sentia aliviado... tão aliviado a ponto de começar a admitir para mim mesmo o quanto ela era especial.
Terminava de desfazer a mala quando ouvi batidas na porta. Passei a mão pelos cabelos tentando deixá-los ao menos apresentáveis... eu devia ter me arrumado um pouco antes de desfazer a mala... mas já era tarde. Tentei não correr para a porta enquanto dava um jeito de desamassar a roupa com as mãos e, quando abri, dei de cara com Tonks, segurando duas canecas de chocolate quente. Se aproximando, ela me deu um beijo tão doce que chocolate quente algum poderia superar... e, entrando no quarto, me estendeu uma das canecas. Fechei a porta.
"Tenho uma surpresa pra você." Ela me contou, retirando alguma coisa do bolso de trás da calça enquanto tomava um gole do chocolate quente. "Minha mãe conseguiu pra mim."
Senti um sorriso enorme se espalhando pelo meu rosto quando ela me entregou a foto. Que havia sido tirada na Festa do Enterro, quando nos vimos pela primeira vez. Eu não estava num dia particularmente bom, via-se logo de cara: completamente desanimado, as roupas sobrando em meu corpo. Ela, porém... sentada no meu colo, era ainda pequena, formas arredondadas. Mas já irradiava alguma coisa da mulher sentada ao meu lado. Os olhos eram negros, grandes e brilhantes. Bochechas rosadas num rostinho pálido coroado por cabelos castanhos. Absolutamente linda.
Nos sentamos lado a lado em minha cama, as xícaras momentaneamente esquecidas em nossas mãos.
"Eu devia ser uma peste. Minha mãe conta cada coisa."
"E era mesmo. Uma peste. Terrível..." respondi, tentando parecer sério "... exatamente como hoje."
Adorava aquele ar de espanto fingido e os olhos arregalados com que ela me encarou.
"Falo sério, você era terrível. Tropeçou no meu pé, pelo que eu me lembro... e falou, falou sem parar. Acabamos comendo chocolate. Ah, e você era adorável, é claro..." tomei o rosto dela entre as mãos "... exatamente como hoje, também." E a beijei, sentindo o gosto do chocolate, que cada vez mais me lembrava ela. Minha língua deslizou para dentro de sua boca, lentamente, saboreando o gosto dela. Dela. Meus dedos deslizaram para sua nuca, puxando-a mais para perto. Senti suas mãos fazendo o mesmo e deixando arrepiozinhos pelo caminho. Nos separamos depois de um longo tempo; e sorri quando ouvi um pequeno suspiro de prazer escapando pelos seus lábios.
"Ah, Remus..." e ela ergueu os olhos quando nos afastamos. "Ainda não me conformo de não me lembrar."
"É perfeitamente normal, Tonks. Você tinha apenas três anos de idade..."
Ela suspirou.
"É a única explicação para eu não me lembrar de alguém como você", ela disse muito séria erguendo uma sobrancelha. Eu nunca sabia se ela falava sério ou não... mas antes que eu tivesse tempo de me decidir quanto ao que ela havia acabado de dizer, ela deu início a mais uma sessão de beijos, fazendo voar para longe todo e qualquer pensamento. Mais alguns instantes depois estávamos deitados sobre os lençóis desfeitos, sobre as roupas ainda em minha mala, trocando beijos, carícias... e mergulhando de cabeça no olho do furacão.
