Capítulo III

Catherine não se deu conta da eletricidade que sentiu ao toque da mão de Shura, mas piscou algumas vezes um tanto surpresa quando ele por fim estendeu-lhe a mão formalmente.

Kamus lançou-lhe de esgelha um olhar reprovador. Quer dizer que ele bancava o amante ardente beijando a mão da moça quando o toureiro de plantão apenas apertava sua mão! Que desastre.

- Olá, Shura – Catherine se recompôs e olhava pra ele sorrindo, esfuziante. Alto. Moreno. Olhos magnéticos e altivos, escuros, bem diferentes dos seus, tão grandes, claros... infantis.

- Então, está gostando da cidade? Seu empresário nos disse que você chegou há alguns dias... – perguntou Shura, um pouco sem jeito. Agora que estava lá o melhor era encarar a realidade e não fugir.

- Sim, é verdade. Na verdade, uma semana. Mas não quisemos anunciar, assim teria algum tempo para conhecer a Grécia. Eu jamais havia vindo aqui. Estou gostando bastantes, especialmente das praias.

- O Shura tem uma casa em Kos. – Kamus sentiu uma orelha queimar. Sorriu cínico para o amigo e prosseguiu, ante o olhar confuso da jovem – É, Kos é uma ilha grega muito bonita, com praias maravilhosas. A casa dele fica perto de Tigaki...

- ... É, Kos é um lugar perfeito para a prática de windsurf, sabe? – Shura tratou logo de desviar os rumos da conversa. Que estória era essa de meter a casa dele no meio? Além do que, não entrava lá a alguns anos. Devia estar com cara de lugar abandonado, onde só um caseiro entrava de mês em mês; desde a última vez em que estivera lá com seus pais não se lembrava de móveis muito modernos...

- Você pratica windsurf? Que ótimo!

"Ótimo?" Shura estava um tanto atônito por dentro; não era bom esse interesse aberto pelas suas atividades. Lembrou-se do Grande Mestre. ...Ou era?

Catherine continuava falando de seus pais e tios que davam bastante importância à prática de algum esporte, todos acostumados com campos de golfe intermináveis, e caça, ou longas espadas de esgrima; os mais "aventureiros" e frisou a palavra com um ar de sarcasmo, gostavam de corridas automobilísticas... inclusive ela.

- Você corre? – Perguntou Kamus, surpreso. Uma bonequinha fingido ser gente, daquele tamanho? No máximo devia fazer balé moderno.

- Sim, desde os doze anos de idade. Meus pais não gostaram muito, mas meu tio, graças a Deus sempre me apoiou. E, além disso, também estou aprendendo boxe.

"Boxe?" Entreolharam-se os cavalheiros, atônitos. Mas antes que pudessem abrir a boca para protestar ela se retirou, graciosa, com um sorriso, pedindo desculpas para atender uma fã idosa.

- É... parece que sua petit chanteur guarda segredos bem mais interessante do que ser a reencarnação de uma Deusa iracunda. Melhor tomarmos cuidado com ela, ou ela pode nocautear todo o Santuário com um soco de esquerda. – debochou o francês num sorriso oblíquo antes de levar uma taça de champagne aos lábios e sair em direção a uma jovem de cabelos de fogo.

Grande. Tinha de convencer uma soprano que lutava boxe de que era um bom partido e sua única ponte com a mesma acabara de sair para aproveitar uma "folga" dada pela Sua Graça, O Grande Mestre Desmiolado do Santuário. Estava sozinho em ambiente alienígena. Jogado na arena sem...

- Oh, está sozinho? Desculpe, achei que Kamus iria ficar com você, mas ele prefere uma companhia mais apropriada... – e ela jogou o queixo discretamente na direção em que uma massa de cabelos ruivos brilhantes ondulados nas pontas balançava ao som de uma voz com sotaque francês arrastado.

Catherine não conseguiu fazê-lo relaxar o cenho com a brincadeira. Ao invés disso ele olhou como uma criança que é deixada sozinha na brincadeira e disse:

- Ele nem tem sotaque francês tão forte assim...

- Ah mas a Clarice também é francesa, sabe? Dizem que é assim, quando estamos perto de alguém que fale a nossa língua. Só não entendo por que não falam em seu idioma de uma vez... – e deu uma pousa pensativa. A "primeira em uma hora", pensou Shura – Mas quem se importa, não é? "Eu me importo se não sair correndo daqui."

De repente se deu conta. Ela estava interessada nele. Tinha ido até lá para fazê-la se interessar e de repente, sem qualquer esforço de sua parte, lá estava ela, ao seu lado olhando um casal flertar, discutindo sobre sotaques, enquanto ramalhetes de flores chegavam ao seu camarim, todas vindas de pretendentes ricos e esnobes. Decidiu retomar a conversa, dessa vez focando o assunto sobre ela:

- Então, como você começou a cantar? – perguntou com falso interesse.

- Ah, eu ainda era criança. Sempre gostei de coisas artísticas, mas sou um tanto sem talento pra pintura e coisas do tipo.

- Duvido. Quem tem essência artística a possui e pronto. Além o que, duvido que um simples rabisco seu, que tem essa inspiração toda para cantar, não fosse ser considerado com uma arte bastante emotiva numa exposição. – Sorriu o espanhol.

Era a segunda vez que ele a desconcertava em uma noite. Não era bajulação. Tinha certeza. Durante toda a noite tivera a impressão de que ele não estivera interessado em conversa, de um jeito charmosamente desdenhoso. Talvez não estivesse á vontade com o lugar. Mas de algum modo, por algum motivo ele a deixava sem reação, pega de surpresa pelo seu olhar penetrante.

- Obrigada. – sorriu tímida – Mas não, não tenho esses talentos. Tampouco me dei muito bem com a dança... Vou te contar, aquelas sapatilhas sã um incômodo absurdo... De qualquer forma, acho que meus pais tentaram de tudo, me compraram até alguns instrumentos de percussão, tenho um tímpano enorme na sala de música em casa, e uma bateria. Presente deles quando eu fiz quinze anos. Tenho certeza que teriam simplificado ao máximo me dando uma batuta caso não tivesse conseguido me dar bem com as duas baquetas da bateria! - brincou com a velha piada que ataca os maestros. Mas ele deu apenas um meio sorriso, olhando fixo para seu decote, tão fixo que até se sentiu envergonhada. – Mas e você, mora naquela casa em... – Não se lembravam mais do nome.

- Kos? Não, eu não vivo lá, mas a propriedade é minha. Eu a ganhei de meus pais na verdade ,quando fiz dezoito anos... – Pronto. Voltaram a falar dele, graças à sua distração "inocente" com o decote perfeitamente desenhado dela.

- Ah... seus pais não vivem com você então?

- Não.

- Bem, e você quis se distanciar da casa por quê? Pelo que o Kamus disse, parece ser um lugar maravilhoso...

- É, é sim... – Estava ficando quente... Quente... Como sairia dessa?

Antes que pudesse pensar, Catherine bombardeou-o mais uma vez, com a pergunta fatal:

- Bem, então onde você mora?

Shura sentiu o sangue gelar com a pergunta tão inocente. Não costumava se expor em suas missões, tampouco fugir do assunto, que era freqüente, mas não conseguia, estranhamente, mentir para ela.

- ... Ahn, em um lugar mais próximo daqui, mais perto também das ruínas gregas, é o local que eu preferi, a vida nos arredores das velhas cidades gregas acabou me atraindo. – Contou uma meia verdade.

Ela balançou a cabeça assimilando. Trocar uma ilhas de águas claras por um monte de prédios velhos? Talvez, afinal, não estavam em Londres.

- Se quiser, enquanto estiver aqui, ele pode lhe mostrar essa parte da cidade... – Kamus materializara-se no ar de repente.

S e g u e ...

Petit chanteur Pequena cantora.

A ilha de Kos existe, bem como a praia mencionada, e é linda... Vai ser cenári ode alguma cena do casal futuramente, sem dúvidas. Depois eu vou postar algumas imagens no meu blog sobre ela. :)

Obrigada ao pessoal que lê essa fic, especialmente quem entrou nesses últimos tempos, apesar da falta de atualização, hehehehe. sorrisinho sem graça Esse período silenciosos acabou.