Uma vida em rascunho, sem tempo de passar a limpo. Eu ali, naquela cama, a lembrar-me do tempo em que corria pela fazenda de meu avô. Minha vida era um corrida. Corrida contra as borboletas. Não soube o que fiz de errado quando, em mais um momento de ociosidade, coloquei uma lagarta num pote com folhas e, duas horas depois, ela estava morta. "Vovô! Vovô! Minha lagarta morreu!" dizia eu, desesperada. E ele, com toda a paciência do mundo, me explicava: "Querida, as lagartas precisam de ar! Você furou a tampa do pote?" Eu dizia que não e ele me sorria. E lá ia eu, matar mais lagartas! Meu primo dizia que eu era uma serial-killer dos inocentes! Mal ele sabia o quanto estava certo!

Chega simples como um temporal

Parecia que ia durar

Tantas marcas e tantos sinais

Já não sei por onde caminhar

Há um ano e meio eu assumi uma dívida, a qual deveria ser paga numa parcela única. Não pude pagar com dinheiro, então comecei a pagar com serviços de assassina. Minha vida se tornou novamente uma corrida. Corrida contra o tempo e a morte. Ela nunca mais voltou a ser a mesma.

E quando olhei no espelho

Eu vi meu rosto e já não reconheci

Então vi minha estória

Tão clara em cada marca que estava ali

Antes eu trabalhava como segurança do Ministério da Magia. Meu trabalho era simples: ficar parada e inexpressiva como uma estátua perto da cabina telefônica, do amanhecer ao anoitecer. Conheci um homem bizarro que me ensinou a jogar a sorte. Era uma corrida contra o azar. Infelizmente, eu fui devagar demais.

Se o tempo hoje vai depressa

Não está em minhas mãos

Cada minuto me interessa

Me resolvendo ou não

Quero fazer marca que possa fazer

Agora o tempo me obedecer

E só então eu deixo os medos e as armas...

E agora, eu tenho uma vida por fazer, por ser passada a limpo. Uma vida que se resume no meu fim: uma corrida contra o tempo, a morte, o azar... e contra as borboletas.

Eu deixo os medos e as armas...

Eu deixo os medos e as armas pra traz

E as armas pra traz

E as armas pra traz