Capitulo 5

Reino Sombrio

Pedidos,Convites e Encontros

Severo Snape estava sentado em uma confortável e antiga cadeira. Apoiava os cotovelos na pesada mesa de madeira a sua frente e encarava com um certo grau de curiosidade o frasco que tinha diante os olhos.

- Eu fico com isso.

Snape levantou o rosto e seu olhar encontrou um bruxo mal vestido e sujo. Com cabelos desgrenhados e uma expressão amedrontada.

- São... são... seis galeões senhor.

Snape pareceu não se importar com o salgado preço pelo qual o homem cobrava. Sem alterar sua expressão, levantou-se da cadeira e colocou o objeto no bolso das vestes.

- Creio que não entendeu. Eu vou ficar com isso.

- Mas... mas...

Era de extrema prepotência que o ser a sua frente exigisse em continuar resmungando. Snape levantou o olhar e encarou-o por um misero segundo, e esse tempo foi o suficiente para o homem recolher suas coisas e deixar a sala apressado.

O mestre em poções então voltou a se sentar e tirou do bolso o objeto. Colocou-o de volta sob a mesa e ficou apreciando sua beleza.

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- Então decidimos vir na moto do Sirius.- falou Harry despreocupado, enquanto esperava que sua sopa esfriasse um pouco.

- Vocês poderiam ter sido vistos! Ou ficar doentes!- a voz de Hagrid estava mais rouca que o normal. Na última semana o guarda-caça de Hogwarts, Guardião das Chaves e Diretor da Griffyndor tinha pego um forte resfriado. E usou isso como desculpa para acompanhar os garotos em uma seção de sopa quente com pão na cozinha do Castelo.

Harry duvidava que fosse encontrar a Diretora McGonagoll ainda essa noite. E não escondia que estava ansioso para encontrar o aconchego de uma cama quente no dormitório da torre norte.

- Usamos bastante casacos! E a moto tem um dispositivo de camuflagem.

- Jura!- perguntou Hagrid.- Quando, bem.. Quando Sirius me emprestou para levar você a casa dos seus tios, ele não me falou disso.

- Não podemos culpa-lo. Aquele não era um dia normal.- falou Hermione preferindo mudar o assunto da conversa. Desde que os três haviam estado em Godric's Hollow, Harry andava mais sensível quando se falava em seus pais.

- Bem crianças, acho que já falamos demais hoje! Vão, vão! É hora de dormir! O dia de amanhã promete ser longo.

Harry, Rony e Hermione não fizeram objeções. Levantaram-se e seguiram o caminho para a torre norte.

Passaram pelo burburinho dos últimos quadros ainda acordados e não enfrentaram problemas com as escadas. Quando encararam o Retrato da Mulher Gorda, Hermione se adiantou e disse a senha que Hagrid havia lhe entregado.

- Saco de Batata! Sabe Harry, eu não sei se você deveria ir procurar a Gina hoje. Já são duas da manhã.- a garota abriu a boca num enorme bocejo e se voltou para os amigos.- Algumas pessoas tem que dormir.

- Eu acho que você tem razão. Dá pra esperar até amanhã.- Harry se dirigia a escada, quando notou que seu amigo estava muito quieto. Olhou para trás e viu Rony e Hermione se encarando. Conversavam entre sussurros e o garoto preferiu não falar nada. Ou quase nada.

- Tenta não fazer barulho quando for pro quarto.

Hermione riu. Mais das orelhas vermelhas de vergonha do namorado do que da piada do amigo. Era bom quebrar o clima de vez em quando.

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Carter Hall sempre gostava de ir para o trabalho ouvindo música. Naquela fria manhã de dezembro, quase véspera de natal, as rádios aproveitavam para desenterrar velhas músicas dos Beatles e outras bandas dos anos setenta que ele tanto gostava.

Carter ainda não tinha decidido o que ia dar para sua esposa. Estava em dúvida entre um par de brincos ou um anel que ela tinha lhe falado na última vez que tinham saído pra jantar.

Esperava poder fazer as compras depois da reunião que tinha as onze da manhã com um grupo de investidores estrangeiros, na empresa aonde trabalhava.

Mas antes de chegar lá, precisava superar o engarrafamento de Londres. As pontes sempre acordavam engarrafadas.

Carter baixou o vidro e deu graças a Deus por seu carro ter aquecedor, a neve que caía do lado de fora deixava o ar extremamente frio. Olhou o engarrafamento que o esperava e voltou pra dentro. Com o vidro fechado, preferiu não acender um cigarro e por isso continuou cantando.

Carter nunca soube o que lhe atingiu. Não viu os cabos de sustentação da ponte se partirem ou o asfalto sob seu carro rachar. Só percebeu o que se passava quando o carro a sua frente explodiu, lançando um pedaço do pára-choque em sua direção.

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Harry tinha acordado bastante disposto naquele dia. Era véspera de Natal, e Hogwarts estava toda decorada para a festa. Pinheiros enfeitavam os pilares do Salão Principal. Estavam decorados com imensas bolas brilhantes das mais variadas cores,

A neve caía brilhando até pouco acima das cabeças dos estudantes, para depois se amontoar nas laterais do salão, em montes de neve prateada. Estrelas cadentes cruzavam o teto a cada meia hora. E havia também um grande boneco de neve que dançava pelo salão, cantarolando temas natalinos.

Harry foi direto ao encontro de Gina na mesa dos alunos, e notou que Rony e Hermione ainda não estavam lá. Sentou ao seu lado e beijou-lhe rápido. Depois se virou para a mesa e pegou pra comer um pedaço de pão.

- Sentiu saudades?

Harry riu da namorada e pegou em sua mão.

- É. Não consegui agüentar ver seu irmão e Hermione trocando beijos o tempo todo enquanto eu ficava sozinho naquela casa.

- Ah! Então só veio aqui por que se sentiu carente!- Gina puxou a mão de volta e ergueu o nariz fingindo não prestar atenção em Harry.

- Não é isso. A Diretora me mandou uma carta.

- A Diretora te mandou uma carta! Quando disse que tinha que sair da escola pra ir atrás de Voldemort, eu já achei estranho. Mas voltar por causa da Diretora? Harry, querido, se vai me trair escolha uma garota bonita pelo menos.

Harry riu, e lançou um olhar rápido pela mesa de alunos.- Romilda Vane?

A careta de Gina foi instantânea. Veio tão rapidamente quanto o tapa que ela deu no braço do garoto.

- Eu posso ser mais perigosa que Voldemort, Senhor Potter.

- Eu não duvidaria!- falou Rony rindo ao se aproximar dos dois. Ele e Hermione vinham de mãos dadas, e se sentaram em frente a Harry e Gina.

- Ficou bonita a decoração. Eles estão se empenhando esse ano.

- Tem razão Mione. Acho que tão tentando aproveitar a data pra, bem... relaxar um pouco.- Logo após de dizer isso, Rony se esticou sobre a mesa para alcançar uma cesta de pães que estava mais distante.- Alguma idéia de que horas ela vai falar com a gente, Harry?

- Nenhuma. Ainda não encontrei a McGonagall hoje.

- O que houve?- perguntou Gina.

- A Diretora nos chamou para ingressar na Ordem. Veja bem, agora que estamos fora da escola, e com a missão que temos pela frente, não tem porque não nos juntarmos ao grupo.

- Hermione tem razão. Por isso viemos pra cá. Não foi pra te trocar por ela ou coisa parecida, viu!

Gina riu de Harry.

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Já havia se tornado um hábito passar todo o tempo que tinha disponível encarando o pequeno retrato que tinha em sua mesa. Diferente dos demais, aquele em especial se mexia. E embora isso o incomodasse no começo de sua carreira, agora já tomava aquele rosto inquieto como rotineiro. Chegava a falar com ele em alguns momentos.

- O Senhor Ministro da Magia.- falou o retrato. Há mais de um ano que ele não ouvia esse aviso. Desde então, acostumara-se a ver sua lareira coberta de poeira com as visitas do emissário dos "bruxos" Cornelius Fudge, mas visitas do outro Ministro eram raras. E preocupantes.

Uma luz verde acompanhada de muita fumaça anunciou a chegada do homem, que saiu da lareira com um pouco de dificuldade.

- Senhor Ministro.

- Senhor Ministro.- respondeu o anfitrião, cortez. Rufus Sgrimour parecia mais cansado e abatido do que na primeira vez que se viram. E se possível, mais arrogante também.

- Infelizmente, como já deve saber, as pontes de Londres foram atacadas hoje.

- Eu sei.

- Todas elas.

- Eu sei.

- Bem, um dos motivos de eu estar aqui é avisa-lo de que o ataque foi realizado por seguidores de Você-sabe-quem.

- Eu sei.- falou o Ministro como se fosse alguma novidade. Já fazia algum tempo que coisas estranhas vinham acontecendo. E não tinha sido difícil pra ele juntar de quem era a culpa.

- Ainda não conseguiram prende-lo?

- Não. Sinceramente, nem sabemos como encontra-lo.

- Esse homem matou centenas de pessoas essa manhã. E o senhor me diz que não sabem como encontra-lo!

- Trouxas.

- O que!- perguntou o Ministro aturdido.

- Ele matou centenas de trouxas.

O ministro já havia ouvido aquelas palavras antes. Com aquele mesmo ar de arrogância, como se não ser bruxo fosse uma ofensa. Estava cheio daquilo. Estava cheio de pessoas estranhas matando pelas ruas. Pelas suas ruas! O seu POVO!

Deixando de lado toda a compostura que tinha, saiu de trás da mesa e com a mão no pescoço do bruxo, prendeu-o contra a parede.

- Eu estou cansado de ser tratado como inferior.

Rufus soltou-se da mão do Ministro, e sacou a varinha.

- Faça isso de novo, e Você-sabe-quem terá um trouxa a menos para matar! Por Merlin, homem, é louco?

O Ministro recuou até sua mesa e abriu uma das gavetas, viu a caixa de couro preto que havia ali e voltou a fecha-la.

- Não veio aqui apenas me avisar, veio?

- Não. Vim contar que pedimos ajuda. Enviamos um pedido de ajuda a Corte Internacional de Bruxos e dentro de alguns dias bruxos de todo o mundo estarão chegando à Inglaterra.

- Quantos? Aonde eles vão ficar? Não quero vocês andando pelas minhas ruas!

Rufus ignorou a ameaça. O que um trouxa poderia fazer contra ele? Mesmo assim ele tirou uma lista do bolso e leu sem emoção cada uma das cidades que estava ali.

- Vamos hospedar alguns na sede de nosso ministério. Outros vão ficar hospedados em diversos pontos do país. Royal Tunbridge, Oxford, St. Ives, Morpeth, Hereford, Carliste. Dunbar, Dumfries, Paisley e Aberdeen na Escócia. Cardif, Caernarfon, Lampeter, Haverfordwest e Harlech em Gales.

O primeiro Ministro ficou impressionado com a quantidade de cidades que constava na lista. Não sabia ao certo, era algo em torno de treze ou catorze cidades em todo o Reino Unido.

- Você vai..avisar aos outros líderes?

- Aconselho que tirem sua Rainha daqui.

O ministro passou a mão no rosto, tentando aliviar a dor de cabeça que um simples pensamento naquele assunto lhe trazia.

- Mudar a rainha? Isso vai..

- Eu tenho que ir.

Rufus entrou na lareira, tirou do bolso um pó estranho e uma forte luz verde tomou a sala. Deixando o Ministro sozinho com o quadro que se mexia.

- Espero que vocês resolvam logo suas confusões.

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- Então a nova sede da Ordem fica em Hogwarts? Na Sala Precisa!- perguntou o garoto enquanto ajeitava seus óculos. Junto com ele, Rony e Hermione tinham sido convidados para uma reunião na Sala Precisa logo depois do almoço.

Estavam lá Remus Lupin acompanhado de Tonks, com os cabelos em verde vivo, sentados lado a lado. A professora McGonagall, com seu ar severo, sentada numa cadeira no centro da sala. Alastor Moody, que andava de um lado para o outro checando uma série de objetos para detectar a presença de inimigos. Rúbeo Hagrid, que sorria alegremente ao lado da diretora.

Era triste ver que o grupo tinha sido reduzido a meia dúzia de pessoas. Harry e Rony caminharam um pouco pela sala, enquanto Hermione foi direto se sentar.

- Bem vindos, Harry, Rony e Hermione. Não vou tomar o tempo de vocês fazendo um discurso do que é certo ou do que é errado. Vocês sabem porque estão aqui. E querem estar aqui tanto quanto cada um de nós. Por isso os chamei a Hogwarts, para convida-los a ingressar na Ordem da Fênix.

Harry olhou para Rony e depois para Hermione logo depois. A menina tinha um rosto contraído em dúvida, e seu amigo não era diferente. Rony tinha uma expressão séria, e se lançou na direção de Harry.

- Pode deixar Ron, Diretora McGonagall, membros da Ordem, quando Dumbledore passou a mim as informações de como deter Voldemort, ele fez isso sob a promessa de que os únicos que saberiam seriam Rony e Hermione. Sinto, mas não posso revelar.

O clima na sala pesou no instante em que Harry terminou de falar. Hagrid se remexeu na cadeira. Tonks apertou a mão de Lupin e Moody deixou de lado seus aparelhos para prestar atenção no garoto.

- Harry, acho que você deveria pensar com mais calma.

- Eu já pensei, professor.- Ele falava com calma, e bastante sério.- Vamos manter o segredo. Mas aceito toda e qualquer ajuda que a Ordem puder oferecer. Trabalhamos pelo mesmo ideal.

Diferente dos demais, Minerva não reagiu mal quando Harry negou seu pedido. A professora expressou um ligeiro sorriso em sua face severa, e deixou que o garoto seguisse falando.

- Não podemos fazer tudo sozinhos. Precisamos pesquisar. Precisamos de Hogwarts. Não quero sair daqui sem ter certeza de que poderemos voltar.

Minerva se levantou e ao fazer isso ela chamou para si toda atenção da sala. Os professores fixaram os olhares nela. Hermione se encolheu na cadeira e Rony chegou a fazer uma pequena careta. Porém, Harry permaneceu impassível.

- Tenho certeza de que Dumbledore estaria orgulhoso de você, Harry. Terá todo o apoio que precisar. Hogwarts está a sua disposição, e a Ordem da Fênix disposta a ajudar.

Hermione lançou um rápido olhar para Harry e viu que o amigo sorria. Rony tinha no rosto um sorriso meio idiota de quem não tinha entendido muita coisa, Tonks compartilhava o sorriso. Moody tinha voltado para suas bugigangas e Hagrid ainda parecia sem entender nada. Lupin sorriu para Harry enquanto McGonagall se adiantava.

A mulher pousou a mão em um dos ombros de Harry e o acompanhou até a porta.

- Fico feliz que tenha feita essa opção.

Lupin se adiantou até o grupo e cumprimentou Harry.

- Seu pai ficaria orgulhoso.

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Harry fez uma pequena careta e continuou andando até parar próximo ao leito rochoso do lago congelado, apanhar uma pedra e atirar.

- Não acho que o quadro de Dumbledore possa me ajudar. Nem creio que ele tenha deixado algum registro na penseira. Acho que já saberíamos se ele tivesse feito isso. Acho que o jeito é descobrirmos por nós mesmos.

- Mas pra isso precisamos de algumas pistas, né?- falou Rony repetindo o gesto do amigo, e depois checando se suas luvas continuavam limpas.- E nós não temos nenhuma. Sabemos quem é R.A.B., mas não fazemos idéia de pra onde ele levou o Horcrux que tinha.

- Eu andei pensando em conversarmos com Mundungus Fletcher.

- Você está louco, Harry! Ele está em Azkaban.

- Eu sei. Eu sei. Mas pensei que podia negociar com o Ministro. Eu faço o que ele quer e ele me dá uma audiência com Flethcer.

Rony parou para pensar por um segundo, abaixou-se para apanhar outra pedra e tacar no lago, e voltou a falar.

- Por que acha que ele te diria alguma coisa? Você ainda é uma negação em Oclumência, lembra?

Harry fez uma careta. Rony fez o mesmo. Então os dois começaram a recuar de volta para o banco onde as meninas estavam sentadas.

- Eu queria ter aprendido aquilo, sabia? Acho que teríamos tido um pouco menos de problema.

- Sei não. Acho que vo..vol..você-sabe-quem teria arranjado outro meio pra nos atrair para o Ministério.

Harry deu de ombros e ficou pensando em como desejava poder ter fechado a mente naquela noite, e ter impedido a morte de Sirius.

Rony logo ficou quieto também. Provavelmente tinha lembrado dos pais. E sempre que isso acontecia, as expressões do rosto do garoto sumiam e seu humor murchava.

- O Espelho!- falou Rony animado, fazendo com que Harry deixasse cair a pedra que tinha em sua mão.

- Que espelho, Ron? Já disse que tentei contatar o Espelho que Sirius me deu, mas não tive resposta.

- Não esse espelho. Aquele que a gente vê o que queremos. Aquele com nome complicado.

- Ojesed! Como vai... OS HORCRUXES! Ron, você é um gênio!

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Há seis anos Harry tinha esquecido a combinação de escadas e corredores que o levariam até a sala ladeada por uma armadura onde ele tinha, uma vez encontrado, o fabuloso Espelho de Ojesed.

Seguindo pelos corredores, Harry subiu e desceu escadas que trocavam de lugar até conseguir achar a sala depois de mais de uma hora de procura.

O garoto não tinha certeza se o Espelho ainda estaria ali. Na verdade a última vez que o tinha visto tinha sido na sala do alçapão. No final do desafio da Pedra Filosofal. Seria bastante sorte se Dumbledore tivesse trazido o espelho para sua antiga sala.

Harry deu sorte, o espelho, que se estendia até o teto da sala, estava coberto por um enorme pano branco. Puxou a proteção e parou diante o espelho.

O garoto respirou fundo, deu um passo a frente e levantou os olhos. E encarou a imagem.

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Voldemort levantou-se da cadeira em que estava sentado e foi caminhando até a pequena janela encravada na pedra. Estava em um antigo castelo medieval.

- Sabe qual é o mal da Romênia, Peter? O clima. Não tem o ar de Londres. Não tem aquela atmosfera culta. E sabe, acho que até os trouxas de Londres são melhores que os daqui.- o homem baixinho contorceu fazendo uma careta quando seu mestre se aproximou dele para pegar a taça de vinho que ele trazia na bandeja.

- Sabe, Peter, acho que quero voltar pra Londres. E quero agora.