Reino Sombrio

Capitulo 8

Acuados.

Harry engatinhou para dentro da escola. A neve que tinha caído em Hogwarts durante a noite estava o suficientemente fofa para fazê-lo afundar e tremer de frio enquanto tentava manter-se consciente.

A força da explosão ainda o afetava. Sua audição tinha dado lugar a um zumbido alto que o impedia de pensar direito. Seus braços e pernas doíam e seus olhos queriam se fechar.

Harry caiu contra a pesada porta de madeira e desmaiou de novo. Dessa vez, sem levantar.

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Gilbert Harison estava de plantão naquela noite. Capitão da Polícia de Londres, o homem detestava estar de plantão em noites frias como aquela, mas era um bom preço a se pagar para garantir um ano novo com a família.

Normalmente, Harrison não atendia às chamadas em seu turno na noite. Delegava à oficiais de patentes inferiores. Preferindo o conforto da calefação do escritório na 16ª Central de Polícia. Mas não poderia se dar ao luxo de ficar no seu escritório naquela noite. Algum lunático tinha mandado pelos ares boa parte do Museu Britânico, e agora metade do efetivo da Polícia se dirigia para o local. Assim como bombeiros desesperados para apagar o incêndio.

Harrison estava vestindo o paletó de frio, aprontando-se para sair à rua, quando um de seus oficiais parou a sua porta e fez uma continência rápida.

Senhor, tem um homem aqui fora querendo vê-lo.

O soldado sabia que seu capitão não era uma das pessoas mais bem humoradas quando se tratava em problemas em noites frias. Mas, por uma estranha razão que não sabia explicar, sentia que devia fazer a apresentação do seu chefe com o estranho homem negro que havia chegado na delegacia.

Antes que o capitão pudesse pensar em recusar, um enorme homem de pele escura entrou em sua sala, vestindo um grosso casaco de lã e tendo um estranho tom de solenidade. O capitão decidiu não responder. Afinal, quem era ele para sair entrando na sala de um Capitão da Policia Britânica?

Boa noite, Senhor Harrison. Sou Quinsley Shacklebolt. Acho que precisamos ter uma conversa.

Não houve tempo para que o capitão respondesse. Poucos segundos depois seu telefone estava tocando. O oficial que estava presente na sala atendeu e sua expressão incrédula chamou a atenção do capitão.

Senhor... o Primeiro Ministro.

Harrison esboçou um olhar de espanto, mas tentou escondê-lo o mais rápido possível, assim que lembrou que havia um estranho na sala, que nem sequer fingia espanto ao ver o Primeiro Ministro ligando para um capitão de policia no meio da madrugada.

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Snape cambaleou ainda meio tonto com a explosão. Tinha aparatado próximo a um rebanho de ovelhas que se agrupava para manter o calor.O homem não sabia exatamente a que distância estava de Londres ou de seu objetivo final, só sabia que deveria prosseguir.

Passou a mão no rosto limpando o suor e em seguida olhou para o punho esquerdo. Estava totalmente inchado. Preto. Doente. Fez uma careta e concentrou-se para mais um esforço. Houve um estalido forte no ar e o ex-professor desapareceu novamente.

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Veja bem, Senhor Harrison. Eu não estou questionando sua capacidade para lidar com situações críticas. Muito menos pensando em roubar seu cargo. Porém, nada do que o senhor falar vai me impedir de tomar o controle da situação nesta noite. Entenda, senhor, esta questão está MUITO acima da sua patente.

O capitão de Policia se considerava um homem alto. Mas naquela noite, descobriu como era a sensação de erguer o pescoço para falar com um homem. Tinha sentido a força de Shacklebolt no momento em que o gigante negro entrara na sala e tomara a palavra, falando calmamente sobre como ia comandar as forças policias na investigação do atentado ao museu. Em seguida disse que queria um carro para levá-lo ao local. Foi então que a discussão começou.

Senhor Shacklebolt. O senhor aparece em minha delegacia do nada. Invade a minha sala e no segundo seguinte é recomendado pelo Primeiro Ministro em pessoa. E agora quer que eu lhe arranje um carro para levá-lo ao local do incidente sem nem ao menos que eu pergunte como veio até aqui?

Shacklebolt não alterou sua expressão calma, dando pouca importância ao que o policial falava. Na verdade estava muito mais interessado no rádio de comunicação no cinto do oficial ainda parado ao lado do telefone.

Oficial... Shacklebolt tentou encarar o distintivo do jovem espinhento e de cabelos cor de palha que estava na sala, boquiaberto com a discussão, mas desistiu.

Oficial Talbot, senhor.

Oficial Talbot. Pois bem... eu preciso de um carro, e preciso agora. Pessoas estão em perigo, embora eu insista que ninguém vai morrer hoje, não podemos ficar parados aqui. Por isso... faça o favor.

Antes que a frase fosse terminada, o oficial já tinha deixado a sala correndo na direção da porta. O Capitão estava enfim se arrumando para sair, enquanto Shacklebolt olhava para ele com um semblante sério. E isso fez o homem se atrapalhar enquanto vestia o casaco. Quando o oficial voltou, informando que o carro estava do lado de fora esperando os dois, Harrison se adiantou e Shacklebolt pode então sorrir de toda aquela situação.

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Harry sentiu seu corpo ser suspenso no ar de forma desajeitada. E cada vez que tentava se mover sentia como se perdesse totalmente o já pouco controle que tinha daquele estranho vôo. Com dificuldade, o garoto abriu um dos olhos e uma figura borrada, de nariz pontudo apareceu a sua frente.

Mestre Harry! O senhor logo vai estar melhor!

O garoto então forçou os olhos para tentar enxergar, mas acabou desmaiando de novo.

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Shacklebolt fez o possível para não parecer intimidado com o grande número de carros e pessoas que estava próximo ao local do incidente. O prédio ainda pegava fogo e grandes carros vermelhos estendiam mangueiras e tentavam controlar o incêndio. Homens e mulheres corriam de um lado para o outro e um número bastante grande de carros iguais ao que tinha usado para chegar no local cercava as imediações, impedindo que os curiosos chegassem mais perto.

Um oficial se aproximou dele e do Capitão Harrison. O homem era baixinho e tinha um bigode estranho e aparência cansada.

Senhor. Os bombeiros ainda estão tentando controlar o fogo. Recolhemos seis corpos próximos à entrada do museu. Guardas. Todos eles mortos sem nenhum ferimento. Isso é...

Estranho. Concluiu o bruxo, com sua voz rouca se sobrepondo aos sons locais. Meu nome é Quinsley Shaklebolt. Eu estou no comando esta noite. Informe ao pessoal do museu que quero uma lista de todos os objetos que ficavam na ala destruída. Ano de aquisição e onde foram comprados. O bruxo então começou a circular pelo local. Olhando e sendo visto por todos os policiais e bombeiros que estavam ali.

Quero esse fogo controlado antes da próxima hora. E os corpos dos guardas noturnos devem ser retirados daqui. E esperar. Só direi para onde eles serão levados mais tarde.

O oficial, assim como muitos em volta do bruxo, permaneceu parado, encarando-o. Quim então olhou para eles. Assustados. Aquele não era o primeiro ataque inexplicado, e ele sabia que não seria o último.

Ao trabalho, senhoras e senhores. Ao trabalho!

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Harry se mexeu e sentiu que não mais voava. Na verdade, estava confortavelmente deitado em uma cama da ala hospitalar. Pelo que ele imaginava ser a milésima vez em sua vida. Mas dessa vez o garoto estava sendo abatido por um frio incrível.

O garoto passou a mão nos olhos para limpar a vista e viu que Rony estava a sua frente. Pegou então os óculos na mesa de cabeceira e viu que o amigo esboçava um sorriso. Só esperava que ele tivesse esquecido o soco que tinha lhe dado no dia anterior.

Bem vindo de volta, Harry! falou o ruivo num tom sarcástico. Ele estava sentado sobre um banco, próximo à cama. E pelo número de roupas que parecia usar, Harry imaginou que aquela devia ser uma das noites mais frias.

Hermione e Gi... Rony começou a falar, mas antes que pudesse terminar, e de maneira nada surpreendente, o ruivo viu o amigo levantar da cama com urgência.

Foi o Snape! Ron! O Snape! Eu encontrei o Horcrux! Mas ele estava lá! Estava... estava. Acho que ele queria roubar a coisa. Ou tirá-la dali. Foi quando tudo explodiu. E ele... ele... me mandou de volta.

Rony estava parado, tão surpreso quanto Harry. Piscava e olhava para o amigo, com olho roxo e feições cansadas como se o que ele estava dizendo fosse algo impossível.

O Snape? Por que ele te mandaria de volta?

Pra que assistíssemos a vitória de Voldemort! Já disseram que eu sou "propriedade" do mestre deles. Que só "o mestre" pode ter o prazer de me matar. Ele não quis desafiar Voldemort.

Se a gente tivesse juízo, faria o mesmo... disse Ron baixinho. Deixando o pensamento de lado em seguida, para ser tomado por uma raiva contra aquele homem. Ele falou algo importante?

Harry balançou a cabeça negativamente, enquanto se enrolava nos lençóis para se abrigar do frio.

Cadê minhas roupas? E que frio é esse?

Rony deu uma leve risada. E então contou para o amigo que ele havia sido achado pelos elfos domésticos na porta de entrada de Hogwarts. Caído, sujo e com roupas rasgadas.

Madame Ponfrey decidiu então mandar as meninas pegarem algumas roupas pra você, enquanto eu ficava aqui esperando. Acredite, eu preferia ter ido pegar as roupas.

Harry riu e seguiu ainda mancando pelo corredor. Foi quando a enfermeira saiu de sua pequena saleta e veio apressada em sua direção.

Volte para a cama, menino! Você ainda não está bem. E céus! Ainda está pelado! disse a mulher, ruborizando um pouco enquanto Harry apertava as cobertas contra o corpo.

Desculpe... disse ele sem graça. Mas logo voltou ao tom de urgência. E tentou apressar o passo. Hermione precisa saber. E... e... McGonnagal.

Rony então olhou para Madame Ponfrey, que ainda estava parada no corredor, quase como um obstáculo.

Senhora, Harry já está bem. Só está um pouco cansado e... bem... manco. Mas ele vai melhorar amanhã! Não somos mais alunos e temos coisas urgentes pra fazer.

Ela os olhou com um certo espanto. Mas deu alguns passos para trás e voltou para sua pequena sala. Enquanto Harry e Rony saiam do local.

Então, por que está tão frio? perguntou Harry quando eles saíram da ala Hospitalar.

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Hermione e Gina tinham ido até o dormitório de Harry apanhar algumas roupas para o menino. Enquanto Hermione parecia decidida a apanhar o maior número de casacos que conseguisse segurar, Gina se divertia olhando a gaveta de cuecas do namorado.

Será que ainda tenho tempo de trocar o presente do Harry? Quem compra isso pra ele, com certeza não faz de bom grado.

A menina exibiu um calção de banho infantil. Cheio de desenhos de ursos e passarinhos, que fez com que Hermione quase derrubasse os casacos de tanto rir.

Mas a risada da dupla foi interrompida pelo barulho da porta e a chegada de Harry e Rony. O garoto ainda tinha o olho roxo, mas seu cansaço já estava diminuindo.

Hey! Larga isso!

Ops! – Gina riu enquanto deixava o calção cair de volta na gaveta e foi na direção de Harry. Deu-lhe um beijo rápido e ajudou o irmão a colocar o namorado na cama.

Encontrei o Snape. disse o bruxo, sem cerimônia.

Gina arregalou os olhos enquanto Hermione trouxe correndo uma cadeira para se sentar próxima à cama.

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A ruiva sabia que devia sair do quarto. Pelo menos tinha sido assim em todas as conversas sobre a tal missão em que o trio participava. Eles falavam e ela ficava de fora. Sempre acompanhando tudo pelo lado de fora da porta. Preocupada com eles, mas sem poder ajudar.

Mas naquela noite, nenhum dos três sequer mencionou que ela devesse sair. E ela achou que não tinha mais necessidade de esconder que sabia que eles estavam em busca de algo com o estranho nome de Horcrux.

Snape estava lá. No Museu. Ele matou os guardas. Entrou no museu e foi direto pra águia! Eu disse que era a águia! e ao dizer isso o garoto deu um leve olhar para Rony. Que havia descordado dele.

Eu tentei enfrentar Snape. Harry ficou em silêncio por alguns segundos, pensando em como seria frustrante dizer que tinha tomado uma surra. Por isso decidiu continuar direto. Foi então que ele decidiu explodir a águia.

Ele pode não ter explodido a águia. Pode ter explodido outra coisa pra você pensar isso. Despistar a gente. Pra que ele pudesse esconder o Horcrux de novo.

Talvez... disse Harry, hesitando em concordar com o amigo. Mas a conversa teve de ser interrompida, assim que eles ouviram o som da porta do dormitório se abrindo.

Quando a professor Minerva McGonagall apareceu no quarto, Harry se endireitou e se xingou baixinho por ainda não ter vestido as roupas. Só esperava que os cobertores estivessem cobrindo tudo.

A mulher tinha uma expressão cansada. Parecia estar trabalhando por dias e dias seguidos e Harry sabia que não era a Escola que estava lhe dando esses problemas.

Boa noite, Potter. Weasleys. Granger. Assim que a mulher terminou de falar, a atenção dos jovens foi desviada para a porta. Um enorme homem negro, que tinha que se abaixar para passar pela porta, tinha chegado ao dormitório. Era Quinsley Shacklebolt. Um auror e membro da Ordem da Fênix.

Boa noite, meninos e meninas. por mais que as palavras parecessem amigáveis, a voz quase grotesca dele não os fazia sentir tão tranqüilos.

Harry respondeu o cumprimento com um gesto de cabeça, enquanto os demais se viravam para os recém chegados.

Boa noite, professora. Senhor Shacklebolt. Harry tentou usar o tom mais cortês que conseguia naquele momento. Não entendia o motivo da entrada deles no quarto, só esperava que não houvesse mais perguntas.

Harry, sabemos que você saiu de Hogwarts esta noite. Que foi até Londres, onde, de certa forma, esteve envolvido no incidente no museu. Ainda acha necessário não compartilharmos informações?

O garoto não soube o que dizer. Trocou olhares com os amigos. Buscando a aprovação de Rony e Hermione. E até mesmo de Gina. Esperava que um deles tivesse algo inteligente a dizer.

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Draco Malfoy sempre estivera acostumado com as mais luxuosas acomodações que o dinheiro podia pagar. Durante toda a sua vida tinha vivido entre tudo do bom e do melhor que a sociedade bruxa oferecia para aqueles que tinham tido a sorte de pertencerem a famílias abastadas.

Porém, nos últimos meses a realidade havia sido diferente. Não havia mais elfos domésticos para paparicar e fazer tudo que lhes fosse ordenado. Não havia boa comida, limpeza em excesso e muito menos roupas que pudesse trocar todos os dias.

Agora o garoto era obrigado a viver em algo não muito melhor do que um casebre. Casebre este que ficava na orla de uma floresta, no norte da Escócia. Pelo menos era onde ele pensava estar. Afinal, só isso justificava o frio que sentia todos os dias.

Seu rosto estava sujo e ele se encolhia ao lado da pequena lareira que a casa tinha. Não era uma construção bruxa, isso ele sabia pela falta de conforto, mas imaginava se não haveria algo melhor que aquela pocilga nas cidades trouxas.

A madrugada ainda se arrastava e a neve caía no céu, enchendo a floresta de camadas e mais camadas de massa branca. Tornando difícil a locomoção e quase impossível ver algum animal vivo.

Draco tinha um pequeno suprimento de comida. Pães velhos, bebidas em jarros e algumas guloseimas que sua mãe tinha lhe dado. A mulher se arriscava a visitá-lo uma vez por mês, trazendo mais mantimentos. Mas nesse mês ela estava atrasada duas semanas.

O garoto forçou os olhos, vermelhos do cansaço, e sentiu o sono chamar. Mas sabia que era impossível dormir com o frio que fazia. Dormiria melhor de dia, se parasse de nevar.

Seus pensamentos foram interrompidos pelo barulho do lado de fora. Com freqüência, o vento, ou animais, perturbavam a "tranqüilidade" do local. Mas mesmo assim, todas às vezes, o garoto colocava-se de pé, com varinha em punhos. Sempre esperando que fosse apenas mais um susto e não a chegada de um comensal da morte, ou do próprio Voldemort.

Temendo por isso, foi até uma fresta na janela. Mas a noite estava escura e a neve não deixava ver muito além de um vulto vindo em sua direção. Tremendo, de medo e frio, o garoto tentou segurar a bexiga. Não precisava se molhar todo agora. Já tinha feito isso quando um cervo se aproximou da casa na semana anterior e teve sérios problemas para conseguir secar suas calças.

Ele então se esgueirou pela parede, parando longe da porta, sem deixar de ter a varinha apontada para as finas ripas de madeira que o separavam de seu visitante.

Orgulho! gritou o garoto. Essa era a senha que tinha combinado com sua mãe. Ela deveria gritar algo em resposta, para que ele soubesse que não se tratava de nenhum inimigo.

Draco ouviu os movimentos desajeitados de alguém andando sobre a neve fofa se aproximar de sua casa. Temeu que não fosse sua mãe e tentou acreditar que ela não tinha escutado sua senha.

Encheu os pulmões e tentou mais uma vez. Esforçando-se para que a voz não saísse fraca ou apavorada.

Orgulho.

Draco apertou o pulso na varinha, e esperou mais um segundo.

Amor! disse uma voz feminina distante, quase em deboche. Seguida por uma risada claramente masculina.

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Então, Harry?

Aquela meia hora que o garoto tinha solicitado para pensar no assunto já havia acabado. Agora, Minerva McGonagall e Quinsley Shacklebolt esperavam pelo quarteto de jovens do lado de fora do dormitório deles.

Harry ainda olhava preocupado para a porta, sem ter certeza de que estariam fazendo certo em contar. Dumbledore tinha lhe pedido sigilo. Mesmo da Ordem. Mas sozinho, tinha descoberto que era quase impossível seguir adiante.

A meia hora passou rápido. Para ele, não pareceram nem cinco minutos. Foi o tempo de ir ao banheiro vestir algumas roupas e voltar para cama e tentar pensar.

Hermione e Rony tinham gastado quase todo o tempo explicando a Gina os detalhes que ela ainda não sabia. E não foi surpresa nenhuma ver que a garota tinha deixado passar alguns poucos, apenas.

Quando Minerva interrompeu a conversa deles, perguntando se podia entrar, Harry olhou quase em desespero para os três.

Rony fez uma careta e foi Hermione quem se levantou e foi abrir a porta.

A diretora e o auror voltaram para o quarto. O homem preenchia o local e chamava atenção de uma maneira absurda.

A tensão no ar era grande, com Harry e a Diretora trocando olhares. Sempre confiara em McGonagall. E Kingsley parecia ser uma pessoa boa. Mas ainda tinha medo de contar alguma coisa. Estava afundado em pensamentos, jogando-se contra uma infinidade de travesseiros, quando ouviu a voz de Gina quebrar o silêncio.

Nós precisamos de algo em troca. disse a garota. Sua voz era doce, mas não escondia a inteligência. E Harry se perguntou o que ela estaria tramando.

Queremos um encontrar com Mundungus Fletcher.

Harry olhou intrigado para a namorada, mas viu aparecer um sorriso confiante no rosto de Hermione e concluiu que, se as duas tinham decidido que queriam encontrar com Mundungus, ele deveria concordar.

Achamos que ele pode estar envolvido nisso tudo de uma forma que ele nem imagina. Precisamos achá-lo o mais rápido possível. disse Harry. Tentando se lembrar aos poucos da teoria de Hermione de que tinha sido ele quem levara o camafeu da Mansão Black.

Fletcher está em Azkaban. disse Schaklebolt Não vai ser fácil levá-los até ele. É praticamente véspera de ano novo. E depois de hoje...

Kingsley pareceu desmotivado. Mas sabia o número de problemas que teria no dia seguinte. Uma noite de atentado sempre significava uma semana de problemas.

As pessoas no Ministério não estão satisfeitas com... bem, com a demora para se pegar Voldemort. Não estamos tendo nenhum avanço. Nem lá, nem na Ordem da Fênix. Apenas você conseguiu dar alguns passos, Harry. E nós precisamos segui-lo.

Harry olhou para Hermione e depois para Rony e Gina.

Mundugus pode ter passado adiante um objeto que prolonga a vida de Voldemort, sem saber. Preciso achar esse objeto. Descobrir pra quem ele vendeu. Ou onde guardou. E destruir.

Apesar de não ter ficado satisfeita com a explicação vaga, Minerva não escondia a felicidade de saber que apenas a destruição de um objeto poderia dar fim ao mal encarnado que era Voldemort.

Esse não é um daqueles objetos como o anel que Dumbledore trouxe no ano passado? Que deixou sua mão doente por meses, é?

Harry concordou com a cabeça e viu toda a esperança da antiga professora sumir de seu rosto. Shacklebolt tinha ficado quieto desde que tinha sido feito o pedido. Pensava em como poderia colocar as quatro crianças dentro da prisão.

Os dementadores ainda estão lá. começou ele, quase que falando sozinho. eles perceberiam se você entrasse sob a capa de invisibilidade do Moddy. Talvez polissuco. Minha patente me permitiria pegar algumas doses no Ministério. Mas o gosto é horrível.

Rony deu um pequeno riso ao ouvir o auror falar daqueles artifícios como se fossem novos para eles. E em seguida trocou um olhar rápido com Hermione, vendo que a garota estava pensando o mesmo.

Qual seria o problema se eu fosse sem disfarce nenhum? Eu sou "Harry Potter" disse ele, dando uma entonação diferente na voz não duvido que alguém questione minha estadia lá.

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Um frio vento noturno cortava a face de Harry como se fossem milhares de farpas. Ele estava mais agasalhado que na noite anterior e mesmo assim, seus lábios estavam roxos e ele não parava de tremer.

Por duas vezes o garoto recorreu a goles de fire-wisky. Segundo Shacklebolt, ajudavam a passar o frio e a enfrentar o efeito dos dementadores.

O caminho à Azkaban tinha que ser feito numa pequena embarcação. Ela era a única coisa capaz de se aproximar da prisão. E Harry agradeceu muito quando Kingsley conseguiu achar um lugar pra ele fora do convés, mesmo que fosse no porão do navio. A tempo de não precisar ver os primeiros Dementadores que ficavam flutuando próximos à Ilha.

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Já havia passado das dez horas da noite, quando eles finalmente chegaram à ilha. À primeira vista, Azkaban era, sem dúvida, o prédio mais feio que já tinha visto. Um velho castelo construído sob uma rocha morta. Sem verde ou qualquer outro sinal de vida. Ficava pouco afastado do porto em que desembarcaram. Que não era nada maior do que um píer de pedras, com correntes nas laterais.

A entrada de Azkaban era uma imensa porta de ferro. Com duas enormes gárgulas circundados, exibindo irônicos sorrisos de boas vindas aos visitantes.

O castelo não tinha mais de dois andares. Na verdade, não precisava mais que isso. Pelo que Kingsley tinha lhe dito, haviam menos de cinqüenta celas em Azkaban. Pois, segundo ele, os presos ali não tinham uma durabilidade muito grande.

Harry já havia encontrado Dementadores antes. Mas, nem mesmo em Hogwarts, tinha visto tantos assim. Eles circulavam sobre as partes mais altas da prisão. Rondando como mortos à procura de comida. Harry sentia-se mal e lançou mão de mais alguns goles da bebida para tentar se animar.

O auror pousou a mão no ombro de Harry e o garoto envergou para o lado. Os dois passaram pelo primeiro corredor, que só exibia máquinas de tortura e estátuas de homens torturados. Harry se sentia mal com todos aqueles ferros e correntes a sua volta. Com aquelas pessoas de pedra gritando e agonizando.

Passaram por uma escada larga. Ela tinha longos degraus e assemelhava-se mais a uma rampa que a uma escada. Harry olhou para ela curioso.

Nem sempre as pessoas concordam em subir esses degraus de boa vontade. Na maioria das vezes, tem que ser arrastadas. Por isso a rampa.

O garoto andou na direção da escada. Pensando em ir até a cela de Mundungus. Mas Shaklebolt continuou arrastando-o.

Tenho que te apresentar ao chefe daqui, primeiro. Normalmente teriam mais dementadores, mas ele limpou a área pra você. O nome dele é Ernesto Kinler. Ele era auror. Mas alguma coisa fez para ser mandado para trabalhar aqui. E pior, gostou disso.

A decoração é obra dele? perguntou Harry sem esconder o susto.

Kingsley olhou então para objetos de tortura e as estátuas e falou baixo.

Não.. elas são antigas. Mas acho que ele não se incomoda em lustrá-las todos os dias.

O encontro com o gerente de Azkaban não levou mais que cinco minutos. Na verdade, o homem ficou fascinado em conhecer uma celebridade como Harry. Ele tinha se acostumado a receber a pior escória que a comunidade bruxa podia produzir. Mas não era todo dia que recebia alguém que já derrotara seus "queridos hospedes".

Fico feliz em saber que é você quem está enchendo minha "casa" de novo! Se continuar com seu trabalho, logo terei que abrir mais celas, ou mesmo usar a masmorra. Seria... interessante.

Os dois se despediram com um cumprimento de mãos. Shacklebolt ficou ainda mais alguns segundos conversando com o gerente local. Agradecendo pela visita e a oportunidade de mostrar como estavam sendo tratados os "vilões" que Harry tinha mandado pra lá.

Tinha certeza que no dia seguinte a noticia de um Harry Potter impiedoso visitando Azkaban e zombando de seus prisioneiros se espalharia pelo mundo bruxo. De certa forma, seria até bom.

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A cela de Mundugus ficava no inicio do corredor e Harry agradeceu por não ter que passar por fileiras e mais fileiras de dementadores. Não viu nenhum dos comensais da morte que tinha mandado para Azkaban, mas ouviu a voz de Malfoy gritar ao longe.

Fletcher estava encolhido contra a parede. Babava e sua cela fedia a excremento. Suas mãos tremiam e ele tinha os olhos vidrados, como se estivessem distantes.

Kingsley se aproximou dele e deu leves palmadas em seu rosto. O homem então se afastou depressa, recuando de quatro. Babava enquanto tentava se encolher do enorme homem que tinha a sua frente.

Não fui eu! Não fui eu! Eu não sei!

Acalme-se Dunga! Sou eu, Shacklebolt. o auror então olhou para Harry e o chamou para perto.

Harry sentia um misto de pena e nojo da cena que via a sua frente. Um homem, um conhecido seu, agia praticamente como um animal. Sentia-se mal. Queria vomitar. Chorar. Ir embora daquele lugar. Não tinha certeza se poderia derrotar Voldemort. Queria sair dali. Harry sentia-se esmagado. Oprimido.

Ouviu os gritos alucinados vindo do corredor. E a ausência de barulho que os Dementadores faziam ao se mover o perturbava. Sentiu sua mão tensa, suando frio. Sua testa tinha se enchido de suor e sua pele estava empapada por debaixo de várias camadas de casaco.

Ele deu um passo à frente, tentando manter distância de Mundungus. O homem se arrastava e engatinhava. Mais parecendo um animal acuado. Balbuciava palavras. Nomes. Datas. Nada que o garoto pudesse entender.

Kingsley tentou se aproximar do homem mais uma vez. Exibiu para ele as palmas livres das mãos e chegou perto com cuidado. O auror estava suado, Harry pôde notar uma expressão de profundo incômodo em seu rosto, quando ele agarrou Mundugus e o homem começou a se debater.

Não fui eu! Não fui eu! Me solta! Me solta! Mundungus rugia e gritava. Tentando libertar-se dos fortes braços de Shacklebolt. Harry saiu da frente quando um chute ameaçou derrubá-lo, e tentou não cair sob uma poça de mijo que havia se formado no canto.

Engatinhou para fora, seguido por Quim, ainda carregando Mundungus nos braços.

Me soltem! Pelo amor de Deus! Me soltem!

Corra Harry! Kinler autorizou um interrogatório, mas ele só vai melhorar se o afastarmos de Azkaban. Corra para o barco!

Harry obedeceu à ordem e, enquanto descia pela escada, passou por Kinler, que corria na direção contrária. O homem trazia mordaças e correntes e parecia deliciado com os gritos de desespero de Mungungus.

Ele acenou para que Harry continuasse correndo, e ele fez isso sem questionar. Cruzou o curto caminho entre o castelo e o píer e se jogou no barco, caindo sob o convés. Segundos depois, jogou o corpo pela amurada, buscando as águas negras e frias. E só então vomitou.

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A neve tinha parado de cair em Londres, e agora uma ameaça de Lua cheia ousava aparecer no céu noturno. Uma noite sem estrelas ou qualquer nuvem. Apenas a Lua.

Milhares de pessoas tinham tomado as frias ruas da capital britânica para comemorar a passagem do ano. Mais e mais pessoas chegavam a todo momento e a polícia se esforçava para impedir que os atentados que vinham acontecendo nas ultimas semanas se repetissem naquela noite de festa.

Não muito distante dali, um homem reunia-se com centenas de outros. Ele andava ereto, com o peito estufado, empregando um inegável ar de nobreza. A seu lado, homens e mulheres vestidos com capas pretas andavam silenciosamente, porém, sem esconder uma certa euforia.

Havia algumas dezenas de corpos no chão. E mais corpos haviam ficado no caminho, até que o seleto grupo chegasse ao seu destino. Uma sala ampla, bem iluminada e preenchida com objetos de ouro, mármore e tudo de mais refinado que havia no mundo.

Lord Voldmort parou diante do trono a sua frente, enquanto encarava-o com um certo prazer. O homem sentou-se e retirou o capuz do rosto. Ajeitou-se no trono enquanto seus seguidores se ajoelhavam a sua frente.

Hoje é o dia. disse ele, sem disfarçar o prazer. Hoje é o dia para se guardar na história. Hoje é o dia da Limpeza!

Os comensais a sua volta riram e saudaram o mestre. E a marca negra foi disparada no ar, antecipando apenas a chuva de fogos de artifício que anunciava a entrada de um novo ano.

E então a gritaria começou.

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Kinglsey demorou cerca de dez minutos para chegar. E Harry já estava preocupado quando começou a ouvir os gritos abafados de Mundugus à distância. Kingsley vinha correndo com Mundungus no ombro, o homem ainda se debatia, mas o auror parecia não ligar. Ele tinha a varinha na mão e gritava com Harry algo que ele não conseguia enteder.

APATIDA! DAPATIDA

Harry tentou se recuperar do vômito e ajeitou os óculos no rosto. Ameaçou subir de volta para o píer, quando viu que um grande número de Demetadores se juntava e vinha em direção de Shacklebolt.

Só então Harry entendeu. "Dê a partida!", gritava o auror. Harry correu para a cabine de comando. O homem que os tinha guiado antes não estava ali, e Harry não perdeu tempo procurando-o. Acionou os botões que achou pela frente e ficou feliz quando ouviu o motor fazer barulho.

Correu então de volta ao convés para livrar o barco das amarras, enquanto Kingsley se aproximava cada vez mais. O auror jogou Mundungus sobre o convés e pulou em seguida. Posicionou-se e um gorila de prata rasgou o céu, correndo na direção dos dementadores.

Harry voltou para a cabine de comando e sem saber como, fez o barco se mover. Então Quim veio em sua direção e fez com que o barco andasse mais rápido.

O que houve? perguntou o garoto.

O pior.