A culpa é da Lua

Remus havia reaparecido a umas duas horas atrás, mais pálido do que nunca, com a face coberta de arranhões e com os olhos demonstrando preocupação. Lílian estava sentada do parapeito da janela de sua sala comunal. Ela estava perturbada, olhando para o negrume do céu, iluminado por uma minúscula parte da lua, minguante. Seus olhos marejados, se lembrando da descoberta recente.

Ela estava na sala comunal, enfiada nos seus livros como de costume. Uma leitura medonha, sobre a terrível vida de um ser humano infeliz, um humano amaldiçoado pelo destino. Um ser humano que jamais contemplaria, que jamais apreciaria a beleza da lua.

Remus apareceu para lhe avisar que teria de viajar novamente, problemas com a sua família lhe exigiam atenção. Pediu para a garota monitorar por ele, o que ela fazia sem reclamar, já que o admirava tanto. Despediram-se e ele se encaminhou para o buraco do retrato seguido de seus inseparáveis amigos, que como ele, estavam tensos.

A garota subiu para o dormitório, registrar no seu dia no diário. Sentada na cama de frente para a janela, para aproveitar o pôr do sol, abriu seu caderno e marcou a lua cheia. "Lua cheia", pensou ela. Confusa, voltou às páginas de seu diário para todas as luas cheias.

"Remus voltou para casa, sua mãe está passando mal..."

"Remus viajou novamente, e pediu para mim fazer as anotações das aulas para ele..."

"Remus não estava se sentindo bem, e foi para casa. Não sei porque não ficou na ala hospitalar, já que a Madame..."

"Remus ainda não voltou, estou preocupada..."

"A Sra. Lupin adoeceu de novo..."

"Remus está pálido, disse que precisa ir para casa urgente..."

"Não achei o Remus. Perguntei para Potter, que não me respondeu, só me chamou para sair, patético. E o Black desconversou..."

"Remus voltou acabado. Tive que dar um desconto para ele, mesmo ele dizendo que estava melhor e..."

E assim se seguiram as páginas de lua cheia do diário da garota. A cada anotação, escorriam lágrimas do rosto da garota, e foi interrompida de sua leitura por um uivo triste e doloroso, que ecoava pelo castelo, que a fez levantar os olhos e avistar uma linda lua cheia, brilhante no céu.

Então entendeu. Era isso que ele estava escondendo dela. Era por isso que sempre inventava uma desculpa para desaparecer, e voltar com uma aparência doentia. Mas por que ele escondera esse segredo por tanto tempo? Achou que eu não era confiável o bastante?

Com a face já completamente molhada, ela deixou o diário de lado, e deitou em sua cama, fechando o cortinado, e repassando o sofrimento do amigo.

Durante aquela semana em que o garoto não estava junto dela e dos amigos dele, Lílian apenas tentou parecer normal. Não fazendo mais nenhuma pergunta aos marotos, como de costume, quando este estava fora.Tentou se concentrar nas aulas, e fazer anotações para o amigo. Tentativa que não teve muito sucesso.

Então, Remus voltou. Estava mal, coberto de arranhões, e com enormes olheiras. Agradeceu as anotações, e voltou para os amigos. Foi ele dar novamente as costas à garota, que acabou deixando escapar algumas lágrimas pelos seus olhos.

Com a face úmida, ela foi a uma janela de pedra. Sentada nela, fechou os olhos, refletindo. Por que logo ele, a pessoa mais doce que já conhecera, fora amaldiçoado para toda a vida, com algo enorme e terrível como isto? Remus, com toda a certeza, era a pessoa que menos merecia.

Então voltou a observar a pequena lua, lá no alto. Ele nunca poderia entender o quão bonita ela é, já que seu destino está marcado por ela.

Como uma coisa tão bela, tão pura, pode fazer isso com uma pessoa tão humilde, sincera, leal?

Por que a culpa tem de ser da lua? Fechou seus olhos mais uma vez, e tornou a abri-los, olhando para o garoto. Seus olhares se cruzaram, e uma expressão ainda mais preocupada tomou conta do rosto dele. Dando uma desculpa qualquer para seus amigos, ele se levantou e foi até ela.

"Lílian, você... está tudo bem?" Remus chegou até ela. Lílian limpou suas lágrimas, e voltou a olhar para o garoto.

"Preciso falar com você..." mordeu o lábio inferior, esperando pela resposta.

"O que aconteceu?" ela não respondeu. Apenas puxou o garoto pelo braço e saíram da sala comunal. Ela o guiou pelo sétimo andar, parando ao lado de uma tapeçaria de trasgos dançarinos. Ela fechou os olhos e começou a dar pequenas voltas em frente à parede de pedra. O garoto a olhou. Quando ela parou, uma porta apareceu na frente deles. Ela abriu a porta olhando para os lados.

"Entre, vamos."

Eles entraram em uma sala pequena, mas aconchegante. Um sofá, um tapete, uma lareira na frente.

"Lílian, sabe que nem nós, monitores, podemos sair a esta hora da noite! O que viemos fazer aqui?" ela o ignorou.

"Remus, tem alguma coisa que o incomoda que queira falar para mim?"

"Como assim?"

Ela olhou nos olhos do garoto. Ele desviou.

"Remus! Porque não me contou!" e o puxou para a janela, observando a lua.

"Não contei o que?"

"Não se faça de bobo! Eu te conheço! Você sabe do que estou falando!" e apontou para a lua minguante que pairava no céu. Ele engoliu em seco.

"Você descobriu? Mas como?"

"Isso não vem ao caso agora, só quero a sua confirmação! É verdade? Você é mesmo...?".

"Sim, Lílian, sou um monstro!" ela abaixou os olhos, e mais lágrimas escorriam pelo rosto da garota. "Se não quiser mais falar comigo, eu... eu vou entender." falou com dificuldade.

"Não diga isso! Um obstáculo da vida não vai transformá-lo em um monstro! Eu nunca deixarei de falar com você por algo tão insignificante!"

"Insignificante..." repetiu com tristeza.

"Insignificante para mim! Você é uma pessoa incrível! E não tem nem meio pingo de culpa por ser o que é!"

Ele voltou até o sofá, sentou e apoiou a cabeça nos joelhos. Ela foi até ele, se abaixou e levantou o rosto dele, de modo a fitá-lo nos olhos.

"Remus! Ser um lobisomem dá para contornar! Você é uma pessoa maravilhosa! E eu estarei sempre pronta para te ajudar! O que eu puder fazer por você, eu farei!" Ele a olhou. "Sabe que aspiro ser curandeira, não é? Eu prometo que tentarei criar uma poção para amenizar, sei lá!" A sombra de um sorriso perpassou o rosto do garoto e ela continuou "E a chamarei de... Mata Cão! É isso!" Os dois riram e ela o abraçou.

"Você não sabe como é bom eu não ter te perdido! A coisa que mais prezo são meus amigos, você sabe..."

Ficaram assim por um bom tempo, porém quando se separaram, ouve um deslize... Eles ficaram se encarando, a garota fechou os olhos, e os lábios se juntaram. Mas o beijo não foi aprofundado. Foi como se fosso um acordo feito pelo olhar que eles trocavam. Sorriram e se abraçaram novamente.

"Me desculpe."

"Não foi nada." Ele olhou para baixo. "Apenas não conte ao James... Ele me mataria."

"Porque eu contaria ao Potter?" Ela indagou.

"Ai, Lílian! Deixa de ser cabeça-dura! O James, por mais que seja um idiota, ele te ama."

"Ele não me ama. Ele quer me conquistar, como um troféu. Eu não vou deixar que ele faça o que faz com todas as outras!"

"Ele admitiu para mim e para os marotos, que no início, era apenas um desafio: Conquistar a ruivinha esquentada... Mas que agora o sentimento mudou. Ele não quer apenas te conquistar, mas quer te ter ao lado dele! Ele te ama, Lílian!"

"Não sei se acredito, não sei se ele e seus amigos são capazes de amar, Remus."

"Mas eles são, Lílian. Vou dar um exemplo, e espero que não me mate e nem eles me matem por eu estar revelando isso. E também, isso não vai sair daqui, ouviu?" Ela assentiu. "Eles são animagos, Lílian." A boca da garota se abriu.

"Mas, eles têm apenas 16 anos, Remus! Como poderiam...? O ministério acompanha o processo, caso de algo errado, e eles também não estão registrados, e..."

"E eles fizeram isso por mim, afinal, um lobisomem pode machucar os seres humanos, mas..."

"...os animais não. Nunca pensei que eles pudessem fazer isso por alguém. Quer dizer, eles não ficam se gabando por aí, não é?" Remus assentiu.

"Isso é só uma prova de como você não os conhece. Por favor, Lilian! Dê uma chance a meus amigos. É claro que eles, ás vezes, são extremamente chatos. Mas tente ver o lado bom deles! Por mim..."

"Certo, eu vou tentar, mas eu disse tentar, ouviu?" Ele sorriu e concordou. Esta era a amiga dele, a ruivinha esquentada que tanto considerava. Ela retribuiu o sorriso, se abraçaram e voltaram cautelosos para a sala comunal, onde encontraram um Peter caído no chão, ao lado do sofá, roncando com um saco de doces em cima da barriga. Um Sirius no meio de três garotas e um James emburrado, com o olhar perdido.

N/A: Aiee! Que orgulho! É a primeira fic que teve algum progresso... Tenho que agradecer profundamente a Monnica e Luks, meus betas amados!

Os Marotos, a Lily, o Castelo(infelizmente, diga-se de passagem), a Lua, enfim... Todos da tia JK Rowling. ShorFic sem fins lucrativos...

Mazy