- Capítulo quatro -

Peças de um quebra-cabeça

Por Manu

Um digimon de listras azuladas andava apressadamente para um rumo desconhecido. Parecia estar rígido; seu olhar frio, distante, era ameaçador. Queria estar longe de tudo e de todos...

Nada disso era normal no doce Gabumon. Dissera a Yamato que iria falar algo com Patamon, no entanto passara pelos amigos na Cidade do Princípio e praticamente fugira, transtornado por um motivo até então desconhecido. Patamon tentara segui-lo, mas o digimon da Amizade estava envolto por uma fúria que assustara por demais o pequenino. Gomamon e Tailmon decidiram ajudar a procurá-lo, depois que Gabumon partira em direção às florestas do Digimundo.

Uma estranha névoa escura estava envolvendo o seu corpo. Seus poros digitais iam ficando cada vez mais acizentados, enquanto seus olhos perdiam o brilho de sempre e se tornavam incolores. Apenas conseguiu visualizar em sua mente um círculo negro, e foi então que Gabumon desapareceu entre os arbustos.

***

- O que está dizendo, Patamon?!

- É isso mesmo, Matt, ele sumiu! Tentei ir atrás dele, mas estava furioso - explicou o pequeno, com tristeza no olhar - Alguns digimon estão tentando encontrá-lo...

Yamato Ishida estava notoriamente confuso. Como é que o seu digimon fugia assim? Não tinha motivos... estaria doente? Não, estava muito bem há alguns minutos! O que fazer? Avisar aos outros? Correr atrás dele? Havia um confuso liquidificador em sua mente... mas apenas gostaria de entender....

- Não viu pra onde ele foi? - perguntou Sora, tentando tomar a iniciativa.

- Não consegui, sinto muito... - murmurou Patamon, sentindo-se impotente. Matt continuava a olhar para o infinito, querendo articular idéias.

- Sora, vá chamar alguém. Sim, chame Ken, ou Koushiro! Eu e Matt vamos tentar encontrá-lo.

- Sim, Tai. - e a moça saiu correndo junto de Patamon, que já não sabia o que pensar.

Taichi começou a arrastar o amigo consigo, pelo braço, já que ele não parecia reagir. Tropeçou em algumas raízes no chão e atravessou o estádio de futebol, indo parar no outro lado onde havia abertura para as florestas.

- Mas o que houve com ele? O que houve?!

- Não se pergunte agora, Yamato...precisamos alcançá-lo. Isso não está me cheirando bem...

- Nem a mim, cara...

Abriram caminho entre plantas e árvores, protegendo os rostos com a mão. Arrancavam folhas e galhos a sua frente, as raízes puxando seus pés, até chegarem a uma área mais aberta. Uma árvore ainda maior que a do piquenique jazia ali, com um aspecto amedrontador. Era antiga, de tronco desbotado, folhas secas caindo no chão. Ao lado havia um lago mediano de água cristalina, parada, sem um único ruído de pequenos digimons.

Os rapazes pararam de correr e permaneceram naquele lugar, de costas um para o outro. Verificavam se não havia alguém ali, algum som, algum...

Yamato pisou em um galho, quebrando-o, fazendo Taichi virar-se rapidamente. O silêncio voltou arrebatador.

- Esqueça, Tai.... ele não está aqui. - disse Matt Ishida finalmente, rendido.

- Tem razão... está tudo quieto demais - murmurou o amigo da Coragem, estranhando aquilo. Ignorava o que realmente estava acontecendo.

Viraram a cabeça quase ao mesmo tempo para olhar o céu antes limpo. Agora parecia estar carregado de nuvens acizentadas.

- Só me faltava chover... - desapontou-se Ishida.

- Veja, Matt... uma neblina? - ele apertou os olhos para enxergar melhor- Parece que sim, não? Oh, raios, que diabos é isso?

- Não sei, mas....acho melhor voltarmos e ver se encontraram Gabumon. Ou se encontraram alguma coisa.

***

Koushiro estava em cima da imensa árvore do piquenique, como assim quis Mimi. Ela repousava entre os grosso troncos, mexendo nas pontas do cabelo, e de vez em quando falava algo com Izzy, que sempre respondia com um A-hã ou Hum. O que a moça não sabia era que Izumi estava com metade do corpo entre as folhas, para fora da árvore, teclando em seu laptop amarelo.

Ken Ichijouji, cansado de contemplar aquela cena, havia ido com Wormmon até a beira de um lago se refrescar um pouco. Palmon decidira ir junto, para não ficar sozinha.

- Izzy....vamos, me responda. - insistia Mimi - Você parece tão distante, meu bem... o que está fazendo?

Ela não obteve resposta. Desta vez seu namorado não havia escutado mesmo uma palavra. Tachikawa fez um silêncio impróprio dela mesma e conseguiu ouvir os dedos de Izumi batendo rapidamente nas teclas do computador.

- Koushiro Izumi! - esbravejou ela, levantando-se e saindo entre as folhas - Não acredito que você ligou esse maldito laptop! Eu estava falando sozinha até agora!

O rapaz olhou-a, assustado. Mimi agarrava-o pela gola da camisa verde e tinha uma cara de poucos amigos.

- Vamos, seu insensível! Vai ficar só me olhando? Você prometeu que esta tarde não mexeria nele....

- Mi-mi... me ouça, meu amor....

- E nem tente me bajular! - rugiu, segurando-o mais forte - Pensei que tivesse esquecido as suas suposições... como conseguiu pegar o laptop?

- Calma, fi-fique calma... - gaguejou Izzy - me desculpe, eu só fui ver se já tinha alguma...alguma... novidade. E...eu demorei um pouquinho verificando, foi só isso, he, he.

Ele havia ficado vermelho como um tomate, como Mimi queria que ficasse. Ela simplesmente adorava quando ele corava, parecia-lhe lindo, indefeso, dominado.

- Não estou interessada se descobriu alguma coisa mais - disse, enfim, soltando-o - Só queria que me desse mais atenção...

- Mimi...por favor, não faça isso. - pediu Koushiro, timidamente - Pronto, viu? Parei de mexer no computador. Acho que achei informação suficiente...

Seus olhos negros pareciam encantados e misteriosos. Mas conseguiria manter o controle até chegar a hora certa.

- Eu só queria contar uma coisa a vocês... - disse, segurando sua mão docemente.

- O que foi, Izzy? Algo grave?

- Pessoal! - era Sora Takenouchi gritando, correndo até eles - Ei!

O casal avistou a moça e se apressou em descer da árvore (Izumi se ralando um pouco).

- Sora, o que houve?! - exclamou a melhor amiga, começando a ficar aflita.

Ela parou, respirando agitadamente, Mimi segurando seus ombros. Patamon pairou no ar junto a ela, também ofegante.

- Eu não sei.... Gabumon sumiu...

- Sim, ele estava...agressivo - completou o pequenino digimon, suspirando.

Mimi trocou olhares com o namorado, quem franzia a testa, um tanto aturdido. Antes que ela dissesse alguma coisa, Takenouchi informou:

- Tai e Yamato foram atrás dele... Eu vim aqui para ver se poderiam ajudar em algo...

- Bem, Sora... poderíamos perguntar aos outros se não o viram em algum outro lugar, mas todos saíram por aí... talvez os rapazes o tenham encontrado, não deve ter ido muito longe. - opinou Izzy.

- Ei, vejam!

Patamon o interrompera. Uma intensa neblina rodeava os amigos, atrapalhando sua visão. Mimi tateava para ver se melhorava, mas foi em vão.

- O que está...

- Wormmon! - exclamou Sora.

Ken Ichijouji e Wormmon haviam voltado no momento em que a neblina começara. O digimon verde andava tontamente em volta da árvore, tentando encontrar os amigos.

- Bolha de ar! - gritou Patamon, usando o seu ataque para afastar a nuvem.

- Ah, Koushiro. - disse Ken, sentindo o braço do amigo - É você...

A névoa foi se dissipando lentamente, até que todos puderam se enxergar novamente. O grupo parecia notavelmente confuso e assustado.

- Ai, eu não estou entendendo nada! - bufou o digimon morcego - Coisas estranhas estão acontecendo e não eram pra estar acontecendo...

- O que foi essa, agora? - perguntou Ken.

- Não sei... uma neblina passageira?

- Talvez, Izzy. Não deve ser nada...

- Como, nada? Uma névoa aparece do nada? - desconfiou Sora - E além disso, os digimons estão desaparecendo...

- Do que está falando?

- Gabumon desapareceu, Ken - esclareceu Mimi - Matt e Tai foram procurá-lo.

- Bem, oras... - hesitou por um instante, olhando para cada um - O que isso tem de mais?

- Oh, céus! - suspirou Sora Takenouchi, já impaciente e nervosa - Não é só isso, ele estava estranhamente agressivo, foi o que disse Patamon. E também acho que Gabumon não foi o único a desaparecer... - terminou, fitando Koushiro.

O rapazinho a encarou no mesmo instante. O que estaria querendo dizer? Aquilo não era um simples incidente? Não, não poderia... Ele mesmo teve a loucura de pensar que tudo o que estava acontecendo era proposital. Que estavam sendo chamados até ali. Cada vez mais perguntas sem respostas entravam em sua cabeça e resistiam a sair... Tentomon...Tentomon! Será que ele também...não. Não era nada verdade, nada!

Ken Ichijouji ergueu a cabeça e avistou os amigos da Coragem e Amizade se aproximarem, caminhando com pressa. Izzy franzia a testa desesperadamente, suando, perdido.

- Não...não encontramos...ele sumiu mesmo - disse Taichi, sentindo-se impotente. Mantinha a cabeça baixa; estava cansado.

Yamato parecia preocupadíssimo. Não queria demonstrar nada, não queria deixar nada transparecer, mas bastava ver em seus olhos a tempestade que se formava.

Colocou as mãos na cintura e ficou a respirar devagar, organizando os pensamentos. O seu amigo havia desaparecido misteriosamente e não sabia o que fazer.

- Mas que droga...

- Calma, calma... vamos, gente, pode ser um ataque de rebeldia - disse Ken, tentando ser otimista. Aliás, otimista demais.

- Creio que não, Ken. - murmurou Matt Ishida, erguendo o olhar, depois encarando Sora - Quando voltamos ao estádio, Piyomon não estava lá...

A amiga não desviou o olhar; seguiu fitando Yamato.. sem piscar.

- Como assim ela não estava lá? Ela não havia ido com vocês?!

- Fique tranqüila, Sora... - disse Ishida, segurando suas mãos delicadamente - Nós vamos dar um jeito nisso...

A portadora do Amor olhou para Koushiro desesperadamente, como se ele soubesse todas as respostas para aquilo.

- Vamos, Izzy, diga alguma coisa! Oh, eu sabia.... - lamentou, tocando a testa - Gabumon não foi mesmo o único que sumiu...

Ninguém respondeu, nem mesmo o garoto gênio. Ficaram calados, acreditando internamente no que Sora havia dito, mesmo parecendo ser um pouco impossível.

Izzy Izumi sentia como se seus pensamentos fervilhassem. Se antes suas idéias já o estavam deixando louco, agora tudo piorara. Ele tinha que pensar, ele precisava pensar... ou talvez... não. Ele não precisava pensar. A resposta poderia estar na ponta da sua língua, apenas deveria se organizar.

- E...os outros, onde estão? - perguntou Tai, quebrando o silêncio.

- Ali - apontou (imediatamente) Mimi para Daisuke, Yolei e Cody, que vinham andando até a árvore. Sem os digimons.

- Parece que os outros já estão chegando ao ponto de encontro oficial da excursão... - murmurou Ichijouji, desanimado.

Daisuke discutia coisas ininteligíveis, enquanto Iori tentava acalmá-lo e Miyako vinha atrás deles, se enxugando - estava encharcada.

- Ei, o que está havendo? - gritou Taichi, acenando para os três.

A sra. Ichijouji passou os rapazes um pouco aborrecida e chegou até o local do piquenique, aonde estavam os demais.

- Davis está gritando até agora...

- Yolei, o que houve? Está toda molhada! - exclamou Ken, indo o encontro da esposa.

- Não foi nada, querido - respondeu, beijando-o - Só uma brincadeirinha....

Ele a abraçou, querendo reconfortá-la:

- Onde estão os digimons?

A moça separou-se um pouco de seus braços para fitá-lo por um breve tempo, depois sorrindo meio sem graça:

- Pensei que estivessem por aqui.

Ken e os amigos se entreolharam por um momento, mesmo assim surpresos. Começaram a ficar mais aflitos.

- Não, Miya... eles não estão aqui.

Ela virou-se pausadamente e pousou os olhos em Davis, que continuava inquietante. Cody Hida o segurava, apertando seu braço.

- Daisuke... eles não estão aqui - avisou, com uma serenidade incrível, erguendo as sobrancelhas.

Ele a olhou, nem sério nem assustado. Depois voltou a ficar com a sua expressão irada, virando o rosto:

- Eu é que não entendi! Estávamos brincando, eles pulavam em cima de mim feito loucos - sorriu, fazendo uma pausa - E de repente: PLUF! Desabaram no chão, exaustos... ficaram quietos um tempão.

Davis não parecia saber o que dizia.

- Não viram pra onde foram, viram?

- Não, Sora... depois fomos "resgatar" Yolei. Estávamos perto da floresta. - disse Iori.

Yamato e Taichi Kamiya se olharam de relance ao mesmo tempo, como se suas mentes fossem dois ímãs.

A floresta...

A floresta.

- O que importa? Essa árvore é o nosso ponto principal, daqui a pouco eles aparecem - finalizou Davis, desabando na grama.

Izzy soltou umas risadinhas nervosas:

- Acho que não, Motomiya... Piyomon e Gabumon também desapareceram... e não foi uma brincadeira de esconde-esconde.

Daisuke virou-se até eles e caminhou o olhar pelo grupo, erguendo as sobrancelhas. Parou em Patamon, até então quieto, batendo as asinhas graciosamente.

- Patamon é o único deles que está aqui...

Mimi e Ken, assim como os demais, olharam para trás e para os lados. O rapaz tinha razão. Palmon e Wormmon haviam sumido bem debaixo de seus narizes.

- Onde estão? Onde estão?! - gritou Mimi, voltando-se histérica.

- Tarde demais... também sumiram - bufou Ichijouji, socando o punho no tronco da árvore.

- Como, se não vimos nada?!

- Eu não sei...como num passe de mágica - disse Yamato Ishida - Talvez tenhamos nos distraído demais.

- Mas que droga! O que é isso, afinal?

- Acalme-se, Motomiya... isso só vai piorar as coisas - ordenou Tai, tentando se posicionar. Até o momento não havia relacionado Agumon com os acontecimentos...

- Me acalmar? Nós viemos para um pacífico piquenique, depois de tantos anos, e os digimons começam a desaparecer misteriosamente... como querem que eu fique?! É só nos reunirmos novamente que coisas estranhas aparecem!

Nos chamaram....nos chamaram até aqui...

Fizeram um breve silêncio. Era horrível, mas ele tinha mesmo razão. Não vieram para se preocupar, somente para se reunirem como bons amigos, mas algo totalmente novo estava sucedendo. Os digimons estavam sumindo, tinham que admitir, não era nenhuma brincadeira.

- E o digivice? - perguntou Cody.

Kamiya estalou os dedos e pareceu iluminar-se:

- Mas é claro! O digivice, ainda não tentamos.

O rapaz procurou o aparelho no bolso da calça e o deixou à vista de todos. Segurou-o firme em sua mão, porém não reagia de nenhuma forma. Parecia até...quebrado, talvez. Mas não estava.

- Não aconteceu nada... - murmurou Sora, decepcionada.

- Parece que o vento não está a nosso favor... - completou Mimi, um pouco mais nervosa.

Taichi Kamiya olhou com seriedade para Patamon, que na altura do campeonato estava amedrontado e nervoso.

- Patamon, não saia de perto da gente, tudo bem?

O digimon assentiu para o líder.

Izzy caminhou discretamente até a árvore e abaixou-se para pegar seu laptop amarelo. Parecia ter se tranqüilizado um pouco desde que começou essa história toda, mas havia algo preso em sua garganta. Se esquecera das suas suposições, ou talvez mais uma dúzia delas tenham entrado em sua mente para perturbá-lo...

Mimi aproximou-se receosa do namorado:

- Koushiro... eu sei....você sabe de alguma coisa, não é?

Ele virou-se até ela e sorriu docemente, acariciando seus cabelos:

- Espere um pouco. Preciso verificar algo antes de falar...

Sentou-se na sombra debaixo da árvore e ligou o computador. O computador....sim, era ele que tinha as repostas para tudo. Sempre fora assim.

- Pessoal... - chamou o jovem do Conhecimento - Preciso falar um coisa.

Os demais se viraram no mesmo instante. Lá estava o nosso querido gênio, sentado e teclando calmamente em seu computador portátil, a cena mais comum do mundo. Mimi estava do seu lado, olhando curiosa para a tela. Os outros foram se ajeitando em volta dele.

- O que foi? - perguntou Matt.

- Tenho novos ícones aqui... - disse, ainda teclando, sem desgrudar os olhos do laptop - Lembram-se do medalhão?

- Ah, não, essa história outra vez? - renegou Ken, levantando-se subitamente. - Deixe isso com o CITD, nós estamos enrolados com outra coisa agora!

- Espere, Ken... vocês sabem que haviam 12 pedras de cristal trabalhadas nesse objeto, não sabem?

Izumi olhou para cada rosto pensativo, fixo em seus olhos. Todos assentiram.

- Como assim, haviam? O que está querendo dizer? - perguntou Tai, interessado.

- O que estou querendo dizer é que... 9 pedras sumiram.

Silêncio arrebatador. A maioria dos digiescolhidos franzia a testa, não compreendendo bem o que o rapaz acabara de dizer.

- Como que sumiram? Pedrinhas não somem do nada, Izzy...

Mas estava ali, na tela do laptop, a metade de uma medalha com apenas 3 pedras. Nem sinal das outras.

- Eu sei, Miyako, sei que parece uma grande mentira! Algo impossível de acontecer... mas é o que está acontecendo. Essa relíquia foi encontrada há pouco tempo, está sendo estudada... vejam! Ninguém arrancou as pedras. Não há nenhum tipo de marca, ou algo assim... estava bem vigiada.

- E....qual seria a explicação que existe? - perguntou Sora Takenouchi.

Koushiro bufou e respondeu, sacudindo a cabeça:

- Nenhuma... o CITD não sabe de nada....

Ficaram quietos outra vez; alguns suspiros... Aliás, não tinham nada mesmo para falar.

- Tem uma espécie de vídeo programado para monitorar o departamento onde está a medalha....melhor dizendo, metade dela. - explicou Izzy, apontando para a tela - Eu posso aumentar o zoom... e podemos saber o que está acontecendo neste exato momento.

Terminou. Fitou cada um dos presentes, esperando uma resposta, esperando uma reação... todos o olhavam com o rosto sério, um misto de preocupação.

- Pessoal... vocês não vão falar nada? Não sabem o que estão acontecendo?!

- Acho que sim, Izzy... - murmurou Sora tristemente, abraçando a si mesma, sentada na grama.

- Espere, Koushiro - ordenou Yamato, levantando a mão e dando uma olhada para o lado - Jyou e meu irmão estão vindo...acho que Kari vem atrás.

TK e Joe Kido vinham em direção aos demais, parecendo exaustos, caminhando devagar. Hikari estava um pouco atrás, junto de Tailmon. O portador da Esperança carregava o seu chapéu na mão, amassando-o nervosamente....

- TK! - gritou Patamon, voando ao encontro do companheiro.

- Patamon, você está bem... - aliviou-se, tomando o pequenino consigo - Não conseguiu encontrar Gabumon?

O digimon levantou o olhar triste até Takeru e disse:

- Nem Gabumon....nem os outros....

Takeru Takaishi ergueu a cabeça até a imensa árvore e os seus amigos, todos o observando, esperando sua chegada. Mas nenhum digimon estava presente.

- Todos sumiram? Foi isso, Patamon?! - exclamou, exaltado repentinamente.

- Sim...misteriosamente... - choramingou.

Olhou para Joe, este rangendo lentamente os dentes, nervoso e assustado. Empurrou os óculos para o nariz.

- Vamos até lá, Takeru. - disse, avançando.

Parou em frente aos outros digiescolhidos, todos sentados, parecendo quietos demais. Preocupados demais...

- Não precisa falar nada... andaram procurando por Gomamon, não foi? E ele sumiu.... - se adiantou Daisuke.

Jyou hesitou por um instante.

- Vocês podem... me explicar... o que está acontecendo? - perguntou, enquanto TK, Patamon, Tailmon e Hikari chegavam e ficavam ao seu lado.

- Mais uma... - murmurou Koushiro Izumi, em um tom de voz quase imperceptível, olhando fixamente para a tela do computador.

- O que disse, Izzy?

- Mais uma pedra... desapareceu...

Todos se voltaram até ele, surpresos.

- A pedra de Gomamon sumiu... - suspirou, voltando a si - Só restam duas.

- Mas que droga, me falem logo de uma vez! Que pedra é essa? - gritou Joe, ficando histérico. Pobre Joe... ainda não conseguia controlar o seu nervosismo.

- Venham aqui, vocês três - chamou Izzy.

Contou a eles até onde sabia. Kido ficava cada vez mais nervoso, TK e Kari mais assustados...

- Como isso é possível?!

- Joe, dá pra ficar quieto? - rogou Yamato, impaciente.

- Eu sou mesmo um burro....um idiota! Como não percebi antes?

- Não é sua culpa, Koushiro! - disse Mimi - Não quer dizer que uma medalha que tenha 12 pedras tem a ver conosco...com os 12 digimons...

- Não até que elas comecem a sumir.

- Eu não acredito, isso não está acontecendo! É ridículo! - exasperou-se Cody, mas sem perder a sua majestosa serenidade.

- Infelizmente, está... - murmurou Taichi Kamiya - Outra vez estamos juntos e uma aventura nos une - sorriu fugazmente, fechando os olhos - O que acontece é que essa medalha tinha mesmo algo a ver com os digiescolhidos. Quando uma pedra some, um digimon some... mas ainda restam Patamon e Tailmon. Izzy, isso quer dizer que Agumon e Tentomon já desapareceram.

- Sim, é claro... - disse, levantando-se - Isso explica o porquê de ele estar frio e distante ontem, Agumon estranho....

- E Gabumon, agressivo... - completou Yamato Ishida.

- Sim... pelo que parece, essa medalha ou seja lá o que for, faz os digimons reagirem de diferentes maneiras.

- Precisamos fazer alguma coisa, e rápido - disse Kari, parecendo um pouco abatida.

Fizeram um breve silêncio.

- Acho que devemos sair do Digimundo - sugeriu Ken - Talvez possamos proteger melhor Patamon e Tailmon, antes que aconteça alguma coisa com eles também.

- TK...eu não quero desaparecer...

- Pode deixar, Patamon...vamos fazer o possível - tentou animar o companheiro, acariciando-o.

Hikari e Tailmon se olhavam fixamente, com a certeza de que uma força sobrenatural e uma luz as guiavam, aonde quer que estivessem. Juntas ou....separadas.

A digimon gato parecia estar envolta por um véu de luz que ficava fraco a cada instante... como se fosse sua energia. No entanto ninguém parecia notar muita coisa, com o alvoroço que se formava.

Um apito estridente assustou a todos. Taichi vasculhou em seu bolso e tirou seu digivice, que parecia reagir de uma forma bastante distinta do normal.

- Ei, vejam! - chamou.

O digivice chiava roucamente depois do apito, parecendo uma interferência de televisão. Exatamente como nas televisões espalhadas pelo Mundo Digital, onde se abriam portais. Os demais pegaram seus digivices e confirmaram: todos reagiam das mesma forma.

- Que esquisito... nunca ficaram assim - disse Yolei, guardando o aparelho.

- Patamon! O que está havendo?! - gritou Takeru, exaltado, virando-se para o amigo voador, assim como os demais.

O digimon morcego parecia estar ficando acizentado cada vez mais. Fechava os olhos desesperadamente, como se estivesse ouvindo um som ensurdecedor.

- TK!! O que é isso?!

- Eu não sei! Mas espere... - terminou dizendo, tentando segurar Patamon, porém foi em vão. Seus dados digitais estavam se tornando invisíveis.

- Mas que diabos...

Tarde demais. Os dados de Patamon se desgrudaram de seu corpo por completo, e ele desapareceu...

- Patamon! Patamon!! - gritava TK, olhando para todos os lados tentando achá-lo - Onde você está?!

- Eu não acredito que ele sumiu na nossa frente!

Yamato aproximou-se do irmão menor para tentar acalmá-lo.

- Não adianta, Takeru... ele sumiu, precisamos dar o fora daqui.

- Mas o quê, o que vamos fazer? - exclamou Kari.

- A única pista que temos é a metade dessa medalha! - disse Iori.

Koushiro desligou o laptop e o acomodou nas costas, feito uma mochila, como sempre fazia.

- Acho que já perdemos tempo... vamos embora, ainda há uma pedra.

Todos concordaram, meneando a cabeça. Mimi se apressou em recolher as coisas do piquenique, enquanto os demais já carregavam suas mochilas.

Evitaram falar entre si, para causar menos aflição. Hikari carregava Tailmon no colo, protegendo-a contra tudo. Vigiava os lados, atrás, observando cada ruído... ela, a última pedra, a última chance. Tailmon sentia que sua energia se tornava fraca, assim como o pequeno véu de luz que a envolvia.

Voltariam para a Terra em um portal não muito longe dali, próximo a uns arbustos fluorescentes, de onde todos vieram. Ergueram os digivices - ainda chiando -, apontando-os para a tela da TV. Nem mesmo a extrovertida Miyako tinha ânimo para mais uma de suas facetas. Melhor, ninguém tinha...estavam a um passo de regressar ao Mundo Real e, se tivessem sorte, com a digimon da Luz sã e salva.

- Fiquem atentos....todos! - avisou Ken, com o olhar sério.

Uma luz potente saiu de dentro da televisão e cobriu os digiescolhidos presentes, transportando-os para bem longe.

***

Todos pareciam intactos, em volta de um banquinho da praça principal de Odaiba.

O pôr-do-sol trazia os belos raios alaranjados que clareavam as pequeninas árvores que rodeavam o lugar; apenas algumas pessoas passeavam por ali, especialmente babás com carrinhos de bebês.

Os escolhidos conseguiram transportar-se para o mesmo lugar, próximo à praça. Um dos muitos computadores que ficavam praticamente "grudados" aos estabelecimentos onde as pessoas podiam entrar no Digimundo.

- E eu pensando que Agumon estivesse bem, em casa....comendo as suas melancias... - murmurou Taichi, perdido no vento.

Os amigos lhe ofereceram o mais reconfortante sorriso que puderam, depois daquela tarde tumultuada.

Izzy estava sentado no banco, acomodando o laptop em sua pernas cruzadas para ligá-lo mais uma vez.

- Eu sinto... - começou Kari, estranha, suspirando e dirigindo o olhar para sua digimon - que Tailmon não está bem...

Várias cabeças se voltaram para a pequena. Tailmon parecia exausta, enfraquecida, com os olhos entristecidos. O véu de luz aparecia e desaparecia esporadicamente. Não precisavam questionar, acreditavam em Kari plenamente quando esta se voltava misteriosa. E bastava ver a cena.

- Você também não me parece bem, meu anjo de Luz - disse Takeru, abraçando-a docemente.

- É a energia de Tailmon que está se apagando... e a minha também. Eu sinto! Entende...?

Ele a beijou na testa, apaixonadamente. Sim, mas é claro que a entendia!

Minha Kari, eu não sei ao certo o que está havendo, mas....farei o possível para remediar essa situação. Também sinto que o nosso tempo é curto... mas precisamos fazer alguma coisa!

- Mana, está tudo bem....Tailmon está aqui conosco - disse Tai, passando a mão pelos seus cabelos canela.

Fizeram um breve silêncio antes de Koushiro Izumi iniciar.

- Primeiro temos que nos organizar.... de nada adianta agirmos por impulso - disse, olhando rapidamente para seu amigo Tai.

Era apenas um olhar que sempre lançava a ele. Sim, era verdade, Taichi agia muito sobre impulso quando liderava o grupo, mas mudara extremamente durante os anos. Podia ser um brincalhão e, na maioria das vezes, um pouco imaturo, mas se tratando de manter a paz no Digimundo ou ajudar os amigos ele sempre estava pronto a agir com seriedade.

- Eu sugiro que fiquemos todos juntos - disse Davis - Juntos... precisamos agir com calma e precisão....até captarmos mais informações.

- Sim, Motomiya tem razão...é a melhor coisa a fazer - concordou Matt.

- Lá em casa....podemos todos ficar - opinou Ken Ichijouji, depois fitando a esposa - Não é, meu amor?

- Oh, sim, claro! É o melhor lugar para permanecermos juntos e o tempo todo reunidos.

Os amigos viraram-se para Ken com um olhar de gratidão e um pouco de alívio.

- Obrigado - disse Tai.

- Perfeito. Uhhf... - levantou-se Izzy, ajeitando as costas - Agora nós...

- Espere! - interrompeu-o Hikari - Tailmon...o que há? Você não pode ir justo agora!

A digimon gato parecia aparecer e desaparecer em frações de segundos... o mesmo véu luminoso que a cobria não possuía mais forças, fazendo com que ela ficasse com a energia cada vez mais fraca.

- Sinto muito, Kari....eu tenho que ir...

- Não! Espere, Tailmon... - rogou a moça, tentando tocá-la, mas sua mão a transpassava como se fosse um fantasma. - O que está acontecendo?

Os demais permaneceram em seus lugares, alguns abaixaram a cabeça....sim, sabiam que não restava alternativa. O esforço de Kari seria em vão... Tailmon iria desaparecer como os outros digimons e a eles cabia a missão de trazê-los de volta - onde quer que estivessem.

Os dados digitais de Tailmon evaporaram.

Ali ficou Hikari Kamiya, ajoelhada no chão, com os olhos cheios de lágrimas. Se sentia incapaz....terrivelmente incapaz!

Seu irmão se apressou em levantá-la dali, enquanto Takeru apertava sua mão em sinal de apoio e compreensão.

- Isso ia acontecer, inevitavelmente... - murmurou Joe, quebrando o silêncio.

- Não podemos ficar assim... temos que agir logo. - disse Matt, parecendo exaltado.

Koushiro abriu seu laptop (ao parecer, pela última vez naquela praça) e teclou algumas vezes; o único ruído presente entre eles por uns minutos.

- A última pedra se foi...

- Sim, Mimi... eu gostaria de saber o que vai acontecer agora - disse Cody, tocando o queixo.

Izzy desligou o computador e olhou para os digiescolhidos, parecendo não estar muito admirado.

- O que há agora, pessoal.... é que a medalha desapareceu do CITD.

O encararam. Era difícil definir a expressão em seus rostos... assombro, surpresa, preocupação, aflição, incredulidade....ou um misto disso. Mas fizeram silêncio.

Continua...

N.A: me desculpem a demora, pessoal... não acho que fiquei plenamente satisfeita com esse capítulo, mas ao menos me conformei. O que acharam? Quis colocar algumas informações para a trama já ir se encaminhando para o tema central, e creio que vou ter um trabalhinho a mais no próximo capítulo... são muitos personagens, muitas peculiaridades, enfim... vou me esforçar ^-^

Queria agradecer também a todos aqueles que me mandaram reviews e que me apoiam e animam a continuar esse fic. OBRIGADA PELAS MENSAGENS!!!!

Finalmente, abraços

Manu