Notas iniciais: aqui estou eu, trazendo mais um capítulo de Pólos Opostos! Demorei um pouco para finalizá-lo, tudo culpa do colégio, provas e tal... @_@ Espero que a Motoko não fique chateada por causa do tamanho....hihihihi.
Esta é uma parte importante da história, peço para que leiam com carinho e concentração .^.^.
Ah sim, Digimon e seus personagens não me pertencem, eu só escrevo porque gosto ;_; (às vezes esqueço de pôr isso...)
- Capítulo oito -
Coragem e Amizade
Por Manu
"Um amigo é uma alma em dois corações"
-- Aristóteles
Mas que droga.....queimou, pensava Taichi Kamiya, enquanto soprava a salsicha.
Os melhores amigos continuavam encostados no tronco de limo, com uma fogueira à frente deles. Tai apertava tontamente a salsicha - enfiada em um graveto - para analisar o estrago.
- Coma, Tai, uma salsicha carbonizada até que não deve ser tão ruim... - disse Matt, até então quieto, com um sorriso tímido e atrevido no rosto. Esperava calmamente o seu "jantar" ficar pronto...
- É....acho que não - respondeu o amigo, olhando para a carne quase negra, não gostando muito da idéia.
- Aliás... de onde você tirou essa lata? - perguntou Yamato, afastando a salsicha corada do fogo, pronta para ser devorada.
- Na cozinha dos Ichijouji. Motomiya e Mimi estavam preparando chá, a lata estava em cima da mesa e.... pensei que não fossem se importar.
Matt balançou a cabeça, rindo discretamente.
- Bom.....e não vão mesmo.
Tai sorriu. Pensou que Yamato fosse reprová-lo, ou talvez... não falar nada. Besta! Não importa... ele não iria dizer aquilo, ao menos. Mordeu a salsicha, sem se importar de tê-la queimado.
- Temos que fazer alguma coisa, Kamiya... penso que não podemos perder muito tempo.
- Eu sei - disse o portador da Coragem, fazendo uma pausa - Acho que somos só nós dois aqui, amigo... e vamos conseguir, pode apostar.
Ishida sorriu tristemente. Sabia que Taichi queria animar, mas sua missão ali nem havia começado. Por mais que soasse simples, não o era. Decifrar um enigma foi o que disse Gennai, mas o resto teriam que descobrir; afinal, como achariam o enigma?
- Me preocupo com os outros também... onde estarão? Como estarão.... - refletiu o dono da Amizade, fitando a fogueira.
- É claro que eu também me preocupo! Mas não podemos ficar pensando nisso agora... iremos encontrá-los depois que sairmos daqui.
Os dois não falaram mais nada. Um imaginava o que o outro estava pensando... se estavam os dois jogados naquela zona, não poderiam estar 3 digiescolhidos em cada. Se Sora estivesse com eles também...Sora... não iríamos nos preocupar tanto.
Um ruído leve e fugaz foi ouvido pelos amigos, que ficaram mais assustados ao perceberem que uma flecha acertara a lata de salsichas.
- Santo Deus, de onde veio isto?! - exclamou Tai, recuando para trás espontaneamente.
Matt levantou-se rapidamente e deu uma olhada à sua volta, tentando localizar alguém.
- Como uma flecha aparece assim? - perguntou-se, aflito. Não viu nada.
- Melhor apagar essa fogueira - Taichi Kamiya murmurou, pegando o cantil de água e derramando um pouco sobre o fogo.
Ficaram em pé, parados, com a floresta voltando à sua semi-escuridão. Estava tudo novamente silencioso, o que os deixava ansiosos e atônitos.
- Não adianta muito... ainda há alguma claridade.
- Não me lembro de nenhum digimon que atira flechas.... - murmurou Tai, olhando para a que estava agarrada na lata.
- Não estamos no Digimundo, esqueceu? Não deveria haver nenhum deles aqui.... não entendo.
Outra vez o leve soar de uma flecha sendo lançada. Acertou o chão, a poucos centímetros dos pés de Taichi Kamiya.
- Se é um digimon ou não, com certeza não foi muito com a nossa cara - balbuciou o rapaz, recuando e apanhando as mochilas.
- Vamos sair daqui.
Yamato acomodou a sua no ombro e seguiu o amigo por entre as árvores. Continuavam com seus gestos sérios e decididos, porém suas mentes se perguntavam a cada instante que diabos estava havendo. Caminhavam com passadas rápidas e ágeis, permanecendo o máximo possível atrás dos troncos, mas nada aparecia.
- Estão querendo nos assustar...
Não terminara de falar quando subitamente uma flecha aprisionou Matt e a alça da mochila na árvore, fazendo Tai saltar de susto.
- Querem nos matar! - exclamou, puxando o detentor da Amizade com todas as forças, começando a ficar desesperado.
- Tudo bem comigo, a mochila de primeiros socorros é que ficou presa... - disse Ishida, quando conseguiu, o coração saltando pela boca.
A flecha conseguira prender a bolsa no tronco com tal intensidade que nem os dois juntos conseguiam arrancar. Estavam ofegantes, com o nervosismo tomando presença.
- Esqueça, vamos correr! Se ficarmos aqui tentando não teremos chance, Matt.
- Certo.
Os amigos começaram a correr desesperadamente, tentando se livrar de todas aquelas árvores e encontrar algum lugar onde pudessem enxergar melhor... um abrigo, talvez. Longe de flechas. À medida que se afastavam, conseguiam escutar os mesmos leves ruídos. Taichi virou a cabeça para trás e se apavorou ainda mais ao ver várias flechas douradas sendo atiradas em sua direção.
- Não olhe pra trás! Apenas corra! Talvez tenhamos sorte...
- Quem está atirando?! Quem?
- Não sei, mas... veja, ali na frente! - gritou o antigo líder, desviando-se de uma flecha à sua esquerda (e tantas outras apenas acertavam as árvores).
A trilha envolta por árvores parecia estar abruptamente interrompida, como uma folha de papel rasgada, onde o desenho não tem continuação. Ao menos o céu saíra de seu esconderijo e permitia-lhes saber que o sol estava se pondo...
- E agora?
Taichi girava a cabeça, um pouco perdido. As flechas pareciam ser atiradas cada vez menos, mas os dois continuavam a correr, esperando que o firmamento desabasse e os cobrisse de uma vez.
- Bom.... pulamos!
Yamato sequer questionou sua decisão. Não havia como pensar muito naquela situação e naquele momento. Não queriam descobrir o que poderia acontecer se parassem repentinamente a correria. O fim da linha já estava por chegar quando os amigos pularam de um grande salto e apenas puderam sentir poeira e folhas colando em seus rostos, o solo duro se chocando contra eles.
Ah, um barranco, graças a Deus... , pensou o diplomata, rolando ladeira abaixo. Sentiu uma dor horrível na perna direita ao bater em uma árvore - mais uma - que estava no caminho. Aaahh....pelo menos parei.
Uma flecha caiu ao lado de Matt Ishida, caído de costas na grama. Sentou-se com dificuldade, olhando o melhor amigo segurar a perna com uma expressão de dor no rosto.
- Tai... algo grave?
Ele negou, sacudindo a cabeça com firmeza e apertando os lábios. Mais um flecha, rápida e repentina, acertou a árvore próxima deles.
- Droga, isso não vai parar? - gritou Matt, enojado, apertando os punhos com força. Já não pareciam tão ágeis e a queda os debilitara o bastante para não conseguirem correr.
- Estavam parando quando caímos... precisamos sair... - Tai tentou se levantar com esforço, quando viu mais uma raspar o chão.
O jovem astronauta jazia ajoelhado entre as folhas secas, olhando fixamente para o ponto de onde saltaram. Ergueu a cabeça até a árvore... alguma coisa brilhante, amarela, podia reluzir. Fitou Taichi com os olhos angustiados e voltou até o outro ponto. Kamiya ainda tentava levantar-se, quando Yamato se encheu de coragem e reuniu suas forças para se jogar até ele, empurrando-o.
- Saia daí, Tai! - gritou.
Em um caleidoscópio rápido de movimentos, Tai rolou mais uma vez, e a coisa brilhante disparou da árvore.
Era como se uma música parasse de tocar bruscamente e tudo ficasse em silêncio, um silêncio tão perturbador que o enchia de desespero. Um desespero que o deixava sem ações, que engolia sua mente e seus sentidos. Taichi Kamiya levantou-se com dificuldades e ficou estático ao perceber que seu melhor amigo fora atingido no peito, um pouco abaixo do ombro, por uma das flechas douradas. A última a ser lançada se fincou na árvore.
Não era possível, não passava de uma mentira! Aquilo tudo não podia existir de verdade.... Matt pressionava sua mão contra o peito e apertava os dentes, enquanto Tai continuava parado, sentindo que seu interior estava completamente vazio. Queria fechar os olhos e fingir que nada disso acontecia.
- Tai...Tai, me ajude....
Yamato fazia um esforço enorme para falar, apertando os olhos, respirando com dificuldade. Taichi parecia ter saído de seu transe após ser despertado pelo pedido do amigo e correu para ficar ao seu lado, de joelhos.
- Matt, seu idiota! O que você fez?! - gritava, suportando a terrível visão do sangue escorrendo pela camisa - Não tinha que me empurrar! Não tinha!
Agarrou a mão do amigo e apertou forte. Não, ele não ia fraquejar em uma hora dessas... Maldita missão, maldita seja!
- Cale essa boca.... e me ajude um instante.... - disse Matt. Não queria assustá-lo mais do que já estava.
Com a mão direita, Ishida arrancou a própria camisa rapidamente, rasgando-a, e jogou para Tai. Oh, meu Deus amado..., pensou, ao ver o objeto encravado em seu corpo.
- Tai, por favor, tire a flecha.
Ele olhou hesitante para Matt. Sofria por não saber o que fazer ao certo... Onde está a sua firmeza, Taichi Kamiya?! A sua coragem...Onde? Aquele que sempre tomava as decisões com segurança, guiava o grupo e, principalmente.....que sabia o que estava fazendo! Ou ao menos acreditava... é o seu amigo que te salvou agora; reaja!
Tai respirou fundo e enrolou a camisa branca de Yamato, depois torcendo-a.
- Tudo bem?
Matt assentiu com a cabeça, cerrando os olhos.
Kamiya colocou a camisa amarrotada na boca do amigo, que a mordeu com todas as forças. Taichi apertou os olhos, suspirou e, sem querer parar para pensar mais, puxou a flecha forte e fugazmente, fazendo Ishida soltar um urro abafado. A jogou longe, não querendo deparar-se com o que veria.
O jovem da Amizade franzia a testa inquietamente, mexendo-se, mas aliviado por estar livre do objeto que o atingira. Uma fraqueza o tomou de repente, seus olhos ficavam pesados... parecia querer desmaiar.
- Matt! Matt.... você está bem? - perguntava o melhor amigo, levantando sua cabeça, apoiada em sua mão.
- Acho...que sim... - sussurrou, ainda de olhos fechados.
- Agüente firme, por favor... não fraqueje...
Yamato já não mais respondeu. Sua respiração estava lenta, os olhos tranqüilamente cerrados como em um sono profundo. Movido por um impulso, Taichi o levantou com certo esforço, apoiando-o em seu ombro. No outro estavam as mochilas.
- Vamos sair dessa, não vamos? - perguntou, mais para si mesmo do que para ele.
E começou a descer o resto da trilha de folhas secas, os pés de Matt sendo arrastados entre elas.
Parte II
Não sabia há quanto tempo estava ali. Apenas abriu os olhos e percebeu que estava deitado no chão, dentro de uma espécie de gruta. Tentou erguer a cabeça e viu que a ferida estava coberta pela sua própria camisa - curiosamente molhada -, enrolada e amarrada no ombro. Mas ainda assim doía muito. Sua cabeça pesava, se sentia tonto e um tanto fraco... Não posso me mexer muito...., pensava Matt Ishida. Não consigo pensar direito, minhas forças sumiram...
- Matt! Acordou.... - disse Taichi, surpreso, depois levantando-se do chão.
O jovem digiescolhido havia aberto as mochilas e organizado os utensílios que iriam precisar mais adiante. Ao certo Tai não sabia muito o que fazer, agora que Yamato estava ferido. Que rumo tomariam? Ainda não cumpriram a sua missão e sequer sabiam por onde começar. O amigo também não poderia ficar naquele estado.
- Tai... - sorriu Ishida, roucamente.
Kamiya sorriu de volta, aliviado, depois olhando para a camisa que cobria a flechada.
- Achei essa caverna ao descer... ali fora tem um lago. Deu pra encher o cantil e lavar a sua camisa, que não estava lá essas coisas! - alegrou, fazendo uma pausa hesitante - Você está melhor?
- Hum... acho que melhor do que antes. Estou tonto...
Taichi o fitou tristemente, temendo as palavras do amigo. Parecia tão fraco! Estava pálido, o olhar distante, a respiração irregular... como queria que nada disso estivesse acontecendo! Desejava do fundo da alma que pudessem estar em casa, todos reunidos, como naquele velho encontro e jogando conversa fora... com os digimons juntos. Oh, e se sentia tão culpado por aquilo...
Agachou-se até junto de Yamato, se sentando em cima das pernas. Parecia nervoso, com medo do que poderia acontecer, de toda aquela tensão e melancolia.
- Eu... levei um susto depois que você desmaiou ... -- começou, falando pausadamente - A bolsa de primeiros socorros podia estar aqui agora. Seria tão mais fácil!
Matt assentiu com o olhar, mas não parecendo se importar muito com a bolsa. Sorriu timidamente.
Tai se calou por um instante, voltando naquele silêncio angustiante; virou-se para o lado, não querendo encarar o melhor amigo, sentindo-se a pior pessoa do mundo.
- Ah, droga....me desculpe - resmungou, com voz cortada - A culpa foi toda minha! Se não fosse por mim, você estaria bem...
- Tai! Não diga besteira... - o portador da Amizade quis repreendê-lo, mas não conseguia. O que falava não era mais do que um murmúrio. - Você....
- Eu.... teria feito o mesmo por você, não é?
Kamiya, da Coragem, virou o rosto para ele, com um sorriso reconfortante. Os dois tinham os olhos cheios d'água.
- Veja... você me trouxe até aqui sozinho, Taichi... com a perna machucada...
- Era o mínimo que eu podia fazer! Você é meu amigo - retrucou - Além disso, nem está doendo tanto..
Yamato tentou rir, tossindo um pouco. Encostou a mão no peito, sentindo novamente a dor invadi-lo. Taichi apertou a mão do rapaz para dar-lhe forças, enquanto finalmente uma lágrima escorria pelo seu rosto.
- Eu não esquecerei o que você fez por mim, Matt... foi uma atitude muito nobre.
- Também não vou... esquecer o seu... esforço por mim. Somos amigos... não somos?
- Claro que sim! Verdadeiros amigos - sorriu, orgulhoso, fazendo uma pausa - Ora, até parece que falamos como se...
Yamato não respondeu. Seu corpo trêmulo e sua respiração irregular deixavam Kamiya ainda mais preocupado e aflito.
- Estou... tonto...
- Eu sei... você levou uma flechada, cara... - murmurou Tai. Cada palavra parecia terrivelmente devastadora - Matt... eu vou voltar, preciso pegar a bolsa de primeiros socorros.
- Não - pediu, segurando sua camisa - As flechas podem... voltar... é arriscado.
- Não creio que elas voltem... acho que o que queriam era ferir (matar) algum de nós. Elas pararam de ser lançadas depois que aquela atingiu você...
- Não sei...mas... o que importa agora?
Taichi suspirou e abaixou a cabeça, notoriamente confuso.
- E quem lançou elas? O que...por que queriam fazer isso?! - indagou tristemente - Não pode ser algum tipo de... obstáculo para não conseguirmos sair daqui vitoriosos!
Ishida escutava, calado e suando frio, o amigo se perguntar, apavorado com tudo isso.
- Precisamos sair e encontrar Joe, só ele pode tratar do seu ferimento - disse, fazendo menção de levantar-se - Acho que vou ver se encontro alguma coisa suspeita.
Matt fechou os olhos e engoliu em seco, enquanto uma lágrima traidora deslizava em sua bochecha. O mundo girava, girava e girava....
- Vá, Tai... eu sei que você vai... conseguir decifrar o enigma....ou seja lá o que for. E vai conseguir...sair daqui, eu sei.
Taichi virou-se e fitou o amigo, quem tremia superficialmente. Mas que diabos estava dizendo?
- Como assim, eu vou sair daqui? Nós vamos! O que está dizendo?!
O dono da Amizade negou com a cabeça lentamente, ainda de olhos fechados, a testa franzida:
- Me deixe aqui... por favor, vá... eu não poderei agüentar mais!
- Matt! O que há? Por que está falando isso? - exaltou-se Tai, aproximando-se outra vez.
Yamato Ishida abriu os olhos e agarrou a camisa de Taichi, ameaçador, fitando-o com o mesmo olhar firme e intenso:
- Escute uma coisa... já perdemos muito...muito tempo. Não sabemos o que pode acontecer... os digimons irão ficar... presos... Não vê como estou, Tai? Não posso te seguir... é você que tem... que ir atrás! É preciso ser rápido...
E então largou a camisa, voltando a fechar os olhos e a suspirar. Tai o encarava totalmente surpreso, os olhos intrigados. As palavras do melhor amigo arrancavam as suas próprias naquele instante.
- Eu... não entendo, Matt. Você sempre foi forte, como pode pensar assim? Acha que não vou voltar? Sei que você está ferido, mas não pode desistir! Você é....um digiescolhido....
Sentou-se no chão, virado de lado para ele. Yamato deixava escorrer outra lágrima, apertando o punho contra o peito.
- Fazemos trabalho em equipe... e aqui somos só nós dois. Nós dois! E é juntos que vamos sair dessa. Talvez....talvez isso tenha acontecido justamente para te enfraquecer, para tentar nos impedir... e é por isso mesmo que temos que seguir em frente.
O rapaz não respondeu. Talvez o amigo tivesse razão.
- Matt... não se esqueça dos digimons, dos seus amigos... Gabumon! Pense nele! Quem o estará esperando depois de tudo? O que ele vai achar?
- Taichi.... não complique as coisas... não se trata mais de uma escolha...
O portador da Coragem virou seu rosto até ele, hesitante. Yamato não parecia nada bem... respirava ofegante, como se estivesse sugando todo o ar. Estava gelado.
- Eu vou ficar aqui... e você vai conti...nuar...
- Não, Matt! Você não vai morrer. - agitou-se Tai. Era a primeira vez que havia falado de morte... queria acreditar em seu coração, resgatar a esperança e a própria coragem.
Apertou novamente, com todas as forças, a mão do melhor amigo. Seus olhos enchiam-se de água; estava tenso e desesperadamente aflito.
- Matt.... amigo... não deixe que essa fraqueza tome seu corpo - pedia, com as palavras escorregando na sua língua - Estamos aqui, os seus amigos....o seu irmão...
- TK... me perdoe... isso é tão difícil... e Gabumon....- sussurrou, de olhos entreabertos.
Entretanto, Taichi lembrou-se de algo que o fez calar por um instante. Soltou um pouco a mão do amigo e depois o olhou, sorrindo:
- Não vai deixar a Sora aqui... vai?
- Ela....ela... - desviou o olhar, já bastante cansado - tem a você, Tai...
- Não... ela tem a você. Sora não pode perder o homem que ama...
Matt Ishida o fitou, admirado.
- Por que... está dizendo isso?
- Porque é a verdade - respondeu rapidamente, olhando para o chão - Eu sei quando ela olha pra você, Matt....quando fala o seu nome... e depois desse tempo todo...
- O quê? - indagava o jovem, sentindo como se o céu desabara - O que está falando? Por quê?
- Ouça... ela só não queria magoar ninguém.
Yamato o olhava fixamente, triste, finalmente não se importando mais com as lágrimas que caíam.
- Talvez ela nem saiba disso... apenas sente - continuou Taichi, encarando-o.
- Tai...
- Não estou dizendo isso por... pena, ou algo do gênero... mas uma hora você ia saber. E Sora saberá disso quando te ver, sendo carregado por mim.
Matt cerrou seus olhos azuis e suspirou. Sua cabeça pesava, tudo começava a girar em sua mente. O que quer, Tai? Acabar comigo desse jeito?
- Matt! É por isso que não deve se entregar... que seja por Sora! - disse, sorrindo, e fazendo uma breve pausa - E pelo futuro....
- Oh, céus... - sussurrou - ....se a escuridão... não invadir meus olhos....
- Acredite em você mesmo! Assim como estou com a sua amizade... eu te empresto a minha coragem.
Ishida esboçou um pequeno sorriso, fazendo as esperanças do melhor amigo se fortalecerem. Tai Kamiya levantou-se com mais ânimo e disse:
- Me espere, Matt, eu vou voltar... tenho certeza de que vamos encontrar os nossos companheiros.
Saiu da pequena gruta, com a certeza do triunfo, deixando o jovem astronauta deitado no chão. E o olhou, pela última vez.
--
O Lobo Branco
Eu sou um fraco! Um covarde, é isso mesmo o que sou...
O que sentiria um amigo, ao ver o outro prestes a ser atingido por uma flecha? O que faria? Uma amizade verdadeira o impulsionaria a fazer o mesmo que eu fiz...
Tento captar um pouco mais de luz em meus olhos... não quero que as trevas se espalhem! Não desse jeito, não assim....não mais. A Coragem de Tai, apesar de tudo, está impregnada em mim...e acho que deixei a minha outra parte com ele. Ao menos sinto que o que fiz não foi em vão... ah, jamais seria. Mas continuo sendo um covarde...
Odeio me sentir assim. Como se fosse a pessoa mais incapaz do mundo... o mundo... não consigo entender. Porque a culpa é minha! Eu posso sair daqui quando quiser. Mas não é fácil... essa fraqueza que tomou conta de mim não quer ir embora... um veneno que se espalha pelo meu corpo... estou só nessa imensidão e não há nada em que eu possa me apoiar. Porém, o que há de melhor nessas horas a não ser os amigos? Obrigado, Taichi... também sei que Gabumon e os outros digimons estão torcendo por nós, onde quer que estejam, como quer que estejam. Os nossos companheiros da alma, os digiescolhidos, também querem que todos triunfem juntos. E agora não pretendo decepcioná-los...
Foi com as suas palavras que me ajudou, Kamiya. E foi com elas que também me deixou perturbado... me falou de Sora... que por ela não devo desistir. Por quê justo naquele momento? Isso é verdade ou... tenho medo de pensar que não seja... foi apenas um pretexto para eu recuperar minhas forças? São coisas demais acontecendo e minha mente está confusa... Sora me ama? Realmente me ama?! Como um choque você me disse isso, amigo, e agora sofro em querer voltar.
Mais um motivo para querer sobreviver. Não importava se Sora me amasse ou não, continuaria sendo a minha melhor esperança. Mas agora... algo mudou... e é por ela. Ninguém tem culpa do amor... ninguém tem culpa de amar alguém... Eu não tenho, Tai não tem. E se Tai a ama como mulher...talvez nem ele saiba. Ao menos essa impressão me deixou desde que voltei ao meu velho lar... Mas seus corações sempre estarão unidos por um amor fraterno. Apenas desejamos vê-la feliz....
Faço um esforço para me levantar. Me apoio com as duas mãos, tentando me sentar... isso dói, como dói! Dói bem aqui dentro... Mas ao menos me recostar na parede da caverna foi suficiente. E Taichi disse que voltaria... agora quero mesmo que volte. Ah... acho que tenho um corte na testa, só agora reparei. Olho para baixo e vejo a minha camisa com uma mancha avermelhada cobrir minha ferida, meu cordão balançando no pescoço... Oh, sim, o meu cordão... com uma placa de metal pendurada. A placa com o meu nome e identificação, que ganhei naqueles tempos em que fui da aviação japonesa. Voar, eu nunca soube, mas esse sempre foi o meu desejo... além da música. É por isso que a minha gaita e esse cordão sempre me acompanham...
Yamato Ishida observava a pequena placa retangular, parecendo orgulhoso. Afastou os cabelos dos olhos e suspirou, mais tranqüilo e aliviado. Estava sozinho naquela gruta escura, com o silêncio predominante... porém, sentia a terrível sensação de estar sendo observado.
Esfregou os olhos e observou calmamente pelos lados, quando avistou um lobo parado à entrada da pequena caverna.
Recostou-se mais na parede, tomando um susto. Continuou a encarar o animal, que estava estático, olhando para Matt. Era um lobo branco, tão branco como a neve...sua expressão misteriosa era marcada por um par de intensos olhos que encaravam o rapaz.
Um lobo! Um lobo bem aqui na minha frente... , refletia Matt, sem desviar o olhar assustado. Não pode ser...estamos em uma zona que não pertence ao Digimundo e muito menos ao Mundo Real. Não pode ser verdade, aqui não existe vida... como esse animal chegou aqui? Só pode ser uma ilusão...
Ele fechou os olhos e suspirou, tentando afastar qualquer outro tipo de pensamento... Abriu-os novamente e olhou para a entrada. O lobo permanecia lá.
Não, não é uma ilusão... droga... o que está havendo agora?
Veio caminhando lentamente e com certa elegância, os olhos grudados nos do jovem astronauta. Yamato apalpava o chão ao seu lado, a procura de uma espécie de arma ou algo do tipo, sentindo-se ameaçado. Ficou estático ao perceber que o lobo estava a escassos centímetros de distância dele... respirava ofegante, a vista presa.
Agora eu vou morrer.... não há saída..., pensou.
Depois de um considerável momento de silêncio, Ishida pôde se acalmar. Respirou fundo e continuou a analisar o animal, que jazia com o mesmo ar misterioso. Parecia não ter intenções de atacá-lo... Naquele momento, Yamato sentiu uma paz enorme invadi-lo, uma sensação tão gratificante que o fez sorrir. Achava estranho aquilo... pôde ver que os olhos do lobo branco eram tão doces e azuis que pareciam querer acalmá-lo.
Ergueu a mão, na tentativa de tocá-lo, mas se conteve no meio do caminho. O lobo desviou o olhar pela primeira vez e abaixou a cabeça, repousando-a justamente no peito de Matt, ao lado do ferimento.
Mas...o que está tentando fazer?
Já não quis mais saber a resposta... fechou os olhos e se deixou levar por aquela sensação de estar flutuando no nada... uma coisa divina... suas forças voltando. Queria continuar assim para sempre, não fosse por sentir algo contraditório, como se ao mesmo tempo uma parte dele mesmo estivesse indo embora.
Entreabriu os olhos e visualizou o lobo erguendo a cabeça. Pensava em cair naquele chão gelado novamente e fechá-los por um bom tempo...
- Gabumon.... - sussurrou, antes de voltar a esperar o amigo em meio ao silêncio.
--
Taichi Kamiya caminhava com certa pressa de volta à gruta onde estava o melhor amigo. Havia deixado sua mochila e os utensílios lá dentro, mas carregava uma bolsa no ombro que parecia ser a de primeiros socorros.
Tai havia voltado ao local onde as últimas flechas foram lançadas. Realmente, a espécie de barranco por onde caíram era um pouco alta, o que causava um certo desânimo, mas... É a primeira coisa que devo fazer, pensava. Andava contra a força que o empurrava para baixo, devido à decida, com as folhas secas e avermelhadas sendo levadas pela brisa calma.
Não seria tão difícil para o jovem diplomata subir o barranco, afinal sempre gostou de exercícios e era suficientemente atlético.
Saiu apoiando os pés em raízes de árvores e escalava, segurando-se em pedras presas ao solo. Uma vez ou outra pisava em falso, mas conseguia se apoiar de alguma forma.
Chegou ao topo e levantou-se, limpando a poeira e as pequeninas pedras que grudaram na roupa, cansado e regulando a respiração ofegante. Olhou atentamente para todos os lados, já preparado, mas felizmente as flechas haviam mesmo desaparecido. Graças a Deus... agora é só recuperar a bolsa. Caminhou aliviado pela mesma trilha rodeada de grandes árvores e observava, tentando ver em qual ela estava presa.
A fogueira apagada estava logo em frente, a lata de salsichas jogada no chão. Lembrava-se que haviam corrido pelo lado direito quando as flechas começaram a persegui-los... decidiu correr por entre as árvores, mas a pouca luminosidade atrapalhava.
Encontrou a bolsa pregada na árvore, e agradeceu muito pelo feito. Puxou a flecha com força e retirou a mochila, acomodando-a seguramente no ombro.
- Não quero saber de flechas por um bom tempo.... - disse, antes de quebrá-la ao meio.
Agora já estava no caminho de volta, com muita ansiedade a lhe perturbar.
Tudo o que queria naqueles momentos era mesmo resgatar a mochila de primeiros socorros; a prioridade era não deixar Yamato daquele jeito. Mas outra vez Tai começava a sentir medo... durante todo esse tempo abandonados na zona não haviam conseguido sequer uma pista de como achar ou decifrar o enigma. Simplesmente não sabiam de nada! Nem por onde começar... e isso era desesperador.
Não posso pensar nisso agora... o importante é que achei a bolsa e Matt vai se sentir melhor com os medicamentos. Formamos uma boa dupla... e vamos sair daqui triunfantes, isso eu sei. Mas não sei como... temo pelo que pode acontecer. E se Gennai se enganara quanto à nossa missão nessas zonas? E se esses enigmas não existirem? Não saberemos qual é a chave para a liberdade... ou teremos que descobrir sozinhos....
Taichi chegou até o lago próximo à gruta e bebeu água. Se esquecera completamente do cantil que traziam...
Entrou na pequena caverna com um largo sorriso e percebeu que Yamato continuava deitado, provavelmente descansando. Agachou-se e recolheu os objetos que espalhara, guardando-os na sua mochila.
- Matt! Veja só, encontrei a bolsa com os medicamentos. - anunciou, com ânimos.
Tai esperava uma resposta, mas o amigo continuou deitado, sem fazer qualquer sinal ou se mover.
- Matt... está dormindo? - perguntou, começando a se preocupar - está melhor...?
Vendo que continuava falando sozinho, Kamiya aproximou-se dele e se abaixou. Sua aflição tomou conta do ambiente... engoliu em seco, balançando o braço do amigo para ver se reagia. Yamato continuava imóvel.
- Matt! Matt, acorda, vamos.... - exaltou-se, erguendo-o e acomodando sua cabeça em seu braço - por favor, reaja.... eu trouxe a bolsa...
Uma dor invadiu seu coração subitamente. A idéia de que tudo fora em vão até aquele momento o deixava atordoado... por que o amigo não respondia? Não queria pensar nisso...não podia! As coisas não podiam acabar assim... será que nada valeria a pena?
- Amigo... fale comigo... - murmurou Kamiya, deixando as lágrimas mornas deslizarem por sua face - não posso ter chegado tarde demais...
Sua energia se esfumara ali. Chorava sem receio de nada, como se fosse a única forma de expor toda a sua angústia. Mas que droga!
Repentinamente, uma luz parecia cobrir o peito de Yamato Ishida.... uma luz tão potente que quase o cegava. Era algo majestoso acontecendo, que o encantava e aterrorizava ao mesmo tempo.
- Matt...o que está...
Não terminou de dizer a frase e uma outra luz também emanou de seu peito, com um brilho forte iluminando à sua volta, quase se juntando à de Matt como por magia.
Não sabia ao certo o que era aquilo... estava se desfalecendo, quase caindo para trás enquanto a escuridão da gruta ia sendo tomada pelo brilho.
Mas acho que ouvi.... o uivo de um lobo.
** Não percam o próximo capítulo....
N.A: Finalmente!! Será que parece o final de um capítulo inacabado? Hum... Houve mais ação por aqui, o que acharam? Principalmente os fãs desses dois fofos, que devem ter gostado (isso eu espero) ^-^ Fiquei satisfeita em terminá-lo, afinal eu não tive muito tempo pra escrever. Vou estudar muito daqui pra frente, ai, ai....
Bem... toda essa seqüência das flechas, sobre o Matt, a "suposta revelação" e o futuro deles nas zonas... as outras coisas serão mostradas ao longo dos próximos capítulos. Acho que consegui colocar esse lado forte da amizade entre Tai e Matt... O que irá acontecer?????
Bom, creio que é tudo!
Dúvidas, sugestões, reclamações, elogios, críticas (construtivas) pelo meu e-mail maytake@hotmail.com ou então facilitem sua vida e mandem um REVIEW! ^.~
