Título: The Scientist
Autora: Dana Norram
Shipper: Sirius/Remus
Classificação: PG-13/Slash
Gênero: Drama/Romance
Spoilers: 6º livro (Half Blood Prince... Half Blood Prince... HALF BLOOD PRINCE! Enigma do príncipe MY ASS, ok? ¬¬)
Parte: 01 de 02
Aviso: Cada nova inserção de um trecho da música indica mudança de tempo/cena na história.


"Você não tem que dar sermão
Você não tem que me amar, o tempo todo
O que diabos te possuiu
Para fazer essa decisão do nada
Eu acho que você não precisava de mim
Enquanto sussurrava essas palavras
Eu chorei como uma criança
Esperando que você se importasse."
(Saturnine, The Gathering)

The Scientist — Parte Um — POV.¹S. Black
Fanfic por
Dana Norram
Canção por Coldplay


"Senha?"

Respondo e o rosto rosado da Mulher Gorda esboça um sorriso acolhedor. Com um ligeiro aceno seu as dobradiças do quadro giram, permitindo minha entrada na torre da Grifinória. Meus pés se detêm tão logo piso no tapete vermelho e felpudo, que cobre todo o chão.

Já é bem tarde. As chamas da lareira parecem brigar pelos pedaços de madeira restantes, prestes a se desmanchar em cinzas. As mesas de estudo agora totalmente vazias. As disputadas poltronas macias, também.

Não há viva alma para zombar da minha desgraça.

Me largo numa das poltronas, enfiando o rosto nas mãos e desejando tudo neste mundo menos estar ali.

Eu era a pior pessoa do universo e me odiava por isso.

O crepitar das chamas sobre o que restara da lenha pouco a pouco vai se tornando mais baixo até desaparecer por completo. Ergo a cabeça e abro os olhos. Minha visão está turva, ligeiramente embaçada. — Quanto tempo se passou? Me pergunto em silêncio, sem realmente querer saber a resposta. Esfrego o canto dos olhos com as costas das mãos.

"Por um minuto achei que você estivesse chorando".

Ele está parado. De pé. Bem na minha frente. A face cansada e pálida, quase fantasmagórica, me encarando sem piscar, com dignidade. O fogo da lareira se apagara por completo e apenas meia dúzia de archotes mantinham a sala comunal fracamente iluminada.

"Seria uma atitude covarde, se estivesse, você sabe..."

Abaixo minhas mãos para os braços da poltrona e ergo o corpo, usando-a como uma espécie de apoio.

E ele não se mexe. Na verdade, sequer parece ter notado meu movimento. Continua falando como se eu não estivesse ali, como se talvez ele estivesse sozinho.

"Achei que você nunca mais teria coragem de olhar na minha cara, que ia pedir para voltar para casa, mas não... você está aqui. Você ainda não fugiu".

E nem vou fugir! Tive vontade de berrar, indignado, mas de alguma forma as palavras não chegaram até minha boca. Eu simplesmente não me sentia capaz de proferi-las.

"E você... não vai falar nada? Não vai dizer por que traiu meu segredo? Por que quis me transformar num assassino? Não vai contar quando e porquê eu deixei de ser seu amigo..."

Senti minhas lágrimas querendo escorrer antes de notar que ele mesmo já estava chorando.

Seu rosto ainda ostentava um ar digno e quase inabalável, mas a palidez agora fora substituída por um rosado que se espalhara por suas bochechas. Bravamente reprimi a estranha vontade de erguer uma de minhas mãos e secar suas lágrimas.

"Você... você não vai dizer desde quando passou a me odiar?"

Não há qualquer sombra de drama fingido em suas palavras e ainda assim eu não sou capaz de sair em minha própria defesa: 'Não! Eu não te odeio!'

Ele ergue uma das mãos e seca o canto de seus próprios olhos sem muita perícia. Um estranho arrepio me sobe pelas costelas. Aquilo não era novidade. Eu já o sentira muitas e muitas vezes antes... e ele...

E ele estava sempre por perto.

"É óbvio que você não tem porquê se desculpar, não é mesmo? Tudo não passou de uma brincadeira idiota, é claro. Nós, eu... eu sempre passei a mão na sua cabeça. Ignorando todas as vezes que você aprontava, deixando para lá. Com os outros até que era engraçado... às vezes, sabe? Mas é lógico que agora, que a brincadeira foi comigo... é óbvio que eu não ia gostar. Mas eu não posso brigar com você... eu posso? Não posso porque..."

Ele se cala assim que sente seu pulso ser apertado com força. Abaixa o rosto úmido para meus dedos em volta dele. Seus lábios se entreabrem em confusão, mas ele não ergue os olhos.

"Me solta". Sua voz é ligeiramente embargada, mas ainda assim repleta de dignidade. Ele puxa o braço para longe, mas eu seguro com mais força.

"Me solta". Ele repete num tom levemente mais alto e sério, fixando seus olhos nos meus.

Impetuoso. Cinza e âmbar se encarando pela primeira vez após horas e horas de mútuo e disfarçado constrangimento.

"Se você não me solt…"

PLAFT!

A boca dele pende diante do próprio assombro. Eu não o culpo. Não é todo dia que alguém segura em seu pulso e usa a sua mão para se estapear.

PLAFT!

Mas eu mereço isso.

"Pára!" novamente ele tenta puxar sua mão e outra vez eu a uso para golpear meu próprio rosto, sentindo seus dedos finos deixarem marcas vermelhas em minhas bochechas. "PÁRA!"

PLAFT!

Eu mereço muito isso.

PLAFT! PLAFT! PLAFT!

"EU MANDEI VOCÊ PARAR!"

PLAFT!

Desta vez é ele quem me dá um tapa, usando a outra mão. Um tapa desajeitado, sem muita força, mas que ainda assim me acerta em cheio na outra face.

Eu o solto no mesmo instante. Ouço-o ofegar, dando um passo para trás.

Eu começo a rir e abaixo a cabeça.

Não demora muito para que minhas risadas se transformem em soluços e menos ainda para que eu caia de joelhos, as lágrimas correndo livres por meu rosto dolorido e vermelho.

Envergonhado.

Arrependido.

"Sirius..."

Eu não peço perdão. Nem ele diz que me dará uma segunda chance. Mas incrivelmente descubro que posso morrer tranqüilo assim que escuto seus joelhos batendo contra o chão e sinto seus braços mornos em torno de mim.


Come up to meet you,
Tell you I'm sorry
You don't know how lovely you are
(Vim para lhe encontrar
Dizer que sinto muito
Você não sabe o quão adorável você está)
E foi naquele instante que eu descobri.

Enquanto seu abraço delicado e firme me envolvia. Enquanto com aquele gesto mudo ele novamente me perdoava por ser idiota, inconseqüente e infantil. Por tê-lo desrespeitado, o colocado em perigo...

Não tenho certeza de quanto tempo passamos ali juntos, abraçados. Talvez tenha sido uma hora inteira. Talvez tenha passado poucos minutos. Então escutei som de passos vindos da escada, mas não me mexi. Ele aparentemente também não dera importância. O som veio e se foi rapidamente.

Será que alguém nos viu abraçados? O que será que esse alguém pensou?

Na verdade, não importa. Eu gosto dele e não ligo que outros o vejam me abraçando. Eu realmente não me importo. Só quero que ele continue e que não me solte nunca mais. Porque se ele me soltar... por que se ele me soltar algo de muito terrível vai acontecer...

"Ahá, agora você está chorando". A voz dele sai abafada junto ao meu pescoço. Sinto um arrepio.

"Então, você acha que eu sou um covarde?" Pergunto com os olhos fechados, sentindo sua respiração contra minha pele.

Ele balança a cabeça negativamente, deitando-a sobre meu ombro. Seu abraço mais firme. Sinto vontade de retribuir o gesto, mas hesito. E se ele ficar zangado?

"Não". Ele sussurra. "Acho que você está parecendo uma criança".

Solto uma risada que faz seus cabelos de arrepiarem.

"Qual é a graça?" ele pergunta. Sinto suas mãos em minhas costas estremecerem de leve.

"Você é mais baixo..." Digo e, segurando um sorriso, acrescento: "E tem mais cara de criança do que eu".

Ouço-o rir baixinho. Hesitante, levo uma de minhas mãos até seus cabelos e faço um cafuné desajeitado, bagunçando ainda mais os fios castanhos claros. Ouço-o ronronar como um gato e poderia jurar que ele fechou os olhos enquanto se aconchegava junto à curva do meu pescoço.

Um arrepio. Outro maldito arrepio. Eu não sou tão burro assim. Sei que não podia... que não deveria estar me arrepiando desse jeito...

Inspiro fundo. Tão fundo que meu peito dói. Talvez fosse melhor que nos soltássemos e fossemos para nossas respectivas camas. Cada um para a sua, de preferência. Eu tinha o restante do ano de detenções para cumprir com McGonagall. Precisava descansar.

Mas eu continuo acariciando seu couro cabeludo, sentindo a respiração calma e relaxada. Ele não parece mais o mesmo que minutos atrás ralhava comigo.

Como eu gostava de tê-lo assim. Quieto e quente. Do meu lado.

Eu sei que não deveria estar pensando assim.

Minha mão livre está formigando pela falta de movimento. Eu quero tocá-lo. Quero deslizar meus dedos por suas costas, fazer movimentos circulares em seu pescoço e senti-lo se arrepiar e estremecer debaixo dos meus dedos.

E eu sei perfeitamente bem que isto está errado.

Muito errado.

Mas, desde quando eu fui de ligar para regras?

Subo uma de minhas mãos por suas costas, quase sem tocar no tecido de seu pijama azul. Sua respiração fica mais acelerada, mas ele não se mexe. Engulo em seco, meus olhos alertas, tentando capturar o menor movimento dele. Detenho meus dedos antes de alcançar seu pescoço, mas não consigo resistir por muito tempo à tentação de tocá-lo. Acabo roçando os dedos naquela pele clarinha e ele ergue a cabeça abruptamente, sem prestar atenção no que estava fazendo.

Seus lábios esbarram nos meus.

Ele arregala os olhos e faz menção de se afastar, mas desta vez eu não hesito. Seguro com firmeza em seus antebraços e não deixo que ele se levante. Não deixo que ele fique longe.

Sorrio. Ele me encara assombrado. Uma estranha compreensão tomando conta de seu rosto — expressão similar àquela de quando a resposta de um problema de aritmancia é magicamente esclarecida por seu talentoso raciocínio. Ele parece se perguntar como pudera ser tão idiota. Afinal... a resposta sempre esteve ali. Bem na frente dele. O tempo todo.

É difícil dizer quem avançou primeiro. É difícil explicar o que se passava na minha cabeça naquele instante. É complicado descrever e provavelmente eu levaria horas se tentasse colocar em palavras todas aquelas sensações, aqueles tremores... e principalmente o calor.

"Sirius..."

Nossos narizes se encostam de leve. Ele se aproxima mais. Ele se aproxima tanto que eu poderia fechar os olhos e sentir... desejar que seus lábios formassem aquelas palavras que eu tanto sonhei escutar.


I had to find you
Tell you I need you
Tell you I set you apart
(Tive de lhe encontrar,
Dizer que preciso de você,
Dizer que o deixei de lado)

É inaceitável. Absolutamente inaceitável.

Um covarde. Um grifinório covarde. Sim, é isso que eu sou.

Já se passaram vinte minutos. Vinte minutos desde que fizemos o que queríamos fazer. Vinte minutos desde que estamos aqui parados e abraçados em silêncio. Vinte malditos minutos sem que eu consiga reunir coragem para dizer o que tenho a dizer.

Ele, porém, não parece estar sofrendo do mesmo dilema e isso me entristece.

O que eu esperava, afinal? Que depois de recuperar o fôlego ambos declarássemos juras de amor incondicional? Irrefutável? Eterno?

Sinto-me tão idiota.

Era exatamente por isso que eu esperava. Esperava que ele voltasse seus doces olhos na minha direção e que sua mão delicada descrevesse formas circulares sobre a minha bochecha enquanto ele diria que me amav...

"Pode falar Sirius".

Engulo em seco. Às vezes isso acontece. Ele me surpreende com uma estranha e inapropriada capacidade de ler pensamentos.

"A última vez que você conseguiu ficar quieto por mais de cinco minutos foi quando Prongs errou aquele feitiço de idiomas e te deixou coaxando toda vez que abria a boca... lembra-se?"

Não posso ver, mas sei que ele está sorrindo de um jeito muito maroto.

"Não estou achando a menor graça".

"Aposto que não. Mas eu estou com o braço dormente, então se você puder sair de cima dele, eu agradeceria e--"

Não o deixo terminar a frase e inverto as posições. Deito por cima dele, segurando seu rosto entre meus dedos, olhando fundo em seus olhos castanhos. Sinto-o entreabrir as pernas de leve e meu rosto fica subitamente quente. Ele me lança um olhar exasperado.

"Ah, por favor, eu só não quero que minha perna fique dormente também".

Sorrio em desculpas e vejo-o sorrir de volta.

"Isso é tão estranho..." Ele diz meio que dando de ombros e olhando de lado.

"Você acha estranho?" Pergunto ainda com um sorriso. "Por quê?"

"Não é como se isso fosse só uma brincadeira, sabe? É estranho pensar que isso poderia ser sério". Diz ele ainda olhando de lado e rindo como se tivesse acabado de dizer uma imensa bobagem.

"Mas é sério". Retruco, sem me mexer.

Ele solta um suspiro. Um suspiro muito fundo. E repentinamente sinto meu coração acelerar dentro do peito por que eu sei... eu sei que ele passou aqueles últimos malditos vinte minutos pensando...

O que dificilmente resultava em algo divertido.

"Isso é um erro, não é?"

Desta vez ele me encara, não pisca e parece realmente querer saber o que eu penso a respeito. Seu cenho franzido e seus olhos alertas. "Não é?" ele repete em voz baixa, praticamente só mexendo os lábios.

"Eu te amo".

Não foi assim que eu planejei. Eu deveria ter dito isso quando tivesse absoluta certeza de que ouviria ao menos um "eu também" como resposta. Não planejei usar essas três malditas palavras num momento como este. Na péssima hora em que ele questionava se aquilo tudo estava certo ou errado.

"Sirius..."

Há algo dolorosamente piedoso em sua voz.

"Eu te amo". Repito, fechando os olhos e encostando minha testa contra a dele. "Eu te amo".

Ele não diz nada. Ele sequer se mexe.

E seu silêncio é como uma faca cega cortando o espaço entre nós.


Tell me your secrets
Ask me your questions
(Conte-me seus segredos
Faça-me suas perguntas)
"Isso não vai dar certo e eu vou lhe dizer o porquê..."

Abaixo a cabeça, enfiando-a entre minhas mãos. Esperando por algo que eu sei... não vou gostar nem um pouco.

"Porque eu sou um lobisomem". Ele diz enérgico, mas sua voz é baixa. "Porque nós somos dois garotos. Por Merlin, nós somos amigos, Sirius! Isso não é mais uma das suas brincadeiras idiotas! Os outros não vão achar graça se nós... nós sequer vamos poder nos encarar quando isso tudo acabar!"

Eu o encaro repentinamente sério.

"Não vai acabar". Minha voz sai quase sussurrada.

Ele volta a ficar em silêncio, me olhando como faz com os alunos do primeiro ano, quando algum deles diz alguma bobagem sobre derrotar a Lula Gigante apenas com as mãos. Me dando seu ar tranqüilo e paciente. O ar tranqüilo de quem sabe que tudo não passa de uma mentira — uma mentira inocente talvez, mas ainda assim uma mentira.

"Não vai acabar". Eu repito firme. "Não vai acabar porque eu am--"

Rapidamente ele coloca um dedo sobre os meus lábios, me calando. Vejo seus olhos castanhos cintilarem de leve.

Eu quero uma resposta. Uma explicação.

Qualquer uma...

"Não é assim que funciona". Ele diz com um suspiro fundo e eu posso sentir um ligeiro tremor em suas palavras. "Não é assim que o mundo gira".

"Não fale comigo como se eu fosse uma criança". Retruco impaciente. "Como se não fosse capaz de entender que você está me dando um fora".

Outro suspiro. Ele se senta na cama, de costas para mim. O lençol claro cobrindo suas pernas. Admiro as cicatrizes que descem por suas costas curvadas. Sua voz sai funda, entrecortada.

"Não foi isso que eu quis dizer e você sabe".

"Então você prefere que tudo fique assim mesmo? Às escondidas? Filch confiscou o mapa. A capa de invisibilidade do Prongs mal nos cobre. Não podemos mentir para os outros sempre. Não podemos mentir para nós".

"James sabe. Lily sabe. Até Peter sabe. Para quem mais você quer contar? Quer mandar um convite para os seus pais, talvez?"

Ergo uma de minhas mãos e toco em sua pele. Ele estremece e suspira, mas não se volta para mim. O vento açoita as janelas pregadas da Casa dos Gritos. Eu sei que essas paredes não o deixam esquecer de quem ele é.

"Moony--"

"Acha que eles vão te colocar de volta naquela árvore..." a voz dele tem um quê de ironia que me arranca arrepios. "Se talvez você mandar o convite do casamento com o pobre Lobisomem indefeso?"

Levanto o corpo bruscamente, puxando-o pelo ombro, fazendo com ele me encare.

Ele pediu por isso.

Seus olhos castanhos estão vítreos. Ele nunca fora muito bom para dar broncas. Não tem fibra. Se arrepende, acha que pegou pesado, pede descul--

"Me desculpe". Ele sussurra engolindo em seco e eu o abraço, trazendo-o para junto do meu peito, fazendo com se deite ali. Ele enterra o rosto na curva do meu pescoço, um lugar que — sim, eu repetirei até o fim dos meus dias — foi feito só para ele. "Desculpe," ele repete com a voz embargada. "Desculpe, mas eu não posso..."

"Eu amo você, Remus. Você pode não acreditar, mas eu amo".

Ouço-o inspirar fundo. Sinto seus dedos apertados contra minhas costas nuas.

"Eu acredito". Ele diz depois de um segundo de profundo silêncio. "Eu acredito."

Fecho meus olhos.

"Eu queria que você entendesse..." murmuro, segurando um soluço. "Eu realmente queria..."

Em resposta mais silêncio.

Isso machuca.

"Não vai dar certo, Sirius".

Machuca muito.

"Não importa. Eu quero tentar".

Mas ele nunca me respondeu. Não disse absolutamente nada. Só me abraçou. E de alguma forma eu sabia que aquilo era um 'sim'. E eu sabia que ele só estava fazendo aquilo por minha causa.

Eu só não sabia que ele estava certo.


Oh, let's go back to the start
(Oh, vamos voltar para o começo)
Seus olhos se estreitam. Um gesto que diz claramente "você não deveria estar aqui".

E eu não devia.

"Tão perigoso... a essa hora da noite..." O tom de sua voz parece que nunca vai mudar. Sempre seguro e tranqüilo, meio aprofessorado, meio como de quem repreende uma criança arteira. Às vezes eu penso se não passo disso para ele. Uma criança que tem de ser educada.

"Eu precisava te ver". Respondo a guisa de desculpas, mas por alguma razão minhas palavras não surtem o efeito esperado. Ele parece ficar ainda mais zangado e balança a cabeça repetidamente, desviando os olhos.

"Totalmente irresponsável... eles estão por toda parte, você sabe..." de costas para mim sua voz vai baixando até que só se escuta um murmúrio repetitivo. Suas mãos se ocupam em preparar o chá, a varinha sendo acenada em movimentos mecânicos. O vapor que saí do bule paira sobre o fogão como uma penumbra agradável. "Podia ter aparatado, mas não... você tem de ficar por aí desfilando naquela motocicleta idiota..."

Eu esboço a sombra de um sorriso, ajudando-o a colocar a mesa para o chá. Os armários abarrotados de peças lascadas estão metodicamente organizados. Tudo como na época em que seus pais eram vivos.

Hoje faz um ano. Eu precisava vê-lo. Não podia deixá-lo sozinho. Será que ele não entende?

Em silêncio ele serve o chá em duas xícaras e acrescenta um fio de leite apenas na sua. Ele sabe que eu detesto leite no chá. Os biscoitos de chocolate — sempre chocolate — estão arrumados sobre um pires e enquanto ele coloca generosas colheres de açúcar em sua xícara, eu pego um deles e quebro entre os dentes. O barulho faz com que ele erga o rosto na minha direção.

As marcas escuras sob os olhos denunciam noites mal dormidas. Talvez em claro.

"Você está bem?" pergunto, segurando minha xícara com ambas as mãos. O calor que ultrapassa a porcelana e alcança minha pele machuca um pouco, mas ao mesmo tempo é reconfortante.

Ele novamente desvia os olhos, para baixo, para a mesa. Faz que 'sim' balançando a cabeça de um modo hesitante e nada convincente.

"Mentiroso". Digo com um sorriso mordaz. "Emagreceu e não tem dormido bem. Você não me engana".

"Eu estou ótimo. Foi só uma semana difícil".

Vejo-o me encarar outra vez, em desafio. Os olhos emitindo um brilho animalesco que eu conhecia tão bem.

"Como vai seu novo emprego? Você não me disse no que--"

"Está tudo ótimo". Ele interrompe antes que eu possa completar a pergunta. Franzo meu cenho, afinal, ele nem me contara no que exatamente estava trabalhando. Há dias que ele sempre desviava do assunto. "E o Harry, está bem?"

Como agora.

E eu não ia insistir. Por mais estranha e mal contada que toda aquela história soasse aos meus ouvidos.

"Está ótimo". Respondo com sinceridade. "Até aprendeu uma palavra nova ontem... Padfoot".

Vejo-o sorrir e meu coração fica quente.

"Você deve estar orgulhoso".

"É. Eu estou". Admito pegando mais um biscoito. "Harry tem James e Lily para cuidar dele, então está tudo bem, mas eu... eu estou preocupado com você. Mal tem aparecido nas reuniões da Ordem e está mais pálido e abatido do que o normal. Por que não me diz o que está acontecendo?"

"Não está acontecendo nada". Sua voz é fria e impessoal. Ele quase derruba a própria cadeira ao se levantar e este movimento brusco aparentemente não lhe faz nada bem. Vejo-o levar uma das mãos ao rosto, como se tivesse sido atacado por uma terrível e repentina enxaqueca.

Também me levanto e dois passos depois eu já o tenho entre os braços. Sinto o tremer de leve, ainda que não esteja frio ali dentro.

Em silêncio eu o conduzo escada acima, segurando-o pela cintura, seu corpo apoiado contra o meu. A cama desfeita — de onde ele saíra para abrir a porta meia hora antes — parece repentinamente convidativa. Faço com que ele se deite e com um suspiro fundo e conformado me preparo para ir embora.

"Sirius"

Sinto minha mão ser segurada entre seus dedos, com força. Em silêncio assisto Remus se afastar devagar, abrindo espaço para que eu me deite ao seu lado. Sem palavras, só abraçados.

Mesmo sabendo que algo estava muito errado eu me sinto seguro. Mesmo sabendo que eu devia encostá-lo contra a parede e arrancar alguma explicação, eu não o faço. E por quê?

Por que eu tenho medo.

Medo de que tudo acabe caso ele abra aqueles lábios e diga alguma verdade terrível. Uma verdade com a qual eu não possa lidar. Solto uma risada amarga. A quem eu queria enganar?

Eu nunca soube lidar com as verdades. Não há absolutamente nada de divertido nelas.

Então apenas fecho os olhos, abraçando Remus com força e possessão. Ele inspira fundo. Sinto seus cabelos roçando contra meu pescoço e me pergunto por que as coisas não podiam ser tão simples e boas quanto aquele abraço.


Running in circles
Coming up tales
Heads on a science apart
(Correndo em círculos,
Vão surgindo as histórias,
Conduzindo a uma ciência à parte)

A sensação de estar sozinho numa cama tão grande me desperta cedo. Ainda de olhos fechados tateio o colchão, mas só encontro lençóis ao meu redor.

Uma claridade irritante atravessa as frestas da janela de madeira, impregnando o quarto com seu calor de mentira. Com um resmungo eu me levanto, sentindo como se meus olhos estivessem cheios de areia. Meus passos incertos ganham o banheiro adjacente e com um leve franzir do cenho eu encaro a figura sonolenta do outro lado do espelho.

"Noite tranqüila. Coração pesado". Diz o reflexo num arrombo de inspiração matinal. Eu lhe lanço um sorriso atravessado e enfio a cabeça debaixo da torneira, deixando que a água termine o trabalho que o sol não fizera por completo.

"Não se atreva a sacudir esse cabelo molhado no meu quarto".

Há certas coisas que fazem tanta falta quanto um copo de água e um inspirar de ar. Coisas como a voz suave de alguém de quem você gosta, fazendo alguma brincadeira cretina que lhe arranca o primeiro sorriso da manhã.

"O senhor é quem manda..." Respondo, aceitando a toalha que ele me estende. Sinto as gotículas de água escorrem por dentro da minha roupa e um arrepio involuntário me sobe pela coluna.

E isso não tem nada a ver com o fato dele estar sorrindo para mim.

"Café?" a pergunta é mais uma imposição e soltando um bocejo longo eu o acompanho na descida pelas escadas.

Na noite anterior eu não tivera tempo de reparar na sala de estar. Diferente da cozinha e do quarto, que permaneceram intocáveis à morte de seus pais, a sala sofrera algumas modificações sutis, transformada numa espécie de estúdio. Pilhas de livros e pergaminhos abertos sobre uma mesa quadrada, de madeira de lei. Também havia mapas e uma enorme parafernália de objetos que eu só vira nas aulas de estudos dos trouxas espelhados pela superfície lisa.

"Nós nos formamos há algum tempo... você não precisa mais estudar desse jeito, sabe..." Eu brinco, correndo meus olhos sobre as prateleiras. Reparo que há vários desfalques nos volumes grossos dos quais ele e sua família tinham tanto orgulho. Não lembro de tê-los visto no quarto e nenhum deles estava em meio à bagunça que se proliferava por toda a mesa. Na verdade faltavam coleções inteiras sobre preparo de poções, transfiguração e herbologia. Uma fagulha de compreensão se acende em meu cérebro e as palavras acabam saindo antes que eu pudesse pensar melhor. "Você... você andou vendendo os seus livros?"

Ele estanca no lugar antes de alcançar a cozinha, mas não me encara. Vejo seus ombros tremerem de leve e os fios do cabelo de sua nuca se arrepiam.

"Não adianta mentir, Moony".

Escuto-o suspirar funda e pesadamente.

"Não é problema seu". A voz entrecortada é mordaz e pronta para uma luta. Eu sorrio, me perguntando onde estava o doce menino que eu conhecera. Ás vezes me perguntava se não tinha criado um monstro.

Solto uma risada diante de meu próprio e infame trocadilho e ele vira o corpo, me encarando. Sua expressão contrariada só me faz crer que ele interpretara minha reação erroneamente.

"Você não precisava ter feito isso..." falo num tom que julgo carinhoso. "Eu..."

"Já disse antes e repito agora: Eu não vou depender de você".

A maneira como ele diz 'você' me coloca em duplo alerta. Ah, meu doce e orgulhoso Moony...

"Mas... e o seu trabalho? Você não está tendo algum problema nele, está?" Pergunto tentando desviar o assunto daquele ponto tão delicado. Ele quase me jogara escada abaixo quando eu o convidei para morar comigo, três meses antes.

Sua expressão fica mais cinza e mais soturna. E eu já a vira uma vez assim. Vários e vários anos antes quando, após uma noite de Lua Cheia, aguardando-o de tocaia no dormitório, nós dissemos a ele que sabíamos de tudo. Eu lembro o quanto ele se encolheu, ficando menor do que já era. E lembro que com um suspiro fundo e vencido ele dissera "foi bom enquanto durou" antes que tivéssemos tempo de abraçá-lo e garantir que nada daquilo importava.

E agora ele me encara novamente com esse ar descoberto. Acuado.

"Eu..." sua voz treme de hesitação. Será que ele ainda não aprendeu que pode confiar em mim? "Eu fui demitido há duas semanas, quando checaram meu registro no ministério e descobriram sobre..."

Ele se cala e engole em seco. Mais uma vez seus olhos exprimem um ar de desafio.

"Você devia ter me contado..." Retruco suavemente, sem coragem de encará-lo desta vez. Desvio meus olhos para a pilha de pergaminhos e livros em cima da mesa. Um deles está aberto, com uma série de anotações em tinta vermelha nos cantos. Aprumo a visão e, quando finalmente consigo ler o título, sinto como se uma pedra tivesse despencado dentro do meu estômago.

"Olhe, eu já disse que não quero..."

"Quê diabos significa isso?"

Ele se cala, os olhos fixos no livro que eu tomara nas mãos e agora sacudia bem na frente de seu rosto. Mas eu não precisava de uma resposta. O título desgastado escrito em velhas letras prateadas diziam claramente o que aquilo significava.

"Artes das trevas, Moony? Por que diabos você está...?"

Não consigo terminar a pergunta. Num rompante ele toma o livro das minhas mãos, apertando-o contra o peito como se ele fosse um precioso filho. Talvez tivesse medo que eu o rasgasse ou algo assim.

"Não se meta no que não é da sua conta!" Sua voz ainda é controlada, mas há uma nota de raiva impregnada em cada sílaba.

"Claro que é da minha conta! Estamos falando de você, Moony! O que te deu na cabeça para começar a..."

Não, eu não posso dizer. Se colocar em palavras o que minha mente não pára de acusar será como se estivesse transformando aquilo em algo real e irrefutável. E... e isso simplesmente não pode estar acontecendo...

"Vá embora, Sirius".

E o controle se foi. Esvaiu-se em água junto das minhas esperanças... esperança de que tudo não passasse de um grande mal entendido.


Nobody said it was easy
It's such a shame for us to part
(Ninguém disse que isso era fácil,
É uma pena que tenhamos de nos separar)

Eu deixo a casa de Lily e James me sentindo a pior pessoa do mundo. Outra vez.

Por que mesmo quando ajo de maneira certa acho que estou fazendo tudo errado? Por que eu tinha de ter ido até a casa dele... Por que eu tinha de descobrir... aquilo?

Uma brisa suave bagunça meus cabelos, jogando-os na frente do rosto. Eu seguro um soluço.

"Tá tudo bem?"

A voz de Peter me dá um pequeno susto. Eu quase me esquecera que ele estava ali. Acabara de colocar um enorme peso em suas costas... não podia simplesmente começar a pensar nele e esquecer dos meus atuais e mais urgentes problemas.

Eu não tinha esse direito. Absolutamente.

"Obrigado outra vez. Vai... vai dar tudo certo, Peter". Digo e vejo seu rosto redondo corar. Peter deve estar orgulhoso, mas ao mesmo tempo amedrontado em ser o fiel de James e Lily. Mas era necessário. Eu era uma escolha óbvia demais... e Remus...

A idéia de não poder confiar nele me machucava profundamente.

"Eu... eu vou ver minha mãe..." o tom dele era ansioso. Ele não parava de torcer as mãos. "Ela deve estar preocupada..."

"Você se lembra do esconderijo, certo? Acho melhor passarmos a noite lá. É mais seguro".

Ele faz um aceno enfático, afirmando com a cabeça repetidas vezes. Não posso evitar um sorriso estúpido, lembrando da maneira idêntica como ele agia quando éramos apenas estudantes despreocupados e nos preparávamos uma nova brincadeira nas masmorras da Sonserina...

Peter aparata, me deixando sozinho com meus pensamentos. Meus cruéis e impertinentes pensamentos...

É tão doloroso.

Lembrar dele olhando dos nossos planos para seu distintivo de monitor e decidindo qual dos dois lados pesava mais. Qual devia ouvir e seguir. Decidir entre o que era certo e o que era divertido. Ele era terrivelmente bom naquilo.

O que acontecera com o menino silencioso e discreto com quem eu tanto gostava de implicar? De arrancar risadas e sorrisos? Quê fim levara aquele rapaz prestativo e educado que eu vira crescer e por quem eu me apaixonara?

Lembrei de sua expressão soturna, de seus gestos maquinais e dos livros abertos sobre a mesa...

Remus se transformara numa pessoa amarga. Vestira a casca de um aspirante a artes das trevas. Do tipo que se tranca num velho casebre, postado dia e noite sobre uma atulhada mesa de estudos, iluminada apenas com a luz bruxuleante de velas. O rosto enfiado num livro de letras borradas e descrições hediondas. As olheiras marcando uma face outrora doce e bondosa...

NÃO!

Eu me recuso a imaginar meu Remus interpretando o papel que eu sempre desprezara. Não, não e não! Devia haver alguma explicação plausível para tudo aquilo... tinha de haver...

Mas a verdade caíra sobre meus ombros como um pesado e intransferível fardo. Eu me lembrei da expressão de James e Lily quando disse, quando prometi que contaria a Remus sobre a mudança do fiel. Será que eles acreditaram em mim?

"Me desculpem". Murmurei, cansado. Eu nunca tivera a intenção de contar a ele. Eu prefiro que Remus e seja lá com quem ele estivesse se metendo venham direto até mim... Se for para nos trair, prefiro que ele acabe logo comigo. Eu não agüentaria ver qualquer um de vocês mortos por causa dele...

Por minha causa.

Subo na moto, ligando os controles e dando um pontapé para fazê-la funcionar. Sinto o motor rangendo como um manso gatinho.

Eu não irei até lá. Vou para o lugar onde eu e Peter combinamos de nos esconder. Existem coisas mais importantes do que... do que...

Mais importantes do que um bendito relacionamento onde uma das partes sempre dizia "não vai dar certo".

Eu acelero, com raiva. O vento batendo no meu rosto. Eu esquecera de colocar os óculos de proteção e tenho de fazer força para manter os olhos abertos.

Mas foi melhor assim. Melhor que tudo tenha acabado sem choro, longas despedidas e palavras falsas de consolo.

"Vá embora, Sirius".

Eu soco com força o painel da moto, que dá um tranco violento em resposta.

Ele não quis esclarecer o que acontecera. Ele não quis! Ele mandou você embora... pare de se responsabilizar seu grande idiota!

Mas eu não posso evitar. Simplesmente não posso. Mas tento jogar naquele vento forte a culpa pelas lágrimas que escorrem por minha face gelada.


Nobody said it was easy
No one ever said it would be this hard
(Ninguém disse que isso era fácil,
Ninguém jamais disse que seria tão difícil assim)
Mais uma reunião da Ordem. Mais uma reunião em que ele não apareceu. Já fazem mais de dez dias que fui até casa dele... desde que trocara o fiel do segredo.

E quebrando a promessa que fiz a James e Lily eu não lhe contara nada. Nem uma palavra. Eu não dissera nada a ninguém. Nem mesmo a Dumbledore. Eu não podia confiar em mais ninguém.

Nem em você...

Pensar nisso dói. Pensar que por alguma razão obscura ele não era o mesmo Remus que eu tanto gostava... pensar que algo dentro dele tinha sido roubado e maculado...

"Lupin anda bastante ocupado, não é mesmo?"

Ergo a cabeça, pronto para desferir um murro naquele que tivera a ousadia de entrar na minha cabeça e roubar meus mais íntimos pensamentos, mas esmoreço diante dos olhos azuis de Dumbledore. Eu não o ouvira se aproximar.

"Muito". Respondo sem vontade de adivinhar o que aquele velho estava tentando me dizer. Eu já sabia que Remus não andava metido em boa coisa e não precisava que ninguém me dissesse isso.

"Então ele foi aceito naquele grupo de estudos?" Dumbledore comentou tranqüilamente, com um estranho ar de aprovação.

A informação me pegou de surpresa. "Grupo de...?"

"Recebi a coruja dele ontem". Continuou Dumbledore como se não estivesse vendo minha expressão curiosa. "Foi bom, não acha? Depois de passar quase um mês trabalhando naquela tese sobre Defesa Contra Artes das Trevas, principalmente no tocante aos Lobisomens..."

Eu só notara que tinha a boca escancarada quando Dumbledore parou de falar e me dirigiu um sorriso bondoso.

Como assim? Remus NÃO tinha se aliciado aos seguidores de Voldemort? Ele não estava estudando artes das trevas com outras intenções? Ele não...

Enfiei o rosto nas mãos, tentando raciocinar rápido.

"Ele disse que horas ia viajar?" Chutei cego, pensando nos mapas que Remus tinha na mesa quando eu o vira pela última vez.

"Creio que amanhã bem cedo... pretende vê-lo?" Ele piscou um dos olhos azuis. Sinto uma pontada de raiva que escondo atrás de um sorriso amarelo. "Dê meus parabéns a ele, sim? Se Lupin precisar de mais alguma carta de referencia..."

Eu nunca estivera com tanta pressa em minha vida. Queria deixar Dumbledore falando sozinho e ir logo de uma vez até a casa dele. Eu me enganara. Eu o julgara mal. O excluíra da tarefa de proteger a família de James...

Eu tinha de me desculpar.

Com um rápido aceno a Dumbledore eu me preparei para partir.

"Como vai o jovem Pettigrew? Eu não o tenho visto esses dias..." ele pergunta ao longe, ainda num tom tranqüilo.

"A mãe dele está doente e..."

Uma fagulha de desconfiança se acende em meu peito. Alguém do nosso meio virara traidor, isso era certo. E se esse alguém não era Remus...

Dumbledore assiste meu momento de hesitação com as sobrancelhas levemente arqueadas.

"Eu tenho de ir..." resmungo subindo na moto rapidamente.

Sim. Eu estava aliviado em descobrir que Remus não mudara. Aliviado em saber que ele não se tornara um traidorzinho medíocre. E eu mal esperava pela hora de lhe pedir desculpas e poder abraçá-lo outra vez.

Mas antes...

O ar batendo forte em minha face me dá uma sensação de liberdade. Uma sensação de que não importasse o que acontecesse tudo tinha uma solução. Por mais longe que ela estivesse, por mais difícil que fosse...

Soltei uma risada alta. James sempre dizia que ela se parecia com um latido.

Nós estávamos em guerra contra um dos bruxos mais malignos da história. Meu melhor amigo e sua família estavam sendo perseguidos, tivemos de usar uma magia antiga para mantê-los a salvo e ainda assim...

A idéia de fazer as pazes com Remus me deixava de coração leve. Como se não existisse mais Voldemort e comensais, como se eu não tivesse jogado sobre os ombros de Peter a responsabilidade pela vida de Lily e James, era como...

Era como se mais nada pudesse dar errado.


Oh take me back to the start
(Oh, leve-me de volta para o começo)

Fim da Parte Um


AVISO: Este fanfic está sendo escrito para o V Challenge Sirius/Remus do fórum Aliança 3 Vassouras. O desafio se encerra em fevereiro, mas eu queria postar um novo fanfic antes do final do ano e aqui estamos. Boas Festas.

¹ POV, sigla para Point of View (do inglês, "Ponto de vista").


N.A.: Melancólico? Talvez. O natal me deixa um pouco triste para ser sincera. Well, espero que gostem e que não odeiem o Remus por isso. A próxima parte (e final) será um POV dele, então acho que o lobinho ainda têm tempo de dar a sua versão dos fatos, né? Aliás o final ainda está sendo escrito e terá SPOILERS de HP and Half Blood Prince. E sorry por qualquer erro, esta fanfic (ainda) não passou por betagem. xD

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© 24 de Dezembro de 2005