Lilly Evans

"Embora eu te xingue, eu ainda sentirei a sua falta"

"A dor não é o suficiente para descrever como me sinto, éramos tão felizes juntos

Mas agora sei que tenho sido cega; você me disse que nunca iria me desapontar

Sempre que precisasse de você, você sempre estaria aqui"

Ele encostou maliciosamente nela e em seu filho aqueles olhos ofídicos que lhe davam medo. Ela abaixou a cabeça e continuou chorando. Ela sempre fora forte. Por quê? Por que agora não conseguia sê-lo? Ele prometera permanecer ao seu lado! Ele sempre a iludia... sempre!

Mas como ela estava sendo egoísta... ele se fora, se fora, para sempre, e talvez nunca mais se vissem. E ela estava viva!

"Belos pensamentos, mas você só continuará viva se me der esse pirralho nojento que você chama de filho. E, sabe...", ele chegou mais perto e ela se sentiu tão amedrontada que não conseguiu fazer mais nada. Ele começou a sussurrar com aquela voz arrastada, fria e nojenta: "Você pode usar seu talento comigo. Ao meu lado, terá poder, e será minha."

"Eu não quero ser sua!", ela gritara. "Eu sou só dele. Agora sou apenas de meu filho."

A sua coragem irritava àquele Lorde, ela sabia. Só não sabia o porquê de seu filho ser o escolhido... por que tal injustiça?

"Às vezes as escolhas de seus superiores não devem ser questionadas...", ele disse.

"Você não me é superior!"

"Mais do que imagina... agora, entregue-me o moleque!"

"Não!", ela gritou novamente. Chorava incessantemente. Ele tentara beijá-la. Sim, aquele Lorde das Trevas. Talvez quisesse experimentar o gosto do amor. Mas nunca receberia amor daquela jovem ruiva. Ela só amara um, e só amaria um para o resto de sua vida.

Ela correra, fugindo. Chegara até o corpo de James. Sacudia-o, e este continuava imóvel. Ela o esperava levantar rindo marotamente e dizer 'Te amo, Lilly, e nada vai nos separar'. Ela esperava que Lord Voldemort levantasse uma máscara e dissesse 'Ei, Lilly, te pegamos', rindo malucamente como só Sirius Black conseguia fazer. Mas não. Nenhum dos dois fizera nada disso.

Ela, então, voltando de seus devaneios, sabia o que James queria. Seu pedido quando ouvira a porta sendo arrombada.

"Escuta, Lilly...", ele dissera. "Promete que, aconteça o que aconteça, você vai proteger nosso filho até a morte."

"Não vai acontecer nada, a gente vai fugir como..."

"As outras três vezes foram pura sorte. Essa vez é crucial: ou mata, ou morre. E sabemos que só Harry pode..."

"James..."

"Eu me sacrifico por vocês. Você tenta fugir. Se não der, proteja nosso filho até o fim!"

Ela permaneceu em silêncio quando ouviu-se o estampído da porta sendo arrombada e de passos subindo a escada.

"Promete?", ele insistiu

"Prometo."

"Se esconde. Só isso."

Lembrado isso, beijou-lhe a boca morta – aquela que nunca mais tentaria alcançar todos os cantos de seu corpo, aquela que nunca mais diria palavras de amizade, amor, consolo, poesia, planos futuros... aquela que nunca mais viveria.

"Vai me entregar o pirralho ou serei obrigado a mandar os dois juntos daquele fracassado?", Voldemort disse com fúria nos olhos vermelhos.

"Nunca! Mate-me se quiser meu filho, só assim o terá!", ela disse corajosamente. Aquela coragem que sobrara no corpo sem vida de James, aquela coragem que ela sorvera daquele coração valente.

Ela levou um susto consigo mesma. Daquela garota – sim, garota, não era uma mulher com 19 anos naquela situação – frágil, impotente e vulnerável, passara a uma mulher – sim, mulher, agora se sentia digna de tal título – forte, corajosa e disposta a matar aquele que levara a sua vida – só o seu corpo e sua alma permaneceram. E Harry era sua alma.

"Então, pedistes. Será um desperdício de carne, de sangue...", ele dizia num sussurro frio, analisando-a de cima a baixo. E ela continuava com seu olhar duro, desta vez completamente prepotente e preparada pra qualquer coisa. "Eu poderia aprender a amar contigo..."

Mas ele não deu-lhe tempo de resposta; avançou para a mulher com aquele jato doloroso de luz verde que ficaria para sempre vagando na memória de Harry Potter.