A revolta de Kenny
Parte 4 – Verdade
Chief tentava desesperadamente cumprir seu papel de bad boy. Mas não conseguia esquecer Tyson e a menina, os dois chorando por causa dele. Passou na frente de uma loja de artigos esportivos e entrou nela, para tentar tirar as duas imagens dolorosas de sua mente. Comprou a primeira coisa que viu: um skate. Disse para colocar na conta do Sr.Dickenson, apesar de não ter permissão nenhuma.
Saindo de lá, andou muito sem pensar em nada, até que encontrou uma enorme rampa, onde podia usar seu mais novo brinquedo. Subiu pela escada e colocou o skate sob um dos pés, enquanto o outro o apoiava no chão. Tomando coragem, lutou para se equilibrar em cima do instrumento, e partiu com extrema velocidade.
Durante a descida, sentiu o vento açoitar deliciosamente seu rosto. Parecia estar voando, indo em direção ao céu, com uma sensação de liberdade que nunca havia experimentado. Liberdade... Agora ele compreendia o verdadeiro significado dessa palavra. Ser livre não era se vestir com irreverência nem falar coisas obscenas quando bem entendesse. Isso só o tornaria igual a tantas pessoas que querem ser diferentes. Ser livre é poder ser você mesmo, não importa se você for um palhaço com Tyson, um ranzinza como Kai, um mulherengo como Ray ou um sensível como Max. Kenny era Kenny, não um rapaz mal-educado e violento, preso nas leis que os rebeldes faziam. Kenny, sempre tão cercado pelas suas fórmulas e matemáticas, era livre por ser ele mesmo. Era livre por ter um amor puro e inocente por uma garota, não por sentir uma atração nojenta por uma vagabunda qualquer.
E assim, levantando vôo no skate, descobriu quem realmente era. Podia ficar sempre subindo e subindo, até alcançar o espaço sideral. A 1ª Lei de Newton, um dos fundamentos da dinâmica. "Um corpo tende sempre a manter sua velocidade vetorial, a menos que forças externas atuem sobre ele." Sim... Se nenhuma força externa se manifestasse, ele continuaria voando eternamente, em movimento retilíneo e uniforme. Equilíbrio dinâmico.
No entanto, várias forças externas o obrigavam a voltar para a realidade. A amizade dos seus fiéis amigos, que tentaram fazer o melhor por ele; os estudos dos quais ele tanto gostava, apesar de negar; o amor generoso e quase infantil por Emily; e a mais forte de todas essas forças, que logo faria seu efeito devastador: a gravidade.
Kenny caiu no chão com um baque surdo. Sentiu todos os seus músculos doerem impetuosamente, e seus ossos fraturados. Apesar do sofrimento físico, sentia-se feliz por dentro, por finalmente ter voltado a ser quem era.
Uma mulher chegou correndo e gritando perto dele, perguntando se estava bem. Ele tentou responder, mas não conseguiu. Logo, várias vozes surgiram ao seu redor.
— Chamem uma ambulância!
— Não mexam nele! Podem aleijá-lo pelo resto da vida!
— Mamãe, ele morreu?
— Essa deixa cicatriz!
— Esse garoto era louco ou o quê?
Em meio as vozes transtornadas, surge a sirene da ambulância. Sem resistir mais, Chief desmaia.
Acorda deitado na cama de uma clínica, com a agulha do balão de soro perfurando-lhe o braço. A perna engessada suspensa por um cordão, curativos cobrindo as diversas escoriações que tinha espalhadas pelo corpo todo. Olhou para o lado. Tyson debruçava-se sobre o parapeito da janela, visivelmente preocupado.
— Tyson... – ele chama o colega com sua voz fina e fraca, quase inaudível. O outro se vira instantaneamente, com uma expressão de alegria e alívio indescritíveis.
— Chief! Que bom que você está bem! – o moreno correu para a cama e se jogou sobre o corpo de Kenny, abraçando-o fortemente – Nós ficamos tão preocupados com você!
— Tyson... eu... queria... pedir desculpas a todos... – ele falava com dificuldade.
— Não é necessário. – Kai e os outros dois pareciam ter aparecido por encanto no quarto.
— É isso aí, cara! - Max com seu jeito expansivo e alegre – Realmente, tudo que você disse para nós tinha um certo fundo de verdade...
— Além disso, nós entendemos que você sempre foi muito quietinho e merecia se soltar um pouco. – Ray falava com um sorriso afável enfeitando seu rosto felino.
— É mesmo, amigão! – Tyson o sacudia na cama, o que causava dor, mas também causava felicidade – A propósito, uma pessoa veio te visitar, porque ficou muito preocupada quando soube que você havia se acidentado.
— ... hum?
Quem será essa pessoa? O que sente por Kenny? Qual será o fim disso tudo? E os meus queridos leitores? Mandarão reviews para me deixar feliz?
Nota: gostaram da aulinha de física? Um abraço ao meu professor Joaquim, que ensinou tudo isso à classe, mas que deu uma prova tão difícil que todo mundo se ferrou – inclusive eu...
