Minutos depois, no Torch...
"Muito bem, o que foi que a Chloe falou?" perguntou Lois enquanto acessava os e-mails da prima.
Lois estava satisfeita com a situação. Provavelmente havia feito a maior besteira de sua vida na noite anterior e, ao invés de discutir os acontecimentos passados, estava ajudando a solucionar um caso. A presença de Clark, todavia, era notadamente perturbadora. Embora ele estivesse do outro lado da mesa onde estava o computador, Lois ainda podia sentir suas mãos roçarem por seu corpo e seus beijos quentes e cheios de ternura. E foi então que ela percebeu que ainda não havia refletido acerca do ocorrido. Relutava pensar no assunto.
"Dê uma olhada nos arquivos que ela mandou hoje cedo" respondeu Clark.
Enquanto Lois examinava as últimas mensagens recebidas por Chloe, Clark a observava. Sentia o perfume de sua pele, de seus cabelos. Podia ainda sentir o doce calor dos seus lábios. Estava apaixonado. Isso era um fato. Ao perceber que era observada, Lois perguntou, com um pequeno sorriso no canto dos lábios:
"Algum problema, Smallville?"
"Nenhum" disse ele, com a mais absoluta certeza. Nada estava errado. Não haviam problemas. Ele estava sendo ele, sem qualquer medo. Estava tudo tão perfeito que Clark sequer pensava na possibilidade de voltar a ser o que era antes.
"O quê vamos fazer?" perguntou ela, olhando para a tela.
"Bom, eu vou levar você para jantar hoje ou amanhã" respondeu ele, cruzando os braços. "Vamos a um lugar bem bacana. Depois podemos sair mais uma, duas ou três vezes -"
Lois riu. Não podia acreditar no que ouvia.
"Acho que começamos errado, então" disse ela.
"De modo algum" discordou ele, dando a volta na mesa e cercando-a por trás da cadeira, e beijando-a gentilmente no pescoço.
"Uau, Smallville!" exclamou ela. Embora tivesse tido uma noite incrível e, acima de tudo, surpreendente, principalmente por se tratar de Clark Kent o homem com quem dormira, Lois ainda não estava preparada para toda aquela intimidade. Além do que, ele ainda não sabia quem era. E ela sabia que tão logo suas memórias voltassem, alguém sairia machucado daquela relação. "Não acha que devemos ir um pouco mais devagar?"
Clark arqueou as sobrancelhas, confuso:
"Depois de ontem à noite?"
Lois o encarou.
"Desculpe cortar o seu barato, mas as coisas ainda estão meio estranhas. Você ainda é o cara que tem uma queda por Lana Lang"
"Tinha" respondeu ele, resoluto.
"Não pode ter tanta certeza de que as coisas mudaram assim, Clark" disse ele, séria. "Você apenas perdeu a memória"
"Mas o coração ainda está no lugar certo" retrucou ele. "Lois, eu não lembro como eram as coisas antes, e nem quero lembrar. O fato é que eu tenho certeza do que eu quero. E o que eu quero, no momento -"
"Cuidado com o que vai dizer" interrompeu ela.
Clark sorriu.
"Tudo bem" disse ele. Clark havia entendido o recado. Ela não era o tipo de gostava de discutir relacionamento. Era estranho, mas isso não o aborrecia. De forma alguma. Era interessante. Surpreendente. Imprevisível. Ela obviamente era única, em todos os aspectos. Uma mulher que não dizia o que pensava. Ele, por outro lado, sabia o que ela pensava. Ela gostava dele. Isso era fato.
Lois sorriu, e continuou a olhar os e-mails de Chloe. Mas Clark ainda a fitava, e lhe incorreu uma pequena ponta de preocupação.
"Está arrependida?" perguntou ele, subitamente.
"Olha... aqui tem alguma coisa" desconversou ela, abrindo um arquivo.
Clark sorriu, nem um pouco surpreso, e se aproximou para ver o que era.
Ao abrir o arquivo enviado por Chloe do Instituto Summerholt, descobriram que se tratava de um vídeo. Nele, um garoto estava amarrado à uma maca, cercado por aparelhos, e alguém aplicava alguma coisa no seu braço através de uma seringa. No vídeo, o garoto gritava:
"Você não tem que fazer isso! Eu prometo que não conto a ninguém! Foi um acidente... Eu sei que você não quis fazer!"
"Parece que Kevin não matou o irmão" disse Clark, olhando o vídeo com atenção.
"Quem quer que tenha apagado as memórias dele deve ter implantado novas" comentou Lois, perplexa.
"Quem faria uma coisa dessa? Deixar um garoto pensar que matou o próprio irmão?" indagou Clark, atônito.
"Provavelmente alguém que não quisesse se livrar dele... ou fazer com que ele assumisse a culpa" respondeu ela.
"Algo me diz que eu tenho que encontrar o Kevin" disse Clark.
"E como você acha que vai encontrá-lo?" perguntou Lois.
"Onde o irmão dele morreu parece um bom lugar para começar" disse ele.
"Espere um pouco..." disse Lois se virando para pegar uma anotação do outro lado da mesa. "Aqui diz que aconteceu em..." foi quando ela percebeu que Clark já não estava mais na sala. "...Audrey Clearing? Clark? Clark?"
Instantes depois, em Audrey Clearing...
"Kevin" chamou Clark ao ver o garoto caminhando em meio à clareira, pensativo, absorto, como se estivesse procurando alguma coisa, provavelmente tentando se lembrar do que havia acontecido no dia em que seu irmão foi morto.
Surpreso, ele levantou a mão em direção a Clark que, prontamente, disse:
"Tudo bem. Eu vim aqui para falar com você sobre o que aconteceu em Summerholt"
"Você é o cara da cafeteria, não é mesmo?" indagou Kevin, confuso. "Como lembrou de mim?"
"Eu não lembrei. Na verdade, você apagou todas as minhas memórias" respondeu Clark, com cautela. Ainda não sabia o que esperar dele, embora o garoto não parecesse demonstrar qualquer perigo.
"Todas elas? Quero dizer, para todas as outras pessoas o efeito é apenas a perda dos últimos minutos de memória" retrucou Kevin, ainda bastante confuso.
"Acho que não sou como as outras pessoas" explicou Clark, em pormemores. "Olhe, Kevin, sei que isso pode ser difícil, mas preciso que você fale sobre o acidente. Foi aqui que aconteceu?"
"Por aqui" respondeu ele, olhando ao redor, frustradamente. "Sei que foi por aqui"
"Conte-me o que aconteceu naquele dia" pediu Clark, pacientemente. "Você tem memórias daquele dia?"
Kevin estava pensativo. Algo se passava à sua mente. Ele provavelmente estava se lembrando do ocorrido. De repente, ele caiu de joelhos, e olhou para Clark. Estava atordoado, e com lágrimas nos olhos:
"Não fui eu!" exclamou ele.
Clark se ajoelhou ao seu lado.
"Foi meu pai!" disse ele, desconcertado. "Como ele pôde fazer isso comigo?"
Clark apoiou sua mão no ombro de Kevin, com pesar.
"Sinto muito, Kevin"
"Tudo o que eu tenho feito. Eu não queria ter roubado aquele dinheiro, e nem apagado toda a sua memória" disse ele.
"Tudo bem" disse Clark. Essa não era sua maior preocupação.
"Não posso fazer nada para ajudá-lo. Sinto muito. Se eu conseguisse entrar no Instituto Summerholt, eu podia ao menos saber o que fizeram comigo -"
"Talvez possamos" disse Clark, disposto a ajudá-lo.
Continua...
